As recentes declarações de Joseph Quinn e Vanessa Kirby sobre seus personagens no novo filme Quarteto Fantástico: Primeiros Passos deixam claro um problema cada vez mais recorrente nas adaptações de HQs para o cinema: a desconexão entre a visão dos atores/diretores e a verdadeira história dos personagens.
Joseph Quinn, que interpreta Johnny Storm, afirmou em entrevista que seu Tocha Humana não será mulherengo:
"Ele foi rotulado como esse cara mulherengo, inconsequente, mas isso é sexy hoje em dia? Acho que não. Essa versão do Johnny é menos insensível com os sentimentos dos outros."
A fala parece ignorar que ser mulherengo sempre foi parte fundamental da personalidade impulsiva e divertida do Tocha Humana — um reflexo da juventude e do espírito livre do personagem, não um problema a ser “corrigido”. Nas HQs, Johnny teve relacionamentos com várias personagens importantes, como Dorrie Evans, Crystal (dos Inumanos), Frankie Raye (a Nova) e Lyja (uma Skrull). E não podemos esquecer que o Tocha inclusive corneou o Doutor Destino na véspera do casamento na fase escrita por Dan Slott, colocando o Quarteto em mais uma encrenca diplomática. Apagar ou suavizar esse traço é descaracterizar o personagem que tantos fãs aprenderam a amar justamente pelas suas falhas humanas.
Vanessa Kirby, por sua vez, disse sobre a Sue Storm:
"Se você jogasse uma Sue dos anos 60 hoje, todos achariam que ela era meio um capacho."
Essa afirmação revela um entendimento superficial da personagem. Logo na segunda edição de Fantastic Four, publicada em 1961, Sue Storm usa seus poderes de invisibilidade para escapar sozinha de uma instalação federal onde estava detida. Mais tarde, ela colabora ativamente para derrotar os Skrulls que estavam se passando pelo Quarteto. Sue sempre foi retratada como forte, inteligente e fundamental para a equipe, mesmo nos primeiros anos dos quadrinhos — longe de ser "um capacho". Ela foi uma das primeiras super-heroínas a ter independência real e voz ativa dentro de um grupo majoritariamente masculino.
Além disso, a atriz disse:
"Eu queria garantir que minha Sue não fosse o estereótipo de uma mãe boazinha e doce."
"Adorei quando Sue se tornou a Malice e quis trazer tons disso para minha interpretação."
O arco de Malice nos quadrinhos é, de fato, um dos momentos mais intensos de Sue, mostrando seu lado reprimido e agressivo após ser manipulada pelo vilão Homem Psíquico. Mas Malice foi uma fase temporária causada por controle mental e não define a verdadeira essência de Sue. Reduzir Sue Storm a essa fase “dark” como se fosse seu estado natural é ignorar o equilíbrio que sempre existiu na personagem: ela é tanto uma heroína imponente quanto uma mulher amorosa e uma mãe dedicada, o que faz dela tão única e complexa.
A produção ainda afirma que Sue liderará a Fundação Futuro e terá ajudado a alcançar “paz e desmilitarização global”. Embora Sue seja, de fato, o braço direito de Reed na liderança do Quarteto, a Fundação Futuro nos quadrinhos é uma iniciativa liderada por Reed Richards, com a participação dos filhos do casal e várias crianças superdotadas, e nunca foi simplesmente uma conquista política de Sue Storm. Mais uma tentativa de reescrever a história para caber em uma agenda progressista.
Em resumo, as falas de Joseph Quinn e Vanessa Kirby mostram uma tentativa de atualizar personagens que não precisam ser atualizados — apenas respeitados. Os fãs que acompanham o Quarteto há décadas sabem que as falhas, as contradições e os traços originais dos personagens são justamente o que os tornam memoráveis.
Essas declarações mais os rumores sobre o papel de Reed no filme e a presença de uma “Bruna Surfistinha Prateada” colocam um alerta vermelho gigante na produção.
Será que o melhor filme do Quarteto vai continuar sendo “Os Incríveis”? Saberemos em breve!