Hoje, primeiro de setembro, uma data história para o cinema. Foi neste dia, em 1902, que o curta-metragem Viagem à Lua foi exibido pela primeira vez na França. O filme – que traz uma imagem extremamente conhecida, da Lua com o foguete em seu olho – causou uma verdadeira revolução no cinema, por diversos motivos.
Contudo, o também francês George Méliès via grandes oportunidades com o cinema, muito por causa de sua formação: era mágico profissional, e começou a fazer seus próprios filmes logo em 1896, realizando mais de quinhentos filmes até 1913, sempre fazendo experimentações em termos de narrativa, trucagens de cenas e com o uso de efeitos especiais. Sem Méliès o cinema provavelmente ainda teria se transformado na indústria de entretenimento que é hoje; mas é inegável que os primeiros passos no sentido de transformar o cinematógrafo em uma ferramenta para se contar histórias foram dados pelo francês.
E isso nos leva à Viagem à Lua, certamente o trabalho mais conhecido de Méliès. Baseado levemente (e de forma não creditada) no livro homônimo de Júlio Verne, o filme narra – de uma forma incrivelmente inocente para os dias de hoje – a jornada de um grupo de pessoas rumo à Lua, organizada pelo professor Barbenfouillis (interpretado pelo próprio diretor). Assim, trata-se de um dos primeiros filmes de ficção científica que se têm registro – e como um de seus segmentos é animado, diversos pesquisadores apontam Viagem à Lua como a primeira animação da história.
Venerado até hoje, o filme – que demorou três meses para ser feito, algo espantoso para a época – mostra muitas das trucagens utilizadas por Méliès, que sempre usou este recurso para impressionar as plateias – o mais notável dele é fazer atores aparecerem e desaparecem da cena (algo que ele conseguia simplesmente ao desligar e religar a câmera) e que deixavam os espectadores da época literalmente assombrados.
O filme tinha tudo para se tornar um enorme sucesso e transformar Méliès em milionário, caso não acontecesse algo típico dos primeiros anos do cinema. Enquanto o filme fazia sucesso na França, assessores de Thomas Edison – aquele mesmo que reclamava a invenção do cinema para si – fizeram cópias do filme secretamente e a levaram para os Estados Unidos. Com isso, Edison ganhou rios de dinheiro e Méliès nunca recebeu um centavo pelas muitas exibições na América – o francês iria à falência anos depois, sem conseguir competir com os filmes feitos nos Estados Unidos, ainda antes da criação de Hollywood.
Vale lembrar que, em 2002, exatamente cem anos após a estreia do filme, uma cópia foi descoberta na França. E mais notável que se tratar da versão mais completa do filme, é o fato dela ser toda colorida, com os fotogramas pintados manualmente. O filme foi restaurado e exibido com uma nova trilha sonora.
Muito dos trabalhos de Mèliès se perderam com o tempo. Felizmente, Viagem à Lua permaneceu para as gerações futuras poderem apreciá-lo. Trata-se de um marco, e certamente um dos momentos mais importantes na história de um cinema que ainda dava seus primeiros passos.
Confira a versão original do filme abaixo.