Laura H.

primeiro, imaginei que o personagem do Javier Bardem não representasse deus, mas sim a consciência coletiva humana. tive essa impressão pois, como ateia, imagino que se existisse algum deus, ele não seria tão falho como o homem. as atitudes desse personagem se assemelham muito com a dos seres humanos (especialmente com o homem humano): seu egoísmo, sua vaidade, sua capacidade para manipular, entre outros. o fato de ele ser um poeta (portanto, criador) me remetia a como criamos ilusões (as próprias religiões) e as vendemos para aqueles sedentos de uma coisa em que acreditar.
entretanto, lendo algumas entrevistas e entendendo mais alguns detalhes da narrativa, acredito que nenhuma versão faz mais sentido do que a teoria de que esse personagem representa deus (o criador) e a Mãe simboliza a natureza. a casa me parece representar uma dessas coisas: a criatividade do criador, seu processo criativo (e aqui podemos interpretar que a Mãe, que é a natureza, ou seja, inspiração, teria trazido luz de volta para a casa, que é o processo criativo do poeta; ou uma extensão da Mãe: a personagem de Jennifer Lawrence é o mesmo ser que a Casa e por isso a personagem, ao tocar as paredes ou o chão da casa, sente/vê o nível de destruição do seu próprio coração, como se tocasse o próprio peito.
o homem (ed harris) parece representar adão e a mulher (michelle pfeiffer) eva. isso fica evidente na cena que o homem está vomitando e o poeta tenta ajudá-lo, e percebe-se um machucado em suas costas: essa é a costela que seria retirada para dela surgir a Mulher (Eva). o fato de que eles passam a ser expulsos da casa ao cometerem o pecado de quebrar o diamante (símbolo da inocência e do amor) que pertence ao criador reforça essa tese, pois ilustra como eva e adão foram expulsos do paraíso ao pecar.

se trata de uma droga, um opiáceo (a embalagem se assemelha muito à de substâncias como a heroína, quando essas eram vendidas nos anos 60 para tratar dores, por exemplo), e isso seria um paralelo com a frase de karl marx "a religião é o ópio do povo". nas cenas em que a personagem toma essa substância, a situação está se tornando caótica (aqui, podemos supor que ela está perdendo a fé - por isso precisa reforçá-la com a droga). tanto que quando fica grávida, ela joga a droga no ralo: não pelo bem de sua gestação (o que pode parecer a explicação mais óbvia), mas porque entende que não precisará mais de um suplemento para o seu amor e confiança no criador, uma vez que nada simboliza a esperança como a expectativa de uma nova vida.

a criança, obviamente, representa o milagre ou jesus cristo, a obra do criador, que nasce apenas para servir de sacrifício.

o filme ainda me fez pensar em questões como guerras, exposição em redes sociais (por exemplo como o personagem de Bardem fazia questão de compartilhar todos os momentos com desconhecidos e estava disposto a sacrificar a própria família para isso), bombas nucleares (quando a casa explode, a fumaça resultante forma a imagem de um cogumelo, igual a explosões desse tipo) e até mesmo a corrida pelo petróleo, pois essa é a substância que parece sair do barril que a Mãe fura para destruir a casa (representando que a disputa por esse tipo de substância pode vir a custar a destruição completa do nosso planeta).