A perversidade do sistema capitalista e os efeitos que ele produz na vida das pessoas, sobretudo das que trabalham informalmente. Perturba pela universalidade do drama. Em todo lugar o capitalismo funciona assim. O capital pelo capital. A redução de pessoas ao lucro que podem gerar. Um filme que causa revolta.
A morte - este fenômeno que nos ensina tanto sobre a vida - num filme japonês que a retrata com a delicadeza esperada dos orientais. Aqui ela é usada como elo que une vivos e mortos através do ''embalsamento'', ou ''acondicionamento'', um ritual de passagem desta vida para outra. O protagonista é um rapaz que, levado pela força do destino, torna-se um embalsamador, trabalho que lhe dá o sentido necessário para a vida e o reconcilia com seu passado, lhe permitindo ressignificar eventos familiares que o marcaram. A última cena é de encher os olhos. Uma das mais emocionantes que já vi em um filme. As tantas premiações, incluindo o Oscar de melhor filme estrangeiro, são perfeitamente justificadas.
A morte de uma criança, uma autópsia que deixa dúvidas sobre as suas causas e uma bola de neve de eventos que reviram vidas pelo sentimento de culpa - merecido ou não -, em um intenso drama iraniano que ilustra como pequenas ações adversas podem ser amplificadas por más decisões, mesmo que involuntárias, investindo na incerteza, em dilemas morais e no senso de responsabilidade pessoal dos personagens.
''Às vezes quando, abatido e humilde, A própria força de sonhar se me desfolha e se me seca, E o meu único sonho só pode ser o pensar nos meus sonhos, Folhei-os então, Como um livro a que se folheia e se torna a folhear Sem ler mais que palavras inevitáveis.
É então que me interrogo sobre quem tu és, Figura que atravessas todas as minhas visões demoradas
De paisagens outras, E de interiores antigos e de cerimoniais faustosos de silêncio.
Em todos os meus sonhos Ou apareces, sonho, ou, realidade falsa, me acompanhas.
Visito contigo regiões que são talvez sonhos teus, Terras que são talvez corpos teus de ausência e desumanidade, O teu corpo essencial descontornado para planície calma E monte de perfil frio em jardim de palácio oculto.
Talvez eu não tenha outro sonho senão tu, Talvez seja nos teus olhos, Encostando a minha face à tua,
Que eu lerei essas paisagens impossíveis, Esses tédios falsos, Esses sentimentos que habitam a sombra dos meus cansaços E a gruta dos meus desassossegos.
Quem sabe se as paisagens dos meus sonhos Não são o meu modo de não te sonhar?
Eu não sei quem tu és, Mas sei ao certo que sou?
Sei eu o que é sonhar Para que saiba o que vale o chamar-te o meu sonho?
Sei eu se não é uma parte, Quem sabe se a parte essencial e real, de mim? E sei eu se não sou eu o sonho e tu a realidade, Eu um sonho teu e não tu um sonho que eu sonhe?
Que especie de vida tens? Que modo de ver é o modo como te vejo? Teu perfil?
Nunca é o mesmo, mas nao muda nunca. E eu digo isto porque sei, ainda que não saiba o que sei.
Para além de alguns comentários já feitos, o filme também faz revolver em nós a velha e quase universal vontade de transmudar-se em outro. Quem nunca quis, em algum momento, poder esquecer-se de si, deixar de ser quem se é ou de quem foi condicionado a ser para ser outra pessoa, levando a vida de outra forma, percorrendo outros caminhos?
''Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.''
Vinicius de Moraes. Ausência. Rio de Janeiro, 1935.
A sinopse do filmow é improcedente, ou pelo menos não informa a trama com precisão. O filme é muito bom. Soa como uma leitura adaptada à maneira dos irmãos Coen da obra ''O Estrangeiro'', do Albert Camus.
Digno de nota: o filme, como sabem, foi baseado em ''Le feu follet'', do Drieu La Rochelle, e há um outro filme baseado no mesmo livro, que talvez nem todos conheçam, chamado ''30 anos esta noite'', do Louis Malle, lançado em 1963. Vale a pena conferir.
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Microhabitat
4.2 7510 conto o Marlborão. Foda.
Você Não Estava Aqui
4.1 242 Assista AgoraA perversidade do sistema capitalista e os efeitos que ele produz na vida das pessoas, sobretudo das que trabalham informalmente. Perturba pela universalidade do drama. Em todo lugar o capitalismo funciona assim. O capital pelo capital. A redução de pessoas ao lucro que podem gerar. Um filme que causa revolta.
A Partida
4.3 523 Assista AgoraA morte - este fenômeno que nos ensina tanto sobre a vida - num filme japonês que a retrata com a delicadeza esperada dos orientais. Aqui ela é usada como elo que une vivos e mortos através do ''embalsamento'', ou ''acondicionamento'', um ritual de passagem desta vida para outra. O protagonista é um rapaz que, levado pela força do destino, torna-se um embalsamador, trabalho que lhe dá o sentido necessário para a vida e o reconcilia com seu passado, lhe permitindo ressignificar eventos familiares que o marcaram. A última cena é de encher os olhos. Uma das mais emocionantes que já vi em um filme. As tantas premiações, incluindo o Oscar de melhor filme estrangeiro, são perfeitamente justificadas.
1917
4.2 1,8K Assista Agora''- Quem estará nas trincheiras ao teu lado?
‐ E isso importa?
‐ Mais do que a própria guerra.''
(Diálogo frequentemente atribuído à Hemingway)
Sem Data, Sem Assinatura
3.9 38 Assista AgoraA morte de uma criança, uma autópsia que deixa dúvidas sobre as suas causas e uma bola de neve de eventos que reviram vidas pelo sentimento de culpa - merecido ou não -, em um intenso drama iraniano que ilustra como pequenas ações adversas podem ser amplificadas por más decisões, mesmo que involuntárias, investindo na incerteza, em dilemas morais e no senso de responsabilidade pessoal dos personagens.
Desajustados
3.9 119 Assista Agora''Você é um rapaz maravilhoso... mas é só isso. Entende?''
Que tristeza, bicho.
Corpo e Alma
3.6 222 Assista Agora''Às vezes quando, abatido e humilde,
A própria força de sonhar se me desfolha e se me seca,
E o meu único sonho só pode ser o pensar nos meus sonhos,
Folhei-os então,
Como um livro a que se folheia e se torna a folhear
Sem ler mais que palavras inevitáveis.
É então que me interrogo sobre quem tu és,
Figura que atravessas todas as minhas visões demoradas
De paisagens outras,
E de interiores antigos e de cerimoniais faustosos de silêncio.
Em todos os meus sonhos
Ou apareces, sonho, ou, realidade falsa, me acompanhas.
Visito contigo regiões que são talvez sonhos teus,
Terras que são talvez corpos teus de ausência e desumanidade,
O teu corpo essencial descontornado para planície calma
E monte de perfil frio em jardim de palácio oculto.
Talvez eu não tenha outro sonho senão tu,
Talvez seja nos teus olhos,
Encostando a minha face à tua,
Que eu lerei essas paisagens impossíveis,
Esses tédios falsos,
Esses sentimentos que habitam a sombra dos meus cansaços
E a gruta dos meus desassossegos.
Quem sabe se as paisagens dos meus sonhos
Não são o meu modo de não te sonhar?
Eu não sei quem tu és,
Mas sei ao certo que sou?
Sei eu o que é sonhar
Para que saiba o que vale o chamar-te o meu sonho?
Sei eu se não é uma parte,
Quem sabe se a parte essencial e real, de mim?
E sei eu se não sou eu o sonho e tu a realidade,
Eu um sonho teu e não tu um sonho que eu sonhe?
Que especie de vida tens?
Que modo de ver é o modo como te vejo?
Teu perfil?
Nunca é o mesmo, mas nao muda nunca.
E eu digo isto porque sei, ainda que não saiba o que sei.
Como não te sonhar?''
[Fernando Pessoa: ''nossa senhora do silêncio'']
O Homem Sem Passado
3.8 46Para além de alguns comentários já feitos, o filme também faz revolver em nós a velha e quase universal vontade de transmudar-se em outro. Quem nunca quis, em algum momento, poder esquecer-se de si, deixar de ser quem se é ou de quem foi condicionado a ser para ser outra pessoa, levando a vida de outra forma, percorrendo outros caminhos?
Permanência
3.5 111''Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.''
Vinicius de Moraes. Ausência. Rio de Janeiro, 1935.
O Homem Que Não Estava Lá
4.0 229 Assista AgoraA sinopse do filmow é improcedente, ou pelo menos não informa a trama com precisão. O filme é muito bom. Soa como uma leitura adaptada à maneira dos irmãos Coen da obra ''O Estrangeiro'', do Albert Camus.
Oslo, 31 de Agosto
3.9 194Digno de nota: o filme, como sabem, foi baseado em ''Le feu follet'', do Drieu La Rochelle, e há um outro filme baseado no mesmo livro, que talvez nem todos conheçam, chamado ''30 anos esta noite'', do Louis Malle, lançado em 1963. Vale a pena conferir.