Simplesmente maravilhoso. Sem comentário. Quem acha que esse filme é "cabeça" está profundamente equivocado. Primeiro que os diálogos conseguem ser profundos sem perder a simplicidade. Segundo que não há nada de "cabeça" aqui não. Papo cabeça chato é aquele papo pernóstico de gente que quer aparecer por exalar cultura ou quer apequenar os outros por saber construir raciocínios labirínticos. Nada a ver com o que rola aqui: são três personagens muito diferentes que se conhecem e batem papo. Só isso. E o papo não é intrincado, difícil. Não! Eles simplesmente se permitem pensar sobre as mais diversas coisas da vida, sempre de um modo pausado, que dê tempo pra os outros acompanharem o raciocínio, e sempre trocando muita essência, muita verdade, e é por isso que o filme é lindo. É lindo porque essa troca se dá ao som de Philip Glass e dentro de um castelo medieval francês. É lindo porque escapa das verborragias de um Rohmer ou de um Linklater (embora por vezes eu esteja afim do papo desses dois). É lindo, sobretudo, porque é pura verdade.
Tinha tudo pra ser um samba do crioulo doido: americanos, japoneses, mexicanos e índios... balas, flechas, arpões e espadas de samurai. Mas quando o diretor é um gênio ele se permite transcender todas as fronteiras e juntar Bronson, Mifune, Delon e Ursula Andress. Deu muito certo! Como muitos faroestes espaguete, Sol Vermelho é uma belíssima e inesquecível comédia de humor negro. Pura diversão. Genial.
Uma porcaria! Quem vê a Disney hoje tem saudades dos velhos tempos de Branca de Neve e Mary Poppins. Salvo raras exceções, como Up, Wall-E e Os Incríveis, essa história de ter que fazer ao menos uma animação por ano resulta em muita porcaria. São filmes de roteiro pobre e previsível, em que à exceção dos efeitos, como o 3D, quase nada se salva. Já sabemos que as animações de hoje procuram fugir à desgastada fórmula das histórias de amor óbvias, e mesmo assim a história desse filme não tem nada de surpreendente. Qualquer pessoa com um mínimo de imaginação prevê o fim. Não há nada de artístico ou original, e a já rebatida necessidade de uma personagem cômica pra agilizar a história aqui nos apresenta um boneco de neve patético e sem graça que não arranca nem um sorriso. Filme péssimo. Fiquei com sono em vários trechos.
Não é nenhum clássico, é apenas um filme pra rir, e dá pra rir muito! Leandro Hassum é um humorista de primeira, um artista completo e gosto muito de ver gente que de fato sabe fazer o que faz. Camila Morgado é muito engraçada, também. Quanto ao Hassum, parece que bebeu em algumas escolas do humor de Hollywood, a começar por Chaplin e Buster Keaton, mestres da pantomima, bem representada nas graças que Hassum sabe tão bem tirar de seu corpo gordo, passando por O Gordo e O Magro, Irmãos Marx, Jerry Lewis e tantos outros. Hassum está de parabéns, pois um dos maiores desafios para um ator é saber arrancar risadas da plateia, bem mais difícil que arrancar o choro. O filme é muito bom, o roteiro é hilário, enfim, gostei. Há falhas, como a personagem da mãe da personagem de Hassum, forçadíssima, mas há também diálogos muito hilários, como aquele em que a mãe de Morgado diz: "Pense bem, minha filha, não vá fazer algo de que vai se arrepender o resto da vida... Atira logo!" Enfim, um filme super cômico, de roteiro bem sacado, tiradas espirituosas, uma diversão e tanto!
Retrato de uma juventude de determinada época e determinado lugar, no caso anos 80 em Austin, Texas. Delícia de filme. Linklater é um tanto verborrágico, e isso me cansa, mas tem verborragias piores, como a de Eric Rohmer. O que me agrada é o lado onírico dos seus filmes, esse surrealismo é de fato uma delícia, e Slacker se aproxima de O Fantasma da Liberdade, de Buñuel, sem querer comparar Linklater com Buñuel, pois esse último é um papa do cinema. Os filmes de Linklater não são imprescindíveis nem imperdíveis, mas são filmes saborosos de se ver, e esse é da fato muito saboroso, talvez o melhor Linklater.
Junte o misticismo do sertão de Guimarães Rosa com a atuação soberba de Leonardo Villar, sem dúvida um dos melhores atores brasileiros e tão pouco lembrado, e essa trilha deslumbrante e você terá o supra-sumo da arte brasileira. Detalhe: não sei se é impressão minha, mas em vários momentos a interpretação de Villar lembrou-me Toshiro Mifune em seu auge em termos de filmes de samurais.
Acho que Ubiratan Teixeira Filho descreveu perfeitamente o filme. Eu só acrescentaria duas coisas, na verdade duas referências literárias: primeiro, se alguém leu On The Road, de Kerouak, certamente vai identificar ambas as obras. Acho muito provável que Hopper tenha se inspirado em Kerouak como um todo, não só em On The Road, assim como os hippies em muito se inspiraram no movimento beat, de algumas décadas antes, com algumas particularidades: a droga dos beats era a mescalina, por vezes a benzedrina, que Kerouak usava pra escrever, o ritmo era o bebop, ao invés do rock, enfim. E a outra referência, essa relacionada exatamente à fase da decadência do movimento hippie, que o amigo tão bem soube descrever, é o excelente livro A Ilha, de Aldous Huxley, Huxley esse que também em muito influenciou o movimento beat e, por conseguinte, o movimento hippie. A quem se interessa pela contracultura eu indico essas duas maravilhosas obras, se é que já não as leram.
O Casamento de Rachel: A vida é esse mosaico de cores, de nações, de ritmos. É também o mosaico de comédias e dramas, alegrias e tristezas. É isso que faz com que a vida seja linda, e por isso esse filme me arrancou lágrimas. Um filme lindo, que prova que o cinema desta década tem seu vigor e seus talentos. Destaque para as grandes atuações e para o jeito informal como a câmera é conduzida, não parando um só segundo, o que confere dinamismo e quebra qualquer tipo de monotonia: essa técnica de condução da câmera lembra em muito o movimento dinamarquês da década de 90, chamado dogma 95, e o filme é bem parecido com “Festa de Família”, ou “Festen”, o grande ícone do movimento. Assim como no dogma 95, a história de “O Casamento de Rachel” é bastante realista, sem glamourizar (embora se trate de uma festa de arromba) nem criar maniqueísmos comercialescos, pondo complexas questões existenciais “em calças curtas”. A história não recorre à desgastada fórmula do final feliz e também não espanta com tragédias desproporcionais indigeríveis. Simplesmente mostra a vida como ela é, sem ter que dar qualquer tipo de desfecho às questões levantadas. Trata-se de um filme inteligente, saboroso e muito bem dirigido. Achei linda essa junção de etnias numa mesma família americana sendo tratada com naturalidade, e em nenhum momento as pessoas mencionam questões raciais, nem para desfilar preconceitos nem ao menos para empunhar a bandeira progressista. É como se raça fosse coisa que simplesmente inexistisse. O filme traz um casamento inter-racial, que inclusive lhe dá nome, mas essa nem de longe é a questão principal levantada pela história, e isso é que é interessante. É a primeira vez que vejo isso ocorrer no cinema americano. Sidney Poitier, que há quase meio século estreou “Adivinhe Quem Vem para Jantar”, em que tudo girava em torno de seu casamento com uma garota branca, se viu o filme certamente o amou. O cinema lança tendências, e é importante que haja filmes que incentivem os Estados Unidos a se tornarem um país miscigenado como o Brasil. Um inteligente drama psicológico com uma linda trilha sonora, grandes atuações, aceitação da mescla racial, direção empolgante: a fórmula perfeita para um dos melhores filmes dos últimos anos. Fez com que me lembrasse do jazz, do blues, da música folk de Simon e Garfunkel, de Joan Baez, do cinema de Frank Capra, das aventuras de Tom Sawyer: é o que de melhor os Estados Unidos sabem produzir!
É talvez o filme que mais me tenha marcado na vida. Todas as personagens, com seus dramas expressionistas, saltam das telas. E há uma personagem talvez tão principal como Durga, como Apu, como a mãe, a avó, a linda fotografia, uma personagem que fica gravada na memória pra todo o sempre: a música de Ravi Shankar! Essa é uma personagem que grita ao longo do filme todo, e quanto mais angustiante a cena mais a música de Shankar grita! O cinema de Ray é inesquecível e, como alguém aqui disse, é notória sua influência sobre o cinema de Kurosawa, principalmente em termos de fotografia. A Canção da Estrada é filme obrigatório para os bons cinéfilos, e é uma das obras mais líricas da história do cinema. O cinema, hoje, seria mais pobre sem essas obras, e são exatamente elas que fazem com que a sétima arte não seja encarada de forma preconceituosa como a forma de contato com as histórias recomendada àqueles que têm preguiça de ler. É devido a essas obras que o cinema se engrandece.
O Trovão Distante, na minha opinião, é um dos melhores filmes já feitos, não apenas por sua história, mas principalmente por seu aspecto artístico. Ray, como Kurosawa, é um pintor dos telões, e poucas vezes, acho que nenhuma mesmo, nem nos filmes de Glauber Rocha ou de Eisenstein, vi a miséria tão bem pintada. As composições dos cenários são escolhidas a dedo, as cores são meticulosamente compostas como num quadro impressionista, e a decomposição, a angústia, a morte atreladas à miséria são pintadas como no quadro Criança Morta, de Portinari, lembrando também livros, como Vidas Secas, de Graciliano. Quando assisti a Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos, esperava que fosse algo como o filme de Ray, ou ao menos como Deus e o Diabo, de Glauber, mas não achei assim tão bom. Poucos cineastas souberam tão bem quanto Ray transcrever obras literárias para o cinema ou criar filmes tão pictóricos que suas cenas parecem sequências de telas. Ray era um gênio, não digo apenas do cinema, mas da arte como um todo.
Ponto de Mutação
4.0 149Simplesmente maravilhoso. Sem comentário. Quem acha que esse filme é "cabeça" está profundamente equivocado. Primeiro que os diálogos conseguem ser profundos sem perder a simplicidade. Segundo que não há nada de "cabeça" aqui não. Papo cabeça chato é aquele papo pernóstico de gente que quer aparecer por exalar cultura ou quer apequenar os outros por saber construir raciocínios labirínticos. Nada a ver com o que rola aqui: são três personagens muito diferentes que se conhecem e batem papo. Só isso. E o papo não é intrincado, difícil. Não! Eles simplesmente se permitem pensar sobre as mais diversas coisas da vida, sempre de um modo pausado, que dê tempo pra os outros acompanharem o raciocínio, e sempre trocando muita essência, muita verdade, e é por isso que o filme é lindo. É lindo porque essa troca se dá ao som de Philip Glass e dentro de um castelo medieval francês. É lindo porque escapa das verborragias de um Rohmer ou de um Linklater (embora por vezes eu esteja afim do papo desses dois). É lindo, sobretudo, porque é pura verdade.
Solo
4.0 1Filme inteligente e sensível sobre os dilemas que a vida por vezes nos impõe. Gostei muito.
Sol Vermelho
3.8 40 Assista AgoraTinha tudo pra ser um samba do crioulo doido: americanos, japoneses, mexicanos e índios... balas, flechas, arpões e espadas de samurai. Mas quando o diretor é um gênio ele se permite transcender todas as fronteiras e juntar Bronson, Mifune, Delon e Ursula Andress. Deu muito certo! Como muitos faroestes espaguete, Sol Vermelho é uma belíssima e inesquecível comédia de humor negro. Pura diversão. Genial.
Frozen: Uma Aventura Congelante
3.9 3,0K Assista AgoraUma porcaria! Quem vê a Disney hoje tem saudades dos velhos tempos de Branca de Neve e Mary Poppins. Salvo raras exceções, como Up, Wall-E e Os Incríveis, essa história de ter que fazer ao menos uma animação por ano resulta em muita porcaria. São filmes de roteiro pobre e previsível, em que à exceção dos efeitos, como o 3D, quase nada se salva. Já sabemos que as animações de hoje procuram fugir à desgastada fórmula das histórias de amor óbvias, e mesmo assim a história desse filme não tem nada de surpreendente. Qualquer pessoa com um mínimo de imaginação prevê o fim. Não há nada de artístico ou original, e a já rebatida necessidade de uma personagem cômica pra agilizar a história aqui nos apresenta um boneco de neve patético e sem graça que não arranca nem um sorriso. Filme péssimo. Fiquei com sono em vários trechos.
Até Que a Sorte Nos Separe 2
2.6 492 Assista AgoraNão é nenhum clássico, é apenas um filme pra rir, e dá pra rir muito! Leandro Hassum é um humorista de primeira, um artista completo e gosto muito de ver gente que de fato sabe fazer o que faz. Camila Morgado é muito engraçada, também. Quanto ao Hassum, parece que bebeu em algumas escolas do humor de Hollywood, a começar por Chaplin e Buster Keaton, mestres da pantomima, bem representada nas graças que Hassum sabe tão bem tirar de seu corpo gordo, passando por O Gordo e O Magro, Irmãos Marx, Jerry Lewis e tantos outros. Hassum está de parabéns, pois um dos maiores desafios para um ator é saber arrancar risadas da plateia, bem mais difícil que arrancar o choro. O filme é muito bom, o roteiro é hilário, enfim, gostei. Há falhas, como a personagem da mãe da personagem de Hassum, forçadíssima, mas há também diálogos muito hilários, como aquele em que a mãe de Morgado diz: "Pense bem, minha filha, não vá fazer algo de que vai se arrepender o resto da vida... Atira logo!" Enfim, um filme super cômico, de roteiro bem sacado, tiradas espirituosas, uma diversão e tanto!
Slacker
3.6 89Retrato de uma juventude de determinada época e determinado lugar, no caso anos 80 em Austin, Texas. Delícia de filme. Linklater é um tanto verborrágico, e isso me cansa, mas tem verborragias piores, como a de Eric Rohmer. O que me agrada é o lado onírico dos seus filmes, esse surrealismo é de fato uma delícia, e Slacker se aproxima de O Fantasma da Liberdade, de Buñuel, sem querer comparar Linklater com Buñuel, pois esse último é um papa do cinema. Os filmes de Linklater não são imprescindíveis nem imperdíveis, mas são filmes saborosos de se ver, e esse é da fato muito saboroso, talvez o melhor Linklater.
A Hora e a Vez de Augusto Matraga
4.0 30Junte o misticismo do sertão de Guimarães Rosa com a atuação soberba de Leonardo Villar, sem dúvida um dos melhores atores brasileiros e tão pouco lembrado, e essa trilha deslumbrante e você terá o supra-sumo da arte brasileira. Detalhe: não sei se é impressão minha, mas em vários momentos a interpretação de Villar lembrou-me Toshiro Mifune em seu auge em termos de filmes de samurais.
Sem Destino
4.0 580 Assista AgoraAcho que Ubiratan Teixeira Filho descreveu perfeitamente o filme. Eu só acrescentaria duas coisas, na verdade duas referências literárias: primeiro, se alguém leu On The Road, de Kerouak, certamente vai identificar ambas as obras. Acho muito provável que Hopper tenha se inspirado em Kerouak como um todo, não só em On The Road, assim como os hippies em muito se inspiraram no movimento beat, de algumas décadas antes, com algumas particularidades: a droga dos beats era a mescalina, por vezes a benzedrina, que Kerouak usava pra escrever, o ritmo era o bebop, ao invés do rock, enfim. E a outra referência, essa relacionada exatamente à fase da decadência do movimento hippie, que o amigo tão bem soube descrever, é o excelente livro A Ilha, de Aldous Huxley, Huxley esse que também em muito influenciou o movimento beat e, por conseguinte, o movimento hippie. A quem se interessa pela contracultura eu indico essas duas maravilhosas obras, se é que já não as leram.
O Casamento de Rachel
3.3 511O Casamento de Rachel:
A vida é esse mosaico de cores, de nações, de ritmos. É também o mosaico de comédias e dramas, alegrias e tristezas. É isso que faz com que a vida seja linda, e por isso esse filme me arrancou lágrimas. Um filme lindo, que prova que o cinema desta década tem seu vigor e seus talentos. Destaque para as grandes atuações e para o jeito informal como a câmera é conduzida, não parando um só segundo, o que confere dinamismo e quebra qualquer tipo de monotonia: essa técnica de condução da câmera lembra em muito o movimento dinamarquês da década de 90, chamado dogma 95, e o filme é bem parecido com “Festa de Família”, ou “Festen”, o grande ícone do movimento. Assim como no dogma 95, a história de “O Casamento de Rachel” é bastante realista, sem glamourizar (embora se trate de uma festa de arromba) nem criar maniqueísmos comercialescos, pondo complexas questões existenciais “em calças curtas”. A história não recorre à desgastada fórmula do final feliz e também não espanta com tragédias desproporcionais indigeríveis. Simplesmente mostra a vida como ela é, sem ter que dar qualquer tipo de desfecho às questões levantadas. Trata-se de um filme inteligente, saboroso e muito bem dirigido. Achei linda essa junção de etnias numa mesma família americana sendo tratada com naturalidade, e em nenhum momento as pessoas mencionam questões raciais, nem para desfilar preconceitos nem ao menos para empunhar a bandeira progressista. É como se raça fosse coisa que simplesmente inexistisse. O filme traz um casamento inter-racial, que inclusive lhe dá nome, mas essa nem de longe é a questão principal levantada pela história, e isso é que é interessante. É a primeira vez que vejo isso ocorrer no cinema americano. Sidney Poitier, que há quase meio século estreou “Adivinhe Quem Vem para Jantar”, em que tudo girava em torno de seu casamento com uma garota branca, se viu o filme certamente o amou. O cinema lança tendências, e é importante que haja filmes que incentivem os Estados Unidos a se tornarem um país miscigenado como o Brasil. Um inteligente drama psicológico com uma linda trilha sonora, grandes atuações, aceitação da mescla racial, direção empolgante: a fórmula perfeita para um dos melhores filmes dos últimos anos. Fez com que me lembrasse do jazz, do blues, da música folk de Simon e Garfunkel, de Joan Baez, do cinema de Frank Capra, das aventuras de Tom Sawyer: é o que de melhor os Estados Unidos sabem produzir!
A Canção da Estrada
4.4 71 Assista AgoraÉ talvez o filme que mais me tenha marcado na vida. Todas as personagens, com seus dramas expressionistas, saltam das telas. E há uma personagem talvez tão principal como Durga, como Apu, como a mãe, a avó, a linda fotografia, uma personagem que fica gravada na memória pra todo o sempre: a música de Ravi Shankar! Essa é uma personagem que grita ao longo do filme todo, e quanto mais angustiante a cena mais a música de Shankar grita! O cinema de Ray é inesquecível e, como alguém aqui disse, é notória sua influência sobre o cinema de Kurosawa, principalmente em termos de fotografia. A Canção da Estrada é filme obrigatório para os bons cinéfilos, e é uma das obras mais líricas da história do cinema. O cinema, hoje, seria mais pobre sem essas obras, e são exatamente elas que fazem com que a sétima arte não seja encarada de forma preconceituosa como a forma de contato com as histórias recomendada àqueles que têm preguiça de ler. É devido a essas obras que o cinema se engrandece.
Trovão Distante
4.2 7O Trovão Distante, na minha opinião, é um dos melhores filmes já feitos, não apenas por sua história, mas principalmente por seu aspecto artístico. Ray, como Kurosawa, é um pintor dos telões, e poucas vezes, acho que nenhuma mesmo, nem nos filmes de Glauber Rocha ou de Eisenstein, vi a miséria tão bem pintada. As composições dos cenários são escolhidas a dedo, as cores são meticulosamente compostas como num quadro impressionista, e a decomposição, a angústia, a morte atreladas à miséria são pintadas como no quadro Criança Morta, de Portinari, lembrando também livros, como Vidas Secas, de Graciliano. Quando assisti a Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos, esperava que fosse algo como o filme de Ray, ou ao menos como Deus e o Diabo, de Glauber, mas não achei assim tão bom. Poucos cineastas souberam tão bem quanto Ray transcrever obras literárias para o cinema ou criar filmes tão pictóricos que suas cenas parecem sequências de telas. Ray era um gênio, não digo apenas do cinema, mas da arte como um todo.