A tendência da humanidade é a autodestruição, deixando traumas e ressentimento como herança mais do que qualquer característica positiva. Um dos fatos desconfortáveis e o qual as pessoas geralmente ignoram é que a grande maioria dos seres humanos não tem, e nunca terá, as características necessárias para serem bons pais. Dado nosso caráter autodestrutivo, a tendência de cada geração virar as costas à seguinte depois de negar-lhes qualquer poder de escolha e continuamente tornar nosso colapso cada vez mais inevitável, e a facilidade de acesso a informação e métodos anticoncepcionais, a decisão de ter filhos é cada vez mais uma de egoísmo, vaidade, hipocrisia e covardia: pode ser pressão familiar, mesmo que a família tenha lhe causado mais dor e sofrimento do que bem; pode ser o desejo de perpetuar a própria imagem por ego ou medo da própria morte, na ilusão de que um legado significa vida eterna, ignorando o que realmente significa trazer uma vida nova ao mundo, e que seja para o indivíduo, seja para pessoas ao nosso redor, seja para o ambiente, o melhor legado é, ironicamente e objetivamente, escolher não deixar um.
Tem spoilers, eu acho, mas esse filme tem mais de 30 anos.
É meio surreal finalmente ver Top Gun em 2022, depois de anos que a noção da cultura pop sempre tratou esse filme como um clássico, porque é muito ruim. É um desses filmes que se sustenta mais em nostalgia e no impacto que teve no período do que em qualquer outra coisa, e é bem óbvio que foi concebido primeiro, e principalmente, como um produto da época, do que um trabalho com real intenção artística. Os anos oitenta representaram uma queda na qualidade do cinema americano em relação à década passada, mas o período teve bons filmes que merecem o status de "clássico" como The Thing, O Império Contra Ataca, Evil Dead 2, O Iluminado e O Homem Elefante. Muitos tentam dizer que era bom "para a época", ou algo do tipo, mas já era abaixo da média da época: uma lição que quem realmente gosta de cinema é que quando alguém tenta defender um filme falando algo na linha de "você precisava ter visto na época para entender porque é tão bom", significa que o filme é ruim, e sempre foi. Top Gun é o tipo de filme que, se você desconsiderar o ângulo de propaganda para a aeronáutica, é o equivalente da época ao tipo de filme que um diretor como Paul W.S. Anderson foi lançando ao longo da década passada; se você levar em conta o aspecto da propaganda militar, então é o equivalente da época ao tipo de filme que Michael Bay tem feito desde os anos 90, até hoje. Top Gun pelo menos é muito engraçado de forma não intencional, porque parece uma paródia, exceto que quer se levar a sério, e mesmo se uma dessas paródias de filmes dos anos oitenta lançados nos últimos anos tivesse todo seu aspecto irônico retirado e fosse promovida como um lançamento genuíno do período, provavelmente ainda poderia se passar por um filme melhor que Top Gun.
O filme foca em grupo de pilotos de nível supostamente tão alto que são mandados para uma divisão especial da aeronáutica americana com o nome muito criativo de Top Gun. Todas as atuações, com exceção de Michael Ironside e Tom Skerritt, são péssimas, mas Ironside aparece bem pouco, e Skerritt é obviamente bom demais para esse elenco. Tom Cruise não é, e nunca foi, um bom ator, e o fato dele ser tão famoso é mais com o status dele de estrela de filme de ação, e provavelmente a ligação dele com a cientologia deve ter alguma ligação. Em Top Gun, ele nem funciona bem de forma superficial como o "galã principal", porque ele parece ter 12 anos no filme. A caracterização no geral também é péssima, porque a suposta habilidade dos pilotos só é comunicada através de diálogos, porque no resto do filme Maverick é incompetente, desacata ordens de superiores, e no geral age de uma forma que, em uma situação real, iria acabar com ele sendo expulso da aeronáutica, tomando um processo, e provavelmente perdendo alguns dentes; na realidade do filme, no entanto, ele é adorado por todos, apesar de ser incompetente e desagradável na maior parte do filme, ao ponto que um dos superiores dele vai atrás dele para passar a mão na cabeça por algo que muito provavelmente foi culpa de Maverick, mesmo. O personagem do Maverick faz o filme parecer a fantasia que um sujeito pouco inteligente, incompetente, e frustrado criou na própria cabeça: ele recebe uma segunda, terceira, quarta e por aí vai... chance do exército, e apesar de não ter carisma, nem inteligência, e ter a maturidade de um garoto de 15 anos, ele conquista a Charlie usando táticas como invadir o banheiro das mulheres atrás dela e questionando o que ela fala com comentários juvenis. Aliás, todos os membros dessa divisão agem como garotos de 15 anos, e no geral com um tipo de atitude que não iria colar no exército de verdade. Outra forma que tentam demonstrar a a "habilidade" dos pilotos é usando jargões de aviação, um atrás do outro, sem contexto adequado, e que não faz diferença, porque as cenas de voo, embora tenham sido bem executadas no básico, têm uma direção tão picotada e incoerente que acabam comunicando nada que o roteiro quer transmitir.
As cenas de interação entre personagens não são muito melhores: os diálogos são rasos, forçados, e bem juvenis na maior parte do tempo, o romance entre Charlie e Maverick é um dos mais forçados e sem química que eu já vi em qualquer filme, e como era a década de oitenta e Tony Scott também dirigia videoclipes, várias cenas interrompem o ritmo já não muito bom da trama para enfiar no meio algo que parece tanto um vídeo musical que destoa do resto das cenas: a trilha sonora é muito boa, e provavelmente serviu para convencer muitas pessoas que o filme é muito melhor do que é (mesmo que aconteceu com as prequels de Star Wars), mas é muito mal utilizada no filme, de forma repetitiva. Outros aspectos são simplesmente bizarros, como o fato deles estarem sempre suados em um nível que parece que os atores eram borrifados antes de cada cena, os atores estarem usando calça jeans na cena do vôlei de praia, e eles interromperem o filme para tentar estragar sua lembrança de clássicos do Elvis e Jerry Lee Lewis. Eles até tentam umas reviravoltas emocionais, mas como atuações, diálogo e caracterizações são péssimos, é dificíl se importar com os personagens para que essas cenas tenham algum impacto. Muitos comentários já apontaram o absurdo que é tentar passar esses homens imaturos e emocionalmente desequilibrados como "os melhores pilotos", o que torna particularmente engraçado quando os superiores de Maverick, mesmo depois de agir com estupidez o filme inteiro, o forçam a entrar em um avião logo depois da morte do melhor amigo, quando ele supostamente estaria ainda mais instável.
Existe, claro, o aspecto homoerótico do filme, e depois de assistir, levando em conta que o filme era também uma ferramenta de convocação para o exército, eu me pergunto se realmente foi "não intencional". Eu tenho certeza que os tiozões e homens no geral que adoram usar apitos de cachorro para descrever filmes e dizem algo na linha de Top Gun ser "pura testosterona" têm uma imagem bem clara na cabeça de homens suados sem camisa se abraçando e praticamente colando o rosto um no outro. Deixando claro que eu não estou tirando sarro do subtexto gay do filme, e teria sido um filme melhor se fosse assumido nesse aspecto, mas a galera que eu mencionei que idolatra esse filme estão constantemente se manifestando contra qualquer coisa ligada à "representatividade", então existe hipocrisia em vários níveis aqui. O que é mostrado como o romance do filme parece ainda mais forçado levando em conta as várias cenas do filme em que Iceman e Maverick olham um para o outro fixamente, de forma que não existe adjetivo melhor para descrever do que "apaixonada". O que me convenceu que esses aspectos provavelmente são muito mais intencionais do que é dito é a cena em que o Viper vai consolar o Maverick, e por algum motivo escolheram fazer a cena com o Tom Cruise só de cueca, e antes de Viper ir embora, ele não apenas dá uns tapinhas no ombro do Maverick, mas uma passada bem longa de mão de ombro a ombro nas costas dele. É uma cena muito engraçada no contexto do filme. Tem também o fato de que, apesar de nudez gratuita feminina ser muito comum em filmes da década de oitenta, não há cenas de nudez da Kelly McGillis (o que é um ponto positivo, pois seria tratado de forma juvenil nesse filme, como todo o resto), apesar do grande foco em homens suados sem camisa. Os músculos deles, inclusive, são só para exibição mesmo, não parecem ser muito funcionais.
Top Gun é absurdamente ruim, mas muito engraçado por conta disso. Parece que a continuação é muito melhor, ao ponto de poder ser considerado um filme de verdade e não apenas algo que foi produzido por uma inteligência artificial que foi alimentada clichês da década de oitenta, mas eu só vou conseguir levar essa continuação a sério, quando eu assistir, se desassociá-la desse primeiro filme ou considerá-lo um uma alucinação que Maverick teve depois de comer atum expirado, ou algo do tipo, porque isso foi um delírio.
Algumas pessoas aqui no filmow realmente não gostaram que, nos meus comentários, eu escolho não usar a função de marcar spoiler do site, embora, quando meu comentário apresenta spoiler, eu aviso bem no começo, então vou fazer um esforço sincero aqui para usar a marcação de spoilers, em consideração dessas pessoas.
Um aspecto importante para o entendimento dos temas centrais do filme é a seguinte cena:
Textos, ao menos aqui no Brasil, são lidos de cima para baixo, assumindo que você está lendo na ordem correta, e isso inclui comentários. Caso você decida ler em qualquer outra ordem, existe nada que eu possa fazer a respeito.
Uma das cenas do filme que realmente define o relacionamento entre Jamal e Salim é a seguinte:
Responder um comentário sem ter lido é, no mínimo, estranho, especialmente se a resposta é para reclamar de algum aspecto do comentário que você não leu de fato, o que indica outras coisas piores, e invalida sua resposta.
Latika em relação a Jamal pode ser definido da seguinte:
Assim como você não é obrigado a ler meus comentários, também não é obrigado a respondê-los, e eu também não sou obrigado a aguentar resposta juvenil e de má fé só porque eu escolhi não usar, nos meus comentários, um sistema de marcação de spoilers que já foi melhor executado executado em qualquer outro site que eu usei, apenas para o conforto de vossa senhoria.
É fácil perceber então, que na dinâmica dos três personagens de destaque:
No "pior" dos casos, ficar sabendo de um spoiler vai fazer zero diferença na sua vida. Eu entendo ficar um pouco bravo caso não seja dado aviso justo, mas as reações de muitas pessoas aqui do site em relação a spoilers são ridículas. Paz.
Enfim, Slumdog Millionaire para mim foi um filme que poderia ter sido melhor, mas faltou comprometimento em mostrar a realidade sórdida de maior parte da população indiana, para fazer um filme mais "marketável" e digerível ao grande público e ao oscar. Por conta disso, o foco em muitas partes é em um romance não muito bem trabalhado e bem clichê, levando em conta o resto do filme, e em uma história que é propositalmente cheia de coincidências, mas passa um pouco do ponto mesmo nisso. É um filme sobre a realidade indiana feito para um público frequentador de cinemas ocidental, e isso não necessariamente torna o filme raso, ou ruim, mas acabou limitando a história que poderia contar.
Predadores tentou ser bom, ou pelo menos, tentou remeter ao que é considerado "bom" na franquia, sem ressalvas, que é o primeiro filme: o cenário é novamente uma floresta tropical (embora não seja na Terra), e os personagens tentam remeter a algum clichê de heróis de ação da década de oitenta (com exceção do personagem do Topher Grace), mas seguindo a linha de filmes de ação mais modernos, aqui eles não são realmente mostrados como heróis... pelo menos até o momento em que o roteiro requer que eles sejam "heroicos". O problema é que o filme é chato, muito previsível, cheio de clichês forçados que já eram batidos na época, e com atores que na maioria são sem carisma. Por menos que eu queira criticar um dos poucos atores brasileiros de algum destaque internacionalmente, se Alice Braga teve alguma boa atuação, eu ainda não vi, e ela atua aqui praticamente da mesma forma que em outros filmes que ela fez, apesar da personagem ser diferente. Aliás, por que ela interpreta uma israelense? Nem faz sentido a escolha do papel. Adrien Brody talvez seja adequado para um drama de época, mas ele simplesmente não funciona no papel de soldado traumatizado: talvez tivessem achado que a voz dele o faria parecer "durão" e misterioso, mas ele só parece estar com sono. Danny Trejo é divertido, mas morre logo no começo. O resto dos personagens nem vale muito a pena falar: Yakuza genérico claramente escrito por um americano, Russo forte genérico claramente escrito por um americano, presidiário tarado e irritante, Topher Grace interpretando Topher Grace, ou seja, irritante e desnecessário. Quando Lawrence Fishburne aparece, o filme melhora um pouco, mas ele é mal aproveitado. O que impede o filme de ser pior do que é são algumas cenas de ação são algumas cenas de ação bem feitas (principalmente o duelo entre o Yakuza e um dos Predadores, que remete a um filme clássico de samurai), uma fotografia que transmite bem o fato do planeta não ser de fato a Terra, e claro, o desenho e os efeitos dos predadores. Na maior parte do tempo, infelizmente, o filme é bem chato, e esquecível.
Inferior ao primeiro, no geral. Tudo é muito caricato e exagerado para ser levado a sério, e não parece que o filme estava tentando ser uma sátira, com personagens gritando o tempo todo, e ação e "gore" são tão constantes, mesmo nas cenas envolvendo o bicho titular, que tensão inexiste no filme. É tudo tão caricato que quase chega ao nível de paródia, mas o filme quer muito ser levado a sério, e o tom entre cenas acaba conflitando. Consegue também, de alguma forma, parecer mais datado e juvenil que o anterior, apesar de ter saído no começo da década de 90: forçaram uma nudez gratuita, os personagens são ainda mais estereotipados, e em determinado momento conta com uma retratação bem míope de uma certa cultura estrangeira.
Apesar dos problemas, os filmes tem seus méritos que o tornam a melhor continuação da franquia (não sei a respeito de Prey, não vi ainda) e um filme de ação divertido para ser visto sem compromisso. Um aspecto do filme que é melhor que o original é Danny Glover interpretando um policial velho, porque é um papel que ele faz bem, e obviamente ele é um ator muito melhor que o brucutu austríaco. Eu também gostei que o filme não tentou apenas ser o primeiro filme de novo, com uns personagens diferentes, como é o caso de muitas continuações, mas mudou em aspectos que realmente tornam o filme diferente: se passar em uma cidade já é uma ideia interessante, e essa cidade ser Los Angeles durante uma onda de calor e crime resulta em umas cenas legais. A caracterização, os cenários e a direção conseguem passar bem o caos da situação, com todo mundo estressado e suado, uma pena que eles passam um pouco do ponto aqui para a comédia. O filme também expande a mitologia da criatura sem cair para as presepadas que as continuações fazem, o que também é bom. Poderia ter sido melhor, e sempre existiu potencial na franquia para fazer algo melhor que o primeiro, mas diverte um pouco.
Revi a franquia ano passado, e voltei a pensar a respeito recentemente por conta do lançamento do novo filme, Prey. Predador é um filme de ação da década de oitenta que também mostra a transição do período, marcada principalmente por filmes como Duro de Matar, que de certa forma pendiam mais para o realismo e desconstruíam a imagem do "exército de um homem só" que entrava no meio do tiroteio, saía ileso e acertava os inimigos sem mirar, e que já era clichê e batida na segunda metade da década. Predador começa como qualquer um desses filmes de ação clichês: personagens que supostamente são soldados que não agem como soldados de fato e interpretados por atores que em sua maioria têm um físico que seria bem inconveniente para o tipo de trabalho que executam chegam em um país tropical de terceiro mundo, no meio da selva, explodindo coisas e soltando frases de efeito. Tudo isso é proposital para contrastar com o Predador, que aprece em seguida, e é o oposto dos heróis do filme: silencioso, eficiente, estratégico. As velhas "táticas" dos típicos heróis de ação até então resultam nas mortes de todos do grupo menos um, que só consegue derrotar o predador por ter se adaptado, usado táticas inteligentes, e mais importante, ter fechado a boca.
Predador é um filme bem dirigido, com efeitos que (na maioria) envelheceram bem, e um desenho icônico de criatura que é bem reconhecível até hoje. Embora tenha seus méritos, não considero uma obra prima, ou um clássico incontestável na mesma medida que os dois primeiros filmes da franquia com a qual essa sempre é comparada e já fez crossover: convenhamos, Alien de 79 é bem mais efetivo como filme de terror, e uma execução bem melhor no geral, e Aliens, sua continuação, não só é melhor executada como filme de ação, como também tratou da questão de típicos personagens de filmes de ação sendo massacrados por uma ameaça desconhecida antes, e com personagens mais desenvolvidos. Predador, apesar de ser um comentário em relação aos clichês do gênero na época, apresentava sinais de fadiga que não poderiam ser justificados pela ironia, como atuações ruins (exceto Bill Duke, bom até aqui), personagens rasos com os quais é dificíl se importar, e uns diálogos que na maior parte do tempo não transmitem a tensão do filme, e são apenas cômicos, intencionalmente ou não: para quem reclama do excesso de piadinhas forçadas dos filmes do MCU, isso já era um problema em muitos filmes desde a década de oitenta. Predador é no geral bom, divertido, um filme perfeito para ver quando você só quer relaxar e não se preocupar com tramas complexas, mas com um roteiro bem construído o suficiente de forma que também não insulta sua inteligência.
Spoilers, como sempre, e o comentário é grande sim, porque eu gosto de escrever, gosto de cinema, isso é relaxante para mim, e serve como treinamento para escrita mais séria que eu preciso fazer. Quem sentir a necessidade de responder só para dizer que o comentário é muito grande e que nem leu, ou algo do tipo, ao invés de ignorar, sua carência não vai ter biscoito, só um block silencioso mesmo. Quem ler e detestar, é justo.
Capitão Fantástico é um filme arrogante, pretensioso e hipócrita que, por vários problemas na execução, um roteiro que tenta apresentar uma reflexão profunda sem comprometer os aspectos mais "família" ou "pipocão" do filme, e por conta disso acaba contradizendo os próprios temas e a suposta mensagem em vários pontos, resultando em algo superficial que ironicamente parece ter sido concebido por alguém com pouca vivência real e interpreta a realidade de forma muito rasa.
O primeiro problema para mim é a personagem da mãe, que cai em um clichê preguiçoso presente em vários tipos de filme, que é ser uma personagem mulher cuja agressão ou morte serve como motivação inicial, e até central para a trama, mas cuja função no roteiro é nada mais que isso, um motivador, não tendo agência, personalidade própria, nem desenvolvimento. Efetivamente, esse tipo de clichê significa que a trama não trata a personagem como uma personagem de fato, mas apenas como uma plataforma para desenvolvimento de outros personagens, sendo, efetivamente, para o roteiro e para a audiência, mais um dos artifícios de roteiro. Embora não seja aqui usado de forma tão míope e datada quanto em tantos filmes de ação que só querem uma desculpa para pular para os tiros e as explosões, ainda consegue ficar abaixo da média atual do clichê pelo fato da personagem, apesar de sua suposta importância para a trama e para os personagens que têm desenvolvimento de fato, não ter uma fala, e ter sua personalidade descrita apenas por outros. Depois de ver Capitão Fantástico, eu consigo apreciar mais como um filme como Manchester à Beira Mar fez uso do clichê similar, onde o personagem cuja morte é o motivador da trama aparece em flashbacks que são incluídos de forma bem natural na trama, e que reforçam a importância do personagem para o protagonista, mas isso não acontece em Capitão fantástico.
Outro problema, que acho que é o maior do filme, é tudo o que envolve as crianças. Primeiro que nenhuma delas atua muito bem, com exceção da menina que fez Oculus em 2013, e mesmo se fossem bons atores, o roteiro iria acabar com qualquer chance deles serem bem caracterizados. Muitos parecem achar que elas atuam bem, mas a verdade é que essas pessoas só as acham fofas, que era a intenção dos envolvidos, e quando essas crianças crescerem, deixarem de ser "fofas", e no caso das que não melhorarem com o tempo, não conseguirem trabalho no ramo, parte da culpa vai ser de quem "relevou" essas atuações simplesmente por elas serem crianças. O filme começa com as crianças chorando ao receber a notícia da morte da mãe, que pelo que eu me lembre, estava afastada deles, internada em um hospital psiquiátrico, e cometeu suicídio, e que deveria ser uma cena tocante é algo dificíl de levar a sério porque ninguém lá chora de forma convincente. Na mesma cena, um dos meninos mais novos reage à notícia de forma diferente, xingando, atacando a parede com um canivete e sai pisando duro, e essa diferença, que deveria mostrar algo preocupante a respeito do estado mental do personagem, acaba sendo não intencionalmente engraçado, porque a atuação do ator em questão está abaixo da média até dos atores desse filme. A atuação do garoto mais velho consiste em arregalar os olhos e ocasionalmente falar como se tivesse uma batata na boca; as duas crianças mais novas estão lá basicamente para forçar fofura e distrair a audiência dos problemas de roteiro; as duas meninas adolescentes (ou pré adolescentes) são as que têm as melhores atuações, principalmente a que fez Oculus, mas elas no geral estão meio apagadas na trama, por algum motivo.
Ainda nas crianças, mesmo que elas fossem excelentes atores, o roteiro, direção e toda a questão da caracterização iriam garantir que não seriam bons personagens no contexto da história que o filme tenta apresentar. Uma das críticas que o filme supostamente apresenta é aos excessos de uma sociedade de consumismo exagerado, através da filosofia do pai de viver isolado com as crianças no meio do mato, mas como diretor e roteirista Matt Ross aparentemente não queria comprometer o filme família enlatado dele com inconveniências como realismo, autenticidade, ou qualquer coisa que desse um peso real para a mensagem apresentada, a aparência das crianças é muito artificial, ao ponto que a família do filme parece muito mais com algo que geralmente aparece em propagandas de margarina ou anúncios de seguradoras ao lado de dizeres como "Pense no futuro de seus filhos". Apesar de supostamente não tomarem parte no uso de coisas como shampoo, protetor solar, cremes para a pele, e passarem a maior parte do tempo em ambientes externos, no meio do mato, expostos ao sol, pernilongos, e outros presentes da natureza, todos têm cabelos sedosos, pele limpa livre de marcas e machucados, sem nem marcas de sol, mesmo que pessoas brancas como eles fiquem parecendo lagostas depois de um dia de caminhada ao ar livre, e dentes muito brancos; o mesmo vale para o Ben, inclusive. Em uma das cenas, o personagem do avô mostra critica o Ben pelo fato das crianças supostamente estarem cheias de cicatrizes, mas o filme nunca realmente mostra essas cicatrizes, e eu fiquei me perguntando "onde?" durante essa cena. A forma como a inteligência das crianças é mostrada no filme é bem previsível e preguiçosa, que consiste, na maior parte do tempo, em fazê-las dizerem frases e palavras que soam complicadas, mas sem contexto adequado, sem contribuir de fato para a trama como um todo, e de forma que seriam necessários atores ou direção melhores para começar a funcionar: no começo do filme, o garoto mais velho fica bravo com o pai a respeito de uma questão de crença, e começa a jogar nomes aleatórios de religiões consideradas "não convencionais" no ocidente, mas isso contribui nada para a trama; em outra cena, Ben pede para a menina mais nova explicar com as próprias palavras o que entende sobre a constituição americana, e você quase consegue ouvir as engrenagens rangendo na cabeça da pequena atriz para lembrar do texto obviamente decorado; em determinado momento, uma das meninas começa a falar sobre o que achou do livro Lolita, e a interpretação dada é a mesma que você encontra em qualquer análise básica do livro, mas o filme espera que o espectador fique impressionado simplesmente porque é uma criança falando, embora a atriz com certeza decorou o texto da Wikipedia ou de algum canal de YouTube aleatório. Esses são alguns exemplos, mas a demonstração da inteligência dos personagens nunca realmente vai além disso.
Já é ruim o suficiente que a falta de comprometimento do diretor e roteirista leve a uma caracterização tão contraditória, mas a forma como tudo é apresentado, provavelmente não intencionalmente, fica desconfortavelmente perto de se passar por propaganda eugenista. O que o filme mostra é que Ben e a esposa tiveram seis filhos, todos brancos, todos loiros ou ruivos (não lembro se tinha algum loiro no meio), todos se encaixando em um fenótipo do que é considerado "marketável", todos fisicamente aptos a ponto de aguentar o treinamento pesado, todos gênios a ponto de aprenderem bem com o método de Ben (que convenhamos, é péssimo em vários aspectos, e envolve coisas como fazer os filhos lerem livros complicados com letras pequenas na luz fraca de uma fogueira, que além de péssimo para o aprendizado, significaria que a maioria, se não todos, teriam desenvolvido algum problema de vista), todos com muita facilidade em interpretação de texto (isso sendo algo que é desenvolvido ao longo de muitos anos, e é só ver alguns comentários no filmow para perceber que muitos nunca desenvolvem), e apesar de pelo menos dois estarem passando pela puberdade, não há sinais de espinhas nos rostos deles. Esses aspectos, além de preguiçosos e pouco realistas, remetem de uma forma perturbadora a um tipo de propagando do tipo "ideal" e "superior" de ser humano muito utilizada por uma certa ideologia que é, colocando de uma forma bem eufemista que nem começa a dar dimensão do que era, problemática, e é fácil adivinhar qual é a ideologia em questão. Mais perturbadores ficam esses aspectos quando o filme coloca alguns parentes de Ben como um espantalho para representar o contraste com o que supostamente é a família americana mais "convencional", com personagens que são mostrados como pouco inteligentes e acima do peso, e o roteiro tenta reforçar uma correlação entre esses aspectos: a aparência dos filhos dessa família de contraste seguem um estereótipo americano preconceituoso, sem fundamento, e muito datado, que é do sujeito considerado acima do peso de olhos juntos ser pouco inteligente. Apesar desses problemas com a cena, tudo é mostrado forma nada crítica a essas concepções, como alívio cômico, contando inclusive com Kathryn Han e Steve Zahn, dois atores mais conhecidos por fazerem comédias, e nesse momento em particular o filme fica muito mais parecido com uma dessas comédias descartáveis do Adam Sandler do que o que quer que tenta fazer em outros momentos. Mais perturbadores ainda são os aspectos citados se for levado em conta que, pelo que eu me lembre, só pessoas brancas aparecem no filme, com minorias aparentemente não existindo nessa realidade: não sou o tipo de pessoa que acha que todo filme precisa de alguma forma de "representatividade", mas quando uma história tem como um dos temas centrais críticas sociais ao sistema vigente, e se passa nos Estados Unidos, a falta de representatividade constitui sim uma falha de roteiro, para dizer o mínimo, e realmente espero que tenha sido uma "falha", algo não intencional proveniente simplesmente da ignorância e visão limitada dos envolvidos, e não algo mais grave.
Além desses problemas mais centrais, o filme tem vários outros na progressão de roteiro, que ignoram consistência interna e externa que dariam mais peso ao que supostamente é um drama crítico e realista: durante a viagem, a família para em um estacionamento de trailers, onde o filho adolescente tem um pequeno romance clichê com uma moça que, de forma bem clichê e previsível, é uma gótica (ou emo, não sei) rebelde que tem personalidade oposta à dele e contribui para "ensiná-lo a viver", ou o quer que chame esse clichê batido; quando o filme precisa de um conflito para encerrar o segundo ato e passar para o terceiro, a cena em questão é apresentada de forma que fica bem óbvio para quem vê filmes regularmente que algo ruim vai acontecer, sendo óbvio a ponto de ser irritante, e esse "algo ruim" envolve uma das crianças mais velhas, que sobreviveu a anos de treinamento no meio do mato em terreno escorregadio e acidentado escorregando e se machucando em um telhado com a manutenção em dia; uma das crianças critica o fato da propriedade do avô ser muito grande para poucas pessoas, e a questão mobiliária nos Estados Unidos (e na maioria do mundo) é realmente um problema, mas nesse momento o filme parece se esquecer que, apesar do estilo de vida frugal, Ben e as crianças vivem em uma propriedade grande demais para eles, com um espaço tão mal aproveitado que poderia ser classificado como um latifúndio improdutivo.
O último terço para o final não contribui para deixar o roteiro melhor. Seis crianças se escondem dentro de um ônibus de viagem pelo que aparentemente foi um longo tempo, sem o filme fazer um esforço para mostrar como isso foi possível sem Ben perceber. Seis crianças e um homem adulto entram em um cemitério, cavam um túmulo e roubam um cadáver com uma facilidade que é consequência da preguiça do roteiro. Apesar do filme reforçar, constantemente, que dentre outras coisas, o gosto dos pais da família, em particular da mãe, em arte é mais clássico e alternativo, incluindo música, com uma cena inclusive onde o filho mais velho fala para a gótica, bem claramente, que tipo de música a mãe gostava, uma das últimas cenas do do filme consiste das crianças fazendo um cover meio "folk" de Sweet Child O' Mine do Guns N' Roses porque supostamente é a música preferida da mãe deles. Deixando claro que eu não acho a banda ruim, e gosto de várias músicas deles, mas colocar a música mais popular de uma banda que é um sucesso comercial como a "favorita" da personagem em questão contradiz o que foi estabelecido a respeito dela no decorrer do filme, e contradiz vários dos temas que o filme tenta apresentar. É bem óbvio que o real motivo da escolha da música foi mais uma tentativa de manipulação barata do roteiro de apelar para o público em geral com uma música que muitos gostam, mesmo que isso signifique mostrar falta de comprometimento com o próprio roteiro. Ao final do filme, é sugerido que o avô das crianças, o pai da mãe delas, está em bons termos com Ben e disposto a deixá-lo com as crianças, apesar de: Ben ter sido um pai abusivo na forma como tratava os filhos, e o fato dele ter forçado aquele estilo de vida ter levado ao colapso mental da esposa, que levou ao suicídio dela, e eu sei que a busca do equilíbrio e o desenvolvimento do personagem são parte da mensagem da trama, mas o aspecto abusivo de Ben nunca é tratado com a seriedade que deveria, dadas as consequências; as crianças terem se enfiado no ônibus para seguir Ben, o que com certeza não deixaria o avô feliz; o roubo do cadáver teria sido bem óbvio, e o avô com certeza saberia que foi executado por Ben e pelas crianças. Durante o filme todo ficam repetido de forma bem forçada o jargão que deveria ser de impacto, se o contexto fosse bem construído e o roteiro não fosse preguiçoso e hipócrita, e ao final repetem mais uma vez, só para reforçar a irritação, depois das crianças terem dado a descarga nas cinzas da mãe em um banheiro de aeroporto.
Capitão Fantástico é um filme que me deixou vazio, e que apesar da mensagem que tenta ter, eu acho que acaba se contradizendo em vários pontos, e contribui mais para reforçar o dito "status quo" do que questioná-lo.
Michael Clayton é um filme que foi indicado ao Oscar de melhor filme em 2008, protagonizado por George Clooney, que aqui interpreta um homem que sempre usa terno, boa pinta e moralmente ambíguo, mas bom no fim das contas, envolvido em algum crime ou escândalo: basicamente, ele interpreta exatamente o mesmo papel que você espera que ele interprete sempre que o nome dele aparece em qualquer filme. Tilda Swinton também está nesse filme, e ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo papel, mas ela não é o personagem titular interpretado pelo George Clooney interpretando ele mesmo. O que eu quero dizer é que, de todos filmes que eu já vi, Michael Clayton é, definitivamente, um deles.
Comentário é longo e provavelmente tem spoilers, fica o aviso, então se algum desses dois aspectos te incomoda, fica o aviso, não encha o saco.
Multiverse of Madness é, facilmente, um dos melhores filmes do MCU até o momento. Não que isso seja dizer muito, e eu também não digo que é um dos melhores filmes para agradar fã de HQ ou quem quer fan service nesse contexto, mas é um dos melhores do MCU para quem quer ver um filme primeiro, e um filme de herói, talvez, em segundo; novamente, longe de ser uma obra prima nesse aspecto. Acho que muitas das notas negativas são por muitos estarem tão acostumados com a fórmula básica da Marvel nesse ponto que o Sam Raimi ter tido liberdade o suficiente para deixar a marca dele no filme (embora ainda sujeito às típicas limitações do MCU) causa um certo estranhamento, mas alguns comentários são hilários. Muitos reclamam dos absurdos e inconsistências do roteiro, mas convenhamos que depois de mais de 10 anos e mais de 30 filmes com roteiros que nunca foram grande coisa, é meio tarde para começar a reclamar disso: Ultimato, por exemplo, tem vários furos e inconsistências, mas ainda tem uma média bem alta aqui no filmow. O mesmo se aplica a quem reclama do filme ser "muito bobo" ou "idiota": nenhum dos filmes do MCU até agora foi o que pode ser considerado "inteligente", e quem assiste, assiste pela espetáculo "pipocão" ou, no caso de quem é fã das HQs, para reclamar que fizeram mudanças. Obviamente isso não significa que não existam filmes dentro do MCU que estejam tão abaixo mesmo dentro do padrão estabelecido, que não mereçam toda a crítica que recebem, mas esse Multiverso da Loucura se encaixa sim no que é considerado "bom" nesses critérios, e ver o mesmo pessoal que elogiou e superestimou horrores filmes no mesmo nível, ou até inferiores, e que provavelmente chamariam de "chato" quem apontasse erros óbvios nesses mesmos filmes, se atendo ao tipo de detalhe que ignoraram ou não deram importância até agora, e agindo como se o nível tivesse caído e como se o MCU fosse mais do que realmente é, é bem estranho e curioso, o que, admito, é bem adequado, tanto para o personagem em questão, quanto para a direção.
O que faz com que esse filme se destaque dentre os anteriores é obviamente, a direção de Sam Raimi, que tem liberdade o suficiente aqui para que faça muita diferença, mais do que o pessoal do que só viu o filme por ser parte do MCU faz parecer, mas ainda sujeito a limitações impostas por estúdio e continuidade que significam que Multiverso da Zoeira nunca poderia ter chegado ao nível de um dos clássicos de terror do diretor, ou nem ao nível de um Miranha 2. Especialmente depois que Ultimato foi desnecessariamente longo e cheio de firulas, e Sem Volta Para Casa foi um festival de tédio e falsas reverências, eu gosto o quanto esse filme não perde seu tempo, tendo em torno de duas mesmo contando com créditos, o que é milagrosamente curto para um filme do MCU, e com uma direção dinâmica onde até cenas expositórias oferecem algum aspecto visual interessante. Embora o filme sofra com o mal de todos os filmes da atual fase da Marvel, que é a obrigatoriedade de interromper de ficar forçando piadinhas no meio dos diálogos, mas Raimi já mostrou em Darkman e na trilogia do Miranha que ele realmente entende que histórias de HQ são absurdas, que não foram feitas para serem levadas muito a sério, e se utiliza desses absurdos de forma bem humorada e criativa. O filme tem momentos que são sérios no contexto da história e do ponto de vista dos personagens, como os diálogos entre Wanda e o Dr. Estranho, mas a direção e as atuações mostram que tanto diretor como elenco entendem o absurdo, e isso é transmitido, nesses momentos, sem piadinhas forçadas que quebram o fluxo da trama. Muita gente parece não ter gostado da Wanda como vilã, e ter achado as motivações dela meio forçadas (eu caí de paraquedas, porque não vi Wandavisão, mas isso está longe de ser o maior dos absurdos para os quais o pessoal passou pano nessa mais de uma década), mas nesse tipo de filme inconsequente, eu acho que o que importa o vilão é ser interessante e servir à trama de forma criativa, o que acontece aqui: Marvel sempre teve todos esses heróis com poderes supostamente diferentes que na verdade eram só umas variações de "laser da morte" ou "ser muito forte", e raramente usava isso de forma que criativa e visualmente interessante em um filme, então se colocar a Feiticeira Escarlate como vilã contra o Dr. Estranho foi só uma desculpa pra incluir o multiverso e apresentar loucura e criatividade visual, já fez mais com o roteiro que a grande maioria dos filmes do MCU: mesmo nos melhores casos, esses filmes sempre foram espetáculos rasos executados de forma competente com o suficiente de história para ligar uma cena com um mínimo de coerência, e isso Multiverso dos Comentários do Marcus Christian faz muitos bem, com o benefício desse toque autoral do Sam Raimi, que torna o filme, em vários momentos, praticamente um terror com personagens da Marvel, com direito a um equivalente do Necronomicon, a piada do olho sendo disparado da órbita, mortes que são bem gráficas para o padrão Marvel, e Wanda se contorcendo que nem um dos demônios de Evil Dead. Reclamaram também do Dr. Estranho ser um "coadjuvante" na história, mas ele aparece bastante, já teve desenvolvimento em outros filmes, e desde Guerra Civil de 2016 que a Marvel abandonou qualquer pretensão do personagem titular do filme ser o foco exclusivo da história, por conta de como absolutamente tudo é interligado e pela forma como a maioria dos filmes do MCU são só trailers muito longos para outros filmes. A personagem da América é um ponto positivo no filme, porque conseguiram encaixar uma personagem adolescente nmova que é carismática. Multiverso dos Tiozões Chorando por Causa de Star Wars é nada mais que divertimento raso com uma direção sólida, que já é muito mais mais que a maioria do MCU costuma entregar, e para quem sabe o que esperar desses filmes, entrega o que foi prometido.
Não falando que o filme não poderia ter sido melhor mesmo dentro da sua proposta, ele tem sim vários problemas que o arrastam para baixo com toda essa bagagem do MCU, que o tornam apenas "ok" no contexto geral: eu não me importo, e acho que ninguém se importa com a personagem da Rachel McAdams, tanto que eu tinha esquecido completamente que ela aparecia no primeiro filme, tornando essas cenas "dramáticas" envolvendo ela e o Dr. Estranho bem desnecessárias; as já mencionadas piadinhas forçadas; eu acho que essa questão do multiverso pode gerar umas histórias interessantes, mas eu realmente não me importo com essas versões alternativas de super heróis que são colocadas como fan service, ou no caso, para a Disney lembrar a todos que detém os direitos de X-Men agora, e que provavelmente nunca mais veremos um filme como Logan; toda essa forçação de barra com fato de Dr. Estranho ser uma ameaça no outro universo, ou alguma coisa assim, que só serve para gerar drama artificial e interromper o fluxo da trama por uns momentos. Existe aqui uma demonstração do potencial do filme do MCU com um toque autoral de um diretor criativo, algo que já foi demonstrado com Os Guardiões da Galáxia, mas não nesse nível, com uma história com menos restrições de classificação e sem as restrições de personagens superestimados que recebiam muita atenção em filmes anteriores, mas é só uma demonstração aqui, um experimento por parte da Marvel, e dada a recepção do filme, é provável que voltem para a zona de conforto depois.
Não vejo a hora de sair o Snyder Cut, só para no fim das contas ser tão ruim quanto, ou pouca coisa pior que a primeira versão, só para fã do diretor fingir que é muito melhor. Ah, espera, esse já foi o "Snyder Cut", com o diretor tendo ainda mais liberdade que o normal, e cuidando também da fotografia, e como não tem versão anterior supostamente pior para comparar, ninguém nem pode fingir que esse filme é bom.
Atenção: tem spoiler para um filme filme muito ruim, e o comentário é longo sim, mas quem perder o próprio tempo e o meu só para comentar que não leu não vai ganhar biscoito, só vai tomar block mesmo, assim como quem curtir o comentário do engraçadinho.
Mesmo que Book of Henry seja um péssimo filme, no geral, por ter sido um roteiro bem pessoal de Gregg Hurwitz, onde ele obviamente se projeta no personagem de Henry, acaba servindo como uma perspectiva perturbadora do que se passa na cabeça de um homem adulto que admira Jordan Peterson. A ideia de Hurwitz de uma criança excepcionalmente madura e inteligente não é alguém que age como maturidade e inteligência, mas sim um pequeno psicopata, que não demonstra emoções, e constantemente age de má fé contra praticamente todas as pessoas com quem interage, sendo especialmente agressivo em julgamentos contra mulheres, até mesmo a própria mãe, e acho que é nada surpreendente que um roteiro escrito por um fanboy de Jordan Peterson tenha bastante misoginia. Henry não trata a mãe como um filho que tem uma relação saudável com os pais, mas sim como um substituto para um namorado ou marido manipulador e abusivo, com constantes julgamentos e críticas com a mesma frequência e padrão que vítimas de abuso sofrem em relacionamentos tóxicos, onde o propósito não é ser construtivo, mas sim manter a auto estima da pessoa baixa, e torná-la mais suscetível a manipulação. As formas como tentam demonstrar que é Henry é inteligente são as mais forçadas e previsíveis desse tipo de filme: ele é mostrado pronunciando palavras complicadas, mas é bem óbvio que simplesmente despejar o dicionário em uma conversa é uma forma bem preguiçosa e desonesta de parecer inteligente (é só olhar os comentários do usuário Marcus, ou Marcus Christian, dependendo do fake, aqui no filmow, para ver um exemplo bem óbvio de que alguém saber palavras complexas não é necessariamente sinal de inteligência), cuidando das finanças da casa, e aplicando em ações. A questão de cuidar das finanças é até impressionante para uma criança, mas eu conheço várias pessoas que tiveram que se virar e assumir o controle da casa desde cedo, em idade semelhante à de Henry, por conta de pais negligentes (negligentes de verdade, não o que tentam passar por negligente com a mãe do Henry no filme, que apesar das distrações, ainda é uma boa mãe), e não são consideradas gênios, e nunca usaram isso como desculpa para tratar outros com arrogância; investir na bolsa com algum lucro para uma criança é um pouco admirável, mas o filme faz isso de forma forçada e bem rasa, simplesmente falando que ele comprou umas ações por telefone, e depois vendeu, a assim a família ficou rica, sem muitos detalhes; além do mais, o que não falta na bolsa é molecada que "aprendeu" economia vendo Paulo Kogos, Monark ou Kim Kataguiri, e acha que vai ficar rico da noite para o dia; assim como o Henry, esse pessoal tende a ser misógino.
Boa parte da trama é dedicada ao plano de Henry de livrar a menina que é vizinha dele dos maus tratos do pai policial, mas ele descobre que tem câncer terminal e vai morrer em breve, então ele deixa uma série de instruções para que a mãe dele consiga matar o policial e se livrar do corpo. Isso deixa bem claro que Henry só queria uma desculpa para ser responsável pela morte de alguém, porque se ele fosse mesmo inteligente, saberia como juntar evidências para formar um caso onde o policial acabasse preso, e ninguém precisaria tomar uma bala na cabeça; sem contar que ele não viu problemas em tentar manipular a própria mãe em cometer um assassinato, com grandes chances dela ser presa e deixar o irmão dele sem mãe. Não sei como tem gente que acha esse filme "fofo", se o Henry é basicamente o Jigsaw de Jogos Mortais: sujeito revoltado quer justificar pensamento extremo e assassinato com um discurso cheio de falsos moralismos, e é tão obcecado com as próprias ideias que deixa planos para depois de sua morte, para que possa continuar perseguindo e torturando pessoas, fisicamente e psicologicamente, do túmulo, e ambos fazem planos tão absurdos, com tantos furos e possibilidades de falha, que a única explicação para darem certo é que eles podem ver o futuro. A diferença é que a franquia Jogos Mortais consegue ser divertida em seus absurdos, até com a violência escrachada que é dificíl de levar a sério, mas O Livro de Henry, que tenta ser um drama familiar e inspirador, pelas formas como apresenta os temas, pelas mensagens que tenta passar, e pelo fato de que Henry é um personagem que saiu da cabeça de um adulto que acha que esse comportamento representa inteligência e maturidade, acabou sendo mais desconfortável para mim que os filmes onde pessoas estão constantemente perdendo membros.
Atenção: tem spoiler para um filme de quase 20 anos, e o comentário é longo sim, mas quem perder o próprio tempo e o meu só para comentar que não leu não vai ganhar biscoito, só vai tomar block mesmo, assim como quem curtir o comentário do engraçadinho.
Eu sempre acho muito preguiçoso e forçado quando um filme quer mostrar que algum personagem é um gênio capaz de prever os movimentos de todos os outros personagens, mas ao invés de realmente escrevê-lo de forma inteligente, simplesmente tornam outros personagens muito burros e incompetentes, e os planos do personagem dão certo não por competência e planejamento, mas por incompetência alheia, muita sorte, e algo que só pode ser considerado onisciência. Isso fica ainda pior nos próximos filmes, tanto que fica hilário, mas aqui já está presente, em um roteiro que se leva muito a sério.
A história de Saw, basicamente, se passa em uma realidade onde a grande maioria da população é derrubada várias vezes de cabeça quando criança, e Jigsaw tem a vantagem de só ter sido derrubado umas duas vezes, então embora, na cabeça dele, a melhor forma de fazer pessoas que já sofrem traumas e passam por diversas dificuldades é fazê-las passarem por experiências traumatizantes que muito provavelmente irão matá-las, e considerar razoável gastar muito tempo e dinheiro criando armadilhas elaboradas para essas pessoas, ele só precisa lidar com pessoas como: policiais que se esquecem da existência de algemas, não checam um ambiente desconhecido e suspeito antes de entrarem, e têm os reflexos e a percepção espacial de um cachorro cego e gordo de 12 anos; um cirurgião que não entende de anatomia; um fotógrafo sem percepção espacial; um sujeito que não sabe dar um nó básico; pais tão negligentes que não conseguem perceber a presença óbvia de uma pessoa estranha no quarto da própria filha, e talvez outros que eu não lembro agora.
A história do filme é a seguinte: o assassino em série (e sim, eu escrevi "assassino", porque é isso o que ele é, de fato, independente de qualquer tecnicalidade que o filme quer empurrar nesse aspecto de falso moralismo do personagem) conhecido como Jigsaw de alguma forma conseguiu alugar, ou comprar, galpões enormes por toda a cidade, e enchê-los de traquitanas e armadilhas elaboradas, e apesar dele já ser bem conhecido quando a história do filme começa, e de deixar toneladas de evidência por onde passa, empreiteiros, proprietários e a prefeitura da cidade parecem não sentir a necessidade de ficar de olho em atividades como compras de grandes armazéns em locais isolados da cidade, com grandes movimentações de materiais, e até onde eu sei, Jigsaw não subornava os figurões da cidade, então nem tinha essa desculpa de fazer vista grossa; acho que as continuações até tentam explicar isso, mas só deixa tudo ainda mais ridículo. Os policiais interpretados por Danny Glover e pelo cara com poder de porco espinho do X-Men 3 eventualmente encontram um armazém com o Jigsaw presente, mas ele consegue escapar novamente porque, de alguma forma, esse sujeito que depois descobrimos que é um idoso sofrendo de câncer terminal, têm reflexos muito aguçados para um policial supostamente experiente e treinado, e também porque o outro policial fica três horas entrando em pânico e brincando com um molho de chaves na mão, com um revólver na mão, antes de lembrar que tem uma arma e usá-la. Depois esse policial morre porque decide ir atrás de Jigsaw, deixando o parceiro sangrando com um corte potencialmente fatal na garganta, algo que eu imagino que dificilmente um policial faria, e porque coincidentemente ele passa exatamente no lugar onde um fio aciona uma armadilha, porque ele, policial treinado, se esqueceu de procurar por armadilhas no lugar onde obviamente teria uma, quando perseguindo o assassino conhecido por usar armadilhas.
A investigação policial é uma parte do filme, e a outra é o "jogo", de fato, com dois personagens presos em um banheiro abandonado, e os problemas já começam por aí: se os planos do Jigsaw dependiam que Adam permanecesse vivo por um tempo, porque ele foi jogado inconsciente dentro da banheira, se ele poderia ter se afogado? Descobrimos depois que a chave para as correntes estava na banheira, e que entrou pelo ralo, porque Adam se debateu e puxou a tampa do ralo porque estava ligada na perna dele, mas qual foi o ponto? Era bem óbvio que Adam iria puxar a tampa do ralo por acidente, então qual foi o propósito da chave? É bem óbvio que as motivações do Jigsaw são cheias de falso moralismo e hipocrisia, ainda mais nas continuações, mas essa questão da chave faz menos sentido que a média da série. Esse exemplo, e basicamente todos os outros das armadilhas das continuações, mostram que Saw funcionaria muito melhor como uma paródia de humor sombrio, mas esses filmes se levam muito a sério, o que traz comédia não intencional. Quando eles escutam as fitas, Adam escuta que Jigsaw quer que o Dr. Gordon o mate, ele vê uma arma no chão, e vê que o Dr. Gordon tem munição, mas ele parece não se importar muito, pela expressão. A parede do banheiro tem canos, e eles nunca contemplam a possibilidade de tentar usar um deles como alavanca para destruir os cadeados; Dr. Gordon acaba serrando a própria perna para escapar, sendo que teria sido muito mais fácil, menos doloroso, e com menos sequelas, ter quebrado o pé e passado pela corrente, lembrando que Gordon é um cirurgião, que tinha uma tampa de porcelana e provavelmente outros objetos e formas dele ter quebrado o pé, e em um filme futuro da série, é exatamente isso que acontece com um personagem em situação semelhante. É revelado, no final, que o homem no banheiro com os dois na verdade era Jigsaw o tempo todo, e estava vivo, com uma cobertura na cabeça para fazer parecer que era cérebro exposto. Essas duas pessoas, uma delas um médico, passaram seis horas com o "cadáver", e nunca perceberam respiração, nem o menor movimento involuntário, nem o fato de que a ferida na cabeça do sujeito não era de verdade? A gravação fala que o sangue no chão estava envenenado, isso significa que Jigsaw respirou veneno por seis horas? Jigsaw sabia que o sujeito que ele forçou a sequestrar a família do Gordon iria fazer um nó ruim? Alguns podem achar que é pedantismo esse nível de críticas, mas quando o filme é todo baseado em mistério e suspense da sobrevivência dos personagens, todos esses problemas se juntam para formar um roteiro ruim no contexto que o filme tenta estabelecer. Saw é impressionante nos aspectos técnicos para um filme de baixo orçamento, mas além do roteiro, as atuações são bem fracas, com exceção de Danny Glover e Shawnee Smith.
Têm comentários defendendo o filme por cumprir o papel de ser um bom "slasher", mas uma que isso não significa que é um bom filme, e implica que nenhum filme desse subgênero é bom, o que não é verdade, e Dia do Terror também não funciona como "slahser": como tantos outros genéricos de terror desse período entre entre fins da década de 90 e começo dos 2000, têm mortes nada criativas, praticamente nenhum gore, e uma reviravolta bem forçada no final que é um furo enorme de roteiro, só pelo choque. Para quem quer ver um "slasher" com temática de Dia dos Namorados, My Bloody Valentine é menos pior.
O remake de 2003 fez sucesso o suficiente para que os executivos pedissem uma continuação, mas o que fazer quando o filme termina com o antagonista icônico tendo o braço arrancado, e o antagonista surpresa que marcou o filme sendo morto? Uma prequel meia boca, é claro.
Esse filme é basicamente o remake, de novo, mas ainda pior: a fotografia feia é ainda mais feia aqui, os personagens são ainda mais esquecíveis, o roteiro é ainda pior, o ritmo ainda mais arrastado e repetitivo, e por conta disso, R. Lee Ermey é ainda menos capaz de compensar por todos os aspectos negativos. Para quem só quer ver um filme de terror com muito "gore", essa prequel funciona, pois é o filme mais violento e gráfico da franquia até então, e se você contar efeitos práticos e ignorar sangue em CGI que sempre parece péssimo, é o mais gráfico da franquia até hoje. Obviamente, intensificaram esse aspecto do filme para distrair de todos os aspectos negativos, mas não funciona muito bem, especialmente se você não é impactado por violência fictícia sem um contexto adequado. Não chega a ser o pior da franquia: os três que foram lançados depois conseguem ser ainda piores, e o filme quase acerta ao fazer um comentário sobre a guerra do Vietnã, que foi algo que influenciou muito o original, mas isso também é mal utilizado.
Atenção: tem spoiler para um filme de quase 20 anos, e o comentário é longo sim, mas quem perder o próprio tempo e o meu só para comentar que não leu não vai ganhar biscoito, só vai tomar block mesmo, assim como quem curtir o comentário do engraçadinho.
Sempre achei o primeiro o melhor da franquia, mas eu lembro de ter achado esse filme bom vendo pela primeira vez, mas minha opinião mudou ao revê-lo recentemente. É o primeiro filme da onda de remakes da produtora do Michael Bay que começaram no começo dos anos 2000, e talvez o menor pior deles, mas essa tentativa de "modernizar" resulta em um filme que não parece entender as melhores características do original, e tem muito de filmes de terror genéricos da época em que foi lançado.
O aspecto que me incomoda logo de cara é a fotografia que é feia, e não de uma forma que beneficia o filme, ou constrói atmosfera, mas deixa tudo sem graça, de uma forma dessaturada que era muito comum no período, até recentemente, porque os produtores achavam que deixar um filme artificialmente mais escuro significava deixá-lo mais assustador. O primeiro filme tinha um baixo orçamento e foi filmado em algo que era considerado uma batata mesmo naquela época, mas o filme tinha cenas que chegavam a ser bonitas, e faziam bom proveito do sol do Texas nas cenas diurnas e abertas; ajuda também que algumas cenas forma filmadas na "hora mágica", aquele momento bonito do crepúsculo quando o céu fica bem vermelho. No remake, não tenho certeza se intenção desse filtro era deixar o filme mais "assustador", ou tentar emular um filme da década de 70, mas o que consegui foi deixar o filme com uma aparência artificial, e fazer parecer que se passa em uma versão alternativa do Texas que é anormalmente dublada.
Outro aspecto negativo do filme é a falta de suspense e sutileza, com a tentativas de "modernizar" deixando o filme mais exagerado, beirando à caricatura, que acabam o datando mais do que os bons filmes de terror da década de 70: o filme já começa com uma moça tirando uma arma do meio das pernas e explodindo a própria cabeça, de forma bem gráfica, mas a forma como ela surge com a arma é tão ridícula que tira qualquer impacto da cena. O Leatherface dessa versão é praticamente um vilão de história em quadrinhos, interpretado pelo ex fisiculturista Andrew Bryniarsky, o Zangief daquele filme do Street Fighter, ou seja, um sujeito grande, e quando ele tira a máscara, é mostrado que o personagem é deformado; qualquer característica que tornava o personagem original perturbador, que era o fato de poder ser alguém comum, como seu vizinho (porque foi inspirado em um assassino real), mas é um sujeito perturbado, desaparece aqui com esses excessos.
Outro problema é que os personagens não são interessantes e o roteiro enrola muito. Enquanto no primeiro filme, o fato dos personagens morrerem sem cerimônia causava impacto e fazia o filme fluir bem, aqui tentam criar drama, mostrando o personagem sendo capturado, e fingindo que existe uma chance deles sobreviverem, quando é muito óbvio que o filme segue o clichê da "final girl", e como nenhum dos personagens é bem desenvolvido, é dificíl sentir qualquer coisa com esse "suspense". Um aspecto ridículo é que fizeram questão de colocar Jessica Biel com uma camisa branca, sem sutiã, em situações onde ela sempre acaba com a camiseta molhada; até gostei disso vendo o filme pela primeira vez aos 16 anos, mas agora só parece infantil e desnecessário, um lembrete que Michael Bay estava envolvido na produção. A câmera também insiste, por algum motivo, em ângulos que focam na bunda dela, e alguns podem dizer que a câmera tratá-la como um pedaço de carne serve aos temas do filme, mas dessa forma não contribui para o terror, e sim para deixar uns adolescentes felizes.
O final do filme também é um tanto ridículo, com a protagonista, assustada e com frio, consegue arrancar o braço do Leatherface com um cutelo; não estou falando que ela não era forte, mas quando você coloca o Zangief como vilão, é absurdo alguém normal bater de frente assim. Nada semelhante à fuga desesperada da Sally no final do original que reforçavam o tom niilista do filme e deixavam bem claro que o original era um filme de terror, mas sim heroísmo forçado. O filme tem sim aspectos positivos, como o personagem do R. Lee Ermey que é responsável pelas únicas cenas de tensão real do filme (embora ele também seja utilizado em excesso), bons efeitos, e bastante "gore" para quem só quer ver um filme de terror sem muito compromisso.
Quando Tobe Hooper decidiu dirigir o original, não foi uma decisão movida apenas por motivos financeiros, embora eles sempre existam: ele tinha uma ideia queimando um buraco na cabeça dele, influenciada em grande parte pelo cinismo e ansiedade daquele período, e precisava colocar para fora, de alguma forma, e por ser algo tão específico do momento, é muito dificíl de reproduzir em uma continuação ou um remake. A única coisa queimando na produção desse eram os bolsos de Michael Bay e executivos, que precisavam de uma grana para apagar, e a única inspiração aqui foi o fato de o original é um clássico, resultando em um filme de 2003 que já é bem mais datado que um de 1974. Esse remake não é o pior da franquia, tem suas qualidades, é o terceiro melhor da franquia, mas desculpas a quem discorda, chega nem perto do original.
Até entendi que o Kim Henkel (roteirista do primeiro filme, diretor desse quarto) quis fazer uma espécie de meta narrativa a respeito da percepção do público sobre filmes de terror, e entre a nudez gratuita no começo, os canibais pedindo pizza e o personagem da perna mecânica, é um filme que não se leva a sério, mas ainda é um filme ruim. Como filme de terror, não tem suspense, nem "gore", e como paródia do primeiro filme e sátira do gênero, não é absurdo o suficiente. Muitos reclamaram da retratação do Leatherface nesse filme, mas o papel dele aqui como um sujeito perturbado que nem é o mais psicopata da família Sawyer é mais fiel à retratação do personagem no primeiro filme, e o fato dele usar maquiagem e peruca condiz com o assassino real que serviu de inspiração para ele, Ed Gein (Leatherface se veste de forma semelhante no primeiro filme).
O maior problema com esse filme é que, além da falta de suspense e de "gore", e da aparência barata dos cenários, a própria mensagem "meta" que o filme tenta passar não é bem transmitida, e acaba ficando confusa e dizendo nada, e o final pareceu mais um dedo do meio metafórico do que um final de verdade. Apesar de ruim, eu ainda acho esse melhor que o terceiro, ou que as abominações que foram o Texas Chainsaw de 2012, Leatherface de 2017, e esse que brotou no Netflix ainda esse ano, em parte porque tem algum entendimento de aspectos fundamentais do primeiro filme (embora não os execute bem), e em parte porque eu dei muita risada vendo dois futuros vencedores do Oscar entregando atuações absurdas, especialmente Matthew McConaughey com uma perna robótica gritando e urrando. Filme muito ruim, mas muito engraçado.
Enquanto o segundo filme propositalmente tenta ser uma paródia do primeiro, e consegue fazer isso (mais ou menos) bem, esse terceiro tenta ser algo mais como um "soft reboot", tendo a mesma história que o original, mas com um casal ao invés de um grupo de amigos, e uma família nova para Leatherface, mas é tudo tão mal executado aqui que acaba parecendo uma paródia não intencional do original. É um filme que se leva muito a sério, mas tudo é muito dificíl de levar a sério, porque o filme acaba tendo ação em momentos que deveriam ser de terror e suspense, com um rock genérico da época tocando muito alto na trilha, que tem nada a ver com tom que os filmes da franquia deveriam ter. Até o "gore" é bem reduzido, mesmo na versão sem cortes lançada em DVD, e nada justifica essa classificação de 18 anos do filme. Recomendo a versão sem cortes mesmo assim, porque a versão de cinema têm uns cortes bem estranhos e óbvios nessas cenas mais violentas. Obviamente era para o personagem do Ken Foree ter morrido no filme, mas TCM3 é mais um filme que sofreu com esse infortúnio desnecessário da mídia que são grupos de foco, que não gostaram do final, então foi mudado para ele aparecer do nada no final e salvar a protagonista; como obviamente o resto do filme não alinha com esse final, fica parecendo que ele sobreviveu a ter a cabeça serrada, o que é meio dificíl. Acho que é fácil encontrar o final original no youtube, que enquanto não é bom, é menos pior que o que apareceu no filme (a versão sem cortes não inclui o final original, por sinal). Além do Ken Foree xingando e roubando a cena, e desse ser um primeiros filmes do Viggo Mortensen, tem nada de memorável a respeito desse filme.
O melhor da franquia depois do primeiro, e a única das continuações que foi dirigida por Tobe Hooper. O próprio diretor provavelmente percebeu que o primeiro filme foi, em grande parte, resultado do clima cínico dos Estados Unidos da década de 70, e que provavelmente não conseguiria reproduzir as condições do seu sucesso, então nem tentou, e fez uma continuação 12 anos depois que é basicamente uma paródia do original, uma comédia de terror com um estilo semelhante a outros filmes da mesma época. É bem óbvio desde a primeira cena que não é um filme que vai se levar a sério, e tem vários momentos que são absurdos, memoráveis e engraçados, como Leatherface tendo uma apaixonite adolescente pela DJ, o cozinheiro participando de um concurso de Chilli e usando carne humana na receita, e o duelo de motosserras no esconderijo da família Sawyer dentro de um parque de diversões. Dennis Hopper é perfeito no papel do Texas Ranger obcecado em acabar com os Sawyer, usando duas motosserras pequenas na cintura igual um personagem de faroeste usa duas pistolas, e é muito engraçado. O problema do filme é que se arrasta muito em alguns pontos, não chegando aos níveis de insanidade e "gore" de clássicos como Evil Dead 2 e Fome Animal. Ao que parece, muitos dos efeitos de Tom Savini foram censurados para o lançamento, e uma versão sem cortes nunca foi lançada, e eu tive mesmo a impressão que a edição era meio estranha em algumas cenas. Um filme divertido em alguns momentos, mas ainda fica abaixo de outros clássicos da década de oitenta com estilos semelhantes.
Atenção: tem spoilers, e se achou o comentário muito grande, simplesmente ignore, pois não existe necessidade de perder seu tempo e meu só para dizer que não leu, e a única resposta que você vai conseguir é um block bem silencioso; o mesmo vale para quem curtir tais comentários.
Ghostbusters: Afterlife não é um dos piores exemplos de um filme de retorno nostálgico que saiu nos últimos anos, com um roteiro que é apenas medíocre, mas não chega a ser ruim como o de um Jurassic World 2 nem Pânico 5, mas o resultado não é um bom filme: uma grande pilha de nada, derivativa, que vive de referências e nostalgia, apresentando nada de novo à franquia. Mesmo aceitando o filme apenas como um retorno nostálgico que faz pouco além de repetir o original, O Despertar da Força mostra que isso pode ser feito melhor. O maior problema para mim foi não ter gostado dos personagens: Phoebe e Trevor, no começo do filme, só sabem reclamar e ficam dando patada na mãe sem motivo, Callie também dá umas patadas desnecessárias nos filhos, Paul Rudd interpreta Paul Rudd, Lucky é interesse amoroso moderno genérico de filme moderno, J.K. Simmons aparece por uns dois segundos, e o resto é bem esquecível. Eu acho o primeiro filme apenas ok, bem superestimado, e nunca achei que tinha personagens muito bem escritos, mas eles tinham algum carisma, com exceção do Dan Aykroyd, que sempre foi um canastrão.
Eu sei que Afterlife tenta remeter a filmes clássicos da década de oitenta onde era comum crianças serem os protagonistas e salvarem o dia, mas o tom da franquia, o que foi estabelecido anteriormente, com um certo nível de plausibilidade em que o sujeito que construiu os equipamentos era um homem adulto, um cientista com doutorado, no mínimo. Outra é que o clichê da criança que é imediatamente habilidosa em tudo o que tenta já encheu o saco, e quanto mais você pensa a respeito daquela criança que nem passou pela puberdade, é minúscula, e pelo físico, provavelmente fica exausta levantando uma caneca, colocando aquela mochila de prótons que é praticamente do tamanho dela e disparando pela cidade, o aspecto ridículo da trama fica bem evidente; ainda mais evidente quando você lembra o cuidado que o primeiro filme teve em estabelecer o quão perigoso o equipamento é, e como mostrava aqueles homens adultos penando para controlar o raio e prender os fantasmas, mas Phoebe parece conseguir fazer tudo com muita facilidade aqui, embora a força do disparo provavelmente mandaria ela voando para trás. Como é certeza que Egon não teve filhos antes de oitenta e quatro, poderiam ter feito o roteiro de tal forma que ele teve algum filho durante a década de 90, em seus vinte no período atual e que acabou de concluir o doutorado em física, mais do que apto a assumir o lugar do pai, sem perder tempo com clichê de "pai distante".
Outro aspecto foram as tentativas de "modernizar" que não fazem muito sentido: tenho quase certeza que a armadilha não poderia ter sido colocada em um carrinho de controle remoto, de acordo com o que foi estabelecido no primeiro filme; tenho quase certeza também que fica mais ou menos implícito que o raio de próton precisa de uma certa estabilidade para prender o fantasma, algo que não possível em uma cadeira balançando fora de uma carro em movimento. Phoebe chega a causar sérios danos de propriedade à cidade com o raio, mas fora as crianças passarem alguns minutos na cadeia, não se toca mais no assunto: quem vai pagar por tudo? E não venham encher o saco falando que é só um filme para crianças, porque isso não é desculpa para deslizes de roteiro, não isenta o filme de críticas, e o primeiro filme mostrava que existiam repercussões bem sérias para ações ilegais dos protagonistas.
Outro problema de roteiro são as explicações dadas para a separação dos Ghostbusters, e o isolamento do Winston: Raymond fala que os fantasmas começaram a desaparecer porque eles fizeram um bom trabalho até demais, mas o que isso significa, no contexto da história? As pessoas pararam de morrer nos Estados Unidos? Eles conseguiram acabar com todos os fantasmas, de todas as eras? É muito dificíl de engolir isso. E o motivo para o resto da equipe ter basicamente isolado o Egon é que ele começou a falar de fim do mundo, e agir como "doido", mas não faz sentido eles subitamente pararem de confiar em um amigo que conhecem há anos, sabem que é inteligente, e nunca mentiu para eles antes antes. Faz menos sentido ainda quando eles quase viram o mundo acabar antes, ao vivo.
O final do filme foi o pior, em termos de forçar roteiro em nome de nostalgia, referência, e descaso com o que foi estabelecido no original: Winston, Venkman e Raymond aparecem do nada (o único que apareceu antes foi Raymond), interpretado pelos seus respectivos atores, usando os macacões clássico, e como eles estão velhos, e Bill Murray e Dan Aykroyd em particular estão bem fora de forma, eles acabam parecendo mais com fã em convenção do que com os personagens originais. O momento em si é, de qualquer forma, uma forçação nostálgica, porque o macacão do uniforme é algo que eles usavam quando ainda trabalhavam como equipe, para serem identificados, mas eles aprecerem vestidos assim no final do filme implica que, apesar da urgência da situação, eles perderam tempo vestindo os uniformes. Phoebe e Gozer entram em duelo de raios que é muito parecido com aquela cena do Harry Potter contra o Voldemort em O Cálice de Fogo, Egon aparece de forma idêntica a um fantasma da Força em Star Wars (embora fantasmas do bem com aparência humana nunca tenham aparecido na franquia antes), também usando o macacão, por algum motivo, e começa a ajudar a Phoebe com o raio igual o Goku ajuda o Gohan com o Kamehameha no final da saga Cell em DBZ. Esse monte de clichês e referências não intencionais deram um curto no meu cérebro e me fizeram perceber, de verdade, quão cansado eu estou desses filmes que só existem para referenciar outros filmes. A homenagem a Harold Rammis foi o único momento que eu senti alguma coisa no filme, mas teve nada a ver com esse filme.
Outro aspecto que acho que vale apontar para mostrar a obsessão com nostalgia em detrimento de consistência: motivo pelo qual aparece um Stay Puft gigante no final do primeiro filme tem a ver com Raymond pensando demais e não ter conseguido esvaziar a cabeça; o motivo de vários Stay Pufts pequenos começarem a brotar do marshmallow em Afterlife simplesmente não existe dentro do filme, e a explicação real é porque apareceu no primeiro.
Muitos comentários aparentemente queriam que o filme fosse uma adaptação direta do desenho da década de oitenta, mas aqui alguns motivos que mostram que isso não seria uma boa ideia: - Adaptar uma adaptação é algo que não faz muito sentido, e só serviria para enfraquecer ainda mais a conexão com o material original, ainda mais levando em conta que o desenho já era uma versão bem simplificada do original, para poder se encaixar no formato de um desenho para crianças da época; - O universo do D&D é denso, rico em material que possibilita adaptações mais maduras, que não seriam possíveis se fossem seguir o desenho, que inclui até alguns aspectos de terror cósmico. Eu nunca joguei o RPG de mesa, mas o pouco que eu joguei de Baldur`s Gate, Neverwinter Nights e Planescape: Torment já mostraram uma profundidade que nunca foi vista no desenho. - Como praticamente todo desenho da década de oitenta muito elogiado por adultos atualmente, Caverna do Dragão não era tão bom, e fica bem atrás até de desenhos mais voltados para o público infantil que começaram a sair depois. Os personagens eram bem rasos e chatos, todos os episódios eram o mesmo marasmo, com as mesmas piadas, Bobby e Uni eram irritantes, o material original foi muito mal aproveitado mesmo levando em conta que é um desenho para crianças, e enrolaram tanto com essa história do "vai-não-vai" da volta para casa que a série acabou sem um final, que só foi lançado anos depois em uma HQ. Eu nunca gostei, nem quando era criança, mas assistia porque era o que passava na TV de manhã, para tapar buraco entre os desenhos da Warner e Dragon Ball Z, e talvez mais alguma que estivesse passando na TV Globinho e Bom Dia e Cia. que eu também gostasse. - Adaptações de desenhos, ou anime, sempre são muito piores que o original, e não entendem o que os tornam bons, então, mesmo quem gostava do desenho provavelmente iria detestar a adaptação. É só lembrar de: Dragon Ball, Death Note, A Lenda de Aang, Cowboy Bebop, Pica-Pau, Os Smurfs, Zé Colmeia, Ghost in the Shell, Alvin e os Esquilos, Fist of the North Star, e muitos mais. - Apesar do potencial do jogo, D&D nunca teve uma boa adaptação para filme, mas se for dado o cuidado e orçamento necessários, pode gerar algo muito bom, talvez até no mesmo nível da trilogia de O Senhor dos Anéis do Peter Jackson.
Todo mundo conhece aquele cara que vive reclamando da suposta "ex louca", mas quanto mais ele fala a respeito, mais fica óbvio que o problema no relacionamento sempre foi ele, não em pequena parte por ser um sujeito imaturo, manipulador, e desonesto. Aparentemente, um desses sujeitos fez um filme protagonizado pelo Ben Stiller.
É um filme bem simples, e previsível, mas cumpre bem seu papel com personagens bem escritos e interessantes, com os quais é fácil se importar, um roteiro decente, e por não ter baboseiras típicas de filmes indicados pela academia, como propaganda religiosa ou "white savior", e também evita muitas das típicas pieguices irritantes de filmes do tipo. Como alguém que fez aula de canto e participou de coral quando tinha mais ou menos a mesma idade da protagonista, eu gostei muito de todas as cenas envolvendo música e as aulas dela, e igual ao Miles, eu definitivamente teria usado uma camiseta do King Crimson se tivesse achado uma para comprar, mas só tinha uma do The Wall mesmo, porque vendia em todo lugar. Para quem interessar: a banda que é mencionada no filme, The Shaggs, realmente existiu, e recomendo procurar a história a respeito, porque é muito bizarra e interessante.
Como adaptação, é um filme perfeito: assim como quem jogava (ou ainda joga) Dead Or Alive, não jogava por conta da jogabilidade e mecânicas, quem assistir a esse filme não vai assistir pelo roteiro, pelos diálogos, nem pelas atuações. A situação é tal com esse filme que eu sinto que qualquer tentativa de uma análise mais profunda ou de dar uma nota é irrelevante.
Sem Amor
3.8 319 Assista AgoraA tendência da humanidade é a autodestruição, deixando traumas e ressentimento como herança mais do que qualquer característica positiva. Um dos fatos desconfortáveis e o qual as pessoas geralmente ignoram é que a grande maioria dos seres humanos não tem, e nunca terá, as características necessárias para serem bons pais. Dado nosso caráter autodestrutivo, a tendência de cada geração virar as costas à seguinte depois de negar-lhes qualquer poder de escolha e continuamente tornar nosso colapso cada vez mais inevitável, e a facilidade de acesso a informação e métodos anticoncepcionais, a decisão de ter filhos é cada vez mais uma de egoísmo, vaidade, hipocrisia e covardia: pode ser pressão familiar, mesmo que a família tenha lhe causado mais dor e sofrimento do que bem; pode ser o desejo de perpetuar a própria imagem por ego ou medo da própria morte, na ilusão de que um legado significa vida eterna, ignorando o que realmente significa trazer uma vida nova ao mundo, e que seja para o indivíduo, seja para pessoas ao nosso redor, seja para o ambiente, o melhor legado é, ironicamente e objetivamente, escolher não deixar um.
Top Gun: Ases Indomáveis
3.5 922 Assista AgoraTem spoilers, eu acho, mas esse filme tem mais de 30 anos.
É meio surreal finalmente ver Top Gun em 2022, depois de anos que a noção da cultura pop sempre tratou esse filme como um clássico, porque é muito ruim. É um desses filmes que se sustenta mais em nostalgia e no impacto que teve no período do que em qualquer outra coisa, e é bem óbvio que foi concebido primeiro, e principalmente, como um produto da época, do que um trabalho com real intenção artística. Os anos oitenta representaram uma queda na qualidade do cinema americano em relação à década passada, mas o período teve bons filmes que merecem o status de "clássico" como The Thing, O Império Contra Ataca, Evil Dead 2, O Iluminado e O Homem Elefante. Muitos tentam dizer que era bom "para a época", ou algo do tipo, mas já era abaixo da média da época: uma lição que quem realmente gosta de cinema é que quando alguém tenta defender um filme falando algo na linha de "você precisava ter visto na época para entender porque é tão bom", significa que o filme é ruim, e sempre foi. Top Gun é o tipo de filme que, se você desconsiderar o ângulo de propaganda para a aeronáutica, é o equivalente da época ao tipo de filme que um diretor como Paul W.S. Anderson foi lançando ao longo da década passada; se você levar em conta o aspecto da propaganda militar, então é o equivalente da época ao tipo de filme que Michael Bay tem feito desde os anos 90, até hoje. Top Gun pelo menos é muito engraçado de forma não intencional, porque parece uma paródia, exceto que quer se levar a sério, e mesmo se uma dessas paródias de filmes dos anos oitenta lançados nos últimos anos tivesse todo seu aspecto irônico retirado e fosse promovida como um lançamento genuíno do período, provavelmente ainda poderia se passar por um filme melhor que Top Gun.
O filme foca em grupo de pilotos de nível supostamente tão alto que são mandados para uma divisão especial da aeronáutica americana com o nome muito criativo de Top Gun. Todas as atuações, com exceção de Michael Ironside e Tom Skerritt, são péssimas, mas Ironside aparece bem pouco, e Skerritt é obviamente bom demais para esse elenco. Tom Cruise não é, e nunca foi, um bom ator, e o fato dele ser tão famoso é mais com o status dele de estrela de filme de ação, e provavelmente a ligação dele com a cientologia deve ter alguma ligação. Em Top Gun, ele nem funciona bem de forma superficial como o "galã principal", porque ele parece ter 12 anos no filme. A caracterização no geral também é péssima, porque a suposta habilidade dos pilotos só é comunicada através de diálogos, porque no resto do filme Maverick é incompetente, desacata ordens de superiores, e no geral age de uma forma que, em uma situação real, iria acabar com ele sendo expulso da aeronáutica, tomando um processo, e provavelmente perdendo alguns dentes; na realidade do filme, no entanto, ele é adorado por todos, apesar de ser incompetente e desagradável na maior parte do filme, ao ponto que um dos superiores dele vai atrás dele para passar a mão na cabeça por algo que muito provavelmente foi culpa de Maverick, mesmo. O personagem do Maverick faz o filme parecer a fantasia que um sujeito pouco inteligente, incompetente, e frustrado criou na própria cabeça: ele recebe uma segunda, terceira, quarta e por aí vai... chance do exército, e apesar de não ter carisma, nem inteligência, e ter a maturidade de um garoto de 15 anos, ele conquista a Charlie usando táticas como invadir o banheiro das mulheres atrás dela e questionando o que ela fala com comentários juvenis. Aliás, todos os membros dessa divisão agem como garotos de 15 anos, e no geral com um tipo de atitude que não iria colar no exército de verdade. Outra forma que tentam demonstrar a a "habilidade" dos pilotos é usando jargões de aviação, um atrás do outro, sem contexto adequado, e que não faz diferença, porque as cenas de voo, embora tenham sido bem executadas no básico, têm uma direção tão picotada e incoerente que acabam comunicando nada que o roteiro quer transmitir.
As cenas de interação entre personagens não são muito melhores: os diálogos são rasos, forçados, e bem juvenis na maior parte do tempo, o romance entre Charlie e Maverick é um dos mais forçados e sem química que eu já vi em qualquer filme, e como era a década de oitenta e Tony Scott também dirigia videoclipes, várias cenas interrompem o ritmo já não muito bom da trama para enfiar no meio algo que parece tanto um vídeo musical que destoa do resto das cenas: a trilha sonora é muito boa, e provavelmente serviu para convencer muitas pessoas que o filme é muito melhor do que é (mesmo que aconteceu com as prequels de Star Wars), mas é muito mal utilizada no filme, de forma repetitiva. Outros aspectos são simplesmente bizarros, como o fato deles estarem sempre suados em um nível que parece que os atores eram borrifados antes de cada cena, os atores estarem usando calça jeans na cena do vôlei de praia, e eles interromperem o filme para tentar estragar sua lembrança de clássicos do Elvis e Jerry Lee Lewis. Eles até tentam umas reviravoltas emocionais, mas como atuações, diálogo e caracterizações são péssimos, é dificíl se importar com os personagens para que essas cenas tenham algum impacto. Muitos comentários já apontaram o absurdo que é tentar passar esses homens imaturos e emocionalmente desequilibrados como "os melhores pilotos", o que torna particularmente engraçado quando os superiores de Maverick, mesmo depois de agir com estupidez o filme inteiro, o forçam a entrar em um avião logo depois da morte do melhor amigo, quando ele supostamente estaria ainda mais instável.
Existe, claro, o aspecto homoerótico do filme, e depois de assistir, levando em conta que o filme era também uma ferramenta de convocação para o exército, eu me pergunto se realmente foi "não intencional". Eu tenho certeza que os tiozões e homens no geral que adoram usar apitos de cachorro para descrever filmes e dizem algo na linha de Top Gun ser "pura testosterona" têm uma imagem bem clara na cabeça de homens suados sem camisa se abraçando e praticamente colando o rosto um no outro. Deixando claro que eu não estou tirando sarro do subtexto gay do filme, e teria sido um filme melhor se fosse assumido nesse aspecto, mas a galera que eu mencionei que idolatra esse filme estão constantemente se manifestando contra qualquer coisa ligada à "representatividade", então existe hipocrisia em vários níveis aqui. O que é mostrado como o romance do filme parece ainda mais forçado levando em conta as várias cenas do filme em que Iceman e Maverick olham um para o outro fixamente, de forma que não existe adjetivo melhor para descrever do que "apaixonada". O que me convenceu que esses aspectos provavelmente são muito mais intencionais do que é dito é a cena em que o Viper vai consolar o Maverick, e por algum motivo escolheram fazer a cena com o Tom Cruise só de cueca, e antes de Viper ir embora, ele não apenas dá uns tapinhas no ombro do Maverick, mas uma passada bem longa de mão de ombro a ombro nas costas dele. É uma cena muito engraçada no contexto do filme. Tem também o fato de que, apesar de nudez gratuita feminina ser muito comum em filmes da década de oitenta, não há cenas de nudez da Kelly McGillis (o que é um ponto positivo, pois seria tratado de forma juvenil nesse filme, como todo o resto), apesar do grande foco em homens suados sem camisa. Os músculos deles, inclusive, são só para exibição mesmo, não parecem ser muito funcionais.
Top Gun é absurdamente ruim, mas muito engraçado por conta disso. Parece que a continuação é muito melhor, ao ponto de poder ser considerado um filme de verdade e não apenas algo que foi produzido por uma inteligência artificial que foi alimentada clichês da década de oitenta, mas eu só vou conseguir levar essa continuação a sério, quando eu assistir, se desassociá-la desse primeiro filme ou considerá-lo um uma alucinação que Maverick teve depois de comer atum expirado, ou algo do tipo, porque isso foi um delírio.
Quem Quer Ser um Milionário?
4.0 2,4K Assista AgoraAlgumas pessoas aqui no filmow realmente não gostaram que, nos meus comentários, eu escolho não usar a função de marcar spoiler do site, embora, quando meu comentário apresenta spoiler, eu aviso bem no começo, então vou fazer um esforço sincero aqui para usar a marcação de spoilers, em consideração dessas pessoas.
Um aspecto importante para o entendimento dos temas centrais do filme é a seguinte cena:
Textos, ao menos aqui no Brasil, são lidos de cima para baixo, assumindo que você está lendo na ordem correta, e isso inclui comentários. Caso você decida ler em qualquer outra ordem, existe nada que eu possa fazer a respeito.
Uma das cenas do filme que realmente define o relacionamento entre Jamal e Salim é a seguinte:
Responder um comentário sem ter lido é, no mínimo, estranho, especialmente se a resposta é para reclamar de algum aspecto do comentário que você não leu de fato, o que indica outras coisas piores, e invalida sua resposta.
Latika em relação a Jamal pode ser definido da seguinte:
Assim como você não é obrigado a ler meus comentários, também não é obrigado a respondê-los, e eu também não sou obrigado a aguentar resposta juvenil e de má fé só porque eu escolhi não usar, nos meus comentários, um sistema de marcação de spoilers que já foi melhor executado executado em qualquer outro site que eu usei, apenas para o conforto de vossa senhoria.
É fácil perceber então, que na dinâmica dos três personagens de destaque:
No "pior" dos casos, ficar sabendo de um spoiler vai fazer zero diferença na sua vida. Eu entendo ficar um pouco bravo caso não seja dado aviso justo, mas as reações de muitas pessoas aqui do site em relação a spoilers são ridículas. Paz.
Enfim, Slumdog Millionaire para mim foi um filme que poderia ter sido melhor, mas faltou comprometimento em mostrar a realidade sórdida de maior parte da população indiana, para fazer um filme mais "marketável" e digerível ao grande público e ao oscar. Por conta disso, o foco em muitas partes é em um romance não muito bem trabalhado e bem clichê, levando em conta o resto do filme, e em uma história que é propositalmente cheia de coincidências, mas passa um pouco do ponto mesmo nisso. É um filme sobre a realidade indiana feito para um público frequentador de cinemas ocidental, e isso não necessariamente torna o filme raso, ou ruim, mas acabou limitando a história que poderia contar.
Predadores
3.0 896 Assista AgoraPredadores tentou ser bom, ou pelo menos, tentou remeter ao que é considerado "bom" na franquia, sem ressalvas, que é o primeiro filme: o cenário é novamente uma floresta tropical (embora não seja na Terra), e os personagens tentam remeter a algum clichê de heróis de ação da década de oitenta (com exceção do personagem do Topher Grace), mas seguindo a linha de filmes de ação mais modernos, aqui eles não são realmente mostrados como heróis... pelo menos até o momento em que o roteiro requer que eles sejam "heroicos". O problema é que o filme é chato, muito previsível, cheio de clichês forçados que já eram batidos na época, e com atores que na maioria são sem carisma. Por menos que eu queira criticar um dos poucos atores brasileiros de algum destaque internacionalmente, se Alice Braga teve alguma boa atuação, eu ainda não vi, e ela atua aqui praticamente da mesma forma que em outros filmes que ela fez, apesar da personagem ser diferente. Aliás, por que ela interpreta uma israelense? Nem faz sentido a escolha do papel. Adrien Brody talvez seja adequado para um drama de época, mas ele simplesmente não funciona no papel de soldado traumatizado: talvez tivessem achado que a voz dele o faria parecer "durão" e misterioso, mas ele só parece estar com sono. Danny Trejo é divertido, mas morre logo no começo. O resto dos personagens nem vale muito a pena falar: Yakuza genérico claramente escrito por um americano, Russo forte genérico claramente escrito por um americano, presidiário tarado e irritante, Topher Grace interpretando Topher Grace, ou seja, irritante e desnecessário. Quando Lawrence Fishburne aparece, o filme melhora um pouco, mas ele é mal aproveitado. O que impede o filme de ser pior do que é são algumas cenas de ação são algumas cenas de ação bem feitas (principalmente o duelo entre o Yakuza e um dos Predadores, que remete a um filme clássico de samurai), uma fotografia que transmite bem o fato do planeta não ser de fato a Terra, e claro, o desenho e os efeitos dos predadores. Na maior parte do tempo, infelizmente, o filme é bem chato, e esquecível.
Predador 2: A Caçada Continua
3.2 293 Assista AgoraInferior ao primeiro, no geral. Tudo é muito caricato e exagerado para ser levado a sério, e não parece que o filme estava tentando ser uma sátira, com personagens gritando o tempo todo, e ação e "gore" são tão constantes, mesmo nas cenas envolvendo o bicho titular, que tensão inexiste no filme. É tudo tão caricato que quase chega ao nível de paródia, mas o filme quer muito ser levado a sério, e o tom entre cenas acaba conflitando. Consegue também, de alguma forma, parecer mais datado e juvenil que o anterior, apesar de ter saído no começo da década de 90: forçaram uma nudez gratuita, os personagens são ainda mais estereotipados, e em determinado momento conta com uma retratação bem míope de uma certa cultura estrangeira.
Apesar dos problemas, os filmes tem seus méritos que o tornam a melhor continuação da franquia (não sei a respeito de Prey, não vi ainda) e um filme de ação divertido para ser visto sem compromisso. Um aspecto do filme que é melhor que o original é Danny Glover interpretando um policial velho, porque é um papel que ele faz bem, e obviamente ele é um ator muito melhor que o brucutu austríaco. Eu também gostei que o filme não tentou apenas ser o primeiro filme de novo, com uns personagens diferentes, como é o caso de muitas continuações, mas mudou em aspectos que realmente tornam o filme diferente: se passar em uma cidade já é uma ideia interessante, e essa cidade ser Los Angeles durante uma onda de calor e crime resulta em umas cenas legais. A caracterização, os cenários e a direção conseguem passar bem o caos da situação, com todo mundo estressado e suado, uma pena que eles passam um pouco do ponto aqui para a comédia. O filme também expande a mitologia da criatura sem cair para as presepadas que as continuações fazem, o que também é bom. Poderia ter sido melhor, e sempre existiu potencial na franquia para fazer algo melhor que o primeiro, mas diverte um pouco.
O Predador
3.8 819 Assista AgoraRevi a franquia ano passado, e voltei a pensar a respeito recentemente por conta do lançamento do novo filme, Prey. Predador é um filme de ação da década de oitenta que também mostra a transição do período, marcada principalmente por filmes como Duro de Matar, que de certa forma pendiam mais para o realismo e desconstruíam a imagem do "exército de um homem só" que entrava no meio do tiroteio, saía ileso e acertava os inimigos sem mirar, e que já era clichê e batida na segunda metade da década. Predador começa como qualquer um desses filmes de ação clichês: personagens que supostamente são soldados que não agem como soldados de fato e interpretados por atores que em sua maioria têm um físico que seria bem inconveniente para o tipo de trabalho que executam chegam em um país tropical de terceiro mundo, no meio da selva, explodindo coisas e soltando frases de efeito. Tudo isso é proposital para contrastar com o Predador, que aprece em seguida, e é o oposto dos heróis do filme: silencioso, eficiente, estratégico. As velhas "táticas" dos típicos heróis de ação até então resultam nas mortes de todos do grupo menos um, que só consegue derrotar o predador por ter se adaptado, usado táticas inteligentes, e mais importante, ter fechado a boca.
Predador é um filme bem dirigido, com efeitos que (na maioria) envelheceram bem, e um desenho icônico de criatura que é bem reconhecível até hoje. Embora tenha seus méritos, não considero uma obra prima, ou um clássico incontestável na mesma medida que os dois primeiros filmes da franquia com a qual essa sempre é comparada e já fez crossover: convenhamos, Alien de 79 é bem mais efetivo como filme de terror, e uma execução bem melhor no geral, e Aliens, sua continuação, não só é melhor executada como filme de ação, como também tratou da questão de típicos personagens de filmes de ação sendo massacrados por uma ameaça desconhecida antes, e com personagens mais desenvolvidos. Predador, apesar de ser um comentário em relação aos clichês do gênero na época, apresentava sinais de fadiga que não poderiam ser justificados pela ironia, como atuações ruins (exceto Bill Duke, bom até aqui), personagens rasos com os quais é dificíl se importar, e uns diálogos que na maior parte do tempo não transmitem a tensão do filme, e são apenas cômicos, intencionalmente ou não: para quem reclama do excesso de piadinhas forçadas dos filmes do MCU, isso já era um problema em muitos filmes desde a década de oitenta. Predador é no geral bom, divertido, um filme perfeito para ver quando você só quer relaxar e não se preocupar com tramas complexas, mas com um roteiro bem construído o suficiente de forma que também não insulta sua inteligência.
Capitão Fantástico
4.4 2,7K Assista AgoraSpoilers, como sempre, e o comentário é grande sim, porque eu gosto de escrever, gosto de cinema, isso é relaxante para mim, e serve como treinamento para escrita mais séria que eu preciso fazer. Quem sentir a necessidade de responder só para dizer que o comentário é muito grande e que nem leu, ou algo do tipo, ao invés de ignorar, sua carência não vai ter biscoito, só um block silencioso mesmo. Quem ler e detestar, é justo.
Capitão Fantástico é um filme arrogante, pretensioso e hipócrita que, por vários problemas na execução, um roteiro que tenta apresentar uma reflexão profunda sem comprometer os aspectos mais "família" ou "pipocão" do filme, e por conta disso acaba contradizendo os próprios temas e a suposta mensagem em vários pontos, resultando em algo superficial que ironicamente parece ter sido concebido por alguém com pouca vivência real e interpreta a realidade de forma muito rasa.
O primeiro problema para mim é a personagem da mãe, que cai em um clichê preguiçoso presente em vários tipos de filme, que é ser uma personagem mulher cuja agressão ou morte serve como motivação inicial, e até central para a trama, mas cuja função no roteiro é nada mais que isso, um motivador, não tendo agência, personalidade própria, nem desenvolvimento. Efetivamente, esse tipo de clichê significa que a trama não trata a personagem como uma personagem de fato, mas apenas como uma plataforma para desenvolvimento de outros personagens, sendo, efetivamente, para o roteiro e para a audiência, mais um dos artifícios de roteiro. Embora não seja aqui usado de forma tão míope e datada quanto em tantos filmes de ação que só querem uma desculpa para pular para os tiros e as explosões, ainda consegue ficar abaixo da média atual do clichê pelo fato da personagem, apesar de sua suposta importância para a trama e para os personagens que têm desenvolvimento de fato, não ter uma fala, e ter sua personalidade descrita apenas por outros. Depois de ver Capitão Fantástico, eu consigo apreciar mais como um filme como Manchester à Beira Mar fez uso do clichê similar, onde o personagem cuja morte é o motivador da trama aparece em flashbacks que são incluídos de forma bem natural na trama, e que reforçam a importância do personagem para o protagonista, mas isso não acontece em Capitão fantástico.
Outro problema, que acho que é o maior do filme, é tudo o que envolve as crianças. Primeiro que nenhuma delas atua muito bem, com exceção da menina que fez Oculus em 2013, e mesmo se fossem bons atores, o roteiro iria acabar com qualquer chance deles serem bem caracterizados. Muitos parecem achar que elas atuam bem, mas a verdade é que essas pessoas só as acham fofas, que era a intenção dos envolvidos, e quando essas crianças crescerem, deixarem de ser "fofas", e no caso das que não melhorarem com o tempo, não conseguirem trabalho no ramo, parte da culpa vai ser de quem "relevou" essas atuações simplesmente por elas serem crianças. O filme começa com as crianças chorando ao receber a notícia da morte da mãe, que pelo que eu me lembre, estava afastada deles, internada em um hospital psiquiátrico, e cometeu suicídio, e que deveria ser uma cena tocante é algo dificíl de levar a sério porque ninguém lá chora de forma convincente. Na mesma cena, um dos meninos mais novos reage à notícia de forma diferente, xingando, atacando a parede com um canivete e sai pisando duro, e essa diferença, que deveria mostrar algo preocupante a respeito do estado mental do personagem, acaba sendo não intencionalmente engraçado, porque a atuação do ator em questão está abaixo da média até dos atores desse filme. A atuação do garoto mais velho consiste em arregalar os olhos e ocasionalmente falar como se tivesse uma batata na boca; as duas crianças mais novas estão lá basicamente para forçar fofura e distrair a audiência dos problemas de roteiro; as duas meninas adolescentes (ou pré adolescentes) são as que têm as melhores atuações, principalmente a que fez Oculus, mas elas no geral estão meio apagadas na trama, por algum motivo.
Ainda nas crianças, mesmo que elas fossem excelentes atores, o roteiro, direção e toda a questão da caracterização iriam garantir que não seriam bons personagens no contexto da história que o filme tenta apresentar. Uma das críticas que o filme supostamente apresenta é aos excessos de uma sociedade de consumismo exagerado, através da filosofia do pai de viver isolado com as crianças no meio do mato, mas como diretor e roteirista Matt Ross aparentemente não queria comprometer o filme família enlatado dele com inconveniências como realismo, autenticidade, ou qualquer coisa que desse um peso real para a mensagem apresentada, a aparência das crianças é muito artificial, ao ponto que a família do filme parece muito mais com algo que geralmente aparece em propagandas de margarina ou anúncios de seguradoras ao lado de dizeres como "Pense no futuro de seus filhos". Apesar de supostamente não tomarem parte no uso de coisas como shampoo, protetor solar, cremes para a pele, e passarem a maior parte do tempo em ambientes externos, no meio do mato, expostos ao sol, pernilongos, e outros presentes da natureza, todos têm cabelos sedosos, pele limpa livre de marcas e machucados, sem nem marcas de sol, mesmo que pessoas brancas como eles fiquem parecendo lagostas depois de um dia de caminhada ao ar livre, e dentes muito brancos; o mesmo vale para o Ben, inclusive. Em uma das cenas, o personagem do avô mostra critica o Ben pelo fato das crianças supostamente estarem cheias de cicatrizes, mas o filme nunca realmente mostra essas cicatrizes, e eu fiquei me perguntando "onde?" durante essa cena. A forma como a inteligência das crianças é mostrada no filme é bem previsível e preguiçosa, que consiste, na maior parte do tempo, em fazê-las dizerem frases e palavras que soam complicadas, mas sem contexto adequado, sem contribuir de fato para a trama como um todo, e de forma que seriam necessários atores ou direção melhores para começar a funcionar: no começo do filme, o garoto mais velho fica bravo com o pai a respeito de uma questão de crença, e começa a jogar nomes aleatórios de religiões consideradas "não convencionais" no ocidente, mas isso contribui nada para a trama; em outra cena, Ben pede para a menina mais nova explicar com as próprias palavras o que entende sobre a constituição americana, e você quase consegue ouvir as engrenagens rangendo na cabeça da pequena atriz para lembrar do texto obviamente decorado; em determinado momento, uma das meninas começa a falar sobre o que achou do livro Lolita, e a interpretação dada é a mesma que você encontra em qualquer análise básica do livro, mas o filme espera que o espectador fique impressionado simplesmente porque é uma criança falando, embora a atriz com certeza decorou o texto da Wikipedia ou de algum canal de YouTube aleatório. Esses são alguns exemplos, mas a demonstração da inteligência dos personagens nunca realmente vai além disso.
Já é ruim o suficiente que a falta de comprometimento do diretor e roteirista leve a uma caracterização tão contraditória, mas a forma como tudo é apresentado, provavelmente não intencionalmente, fica desconfortavelmente perto de se passar por propaganda eugenista. O que o filme mostra é que Ben e a esposa tiveram seis filhos, todos brancos, todos loiros ou ruivos (não lembro se tinha algum loiro no meio), todos se encaixando em um fenótipo do que é considerado "marketável", todos fisicamente aptos a ponto de aguentar o treinamento pesado, todos gênios a ponto de aprenderem bem com o método de Ben (que convenhamos, é péssimo em vários aspectos, e envolve coisas como fazer os filhos lerem livros complicados com letras pequenas na luz fraca de uma fogueira, que além de péssimo para o aprendizado, significaria que a maioria, se não todos, teriam desenvolvido algum problema de vista), todos com muita facilidade em interpretação de texto (isso sendo algo que é desenvolvido ao longo de muitos anos, e é só ver alguns comentários no filmow para perceber que muitos nunca desenvolvem), e apesar de pelo menos dois estarem passando pela puberdade, não há sinais de espinhas nos rostos deles. Esses aspectos, além de preguiçosos e pouco realistas, remetem de uma forma perturbadora a um tipo de propagando do tipo "ideal" e "superior" de ser humano muito utilizada por uma certa ideologia que é, colocando de uma forma bem eufemista que nem começa a dar dimensão do que era, problemática, e é fácil adivinhar qual é a ideologia em questão. Mais perturbadores ficam esses aspectos quando o filme coloca alguns parentes de Ben como um espantalho para representar o contraste com o que supostamente é a família americana mais "convencional", com personagens que são mostrados como pouco inteligentes e acima do peso, e o roteiro tenta reforçar uma correlação entre esses aspectos: a aparência dos filhos dessa família de contraste seguem um estereótipo americano preconceituoso, sem fundamento, e muito datado, que é do sujeito considerado acima do peso de olhos juntos ser pouco inteligente. Apesar desses problemas com a cena, tudo é mostrado forma nada crítica a essas concepções, como alívio cômico, contando inclusive com Kathryn Han e Steve Zahn, dois atores mais conhecidos por fazerem comédias, e nesse momento em particular o filme fica muito mais parecido com uma dessas comédias descartáveis do Adam Sandler do que o que quer que tenta fazer em outros momentos. Mais perturbadores ainda são os aspectos citados se for levado em conta que, pelo que eu me lembre, só pessoas brancas aparecem no filme, com minorias aparentemente não existindo nessa realidade: não sou o tipo de pessoa que acha que todo filme precisa de alguma forma de "representatividade", mas quando uma história tem como um dos temas centrais críticas sociais ao sistema vigente, e se passa nos Estados Unidos, a falta de representatividade constitui sim uma falha de roteiro, para dizer o mínimo, e realmente espero que tenha sido uma "falha", algo não intencional proveniente simplesmente da ignorância e visão limitada dos envolvidos, e não algo mais grave.
Além desses problemas mais centrais, o filme tem vários outros na progressão de roteiro, que ignoram consistência interna e externa que dariam mais peso ao que supostamente é um drama crítico e realista: durante a viagem, a família para em um estacionamento de trailers, onde o filho adolescente tem um pequeno romance clichê com uma moça que, de forma bem clichê e previsível, é uma gótica (ou emo, não sei) rebelde que tem personalidade oposta à dele e contribui para "ensiná-lo a viver", ou o quer que chame esse clichê batido; quando o filme precisa de um conflito para encerrar o segundo ato e passar para o terceiro, a cena em questão é apresentada de forma que fica bem óbvio para quem vê filmes regularmente que algo ruim vai acontecer, sendo óbvio a ponto de ser irritante, e esse "algo ruim" envolve uma das crianças mais velhas, que sobreviveu a anos de treinamento no meio do mato em terreno escorregadio e acidentado escorregando e se machucando em um telhado com a manutenção em dia; uma das crianças critica o fato da propriedade do avô ser muito grande para poucas pessoas, e a questão mobiliária nos Estados Unidos (e na maioria do mundo) é realmente um problema, mas nesse momento o filme parece se esquecer que, apesar do estilo de vida frugal, Ben e as crianças vivem em uma propriedade grande demais para eles, com um espaço tão mal aproveitado que poderia ser classificado como um latifúndio improdutivo.
O último terço para o final não contribui para deixar o roteiro melhor. Seis crianças se escondem dentro de um ônibus de viagem pelo que aparentemente foi um longo tempo, sem o filme fazer um esforço para mostrar como isso foi possível sem Ben perceber. Seis crianças e um homem adulto entram em um cemitério, cavam um túmulo e roubam um cadáver com uma facilidade que é consequência da preguiça do roteiro. Apesar do filme reforçar, constantemente, que dentre outras coisas, o gosto dos pais da família, em particular da mãe, em arte é mais clássico e alternativo, incluindo música, com uma cena inclusive onde o filho mais velho fala para a gótica, bem claramente, que tipo de música a mãe gostava, uma das últimas cenas do do filme consiste das crianças fazendo um cover meio "folk" de Sweet Child O' Mine do Guns N' Roses porque supostamente é a música preferida da mãe deles. Deixando claro que eu não acho a banda ruim, e gosto de várias músicas deles, mas colocar a música mais popular de uma banda que é um sucesso comercial como a "favorita" da personagem em questão contradiz o que foi estabelecido a respeito dela no decorrer do filme, e contradiz vários dos temas que o filme tenta apresentar. É bem óbvio que o real motivo da escolha da música foi mais uma tentativa de manipulação barata do roteiro de apelar para o público em geral com uma música que muitos gostam, mesmo que isso signifique mostrar falta de comprometimento com o próprio roteiro. Ao final do filme, é sugerido que o avô das crianças, o pai da mãe delas, está em bons termos com Ben e disposto a deixá-lo com as crianças, apesar de: Ben ter sido um pai abusivo na forma como tratava os filhos, e o fato dele ter forçado aquele estilo de vida ter levado ao colapso mental da esposa, que levou ao suicídio dela, e eu sei que a busca do equilíbrio e o desenvolvimento do personagem são parte da mensagem da trama, mas o aspecto abusivo de Ben nunca é tratado com a seriedade que deveria, dadas as consequências; as crianças terem se enfiado no ônibus para seguir Ben, o que com certeza não deixaria o avô feliz; o roubo do cadáver teria sido bem óbvio, e o avô com certeza saberia que foi executado por Ben e pelas crianças. Durante o filme todo ficam repetido de forma bem forçada o jargão que deveria ser de impacto, se o contexto fosse bem construído e o roteiro não fosse preguiçoso e hipócrita, e ao final repetem mais uma vez, só para reforçar a irritação, depois das crianças terem dado a descarga nas cinzas da mãe em um banheiro de aeroporto.
Capitão Fantástico é um filme que me deixou vazio, e que apesar da mensagem que tenta ter, eu acho que acaba se contradizendo em vários pontos, e contribui mais para reforçar o dito "status quo" do que questioná-lo.
Conduta de Risco
3.5 195 Assista AgoraMichael Clayton é um filme que foi indicado ao Oscar de melhor filme em 2008, protagonizado por George Clooney, que aqui interpreta um homem que sempre usa terno, boa pinta e moralmente ambíguo, mas bom no fim das contas, envolvido em algum crime ou escândalo: basicamente, ele interpreta exatamente o mesmo papel que você espera que ele interprete sempre que o nome dele aparece em qualquer filme. Tilda Swinton também está nesse filme, e ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo papel, mas ela não é o personagem titular interpretado pelo George Clooney interpretando ele mesmo. O que eu quero dizer é que, de todos filmes que eu já vi, Michael Clayton é, definitivamente, um deles.
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
3.5 1,2K Assista AgoraComentário é longo e provavelmente tem spoilers, fica o aviso, então se algum desses dois aspectos te incomoda, fica o aviso, não encha o saco.
Multiverse of Madness é, facilmente, um dos melhores filmes do MCU até o momento. Não que isso seja dizer muito, e eu também não digo que é um dos melhores filmes para agradar fã de HQ ou quem quer fan service nesse contexto, mas é um dos melhores do MCU para quem quer ver um filme primeiro, e um filme de herói, talvez, em segundo; novamente, longe de ser uma obra prima nesse aspecto. Acho que muitas das notas negativas são por muitos estarem tão acostumados com a fórmula básica da Marvel nesse ponto que o Sam Raimi ter tido liberdade o suficiente para deixar a marca dele no filme (embora ainda sujeito às típicas limitações do MCU) causa um certo estranhamento, mas alguns comentários são hilários. Muitos reclamam dos absurdos e inconsistências do roteiro, mas convenhamos que depois de mais de 10 anos e mais de 30 filmes com roteiros que nunca foram grande coisa, é meio tarde para começar a reclamar disso: Ultimato, por exemplo, tem vários furos e inconsistências, mas ainda tem uma média bem alta aqui no filmow. O mesmo se aplica a quem reclama do filme ser "muito bobo" ou "idiota": nenhum dos filmes do MCU até agora foi o que pode ser considerado "inteligente", e quem assiste, assiste pela espetáculo "pipocão" ou, no caso de quem é fã das HQs, para reclamar que fizeram mudanças. Obviamente isso não significa que não existam filmes dentro do MCU que estejam tão abaixo mesmo dentro do padrão estabelecido, que não mereçam toda a crítica que recebem, mas esse Multiverso da Loucura se encaixa sim no que é considerado "bom" nesses critérios, e ver o mesmo pessoal que elogiou e superestimou horrores filmes no mesmo nível, ou até inferiores, e que provavelmente chamariam de "chato" quem apontasse erros óbvios nesses mesmos filmes, se atendo ao tipo de detalhe que ignoraram ou não deram importância até agora, e agindo como se o nível tivesse caído e como se o MCU fosse mais do que realmente é, é bem estranho e curioso, o que, admito, é bem adequado, tanto para o personagem em questão, quanto para a direção.
O que faz com que esse filme se destaque dentre os anteriores é obviamente, a direção de Sam Raimi, que tem liberdade o suficiente aqui para que faça muita diferença, mais do que o pessoal do que só viu o filme por ser parte do MCU faz parecer, mas ainda sujeito a limitações impostas por estúdio e continuidade que significam que Multiverso da Zoeira nunca poderia ter chegado ao nível de um dos clássicos de terror do diretor, ou nem ao nível de um Miranha 2. Especialmente depois que Ultimato foi desnecessariamente longo e cheio de firulas, e Sem Volta Para Casa foi um festival de tédio e falsas reverências, eu gosto o quanto esse filme não perde seu tempo, tendo em torno de duas mesmo contando com créditos, o que é milagrosamente curto para um filme do MCU, e com uma direção dinâmica onde até cenas expositórias oferecem algum aspecto visual interessante. Embora o filme sofra com o mal de todos os filmes da atual fase da Marvel, que é a obrigatoriedade de interromper de ficar forçando piadinhas no meio dos diálogos, mas Raimi já mostrou em Darkman e na trilogia do Miranha que ele realmente entende que histórias de HQ são absurdas, que não foram feitas para serem levadas muito a sério, e se utiliza desses absurdos de forma bem humorada e criativa. O filme tem momentos que são sérios no contexto da história e do ponto de vista dos personagens, como os diálogos entre Wanda e o Dr. Estranho, mas a direção e as atuações mostram que tanto diretor como elenco entendem o absurdo, e isso é transmitido, nesses momentos, sem piadinhas forçadas que quebram o fluxo da trama. Muita gente parece não ter gostado da Wanda como vilã, e ter achado as motivações dela meio forçadas (eu caí de paraquedas, porque não vi Wandavisão, mas isso está longe de ser o maior dos absurdos para os quais o pessoal passou pano nessa mais de uma década), mas nesse tipo de filme inconsequente, eu acho que o que importa o vilão é ser interessante e servir à trama de forma criativa, o que acontece aqui: Marvel sempre teve todos esses heróis com poderes supostamente diferentes que na verdade eram só umas variações de "laser da morte" ou "ser muito forte", e raramente usava isso de forma que criativa e visualmente interessante em um filme, então se colocar a Feiticeira Escarlate como vilã contra o Dr. Estranho foi só uma desculpa pra incluir o multiverso e apresentar loucura e criatividade visual, já fez mais com o roteiro que a grande maioria dos filmes do MCU: mesmo nos melhores casos, esses filmes sempre foram espetáculos rasos executados de forma competente com o suficiente de história para ligar uma cena com um mínimo de coerência, e isso Multiverso dos Comentários do Marcus Christian faz muitos bem, com o benefício desse toque autoral do Sam Raimi, que torna o filme, em vários momentos, praticamente um terror com personagens da Marvel, com direito a um equivalente do Necronomicon, a piada do olho sendo disparado da órbita, mortes que são bem gráficas para o padrão Marvel, e Wanda se contorcendo que nem um dos demônios de Evil Dead. Reclamaram também do Dr. Estranho ser um "coadjuvante" na história, mas ele aparece bastante, já teve desenvolvimento em outros filmes, e desde Guerra Civil de 2016 que a Marvel abandonou qualquer pretensão do personagem titular do filme ser o foco exclusivo da história, por conta de como absolutamente tudo é interligado e pela forma como a maioria dos filmes do MCU são só trailers muito longos para outros filmes. A personagem da América é um ponto positivo no filme, porque conseguiram encaixar uma personagem adolescente nmova que é carismática. Multiverso dos Tiozões Chorando por Causa de Star Wars é nada mais que divertimento raso com uma direção sólida, que já é muito mais mais que a maioria do MCU costuma entregar, e para quem sabe o que esperar desses filmes, entrega o que foi prometido.
Não falando que o filme não poderia ter sido melhor mesmo dentro da sua proposta, ele tem sim vários problemas que o arrastam para baixo com toda essa bagagem do MCU, que o tornam apenas "ok" no contexto geral: eu não me importo, e acho que ninguém se importa com a personagem da Rachel McAdams, tanto que eu tinha esquecido completamente que ela aparecia no primeiro filme, tornando essas cenas "dramáticas" envolvendo ela e o Dr. Estranho bem desnecessárias; as já mencionadas piadinhas forçadas; eu acho que essa questão do multiverso pode gerar umas histórias interessantes, mas eu realmente não me importo com essas versões alternativas de super heróis que são colocadas como fan service, ou no caso, para a Disney lembrar a todos que detém os direitos de X-Men agora, e que provavelmente nunca mais veremos um filme como Logan; toda essa forçação de barra com fato de Dr. Estranho ser uma ameaça no outro universo, ou alguma coisa assim, que só serve para gerar drama artificial e interromper o fluxo da trama por uns momentos. Existe aqui uma demonstração do potencial do filme do MCU com um toque autoral de um diretor criativo, algo que já foi demonstrado com Os Guardiões da Galáxia, mas não nesse nível, com uma história com menos restrições de classificação e sem as restrições de personagens superestimados que recebiam muita atenção em filmes anteriores, mas é só uma demonstração aqui, um experimento por parte da Marvel, e dada a recepção do filme, é provável que voltem para a zona de conforto depois.
Army of the Dead: Invasão em Las Vegas
2.8 956Não vejo a hora de sair o Snyder Cut, só para no fim das contas ser tão ruim quanto, ou pouca coisa pior que a primeira versão, só para fã do diretor fingir que é muito melhor. Ah, espera, esse já foi o "Snyder Cut", com o diretor tendo ainda mais liberdade que o normal, e cuidando também da fotografia, e como não tem versão anterior supostamente pior para comparar, ninguém nem pode fingir que esse filme é bom.
O Livro de Henry
3.8 312 Assista AgoraAtenção: tem spoiler para um filme filme muito ruim, e o comentário é longo sim, mas quem perder o próprio tempo e o meu só para comentar que não leu não vai ganhar biscoito, só vai tomar block mesmo, assim como quem curtir o comentário do engraçadinho.
Mesmo que Book of Henry seja um péssimo filme, no geral, por ter sido um roteiro bem pessoal de Gregg Hurwitz, onde ele obviamente se projeta no personagem de Henry, acaba servindo como uma perspectiva perturbadora do que se passa na cabeça de um homem adulto que admira Jordan Peterson. A ideia de Hurwitz de uma criança excepcionalmente madura e inteligente não é alguém que age como maturidade e inteligência, mas sim um pequeno psicopata, que não demonstra emoções, e constantemente age de má fé contra praticamente todas as pessoas com quem interage, sendo especialmente agressivo em julgamentos contra mulheres, até mesmo a própria mãe, e acho que é nada surpreendente que um roteiro escrito por um fanboy de Jordan Peterson tenha bastante misoginia. Henry não trata a mãe como um filho que tem uma relação saudável com os pais, mas sim como um substituto para um namorado ou marido manipulador e abusivo, com constantes julgamentos e críticas com a mesma frequência e padrão que vítimas de abuso sofrem em relacionamentos tóxicos, onde o propósito não é ser construtivo, mas sim manter a auto estima da pessoa baixa, e torná-la mais suscetível a manipulação. As formas como tentam demonstrar que é Henry é inteligente são as mais forçadas e previsíveis desse tipo de filme: ele é mostrado pronunciando palavras complicadas, mas é bem óbvio que simplesmente despejar o dicionário em uma conversa é uma forma bem preguiçosa e desonesta de parecer inteligente (é só olhar os comentários do usuário Marcus, ou Marcus Christian, dependendo do fake, aqui no filmow, para ver um exemplo bem óbvio de que alguém saber palavras complexas não é necessariamente sinal de inteligência), cuidando das finanças da casa, e aplicando em ações. A questão de cuidar das finanças é até impressionante para uma criança, mas eu conheço várias pessoas que tiveram que se virar e assumir o controle da casa desde cedo, em idade semelhante à de Henry, por conta de pais negligentes (negligentes de verdade, não o que tentam passar por negligente com a mãe do Henry no filme, que apesar das distrações, ainda é uma boa mãe), e não são consideradas gênios, e nunca usaram isso como desculpa para tratar outros com arrogância; investir na bolsa com algum lucro para uma criança é um pouco admirável, mas o filme faz isso de forma forçada e bem rasa, simplesmente falando que ele comprou umas ações por telefone, e depois vendeu, a assim a família ficou rica, sem muitos detalhes; além do mais, o que não falta na bolsa é molecada que "aprendeu" economia vendo Paulo Kogos, Monark ou Kim Kataguiri, e acha que vai ficar rico da noite para o dia; assim como o Henry, esse pessoal tende a ser misógino.
Boa parte da trama é dedicada ao plano de Henry de livrar a menina que é vizinha dele dos maus tratos do pai policial, mas ele descobre que tem câncer terminal e vai morrer em breve, então ele deixa uma série de instruções para que a mãe dele consiga matar o policial e se livrar do corpo. Isso deixa bem claro que Henry só queria uma desculpa para ser responsável pela morte de alguém, porque se ele fosse mesmo inteligente, saberia como juntar evidências para formar um caso onde o policial acabasse preso, e ninguém precisaria tomar uma bala na cabeça; sem contar que ele não viu problemas em tentar manipular a própria mãe em cometer um assassinato, com grandes chances dela ser presa e deixar o irmão dele sem mãe. Não sei como tem gente que acha esse filme "fofo", se o Henry é basicamente o Jigsaw de Jogos Mortais: sujeito revoltado quer justificar pensamento extremo e assassinato com um discurso cheio de falsos moralismos, e é tão obcecado com as próprias ideias que deixa planos para depois de sua morte, para que possa continuar perseguindo e torturando pessoas, fisicamente e psicologicamente, do túmulo, e ambos fazem planos tão absurdos, com tantos furos e possibilidades de falha, que a única explicação para darem certo é que eles podem ver o futuro. A diferença é que a franquia Jogos Mortais consegue ser divertida em seus absurdos, até com a violência escrachada que é dificíl de levar a sério, mas O Livro de Henry, que tenta ser um drama familiar e inspirador, pelas formas como apresenta os temas, pelas mensagens que tenta passar, e pelo fato de que Henry é um personagem que saiu da cabeça de um adulto que acha que esse comportamento representa inteligência e maturidade, acabou sendo mais desconfortável para mim que os filmes onde pessoas estão constantemente perdendo membros.
Jogos Mortais
3.7 1,6K Assista AgoraAtenção: tem spoiler para um filme de quase 20 anos, e o comentário é longo sim, mas quem perder o próprio tempo e o meu só para comentar que não leu não vai ganhar biscoito, só vai tomar block mesmo, assim como quem curtir o comentário do engraçadinho.
Eu sempre acho muito preguiçoso e forçado quando um filme quer mostrar que algum personagem é um gênio capaz de prever os movimentos de todos os outros personagens, mas ao invés de realmente escrevê-lo de forma inteligente, simplesmente tornam outros personagens muito burros e incompetentes, e os planos do personagem dão certo não por competência e planejamento, mas por incompetência alheia, muita sorte, e algo que só pode ser considerado onisciência. Isso fica ainda pior nos próximos filmes, tanto que fica hilário, mas aqui já está presente, em um roteiro que se leva muito a sério.
A história de Saw, basicamente, se passa em uma realidade onde a grande maioria da população é derrubada várias vezes de cabeça quando criança, e Jigsaw tem a vantagem de só ter sido derrubado umas duas vezes, então embora, na cabeça dele, a melhor forma de fazer pessoas que já sofrem traumas e passam por diversas dificuldades é fazê-las passarem por experiências traumatizantes que muito provavelmente irão matá-las, e considerar razoável gastar muito tempo e dinheiro criando armadilhas elaboradas para essas pessoas, ele só precisa lidar com pessoas como: policiais que se esquecem da existência de algemas, não checam um ambiente desconhecido e suspeito antes de entrarem, e têm os reflexos e a percepção espacial de um cachorro cego e gordo de 12 anos; um cirurgião que não entende de anatomia; um fotógrafo sem percepção espacial; um sujeito que não sabe dar um nó básico; pais tão negligentes que não conseguem perceber a presença óbvia de uma pessoa estranha no quarto da própria filha, e talvez outros que eu não lembro agora.
A história do filme é a seguinte: o assassino em série (e sim, eu escrevi "assassino", porque é isso o que ele é, de fato, independente de qualquer tecnicalidade que o filme quer empurrar nesse aspecto de falso moralismo do personagem) conhecido como Jigsaw de alguma forma conseguiu alugar, ou comprar, galpões enormes por toda a cidade, e enchê-los de traquitanas e armadilhas elaboradas, e apesar dele já ser bem conhecido quando a história do filme começa, e de deixar toneladas de evidência por onde passa, empreiteiros, proprietários e a prefeitura da cidade parecem não sentir a necessidade de ficar de olho em atividades como compras de grandes armazéns em locais isolados da cidade, com grandes movimentações de materiais, e até onde eu sei, Jigsaw não subornava os figurões da cidade, então nem tinha essa desculpa de fazer vista grossa; acho que as continuações até tentam explicar isso, mas só deixa tudo ainda mais ridículo. Os policiais interpretados por Danny Glover e pelo cara com poder de porco espinho do X-Men 3 eventualmente encontram um armazém com o Jigsaw presente, mas ele consegue escapar novamente porque, de alguma forma, esse sujeito que depois descobrimos que é um idoso sofrendo de câncer terminal, têm reflexos muito aguçados para um policial supostamente experiente e treinado, e também porque o outro policial fica três horas entrando em pânico e brincando com um molho de chaves na mão, com um revólver na mão, antes de lembrar que tem uma arma e usá-la. Depois esse policial morre porque decide ir atrás de Jigsaw, deixando o parceiro sangrando com um corte potencialmente fatal na garganta, algo que eu imagino que dificilmente um policial faria, e porque coincidentemente ele passa exatamente no lugar onde um fio aciona uma armadilha, porque ele, policial treinado, se esqueceu de procurar por armadilhas no lugar onde obviamente teria uma, quando perseguindo o assassino conhecido por usar armadilhas.
A investigação policial é uma parte do filme, e a outra é o "jogo", de fato, com dois personagens presos em um banheiro abandonado, e os problemas já começam por aí: se os planos do Jigsaw dependiam que Adam permanecesse vivo por um tempo, porque ele foi jogado inconsciente dentro da banheira, se ele poderia ter se afogado? Descobrimos depois que a chave para as correntes estava na banheira, e que entrou pelo ralo, porque Adam se debateu e puxou a tampa do ralo porque estava ligada na perna dele, mas qual foi o ponto? Era bem óbvio que Adam iria puxar a tampa do ralo por acidente, então qual foi o propósito da chave? É bem óbvio que as motivações do Jigsaw são cheias de falso moralismo e hipocrisia, ainda mais nas continuações, mas essa questão da chave faz menos sentido que a média da série. Esse exemplo, e basicamente todos os outros das armadilhas das continuações, mostram que Saw funcionaria muito melhor como uma paródia de humor sombrio, mas esses filmes se levam muito a sério, o que traz comédia não intencional. Quando eles escutam as fitas, Adam escuta que Jigsaw quer que o Dr. Gordon o mate, ele vê uma arma no chão, e vê que o Dr. Gordon tem munição, mas ele parece não se importar muito, pela expressão. A parede do banheiro tem canos, e eles nunca contemplam a possibilidade de tentar usar um deles como alavanca para destruir os cadeados; Dr. Gordon acaba serrando a própria perna para escapar, sendo que teria sido muito mais fácil, menos doloroso, e com menos sequelas, ter quebrado o pé e passado pela corrente, lembrando que Gordon é um cirurgião, que tinha uma tampa de porcelana e provavelmente outros objetos e formas dele ter quebrado o pé, e em um filme futuro da série, é exatamente isso que acontece com um personagem em situação semelhante. É revelado, no final, que o homem no banheiro com os dois na verdade era Jigsaw o tempo todo, e estava vivo, com uma cobertura na cabeça para fazer parecer que era cérebro exposto. Essas duas pessoas, uma delas um médico, passaram seis horas com o "cadáver", e nunca perceberam respiração, nem o menor movimento involuntário, nem o fato de que a ferida na cabeça do sujeito não era de verdade? A gravação fala que o sangue no chão estava envenenado, isso significa que Jigsaw respirou veneno por seis horas? Jigsaw sabia que o sujeito que ele forçou a sequestrar a família do Gordon iria fazer um nó ruim? Alguns podem achar que é pedantismo esse nível de críticas, mas quando o filme é todo baseado em mistério e suspense da sobrevivência dos personagens, todos esses problemas se juntam para formar um roteiro ruim no contexto que o filme tenta estabelecer. Saw é impressionante nos aspectos técnicos para um filme de baixo orçamento, mas além do roteiro, as atuações são bem fracas, com exceção de Danny Glover e Shawnee Smith.
O Dia do Terror
2.6 406 Assista AgoraTêm comentários defendendo o filme por cumprir o papel de ser um bom "slasher", mas uma que isso não significa que é um bom filme, e implica que nenhum filme desse subgênero é bom, o que não é verdade, e Dia do Terror também não funciona como "slahser": como tantos outros genéricos de terror desse período entre entre fins da década de 90 e começo dos 2000, têm mortes nada criativas, praticamente nenhum gore, e uma reviravolta bem forçada no final que é um furo enorme de roteiro, só pelo choque. Para quem quer ver um "slasher" com temática de Dia dos Namorados, My Bloody Valentine é menos pior.
O Massacre da Serra Elétrica: O Início
3.2 614 Assista AgoraO remake de 2003 fez sucesso o suficiente para que os executivos pedissem uma continuação, mas o que fazer quando o filme termina com o antagonista icônico tendo o braço arrancado, e o antagonista surpresa que marcou o filme sendo morto? Uma prequel meia boca, é claro.
Esse filme é basicamente o remake, de novo, mas ainda pior: a fotografia feia é ainda mais feia aqui, os personagens são ainda mais esquecíveis, o roteiro é ainda pior, o ritmo ainda mais arrastado e repetitivo, e por conta disso, R. Lee Ermey é ainda menos capaz de compensar por todos os aspectos negativos. Para quem só quer ver um filme de terror com muito "gore", essa prequel funciona, pois é o filme mais violento e gráfico da franquia até então, e se você contar efeitos práticos e ignorar sangue em CGI que sempre parece péssimo, é o mais gráfico da franquia até hoje. Obviamente, intensificaram esse aspecto do filme para distrair de todos os aspectos negativos, mas não funciona muito bem, especialmente se você não é impactado por violência fictícia sem um contexto adequado. Não chega a ser o pior da franquia: os três que foram lançados depois conseguem ser ainda piores, e o filme quase acerta ao fazer um comentário sobre a guerra do Vietnã, que foi algo que influenciou muito o original, mas isso também é mal utilizado.
O Massacre da Serra Elétrica
3.2 837Atenção: tem spoiler para um filme de quase 20 anos, e o comentário é longo sim, mas quem perder o próprio tempo e o meu só para comentar que não leu não vai ganhar biscoito, só vai tomar block mesmo, assim como quem curtir o comentário do engraçadinho.
Sempre achei o primeiro o melhor da franquia, mas eu lembro de ter achado esse filme bom vendo pela primeira vez, mas minha opinião mudou ao revê-lo recentemente. É o primeiro filme da onda de remakes da produtora do Michael Bay que começaram no começo dos anos 2000, e talvez o menor pior deles, mas essa tentativa de "modernizar" resulta em um filme que não parece entender as melhores características do original, e tem muito de filmes de terror genéricos da época em que foi lançado.
O aspecto que me incomoda logo de cara é a fotografia que é feia, e não de uma forma que beneficia o filme, ou constrói atmosfera, mas deixa tudo sem graça, de uma forma dessaturada que era muito comum no período, até recentemente, porque os produtores achavam que deixar um filme artificialmente mais escuro significava deixá-lo mais assustador. O primeiro filme tinha um baixo orçamento e foi filmado em algo que era considerado uma batata mesmo naquela época, mas o filme tinha cenas que chegavam a ser bonitas, e faziam bom proveito do sol do Texas nas cenas diurnas e abertas; ajuda também que algumas cenas forma filmadas na "hora mágica", aquele momento bonito do crepúsculo quando o céu fica bem vermelho. No remake, não tenho certeza se intenção desse filtro era deixar o filme mais "assustador", ou tentar emular um filme da década de 70, mas o que consegui foi deixar o filme com uma aparência artificial, e fazer parecer que se passa em uma versão alternativa do Texas que é anormalmente dublada.
Outro aspecto negativo do filme é a falta de suspense e sutileza, com a tentativas de "modernizar" deixando o filme mais exagerado, beirando à caricatura, que acabam o datando mais do que os bons filmes de terror da década de 70: o filme já começa com uma moça tirando uma arma do meio das pernas e explodindo a própria cabeça, de forma bem gráfica, mas a forma como ela surge com a arma é tão ridícula que tira qualquer impacto da cena. O Leatherface dessa versão é praticamente um vilão de história em quadrinhos, interpretado pelo ex fisiculturista Andrew Bryniarsky, o Zangief daquele filme do Street Fighter, ou seja, um sujeito grande, e quando ele tira a máscara, é mostrado que o personagem é deformado; qualquer característica que tornava o personagem original perturbador, que era o fato de poder ser alguém comum, como seu vizinho (porque foi inspirado em um assassino real), mas é um sujeito perturbado, desaparece aqui com esses excessos.
Outro problema é que os personagens não são interessantes e o roteiro enrola muito. Enquanto no primeiro filme, o fato dos personagens morrerem sem cerimônia causava impacto e fazia o filme fluir bem, aqui tentam criar drama, mostrando o personagem sendo capturado, e fingindo que existe uma chance deles sobreviverem, quando é muito óbvio que o filme segue o clichê da "final girl", e como nenhum dos personagens é bem desenvolvido, é dificíl sentir qualquer coisa com esse "suspense". Um aspecto ridículo é que fizeram questão de colocar Jessica Biel com uma camisa branca, sem sutiã, em situações onde ela sempre acaba com a camiseta molhada; até gostei disso vendo o filme pela primeira vez aos 16 anos, mas agora só parece infantil e desnecessário, um lembrete que Michael Bay estava envolvido na produção. A câmera também insiste, por algum motivo, em ângulos que focam na bunda dela, e alguns podem dizer que a câmera tratá-la como um pedaço de carne serve aos temas do filme, mas dessa forma não contribui para o terror, e sim para deixar uns adolescentes felizes.
O final do filme também é um tanto ridículo, com a protagonista, assustada e com frio, consegue arrancar o braço do Leatherface com um cutelo; não estou falando que ela não era forte, mas quando você coloca o Zangief como vilão, é absurdo alguém normal bater de frente assim. Nada semelhante à fuga desesperada da Sally no final do original que reforçavam o tom niilista do filme e deixavam bem claro que o original era um filme de terror, mas sim heroísmo forçado. O filme tem sim aspectos positivos, como o personagem do R. Lee Ermey que é responsável pelas únicas cenas de tensão real do filme (embora ele também seja utilizado em excesso), bons efeitos, e bastante "gore" para quem só quer ver um filme de terror sem muito compromisso.
Quando Tobe Hooper decidiu dirigir o original, não foi uma decisão movida apenas por motivos financeiros, embora eles sempre existam: ele tinha uma ideia queimando um buraco na cabeça dele, influenciada em grande parte pelo cinismo e ansiedade daquele período, e precisava colocar para fora, de alguma forma, e por ser algo tão específico do momento, é muito dificíl de reproduzir em uma continuação ou um remake. A única coisa queimando na produção desse eram os bolsos de Michael Bay e executivos, que precisavam de uma grana para apagar, e a única inspiração aqui foi o fato de o original é um clássico, resultando em um filme de 2003 que já é bem mais datado que um de 1974. Esse remake não é o pior da franquia, tem suas qualidades, é o terceiro melhor da franquia, mas desculpas a quem discorda, chega nem perto do original.
O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno
2.1 247Até entendi que o Kim Henkel (roteirista do primeiro filme, diretor desse quarto) quis fazer uma espécie de meta narrativa a respeito da percepção do público sobre filmes de terror, e entre a nudez gratuita no começo, os canibais pedindo pizza e o personagem da perna mecânica, é um filme que não se leva a sério, mas ainda é um filme ruim. Como filme de terror, não tem suspense, nem "gore", e como paródia do primeiro filme e sátira do gênero, não é absurdo o suficiente. Muitos reclamaram da retratação do Leatherface nesse filme, mas o papel dele aqui como um sujeito perturbado que nem é o mais psicopata da família Sawyer é mais fiel à retratação do personagem no primeiro filme, e o fato dele usar maquiagem e peruca condiz com o assassino real que serviu de inspiração para ele, Ed Gein (Leatherface se veste de forma semelhante no primeiro filme).
O maior problema com esse filme é que, além da falta de suspense e de "gore", e da aparência barata dos cenários, a própria mensagem "meta" que o filme tenta passar não é bem transmitida, e acaba ficando confusa e dizendo nada, e o final pareceu mais um dedo do meio metafórico do que um final de verdade. Apesar de ruim, eu ainda acho esse melhor que o terceiro, ou que as abominações que foram o Texas Chainsaw de 2012, Leatherface de 2017, e esse que brotou no Netflix ainda esse ano, em parte porque tem algum entendimento de aspectos fundamentais do primeiro filme (embora não os execute bem), e em parte porque eu dei muita risada vendo dois futuros vencedores do Oscar entregando atuações absurdas, especialmente Matthew McConaughey com uma perna robótica gritando e urrando. Filme muito ruim, mas muito engraçado.
O Massacre da Serra Elétrica 3
2.7 240Enquanto o segundo filme propositalmente tenta ser uma paródia do primeiro, e consegue fazer isso (mais ou menos) bem, esse terceiro tenta ser algo mais como um "soft reboot", tendo a mesma história que o original, mas com um casal ao invés de um grupo de amigos, e uma família nova para Leatherface, mas é tudo tão mal executado aqui que acaba parecendo uma paródia não intencional do original. É um filme que se leva muito a sério, mas tudo é muito dificíl de levar a sério, porque o filme acaba tendo ação em momentos que deveriam ser de terror e suspense, com um rock genérico da época tocando muito alto na trilha, que tem nada a ver com tom que os filmes da franquia deveriam ter. Até o "gore" é bem reduzido, mesmo na versão sem cortes lançada em DVD, e nada justifica essa classificação de 18 anos do filme. Recomendo a versão sem cortes mesmo assim, porque a versão de cinema têm uns cortes bem estranhos e óbvios nessas cenas mais violentas. Obviamente era para o personagem do Ken Foree ter morrido no filme, mas TCM3 é mais um filme que sofreu com esse infortúnio desnecessário da mídia que são grupos de foco, que não gostaram do final, então foi mudado para ele aparecer do nada no final e salvar a protagonista; como obviamente o resto do filme não alinha com esse final, fica parecendo que ele sobreviveu a ter a cabeça serrada, o que é meio dificíl. Acho que é fácil encontrar o final original no youtube, que enquanto não é bom, é menos pior que o que apareceu no filme (a versão sem cortes não inclui o final original, por sinal). Além do Ken Foree xingando e roubando a cena, e desse ser um primeiros filmes do Viggo Mortensen, tem nada de memorável a respeito desse filme.
O Massacre da Serra Elétrica 2
2.8 346O melhor da franquia depois do primeiro, e a única das continuações que foi dirigida por Tobe Hooper. O próprio diretor provavelmente percebeu que o primeiro filme foi, em grande parte, resultado do clima cínico dos Estados Unidos da década de 70, e que provavelmente não conseguiria reproduzir as condições do seu sucesso, então nem tentou, e fez uma continuação 12 anos depois que é basicamente uma paródia do original, uma comédia de terror com um estilo semelhante a outros filmes da mesma época. É bem óbvio desde a primeira cena que não é um filme que vai se levar a sério, e tem vários momentos que são absurdos, memoráveis e engraçados, como Leatherface tendo uma apaixonite adolescente pela DJ, o cozinheiro participando de um concurso de Chilli e usando carne humana na receita, e o duelo de motosserras no esconderijo da família Sawyer dentro de um parque de diversões. Dennis Hopper é perfeito no papel do Texas Ranger obcecado em acabar com os Sawyer, usando duas motosserras pequenas na cintura igual um personagem de faroeste usa duas pistolas, e é muito engraçado. O problema do filme é que se arrasta muito em alguns pontos, não chegando aos níveis de insanidade e "gore" de clássicos como Evil Dead 2 e Fome Animal. Ao que parece, muitos dos efeitos de Tom Savini foram censurados para o lançamento, e uma versão sem cortes nunca foi lançada, e eu tive mesmo a impressão que a edição era meio estranha em algumas cenas. Um filme divertido em alguns momentos, mas ainda fica abaixo de outros clássicos da década de oitenta com estilos semelhantes.
Ghostbusters: Mais Além
3.5 408 Assista AgoraAtenção: tem spoilers, e se achou o comentário muito grande, simplesmente ignore, pois não existe necessidade de perder seu tempo e meu só para dizer que não leu, e a única resposta que você vai conseguir é um block bem silencioso; o mesmo vale para quem curtir tais comentários.
Ghostbusters: Afterlife não é um dos piores exemplos de um filme de retorno nostálgico que saiu nos últimos anos, com um roteiro que é apenas medíocre, mas não chega a ser ruim como o de um Jurassic World 2 nem Pânico 5, mas o resultado não é um bom filme: uma grande pilha de nada, derivativa, que vive de referências e nostalgia, apresentando nada de novo à franquia. Mesmo aceitando o filme apenas como um retorno nostálgico que faz pouco além de repetir o original, O Despertar da Força mostra que isso pode ser feito melhor. O maior problema para mim foi não ter gostado dos personagens: Phoebe e Trevor, no começo do filme, só sabem reclamar e ficam dando patada na mãe sem motivo, Callie também dá umas patadas desnecessárias nos filhos, Paul Rudd interpreta Paul Rudd, Lucky é interesse amoroso moderno genérico de filme moderno, J.K. Simmons aparece por uns dois segundos, e o resto é bem esquecível. Eu acho o primeiro filme apenas ok, bem superestimado, e nunca achei que tinha personagens muito bem escritos, mas eles tinham algum carisma, com exceção do Dan Aykroyd, que sempre foi um canastrão.
Eu sei que Afterlife tenta remeter a filmes clássicos da década de oitenta onde era comum crianças serem os protagonistas e salvarem o dia, mas o tom da franquia, o que foi estabelecido anteriormente, com um certo nível de plausibilidade em que o sujeito que construiu os equipamentos era um homem adulto, um cientista com doutorado, no mínimo. Outra é que o clichê da criança que é imediatamente habilidosa em tudo o que tenta já encheu o saco, e quanto mais você pensa a respeito daquela criança que nem passou pela puberdade, é minúscula, e pelo físico, provavelmente fica exausta levantando uma caneca, colocando aquela mochila de prótons que é praticamente do tamanho dela e disparando pela cidade, o aspecto ridículo da trama fica bem evidente; ainda mais evidente quando você lembra o cuidado que o primeiro filme teve em estabelecer o quão perigoso o equipamento é, e como mostrava aqueles homens adultos penando para controlar o raio e prender os fantasmas, mas Phoebe parece conseguir fazer tudo com muita facilidade aqui, embora a força do disparo provavelmente mandaria ela voando para trás. Como é certeza que Egon não teve filhos antes de oitenta e quatro, poderiam ter feito o roteiro de tal forma que ele teve algum filho durante a década de 90, em seus vinte no período atual e que acabou de concluir o doutorado em física, mais do que apto a assumir o lugar do pai, sem perder tempo com clichê de "pai distante".
Outro aspecto foram as tentativas de "modernizar" que não fazem muito sentido: tenho quase certeza que a armadilha não poderia ter sido colocada em um carrinho de controle remoto, de acordo com o que foi estabelecido no primeiro filme; tenho quase certeza também que fica mais ou menos implícito que o raio de próton precisa de uma certa estabilidade para prender o fantasma, algo que não possível em uma cadeira balançando fora de uma carro em movimento. Phoebe chega a causar sérios danos de propriedade à cidade com o raio, mas fora as crianças passarem alguns minutos na cadeia, não se toca mais no assunto: quem vai pagar por tudo? E não venham encher o saco falando que é só um filme para crianças, porque isso não é desculpa para deslizes de roteiro, não isenta o filme de críticas, e o primeiro filme mostrava que existiam repercussões bem sérias para ações ilegais dos protagonistas.
Outro problema de roteiro são as explicações dadas para a separação dos Ghostbusters, e o isolamento do Winston: Raymond fala que os fantasmas começaram a desaparecer porque eles fizeram um bom trabalho até demais, mas o que isso significa, no contexto da história? As pessoas pararam de morrer nos Estados Unidos? Eles conseguiram acabar com todos os fantasmas, de todas as eras? É muito dificíl de engolir isso. E o motivo para o resto da equipe ter basicamente isolado o Egon é que ele começou a falar de fim do mundo, e agir como "doido", mas não faz sentido eles subitamente pararem de confiar em um amigo que conhecem há anos, sabem que é inteligente, e nunca mentiu para eles antes antes. Faz menos sentido ainda quando eles quase viram o mundo acabar antes, ao vivo.
O final do filme foi o pior, em termos de forçar roteiro em nome de nostalgia, referência, e descaso com o que foi estabelecido no original: Winston, Venkman e Raymond aparecem do nada (o único que apareceu antes foi Raymond), interpretado pelos seus respectivos atores, usando os macacões clássico, e como eles estão velhos, e Bill Murray e Dan Aykroyd em particular estão bem fora de forma, eles acabam parecendo mais com fã em convenção do que com os personagens originais. O momento em si é, de qualquer forma, uma forçação nostálgica, porque o macacão do uniforme é algo que eles usavam quando ainda trabalhavam como equipe, para serem identificados, mas eles aprecerem vestidos assim no final do filme implica que, apesar da urgência da situação, eles perderam tempo vestindo os uniformes. Phoebe e Gozer entram em duelo de raios que é muito parecido com aquela cena do Harry Potter contra o Voldemort em O Cálice de Fogo, Egon aparece de forma idêntica a um fantasma da Força em Star Wars (embora fantasmas do bem com aparência humana nunca tenham aparecido na franquia antes), também usando o macacão, por algum motivo, e começa a ajudar a Phoebe com o raio igual o Goku ajuda o Gohan com o Kamehameha no final da saga Cell em DBZ. Esse monte de clichês e referências não intencionais deram um curto no meu cérebro e me fizeram perceber, de verdade, quão cansado eu estou desses filmes que só existem para referenciar outros filmes. A homenagem a Harold Rammis foi o único momento que eu senti alguma coisa no filme, mas teve nada a ver com esse filme.
Outro aspecto que acho que vale apontar para mostrar a obsessão com nostalgia em detrimento de consistência: motivo pelo qual aparece um Stay Puft gigante no final do primeiro filme tem a ver com Raymond pensando demais e não ter conseguido esvaziar a cabeça; o motivo de vários Stay Pufts pequenos começarem a brotar do marshmallow em Afterlife simplesmente não existe dentro do filme, e a explicação real é porque apareceu no primeiro.
Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes
3.6 509 Assista AgoraMuitos comentários aparentemente queriam que o filme fosse uma adaptação direta do desenho da década de oitenta, mas aqui alguns motivos que mostram que isso não seria uma boa ideia:
- Adaptar uma adaptação é algo que não faz muito sentido, e só serviria para enfraquecer ainda mais a conexão com o material original, ainda mais levando em conta que o desenho já era uma versão bem simplificada do original, para poder se encaixar no formato de um desenho para crianças da época;
- O universo do D&D é denso, rico em material que possibilita adaptações mais maduras, que não seriam possíveis se fossem seguir o desenho, que inclui até alguns aspectos de terror cósmico. Eu nunca joguei o RPG de mesa, mas o pouco que eu joguei de Baldur`s Gate, Neverwinter Nights e Planescape: Torment já mostraram uma profundidade que nunca foi vista no desenho.
- Como praticamente todo desenho da década de oitenta muito elogiado por adultos atualmente, Caverna do Dragão não era tão bom, e fica bem atrás até de desenhos mais voltados para o público infantil que começaram a sair depois. Os personagens eram bem rasos e chatos, todos os episódios eram o mesmo marasmo, com as mesmas piadas, Bobby e Uni eram irritantes, o material original foi muito mal aproveitado mesmo levando em conta que é um desenho para crianças, e enrolaram tanto com essa história do "vai-não-vai" da volta para casa que a série acabou sem um final, que só foi lançado anos depois em uma HQ. Eu nunca gostei, nem quando era criança, mas assistia porque era o que passava na TV de manhã, para tapar buraco entre os desenhos da Warner e Dragon Ball Z, e talvez mais alguma que estivesse passando na TV Globinho e Bom Dia e Cia. que eu também gostasse.
- Adaptações de desenhos, ou anime, sempre são muito piores que o original, e não entendem o que os tornam bons, então, mesmo quem gostava do desenho provavelmente iria detestar a adaptação. É só lembrar de: Dragon Ball, Death Note, A Lenda de Aang, Cowboy Bebop, Pica-Pau, Os Smurfs, Zé Colmeia, Ghost in the Shell, Alvin e os Esquilos, Fist of the North Star, e muitos mais.
- Apesar do potencial do jogo, D&D nunca teve uma boa adaptação para filme, mas se for dado o cuidado e orçamento necessários, pode gerar algo muito bom, talvez até no mesmo nível da trilogia de O Senhor dos Anéis do Peter Jackson.
Antes Só do que Mal Casado
2.8 712Todo mundo conhece aquele cara que vive reclamando da suposta "ex louca", mas quanto mais ele fala a respeito, mais fica óbvio que o problema no relacionamento sempre foi ele, não em pequena parte por ser um sujeito imaturo, manipulador, e desonesto. Aparentemente, um desses sujeitos fez um filme protagonizado pelo Ben Stiller.
No Ritmo do Coração
4.1 754 Assista AgoraÉ um filme bem simples, e previsível, mas cumpre bem seu papel com personagens bem escritos e interessantes, com os quais é fácil se importar, um roteiro decente, e por não ter baboseiras típicas de filmes indicados pela academia, como propaganda religiosa ou "white savior", e também evita muitas das típicas pieguices irritantes de filmes do tipo. Como alguém que fez aula de canto e participou de coral quando tinha mais ou menos a mesma idade da protagonista, eu gostei muito de todas as cenas envolvendo música e as aulas dela, e igual ao Miles, eu definitivamente teria usado uma camiseta do King Crimson se tivesse achado uma para comprar, mas só tinha uma do The Wall mesmo, porque vendia em todo lugar. Para quem interessar: a banda que é mencionada no filme, The Shaggs, realmente existiu, e recomendo procurar a história a respeito, porque é muito bizarra e interessante.
A Ressaca 2
2.5 143 Assista AgoraDiz "comédia" no gênero, mas fazia tempo que eu não via algo tão absurdamente sem graça.
DOA: Vivo ou Morto
2.4 194Como adaptação, é um filme perfeito: assim como quem jogava (ou ainda joga) Dead Or Alive, não jogava por conta da jogabilidade e mecânicas, quem assistir a esse filme não vai assistir pelo roteiro, pelos diálogos, nem pelas atuações. A situação é tal com esse filme que eu sinto que qualquer tentativa de uma análise mais profunda ou de dar uma nota é irrelevante.