Julio Macedo

A temática é bastante corajosa: tocar no tabu do incesto ao mesmo tempo em que aborda uma relação amorosa entre dois homens. Oportunidade desperdiçada. Quase tudo que podia dar errado deu: péssimos atores, diálogos artificiais, roteiro insosso, montagem sofrível.

A estética toda fica abaixo das telenovelas mais rasteiras. Não se sabe se a gente está diante de um filme ou de um amontoado de "melhores momentos" sem muita conexão. No começo, a entrada insistente do narrador reforça a sensação de artificialidade e didatismo. Depois, o narrador simplesmente desaparece e não volta nem para as considerações finais. Imagens em câmera lenta e uma insistente trilha sonora sentimentaloide dão um ar de vídeo de batizado ou casamento. Nem as cenas eróticas são quentes o bastante para merecer ao menos a indicação a algum Oscar pornô.

Em mais de uma hora e meia de filme, não há conflitos substanciais: nem no interior da relação, nem em relação à sociedade. Em nenhum momento os dois se questionam a respeito de qualquer coisa, nem sobre a homossexualidade, nem sobre a complicadíssima questão do incesto, como se fossem dois bons selvagens saídos diretamente de uma versão gay de A Lagoa Azul. Poderia ser até interessante, embora pouco verossímil, acompanhar a história de um sentimento que surge de maneira tão natural que pode ser vivenciado sem temores e sem remorsos. Mas acreditar que toda a sociedade, a começar pela mãe e pelos pais dos garotos, levam isso com tamanha tranquilidade é abusar demais da nossa boa vontade.

No entanto, é isso que temos: um filme com um tema intrigante e no qual, no fim das contas, não acontece nada, além de ceninhas adolescentemente românticas e umas duas ou três pegadas um pouco mais fortes. Quando a gente pensa que está diante de algum acontecimento relevante, tudo se dilui em diálogos constrangedores e situações que se vão sem deixar claro para que vieram. E toma mais trilhazinha sonora piegas até que o filme súbita e apaticamente termina. "Do começo ao fim" poderia tranquilamente se chamar "Nunca saímos do começo". Uma das maiores frustrações da história do cinema.