Se o filme tivesse sido melhor executado o final teria sido mais surpreendente. Mesmo sendo na pegada de fluxo de consciência, achei confuso e monótono.
Impressionante como Cléo salta de um mero personagem de ficção para uma representação paradigmática de um novo tempo do cinema e da sociedade ocidental. Composto pelos sintomas de esgotamento de uma França pós segunda guerra e neocolonialista, a trama põe em cena a fragmentação (espacial e subjetiva), a individualização (pela lógica do consumo) e a impessoalidade (da atmosfera urbana) como marcas profundas de um sujeito cada vez mais assombrado pela divisão entre sentimento e ação. Agnès articula de forma muito engenhosa essa crise de representação subjetiva com o contexto geopolítico da época, vide a cena do rádio no taxi que transmite tanto a voz da protagonista quanto os caminhos incendiários da revolução argelina. Os espelhos também tem uma função importante na costura do enredo. A dimensão especular do sujeito narcísico e individuado está presente em praticamente todas as cenas, menos nas últimas, quando aparece Antoine com sua alteridade desconcertante. O espelho quebrado como futuro fadado à mudança e o câncer que consome lentamente a organicidade corporal são as marcas desta crise de representação. A genialidade de "Cléo das 5 às 7" está na antecipação - e, quem sabe, produção - de uma juventude não identificada com o ideal burguês de sexualidade, família e sociedade que irrompe na França em maio de 68. Mais do que um giro linguístico no modo de fazer cinema, o filme é uma das fronteiras difusas que marcam a mudança da modernidade à pós-modernidade.
p.s. (aleatório, porém afetivo): Dedico esta análise ao Antônio que provavelmente lerá este texto enquanto me stalkeia no Filmow. Um beijão nele e saudades!
Maravilhoso! Os Renegados explora a complexidade da existência de Mona sem cair nos reducionismos da solidão ou liberdade. Se por um lado Mona experimenta uma maior variedade de encontros e situações do que os cidadãos comuns, por outro lado é inegável que o dispêndio de energia em montar uma casa todos os dias a levou a um final trágico. Esta tragédia do destino de Mona também reverbera em nós espectadores. Sentados em nossas poltronas, o filme coloca em questão nossa própria história, nossos medos e vontades em relação à mudança, à liberdade e à solidão. Filme ao mesmo tempo realista e poético. Obra prima!
Maravilhoso! A forma como Michael Haneke explora os não-ditos e as histórias inenarráveis que fundamentam abundância de alguns do mundo capitalista é de tirar o fôlego. A obra é perspicaz, não elaborar os traumas do passado é a condição de possibilidade de que eles voltem a se expressar no futuro. Filme atual inclusive para nós brasileiros em tempos de paixões autoritárias.
Senti que é um filme com potencial por explorar essa temática delicada envolvendo pessoas com deficiência visual. Contudo, a película cai, em muitos momentos, reiterando a lógica neoliberal meritocrática de "basta você se esforçar individualmente que você consegue alcansar seus objetivos", e, bom, isso é história da carochinha. Faltou mais críticas à estrutura capacitista da sociedade e mais críticas ao preconceito que pessoas com deficiencia visual sofrem.
[spoiler][/spoiler] Assim como começa, o véu avermelhado encerra magistral e silenciosamente o poema-filme "A Árvore da Vida", diante da dialética natureza e santidade a película se desdobra em uma impressionante viagem sobre a condição humana. Dos primórdios da matéria até o pequeno vilarejo e posteriormente à grande metrópole, a família parecia conter em seus membros e em suas relações a metáfora da metamorfose infinita onde se convive o caos e a ordem dentro dos corpos. Se somos apenas uma faísca em meio ao nada ou uma transcendência capaz de diferenciar e refletir sobre a natureza, Terrence Malick nos coloca sobre essa interrogação a partir de uma narrativa extremamente lírica, uma fotografia densa de sutilezas e uma trilha sonora robusta. Assim como a vida, esse filme exige entrega e sensibilização.
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Hold Me Tight
3.6 13 Assista AgoraSe o filme tivesse sido melhor executado o final teria sido mais surpreendente. Mesmo sendo na pegada de fluxo de consciência, achei confuso e monótono.
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Cléo das 5 às 7
4.2 200 Assista AgoraImpressionante como Cléo salta de um mero personagem de ficção para uma representação paradigmática de um novo tempo do cinema e da sociedade ocidental. Composto pelos sintomas de esgotamento de uma França pós segunda guerra e neocolonialista, a trama põe em cena a fragmentação (espacial e subjetiva), a individualização (pela lógica do consumo) e a impessoalidade (da atmosfera urbana) como marcas profundas de um sujeito cada vez mais assombrado pela divisão entre sentimento e ação. Agnès articula de forma muito engenhosa essa crise de representação subjetiva com o contexto geopolítico da época, vide a cena do rádio no taxi que transmite tanto a voz da protagonista quanto os caminhos incendiários da revolução argelina. Os espelhos também tem uma função importante na costura do enredo. A dimensão especular do sujeito narcísico e individuado está presente em praticamente todas as cenas, menos nas últimas, quando aparece Antoine com sua alteridade desconcertante. O espelho quebrado como futuro fadado à mudança e o câncer que consome lentamente a organicidade corporal são as marcas desta crise de representação. A genialidade de "Cléo das 5 às 7" está na antecipação - e, quem sabe, produção - de uma juventude não identificada com o ideal burguês de sexualidade, família e sociedade que irrompe na França em maio de 68. Mais do que um giro linguístico no modo de fazer cinema, o filme é uma das fronteiras difusas que marcam a mudança da modernidade à pós-modernidade.
p.s. (aleatório, porém afetivo): Dedico esta análise ao Antônio que provavelmente lerá este texto enquanto me stalkeia no Filmow. Um beijão nele e saudades!
Os Renegados
4.1 86 Assista AgoraMaravilhoso! Os Renegados explora a complexidade da existência de Mona sem cair nos reducionismos da solidão ou liberdade. Se por um lado Mona experimenta uma maior variedade de encontros e situações do que os cidadãos comuns, por outro lado é inegável que o dispêndio de energia em montar uma casa todos os dias a levou a um final trágico. Esta tragédia do destino de Mona também reverbera em nós espectadores. Sentados em nossas poltronas, o filme coloca em questão nossa própria história, nossos medos e vontades em relação à mudança, à liberdade e à solidão. Filme ao mesmo tempo realista e poético. Obra prima!
Caché
3.8 384 Assista AgoraMaravilhoso! A forma como Michael Haneke explora os não-ditos e as histórias inenarráveis que fundamentam abundância de alguns do mundo capitalista é de tirar o fôlego. A obra é perspicaz, não elaborar os traumas do passado é a condição de possibilidade de que eles voltem a se expressar no futuro. Filme atual inclusive para nós brasileiros em tempos de paixões autoritárias.
De Encontro com a Vida
3.6 30 Assista AgoraSenti que é um filme com potencial por explorar essa temática delicada envolvendo pessoas com deficiência visual. Contudo, a película cai, em muitos momentos, reiterando a lógica neoliberal meritocrática de "basta você se esforçar individualmente que você consegue alcansar seus objetivos", e, bom, isso é história da carochinha. Faltou mais críticas à estrutura capacitista da sociedade e mais críticas ao preconceito que pessoas com deficiencia visual sofrem.
A Árvore da Vida
3.4 3,1K Assista Agora[spoiler][/spoiler] Assim como começa, o véu avermelhado encerra magistral e silenciosamente o poema-filme "A Árvore da Vida", diante da dialética natureza e santidade a película se desdobra em uma impressionante viagem sobre a condição humana. Dos primórdios da matéria até o pequeno vilarejo e posteriormente à grande metrópole, a família parecia conter em seus membros e em suas relações a metáfora da metamorfose infinita onde se convive o caos e a ordem dentro dos corpos. Se somos apenas uma faísca em meio ao nada ou uma transcendência capaz de diferenciar e refletir sobre a natureza, Terrence Malick nos coloca sobre essa interrogação a partir de uma narrativa extremamente lírica, uma fotografia densa de sutilezas e uma trilha sonora robusta. Assim como a vida, esse filme exige entrega e sensibilização.