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  • Rafael Fracacio

    Um filme é um filme... Um livro é um livro.
    Dois veículos, duas mídias, dois caminhos.

    Quando li, movido pela curiosidade da popularidade, o romance "Cinquenta Tons de Cinza", não fui tocado pela história. Uma variante de "Crepúsculo" - semelhanças entre a personagem Isabella Swan e Anastasia Steele não são mera coincidência - fica óbvio a inexperiência de E.L. James com autora. Textualmente, o livro é fraco. Muito.

    O que realmente, acredito, tenha sido o principal estopim para o sucesso do livro, é seu conteúdo sexual, retratado de forma explícita, e sob a perspectiva feminina (imatura, diga-se de passagem - nada contra, apenas uma observação).

    Relutei para assistir o filme, pois achei o livro muito aquém das expectativas, e um ponto de vista um tanto distorcido para a prática de sadomasoquismo. Mesmo assim, nem um pouco desprovido de preconceitos, fui assistir.

    Me surpreendi.

    Muitos irão criticar minha visão do filme, mas estou sendo honesto tanto quanto realizador cinematográfico, quanto espectador cinéfilo.

    A direção é impecável. Sam Taylor-Johnson consegue ser sutil do início ao fim. Soube ser fiel ao livro, sem ser submissa, e criou um filme que não é somente uma adaptação, mas uma releitura do romance.

    O primeiro ponto positivo é que o filme não é contado sob o mesmo ponto de vista do livro. Enquanto o livro é uma visão em primeira pessoa da personagem Anastasia Steele sobre o jovem milionário Christian Grey, e sua relação com ele, o filme é um retrato (em terceira pessoa) de um único personagem (o casal) com dois universos distintos: uma jovem insegura, tímida, perdida em universo que não a pertence, e um milionário transtornado, com tendências psicóticas (e submisso a seus desejos), que acaba se envolvendo emocionalmente como nunca em sua vida (pelo menos, até agora, essa é a forma como o filme o retrata).

    A única semelhança narrativa que vejo entre livro e filme é que o livro foi escrito por uma mulher, sobre uma mulher, para mulheres. O filme teve o roteiro adaptado por Kelly Marcel (uma mulher), foi dirigido por uma mulher, para o público feminino.

    Mas, não é sobre uma mulher, é sobre o casal. Aí, talvez, a diferença principal entre as duas mídias me fez começar a ter um interesse maior sobre o filme.

    Em tempo, roteiro preciso e pontual, sem muitas enrolações. Muitos dirão que faltaram momentos importantes do livro, que a história foi distorcida, que faltou as obscenidades, etc.

    Discordo.

    O filme não tem um tom erótico, tampouco sadomasoquista (um momento em que isso fica claro, é quando Anastasia pergunta a Christian Grey se ele é um sádico, e ele retruca dizendo que é um dominador).

    O filme gira em torno de um conflito no casal: ela é insegura, e acredita num relacionamento baseado em romance. Ele tem um passado cruel, traumático, e não consegue se entregar ao amor, por mais que a personagem aos poucos vá desconstruindo essa muralha que circunda Grey.

    Em outras palavras, o casal protagonista joga entre o romance e o drama, de forma muito conflituosa, e cada um dos personagens desperta emoções inertes, porém nunca vividas no outro.

    Permeando essa relação conflituosa, os toques sutis de humor colocam o filme em um gênero que transita entre a comédia romântica e a comédia dramática.

    A trilha sonora de Danny Elfman é um show a parte. Consegue pontuar todos as nuances narrativas, criando climas românticos, tensos e apreensivos, cômicos, e delicados, ajudando a compor a mise-en-scene, sempre muito bem construída - Hugo Munsterberg teria orgulho em ver como suas teorias sobre o uso do close se encaixam de forma tão apropriada quanto nessa obra.

    Ainda sobre a trilha sonora, um detalhe curioso que me chamou a atenção: um clássico da música erudita brasileira está presente no filme. "Bachianas Brasileiras #5", de Villa-Lobos, aparece de forma suave, mas muito presente e muito bem colocada, em um momento crucial que precede o principal ponto de virada do filme. Não me lembro de assistir um blockbuster internacional em que uma música erudita brasileira tenha tido o destaque que teve nesse filme.

    Não deveria ser uma surpresa muito grande, porque essa música já havia sido indicada pela autora para integrar a pseudo trilha sonora do livro (leia-se: caça níquel). Ainda assim, era algo que jamais iria imaginar, até porque Danny Elfman tem um perfil muito pessoal de compor trilha memoráveis.

    Sei que muitos criticaram o ritmo lento e "arrastado" do filme. Não acredito que seja algo ruim nesse filme. Eu mesmo não tenho muita paciência para os tempos mortos de Michelangelo Antonioni (não é uma crítica, é uma questão de gosto pessoal meu), mas aqui o ritmo do filme precisava ser devagar, os conflitos não são exteriorizados, mas se passam internamente no psicológico das personagens, que se comunicam muito com o olhar e pequenos detalhes nas expressões faciais. E nesse ponto, acho que o elenco foi fundamental.

    Muitos acharam que a escolha do elenco não foi adequada, que não condiziam com os personagens do livro. E é verdade. Ainda bem, porque os personagens ficaram críveis - coisa que no livro não são.

    Certas perguntas me incomodavam desde que li o livro:
    - Como um homem que poderia ter a mulher que quisesse iria ceder seus sentimentos a uma jovem insossa e introspectiva, sem nenhum atrativo excepcional de beleza, ou sensualidade?
    - Como uma jovem que se manteve virgem até os 21/22 anos esperando o príncipe encantado chegar num cavalo branco e levá-la para seu conto de fadas se tornaria uma submissa escrava sexual consentida, apta a sofrer torturas físicas e prover prazer ao seu dominatrix?

    Essas questões foram muito bem solucionadas com um elenco que soube dosar emoções e expressões corporais e físicas que dava credibilidade e humanidade aos personagens - o que não acontece no livro.

    E um destaque especial para a pequena participação de Marcia Gay Harden que rouba a cena nos poucos momentos em que aparece.

    Enfim, para concluir, muitos gostaram, muitos odiaram, mas um filme é um filme, e um livro é um livro. As bilheterias comemoram e as sequências chegarão em breve. Gostando ou não, o tão aguardado filme já é uma realidade, e vale a pena ser visto, mesmo que seja para ser criticado.

    Fica a dica...

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  • Filmow
    Filmow

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    Vem participar da brincadeira com a gente, acesse https://filmow.com/bolao-do-oscar/ para votar.
    Boa sorte! :)

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  • michael caine
    michael caine

    ei, tu tem mais algum filme em q as teorias do munsterberg são usadas p indicar??

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