Uma das formas de democratizar o acesso ao cinema no Brasil é leva-lo para o interior, para locais além do eixo Rio-São Paulo, para cidades onde não há uma sala de exibição, mas existe público ávido por arte e cultura.
Neste último final de semana (1 a 3 de novembro), AZOUGUE NAZARÉ, primeiro longa de ficção de Tiago Melo - produtor de Bacurau e Boi Neon - foi exibido nos municípios de Nazaré da Mata, Buenos Aires e Goiânia, interior de Pernambuco, reunindo mais de 1500 espectadores em praça pública, em cinemas construídos para essas exibições especiais. O longa, que aborda a tradicional manifestação do Maracatu Rural, recebeu mais de 40 prêmios em festivais ao redor do mundo e estreia nos cinemas comercialmente em 14 de novembro, em mais de vinte cidades do Brasil.
AZOUGUE NAZARÉ mergulha no universo do Maracatu Rural, uma tradicional manifestação da cultura popular brasileira que surgiu com a mistura de danças e religiões de matriz africana trazidas pelos povos escravizados no Brasil. A trama se passa num imenso canavial onde um Pai de Santo pratica um ritual religioso com cinco caboclos, que ganham poderes, incorporam entidades e desaparecem. Enquanto isso, numa casa isolada, mora o casal Catita e Irmã Darlene. Ele esconde que participa do Maracatu e ela é fiel da igreja do Pastor Barachinha, um antigo mestre de maracatu convertido à religião evangélica, que se vê na missão de evangelizar toda a cidade.
Segundo Melo, o filme rompe com a visão habitual da cultura popular. “Ele desmistifica o dia a dia dos maracatuzeiros, trazendo emoções e desejos de pessoas por trás das fantasias, confrontando a ideia de uma manifestação parada no tempo, com o uso funcional de tecnologias e das redes sociais, que naturalmente facilitam a comunicação”, diz. O elenco se destaca com a interpretação e atuação de mais de sessenta integrantes do Grupo de Maracatu, que fortalece a narrativa do filme ao acompanhar personagens fictícios envolvidos em questões reais e contemporâneas, a tensão religiosa e a expectativa do carnaval. “O elenco é a alma do filme. Me sinto privilegiado em ter sido tão acolhido dentro dos maracatus e ter construído esse filme junto com esses artistas que eu admiro”, completa.
A escolha por abordar essa manifestação cultural no longa não foi por acaso. O diretor conta que o Maracatu Rural está em seu sangue, pois sua avó, nascida em Nazaré da Mata, completou 102 anos, a mesma idade do Cambinda Brasileira, o grupo de maracatu mais antigo em atividade. “O Maracatu é uma arte de pura resistência e eu quis colocar isso na tela, mostrar como a arte pode superar preconceitos, bloqueios, ameaças, intolerância etc. Esses artistas são exemplo de que nada é capaz de destruir os sonhos”, finaliza o diretor.
Dentre os prêmios recebidos pelo filme, destaque para o Bright Future Award, do Festival Internacional de Roterdã, Melhor Direção no BAFICI 2018, Menção Honrosa no Lima Independiente Film Festival 2018, Prêmio da Crítica no Festival de Toulouse, e a Prêmio Especial do Júri, Melhor Ator e Melhor Montagem no Festival do Rio 2018. O longa foi o grande vencedor do 13º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro, levando Melhor Filme – Júri Oficial, Melhor Filme – ABRACCINE, Melhor Filme - Júri Popular, Melhor Roteiro, Melhor Direção e Melhor Fotografia. AZOUGUE NAZARÉ é uma produção Lucinda Filmes e Urânio Filmes e tem distribuição no Brasil da Inquieta Cine.
Crédito imagem: Nazaré da Mata / Reprodução