Através das lentes de um fotógrafo, enxergamos mais da realidade que muitas vezes nos recusamos a reconhecer que existe. Fome, guerras, injustiças sociais, doenças, lugares esquecidos pela humanidade, tudo relatado numa fração de segundo e imortalizado em suas imagens. É a exposição nua e crua do quanto nós seres humanos podemos ser egoístas, frios e comandados por uma violência extrema, tudo apenas em resultado do nosso próprio benefício, esquecendo sempre que há vida lá fora, uma vida que muitas vezes está sofrendo.
''Somos um animal muito feroz. Nós humanos somos um animal terrível. Seja na Europa, na África, na América Latina, em toda parte. Somos de uma violência extrema de verdade''.
O processo de desconstrução não acontece do dia pra noite. Por mais que a personagem de Cléo Pires tenha a vontade de fazer a diferença, ainda, o medo, insegurança, o pânico do desconhecido lhe assustam, reação perfeitamente normal para uma iniciante. No desenvolver já vemos a mulher forte e persistente se sobressair, mostrando que não veio pra brincadeiras e que a justiça deve ser feita. Roteiro mediano, mas com atuações notáveis de Cléo Pires, Marcos Caruso, Fabrício Boliveira e Thiago Martins. Vale os 98 minutos de reflexão sobre nossa polícia.
Logo nos primeiros minutos, Georgiana é praticamente vendida pela mãe a um homem que ela mesma admite ter visto raras vezes, e ainda questiona se o mesmo a ama. Como podemos amar alguém que nem conhecemos? No desenvolver da trama, é incessantemente silenciada pelo marido, não faz pergunta, não questiona. Me enfurece saber que nós mulheres sempre fomos colocadas de lado, que o passa tempo de muitas de minhas antepassadas era falar de vestidos, penteados e a fulana que vai se casar. Muitas sofreram (e ainda sofrem) caladas diante de ofensas, traições e desrespeito. Era século 18, mas na vida de algumas mulheres isso é 2015. Grande filme!
Quando entramos em contato com o histórico de Sandro, é compreensível (mas não aceitável) o motivo dele estar alí. Um jovem que viu sua mãe ser assassinada, que foi jogado na rua, largado pelo sistema, que nunca teve uma oportunidade, não aprendeu a ler e nem escrever, não teve uma personalidade moldada, que ficou vulnerável a criminalidade. Não é difícil saber o final da historia de Sandro, não é complicado imaginar como ele termina sua vida e radicaliza as das mulheres naquele ônibus. Sempre vemos o criminoso, o julgamos como "monstro", "lixo", "vagabundo", mas não pensamos como ele chegou alí. Se a mãe de Sandro não fosse assassinada naquele dia, se ele tivesse recebido ajuda, talvez este filme nem existiria, porque Sandro estaria vivo, teria recebido os cuidados de sua mãe que tanto o amava, e seria mais um jovem com um bom futuro pela frente. O filme denúncia o sistema carcerário, a incompetência da polícia e do Estado por não ajudar estes jovens carentes que são levados a criminalidade por falta de apoio e oportunidade. Ótima direção de José Padilha.
Chega um momento do filme em que eu não enxergo mais Regina Casé, vejo minha mãe, a empregada, que ganha salário mínimo e batalha todos os dias por mim e minha família, eu vi em Regina Casé os sonhos das mães de meus amigos, os sonhos de todas as mães brasileiras que enfrentam o mundo e colocam a cara a tapa só pra colocar um sorriso em nossos rostos, só pra nos ver formados em boas faculdades e podendo fazer tudo o que um dias elas tiveram que desistir porque até então, o trabalho era maior que a liberdade de poder estudar e crescer. Grande e emocionante atuação.
Sem pretensões de ser bonito, romântico, muito menos esperançoso, a adaptação retratou cada particularidade da realidade desses jovens junkies perdidos. Diferente de muitos desfechos de outras histórias, há ainda pessoas que simplesmente aceitam tudo o que acontece e não estão dispostas a mudar de situação, por mais esperançosos que tentamos ser, nem sempre estes querem ajuda, não pensam em fugir e não enxergam uma vida além das drogas. Por último, o uso de Arielle Holmes como protagonista de sua própria história destacou mais ainda a adaptação. É cru, é real, é indigesto.
''Qual é teu ideal na vida, ein? É uma mulherzinha fazendo comidinha gostosa? É um filhinho estudando num coleginho legal, tudo limpo? Eu também quero tudo limpo e gostoso, eu também quero uma vida decente, mas não a esse preço, eles tão fodendo a gente e você ajudando a foder''. O filme é de 1981, mas a luta e o discurso permanecem em 2015. Grande filme!
Todos nós em algum ponto da vida pensamos que ''perdemos a graça'', ou refletindo se já, algum vez, tivemos atitudes diferentes das ações comuns do dia a dia. Selton Mello escancara esses sentimentos de uma forma tão doce e poética que foi impossível não se apegar a seu personagem, querer acompanha-lo junto a todas as viagens de sua trupe e os delírios acerca das questões da vida (felicidade, tristeza, traição, identidade). Filme maravilhoso, mais uma prova de que o cinema nacional tem conteúdo de peso.
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O Sal da Terra
4.6 450 Assista AgoraAtravés das lentes de um fotógrafo, enxergamos mais da realidade que muitas vezes nos recusamos a reconhecer que existe. Fome, guerras, injustiças sociais, doenças, lugares esquecidos pela humanidade, tudo relatado numa fração de segundo e imortalizado em suas imagens. É a exposição nua e crua do quanto nós seres humanos podemos ser egoístas, frios e comandados por uma violência extrema, tudo apenas em resultado do nosso próprio benefício, esquecendo sempre que há vida lá fora, uma vida que muitas vezes está sofrendo.
''Somos um animal muito feroz. Nós humanos somos um animal terrível. Seja na Europa, na África, na América Latina, em toda parte. Somos de uma violência extrema de verdade''.
Operações Especiais
3.3 349 Assista AgoraO processo de desconstrução não acontece do dia pra noite. Por mais que a personagem de Cléo Pires tenha a vontade de fazer a diferença, ainda, o medo, insegurança, o pânico do desconhecido lhe assustam, reação perfeitamente normal para uma iniciante. No desenvolver já vemos a mulher forte e persistente se sobressair, mostrando que não veio pra brincadeiras e que a justiça deve ser feita.
Roteiro mediano, mas com atuações notáveis de Cléo Pires, Marcos Caruso, Fabrício Boliveira e Thiago Martins. Vale os 98 minutos de reflexão sobre nossa polícia.
Rio Perdido
3.0 199 Assista AgoraÉ não consigo decidir se gostei ou se achei muito "que porra é essa?"
A Duquesa
3.8 683 Assista AgoraLogo nos primeiros minutos, Georgiana é praticamente vendida pela mãe a um homem que ela mesma admite ter visto raras vezes, e ainda questiona se o mesmo a ama. Como podemos amar alguém que nem conhecemos?
No desenvolver da trama, é incessantemente silenciada pelo marido, não faz pergunta, não questiona. Me enfurece saber que nós mulheres sempre fomos colocadas de lado, que o passa tempo de muitas de minhas antepassadas era falar de vestidos, penteados e a fulana que vai se casar. Muitas sofreram (e ainda sofrem) caladas diante de ofensas, traições e desrespeito. Era século 18, mas na vida de algumas mulheres isso é 2015. Grande filme!
Ônibus 174
3.9 297Quando entramos em contato com o histórico de Sandro, é compreensível (mas não aceitável) o motivo dele estar alí.
Um jovem que viu sua mãe ser assassinada, que foi jogado na rua, largado pelo sistema, que nunca teve uma oportunidade, não aprendeu a ler e nem escrever, não teve uma personalidade moldada, que ficou vulnerável a criminalidade. Não é difícil saber o final da historia de Sandro, não é complicado imaginar como ele termina sua vida e radicaliza as das mulheres naquele ônibus. Sempre vemos o criminoso, o julgamos como "monstro", "lixo", "vagabundo", mas não pensamos como ele chegou alí.
Se a mãe de Sandro não fosse assassinada naquele dia, se ele tivesse recebido ajuda, talvez este filme nem existiria, porque Sandro estaria vivo, teria recebido os cuidados de sua mãe que tanto o amava, e seria mais um jovem com um bom futuro pela frente.
O filme denúncia o sistema carcerário, a incompetência da polícia e do Estado por não ajudar estes jovens carentes que são levados a criminalidade por falta de apoio e oportunidade. Ótima direção de José Padilha.
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Que Horas Ela Volta?
4.3 3,0K Assista AgoraChega um momento do filme em que eu não enxergo mais Regina Casé, vejo minha mãe, a empregada, que ganha salário mínimo e batalha todos os dias por mim e minha família, eu vi em Regina Casé os sonhos das mães de meus amigos, os sonhos de todas as mães brasileiras que enfrentam o mundo e colocam a cara a tapa só pra colocar um sorriso em nossos rostos, só pra nos ver formados em boas faculdades e podendo fazer tudo o que um dias elas tiveram que desistir porque até então, o trabalho era maior que a liberdade de poder estudar e crescer. Grande e emocionante atuação.
Amor, Drogas e Nova York
3.3 51 Assista AgoraSem pretensões de ser bonito, romântico, muito menos esperançoso, a adaptação retratou cada particularidade da realidade desses jovens junkies perdidos. Diferente de muitos desfechos de outras histórias, há ainda pessoas que simplesmente aceitam tudo o que acontece e não estão dispostas a mudar de situação, por mais esperançosos que tentamos ser, nem sempre estes querem ajuda, não pensam em fugir e não enxergam uma vida além das drogas. Por último, o uso de Arielle Holmes como protagonista de sua própria história destacou mais ainda a adaptação. É cru, é real, é indigesto.
Eles Não Usam Black-Tie
4.3 286''Qual é teu ideal na vida, ein? É uma mulherzinha fazendo comidinha gostosa? É um filhinho estudando num coleginho legal, tudo limpo? Eu também quero tudo limpo e gostoso, eu também quero uma vida decente, mas não a esse preço, eles tão fodendo a gente e você ajudando a foder''. O filme é de 1981, mas a luta e o discurso permanecem em 2015. Grande filme!
O Palhaço
3.6 2,2K Assista AgoraTodos nós em algum ponto da vida pensamos que ''perdemos a graça'', ou refletindo se já, algum vez, tivemos atitudes diferentes das ações comuns do dia a dia. Selton Mello escancara esses sentimentos de uma forma tão doce e poética que foi impossível não se apegar a seu personagem, querer acompanha-lo junto a todas as viagens de sua trupe e os delírios acerca das questões da vida (felicidade, tristeza, traição, identidade). Filme maravilhoso, mais uma prova de que o cinema nacional tem conteúdo de peso.