É exatamente o tipo de filme que eu adoro. Momentos dramáticos de partir o coração perfeitamente equilibrados com passagens cômicas, algumas doces outra absurdas; atuações impecáveis; reflexões sobre relações humana; e um roteiro gostoso demais, com diálogos sensacionais, e cheio de sutilezas. A trilha sonora que evoca clássicos dos anos 50 e os melhores filmes da Pixar cria um contraponto com a vertente mais realista do roteiro, dando às cenas, às vezes um tom jocoso, de estranheza, e às vezes um tom de melancolia. A montagem desse filme talvez não seja tão lembrada nas premiações por não ser exatamente o que chama mais atenção no todo, mas em determinadas cenas, como na abertura, ou na derradeira discussão do casal, ou numa simples despedida, é que ela brilha e vira a cereja no bolo de uma direção que não tem muitas firulas estéticas ou nenhuma complexidade ademais mas que sabe exatamente como extrair o melhor de seu roteiro. E tudo que eu falo acaba voltando pro roteiro, porque MEU DEUS QUE ROTEIRO!
Uma grata surpresa em um ano relativamente fraco para animações. A temática pode até ser batida, e o roteiro formulaico não engana, mas a doçura com que a história é tratada, de forma quase inocente, sem esconder a qual público pretende atingir, conquista no fim das contas. A animação 2D, tão rara nos cinemas hoje em dia, está fenomenal, se aproveitando do avanço da técnica, e da tecnologia, obviamente, para entregar uma estética única considerando os padrões atuais. Dentre tantos especiais de natal que a Netflix tenta emplacar pelo menos um tinha que funcionar e esse é Klaus.
Poderia citar várias coisas que me incomodaram na execução desse filme, todas no roteiro. Como por exemplo o clichê do underdog, cansado de tentar alcançar seu auge sem sucesso, sendo repetido e verbalizado pelo personagem principal várias e várias vezes. No entanto, nenhum desses pequenos defeitos (que eu não vou citar mesmo porque não vão mudar minha opinião sobre o filme) me fazem desgostar de Meu Nome é Dolemite. Ver Eddie Murphy finalmente voltando aos holofotes num filme hilariante, com uma performance tão marcante e inspirada é muto gratificante, e ainda ganhamos de bônus um Wesley Snipes irreconhecível! Isso sem falar do design de produção de época preciso e o figurino da sempre ótima Ruth E. Carter são sensacionais. Ela, inclusive, ganhou o Oscar este ano por Pantera Negra e deve pelo menos ser indicada na próxima edição do careca dourado. Junte todos esses elementos à temática do cinema, não aquele da grande Hollywood, mas o cinema feito em casa, com seus amigos e sem um conto no bolso, e você tem um filme irresistível. Pode ter o defeito que for, mas se nos próximos meses alguém me pedir uma recomendação de filme de comédia, eu indicarei esse filme. E se alguém me pedir um filme biográfico, eu indicarei esse filme. Um filme com ótimas atuações? Já sabe, né? E por aí vai.
O roteiro lembra muito a estrutura dos dois últimos filmes de Adam Mckay, se utilizando de boas sacadas narrativas para elucidar assuntos complexos demais para um filme de 2 horas. Se por um lado os diálogos expositivos podem incomodar alguns (com razão), por outro, o tema o faz necessário. O filme falha mesmo ao apresentar subtramas talvez até interessantes, mas arrastadas demais e desnecessárias demais para ocuparem tanto tempo de projeção. E você pode somar isso ao terceiro ato, brega e totalmente panfletário. Enquanto Mckay faz filmes políticos com tramas auto-contidas que se resolvem narrativamente em seus arcos dramáticos, apesar de toda metalinguagem exagerada, o que Soderbergh faz aqui é dar um passo maior que a perna tentando emular a mesma pegada, esquecendo das resoluções e focando na mensagem, acabando por não dar uma solução satisfatória nem pra uma e nem pra outra. A sensação é de assistir um filme incompleto, politicamente engajado e válido, mas sem alma.
Não tem como falar de Parasita sem começar dizendo que é, sem dúvidas, um dos melhores filmes de 2019. Um forte comentário social sobre disputa de classes que se desenha de maneira gradual e lenta, mas nunca arrastada, tomando o tempo que for preciso para aparar as arestas e não deixar nenhuma lacuna em aberto. Igualmente gradual é o suspense, que imerge na trama a medida que entendemos onde ela quer nos levar. Parasita é engraçado, assim como também é sombrio, instigante, reflexivo, tudo no mesmo pacote. Um filme que só não deve ser apreciado por certos tipos de pessoas que nunca viveram no porão da sociedade, ou que não dão a mínima pra quem vive lá, ou que se sentem confortáveis demais sabendo que estão acima, sem nenhuma vontade de descobrir que o porão sequer existe.
Bonitinho mas ordinário. A direção de arte é o ponto alto do filme, como é de se esperar de um Tim Burton, e segue a leva de remakes de animações clássicas da Disney. Apesar de o roteiro se esforçar pra corrigir erros histórico-sociais do original e dar mais profundidade à história, é traído pela própria ingenuidade e pela péssima montagem. Ao passo que personagens realizam atitudes incompreensíveis e toscas até pra suas personalidades, com consequências ainda piores, momentos que poderiam ser mais tocantes e significativos não tem espaço pra respirar numa edição cansativa e frenética sem justificativa (a não ser não entediar os milennials que não aguentam um plano longo contemplativo). O CGI do Dumbo é crível, e isso é muito relevante, já que é peça chave no enredo e é importante que a gente se importe com ele. Pessoalmente, a melhor coisa desse filme foi o quanto me empolgou pro remake de Rei Leão, muito mais pelo caráter revisionista do que pela qualidade.
Narrativa brilhante, tanto objetivamente, amarrando bem as pontas de sua mitologia própria, quanto no campo subliminar. É um bom filme pra quem procura um terrorzão pipocão pra ver com a galera mas também um suprassumo técnico e, acima de tudo, artístico, dentro do gênero.
Como leitor de quadrinhos devo dizer que nunca simpatizei muito com a Capitã/Miss Marvel Carol Danvers. Gosto bem mais do Mar-Vell e da Kamalla Kan por exemplo, mas este filme me fez rever meus conceitos sobre a personagem. Apesar de ter um notório problema de andamento causado pela necessidade de introduzir a protagonista neste universo com o bonde andando, a apresentação do clássico conflito Kree-Skrull é bastante satisfatória, ainda que aja uma inversão de papéis nesse sentido. A montagem apressada e as cenas de ação feijão com arroz também não eclipsam a presença de Brie Larson, arrebentando no papel (maior mérito do filme).
A selvageria da burguesia colocada em cheque através de muita simbologia e um humor negro inerente a Lanthimos. Atuações, design de produção, figurino e fotografia impecáveis.
É incrível como ao fim da sessão desse filme pude identificar vários defeitos na produção, mas não consegui, de forma nenhuma, desgostar do resultado final. A maioria dos flashbacks destoam da cadência realística da trama principal, soando artificiais a maior parte do tempo; alguns diálogos são dignos da Hollywood dos anos 50 de tão canastrões (a maioria nos flashbacks, por acaso); existe um personagem que está lá mais como um artifício de roteiro do que como... um personagem de fato - é através dele que acontecem as principais reviravoltas e revelações, permanecendo unilateral até o fim do filme; e, se o casal principal arrasa no quesito interpretação, o mesmo não pode ser dito do resto do elenco. No entanto, nada disso me faz ignorar o fato de que a história é irresistivelmente cativante e bem costurada, alinhada a uma direção, que se não chama atenção por seus atributos, acerta em colocar os holofotes quase que integralmente na atriz principal. A câmera procura o tempo todo transparecer o maior mérito do longa: a atuação de Glenn Close. Suas caras e bocas no primeiros minutos de filme são colocadas em primeiro plano como um prenúncio daquilo que iremos descobrir só mais tarde, enquanto o semblante da personagem muda gradualmente diante dos nossos olhos a medida que entendemos o que a motiva e o que a assombra. A resolução não poderia ser mais atual e as trocas de farpas entre o casal não poderiam soar tão reais. Tudo me faz crer que o livro no qual o filme se baseou deva ser muito bom, e deu a sorte de encontrar uma atriz do gabarito de Glenn Close em sua adaptação.
Filme atualíssimo sobre algo que aconteceu nos anos 70. Spike Lee consegue fazer uma denúncia social pesada de forma divertida e instigante, contando com paralelos e críticas escancarados aos dias de hoje, quando o ultra conservadorismo, a desinformação e o preconceito latente saem de todos os buracos. A Ku Klux Klan não é a única vilã do filme, o ser humano é. Sobra ainda espaço pra metalinguagem em relação ao blaxploitation, discutido no filme e transposto em tela, disfarçando a realidade com a ficção, pra depois cuspir ela toda de volta no espectador. A difusão cultural do racismo institucionalizado também é abordada; entidades de representatividade (como um filme de sucesso, ou um presidente) podem e legitimam atrocidades contra o ser humano e opiniões no mínimo retrógradas. Algo me diz que o Spike Lee queria fazer seu filme definitivo com o tema "racismo", e de certa forma conseguiu.
Filme chocante, inquietante, capaz de despertar desconforto extremo em quem se permitir cair de cabeça nele. Ainda assim, é obviamente dois filmes em um só. O primeiro mais pé no chão, focando no conflito familiar e, por isso, pelo menos pra mim, bem mais aterrorizante pela credibilidade. A presença espiritual tá lá, mas de forma sutil, podendo até ser interpretada como uma metáfora pra cicatrizes do passado, ou algo do tipo. Já, dá metade pro final, o longa dá um twist carpado em 360° e insere o elemento sobrenatural de vez. Isso não é de todo ruim. Apesar de ser, por vezes, muito didático, até pra poder explicar toda a suruba que o roteirista arquitetou até ali (com diálogos expositivos e descobertas mirabolantes), o trabalho de foreshadowing é muito bom. Tava tudo lá, só nós, e os personagens não vimos. As cenas de horror são realmente tenebrosas e dispensam jump scare. Na verdade o filme nem precisa desse artifício, já que o desenvolvimento dos personagens é tão bom, que a gente se coloca no lugar deles e se caga junto. No fim, eu gosto mais do primeiro filme que vinha sendo contado, mas reconheço também muita qualidade no segundo. É a discrepância entre essas duas metades que incomoda, e não do jeito positivo. Pra quem é fã de filmes de terror como O Exorcista, A Bruxa e Corrente do Mal, vale a pena conferir.
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História de um Casamento
4.0 1,9K Assista AgoraÉ exatamente o tipo de filme que eu adoro. Momentos dramáticos de partir o coração perfeitamente equilibrados com passagens cômicas, algumas doces outra absurdas; atuações impecáveis; reflexões sobre relações humana; e um roteiro gostoso demais, com diálogos sensacionais, e cheio de sutilezas. A trilha sonora que evoca clássicos dos anos 50 e os melhores filmes da Pixar cria um contraponto com a vertente mais realista do roteiro, dando às cenas, às vezes um tom jocoso, de estranheza, e às vezes um tom de melancolia. A montagem desse filme talvez não seja tão lembrada nas premiações por não ser exatamente o que chama mais atenção no todo, mas em determinadas cenas, como na abertura, ou na derradeira discussão do casal, ou numa simples despedida, é que ela brilha e vira a cereja no bolo de uma direção que não tem muitas firulas estéticas ou nenhuma complexidade ademais mas que sabe exatamente como extrair o melhor de seu roteiro. E tudo que eu falo acaba voltando pro roteiro, porque MEU DEUS QUE ROTEIRO!
Melhor filme de 2019, na minha opinião, é claro.
Klaus
4.3 610 Assista AgoraUma grata surpresa em um ano relativamente fraco para animações. A temática pode até ser batida, e o roteiro formulaico não engana, mas a doçura com que a história é tratada, de forma quase inocente, sem esconder a qual público pretende atingir, conquista no fim das contas. A animação 2D, tão rara nos cinemas hoje em dia, está fenomenal, se aproveitando do avanço da técnica, e da tecnologia, obviamente, para entregar uma estética única considerando os padrões atuais. Dentre tantos especiais de natal que a Netflix tenta emplacar pelo menos um tinha que funcionar e esse é Klaus.
Meu Nome é Dolemite
3.8 361 Assista AgoraPoderia citar várias coisas que me incomodaram na execução desse filme, todas no roteiro. Como por exemplo o clichê do underdog, cansado de tentar alcançar seu auge sem sucesso, sendo repetido e verbalizado pelo personagem principal várias e várias vezes. No entanto, nenhum desses pequenos defeitos (que eu não vou citar mesmo porque não vão mudar minha opinião sobre o filme) me fazem desgostar de Meu Nome é Dolemite. Ver Eddie Murphy finalmente voltando aos holofotes num filme hilariante, com uma performance tão marcante e inspirada é muto gratificante, e ainda ganhamos de bônus um Wesley Snipes irreconhecível! Isso sem falar do design de produção de época preciso e o figurino da sempre ótima Ruth E. Carter são sensacionais. Ela, inclusive, ganhou o Oscar este ano por Pantera Negra e deve pelo menos ser indicada na próxima edição do careca dourado. Junte todos esses elementos à temática do cinema, não aquele da grande Hollywood, mas o cinema feito em casa, com seus amigos e sem um conto no bolso, e você tem um filme irresistível. Pode ter o defeito que for, mas se nos próximos meses alguém me pedir uma recomendação de filme de comédia, eu indicarei esse filme. E se alguém me pedir um filme biográfico, eu indicarei esse filme. Um filme com ótimas atuações? Já sabe, né? E por aí vai.
A Lavanderia
3.3 247O roteiro lembra muito a estrutura dos dois últimos filmes de Adam Mckay, se utilizando de boas sacadas narrativas para elucidar assuntos complexos demais para um filme de 2 horas. Se por um lado os diálogos expositivos podem incomodar alguns (com razão), por outro, o tema o faz necessário. O filme falha mesmo ao apresentar subtramas talvez até interessantes, mas arrastadas demais e desnecessárias demais para ocuparem tanto tempo de projeção. E você pode somar isso ao terceiro ato, brega e totalmente panfletário. Enquanto Mckay faz filmes políticos com tramas auto-contidas que se resolvem narrativamente em seus arcos dramáticos, apesar de toda metalinguagem exagerada, o que Soderbergh faz aqui é dar um passo maior que a perna tentando emular a mesma pegada, esquecendo das resoluções e focando na mensagem, acabando por não dar uma solução satisfatória nem pra uma e nem pra outra. A sensação é de assistir um filme incompleto, politicamente engajado e válido, mas sem alma.
Parasita
4.5 3,6K Assista AgoraNão tem como falar de Parasita sem começar dizendo que é, sem dúvidas, um dos melhores filmes de 2019. Um forte comentário social sobre disputa de classes que se desenha de maneira gradual e lenta, mas nunca arrastada, tomando o tempo que for preciso para aparar as arestas e não deixar nenhuma lacuna em aberto. Igualmente gradual é o suspense, que imerge na trama a medida que entendemos onde ela quer nos levar. Parasita é engraçado, assim como também é sombrio, instigante, reflexivo, tudo no mesmo pacote. Um filme que só não deve ser apreciado por certos tipos de pessoas que nunca viveram no porão da sociedade, ou que não dão a mínima pra quem vive lá, ou que se sentem confortáveis demais sabendo que estão acima, sem nenhuma vontade de descobrir que o porão sequer existe.
Dumbo
3.4 611 Assista AgoraBonitinho mas ordinário. A direção de arte é o ponto alto do filme, como é de se esperar de um Tim Burton, e segue a leva de remakes de animações clássicas da Disney. Apesar de o roteiro se esforçar pra corrigir erros histórico-sociais do original e dar mais profundidade à história, é traído pela própria ingenuidade e pela péssima montagem. Ao passo que personagens realizam atitudes incompreensíveis e toscas até pra suas personalidades, com consequências ainda piores, momentos que poderiam ser mais tocantes e significativos não tem espaço pra respirar numa edição cansativa e frenética sem justificativa (a não ser não entediar os milennials que não aguentam um plano longo contemplativo). O CGI do Dumbo é crível, e isso é muito relevante, já que é peça chave no enredo e é importante que a gente se importe com ele. Pessoalmente, a melhor coisa desse filme foi o quanto me empolgou pro remake de Rei Leão, muito mais pelo caráter revisionista do que pela qualidade.
Nós
3.8 2,3K Assista AgoraNarrativa brilhante, tanto objetivamente, amarrando bem as pontas de sua mitologia própria, quanto no campo subliminar. É um bom filme pra quem procura um terrorzão pipocão pra ver com a galera mas também um suprassumo técnico e, acima de tudo, artístico, dentro do gênero.
Se a Rua Beale Falasse
3.7 284 Assista AgoraVelho, sem palavras, filme lindo, poético, real, que texto absurdo aaaah
Capitã Marvel
3.7 1,9K Assista AgoraComo leitor de quadrinhos devo dizer que nunca simpatizei muito com a Capitã/Miss Marvel Carol Danvers. Gosto bem mais do Mar-Vell e da Kamalla Kan por exemplo, mas este filme me fez rever meus conceitos sobre a personagem. Apesar de ter um notório problema de andamento causado pela necessidade de introduzir a protagonista neste universo com o bonde andando, a apresentação do clássico conflito Kree-Skrull é bastante satisfatória, ainda que aja uma inversão de papéis nesse sentido. A montagem apressada e as cenas de ação feijão com arroz também não eclipsam a presença de Brie Larson, arrebentando no papel (maior mérito do filme).
A Favorita
3.9 1,2K Assista AgoraA selvageria da burguesia colocada em cheque através de muita simbologia e um humor negro inerente a Lanthimos. Atuações, design de produção, figurino e fotografia impecáveis.
A Esposa
3.8 557 Assista AgoraÉ incrível como ao fim da sessão desse filme pude identificar vários defeitos na produção, mas não consegui, de forma nenhuma, desgostar do resultado final.
A maioria dos flashbacks destoam da cadência realística da trama principal, soando artificiais a maior parte do tempo; alguns diálogos são dignos da Hollywood dos anos 50 de tão canastrões (a maioria nos flashbacks, por acaso); existe um personagem que está lá mais como um artifício de roteiro do que como... um personagem de fato - é através dele que acontecem as principais reviravoltas e revelações, permanecendo unilateral até o fim do filme; e, se o casal principal arrasa no quesito interpretação, o mesmo não pode ser dito do resto do elenco.
No entanto, nada disso me faz ignorar o fato de que a história é irresistivelmente cativante e bem costurada, alinhada a uma direção, que se não chama atenção por seus atributos, acerta em colocar os holofotes quase que integralmente na atriz principal. A câmera procura o tempo todo transparecer o maior mérito do longa: a atuação de Glenn Close. Suas caras e bocas no primeiros minutos de filme são colocadas em primeiro plano como um prenúncio daquilo que iremos descobrir só mais tarde, enquanto o semblante da personagem muda gradualmente diante dos nossos olhos a medida que entendemos o que a motiva e o que a assombra. A resolução não poderia ser mais atual e as trocas de farpas entre o casal não poderiam soar tão reais.
Tudo me faz crer que o livro no qual o filme se baseou deva ser muito bom, e deu a sorte de encontrar uma atriz do gabarito de Glenn Close em sua adaptação.
Infiltrado na Klan
4.3 1,9K Assista AgoraFilme atualíssimo sobre algo que aconteceu nos anos 70. Spike Lee consegue fazer uma denúncia social pesada de forma divertida e instigante, contando com paralelos e críticas escancarados aos dias de hoje, quando o ultra conservadorismo, a desinformação e o preconceito latente saem de todos os buracos. A Ku Klux Klan não é a única vilã do filme, o ser humano é. Sobra ainda espaço pra metalinguagem em relação ao blaxploitation, discutido no filme e transposto em tela, disfarçando a realidade com a ficção, pra depois cuspir ela toda de volta no espectador. A difusão cultural do racismo institucionalizado também é abordada; entidades de representatividade (como um filme de sucesso, ou um presidente) podem e legitimam atrocidades contra o ser humano e opiniões no mínimo retrógradas. Algo me diz que o Spike Lee queria fazer seu filme definitivo com o tema "racismo", e de certa forma conseguiu.
Hereditário
3.8 3,0K Assista AgoraFilme chocante, inquietante, capaz de despertar desconforto extremo em quem se permitir cair de cabeça nele. Ainda assim, é obviamente dois filmes em um só. O primeiro mais pé no chão, focando no conflito familiar e, por isso, pelo menos pra mim, bem mais aterrorizante pela credibilidade. A presença espiritual tá lá, mas de forma sutil, podendo até ser interpretada como uma metáfora pra cicatrizes do passado, ou algo do tipo.
Já, dá metade pro final, o longa dá um twist carpado em 360° e insere o elemento sobrenatural de vez. Isso não é de todo ruim. Apesar de ser, por vezes, muito didático, até pra poder explicar toda a suruba que o roteirista arquitetou até ali (com diálogos expositivos e descobertas mirabolantes), o trabalho de foreshadowing é muito bom. Tava tudo lá, só nós, e os personagens não vimos.
As cenas de horror são realmente tenebrosas e dispensam jump scare. Na verdade o filme nem precisa desse artifício, já que o desenvolvimento dos personagens é tão bom, que a gente se coloca no lugar deles e se caga junto.
No fim, eu gosto mais do primeiro filme que vinha sendo contado, mas reconheço também muita qualidade no segundo. É a discrepância entre essas duas metades que incomoda, e não do jeito positivo.
Pra quem é fã de filmes de terror como O Exorcista, A Bruxa e Corrente do Mal, vale a pena conferir.