A patricia quando se torna boa aluna é assediada por professor. O recusa. Reforça a imagem do professor universitário com disponibilidade para suas alunas.
Uma história absolutamente incomum e peculiar, a do judeu alemão Solomon Perel, foi contada no filme 'Filhos da Guerra', uma co-produção alemã e francesa, dirigido pela polonesa Agnieszka Holland em 1990. No enredo, a família Perel estava refugiada em Loda na Polônia, mas quando essa cidade foi invadida por tropas da Alemanha Nazista o jovem Solomon fugiu com seu irmão, do qual depois se perdeu, se refugiando num orfanato bolchevique. Depois de quebrado o pacto Hitler-Stalin e do bombardeio da cidade de Grodno, União Soviética, onde se localizava o orfanato, Perel caiu na mão de tropas nazistas, mas longe de ser descoberto como judeu se tornou uma espécie de herói de guerra. Invejado por seus colegas, admirado por seu superior e posteriormente amado por uma linda moça alemã, Solomon viveu todo o tipo de situações inusitadas para ocultar sua origem judaica.
Ao final do filme é marcante o depoimento de Perel que, depois da Segunda Guerra, se mudou com sua família para Israel e afirmou que após o nascimento do seu primeiro filho não hesitou em circuncidá-lo. Esse drama isolado é apenas uma das inúmeras narrativas que tratam de um dos episódios mais trágicos da humanidade, o holocausto. Um momento histórico em que judeus, ciganos e homossexuais eram considerados seres que não mereciam estar no mundo. A craniologia e a frenologia, ciências preconceituosas em voga no fim do século XIX e início do XX, atestavam que a raça pura, germânica era superior e destinada à grandeza, portanto indivíduos ou povos mestiços eram responsabilizados por tudo de ruim que pudesse acontecer. O resultado disso é que a, ressentida, Alemanha, liderada por Adolf Hitler, implementou um programa que envolveu discriminação, segregação e extermínio de mais de seis milhões de judeus.
O holocausto talvez tenha dado mais legitimidade, perante a comunidade internacional, ao sionismo, um movimento que reivindicava a autodeterminação do povo judeu em um território, mas um território, que não era habitado por uma maioria judaica. A Palestina, uma região que desde o ano 350 d.C. era habitada por povos árabes. Ainda que esses povos também tivessem origem judaica, o movimento sionista tinha por base uma migração com expectativas, língua e cultura de judeus do leste europeu. Uma das conseqüências da Primeira Guerra Mundial foi que o território da Palestina saiu do domínio turco-otomano passando para o controle da Inglaterra. Os ingleses se mostraram favoráveis à causa sionista considerando que, depois da Declaração de Balfor, a migração de judeus para o território palestino teve um incremento significativo nas duas décadas anteriores a 1945. Após essa data a migração se acentuou e em 1947, quando terminou o domínio inglês sobre a região, o convívio entre árabes e judeus já havia extrapolado para o nível da violência mútua o que levou a ONU a propor a divisão do território em dois Estados, um judeu e outro árabe.
Essa divisão proposta pela organização das Nações Unidas agradou aos judeus sionistas, mas não aos árabes, aos quais caberiam 45% do território em litígio, em benefício dos judeus com 55%. Em 1948 Israel se declara um Estado independente, mesmo ano em que cessa o domínio britânico da Palestina. Seis países árabes vizinhos não reconheceram o novo Estado o que originou a Primeira Guerra árabe-israelense. Seguindo esse conflito vieram a Guerra de Suez (1956), a Guerra dos Seis Dias (1967) e a Guerra do Yom Kippur (1973). Mesmo atualmente, o Egito e a Jordânia reconhecendo a autoridade de Israel como Estado Nacional o mesmo não aconteceu com os outros países envolvidos nas guerras, como o Líbano, Síria, Iraque e Arábia Saudita. A indignação e a luta dos palestinos se dá no momento atual através dos grupos como o Hesbollah, sediado no Líbano, e o Hamas, um partido mais radical e o Fatah, considerado mais moderado.
O nosso ano de 2009 ja se iniciou com uma intensificação da violência entre sionistas e palestinos. Os israelenses alegam que seu território foi alvejado por foguetes lançados por militantes do Hamas. Armamentos que podem ter sido conseguidos através de uma rede túneis na fronteira palestina com o Egito. Uma das reivindicações do governo israelense para um cessar fogo, negociado pela França e pelo Egito, é a garantia que tal rede de túneis não possa ser reativada, o que poderia rearmar o Hamas. A ofensiva israelense nao tem polpado nem mesmo civis e entre as vítimas estão inclusive crianças. Números divulgados pelas autoridades palestinas dizem que entre as 600 vítimas da faixa de Gaza, 205 são crianças. Até mesmo uma escola da ONU foi bombardeada sob a alegação de que nela haviam militantes.
No filme mencionado no início desse texto, vemos um adolescente judeu que passou pelas mais diversas situações para escapar da catástrofe que foi o holocausto judeu. Mas a criação do Estado de Israel nos mostra que na História não existe o bem e o mal ou mocinhos e bandidos. O povo que foi vítima de uma tragédia indizível se tornou algoz e quem sabe futuramente possamos assistir, com pesar, a um filme ou ler um livro que narre as atrocidades dos últimos bombardeios israelenses na faixa de Gaza e o drama dos filhos dessa guerra.
Central do Brasil, de Walter Salles, é um filme de grande importância. Pertence ao chamado cinema da retomada que floresceu posteriormente ao período do Governo Collor quando foram extintos órgãos como a Embrafilme. No enredo temos o encontro de Dora (Fernanda Montenegro) que atua escrevendo cartas, na Estação Central do Brasil, para pessoas analfabetas e Josué (Vinicius de Oliveira) menino que é criado por Ana sua mãe (Soia Lira) longe do pai e que ansia por conhecer este mesmo. A trama leva os destinos de Dora e Josué se unirem na procura deste pai o que se torna motivo para uma viagem a um Brasil do interior. O pai não é encontrado e sim irmãos paternos que acolhem Josué. Acerca do filme muito se debateu, entretanto um elemento que consideramos merecer atenção passou quase que despercebido.
Pensemos em Dora, aquela que escreve cartas para pessoas que não dominam a escrita, que transcreve para o papel o que ouve de seus clientes e se compromete a postar as cartas e não o faz. A mesma Dora que relê as cartas com sua amiga Irene (Marília Pêra) e decide rasgar a quase todas e as que não levam este destino são engavetadas. Essa mesma senhora já aposentada e que utiliza este ofício para complementar seu orçamento doméstico. Este mesmo personagem, uma mulher solteira, já em idade avançada não tendo constituído família que carrega um amargor demonstrado nas feições sem pintura e na maneira, por vezes ríspida, de tratar os próprios fregueses é uma professora. Em Central do Brasil vemos esta professora primária aposentada cuja descrição não é tão distante da construída por Mary Del Priore, para o fim do Século XIX, no seu livro “Matar para não morrer”.
Vejamos:
As moças que se considerassem feias e retraídas eram "chamadas" para o magistério. Ser professora constituía trabalho aceitável para as mulheres sós. Um único turno, salário modesto e exigência de bons costumes. Aquelas a quem a maternidade física fora vedada cumpriam suas funções como "mães espirituais". A professora solteirona era de poucos sorrisos. Sua afetividade ficava escondida. Severidade e secura, óculos, coque, roupas escuras, pêlos no rosto (...) "O pior, para uma mulher, é não casar. O celibato feminino é uma fábrica ativíssima de monstros. A mulher é um ser profundamente afetivo. Nasceu para amar - seja a um homem, a um santo ou a um gato. (...) e infernizam a alma terna das crianças (devia ser proibida a existência de professoras solteiras!). Como não casaram, descarregam nos petizes todo o fel acumulado em longos anos de renúncia.
Em momentos diferentes da história de nosso país, intervalados por mais ou menos um século, vemos imagens muito parecidas de professoras: mulheres amargas, que não foram requisitadas no mercado matrimonial e desatribuídas de qualquer encanto físico. Claro que neste último século o perfil da profissão mudou muito. Não se pode dizer que as descrições assemelhadas, acima, representem com os mesmos aspectos a maioria do professorado, pois a profissão também se masculinizou, embora pesquisas indiquem que o número de mulheres tenha crescido mais. Também não podemos dizer que a maioria destas são solteiras, ou sem prole, mas esta professora de Central do Brasil traz uma imagem emblemática.
Uma imagem que podemos facilmente construir de professores atualmente é de pessoas mal remuneradas, num ambiente de trabalho que pode beirar à periculosidade não raramente e que oferece um elevado nível de estresse. O excesso de trabalho tem que ser outro componente da descrição, um trabalho que tem que ser terminado em casa roubando tempo de lazer nos fins de semana. Pessoas que têm por vezes os nervos à flor da pele e que os anos de carreira se encarregam de tornar endurecidas e com vários problemas de saúde específicos. A profissão não é exclusivamente feminina nem de excluídos do mercado matrimonial, mas quando o cineasta pensou em um personagem duro e amargo, Dora, está havia sido uma professora.
As revistas Veja e IstoÉ já trouxeram reportagens de capa sobre o filme Lula, o Filho do Brasil, de Fábio Barreto. O crítico de cinema Luís Zanin postou em seu blog comentários sobre o filme e o antropólogo Roberto Da Matta também escreveu sobre este em sua coluna. De acordo com o historiador Alcides Freire Ramos, a opinião dos autores e a crítica sobre uma obra fílmica produz uma gama de significações que deve ser levada em consideração por ter grande influência sobre a recepção do público. Vejamos como alguns segmentos da mídia e os autores interpretaram o filme.
Tanto em Veja como IstoÉ, a principal tônica é a de que o filme tem por objetivo beneficiar, na campanha presidencial de 2010, o sucessor escolhido por Lula, Dilma Rousseff. Em Veja, edição 2140 de 22/11, a reportagem traz uma lista de empresas com investimentos do governo e que foram doadoras para o projeto de 16 milhões da LC Barreto, empresa produtora do filme e da propriedade do veterano Luís Carlos Barreto. Esteticamente, o filme é caracterizado como medíocre, ponto de vista que passa ao largo do crítico Luís Zanin e é comparado ao martírio de Cristo como forma de reforçar a tese da mitificação de Lula. Mitificação em vida que parece ser consensual, como negativa, entre os intelectuais entrevistados pelas duas revistas semanais e também nas colunas de Diogo Mainardi (também de Veja e opositor inveterado do presidente) e de Roberto Da Matta (O Globo) que traçam paralelos entre a figura presidente Lula e a forma como líderes totalitários do século 20 construíram suas imagens.
Sem pretensão propagandística
Já IstoÉ, edição 2083 de 14/10, traz detalhes da produção, entrevistas com figurantes do filme e pessoas que fizeram parte da história de Lula e da formação do PT. É colocado em dúvida se a película atingirá seu objetivo eleitoral, tendo em vista que Dilma Rousseff é encarada como uma desconhecida incapaz de reter o voto dos eleitores que votariam em Lula. Dona Lindu, mãe de Lula, que morreu em 1980 é vista como um dos personagens principais "de que barro Lula foi feito", como afirma a autora da biografia que deu origem ao filme, Denise Paraná. O diretor Bruno Barreto também é entrevistado e diz que sem o ator mineiro, Ricardo Diaz, que aspirava a um papel de enfermeiro, não haveria filme. Também é frisado que o filme não se utilizou dos incentivos públicos e da Lei Rouanet, mas de particulares. É acrescentado em Veja que o ministro Franklin Martins foi bastante atuante na captação de recursos. Outra informação comum aos dois semanários é que a obra omite episódios polêmicos da vida de Lula, focalizando a figura ímpar cuja história constitui por si só um roteiro de cinema.
O crítico Luís Zanin (O Estado de S. Paulo), antes de assistir ao filme já estava ciente de que este teria de ser medido não apenas por sua qualidade cinematográfica como também por sua repercussão política. Na opinião do crítico, a ênfase no melodrama exagerado tornou os personagens unidimensionais o bastante para serem desumanizados. A interpretação de Glória Pires, para dona Lindu, é um ponto alto que salva alguns diálogos fracos e impede que a obra descarrilhe para o desastre, sendo composta de bons e maus momentos, um filme irregular. Bem aplaudido, é verdade, mas não tanto quanto a cúpula petista esperava, ao final da exibição. Uma exibição que gerou uma expectativa como nunca havia se visto no cinema nacional.
O diretor Bruno Barreto, em entrevista coletiva, afirma ter se preparado para este filme o bastante para se considerar hoje a pessoa que mais entende de sindicalismo no Brasil. Afirma que o tom melodramático foi, de fato, uma opção e que se a partir daí o filme gerar alguma reflexão será bem-vinda. Seu pai, Luís Carlos Barreto, afirma que a obra não tem nenhuma pretensão propagandística e que não cederá nenhum fotograma sequer para a campanha. Seja como for, vem bem a calhar esta produção em ano véspera de eleição, um filme que já vinha sendo planejado desde 2003.
Num domingo à tarde resolvemos assistir a um filme no cinema. É pena que as únicas salas, hoje em dia, fiquem em templos que costumamos chamar de ‘Shoppings’. A escolha o filme ficou atrelada às lembranças evocadas pela infância. Transformers. É pena que muitas das minhas memórias afetivas sejam sobre artefatos culturais construídos em outro país, mas atire a primeira pedra quem nasceu no final da década de 1970 e não é um colonizado.
No enredo do filme um grupo de robôs alienígenas, Autobots, está alojado na Terra para protegê-la de um grupo de robôs inimigos, os Decepticons. Ao que parece é o segundo filme da série e depois de tantos anos e de tantas outras versões ainda guarda os principais personagens da animação da década de 1980. Na série original o líder dos Autobots é Óptimus, que agora no filme recente é Óptimus Prime. O simpático Bumblebee, que se transformava em fusca, é um carrão amarelo com personalidade de cachorro. Outros dois robôs, carros, fazem menção evidente aos divertidos monstrinhos Gremmilins, seguindo uma tendência mais atual das animações.
Entre os robôs Decepticons o líder, Megatron, continua seguido por Starscream, sempre a postos para passar uma rasteira no chefe, e por Soundwave, o mesmo puxa-saco, que tinha um cachorro, Ravage, que se transformava no que havia de mais moderno na época, uma fita K7 ou um disquete de computador. Os Decepticons, que na animação original tinham linhas retas bem definidas, no filme foram mais monstrualizados, o que também aconteceu com os Autobots em menor escala.
O casal romântico, ao gosto norte-americano estadunidense, torna a história melosa o bastante para atender a um público que pode se interessar por um romance forçado entre o jovem que vai para a universidade e uma moça curvilínea, com roupas muito curtas, que conserta motos na oficina de seu pai que é ex-presidiário. Alguns lances de humor garantem boas risadas e as cenas de luta entre os robôs por vezes escapam à agilidade dos olhos.
Mas, longe de ser apenas entretenimento inocente o filme se mostra bastante politizado. Um exemplo disso é que a luta dos robôs também gira torno do energon, a fonte de energia que os alimenta, nada distante de uma das principais questões de nosso tempo que é a substituição da matriz energética. Também ao lado dos Autobots temos o Exército dos EUA, que ocupa um papel significativo na trama e nos combates, conseguindo até reforços militares com países árabes, como a Jordânia, lutando ao lado dos robôs e quase que tirando o papel principal destes que se encontram alojados em dependências deste mesmo exército.
A trama também traz em voga a antiga especulação de que as pirâmides do Egito Antigo não poderiam ter sido construídas por humanos e podendo ter sua existência explicada pela presença antepassados dos Autobots e Decepticons, os Primes, a 17000 anos a.C.. Esta recorrência a uma explicação fictícia também serve para tornar plausível, no filme, tanto a presença de alienígenas entre nós quanto a convivência pacífica entre homens e estes que por acaso são máquinas.
Também não podia faltar uma casquinha, pra não deixar de lado o preconceito tradicional dos estadunidenses com outros povos, desta vez com relação aos árabes, quando num posto militar um carro, Autobot, com os mocinhos da trama, é rapidamente liberado, depois que estes últimos se identificam como americanos, aparecendo como salvadores da pátria, ou grandes benfeitores do mundo árabe. Cinema é apenas entretenimento? Neste caso não mesmo.
Espero que o público brasileiro, e de outros países encontrem outros significados para o conteúdo de filmes como este, produzidos por esta verdadeira máquina de construção de consciências e mentalidades, ideologias e imaginários que é o cinema dos EUA. Também é uma opção, que não se pode descartar, pensar que as palavras desta coluna não passam de neurose. Entretanto, eram muito bons os tempos em que a inocência da tenra idade permitia assistir a um filme sem levar em conta alguns matizes que acabam nos tornando muito chatos.
Um filme pode gerar muitos significados. Provavelmente, boa parte desses pode ir de encontro à intenção inicial do autor. Entre a intenção desse último e a recepção do público existem filtros que podem dar novos significados à obra. Além dos autores, são os críticos e comentadores que desempenham um papel que pode inclusive influenciar o gosto do público e a forma como esse interpretará a obra fílmica.
Os Mercenários (The Expandables) é o último filme dirigido e protagonizado por Sylvester Stallone. O elenco conta com brutamontes dos filmes de ação que figuram no cinema estadunidense, desde os veteranos da década de 1980 até os surgidos mais recentemente e também a atriz brasileira Gisele Ytié. O enredo é referente a um grupo de paramilitar que é contratado para tirar do poder um general de um país latino-americano corrompido por um ex-agente da Cia.
O filme está repleto de estereótipos, ainda que possa não ter nenhuma intenção de dialogar com temas do presente. Somális fazem reféns em um navio e são massacrados pela milícia de Barney Ross (Stallone). O fictício país da América do Sul (Vilena) onde se passa maior parte da ação é governado por um militar corrupto, General Garza, (David Zayas) dando a entender uma fragilidade das democracias locais. Curiosamente, o corruptor do General e que controla o país é o ex-agente da Cia James Monroe (Eric Roberts). Mesma instituição que contrata o grupo de mercenários para tirar o país do domínio de seu antigo membro.
O enredo não consegue deixar de lembrar a influência que os Estados Unidos tiveram nas ditaduras dos países da América do Sul na segunda metade do século. Tinham pleno interesse no distanciamento dos demais países do continente de Cuba e da União Soviética. James Monroe que controla o fraco General Garza tem um papel de controle em Vilena, mas o envio de uma Milícia para tirar essa ilha de seu poder alude a uma possível redenção norte-americana.
O objetivo de Monroe em Vilena é a produção de tóxicos e é controlando Garza que o cumpre. Esse ditador latino-americano, ainda é um traidor de seu povo, vende o trabalho dos filhos de sua pátria a um representante do país que mais consome cocaína no mundo. A fictícia Vilena não é nada mais que um seleiro das drogas consumidas nos E.U.A. graças ao lucro de Monroe com a anuência do ditador. Situação que se reverte graças à milícia de Barney Ross que, por sua vez, nutre uma simpatia para com Sandra (Ytié) filha do General Garza.
O novo filme de Stallone constroi uma imagem de como os norte-americanos se relacionam com países que de alguma forma possam contrariar seus interesses. Para tirar Vilena do domínio de Monroe o lugar teve de ser destruído pelo grupo de Ross. Resta torcer para que a produção hollywoodiana não inspire a realidade, mas, a julgar pelo andar da carruagem, já apareceram previsões (espero que os analistas videntes sejam neuróticos) que depois do Oriente Médio a América Latina possa vir a ser palco de interferências norte-americanas.
Na divulgação do filme, no Comiccon 2010, Stallone declarou que filmar no Brasil foi bom. Disse que podiam matar pessoas, explodir tudo e diziam "Obrigado, obrigado e leve um macaco". Ainda traziam cachorro quente para aproveitar o fogo. Referiu-se também ao símbolo do Bope, uma caveira, duas armas e uma adaga cravada no centro, como elemento que mostra o Brasil como um país problemático. As afirmações do autor repercutiram instantaneamente pela internet. Esse desculpou via Twitter de imediato. O Fantástico ainda enviou um jornalista para entrevistá-lo, como que a tirar satisfações.
Se Sylvester Stallone quis ou não reproduzir, com seu filme, uma série de estereótipos sobre os países latino-americanos não importa. Se o preconceito demonstrado pelo diretor, com relação ao Brasil, interferiu em seu trabalho também não importa. Ocorre que o palco para criado para seus brutamontes bancarem os heróis é uma suposta ilha na América do Sul.
O cinema nacional protagonizou uma retomada depois da primeira metade da década de 1990 a fase, do governo Collor em que foram extintos órgãos como a Embrafilme, o Concine e a Fundação do Cinema Brasileiro, sem incentivos. Na segunda metade desta mesma década e nesta primeira, e quase findada, do século XXI temos em nosso cinema toda uma gama de representações e reconstruções dos principais dilemas de nossa sociedade e também um cinema atrelado aos programas e artistas que fazem sucesso na televisão aberta que busca também o seu quinhão deste sucesso. O filme que estreou em agosto de 2009, Os normais 2 - a noite mais maluca de todas, toma este último caminho.
Originalmente a série Os normais foi exibida entre 2001 e 2003, com 71 episódios que alcançaram grande audiência. O primeiro longa, Os normais - O filme, estreou em 2003 encampando um formato meio que comédia romântica e o segundo, Os normais 2 - a noite mais maluca de todas, chegou ás telas, em agosto de 2009, com direção de José Alvarenga Junior e roteirização de Alexandre Machado e Fernanda Young, a mesma equipe da série de TV. Produzido em parceria com a Globo Filmes, criada em 2002 pela Rede Globo com objetivo de atuar na produção e distribuição de filmes nacionais, este também conta com a presença massiva de atores da emissora da série original.
No filme o casal Rui e Vani (Luís Fernando Guimarães e Fenanda Torres) se deparam com o fato de que sua vida sexual está cada vez mais escassa e para tentar resolver este problema resolvem aderir a uma relação sexual envolvendo mais uma pessoa. Os dois iniciam então uma espécie de romaria noturna, á procura de uma mulher bissexual, que rende boas risadas. Entram em cena, então, atrizes badaladas de televisão interpretando possíveis parcerias: uma prima do casal, (Drica Moraes) uma lutadora de kickboxer, (Danielle Suzuki) uma prostituta, (Alinne Morais) que dopa o casal e juntamente com um cúmplice rouba todos os seus móveis, e por fim quando encontram uma mulher bissexual (Claudia Raia) não conseguem levar a fim seu objetivo, terminando entalados os três numa banheira. A única pessoa em condições de ajudar o trio, interpretada pelo ator Daniel Dantas, exita em o fazer porque Rui não se lembra do seu nome. A história termina com o casamento de Rui e Vani que eram noivos.
Uma das características do cinema nacional, as pornochanchadas, da década de 1970, que fez uma parcela do público brasileiro estigmatizar este como que de vocabulário indecente e vulgar era a excessiva utilização de palavrões. Em Os normais 2 - a noite mais maluca de todas, isso também vale para o primeiro filme da série, vemos uma enxurrada de fodas, porras, caralhos, pirocas e xerecas que aproxima os diálogos de uma linguagem de alcova não tão corriqueira em boa parte dos filmes nacionais dos últimos anos. Se alguns destes buscaram fazer as pazes com a parcela do público que não é afeito aos ditos palavrões, na tela do cinema, Os normais 2 - a noite mais maluca de todas, figura mais como uma bofetada na cara deste mesmo público, isto a considerar pela variedade quantidade e naturalidade em que são pronunciadas as palavras de “sacanagem” pouco quistas pelos ouvidos mais sensíveis.
Mesmo tratando do ménage à trois, o filme em absoluto não é erótico, as supostas cenas de sexo são mais engraçadas que sensuais. Essa temática também não chega a ser polêmica, pois vivemos em um momento de liberação sexual em que muitos casais aderem a este tipo de prática, existem casas noturnas dedicadas a este público e a grande mídia está com seus holofotes centrados no bissexualismo feminino. No filme é a personagem Vani, com o objetivo de salvar a relação, que propõe a Rui realizarem está prática e os dois então vão à casa da prima Silvinha, Drica Moraes, que aceita a proposta, mas faz uma advertência, aos dois, que vai ao encontro da opinião de muitos especialistas: depois de um Ménage à trois muita coisa pode mudar na vida de um casal.
Um Professor em Apuros
2.6 30Dilemas de professor universitário, produtividade, estabilidade, etc
Vivendo e Aprendendo
2.9 59Professor universitário que nao foge do estereótipo.
Emmanuelle 4
2.8 17O filme traz vários estereótipos sobre o Brasil. Vale conferir.
Legalmente Loira
3.1 758 Assista AgoraA patricia quando se torna boa aluna é assediada por professor. O recusa. Reforça a imagem do professor universitário com disponibilidade para suas alunas.
Filhos da Guerra
4.0 63Filhos da Guerra
Jornal da Manhã 11/01/2009
Uma história absolutamente incomum e peculiar, a do judeu alemão Solomon Perel, foi contada no filme 'Filhos da Guerra', uma co-produção alemã e francesa, dirigido pela polonesa Agnieszka Holland em 1990. No enredo, a família Perel estava refugiada em Loda na Polônia, mas quando essa cidade foi invadida por tropas da Alemanha Nazista o jovem Solomon fugiu com seu irmão, do qual depois se perdeu, se refugiando num orfanato bolchevique. Depois de quebrado o pacto Hitler-Stalin e do bombardeio da cidade de Grodno, União Soviética, onde se localizava o orfanato, Perel caiu na mão de tropas nazistas, mas longe de ser descoberto como judeu se tornou uma espécie de herói de guerra. Invejado por seus colegas, admirado por seu superior e posteriormente amado por uma linda moça alemã, Solomon viveu todo o tipo de situações inusitadas para ocultar sua origem judaica.
Ao final do filme é marcante o depoimento de Perel que, depois da Segunda Guerra, se mudou com sua família para Israel e afirmou que após o nascimento do seu primeiro filho não hesitou em circuncidá-lo. Esse drama isolado é apenas uma das inúmeras narrativas que tratam de um dos episódios mais trágicos da humanidade, o holocausto. Um momento histórico em que judeus, ciganos e homossexuais eram considerados seres que não mereciam estar no mundo. A craniologia e a frenologia, ciências preconceituosas em voga no fim do século XIX e início do XX, atestavam que a raça pura, germânica era superior e destinada à grandeza, portanto indivíduos ou povos mestiços eram responsabilizados por tudo de ruim que pudesse acontecer. O resultado disso é que a, ressentida, Alemanha, liderada por Adolf Hitler, implementou um programa que envolveu discriminação, segregação e extermínio de mais de seis milhões de judeus.
O holocausto talvez tenha dado mais legitimidade, perante a comunidade internacional, ao sionismo, um movimento que reivindicava a autodeterminação do povo judeu em um território, mas um território, que não era habitado por uma maioria judaica. A Palestina, uma região que desde o ano 350 d.C. era habitada por povos árabes. Ainda que esses povos também tivessem origem judaica, o movimento sionista tinha por base uma migração com expectativas, língua e cultura de judeus do leste europeu. Uma das conseqüências da Primeira Guerra Mundial foi que o território da Palestina saiu do domínio turco-otomano passando para o controle da Inglaterra. Os ingleses se mostraram favoráveis à causa sionista considerando que, depois da Declaração de Balfor, a migração de judeus para o território palestino teve um incremento significativo nas duas décadas anteriores a 1945. Após essa data a migração se acentuou e em 1947, quando terminou o domínio inglês sobre a região, o convívio entre árabes e judeus já havia extrapolado para o nível da violência mútua o que levou a ONU a propor a divisão do território em dois Estados, um judeu e outro árabe.
Essa divisão proposta pela organização das Nações Unidas agradou aos judeus sionistas, mas não aos árabes, aos quais caberiam 45% do território em litígio, em benefício dos judeus com 55%. Em 1948 Israel se declara um Estado independente, mesmo ano em que cessa o domínio britânico da Palestina. Seis países árabes vizinhos não reconheceram o novo Estado o que originou a Primeira Guerra árabe-israelense. Seguindo esse conflito vieram a Guerra de Suez (1956), a Guerra dos Seis Dias (1967) e a Guerra do Yom Kippur (1973). Mesmo atualmente, o Egito e a Jordânia reconhecendo a autoridade de Israel como Estado Nacional o mesmo não aconteceu com os outros países envolvidos nas guerras, como o Líbano, Síria, Iraque e Arábia Saudita. A indignação e a luta dos palestinos se dá no momento atual através dos grupos como o Hesbollah, sediado no Líbano, e o Hamas, um partido mais radical e o Fatah, considerado mais moderado.
O nosso ano de 2009 ja se iniciou com uma intensificação da violência entre sionistas e palestinos. Os israelenses alegam que seu território foi alvejado por foguetes lançados por militantes do Hamas. Armamentos que podem ter sido conseguidos através de uma rede túneis na fronteira palestina com o Egito. Uma das reivindicações do governo israelense para um cessar fogo, negociado pela França e pelo Egito, é a garantia que tal rede de túneis não possa ser reativada, o que poderia rearmar o Hamas. A ofensiva israelense nao tem polpado nem mesmo civis e entre as vítimas estão inclusive crianças. Números divulgados pelas autoridades palestinas dizem que entre as 600 vítimas da faixa de Gaza, 205 são crianças. Até mesmo uma escola da ONU foi bombardeada sob a alegação de que nela haviam militantes.
No filme mencionado no início desse texto, vemos um adolescente judeu que passou pelas mais diversas situações para escapar da catástrofe que foi o holocausto judeu. Mas a criação do Estado de Israel nos mostra que na História não existe o bem e o mal ou mocinhos e bandidos. O povo que foi vítima de uma tragédia indizível se tornou algoz e quem sabe futuramente possamos assistir, com pesar, a um filme ou ler um livro que narre as atrocidades dos últimos bombardeios israelenses na faixa de Gaza e o drama dos filhos dessa guerra.
Central do Brasil
4.1 1,8K Assista AgoraProfessores no cinema nacional
Revista Médio Paraíba 16/11/2009
Central do Brasil, de Walter Salles, é um filme de grande importância. Pertence ao chamado cinema da retomada que floresceu posteriormente ao período do Governo Collor quando foram extintos órgãos como a Embrafilme. No enredo temos o encontro de Dora (Fernanda Montenegro) que atua escrevendo cartas, na Estação Central do Brasil, para pessoas analfabetas e Josué (Vinicius de Oliveira) menino que é criado por Ana sua mãe (Soia Lira) longe do pai e que ansia por conhecer este mesmo. A trama leva os destinos de Dora e Josué se unirem na procura deste pai o que se torna motivo para uma viagem a um Brasil do interior. O pai não é encontrado e sim irmãos paternos que acolhem Josué. Acerca do filme muito se debateu, entretanto um elemento que consideramos merecer atenção passou quase que despercebido.
Pensemos em Dora, aquela que escreve cartas para pessoas que não dominam a escrita, que transcreve para o papel o que ouve de seus clientes e se compromete a postar as cartas e não o faz. A mesma Dora que relê as cartas com sua amiga Irene (Marília Pêra) e decide rasgar a quase todas e as que não levam este destino são engavetadas. Essa mesma senhora já aposentada e que utiliza este ofício para complementar seu orçamento doméstico. Este mesmo personagem, uma mulher solteira, já em idade avançada não tendo constituído família que carrega um amargor demonstrado nas feições sem pintura e na maneira, por vezes ríspida, de tratar os próprios fregueses é uma professora. Em Central do Brasil vemos esta professora primária aposentada cuja descrição não é tão distante da construída por Mary Del Priore, para o fim do Século XIX, no seu livro “Matar para não morrer”.
Vejamos:
As moças que se considerassem feias e retraídas eram "chamadas" para o magistério. Ser professora constituía trabalho aceitável para as mulheres sós. Um único turno, salário modesto e exigência de bons costumes. Aquelas a quem a maternidade física fora vedada cumpriam suas funções como "mães espirituais". A professora solteirona era de poucos sorrisos. Sua afetividade ficava escondida. Severidade e secura, óculos, coque, roupas escuras, pêlos no rosto (...) "O pior, para uma mulher, é não casar. O celibato feminino é uma fábrica ativíssima de monstros. A mulher é um ser profundamente afetivo. Nasceu para amar - seja a um homem, a um santo ou a um gato. (...) e infernizam a alma terna das crianças (devia ser proibida a existência de professoras solteiras!). Como não casaram, descarregam nos petizes todo o fel acumulado em longos anos de renúncia.
Em momentos diferentes da história de nosso país, intervalados por mais ou menos um século, vemos imagens muito parecidas de professoras: mulheres amargas, que não foram requisitadas no mercado matrimonial e desatribuídas de qualquer encanto físico. Claro que neste último século o perfil da profissão mudou muito. Não se pode dizer que as descrições assemelhadas, acima, representem com os mesmos aspectos a maioria do professorado, pois a profissão também se masculinizou, embora pesquisas indiquem que o número de mulheres tenha crescido mais. Também não podemos dizer que a maioria destas são solteiras, ou sem prole, mas esta professora de Central do Brasil traz uma imagem emblemática.
Uma imagem que podemos facilmente construir de professores atualmente é de pessoas mal remuneradas, num ambiente de trabalho que pode beirar à periculosidade não raramente e que oferece um elevado nível de estresse. O excesso de trabalho tem que ser outro componente da descrição, um trabalho que tem que ser terminado em casa roubando tempo de lazer nos fins de semana. Pessoas que têm por vezes os nervos à flor da pele e que os anos de carreira se encarregam de tornar endurecidas e com vários problemas de saúde específicos. A profissão não é exclusivamente feminina nem de excluídos do mercado matrimonial, mas quando o cineasta pensou em um personagem duro e amargo, Dora, está havia sido uma professora.
Lula, o Filho do Brasil
2.7 1,1K Assista AgoraO Filho do Brasil em comentários e colunas
Observatório da Imprensa 8/12/2009
As revistas Veja e IstoÉ já trouxeram reportagens de capa sobre o filme Lula, o Filho do Brasil, de Fábio Barreto. O crítico de cinema Luís Zanin postou em seu blog comentários sobre o filme e o antropólogo Roberto Da Matta também escreveu sobre este em sua coluna. De acordo com o historiador Alcides Freire Ramos, a opinião dos autores e a crítica sobre uma obra fílmica produz uma gama de significações que deve ser levada em consideração por ter grande influência sobre a recepção do público. Vejamos como alguns segmentos da mídia e os autores interpretaram o filme.
Tanto em Veja como IstoÉ, a principal tônica é a de que o filme tem por objetivo beneficiar, na campanha presidencial de 2010, o sucessor escolhido por Lula, Dilma Rousseff. Em Veja, edição 2140 de 22/11, a reportagem traz uma lista de empresas com investimentos do governo e que foram doadoras para o projeto de 16 milhões da LC Barreto, empresa produtora do filme e da propriedade do veterano Luís Carlos Barreto. Esteticamente, o filme é caracterizado como medíocre, ponto de vista que passa ao largo do crítico Luís Zanin e é comparado ao martírio de Cristo como forma de reforçar a tese da mitificação de Lula. Mitificação em vida que parece ser consensual, como negativa, entre os intelectuais entrevistados pelas duas revistas semanais e também nas colunas de Diogo Mainardi (também de Veja e opositor inveterado do presidente) e de Roberto Da Matta (O Globo) que traçam paralelos entre a figura presidente Lula e a forma como líderes totalitários do século 20 construíram suas imagens.
Sem pretensão propagandística
Já IstoÉ, edição 2083 de 14/10, traz detalhes da produção, entrevistas com figurantes do filme e pessoas que fizeram parte da história de Lula e da formação do PT. É colocado em dúvida se a película atingirá seu objetivo eleitoral, tendo em vista que Dilma Rousseff é encarada como uma desconhecida incapaz de reter o voto dos eleitores que votariam em Lula. Dona Lindu, mãe de Lula, que morreu em 1980 é vista como um dos personagens principais "de que barro Lula foi feito", como afirma a autora da biografia que deu origem ao filme, Denise Paraná. O diretor Bruno Barreto também é entrevistado e diz que sem o ator mineiro, Ricardo Diaz, que aspirava a um papel de enfermeiro, não haveria filme. Também é frisado que o filme não se utilizou dos incentivos públicos e da Lei Rouanet, mas de particulares. É acrescentado em Veja que o ministro Franklin Martins foi bastante atuante na captação de recursos. Outra informação comum aos dois semanários é que a obra omite episódios polêmicos da vida de Lula, focalizando a figura ímpar cuja história constitui por si só um roteiro de cinema.
O crítico Luís Zanin (O Estado de S. Paulo), antes de assistir ao filme já estava ciente de que este teria de ser medido não apenas por sua qualidade cinematográfica como também por sua repercussão política. Na opinião do crítico, a ênfase no melodrama exagerado tornou os personagens unidimensionais o bastante para serem desumanizados. A interpretação de Glória Pires, para dona Lindu, é um ponto alto que salva alguns diálogos fracos e impede que a obra descarrilhe para o desastre, sendo composta de bons e maus momentos, um filme irregular. Bem aplaudido, é verdade, mas não tanto quanto a cúpula petista esperava, ao final da exibição. Uma exibição que gerou uma expectativa como nunca havia se visto no cinema nacional.
O diretor Bruno Barreto, em entrevista coletiva, afirma ter se preparado para este filme o bastante para se considerar hoje a pessoa que mais entende de sindicalismo no Brasil. Afirma que o tom melodramático foi, de fato, uma opção e que se a partir daí o filme gerar alguma reflexão será bem-vinda. Seu pai, Luís Carlos Barreto, afirma que a obra não tem nenhuma pretensão propagandística e que não cederá nenhum fotograma sequer para a campanha. Seja como for, vem bem a calhar esta produção em ano véspera de eleição, um filme que já vinha sendo planejado desde 2003.
Transformers
3.4 1,3K Assista AgoraMemórias da infância e filmes de aventura
Revista Médio Paraíba 27/09/2009
Num domingo à tarde resolvemos assistir a um filme no cinema. É pena que as únicas salas, hoje em dia, fiquem em templos que costumamos chamar de ‘Shoppings’. A escolha o filme ficou atrelada às lembranças evocadas pela infância. Transformers. É pena que muitas das minhas memórias afetivas sejam sobre artefatos culturais construídos em outro país, mas atire a primeira pedra quem nasceu no final da década de 1970 e não é um colonizado.
No enredo do filme um grupo de robôs alienígenas, Autobots, está alojado na Terra para protegê-la de um grupo de robôs inimigos, os Decepticons. Ao que parece é o segundo filme da série e depois de tantos anos e de tantas outras versões ainda guarda os principais personagens da animação da década de 1980. Na série original o líder dos Autobots é Óptimus, que agora no filme recente é Óptimus Prime. O simpático Bumblebee, que se transformava em fusca, é um carrão amarelo com personalidade de cachorro. Outros dois robôs, carros, fazem menção evidente aos divertidos monstrinhos Gremmilins, seguindo uma tendência mais atual das animações.
Entre os robôs Decepticons o líder, Megatron, continua seguido por Starscream, sempre a postos para passar uma rasteira no chefe, e por Soundwave, o mesmo puxa-saco, que tinha um cachorro, Ravage, que se transformava no que havia de mais moderno na época, uma fita K7 ou um disquete de computador. Os Decepticons, que na animação original tinham linhas retas bem definidas, no filme foram mais monstrualizados, o que também aconteceu com os Autobots em menor escala.
O casal romântico, ao gosto norte-americano estadunidense, torna a história melosa o bastante para atender a um público que pode se interessar por um romance forçado entre o jovem que vai para a universidade e uma moça curvilínea, com roupas muito curtas, que conserta motos na oficina de seu pai que é ex-presidiário. Alguns lances de humor garantem boas risadas e as cenas de luta entre os robôs por vezes escapam à agilidade dos olhos.
Mas, longe de ser apenas entretenimento inocente o filme se mostra bastante politizado. Um exemplo disso é que a luta dos robôs também gira torno do energon, a fonte de energia que os alimenta, nada distante de uma das principais questões de nosso tempo que é a substituição da matriz energética. Também ao lado dos Autobots temos o Exército dos EUA, que ocupa um papel significativo na trama e nos combates, conseguindo até reforços militares com países árabes, como a Jordânia, lutando ao lado dos robôs e quase que tirando o papel principal destes que se encontram alojados em dependências deste mesmo exército.
A trama também traz em voga a antiga especulação de que as pirâmides do Egito Antigo não poderiam ter sido construídas por humanos e podendo ter sua existência explicada pela presença antepassados dos Autobots e Decepticons, os Primes, a 17000 anos a.C.. Esta recorrência a uma explicação fictícia também serve para tornar plausível, no filme, tanto a presença de alienígenas entre nós quanto a convivência pacífica entre homens e estes que por acaso são máquinas.
Também não podia faltar uma casquinha, pra não deixar de lado o preconceito tradicional dos estadunidenses com outros povos, desta vez com relação aos árabes, quando num posto militar um carro, Autobot, com os mocinhos da trama, é rapidamente liberado, depois que estes últimos se identificam como americanos, aparecendo como salvadores da pátria, ou grandes benfeitores do mundo árabe. Cinema é apenas entretenimento? Neste caso não mesmo.
Espero que o público brasileiro, e de outros países encontrem outros significados para o conteúdo de filmes como este, produzidos por esta verdadeira máquina de construção de consciências e mentalidades, ideologias e imaginários que é o cinema dos EUA. Também é uma opção, que não se pode descartar, pensar que as palavras desta coluna não passam de neurose. Entretanto, eram muito bons os tempos em que a inocência da tenra idade permitia assistir a um filme sem levar em conta alguns matizes que acabam nos tornando muito chatos.
Os Mercenários
3.2 1,9K Assista AgoraOs Mercenários, mocinhos ou bandidos?
Revista Contemporartes 26/12/2010
Um filme pode gerar muitos significados. Provavelmente, boa parte desses pode ir de encontro à intenção inicial do autor. Entre a intenção desse último e a recepção do público existem filtros que podem dar novos significados à obra. Além dos autores, são os críticos e comentadores que desempenham um papel que pode inclusive influenciar o gosto do público e a forma como esse interpretará a obra fílmica.
Os Mercenários (The Expandables) é o último filme dirigido e protagonizado por Sylvester Stallone. O elenco conta com brutamontes dos filmes de ação que figuram no cinema estadunidense, desde os veteranos da década de 1980 até os surgidos mais recentemente e também a atriz brasileira Gisele Ytié. O enredo é referente a um grupo de paramilitar que é contratado para tirar do poder um general de um país latino-americano corrompido por um ex-agente da Cia.
O filme está repleto de estereótipos, ainda que possa não ter nenhuma intenção de dialogar com temas do presente. Somális fazem reféns em um navio e são massacrados pela milícia de Barney Ross (Stallone). O fictício país da América do Sul (Vilena) onde se passa maior parte da ação é governado por um militar corrupto, General Garza, (David Zayas) dando a entender uma fragilidade das democracias locais. Curiosamente, o corruptor do General e que controla o país é o ex-agente da Cia James Monroe (Eric Roberts). Mesma instituição que contrata o grupo de mercenários para tirar o país do domínio de seu antigo membro.
O enredo não consegue deixar de lembrar a influência que os Estados Unidos tiveram nas ditaduras dos países da América do Sul na segunda metade do século. Tinham pleno interesse no distanciamento dos demais países do continente de Cuba e da União Soviética. James Monroe que controla o fraco General Garza tem um papel de controle em Vilena, mas o envio de uma Milícia para tirar essa ilha de seu poder alude a uma possível redenção norte-americana.
O objetivo de Monroe em Vilena é a produção de tóxicos e é controlando Garza que o cumpre. Esse ditador latino-americano, ainda é um traidor de seu povo, vende o trabalho dos filhos de sua pátria a um representante do país que mais consome cocaína no mundo. A fictícia Vilena não é nada mais que um seleiro das drogas consumidas nos E.U.A. graças ao lucro de Monroe com a anuência do ditador. Situação que se reverte graças à milícia de Barney Ross que, por sua vez, nutre uma simpatia para com Sandra (Ytié) filha do General Garza.
O novo filme de Stallone constroi uma imagem de como os norte-americanos se relacionam com países que de alguma forma possam contrariar seus interesses. Para tirar Vilena do domínio de Monroe o lugar teve de ser destruído pelo grupo de Ross. Resta torcer para que a produção hollywoodiana não inspire a realidade, mas, a julgar pelo andar da carruagem, já apareceram previsões (espero que os analistas videntes sejam neuróticos) que depois do Oriente Médio a América Latina possa vir a ser palco de interferências norte-americanas.
Na divulgação do filme, no Comiccon 2010, Stallone declarou que filmar no Brasil foi bom. Disse que podiam matar pessoas, explodir tudo e diziam "Obrigado, obrigado e leve um macaco". Ainda traziam cachorro quente para aproveitar o fogo. Referiu-se também ao símbolo do Bope, uma caveira, duas armas e uma adaga cravada no centro, como elemento que mostra o Brasil como um país problemático. As afirmações do autor repercutiram instantaneamente pela internet. Esse desculpou via Twitter de imediato. O Fantástico ainda enviou um jornalista para entrevistá-lo, como que a tirar satisfações.
Se Sylvester Stallone quis ou não reproduzir, com seu filme, uma série de estereótipos sobre os países latino-americanos não importa. Se o preconceito demonstrado pelo diretor, com relação ao Brasil, interferiu em seu trabalho também não importa. Ocorre que o palco para criado para seus brutamontes bancarem os heróis é uma suposta ilha na América do Sul.
Os Normais 2 - A Noite Mais Maluca de Todas
3.1 903Sacanagem no cinema nacional
O cinema nacional protagonizou uma retomada depois da primeira metade da década de 1990 a fase, do governo Collor em que foram extintos órgãos como a Embrafilme, o Concine e a Fundação do Cinema Brasileiro, sem incentivos. Na segunda metade desta mesma década e nesta primeira, e quase findada, do século XXI temos em nosso cinema toda uma gama de representações e reconstruções dos principais dilemas de nossa sociedade e também um cinema atrelado aos programas e artistas que fazem sucesso na televisão aberta que busca também o seu quinhão deste sucesso. O filme que estreou em agosto de 2009, Os normais 2 - a noite mais maluca de todas, toma este último caminho.
Originalmente a série Os normais foi exibida entre 2001 e 2003, com 71 episódios que alcançaram grande audiência. O primeiro longa, Os normais - O filme, estreou em 2003 encampando um formato meio que comédia romântica e o segundo, Os normais 2 - a noite mais maluca de todas, chegou ás telas, em agosto de 2009, com direção de José Alvarenga Junior e roteirização de Alexandre Machado e Fernanda Young, a mesma equipe da série de TV. Produzido em parceria com a Globo Filmes, criada em 2002 pela Rede Globo com objetivo de atuar na produção e distribuição de filmes nacionais, este também conta com a presença massiva de atores da emissora da série original.
No filme o casal Rui e Vani (Luís Fernando Guimarães e Fenanda Torres) se deparam com o fato de que sua vida sexual está cada vez mais escassa e para tentar resolver este problema resolvem aderir a uma relação sexual envolvendo mais uma pessoa. Os dois iniciam então uma espécie de romaria noturna, á procura de uma mulher bissexual, que rende boas risadas. Entram em cena, então, atrizes badaladas de televisão interpretando possíveis parcerias: uma prima do casal, (Drica Moraes) uma lutadora de kickboxer, (Danielle Suzuki) uma prostituta, (Alinne Morais) que dopa o casal e juntamente com um cúmplice rouba todos os seus móveis, e por fim quando encontram uma mulher bissexual (Claudia Raia) não conseguem levar a fim seu objetivo, terminando entalados os três numa banheira. A única pessoa em condições de ajudar o trio, interpretada pelo ator Daniel Dantas, exita em o fazer porque Rui não se lembra do seu nome. A história termina com o casamento de Rui e Vani que eram noivos.
Uma das características do cinema nacional, as pornochanchadas, da década de 1970, que fez uma parcela do público brasileiro estigmatizar este como que de vocabulário indecente e vulgar era a excessiva utilização de palavrões. Em Os normais 2 - a noite mais maluca de todas, isso também vale para o primeiro filme da série, vemos uma enxurrada de fodas, porras, caralhos, pirocas e xerecas que aproxima os diálogos de uma linguagem de alcova não tão corriqueira em boa parte dos filmes nacionais dos últimos anos. Se alguns destes buscaram fazer as pazes com a parcela do público que não é afeito aos ditos palavrões, na tela do cinema, Os normais 2 - a noite mais maluca de todas, figura mais como uma bofetada na cara deste mesmo público, isto a considerar pela variedade quantidade e naturalidade em que são pronunciadas as palavras de “sacanagem” pouco quistas pelos ouvidos mais sensíveis.
Mesmo tratando do ménage à trois, o filme em absoluto não é erótico, as supostas cenas de sexo são mais engraçadas que sensuais. Essa temática também não chega a ser polêmica, pois vivemos em um momento de liberação sexual em que muitos casais aderem a este tipo de prática, existem casas noturnas dedicadas a este público e a grande mídia está com seus holofotes centrados no bissexualismo feminino. No filme é a personagem Vani, com o objetivo de salvar a relação, que propõe a Rui realizarem está prática e os dois então vão à casa da prima Silvinha, Drica Moraes, que aceita a proposta, mas faz uma advertência, aos dois, que vai ao encontro da opinião de muitos especialistas: depois de um Ménage à trois muita coisa pode mudar na vida de um casal.