É surpreendente o quanto cada segundo das pausas de 45 minutos para ir ao banheiro que o Jared Leto fez durante as gravações realmente ficam evidentes em tela, tornando Morbius o melhor personagem já escrito em qualquer peça de mídia. Fiquei surpreso também em saber que a cena mais tocante do filme, a que Morbius joga uma camisinha usada no personagem de Matt Smith e grita "você foi morbado!" foi totalmente improvisado por Jared Leto. O filmow deveria liberar uma nota de 6/5 exclusivamente para esse filme.
Depois de ver o título O Homem do Norte, fiquei um pouco decepcionado em descobrir que é mais um filme de viking, e não a história de um sujeito vindo do Acre. Como é do Robert Eggers, e eu gostei muito de A Bruxa e O Farol, vou assistir sim, mas fica registrada minha decepção do potencial desperdiçado.
É um filme ruim, besta, e cheio das situações forçadas típicas de comédias do período, especialmente dessas com O Will Ferrel e o John C. Reily, mas eu confesso que dou muita risada vendo esse tipo de porcaria.
Jurassic Park é provavelmente o filme que eu mais assisti na minha vida, sempre alugando o VHS amarelo que vinha na caixa temática de fóssil e tinha aquele trailer do filme dos Flintstones; comprei o box da trilogia quando saiu em DVD, comprei o box da quadrilogia em blu-ray, vi no Netflix, e provavelmente vou comprar o box quando os seis filmes foram lançados em 4K, mesmo que só o primeiro tenha sido bom; eu li o livro umas três vezes, apesar de não ser muito bom (esse é um dos casos em que a adaptação é muito superior ao original), simplesmente por causa do nome; eu provavelmente joguei a maioria dos jogos baseados nos filmes, especialmente Operation Genesis.
O ponto aqui é que, mesmo deixando de lado a nostalgia, Jurassic Park ainda é um ótimo filme, e um clássico da década de 90 que não envelheceu. A qualidade é por vários motivos: um elenco carismático, que não é composto de estrelas (ao menos, não eram na época), mas sim bons atores, entregando boas performances, com atuações sinceras, onde até mesmo as crianças atuam bem, e são bem escritas; é o excelente uso do CGI que ainda parece melhor que o de muitos filmes mais recentes, mostrando que não é só uma questão de tecnologia disponível, ou da quantidade de polígonos em um modelo, mas de saber utilizar bem a tecnologia disponível junto com truques e direção inteligente, e aqui, Spielberg, a equipe da IL&M e a equipe do finado Stan Winston utilizaram muito bem truques de luz, sombra, animatrônicos detalhados, em conjunto com o CGI; é o fato de que o filme é filmado em um aspecto que valoriza mais verticalidade em cenas (tem um vídeo muito bom sobre isso no youtube) que é bem adequado para um filme sobre dinossauros, e sobre o perigo e encanto dessas criaturas; é a trilha sonora memorável do John Williams; é o roteiro que mistura o suficiente de pseudociência e o aspecto mais "família" dos filmes do Spielberg, e mistura bem o aspecto do encanto, e do terror, para criar uma história bem construída, e interessante; é o fato de Spielberg e Koepp terem escolhido adaptar com várias mudanças em relação ao livro, em benefício do roteiro, e de algo que é mais próximo da ideia inicial de Michael Crichton; é o fato de que as limitações com a tecnologia na época levaram a um grande foco em personagens, e pequenos momentos que realmente adicionam à trama e que nenhum outro filme da franquia parece ter entendido a importância.
Sempre que o assunto é Jurassic Park, normalmente falam dos efeitos, mas suas qualidades vão muito além disso, sendo mais detalhado e melhor trabalhado em roteiro e trama do que muitos dão crédito. Mais algumas coisas: o fato de Roger Ebert ter achado os personagens do filme fora o Ian Malcolm pouco interessante é mais uma prova de que ele nunca foi um bom crítico; alguém escreveu no site Boca do Inferno escreveu que esse filme é raso, e que aquela presepada do Roger Corman, Carnossauro, é melhor, por conta dos temas abordados, e essa é só uma das opiniões mais expressas no site que mostram que não deve ser levado a sério para filmes. JP tem seus defeitos e alguns problemas aqui e ali, mas são irrisórios.
Atenção: spoiler para um filme de mais de 30 anos que todo mundo já viu. Além do mais, se achou o comentário muito longo, e não quiser ler, a atitude inteligente e madura é simplesmente ignorar, e definitivamente não é perder seu tempo e o meu respondendo só para dizer que achou longo, e não leu.
Eu não tenho nostalgia pelos animações da Disney, e a grande maioria eu nem vi, ou não lembro de ter visto, quando criança. A Pequena Sereia é uma das animações que eu lembrava vagamente das músicas, sabia da sinopse por ouvir falar a respeito, e até joguei o videogame desenvolvido pela Capcom para o Famicom, mas nunca havia realmente assistido ao filme, do começo ao fim. Como o primeiro filme da chamada "renascença" da Disney, achei bem decepcionante, além do mais depois depois de ter visto O Rei leão de 1994 e ter achado muito bom, e ter achado a animação de Mulan bem decente.
O primeiro problema para mim foi a animação: não é ruim, mas achei inferior mesmo a filmes da Disney lançados anteriormente, e se for fazer a comparação com filmes do Studio Ghibli que saíram em torno do mesmo período, até antes, parece ainda menos impressionante. Serve o propósito, mas não senti tanto a "magia Disney" nesse aspecto. Outra aspecto que não gostei foi o fato de Ariel e Eric serem muito estúpidos, a ponto de ser irritante em vários momentos. Mesmo levando em conta que Ariel é uma adolescente sendo influenciada pelos hormônios, ela é enganada muito facilmente pela Úrsula, manipulada a assinar um contrato que brilha, por alguém que é claramente o vilão da história. Ariel ainda tem uma personalidade interessante e um certo carisma, mas Eric, além de ser ainda mais estúpido, tem zero personalidade: tem uma parte da história em que ele só fica sonhando acordado, fazendo nada, falando que precisa achar essa estranha misteriosa que o salvou. Pouco depois, quando Ariel consegue as pernas, aparece na praia, e ele a encontra, ele parece não questionar muito o fato de uma garota muda vestido o tecido das velas de barco ter praticamente brotado na praia, e não se pergunta quem ela é, ou de onde veio, antes de deixá-la entrar no castelo. Eric, embora supostamente apaixonado pela "estranha misteriosa" que o salvou, e apesar dela ter ficado com a cara bem perto da dele, por algum motivo não consegue perceber, na hora, que Ariel é essa "estranha", mesmo que, aparentemente, ela seja a única pessoa com cabelos ruivos, e com esse penteado específico, na região. Eventualmente, e obviamente, ele descobre que Ariel é uma sereia, e que é filha do equivalente ao Poseidon daquele universo, e a reação dele em ambas as ocasiões é a mesma que uma pessoa normalmente tem quando lembra que tem sobra de pizza na geladeira.
O Tritão também é um personagem que não é muito bem escrito: ele passa de odiar tanto humanos a ponto de agir de forma bem pouco razoável, e explosiva, que obviamente afasta a filha, para ter nenhum problema em deixar a filha adolescente literalmente zarpar com um sujeito que ela conheceu há uns três dias. Existe algo chamado "meio termo", que pais da década de oitenta já sabiam aplicar à educação. A Melhor parte do filme é Úrsula, pois a personagem, assim como basicamente todos os vilões da Disney do período, parecem ter uma genuína paixão por serem maus, e acabam sendo muito divertidos; como nos filmes mais antigos da Disney, existe um esforço aqui em fazer o espectador odiá-la de forma bem maniqueísta, pois Disney odeia pessoas "feias", mas n]ao funcionou comigo. Ela, infelizmente, é mal aproveitada, pois logo depois de conseguir "poder máximo", ela é derrotada muito facilmente pelo príncipe com carisma de papelão, e um barquinho.
Tendo em vista algumas coisas que eu escrevi, eu sei que alguns seres vão ficar muito defensivos e sair de dentro de bueiros como literais "chuds" para deixar uns comentários falando que o filme deve ser julgado pelos padrões de época, usando termos que não aplicam, e que tiveram o significado distorcido pelos "chuds" como "militância" e "lacração", que não se aplicam, de qualquer forma, ou até mesmo ignorar qualquer tentativa de argumento ruim, e partir logo partir logo para as ofensas nível quinta série. Eis algumas respostas preventivas: o roteiro de A Pequena Sereia é fraco, e bem raso, mesmo para os padrões de filmes infantis da época; um filme que é bom apenas para crianças não é um bom filme; algo que afeta roteiro e progressão da história negativamente é um aspecto negativo, independente do que você queira acreditar ou do que você queira classificar, e para mim, personagens mal desenvolvidos e muitas conveniências, sem justificativa no roteiro, são aspectos negativos; outras animações da Disney que saíram na mesma época, como as já mencionadas, fizeram um trabalho muito melhor com o roteiro; A Pequena Sereia é adaptado de um conto muito mais sombrio, onde uma das mensagens é, literalmente, não confiar em pessoas que você não conhece direito, então, se é para se irritar com o ato de "distorcer uma mensagem", ou "anacronismo", tarde demais, essa versão já fez isso.
Eu sempre vou preferir animação 2D à 3D, porque quando bem feita, não envelhece, e esse filme de 37 é um dos exemplos disso. Distrai um pouco que alguns dos personagens, como a Branca de Neve, provavelmente foram feitos com rotoscopia, então eles destoam bem dos anões e dos animais, mas nada que prejudique o filme. É uma história bem simples, bem boba, muito maniqueísta, do tipo que odeia pessoas feias, como é o caso de boa parte dos filmes da Disney, mas entretém o suficiente. Eu não lembrava bem das personalidades dos anões, mas eu achei muito engraçado ao perceber que o Zangado, entre a barba mal feita, o ódio por mulheres, e a aversão a banho, é basicamente uma versão da década de 30 de um desses youtubers que levam filme de história em quadrinhos muito a sério.
Suzanne Collins negar que se inspirou em Battle Royale (seja filme ou livro, pois ambos saíram bem antes de Jogos Vorazes) para escrever seus livros distópicos é uma da maiorias mentiras já contadas por qualquer autor na história da literatura. O filme em si é ótimo, funcionando muito bem, como filme, e já escrevi um comentário mais detalhado a respeito dos aspectos técnicos. As notas negativas parecem vir do pessoal que leu o livro ou o mangá, e criou expectativas a respeito, não dispostos a avaliar esse filme em seus méritos, ou seja, uma adaptação cinematográfica de menos de duas horas, ou de pessoas que simplesmente não gostaram do estilo não convencional do filme, criticando as mesmas características que tornam o filme bom, e único, e o que foram escolhas bem deliberadas que definem o estilo do Kinji Fukasaku. Deixo o comentário porque é muito mala o tipo de ser que se apaixona por uma obra literária a ponto de desmerecer qualquer adaptação simplesmente por ser diferente, e não pela qualidade da adaptação em si, que é o que acontece aqui. Caso os diretores realmente seguissem a questão de fidelidade com o material original à risca, filmes como Jurassic Park, O Iluminado, O Poderoso Chefão e Tubarão não seriam tão bons quanto são, e quando uma adaptação é diferente do original, mas tem seus méritos e qualidades únicos, ela tem algo a oferecer mesmo para quem conhece o original. A mensagem é, mesmo para quem prefere o livro, é sempre bom tentar ver a adaptação como um filme em si, uma tradução, e não simplesmente uma transposição do original em película. Eu sei bem como o que eu vou chamar de "esnobe literário" funciona, porque eu era desses, e ainda bem que eu já tinha superado quando fui ver It nos cinemas em 2017, se não estaria espumando na sala que eles não adaptaram o livro de mais de 1000 páginas, cheio de devaneios e tangentes típicas da literatura, assim como as bizarrices do King que nunca deveriam sair do papel, de forma totalmente fiel.
Atenção: vai ser um comentário grande, com spoilers, e se você responde a comentários grande só para reclamar do tamanho, e que não leu, sem mencionar o conteúdo, a única coisa que você faz é mostrar para todo mundo que é idiota e carente.
Estrada da Fúria é um dos melhores, se não o melhor, filme de ação da década passada, sendo muito bem feito no aspecto técnico e com um roteiro que consegue dar liga em tudo. Não quero comentar tanto a respeito do filme, diretamente, mas essa página do filmow do Mad Max é tão cheia de alguns dos comentários mais ridículos feitos por quem não entendeu o filme, ou simplesmente feitos de má fé, que eu acho válido falar a respeito do filme respondendo a alguns diretamente aqui; lembrando que gostar ou não do filme é questão de opinião, mas existem alguns "argumentos" aqui que têm fundamento nenhum.
"Não tem conteúdo, não tem desenvolvimento de personagem, não tem nada. É apenas um monte de cenas de ação aleatórias. Impressionante o quanto os filmes do Mad Max foram piorando um após o outro, só o primeiro que realmente salva, o segundo e o terceiro até que dá para assistir, mas este aqui é totalmente descartável." - acho então que aspectos da história como Max começar o filme atormentado pelo passado, eventualmente aceitar que não pode mudá-lo, Furiosa começar o filme em busca de uma dita "terra prometida" para descobrir que não existe, para ambos abandonarem a culpa do passado em busca de redenção, em um senso comum, onde eles concluem que precisam lutar por tal redenção, as antes noivas do Immortan Joe realizando a própria humanidade e se livrando do domínio dele, e Nux, antes doutrinado pela filosofia do Immortan, conseguindo chegar a conclusão que estava errado e desenvolvendo empatia básica, tendo também sua redenção ao final do filme, são coisas que não contam como "desenvolvimento de personagem"; essa é a versão resumida por sinal. Acho também que apesar de todas as cenas de ação terem um propósito claro, e estarem ligadas diretamente ao roteiro, e serem bem coerentes, elas são aleatórias. Outro aspecto é que de todos os filmes da franquia, Estrada da Fúria é o que tem o roteiro mais complexo, e isso nem é uma questão de opinião. Não que Estrada da Fúria seja particularmente complexo, mas muita gente está afirmando que não tem história, com comentários de pessoas que aparentemente não entenderam o básico do que a história queria mostrar, ou ignorando de propósito, sendo muito comuns, e o que eu digo é: se você acha que o filme é raso em roteiro, história, temas, ou desenvolvimento de personagens, não é um problema do filme, é um problema de você não ter conseguido enxergar além das cenas de ação. Talvez um efeito de George Miller ter conseguido integra tão bem o aspecto visual do filme com a escrita, mas se ele tivesse interrompido mais o filme para ter diálogos, mas isso teria tornado o filme pior. Lindsay Ellis já fez um ótimo vídeo explicando porque estrada da fúria tem sim, um ótimo roteiro, com mais nuance e sutilezas que muitos desconsideram.
"Se eu tivesse 14 anos, iria gostar nessa correria sem nexo." - não, se você tivesse 14 anos, você iria gostar do filme somente pelas cenas de ação e pelas atrizes; se você fosse um garoto mala e pretensioso de 14 anos estilo "nasci na geração errada", você iria fingir que não gostou do filme por ser um filme de ação; se você tivesse maturidade de um adulto, iria entender melhor os aspectos que eu já citei acima, e não acharia que esse é um filme feito apenas para adolescentes.
"Mas teria sido melhor economizar 20% nas explosões e carros, e terem contratado uns roteiristas para trabalhar melhor a história. É muita pirotecnia pra pouca história." - Estrada da Fúria é um filme de ação, em uma franquia de filmes de ação, que foca, principalmente, em carros: se Miller tivesse economizado nas explosões e carros, não seria Mad Max. Existem argumentos muito melhores explicando que é um equilíbrio muito bom entre ação e história do que o filme ser "muita pirotecnia para pouca história".
"Achei a história um pouco pobre, muitas mentiras que incomodam e personagens mal construídos." - assistir a um filme de ação requer aceitar algumas coisas e Estrada da Fúria tem algo que é mais importante em um filme de ficção do que coesão externa, coesão total com a realidade, o que normalmente chamado de "verossimilhança": estrada da Fúria tem preocupação suficiente com coesão interna, ou seja, o filme estabelece as próprias regras de forma clara, e as segue. Estrada da Fúria é quase como um conto de fadas pós apocalíptico em uma ótica contemporânea, e isso faz muito bem.
"História nula, nada relevante." - Já expliquei porque a história definitivamente não é nula, agora, chamar uma história sobre escassez de recursos e luta contra opressão institucional de "irrelevante" é algo que acho que nem preciso responder.
"Achei que faltou um pouco de história, poderiam ter explorado mais o personagem principal Max." - já expliquei porque não faltou história, e o personagem do Max foi tão bem explorado no filme quanto poderia ser tirar o foco da trama.
"Quem era então o Mad Max?!!! Ahn? Quem? Puxa! Jurava que era ela.. rsrs tirando a brincadeira.. cá pra nós, ela fez tudo no filme, roteiro todo dela. E o tal do protagonista (coadjuvante dela), inexpressivo. Bom ator, mas não para ser um Mad Max." - outro tema recorrente nos comentários é o pessoal que parece não entender o que é a franquia Mad Max, e o que é o personagem do Max: com exceção do primeiro filme, Max sempre foi uma pequena parte de uma história maior, um coadjuvante em uma história onde o foco é sempre o ambiente e um grupo de pessoas que vivem nele. A conclusão é: se você se incomoda tanto com um filme onde o personagem titular não é o protagonista da forma mais tradicional, então a franquia não é para você.
"não tive saco pra ver até o fim mas me lembrou a Corrida Maluca... na poeira" - dois problemas do comentário: implicar que Estrada da Fúria é realmente muito parecido Corrida Maluca, e implicar que Corrida Maluca é ruim, quando é um clássico por um bom motivo. Corrida Maluca, inclusive, é claramente inspirado em um filme de comédia de 1965 chamado A Corrida do Século no Brasil, que também é muito bom, por sinal.
"Alimentação das fantasias de hétero topzera, basicamente." - isso pode ser dito a respeito de muitos filmes de ação, mas acho que não pode ser dito a respeito de um filme onde um dos temas centrais são mulheres liderando a luta contra um sistema patriarcal.
"Filme incrível que todo homem de verdade gosta!" - ilustrando equívocos, quem viu Estrada da Fúria e entendeu, e viu o perfil que fez o comentário em questão, sabe que o filme definitivamente não contempla esse sujeito, mas acho que é esperar muito que o sujeito que faz questão de mostrar para todos que é "machão tradicional" na internet, ou em qualquer lugar, vá entender mesmo o óbvio da mídia que diz gostar. Não, o filme não concorda com você, e esse é um dos motivos que o tornam bom.
"Só eu que não achei esse filme bom?" - claramente não, é só ler os comentários, e eu detesto esses comentário que têm "eu sou o único que...", porque não, você nunca é o único, pois existem mais de 7 bilhões de pessoas no planeta.
"Não consigo ver essa coisa toda pelo qual esse filme é tanto reverenciado, com alguns até chegando a dizer que é o melhor filme de ação desde o T2." - Esse é o clássico comentário que tenta diminuir opinião alheia de forma passivo agressiva. Muitos já deixaram razões bem claras do porque gostaram do filme, então quem não entendeu, ou não leu, ou está fingindo que não entendeu, ou tem algum problema com interpretação de texto. Eu acho T2 superestimado, mas nunca vou fingir que não entendo porque as pessoas gostam tanto, pois isso é bem claro.
"Uma homenagem a Bollywood bem razoável" - esse não faz sentido para qualquer um que já viu um filme de Bollywood e Estrada da Fúria.
"Bons efeitos práticos não compensam a história insossa e os elementos de crítica (hoje em dia) breguíssimos, quem ouve falar todo dia que a água potável vai acabar levanta a mão. Até toma algumas decisões interessantes com relação ao retrato das mulheres como força renovadora da nova geração, mas até isso acaba soando um pouco forçado; o feminismo, no caso, vem mais como uma tentativa de atualizar a franquia para a modernidade do que como algo intrínseco à narrativa mesmo." - faltou prestar atenção aí, novamente: o estopim do apocalipse é, claramente, uma crise de combustível, e não a escassez de água; o maior problema atual não é escassez de recursos, mas distribuição, e isso pode sim levar à escassez, e é um assunto que ainda é relevante, e se os recursos naturais continuarem sendo tratados da forma como são, nunca vai deixar de ser, então não vejo onde isso é brega; mulheres protagonizando uma luta contra a representação de instituições tradicionalmente masculinas, que o filme deixa bem claro que levaram à destruição do mundo, em grande parte, por atitudes que são tipicamente associadas à dita masculinidade tradicional, não é forçado na narrativa, é parte essencial, integrada, intrínseca. Tão intrínseca é, de fato, que tem muito metido a "machão" que eu vi deixarem comentários misóginos em outros filmes, mas parecem achar que são contemplados por esse.
"mad max era meu filme preferido! detestei esse remake!!! parecia aquele filme do cuba goding jr,eu acho que é fantasmas de marte. não gostei das atuações,não gostei da trilha sonora,achei muito caricatu." - provavelmente o sujeito confundiu Cuba Gooding Jr. com Ice Cube, que está em Fantasmas de Marte, embora os dois sejam bem diferentes, e Cuba nunca tenha sido um rapper. Até entendo não ter gostado das atuações, embora eu ache que elas tenham servido o filme bem, mas não gostar da trilha sonora, não sei o que dizer. Além do mais, esse filme não é um remake, não sei de onde saiu essa ideia.
"O visual de videogame acabou com o filme. E não dá para entender um "Mad Max" em que o Max tá mais para personagem secundário" - realmente curioso para saber onde a pessoa que deixou o comentário achou um jogo com visuais semelhantes, apesar de Estrada da Fúria ter muitos efeitos práticos, e o CGI que tem ser muito bem integrado: pessoa foi no futuro e viu um jogo feito na Unreal Engine 9, e não quer revelar. Quanto ao Max ser "personagem secundário", já expliquei isso.
"Todavia, começamos a perceber uma grande falha no filme: o roteiro de “Estrada da Fúria” é construído explorando as cenas de ação e sua coreografia, não o arco narrativo – ou seja, o “drama” é um fiapo." - como já explicado, só porque o filme consegue integrar bem roteiro em meio às cenas de ação, não significa que não tenha roteiro sólido; além do mais, se você assiste a um filme de ação para reclamar que ação foi uma grande parte da narrativa, eu não sei o que dizer.
"Otimo somente para os olhos, Enredo bem fraquinho." - já expliquei isso, parem com a ignorância proposital.
"O Max é totalmente dispensável no filme... quem aparece é a Furiosa e isso não seria ruim, se o nome do filme não fosse Mad Max." - listar todas as formas como Max foi relevante para a trama deixaria esse comentário bem maior, então o que eu posso dizer é que a resposta está no filme, bem óbvia para quem prestou atenção. Citando apenas um dos muitos exemplos: Max é quem propõem para Furiosa e as Vulvalini de tentar tomar a cidadela, ao invés de continuar no deserto, mudando os objetivos, e colocando em movimento todo o terceiro ato do filme. Além do mais, que tipo de argumento é esse que o filme não seria ruim se o nome não fosse Mad Max? O nome define a qualidade do filme? Star Wars é ruim porque não é uma guerra entre estrelas, mas sim entre a Rebelião e o Império? A Fita Branca é ruim porque a fita em si é só uma pequena parte do filme? Jurassic Park é ruim pelo fato da maioria dos dinossauros que aparecem no filme serem do período Cretáceo? Moby Dick é uma obra ruim por Ishmael ser o protagonista, e não a baleia? Alguns argumentos eu simplesmente não entendo.
"Não gostei da condução da história, faltou um pouco mais de profundidade, e o fato de um ator totalmente diferente do Mel Gibson interpretar o Max me fez perder o gosto." - já expliquei a parte da história, e quanto ao Mel Gibson, não sei onde faz falta: nunca foi um bom ator, e ele se revelou como um anti semita instável que basicamente só dirige filmes de propaganda.
"Me decepcionei um pouco, visto que não há enredo quase nenhum, apesar das semelhanças nos ambientes, veículos e figurinos." - já expliquei porque dizer algo na linha que história e roteiro são praticamente inexistentes é errado: não ter gostado é questão de opinião, mas dizer que história basicamente não é existe é objetivamente errado.
Esse foi longo, para mim foi terapia, desabafo. Lembrando que não gostar do filme é questão de opinião, ninguém é obrigado, mas existem argumentos mais ou menos embasados quando você quer ir além de "eu não gostei".
Atenção: spoilers para um filme bem ruim com um roteiro sem sentido de 15 anos atrás; e também, não leu, mas reclamou do tamanho do comentário, e não do conteúdo, ao invés de ignorar e não perder seu tempo ou o meu, significa que é idiota e carente.
Não fosse eu saber, antes de ver um filme, que é o terceiro filme de uma trilogia do Dario Argento, eu não saberia que é um filme do diretor: esse filme não tem personalidade na direção ou fotografia, parecendo qualquer filme genérico de filme de terror do começo dos anos 2000 que passam no Space de madrugada. Como esse filme não consegue ter atmosfera através de direção, fotografia e trilha sonora como os anteriores, Argento apela para choque barato: esse filme é o mais gráfico e violento dos três, com bastante gore, e cenas de sexo e nudez gratuitos. A violência é tão frequente, e exagerada, que deixa de ser chocante, ao contrário dos filmes anteriores, onde era bem intercalado com o suspense, mas o que é bem questionável nesse filme é o uso de nudez. Eu não sou puritano, e entendo que isso pode funcionar, se bem executado, mas eu começo a imaginar que Argento não tinha bem em mente o que era melhor para o filme, no aspecto artístico, quando ele decide interromper a história para colocar uma cena de sexo entre duas mulheres que não é pouco explícita, e depois quando uma dessas mulheres tem talvez a morte mais cruel de qualquer personagem do filme (eu ainda não decidi se é pior ter dois olhos furados e depois morto, ou morrer enforcado nos próprios intestinos), enquanto sua parceira é obrigada a olhar. Perto do final do filme, Mãe Lachrymarum aparece, como acontece nos filmes anteriores e suas respectivas "Mães", mas ao contrário do que acontece nos filmes anteriores, ela aqui não aparece como uma pessoa muito velha, decrépita e deformada, mas sim como uma mulher jovem (a atriz tinha 27 na época), e totalmente nua. Já era meio evidente a forma como o roteiro em Inferno parecia arranjar desculpa para matar as personagens mulheres só para Argento colocar diversas atrizes que ele provavelmente achava bonitas no filme, mas aqui ele realmente não tentou fazer segredo em relação a algumas decisões que certamente não foram feitas em benefício da história.
Outro problema aqui é o roteiro, que nunca foi um ponto, nem nos filmes anteriores, mas Suspiria e Inferno tinham estilo e atmosfera, e parece que sempre foi a intenção de Argento de criar uma experiência mais sensorial onde estilo era a substância. Aqui, sendo o filme bem genérico, o estilo também é genérico, e o roteiro começa a fingir que a história importa agora, com personagens despejando exposição em várias cenas e referenciando os dois filmes anteriores, mas nessa tentativa acaba tendo a história mais bagunçada e sem sentido da trilogia. Eu consegui captar que tinha um culto envolvido, e que eles estavam matando pessoas por se oporem, ou simplesmente saberem a respeito, dos planos da Mãe Lachrymarium, mas parece que o filme desiste em se explicar e admite que tudo era uma desculpa para mostrar sangue, violência e nudez, mas sem estilo. As atuações também são ruins, ninguém é convincente, e tudo contribui para o filme parecer uma paródia do gênero, exceto que tenta se levar muito a sério. Bem ruim, o pior da trilogia por uma margem bem grande, mas acho que a franquia foi redimida com o ótimo Suspiria de 2018, um remake que supera mesmo o já bom original.
Uma das primeiras lembranças que eu tenho de ver um filme nos cinemas, e eu não lembro de detalhes, mas lembro das sensações e dos pensamentos de forma vaga, que eram os mesmos que eu tive quando eu assisti filmes do Michael Bay no cinema, quando adulto: "isso é chato, eu tô cansado e quero ir embora". Os únicos bons aspectos do filme são aquela música do Aerosmith que muita gente adora, mas tem medo de admitir, e aquela parodia do Frango Robô que é um dos únicos quadros realmente engraçados do programa, mas isso nem é parte do filme em si.
Atenção: potenciais spoilers para um filme de 72 que é bem abstrato na mensagem.
Tarkóvski supostamente fez a primeira hora de filme ter um ritmo bem lento de propósito (e todo o filme tem um ritmo lento) para que os "idiotas" saíssem do cinema e só sobrassem apenas os realmente interessados. Tivesse Tarkóvski vivido tempo o suficiente para ver o surgimento das redes sociais, teria descoberto que não precisaria ter se esforçado tanto, porque aqui no filmow, por exemplo, é só você escrever um comentário um pouco maior que o "normal" que algum carente vem perder o tempo dele, e o seu, para mostrar que se orgulha da incapacidade de ler texto pequenos (porque "grande" para o filmow ainda é pequeno para qualquer outro padrão de texto) e simples, simplesmente respondendo que achou grande, e não leu. Não estou falando que quem não gostou de Solaris é idiota, porque é uma questão de opinião, e gosto é gosto, mas eu quero reforçar que quem perde tempo respondendo comentário "grande" simplesmente para dizer algo do tipo "muito grande, nem li", é, de fato, idiota, e também carente.
Solaris é o tipo de filme contemplativo que eu gosto, e que é excelente sci-fi, o tipo que usa o aspecto de ficção científica para gerar discussões atuais e relevantes a respeito da humanidade, e aqui os efeitos, cenários e conceitos apresentados são um panos de fundo para uma trama que envolve discussões a respeito do conceito de humanidade em si, o que significa "ser", crise de identidade, entre outros assuntos. Um filme tão contemplativo e carregado de diálogos funciona porque Tarkóvski tinha talento e sensibilidade artística para tornar mesmo o tipo de direção que seria tediosa nas mãos de outros interessante, com tomadas longas, e contínuas, e com atores muito bons que transmitem todo o significado das cenas através de expressões faciais e linguagem corporal. e uma trilha sonora que é bem russa, e bem melancólica. O filme tem várias tomadas bonitas, com um clima que, mesmo mostrando apenas paisagens, transmite bem os aspectos mais subjetivos dos personagens.
Por algum motivo, aparentemente porque Tarkóvski se manifestou a respeito, esse filme é muito comparado a 2001 do Kubrick, embora sejam filmes bem diferentes em execução, e embora eu ache 2001 muito bom, ainda prefiro Solaris, pois 2001 foi feito propositalmente hermético e abstrato porque Kubrick queria contar a história visualmente, e o filme, ao contrário do que acontece com a maioria das adaptações, foi escrito para acompanhar o filme, oferecendo respostas muito mais claras e mais diretas ao que era abstrato no filme, com as respostas dadas sendo de um nível que talvez não justifique todo o espetáculo do filme. Solaris, por outro lado, não necessita da leitura da obra original para que a mensagem seja passada, e a abstração e complexidade da são parte intrínseca da trama, pois é uma história que incorpora a complexidade do ser humano, suas dúvidas e medos, em determinadas situações. Não é um filme que precisa ser entendido totalmente para ser apreciado, sendo a atmosfera a própria incerteza transmitida pelos personagens parte da experiência. Solaris sofre com a questão da falta de recursos, mesmo para os padrões da época, e isso fica bem óbvio em alguns cenários, mas compensa tanto na forma como o roteiro aborda e desenvolve os temas, que como sci-fi, é muito melhor executado e mais efetivo que muitos filmes do gênero mais modernos e com grandes orçamentos, como o polido e tecnicamente impressionante, mas raso e superestimado Interestelar. Um filme que merece seu status de clássico, mas que não tem a popularidade de tantos outros filmes com o mesmo status, por ser inegavelmente um filme do Tarkóvski.
Bem ruim, e não da forma "tão ruim que é bom", mas é ruim e chato: previsível, cheio de clichês e personagens idiotas de forma conveniente para o roteiro. Mesmo pra quem só quer ver um filme de terror com bastante sangue e "gore" e não levar a sério, esse não funciona, porque a maior parte dos efeitos são CGI ruim ou em cenas muito escuras para distinguir qualquer coisa. Esses filmes "slasher" de casa mal assombrada têm um certo apelo nostálgico para mim, mas não consegui me divertir com esse, e depois que acabou, fiquei surpreso em descobrir que foram só 90 minutos de filme, porque parece ter se arrastado por muito mais tempo.
Atenção: potencialmente spoilers para esse filme sessão da tarde. Outra coisa, eu deixei um comentário mais para baixo, mas aquele não é comentário de verdade, e é propositalmente daquela forma; relacionado a isso, não leu, mas reclamou do tamanho do comentário, e não do conteúdo, ao invés de ignorar e não perder seu tempo ou o meu, significa que é idiota e carente.
Todo mundo já falou que o filme é uma boa sessão da tarde, bem leve, com uma história bem previsível, um roteiro que é só desculpa para as cenas de ação e efeitos especiais, e uma premissa que é do tipo "não seria muito legal se...". Ainda não acho bom, porque é bem fraco mesmo comparado a outros filmes "pipocão" lançados na história recente, e Ryan Reynolds parece só conseguir interpretar o Deadpool em qualquer filme que aparece, e Mark Ruffalo e Jennifer Garner fazem uns personagens bem genéricos. Surpreso que o garoto atuou bem, e foi fácil se importar com ele durante o filme, mas isso não salva o filme.
Atenção: spoilers para um filme bem previsível de 3 anos atrás; e também, não leu, mas reclamou do tamanho do comentário, e não do conteúdo, ao invés de ignorar e não perder seu tempo ou o meu, significa que é idiota e carente.
Para mim, o pior da trilogia. O primeiro já é superestimado como filme de ação, ainda mais considerando que foi lançado na mesma década que filmes que são melhores exemplos do gênero, como Estrada da Fúria, The Raid 1 e 2, e Dredd, mas é o filme que entrega exatamente o que promete, com uma história simples que é só uma desculpa para Keanu Reeves encarnar o personagem em uma cenas de ação com coreografia decente, sem grandes pretensões. Eu também gostei do segundo, pois consegue expandir o universo da série de forma interessante, e com umas cenas de ação bem criativas, apesar de não tão bem pensadas quanto no primeiro filme.
Parabellum começa bem, com algumas das melhores cenas de ação da série, com John Wick usando cavalos e facas contra outros assassinos, e eu gosto quando filmes dispensam armas de fogo, porque tiroteios em filmes de ação na maior parte são bem manjados, e fazer os personagens não usarem armas de fogo forçam roteiristas, diretores e atores a serem mais criativos, e as cenas são bem executadas o suficiente que evitam aquele clássico problema de filmes de ação onde os inimigos atacam o protagonista um por um, embora não faça sentido. Depois do começo, infelizmente, o filme nunca chega no mesmo nível, por vários motivos: Parabellum parece muito apaixonado com o estilo da série, ainda mais que os filmes anteriores, a ponto de prejudicar o roteiro aqui, e acredita demais no "hype" dos fãs, tentando esticar demais uma história que nunca teve muita substância, para começar. O roteiro tenta transformar o que deveria ser uma história simples de vingança em uma espécie de épico, mas aqui é o ponto em que a série vira uma paródia de si mesma: cenas como o protagonista cruzando o deserto em uma espécie de jornada de redenção, ou que servem apenas para colocar atores conhecidos como Halle Berry e Angelica Huston como participação especial só servem para deixar o filme mais longo do que deveria ser, e agregam nada de substância à história nem ao universo da franquia; a cena de ação no deserto com a personagem da Halle Berry é a pior da franquia, cheia de CGI ruim, capangas que atacam os "mocinhos" um de cada vez, e umas escolhas de direção que fazem a cena parecer um jogo de videogame; a cena em que John Wick e o personagem do Lance Reddick precisam defender o Winston contra vários agentes do "cartel" (não lembro como chama a organização na franquia), cobertos de armadura, e John Wick precisa chegar bem perto para poder atirar por baixo das capacetes, é uma onde fica bem óbvio que os inimigos estão atacando o mocinho um a um, ao invés de fazerem o óbvio; a cena onde o protagonista luta contra dois capangas bem treinados tem uma coreografia legal, e uns visuais interessantes, mas sofre do mesmo problema que algumas cenas dos dois filmes anteriores, onde John apanha tanto que você começa se perguntar porque ele é considerado uma lenda, e como ele não morreu ainda.
Esse filme, em particular, também parece muito apaixonado com o estilo de diálogo da série, de forma que aqui são ainda mais presentes as cenas onde personagens tentam falar as coisas da forma mais estilosa e pretensiosa o possível, com pausas dramáticas e olhar arrogante, mas o conteúdo dos diálogos é sempre raso, e todos poderiam ser bem resumidos. O resultado disso tudo é que Parabellum é o filme mais longo da trilogia, e também o mais raso em termos de roteiro, onde estão claramente esticando uma premissa em nome de manter uma franquia. Fica ainda mais evidente o quanto estão explorando a premissa além do ponto onde tinha algo a oferecer, que esse último filme de uma trilogia não conclui a história de três filmes, e não é o fim de uma trilogia, surgindo com artifícios de roteiro simplesmente para que haja um quarto filme, e sabe-se lá mais quantos. Eu verei o quarto, porque consigo me divertir mesmo com apenas algumas cenas de ação bem coreografadas e estilosas, e consegui me divertir com esse terceiro, apesar de tudo
O maior problema desse filme é a obrigação de ter alguma conexão com o universo de Harry Potter, e de ter sido escrito pela J.K. Rowling, sem filtros alheios. Eu gostei muito dos quatro personagens principais, todos bem escritos, bem atuados, carismáticos, com motivações bem claras, e a dinâmica entre eles torna o filme interessante. Eu gostei mais desses personagens do que qualquer um da série principal, e muitos já comentaram a respeito do protagonista Newt Scamander, um dos melhores protagonistas masculinos de qualquer filme da história recente, justamente por não ser um herói convencional, e ter profundidade, e carisma, para variar. Eu teria gostado muito mais do filme se fosse uma história sem grandes pretensões, focando somente nos quatro personagens e nas várias criaturas mágicas, mas parece que todo filme de alto orçamento criado atualmente tem a obrigação de criar uma franquia, então temos uma história envolvendo discriminação contra bruxos, uma espécie de instabilidade mágica, corrupção no ministério da magia, e um final que deixa um gancho de forma bem forçada, e não intencionalmente hilária. Todos esses aspectos mais sérios da trama são tão bem executados quanto em qualquer história do Harry Potter, ou seja, de forma bem ruim, e rasa, porque J.K. nunca foi uma boa escritora, e é especialmente ruim no aspecto de construção. Além disso, sabendo o que se sabe dela atualmente, ela escrever uma história onde uma das mensagens é que é errado discriminar e invalidar alguém por não se encaixar em normas sociais pré estabelecidas, soa bem hipócrita. No geral, é divertido e passa o tempo.
É muito chato escrever qualquer coisa sobre esses filmes lotados de clichês que ficam bem no limbo da mediocridade, sendo nem realmente bons, e nem realmente ruins, que eu vou até deixar uma receita muito boa de michelada aqui para quem interessar, para quem leu por acidente não sentir que perdeu tempo: https://www.youtube.com/watch?v=khwfHYYTTFo
Scorsese pode até ser um diretor superestimado com alguns dos fãs mais insuportáveis do cinema, mas isso não significa que não seja um bom diretor que fez alguns filmes muito bons, e Os Bons Companheiros é um desses que merece os elogios que recebe. A narrativa, baseada em uma história real, é muito bem construída e se beneficia muito de ser contada em primeira pessoa, nunca saindo da perspectiva do personagem do Henry Hill, mostrando a visão romantizada que ele tinha da máfia como garoto, e como isso vai sendo desconstruído ao longo do tempo, na vida adulta, e vai ficando cada vez mais claro a extensão do problema e o quão descartável ele realmente é aos olhos dos mafiosos que o atraíram com promessas de dinheiro, fama e falso companheirismo. Atuações muito boas do elenco principal, Liotta, DeVito e De Niro, e o resto do elenco faz um bom trabalho; fotografia, direção e edição que transmitem bem o ponto de vista do personagem e a natureza caótica da trama.
Como alguém que gosta de cinema e sabe o valor do dinheiro, eu considero ir ao cinema para fazer algo menos que prestar atenção no filme, por pior que seja, desperdício do valor despendido no ingresso, por pior que o filme seja: eu nem levo comida, no máximo uma garrafa d'água sem gás,, e eu detesto que pipoca, uma das comidas mais ruidosas já criadas, é sinônimo de cinema para muita gente. Duro de Matar 5 é um dos dois filmes que fui ver no cinema, e acabei dormindo: acho que dormi pela metade, acordei no final, sem saber direito o que estava acontecendo na trama, e me importei nem um pouco com isso; a soneca, aliás, foi a única parte boa do filme.
O vídeo do RedLetterMedia sobre Titanic, feito na linha do Mr. Plinkett, resume bem como eu me sinto em relação ao filme: é um dos melhores filmes já feitos, e talvez o pior. Por um lado, Titanic é um trunfo cinematográfico no aspecto técnico, onde houve muito cuidado da parte de James Cameron e produção de fazer uma reprodução histórica bem fiel do famoso navio, com cenários, figurinos, e cenas bem dirigidas que misturam bem efeitos práticos e CGI da forma como os melhores filmes da década de 90 faziam, mostrando que cada centavo do alto orçamento foi bem aproveitado, de forma que o filme não envelheceu um dia desde 97. Por outro lado, Titanic tem um roteiro que é medíocre na maior parte do tempo, argumentando-se inclusive que é um aspecto que foi melhor executado em adaptações anteriores do evento, como Titanic de 1953 e A Night to Remember de 1958; romantiza muitos aspectos a ponto de falta de fidelidade histórica, como a real situação das pessoas de situação financeira mais precária dentro do navio, e muitos diálogos forçados referenciando um ponto de vista mais moderno e que é benefício de retrospectiva, como referência a Picasso e outros; um romance bem clichê, previsível, que já era batido na época, escrito por um sujeito que se casou cinco vezes; DiCaprio antes de "começar" a ser um bom ator (e um que eu acho bem superestimado até hoje; a escolha de fazer um filme sobre uma tragédia histórica que afetou muitas vidas focando em um romance batido entre dois personagens fictícios; todas aquelas cenas desnecessárias que passam no que era tempo presente, só para Cameron massagear o próprio ego e se inserir no filme como o personagem do Bill Paxton, e mostrar que ele tem acesso a equipamento avançado de exploração marítima. Titanic é um desses casos casos em que todos estão certos a respeito do filme, ao mesmo tempo, o que gera um certo equilíbrio. Minha opinião, como minha nota, são positivas, no geral: um filme tecnicamente impressionante que entretém o suficiente apesar da longa duração, mas que não oferece muito em termos de roteiro e outros detalhes para que eu queira ver novamente. A opinião em relação ao filme é, no geral, positiva, e isso é válido. O que torna o filme um pouco frustrante é que o final é a melhor parte, não por conta da quantidade de ação em si, mas porque mostra o verdadeiro potencial do filme, o que poderia ter sido: a escala do que foi a tragédia propriamente contextualizada, mostrando diferentes passageiros e tripulantes agindo como seres humanos em meio ao pânico; um pouco mais frustrante depois que eu descobri que alguns dos melhores momentos dessa cena são tirados diretamente de adaptações mais antigas. Cenas de ação com um pouco de elemento humano são o forte de James Cameron, mas com o foco do filme, na maior parte do tempo, em um único romance fictício e não muito bem escrito, nada antes dos momentos finais do filme realmente constrói para o que deveria ser o aspecto trágico da história.
Os extremos no caso levaram ao equilíbrio, mas ainda são extremos, e no caso desse filme, o pessoal do extremo positivo tem sido o mais chato. Muitos estão tentando dizer que o filme foi "injustiçado" ou "subestimado" por conta do extremo de opiniões negativas, que são uma minoria: bem vocais, mas ainda assim uma minoria. Sim, é exagero considerar um filme tão bem executado nos aspectos técnicos, e tão influente no cinema, como algo péssimo; por outro lado, também é exagero considerar um filme com um roteiro que é bem medíocre em vários aspectos, e tão cheio de exageros e conveniências, como uma obra prima infalível acima de qualquer crítica. Algumas coisas precisam ficar bem claras: um filme que ainda é terceira maior bilheteria de todos os tempos, mesmo com ajuste inflacionário, ganhou 11 Oscars, e que até quem não viu o filme sabe de cor My Heart Will Go On, e conhece algumas cenas principais, não é, de forma alguma, injustiçado ou subestimado; 4/5 não é uma média ruim para um filme. Acho muito engraçado os comentários do pessoal que só quer uma desculpa para reclamar do espantalho que eles consideram a "nova geração" para dizer que acham um absurdo filmes de super herói terem médias maiores, mas alguns pontos que são importantes ressaltar: tem muita gente mais velha que cresceu com HQ que gosta de filmes de super heróis, acreditem ou não; curioso a respeito de quais foram os critérios utilizados para comparar um romance de época que preza pelo realismo a alguns filmes onde pessoas soltam raios pelas mãos e têm que derrotar um sujeito roxo para concluir que ambos são semelhantes o suficiente para que seja injusto a nota de um em relação ao outro. Parece até que só pegaram "coisa popular da minha época que eu gosto" e "coisa popular dessa época que assumo que pessoas mais novas que eu gostam", e mais nenhum critério, e fizeram comparação. O engraçado, também, é que eu não vejo Titanic sendo comparado a outros filmes clássicos de época, como O Poderoso Chefão, E o Vento Levou, A Lista de Schindler, entre outros: filmes que não tiveram o mesmo orçamento que Titanic, mas são elogiados principalmente por roteiro e atuações, além de cenários e figurinos.
Outro ponto em relação à comparação dos filmes de herói: muitos consideram esse filmes como entretenimento "leve", ou "raso", descompromissado, e isso é verdade, e não existe problema nisso, mas na forma como o argumento é usado pelos fãs do Titanic dão a entender que o filme do James Cameron de alguma forma é diferente disso, mas na realidade, não é: um filme não é automaticamente inteligente e profundo por ter bons cenários, figurinos e algum cuidado com fidelidade histórica; aspectos como roteiro, personagens, diálogos, temas abordados e desenvolvimento da história são mais importantes nesse aspecto. Parte de realmente gostar de um filme, ou qualquer peça de arte, é aceitá-lo pelo que realmente é, e Titanic, inegavelmente, é um filme "pipocão" da década de noventa que foi, e ainda é popular, pela sua simplicidade, apelo universal e capacidade de entretenimento, e nesse aspecto se assemelha aos filmes de super herói que provavelmente o pessoal aqui pensou a respeito na hora de comparar; resumindo, se você chorou no fim de Titanic, não tem argumento para tirar sarro de quem chorou no final de Ultimato.
Atenção: spoilers para um filme de oito anos que todo mundo já viu.
Década passada foram lançados alguns ótimos filmes de ficção científica que conseguiram equilibrar bem roteiros que tratavam bem de assuntos relativamente complexos da condição humana de uma forma acessível, tocante sem cair na pieguice , que não desrespeita a inteligência do espectador, e também não sacrificam consistência e espetáculo visual para isso: esses filmes são A Chegada, Blade Runner 2049, e Lunar. Interestelar é bom, mas tem alguns problemas típicos de filme do Nolan que impedem que seja mais do que isso, e que seja totalmente sólido como sci-fi.
Vou escrever aqui algo usando um termo que normalmente eu detesto, porque as pessoas adoram usá-lo para qualquer coisa sem se justificar, e provavelmente vai atrair certos comentários desagradáveis, mas o que se pode fazer? Nolan é superestimado, e vou tentar explicar bem o porque acho isso: apesar dos filmes dele serem ótimos no aspecto, ele geralmente também é encarregado do roteiro, e o problema é que, ou ele acha que os filmes dele são muito mais profundos e inteligentes do que são e não consegue transmitir as ideias e os temas de forma efetiva, ou não acredita na capacidade do espectador de entender o que ele tem a dizer então despeja tutorial, ou ele não sabe transmitir a parte emocional sem acabar com sutileza para isso. O resultado disso aqui em interestelar é que os aspectos da trama que são científicos acabam prejudicados pela mão pesada nos momentos mais emocionais, e os momentos mais emocionais são prejudicados pelo filme ser muito expositivo e pouco sutil. Claro, o filme trata de assuntos complexos e bem específicos de determinadas áreas da ciência, mas até levando isso em conta parece que o filme força a barra na exposição: eles inclusive explicam o conceito do buraco de minhoca exatamente da mesma forma que é explicado em O Enigma do Horizonte, filme do Paul W.S. Anderson, o diretor das adaptações de Resident Evil, e um filme que não tentava ser inteligente, e só queria usar um verniz de sci-fi para justificar o terror. Um aspecto positivo é que apesar da exposição exagerada, Interestelar não comete os mesmos erros de A Origem e Tenet, que é encher o espectador de tutorial apenas para quebrar as próprias regras estabelecidas durante a ação e não explorar outros conceitos, pois o roteiro é bem consistente no aspecto científico, provavelmente porque é baseado em ciência de verdade, e não só um conceito que Nolan achou que daria uns visuais legais.
Bom, na questão do filme não seguir as próprias regras, já não tenho tanta certeza. O problema começa quando, mesmo depois do compromisso que o filme tem com o aspecto científico, e depois de toda essa promoção do esforço que a equipe de computação gráfica teve em renderizar um buraco negro cientificamente comprovado, e o resultado é realmente lindo, e fora do comum, o roteiro basicamente tenta martelar na sua cabeça que o amor vai salvar o dia: eu não sei quantas vezes uma variação da frase "o amor é o sentimento que transcende tempo e espaço", mas uma vez teria sido demais. Eu não tenho certeza a respeito daquela cena em que o Cooper volta no tempo em uma versão em miniatura para alertar a si mesmo por código sobre o futuro, porque literalmente ouviu a voz da filha através do tempo e espaço, mas parece forçar o aspecto científico que o filme tomou tanto cuidado para manter. Eu não deveria ter tanto problema com isso, porque eu acho que o uso de tempo e espaço pode gerar histórias bem tocantes, e esse é o caso do final do filme, quando Cooper reencontra com a filha, mas o que me incomoda aqui: Futurama já fez isso antes, e melhor, de uma forma não pretensiosa que não tenta te fazer pensar que é a coisa mais importante do mundo; o "poder do amor" parece funcionar só para o protagonista buscando a filha, porque quando a mulher da tripulação tenta usar a justificativa para ir atrás de alguém que ela ama, o filme a mostra como muito emotiva, e as decisões dela acabam prejudicando a tripulação. Eu só quero deixar claro as camadas aqui: toda essa história de "poder do amor" é inconsistente com o que filme tentou estabelecer até o momento; esse "poder" não funcionar no caso da mulher é inconsistente com ele funcionar no caso do protagonista, e de forma que sinceramente, faz essa parte parecer machista. O filme já era bem datado e piegas nesses aspectos logo quando foi lançado, mas A Chegada, que foi lançado só uns dois anos depois, aborda assuntos semelhantes na questão de empatia e união (que podem ser considerados "amor", dependendo do contexto), com uma protagonista que consegue resolver o problema com a ajuda de vários cientistas de outras nações, e onde os homens fardados de visão limitada ao seu redor são mostrados como um empecilho mais que uma ajuda, e a atitude americana de atirar antes de fazer perguntas se mostra prejudicial, Interestelar parece aInda pior em comparação. Eu comparo muito os dois porque existem vários comentários a respeito de A Chegada que parecem não ter entendido o filme, e não porque o roteiro é complexo, porque não é, e falta de entendimento por conta disso não é um problema, e é facilmente resolvido, mas parece ser por uma falta de capacidade de empatia, recusa em aceitar a mensagem do filme, e crítica aos elementos que fazem o filme bom sci-fi. Para mim, e para muitos, o bom filme de sci-fi (que se aplica a obras, também, menos no aspecto visual), que é atemporal, é mais que bons efeitos e cenários, e mais que acurácia científica, mas é também uma reflexão a respeito da natureza humana que é a mais universal, e mais empática o possível, sem sacrificar o aspecto científico.
Analisando alguns temas que Interestelar deixa não tão implícitos, além dos aspectos puramente científicos. parece que o que filme quer mostrar é: só os americanos podem salvar a terra da escassez de recursos: claro, vamos ignorar de forma conveniente que a cultura baseada em corporativismo predatório deles é o principal problema na questão de recursos mundiais, e ignorar também que não é realmente um problema de quantidade, mas de distribuição, porque algumas poucas nações, em particular Estados Unidos e seus excessos, têm acesso desproporcional a recursos, e buscam manter o status quo, e isso pode sim levar a uma escassez, se não tratado antes; vamos ignorar também o absurdo que seria acreditar que uma missão para colonização espacial e obtenção de recursos fora do planeta seria algo predominantemente americano, e sinceramente isso deveria ser bem óbvio, mas caso fique a dúvida, a explicação requer algumas aulas de história e economia internacional, e não vou fazer isso aqui. Além do primeiro ponto (que já foi uma tangente), a outra mensagem é que ciência é algo muito interessante, mas no fim das contas é o poder do amor que salva o dia, mas só se você um homem buscando sua filha, porque se você for mulher, é sentimentalismo barato que prejudica a missão. Já seria válido criticar o filme por conta desse protagonismo forçado dos EUA que é muito presente em filmes sobre o fim do mundo, simplesmente porque eles basicamente controlam a indústria cinematográfica, então boa parte dos filmes têm um aspecto de, ou são totalmente, propaganda, e por conta desses "apitos de cachorro" que esses diretores ficam enfiando em filme, mas esses temas impedem Interestelar de ser um bom sci-fi, apesar de ser um filme competente, na maior parte do tempo. Os motivos são que isso entra em conflito com os aspectos mais realistas da trama, e são inconsistentes em si mesmo; outro é que não tem o aspecto da universalidade, ao dar o protagonismo da resolução de um problema mundial a uma única nação (e isso também vai contra a parte "científica" de "ficção científica). O filme sequer mostra, visualmente, de qualquer forma convincente, o estado em que o mundo supostamente se encontra: é um problema mundial, supostamente, mas o pouco do filme que se passa na Terra mostra umas paisagens típicas do interior dos Estados Unidos, e os interiores de uma instalação espacial. Todo mundo adora falar do quão impressionante é que Nolan não quis fazer milho em CGI para a cena do drone, então ele mandou plantar tudo só para poder passar com o carro naquela cena, e vendeu o restante com lucro, mas o que as pessoas deveriam estar se perguntando é qual que foi o propósito, para o filme, se preocupar tanto em mostrar plantações de milho no meio oeste estadunidense (ou onde quer que seja isso) em um filme que trata de um problema mundial: se o propósito era estabelecer contraste entre o passado "próspero" e o futuro cheio de pó, teria sido mais efetivo mostrar o antes e depois de algumas florestas e outras paisagens naturais de países que têm mais cuidado nesse aspecto, como Nova Zelândia e Costa Rica; ou ainda mostrar a Floresta Amazônica soterrada em pó, considerando que ela se conecta ao território de mais de um país, e seu papel no clima mundial é muito maior que apenas na América Latina, e eu realmente queria que o prospecto da Floresta virar cinzas fosse só ficção. Do modo como é colocado no filme, com campos de milho se estendendo em uma paisagem tipicamente americana com condições de iluminação perfeitas para o "efeito nostálgico", pareceu desnecessário e estadunidense demais. Esse filme quer muito ser 2001 do Kubrick, mas tem muito mais do Armageddon do Michael Bay que muitos gostariam de admitir.
Interestelar não é um filme ruim, e onde acerta, que no caso são visuais, efeitos, e a maioria das atuações, acerta bem (mas os personagens são rasos), mas isso outros filme lançados antes e depois também têm, além de roteeiros muito superiores, mas além da superfície, apresenta problemas e inconsistências que ficam ainda mais óbvios e mais difíceis de relevar pelas expectativas de um sci-fi, pelo menos para mim. Tem alguns visuais marcantes, e uns aspectos do roteiro que eu gostei, mas ao contrário dos outros filmes que eu citei, esse eu não tenho vontade de ver mais de uma vez.
Para mim, foi meio decepcionante, pois embora o filme tenha tenha suas qualidades, especialmente em questão de cenários e figurinos, pois é um filme de época dirigido pelo Copolla, afinal de contas, e as atuações do Gary Oldman e do Anthony Hopkins praticamente carregam o filme, mas acho que o filme tem uns problemas bem difíceis de ignorar. Um deles é que Winona Ryder e Keanu Reeves é uma das piores combinações possíveis de par romântico para um filme. Ambos são atores que funcionam bem em contexto específicos, mas dificilmente alguém vai considerá-los bons atores, de uma forma geral, e infelizmente esse contexto não é em um filme de época do Copolla: junta a falta de expressão do Keanu com a mesma atuação que Winona faz em qualquer filme, que sempre parece meio forçada, e juntos eles têm zero química, e individualmente, não conseguem carregar suas partes da trama. Eu me importei tão pouco com o o que acontecia com eles, que deveria ser o conflito central da trama, que eu teria considerado o filme muito pior não fosse Anthony Hopkins aparecendo perto da metade do filme para interpretar uma versão bem do Van Helsing que gosta de um humor sombrio para dar um pouco de vida ao filme.
Outro problema foi a questão dos temas da história: eu não li o livro ainda, mas sei que o aspecto de terror do Drácula deveria vir do personagem ser uma metáfora bem direta de como a aristocracia era tirana, violenta, e usava a força vital da população em geral para sustentar seus excessos, algo que ainda pode ser aplicado no cenário atual, então porque esse filme tenta mostrar Drácula como um sujeito injustiçado de coração partido? A obsessão de Drácula com Mina, para ter adequação temática, deveria ter nada de romântico, mas deveria servir apenas para reforçar o aspecto possessivo e predatório do conde, mas o filme fica alternando entre um e outro. Provavelmente alguém vai me acusar de estar "pagando de cult", ou outro insulto vazio que o pessoal daqui adora, mas eu considero Nosferatu de 1922 e o Drácula de 1931 filmes superiores a esse.
007 foi um desses filmes lançados recentemente que foi inicialmente recebido com o choro estridente de homens medíocres que nunca amadureceram além da fase do "proibido garotas", e tratam cinema como seu próprio clubinho, achando que deixarem mais pessoas entrarem, vão pegar sapinho, ou algo do tipo. Nesses casos, é preciso ver o filme para saber se é realmente ruim e o choro está bloqueando os reais problemas, ou se é bom. O filme não é tão ruim quanto os homens adultos de barba mal feita e com aversão a banho que ganham a vida reclamando de representatividade em filmes fazem parecer, mas ainda assim tem uma série de problemas que o impedem de chegar ao mesmo nível que Casino Royale e Skyfall; ainda é um filme com melhor roteiro e atuações que qualquer um da era Connery, ou Moore, mas isso não é dizer muito. Um dos melhores aspectos do filme, e um que obviamente incomodou a galerinha "raiz", é que essa é retratação mais madura do personagem até o momento, com menos dos excessos e infantilidades que infestavam tanto a era clássica do personagem, e uma certa crítica e comentários que começaram a ficar comuns na era Brosnan. Esse mesmo pessoal chiou horrores quando viram que o novo 007 do filme é uma mulher, porque aparentemente se esqueceram que esses números são apenas um título, e no filme ela nem é mostrada como superior ao Bond, e eles dispensam discussões infantis e desnecessárias que são comuns em outros filmes e rapidamente chegam a um respeito mútuo: a dinâmica é menos o que tipicamente vemos em filmes do personagem, e mais próximo de algo como Mad Max e Furiosa, e tudo bem, por mim.
O problema do filme é querer ser muita coisa ao mesmo tempo: a era Craig introduziu um tipo de continuidade na franquia que não existia antes, então o filme tem o objetivo de concluir a história da Vesper em Casino Royale, as pontas soltas deixadas em Spectre, e ainda quer introduzir um novo vilão ligado ao passado da Madeleine, com uma nova motivação e um plano mirabolante, enquanto também tenta dar uma conclusão ao protagonista da era, de uma forma também que nunca foi feito antes. O resultado é um filme de 2h40m que ainda parece corrido, e com tons dissonantes, pois quer ser o Bond mais sério e realista da era Craig, mas também quer ter um pouco do tom irreverente que envolve pseudociência mirabolante da era Brosnan, e ainda quer encaixar umas pitadas do Bond clássico. É tudo tão apertado que Ana de Armas, que foi bastante promovida como uma personagem do filme, aparece do nada, e desaparece pouco tempo depois, o que é uma pena, porque a cena com ela é uma das melhores do filme. As atuações são boas, mas o filme é tão cheio de personagens que o elenco tem pouco tempo para brilhar, individualmente, e as cenas de ação são muito bem dirigidas, mas acabam tomando muito tempo em um roteiro que já é carregado. O filme também permite alguns absurdos na escrita que Casino Royale e Skyfall fizeram esforços para evitar: o plano de Spectre para matar o Bond no filme necessita que muitos detalhes funcionem, e é cheio de falhas em potencial, o esquema da nano máquinas é muita explicação para algo que não é demonstrado de forma efetiva no filme, a cena da neblina, embora visualmente interessante, vira piada com a burrice dos motoristas, e o terceiro ato envolve muita repetitividade em uns cenários pouco interessantes. O filme mais visualmente interessante e variado de toda a franquia é Skyfall, por conta da fotografia de Roger Deakins, e eu realmente teria gostado que ele tivesse trabalhado em todos os filmes da era Craig. No fim das contas No Time to Die está longe de ser um dos piores filmes da série, nem é o pior da era Craig, é uma bagunça em vários momentos, e mais longo do que deveria, mas entretém o suficiente e encerra a era de forma satisfatória. Comparado ao padrão que se espera da série, é mais que suficiente. Um outro aspecto que eu gostei, para encerrar:
Morbius
2.3 521É surpreendente o quanto cada segundo das pausas de 45 minutos para ir ao banheiro que o Jared Leto fez durante as gravações realmente ficam evidentes em tela, tornando Morbius o melhor personagem já escrito em qualquer peça de mídia. Fiquei surpreso também em saber que a cena mais tocante do filme, a que Morbius joga uma camisinha usada no personagem de Matt Smith e grita "você foi morbado!" foi totalmente improvisado por Jared Leto. O filmow deveria liberar uma nota de 6/5 exclusivamente para esse filme.
O Homem do Norte
3.7 945 Assista AgoraDepois de ver o título O Homem do Norte, fiquei um pouco decepcionado em descobrir que é mais um filme de viking, e não a história de um sujeito vindo do Acre. Como é do Robert Eggers, e eu gostei muito de A Bruxa e O Farol, vou assistir sim, mas fica registrada minha decepção do potencial desperdiçado.
Quase Irmãos
2.9 262 Assista AgoraÉ um filme ruim, besta, e cheio das situações forçadas típicas de comédias do período, especialmente dessas com O Will Ferrel e o John C. Reily, mas eu confesso que dou muita risada vendo esse tipo de porcaria.
Lightyear
3.2 391 Assista AgoraFilme nem saiu ainda e já tem choro de homem medíocre nos comentários tentando abaixar a média.
Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros
3.9 1,7K Assista AgoraJurassic Park é provavelmente o filme que eu mais assisti na minha vida, sempre alugando o VHS amarelo que vinha na caixa temática de fóssil e tinha aquele trailer do filme dos Flintstones; comprei o box da trilogia quando saiu em DVD, comprei o box da quadrilogia em blu-ray, vi no Netflix, e provavelmente vou comprar o box quando os seis filmes foram lançados em 4K, mesmo que só o primeiro tenha sido bom; eu li o livro umas três vezes, apesar de não ser muito bom (esse é um dos casos em que a adaptação é muito superior ao original), simplesmente por causa do nome; eu provavelmente joguei a maioria dos jogos baseados nos filmes, especialmente Operation Genesis.
O ponto aqui é que, mesmo deixando de lado a nostalgia, Jurassic Park ainda é um ótimo filme, e um clássico da década de 90 que não envelheceu. A qualidade é por vários motivos: um elenco carismático, que não é composto de estrelas (ao menos, não eram na época), mas sim bons atores, entregando boas performances, com atuações sinceras, onde até mesmo as crianças atuam bem, e são bem escritas; é o excelente uso do CGI que ainda parece melhor que o de muitos filmes mais recentes, mostrando que não é só uma questão de tecnologia disponível, ou da quantidade de polígonos em um modelo, mas de saber utilizar bem a tecnologia disponível junto com truques e direção inteligente, e aqui, Spielberg, a equipe da IL&M e a equipe do finado Stan Winston utilizaram muito bem truques de luz, sombra, animatrônicos detalhados, em conjunto com o CGI; é o fato de que o filme é filmado em um aspecto que valoriza mais verticalidade em cenas (tem um vídeo muito bom sobre isso no youtube) que é bem adequado para um filme sobre dinossauros, e sobre o perigo e encanto dessas criaturas; é a trilha sonora memorável do John Williams; é o roteiro que mistura o suficiente de pseudociência e o aspecto mais "família" dos filmes do Spielberg, e mistura bem o aspecto do encanto, e do terror, para criar uma história bem construída, e interessante; é o fato de Spielberg e Koepp terem escolhido adaptar com várias mudanças em relação ao livro, em benefício do roteiro, e de algo que é mais próximo da ideia inicial de Michael Crichton; é o fato de que as limitações com a tecnologia na época levaram a um grande foco em personagens, e pequenos momentos que realmente adicionam à trama e que nenhum outro filme da franquia parece ter entendido a importância.
Sempre que o assunto é Jurassic Park, normalmente falam dos efeitos, mas suas qualidades vão muito além disso, sendo mais detalhado e melhor trabalhado em roteiro e trama do que muitos dão crédito. Mais algumas coisas: o fato de Roger Ebert ter achado os personagens do filme fora o Ian Malcolm pouco interessante é mais uma prova de que ele nunca foi um bom crítico; alguém escreveu no site Boca do Inferno escreveu que esse filme é raso, e que aquela presepada do Roger Corman, Carnossauro, é melhor, por conta dos temas abordados, e essa é só uma das opiniões mais expressas no site que mostram que não deve ser levado a sério para filmes. JP tem seus defeitos e alguns problemas aqui e ali, mas são irrisórios.
A Pequena Sereia
3.7 577 Assista AgoraAtenção: spoiler para um filme de mais de 30 anos que todo mundo já viu. Além do mais, se achou o comentário muito longo, e não quiser ler, a atitude inteligente e madura é simplesmente ignorar, e definitivamente não é perder seu tempo e o meu respondendo só para dizer que achou longo, e não leu.
Eu não tenho nostalgia pelos animações da Disney, e a grande maioria eu nem vi, ou não lembro de ter visto, quando criança. A Pequena Sereia é uma das animações que eu lembrava vagamente das músicas, sabia da sinopse por ouvir falar a respeito, e até joguei o videogame desenvolvido pela Capcom para o Famicom, mas nunca havia realmente assistido ao filme, do começo ao fim. Como o primeiro filme da chamada "renascença" da Disney, achei bem decepcionante, além do mais depois depois de ter visto O Rei leão de 1994 e ter achado muito bom, e ter achado a animação de Mulan bem decente.
O primeiro problema para mim foi a animação: não é ruim, mas achei inferior mesmo a filmes da Disney lançados anteriormente, e se for fazer a comparação com filmes do Studio Ghibli que saíram em torno do mesmo período, até antes, parece ainda menos impressionante. Serve o propósito, mas não senti tanto a "magia Disney" nesse aspecto. Outra aspecto que não gostei foi o fato de Ariel e Eric serem muito estúpidos, a ponto de ser irritante em vários momentos. Mesmo levando em conta que Ariel é uma adolescente sendo influenciada pelos hormônios, ela é enganada muito facilmente pela Úrsula, manipulada a assinar um contrato que brilha, por alguém que é claramente o vilão da história. Ariel ainda tem uma personalidade interessante e um certo carisma, mas Eric, além de ser ainda mais estúpido, tem zero personalidade: tem uma parte da história em que ele só fica sonhando acordado, fazendo nada, falando que precisa achar essa estranha misteriosa que o salvou. Pouco depois, quando Ariel consegue as pernas, aparece na praia, e ele a encontra, ele parece não questionar muito o fato de uma garota muda vestido o tecido das velas de barco ter praticamente brotado na praia, e não se pergunta quem ela é, ou de onde veio, antes de deixá-la entrar no castelo. Eric, embora supostamente apaixonado pela "estranha misteriosa" que o salvou, e apesar dela ter ficado com a cara bem perto da dele, por algum motivo não consegue perceber, na hora, que Ariel é essa "estranha", mesmo que, aparentemente, ela seja a única pessoa com cabelos ruivos, e com esse penteado específico, na região. Eventualmente, e obviamente, ele descobre que Ariel é uma sereia, e que é filha do equivalente ao Poseidon daquele universo, e a reação dele em ambas as ocasiões é a mesma que uma pessoa normalmente tem quando lembra que tem sobra de pizza na geladeira.
O Tritão também é um personagem que não é muito bem escrito: ele passa de odiar tanto humanos a ponto de agir de forma bem pouco razoável, e explosiva, que obviamente afasta a filha, para ter nenhum problema em deixar a filha adolescente literalmente zarpar com um sujeito que ela conheceu há uns três dias. Existe algo chamado "meio termo", que pais da década de oitenta já sabiam aplicar à educação. A Melhor parte do filme é Úrsula, pois a personagem, assim como basicamente todos os vilões da Disney do período, parecem ter uma genuína paixão por serem maus, e acabam sendo muito divertidos; como nos filmes mais antigos da Disney, existe um esforço aqui em fazer o espectador odiá-la de forma bem maniqueísta, pois Disney odeia pessoas "feias", mas n]ao funcionou comigo. Ela, infelizmente, é mal aproveitada, pois logo depois de conseguir "poder máximo", ela é derrotada muito facilmente pelo príncipe com carisma de papelão, e um barquinho.
Tendo em vista algumas coisas que eu escrevi, eu sei que alguns seres vão ficar muito defensivos e sair de dentro de bueiros como literais "chuds" para deixar uns comentários falando que o filme deve ser julgado pelos padrões de época, usando termos que não aplicam, e que tiveram o significado distorcido pelos "chuds" como "militância" e "lacração", que não se aplicam, de qualquer forma, ou até mesmo ignorar qualquer tentativa de argumento ruim, e partir logo partir logo para as ofensas nível quinta série. Eis algumas respostas preventivas: o roteiro de A Pequena Sereia é fraco, e bem raso, mesmo para os padrões de filmes infantis da época; um filme que é bom apenas para crianças não é um bom filme; algo que afeta roteiro e progressão da história negativamente é um aspecto negativo, independente do que você queira acreditar ou do que você queira classificar, e para mim, personagens mal desenvolvidos e muitas conveniências, sem justificativa no roteiro, são aspectos negativos; outras animações da Disney que saíram na mesma época, como as já mencionadas, fizeram um trabalho muito melhor com o roteiro; A Pequena Sereia é adaptado de um conto muito mais sombrio, onde uma das mensagens é, literalmente, não confiar em pessoas que você não conhece direito, então, se é para se irritar com o ato de "distorcer uma mensagem", ou "anacronismo", tarde demais, essa versão já fez isso.
Branca de Neve e os Sete Anões
3.8 711Eu sempre vou preferir animação 2D à 3D, porque quando bem feita, não envelhece, e esse filme de 37 é um dos exemplos disso. Distrai um pouco que alguns dos personagens, como a Branca de Neve, provavelmente foram feitos com rotoscopia, então eles destoam bem dos anões e dos animais, mas nada que prejudique o filme. É uma história bem simples, bem boba, muito maniqueísta, do tipo que odeia pessoas feias, como é o caso de boa parte dos filmes da Disney, mas entretém o suficiente. Eu não lembrava bem das personalidades dos anões, mas eu achei muito engraçado ao perceber que o Zangado, entre a barba mal feita, o ódio por mulheres, e a aversão a banho, é basicamente uma versão da década de 30 de um desses youtubers que levam filme de história em quadrinhos muito a sério.
Batalha Real
3.6 588 Assista AgoraSuzanne Collins negar que se inspirou em Battle Royale (seja filme ou livro, pois ambos saíram bem antes de Jogos Vorazes) para escrever seus livros distópicos é uma da maiorias mentiras já contadas por qualquer autor na história da literatura. O filme em si é ótimo, funcionando muito bem, como filme, e já escrevi um comentário mais detalhado a respeito dos aspectos técnicos. As notas negativas parecem vir do pessoal que leu o livro ou o mangá, e criou expectativas a respeito, não dispostos a avaliar esse filme em seus méritos, ou seja, uma adaptação cinematográfica de menos de duas horas, ou de pessoas que simplesmente não gostaram do estilo não convencional do filme, criticando as mesmas características que tornam o filme bom, e único, e o que foram escolhas bem deliberadas que definem o estilo do Kinji Fukasaku. Deixo o comentário porque é muito mala o tipo de ser que se apaixona por uma obra literária a ponto de desmerecer qualquer adaptação simplesmente por ser diferente, e não pela qualidade da adaptação em si, que é o que acontece aqui. Caso os diretores realmente seguissem a questão de fidelidade com o material original à risca, filmes como Jurassic Park, O Iluminado, O Poderoso Chefão e Tubarão não seriam tão bons quanto são, e quando uma adaptação é diferente do original, mas tem seus méritos e qualidades únicos, ela tem algo a oferecer mesmo para quem conhece o original. A mensagem é, mesmo para quem prefere o livro, é sempre bom tentar ver a adaptação como um filme em si, uma tradução, e não simplesmente uma transposição do original em película. Eu sei bem como o que eu vou chamar de "esnobe literário" funciona, porque eu era desses, e ainda bem que eu já tinha superado quando fui ver It nos cinemas em 2017, se não estaria espumando na sala que eles não adaptaram o livro de mais de 1000 páginas, cheio de devaneios e tangentes típicas da literatura, assim como as bizarrices do King que nunca deveriam sair do papel, de forma totalmente fiel.
Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7K Assista AgoraAtenção: vai ser um comentário grande, com spoilers, e se você responde a comentários grande só para reclamar do tamanho, e que não leu, sem mencionar o conteúdo, a única coisa que você faz é mostrar para todo mundo que é idiota e carente.
Estrada da Fúria é um dos melhores, se não o melhor, filme de ação da década passada, sendo muito bem feito no aspecto técnico e com um roteiro que consegue dar liga em tudo. Não quero comentar tanto a respeito do filme, diretamente, mas essa página do filmow do Mad Max é tão cheia de alguns dos comentários mais ridículos feitos por quem não entendeu o filme, ou simplesmente feitos de má fé, que eu acho válido falar a respeito do filme respondendo a alguns diretamente aqui; lembrando que gostar ou não do filme é questão de opinião, mas existem alguns "argumentos" aqui que têm fundamento nenhum.
"Não tem conteúdo, não tem desenvolvimento de personagem, não tem nada. É apenas um monte de cenas de ação aleatórias. Impressionante o quanto os filmes do Mad Max foram piorando um após o outro, só o primeiro que realmente salva, o segundo e o terceiro até que dá para assistir, mas este aqui é totalmente descartável." - acho então que aspectos da história como Max começar o filme atormentado pelo passado, eventualmente aceitar que não pode mudá-lo, Furiosa começar o filme em busca de uma dita "terra prometida" para descobrir que não existe, para ambos abandonarem a culpa do passado em busca de redenção, em um senso comum, onde eles concluem que precisam lutar por tal redenção, as antes noivas do Immortan Joe realizando a própria humanidade e se livrando do domínio dele, e Nux, antes doutrinado pela filosofia do Immortan, conseguindo chegar a conclusão que estava errado e desenvolvendo empatia básica, tendo também sua redenção ao final do filme, são coisas que não contam como "desenvolvimento de personagem"; essa é a versão resumida por sinal. Acho também que apesar de todas as cenas de ação terem um propósito claro, e estarem ligadas diretamente ao roteiro, e serem bem coerentes, elas são aleatórias. Outro aspecto é que de todos os filmes da franquia, Estrada da Fúria é o que tem o roteiro mais complexo, e isso nem é uma questão de opinião. Não que Estrada da Fúria seja particularmente complexo, mas muita gente está afirmando que não tem história, com comentários de pessoas que aparentemente não entenderam o básico do que a história queria mostrar, ou ignorando de propósito, sendo muito comuns, e o que eu digo é: se você acha que o filme é raso em roteiro, história, temas, ou desenvolvimento de personagens, não é um problema do filme, é um problema de você não ter conseguido enxergar além das cenas de ação. Talvez um efeito de George Miller ter conseguido integra tão bem o aspecto visual do filme com a escrita, mas se ele tivesse interrompido mais o filme para ter diálogos, mas isso teria tornado o filme pior. Lindsay Ellis já fez um ótimo vídeo explicando porque estrada da fúria tem sim, um ótimo roteiro, com mais nuance e sutilezas que muitos desconsideram.
"Se eu tivesse 14 anos, iria gostar nessa correria sem nexo." - não, se você tivesse 14 anos, você iria gostar do filme somente pelas cenas de ação e pelas atrizes; se você fosse um garoto mala e pretensioso de 14 anos estilo "nasci na geração errada", você iria fingir que não gostou do filme por ser um filme de ação; se você tivesse maturidade de um adulto, iria entender melhor os aspectos que eu já citei acima, e não acharia que esse é um filme feito apenas para adolescentes.
"Mas teria sido melhor economizar 20% nas explosões e carros, e terem contratado uns roteiristas para trabalhar melhor a história. É muita pirotecnia pra pouca história." - Estrada da Fúria é um filme de ação, em uma franquia de filmes de ação, que foca, principalmente, em carros: se Miller tivesse economizado nas explosões e carros, não seria Mad Max. Existem argumentos muito melhores explicando que é um equilíbrio muito bom entre ação e história do que o filme ser "muita pirotecnia para pouca história".
"Achei a história um pouco pobre, muitas mentiras que incomodam e personagens mal construídos." - assistir a um filme de ação requer aceitar algumas coisas e Estrada da Fúria tem algo que é mais importante em um filme de ficção do que coesão externa, coesão total com a realidade, o que normalmente chamado de "verossimilhança": estrada da Fúria tem preocupação suficiente com coesão interna, ou seja, o filme estabelece as próprias regras de forma clara, e as segue. Estrada da Fúria é quase como um conto de fadas pós apocalíptico em uma ótica contemporânea, e isso faz muito bem.
"História nula, nada relevante." - Já expliquei porque a história definitivamente não é nula, agora, chamar uma história sobre escassez de recursos e luta contra opressão institucional de "irrelevante" é algo que acho que nem preciso responder.
"Achei que faltou um pouco de história, poderiam ter explorado mais o personagem principal Max." - já expliquei porque não faltou história, e o personagem do Max foi tão bem explorado no filme quanto poderia ser tirar o foco da trama.
"Quem era então o Mad Max?!!! Ahn? Quem? Puxa! Jurava que era ela.. rsrs tirando a brincadeira.. cá pra nós, ela fez tudo no filme, roteiro todo dela. E o tal do protagonista (coadjuvante dela), inexpressivo. Bom ator, mas não para ser um Mad Max." - outro tema recorrente nos comentários é o pessoal que parece não entender o que é a franquia Mad Max, e o que é o personagem do Max: com exceção do primeiro filme, Max sempre foi uma pequena parte de uma história maior, um coadjuvante em uma história onde o foco é sempre o ambiente e um grupo de pessoas que vivem nele. A conclusão é: se você se incomoda tanto com um filme onde o personagem titular não é o protagonista da forma mais tradicional, então a franquia não é para você.
"não tive saco pra ver até o fim mas me lembrou a Corrida Maluca... na poeira" - dois problemas do comentário: implicar que Estrada da Fúria é realmente muito parecido Corrida Maluca, e implicar que Corrida Maluca é ruim, quando é um clássico por um bom motivo. Corrida Maluca, inclusive, é claramente inspirado em um filme de comédia de 1965 chamado A Corrida do Século no Brasil, que também é muito bom, por sinal.
"Alimentação das fantasias de hétero topzera, basicamente." - isso pode ser dito a respeito de muitos filmes de ação, mas acho que não pode ser dito a respeito de um filme onde um dos temas centrais são mulheres liderando a luta contra um sistema patriarcal.
"Filme incrível que todo homem de verdade gosta!" - ilustrando equívocos, quem viu Estrada da Fúria e entendeu, e viu o perfil que fez o comentário em questão, sabe que o filme definitivamente não contempla esse sujeito, mas acho que é esperar muito que o sujeito que faz questão de mostrar para todos que é "machão tradicional" na internet, ou em qualquer lugar, vá entender mesmo o óbvio da mídia que diz gostar. Não, o filme não concorda com você, e esse é um dos motivos que o tornam bom.
"Só eu que não achei esse filme bom?" - claramente não, é só ler os comentários, e eu detesto esses comentário que têm "eu sou o único que...", porque não, você nunca é o único, pois existem mais de 7 bilhões de pessoas no planeta.
"Não consigo ver essa coisa toda pelo qual esse filme é tanto reverenciado, com alguns até chegando a dizer que é o melhor filme de ação desde o T2." - Esse é o clássico comentário que tenta diminuir opinião alheia de forma passivo agressiva. Muitos já deixaram razões bem claras do porque gostaram do filme, então quem não entendeu, ou não leu, ou está fingindo que não entendeu, ou tem algum problema com interpretação de texto. Eu acho T2 superestimado, mas nunca vou fingir que não entendo porque as pessoas gostam tanto, pois isso é bem claro.
"Uma homenagem a Bollywood bem razoável" - esse não faz sentido para qualquer um que já viu um filme de Bollywood e Estrada da Fúria.
"Bons efeitos práticos não compensam a história insossa e os elementos de crítica (hoje em dia) breguíssimos, quem ouve falar todo dia que a água potável vai acabar levanta a mão. Até toma algumas decisões interessantes com relação ao retrato das mulheres como força renovadora da nova geração, mas até isso acaba soando um pouco forçado; o feminismo, no caso, vem mais como uma tentativa de atualizar a franquia para a modernidade do que como algo intrínseco à narrativa mesmo." - faltou prestar atenção aí, novamente: o estopim do apocalipse é, claramente, uma crise de combustível, e não a escassez de água; o maior problema atual não é escassez de recursos, mas distribuição, e isso pode sim levar à escassez, e é um assunto que ainda é relevante, e se os recursos naturais continuarem sendo tratados da forma como são, nunca vai deixar de ser, então não vejo onde isso é brega; mulheres protagonizando uma luta contra a representação de instituições tradicionalmente masculinas, que o filme deixa bem claro que levaram à destruição do mundo, em grande parte, por atitudes que são tipicamente associadas à dita masculinidade tradicional, não é forçado na narrativa, é parte essencial, integrada, intrínseca. Tão intrínseca é, de fato, que tem muito metido a "machão" que eu vi deixarem comentários misóginos em outros filmes, mas parecem achar que são contemplados por esse.
"mad max era meu filme preferido! detestei esse remake!!! parecia aquele filme do cuba goding jr,eu acho que é fantasmas de marte. não gostei das atuações,não gostei da trilha sonora,achei muito caricatu." - provavelmente o sujeito confundiu Cuba Gooding Jr. com Ice Cube, que está em Fantasmas de Marte, embora os dois sejam bem diferentes, e Cuba nunca tenha sido um rapper. Até entendo não ter gostado das atuações, embora eu ache que elas tenham servido o filme bem, mas não gostar da trilha sonora, não sei o que dizer. Além do mais, esse filme não é um remake, não sei de onde saiu essa ideia.
"O visual de videogame acabou com o filme. E não dá para entender um "Mad Max" em que o Max tá mais para personagem secundário" - realmente curioso para saber onde a pessoa que deixou o comentário achou um jogo com visuais semelhantes, apesar de Estrada da Fúria ter muitos efeitos práticos, e o CGI que tem ser muito bem integrado: pessoa foi no futuro e viu um jogo feito na Unreal Engine 9, e não quer revelar. Quanto ao Max ser "personagem secundário", já expliquei isso.
"Todavia, começamos a perceber uma grande falha no filme: o roteiro de “Estrada da Fúria” é construído explorando as cenas de ação e sua coreografia, não o arco narrativo – ou seja, o “drama” é um fiapo." - como já explicado, só porque o filme consegue integrar bem roteiro em meio às cenas de ação, não significa que não tenha roteiro sólido; além do mais, se você assiste a um filme de ação para reclamar que ação foi uma grande parte da narrativa, eu não sei o que dizer.
"Otimo somente para os olhos, Enredo bem fraquinho." - já expliquei isso, parem com a ignorância proposital.
"O Max é totalmente dispensável no filme... quem aparece é a Furiosa e isso não seria ruim, se o nome do filme não fosse Mad Max." - listar todas as formas como Max foi relevante para a trama deixaria esse comentário bem maior, então o que eu posso dizer é que a resposta está no filme, bem óbvia para quem prestou atenção. Citando apenas um dos muitos exemplos: Max é quem propõem para Furiosa e as Vulvalini de tentar tomar a cidadela, ao invés de continuar no deserto, mudando os objetivos, e colocando em movimento todo o terceiro ato do filme. Além do mais, que tipo de argumento é esse que o filme não seria ruim se o nome não fosse Mad Max? O nome define a qualidade do filme? Star Wars é ruim porque não é uma guerra entre estrelas, mas sim entre a Rebelião e o Império? A Fita Branca é ruim porque a fita em si é só uma pequena parte do filme? Jurassic Park é ruim pelo fato da maioria dos dinossauros que aparecem no filme serem do período Cretáceo? Moby Dick é uma obra ruim por Ishmael ser o protagonista, e não a baleia? Alguns argumentos eu simplesmente não entendo.
"Não gostei da condução da história, faltou um pouco mais de profundidade, e o fato de um ator totalmente diferente do Mel Gibson interpretar o Max me fez perder o gosto." - já expliquei a parte da história, e quanto ao Mel Gibson, não sei onde faz falta: nunca foi um bom ator, e ele se revelou como um anti semita instável que basicamente só dirige filmes de propaganda.
"Me decepcionei um pouco, visto que não há enredo quase nenhum, apesar das semelhanças nos ambientes, veículos e figurinos." - já expliquei porque dizer algo na linha que história e roteiro são praticamente inexistentes é errado: não ter gostado é questão de opinião, mas dizer que história basicamente não é existe é objetivamente errado.
Esse foi longo, para mim foi terapia, desabafo. Lembrando que não gostar do filme é questão de opinião, ninguém é obrigado, mas existem argumentos mais ou menos embasados quando você quer ir além de "eu não gostei".
O Retorno da Maldição - A Mãe das Lágrimas
2.5 102Atenção: spoilers para um filme bem ruim com um roteiro sem sentido de 15 anos atrás; e também, não leu, mas reclamou do tamanho do comentário, e não do conteúdo, ao invés de ignorar e não perder seu tempo ou o meu, significa que é idiota e carente.
Não fosse eu saber, antes de ver um filme, que é o terceiro filme de uma trilogia do Dario Argento, eu não saberia que é um filme do diretor: esse filme não tem personalidade na direção ou fotografia, parecendo qualquer filme genérico de filme de terror do começo dos anos 2000 que passam no Space de madrugada. Como esse filme não consegue ter atmosfera através de direção, fotografia e trilha sonora como os anteriores, Argento apela para choque barato: esse filme é o mais gráfico e violento dos três, com bastante gore, e cenas de sexo e nudez gratuitos. A violência é tão frequente, e exagerada, que deixa de ser chocante, ao contrário dos filmes anteriores, onde era bem intercalado com o suspense, mas o que é bem questionável nesse filme é o uso de nudez. Eu não sou puritano, e entendo que isso pode funcionar, se bem executado, mas eu começo a imaginar que Argento não tinha bem em mente o que era melhor para o filme, no aspecto artístico, quando ele decide interromper a história para colocar uma cena de sexo entre duas mulheres que não é pouco explícita, e depois quando uma dessas mulheres tem talvez a morte mais cruel de qualquer personagem do filme (eu ainda não decidi se é pior ter dois olhos furados e depois morto, ou morrer enforcado nos próprios intestinos), enquanto sua parceira é obrigada a olhar. Perto do final do filme, Mãe Lachrymarum aparece, como acontece nos filmes anteriores e suas respectivas "Mães", mas ao contrário do que acontece nos filmes anteriores, ela aqui não aparece como uma pessoa muito velha, decrépita e deformada, mas sim como uma mulher jovem (a atriz tinha 27 na época), e totalmente nua. Já era meio evidente a forma como o roteiro em Inferno parecia arranjar desculpa para matar as personagens mulheres só para Argento colocar diversas atrizes que ele provavelmente achava bonitas no filme, mas aqui ele realmente não tentou fazer segredo em relação a algumas decisões que certamente não foram feitas em benefício da história.
Outro problema aqui é o roteiro, que nunca foi um ponto, nem nos filmes anteriores, mas Suspiria e Inferno tinham estilo e atmosfera, e parece que sempre foi a intenção de Argento de criar uma experiência mais sensorial onde estilo era a substância. Aqui, sendo o filme bem genérico, o estilo também é genérico, e o roteiro começa a fingir que a história importa agora, com personagens despejando exposição em várias cenas e referenciando os dois filmes anteriores, mas nessa tentativa acaba tendo a história mais bagunçada e sem sentido da trilogia. Eu consegui captar que tinha um culto envolvido, e que eles estavam matando pessoas por se oporem, ou simplesmente saberem a respeito, dos planos da Mãe Lachrymarium, mas parece que o filme desiste em se explicar e admite que tudo era uma desculpa para mostrar sangue, violência e nudez, mas sem estilo. As atuações também são ruins, ninguém é convincente, e tudo contribui para o filme parecer uma paródia do gênero, exceto que tenta se levar muito a sério. Bem ruim, o pior da trilogia por uma margem bem grande, mas acho que a franquia foi redimida com o ótimo Suspiria de 2018, um remake que supera mesmo o já bom original.
Avatar: O Caminho da Água
3.9 1,3K Assista AgoraDessa vez sai mesmo?
Armageddon
3.5 1,1KUma das primeiras lembranças que eu tenho de ver um filme nos cinemas, e eu não lembro de detalhes, mas lembro das sensações e dos pensamentos de forma vaga, que eram os mesmos que eu tive quando eu assisti filmes do Michael Bay no cinema, quando adulto: "isso é chato, eu tô cansado e quero ir embora". Os únicos bons aspectos do filme são aquela música do Aerosmith que muita gente adora, mas tem medo de admitir, e aquela parodia do Frango Robô que é um dos únicos quadros realmente engraçados do programa, mas isso nem é parte do filme em si.
Solaris
4.2 369 Assista AgoraAtenção: potenciais spoilers para um filme de 72 que é bem abstrato na mensagem.
Tarkóvski supostamente fez a primeira hora de filme ter um ritmo bem lento de propósito (e todo o filme tem um ritmo lento) para que os "idiotas" saíssem do cinema e só sobrassem apenas os realmente interessados. Tivesse Tarkóvski vivido tempo o suficiente para ver o surgimento das redes sociais, teria descoberto que não precisaria ter se esforçado tanto, porque aqui no filmow, por exemplo, é só você escrever um comentário um pouco maior que o "normal" que algum carente vem perder o tempo dele, e o seu, para mostrar que se orgulha da incapacidade de ler texto pequenos (porque "grande" para o filmow ainda é pequeno para qualquer outro padrão de texto) e simples, simplesmente respondendo que achou grande, e não leu. Não estou falando que quem não gostou de Solaris é idiota, porque é uma questão de opinião, e gosto é gosto, mas eu quero reforçar que quem perde tempo respondendo comentário "grande" simplesmente para dizer algo do tipo "muito grande, nem li", é, de fato, idiota, e também carente.
Solaris é o tipo de filme contemplativo que eu gosto, e que é excelente sci-fi, o tipo que usa o aspecto de ficção científica para gerar discussões atuais e relevantes a respeito da humanidade, e aqui os efeitos, cenários e conceitos apresentados são um panos de fundo para uma trama que envolve discussões a respeito do conceito de humanidade em si, o que significa "ser", crise de identidade, entre outros assuntos. Um filme tão contemplativo e carregado de diálogos funciona porque Tarkóvski tinha talento e sensibilidade artística para tornar mesmo o tipo de direção que seria tediosa nas mãos de outros interessante, com tomadas longas, e contínuas, e com atores muito bons que transmitem todo o significado das cenas através de expressões faciais e linguagem corporal. e uma trilha sonora que é bem russa, e bem melancólica. O filme tem várias tomadas bonitas, com um clima que, mesmo mostrando apenas paisagens, transmite bem os aspectos mais subjetivos dos personagens.
Por algum motivo, aparentemente porque Tarkóvski se manifestou a respeito, esse filme é muito comparado a 2001 do Kubrick, embora sejam filmes bem diferentes em execução, e embora eu ache 2001 muito bom, ainda prefiro Solaris, pois 2001 foi feito propositalmente hermético e abstrato porque Kubrick queria contar a história visualmente, e o filme, ao contrário do que acontece com a maioria das adaptações, foi escrito para acompanhar o filme, oferecendo respostas muito mais claras e mais diretas ao que era abstrato no filme, com as respostas dadas sendo de um nível que talvez não justifique todo o espetáculo do filme. Solaris, por outro lado, não necessita da leitura da obra original para que a mensagem seja passada, e a abstração e complexidade da são parte intrínseca da trama, pois é uma história que incorpora a complexidade do ser humano, suas dúvidas e medos, em determinadas situações. Não é um filme que precisa ser entendido totalmente para ser apreciado, sendo a atmosfera a própria incerteza transmitida pelos personagens parte da experiência. Solaris sofre com a questão da falta de recursos, mesmo para os padrões da época, e isso fica bem óbvio em alguns cenários, mas compensa tanto na forma como o roteiro aborda e desenvolve os temas, que como sci-fi, é muito melhor executado e mais efetivo que muitos filmes do gênero mais modernos e com grandes orçamentos, como o polido e tecnicamente impressionante, mas raso e superestimado Interestelar. Um filme que merece seu status de clássico, mas que não tem a popularidade de tantos outros filmes com o mesmo status, por ser inegavelmente um filme do Tarkóvski.
A Casa do Terror
3.0 363 Assista AgoraBem ruim, e não da forma "tão ruim que é bom", mas é ruim e chato: previsível, cheio de clichês e personagens idiotas de forma conveniente para o roteiro. Mesmo pra quem só quer ver um filme de terror com bastante sangue e "gore" e não levar a sério, esse não funciona, porque a maior parte dos efeitos são CGI ruim ou em cenas muito escuras para distinguir qualquer coisa. Esses filmes "slasher" de casa mal assombrada têm um certo apelo nostálgico para mim, mas não consegui me divertir com esse, e depois que acabou, fiquei surpreso em descobrir que foram só 90 minutos de filme, porque parece ter se arrastado por muito mais tempo.
O Projeto Adam
3.3 457 Assista AgoraAtenção: potencialmente spoilers para esse filme sessão da tarde. Outra coisa, eu deixei um comentário mais para baixo, mas aquele não é comentário de verdade, e é propositalmente daquela forma; relacionado a isso, não leu, mas reclamou do tamanho do comentário, e não do conteúdo, ao invés de ignorar e não perder seu tempo ou o meu, significa que é idiota e carente.
Todo mundo já falou que o filme é uma boa sessão da tarde, bem leve, com uma história bem previsível, um roteiro que é só desculpa para as cenas de ação e efeitos especiais, e uma premissa que é do tipo "não seria muito legal se...". Ainda não acho bom, porque é bem fraco mesmo comparado a outros filmes "pipocão" lançados na história recente, e Ryan Reynolds parece só conseguir interpretar o Deadpool em qualquer filme que aparece, e Mark Ruffalo e Jennifer Garner fazem uns personagens bem genéricos. Surpreso que o garoto atuou bem, e foi fácil se importar com ele durante o filme, mas isso não salva o filme.
John Wick 3: Parabellum
3.9 1,0K Assista AgoraAtenção: spoilers para um filme bem previsível de 3 anos atrás; e também, não leu, mas reclamou do tamanho do comentário, e não do conteúdo, ao invés de ignorar e não perder seu tempo ou o meu, significa que é idiota e carente.
Para mim, o pior da trilogia. O primeiro já é superestimado como filme de ação, ainda mais considerando que foi lançado na mesma década que filmes que são melhores exemplos do gênero, como Estrada da Fúria, The Raid 1 e 2, e Dredd, mas é o filme que entrega exatamente o que promete, com uma história simples que é só uma desculpa para Keanu Reeves encarnar o personagem em uma cenas de ação com coreografia decente, sem grandes pretensões. Eu também gostei do segundo, pois consegue expandir o universo da série de forma interessante, e com umas cenas de ação bem criativas, apesar de não tão bem pensadas quanto no primeiro filme.
Parabellum começa bem, com algumas das melhores cenas de ação da série, com John Wick usando cavalos e facas contra outros assassinos, e eu gosto quando filmes dispensam armas de fogo, porque tiroteios em filmes de ação na maior parte são bem manjados, e fazer os personagens não usarem armas de fogo forçam roteiristas, diretores e atores a serem mais criativos, e as cenas são bem executadas o suficiente que evitam aquele clássico problema de filmes de ação onde os inimigos atacam o protagonista um por um, embora não faça sentido. Depois do começo, infelizmente, o filme nunca chega no mesmo nível, por vários motivos: Parabellum parece muito apaixonado com o estilo da série, ainda mais que os filmes anteriores, a ponto de prejudicar o roteiro aqui, e acredita demais no "hype" dos fãs, tentando esticar demais uma história que nunca teve muita substância, para começar. O roteiro tenta transformar o que deveria ser uma história simples de vingança em uma espécie de épico, mas aqui é o ponto em que a série vira uma paródia de si mesma: cenas como o protagonista cruzando o deserto em uma espécie de jornada de redenção, ou que servem apenas para colocar atores conhecidos como Halle Berry e Angelica Huston como participação especial só servem para deixar o filme mais longo do que deveria ser, e agregam nada de substância à história nem ao universo da franquia; a cena de ação no deserto com a personagem da Halle Berry é a pior da franquia, cheia de CGI ruim, capangas que atacam os "mocinhos" um de cada vez, e umas escolhas de direção que fazem a cena parecer um jogo de videogame; a cena em que John Wick e o personagem do Lance Reddick precisam defender o Winston contra vários agentes do "cartel" (não lembro como chama a organização na franquia), cobertos de armadura, e John Wick precisa chegar bem perto para poder atirar por baixo das capacetes, é uma onde fica bem óbvio que os inimigos estão atacando o mocinho um a um, ao invés de fazerem o óbvio; a cena onde o protagonista luta contra dois capangas bem treinados tem uma coreografia legal, e uns visuais interessantes, mas sofre do mesmo problema que algumas cenas dos dois filmes anteriores, onde John apanha tanto que você começa se perguntar porque ele é considerado uma lenda, e como ele não morreu ainda.
Esse filme, em particular, também parece muito apaixonado com o estilo de diálogo da série, de forma que aqui são ainda mais presentes as cenas onde personagens tentam falar as coisas da forma mais estilosa e pretensiosa o possível, com pausas dramáticas e olhar arrogante, mas o conteúdo dos diálogos é sempre raso, e todos poderiam ser bem resumidos. O resultado disso tudo é que Parabellum é o filme mais longo da trilogia, e também o mais raso em termos de roteiro, onde estão claramente esticando uma premissa em nome de manter uma franquia. Fica ainda mais evidente o quanto estão explorando a premissa além do ponto onde tinha algo a oferecer, que esse último filme de uma trilogia não conclui a história de três filmes, e não é o fim de uma trilogia, surgindo com artifícios de roteiro simplesmente para que haja um quarto filme, e sabe-se lá mais quantos. Eu verei o quarto, porque consigo me divertir mesmo com apenas algumas cenas de ação bem coreografadas e estilosas, e consegui me divertir com esse terceiro, apesar de tudo
Animais Fantásticos e Onde Habitam
4.0 2,2K Assista AgoraO maior problema desse filme é a obrigação de ter alguma conexão com o universo de Harry Potter, e de ter sido escrito pela J.K. Rowling, sem filtros alheios. Eu gostei muito dos quatro personagens principais, todos bem escritos, bem atuados, carismáticos, com motivações bem claras, e a dinâmica entre eles torna o filme interessante. Eu gostei mais desses personagens do que qualquer um da série principal, e muitos já comentaram a respeito do protagonista Newt Scamander, um dos melhores protagonistas masculinos de qualquer filme da história recente, justamente por não ser um herói convencional, e ter profundidade, e carisma, para variar. Eu teria gostado muito mais do filme se fosse uma história sem grandes pretensões, focando somente nos quatro personagens e nas várias criaturas mágicas, mas parece que todo filme de alto orçamento criado atualmente tem a obrigação de criar uma franquia, então temos uma história envolvendo discriminação contra bruxos, uma espécie de instabilidade mágica, corrupção no ministério da magia, e um final que deixa um gancho de forma bem forçada, e não intencionalmente hilária. Todos esses aspectos mais sérios da trama são tão bem executados quanto em qualquer história do Harry Potter, ou seja, de forma bem ruim, e rasa, porque J.K. nunca foi uma boa escritora, e é especialmente ruim no aspecto de construção. Além disso, sabendo o que se sabe dela atualmente, ela escrever uma história onde uma das mensagens é que é errado discriminar e invalidar alguém por não se encaixar em normas sociais pré estabelecidas, soa bem hipócrita. No geral, é divertido e passa o tempo.
Coração Louco
3.7 544 Assista AgoraÉ muito chato escrever qualquer coisa sobre esses filmes lotados de clichês que ficam bem no limbo da mediocridade, sendo nem realmente bons, e nem realmente ruins, que eu vou até deixar uma receita muito boa de michelada aqui para quem interessar, para quem leu por acidente não sentir que perdeu tempo:
https://www.youtube.com/watch?v=khwfHYYTTFo
Os Bons Companheiros
4.4 1,2K Assista AgoraScorsese pode até ser um diretor superestimado com alguns dos fãs mais insuportáveis do cinema, mas isso não significa que não seja um bom diretor que fez alguns filmes muito bons, e Os Bons Companheiros é um desses que merece os elogios que recebe. A narrativa, baseada em uma história real, é muito bem construída e se beneficia muito de ser contada em primeira pessoa, nunca saindo da perspectiva do personagem do Henry Hill, mostrando a visão romantizada que ele tinha da máfia como garoto, e como isso vai sendo desconstruído ao longo do tempo, na vida adulta, e vai ficando cada vez mais claro a extensão do problema e o quão descartável ele realmente é aos olhos dos mafiosos que o atraíram com promessas de dinheiro, fama e falso companheirismo. Atuações muito boas do elenco principal, Liotta, DeVito e De Niro, e o resto do elenco faz um bom trabalho; fotografia, direção e edição que transmitem bem o ponto de vista do personagem e a natureza caótica da trama.
Duro de Matar: Um Bom Dia para Morrer
2.9 927 Assista AgoraComo alguém que gosta de cinema e sabe o valor do dinheiro, eu considero ir ao cinema para fazer algo menos que prestar atenção no filme, por pior que seja, desperdício do valor despendido no ingresso, por pior que o filme seja: eu nem levo comida, no máximo uma garrafa d'água sem gás,, e eu detesto que pipoca, uma das comidas mais ruidosas já criadas, é sinônimo de cinema para muita gente. Duro de Matar 5 é um dos dois filmes que fui ver no cinema, e acabei dormindo: acho que dormi pela metade, acordei no final, sem saber direito o que estava acontecendo na trama, e me importei nem um pouco com isso; a soneca, aliás, foi a única parte boa do filme.
Titanic
4.0 4,6K Assista AgoraO vídeo do RedLetterMedia sobre Titanic, feito na linha do Mr. Plinkett, resume bem como eu me sinto em relação ao filme: é um dos melhores filmes já feitos, e talvez o pior. Por um lado, Titanic é um trunfo cinematográfico no aspecto técnico, onde houve muito cuidado da parte de James Cameron e produção de fazer uma reprodução histórica bem fiel do famoso navio, com cenários, figurinos, e cenas bem dirigidas que misturam bem efeitos práticos e CGI da forma como os melhores filmes da década de 90 faziam, mostrando que cada centavo do alto orçamento foi bem aproveitado, de forma que o filme não envelheceu um dia desde 97. Por outro lado, Titanic tem um roteiro que é medíocre na maior parte do tempo, argumentando-se inclusive que é um aspecto que foi melhor executado em adaptações anteriores do evento, como Titanic de 1953 e A Night to Remember de 1958; romantiza muitos aspectos a ponto de falta de fidelidade histórica, como a real situação das pessoas de situação financeira mais precária dentro do navio, e muitos diálogos forçados referenciando um ponto de vista mais moderno e que é benefício de retrospectiva, como referência a Picasso e outros; um romance bem clichê, previsível, que já era batido na época, escrito por um sujeito que se casou cinco vezes; DiCaprio antes de "começar" a ser um bom ator (e um que eu acho bem superestimado até hoje; a escolha de fazer um filme sobre uma tragédia histórica que afetou muitas vidas focando em um romance batido entre dois personagens fictícios; todas aquelas cenas desnecessárias que passam no que era tempo presente, só para Cameron massagear o próprio ego e se inserir no filme como o personagem do Bill Paxton, e mostrar que ele tem acesso a equipamento avançado de exploração marítima. Titanic é um desses casos casos em que todos estão certos a respeito do filme, ao mesmo tempo, o que gera um certo equilíbrio. Minha opinião, como minha nota, são positivas, no geral: um filme tecnicamente impressionante que entretém o suficiente apesar da longa duração, mas que não oferece muito em termos de roteiro e outros detalhes para que eu queira ver novamente. A opinião em relação ao filme é, no geral, positiva, e isso é válido. O que torna o filme um pouco frustrante é que o final é a melhor parte, não por conta da quantidade de ação em si, mas porque mostra o verdadeiro potencial do filme, o que poderia ter sido: a escala do que foi a tragédia propriamente contextualizada, mostrando diferentes passageiros e tripulantes agindo como seres humanos em meio ao pânico; um pouco mais frustrante depois que eu descobri que alguns dos melhores momentos dessa cena são tirados diretamente de adaptações mais antigas. Cenas de ação com um pouco de elemento humano são o forte de James Cameron, mas com o foco do filme, na maior parte do tempo, em um único romance fictício e não muito bem escrito, nada antes dos momentos finais do filme realmente constrói para o que deveria ser o aspecto trágico da história.
Os extremos no caso levaram ao equilíbrio, mas ainda são extremos, e no caso desse filme, o pessoal do extremo positivo tem sido o mais chato. Muitos estão tentando dizer que o filme foi "injustiçado" ou "subestimado" por conta do extremo de opiniões negativas, que são uma minoria: bem vocais, mas ainda assim uma minoria. Sim, é exagero considerar um filme tão bem executado nos aspectos técnicos, e tão influente no cinema, como algo péssimo; por outro lado, também é exagero considerar um filme com um roteiro que é bem medíocre em vários aspectos, e tão cheio de exageros e conveniências, como uma obra prima infalível acima de qualquer crítica. Algumas coisas precisam ficar bem claras: um filme que ainda é terceira maior bilheteria de todos os tempos, mesmo com ajuste inflacionário, ganhou 11 Oscars, e que até quem não viu o filme sabe de cor My Heart Will Go On, e conhece algumas cenas principais, não é, de forma alguma, injustiçado ou subestimado; 4/5 não é uma média ruim para um filme. Acho muito engraçado os comentários do pessoal que só quer uma desculpa para reclamar do espantalho que eles consideram a "nova geração" para dizer que acham um absurdo filmes de super herói terem médias maiores, mas alguns pontos que são importantes ressaltar: tem muita gente mais velha que cresceu com HQ que gosta de filmes de super heróis, acreditem ou não; curioso a respeito de quais foram os critérios utilizados para comparar um romance de época que preza pelo realismo a alguns filmes onde pessoas soltam raios pelas mãos e têm que derrotar um sujeito roxo para concluir que ambos são semelhantes o suficiente para que seja injusto a nota de um em relação ao outro. Parece até que só pegaram "coisa popular da minha época que eu gosto" e "coisa popular dessa época que assumo que pessoas mais novas que eu gostam", e mais nenhum critério, e fizeram comparação. O engraçado, também, é que eu não vejo Titanic sendo comparado a outros filmes clássicos de época, como O Poderoso Chefão, E o Vento Levou, A Lista de Schindler, entre outros: filmes que não tiveram o mesmo orçamento que Titanic, mas são elogiados principalmente por roteiro e atuações, além de cenários e figurinos.
Outro ponto em relação à comparação dos filmes de herói: muitos consideram esse filmes como entretenimento "leve", ou "raso", descompromissado, e isso é verdade, e não existe problema nisso, mas na forma como o argumento é usado pelos fãs do Titanic dão a entender que o filme do James Cameron de alguma forma é diferente disso, mas na realidade, não é: um filme não é automaticamente inteligente e profundo por ter bons cenários, figurinos e algum cuidado com fidelidade histórica; aspectos como roteiro, personagens, diálogos, temas abordados e desenvolvimento da história são mais importantes nesse aspecto. Parte de realmente gostar de um filme, ou qualquer peça de arte, é aceitá-lo pelo que realmente é, e Titanic, inegavelmente, é um filme "pipocão" da década de noventa que foi, e ainda é popular, pela sua simplicidade, apelo universal e capacidade de entretenimento, e nesse aspecto se assemelha aos filmes de super herói que provavelmente o pessoal aqui pensou a respeito na hora de comparar; resumindo, se você chorou no fim de Titanic, não tem argumento para tirar sarro de quem chorou no final de Ultimato.
Interestelar
4.3 5,7K Assista AgoraAtenção: spoilers para um filme de oito anos que todo mundo já viu.
Década passada foram lançados alguns ótimos filmes de ficção científica que conseguiram equilibrar bem roteiros que tratavam bem de assuntos relativamente complexos da condição humana de uma forma acessível, tocante sem cair na pieguice , que não desrespeita a inteligência do espectador, e também não sacrificam consistência e espetáculo visual para isso: esses filmes são A Chegada, Blade Runner 2049, e Lunar. Interestelar é bom, mas tem alguns problemas típicos de filme do Nolan que impedem que seja mais do que isso, e que seja totalmente sólido como sci-fi.
Vou escrever aqui algo usando um termo que normalmente eu detesto, porque as pessoas adoram usá-lo para qualquer coisa sem se justificar, e provavelmente vai atrair certos comentários desagradáveis, mas o que se pode fazer? Nolan é superestimado, e vou tentar explicar bem o porque acho isso: apesar dos filmes dele serem ótimos no aspecto, ele geralmente também é encarregado do roteiro, e o problema é que, ou ele acha que os filmes dele são muito mais profundos e inteligentes do que são e não consegue transmitir as ideias e os temas de forma efetiva, ou não acredita na capacidade do espectador de entender o que ele tem a dizer então despeja tutorial, ou ele não sabe transmitir a parte emocional sem acabar com sutileza para isso. O resultado disso aqui em interestelar é que os aspectos da trama que são científicos acabam prejudicados pela mão pesada nos momentos mais emocionais, e os momentos mais emocionais são prejudicados pelo filme ser muito expositivo e pouco sutil. Claro, o filme trata de assuntos complexos e bem específicos de determinadas áreas da ciência, mas até levando isso em conta parece que o filme força a barra na exposição: eles inclusive explicam o conceito do buraco de minhoca exatamente da mesma forma que é explicado em O Enigma do Horizonte, filme do Paul W.S. Anderson, o diretor das adaptações de Resident Evil, e um filme que não tentava ser inteligente, e só queria usar um verniz de sci-fi para justificar o terror. Um aspecto positivo é que apesar da exposição exagerada, Interestelar não comete os mesmos erros de A Origem e Tenet, que é encher o espectador de tutorial apenas para quebrar as próprias regras estabelecidas durante a ação e não explorar outros conceitos, pois o roteiro é bem consistente no aspecto científico, provavelmente porque é baseado em ciência de verdade, e não só um conceito que Nolan achou que daria uns visuais legais.
Bom, na questão do filme não seguir as próprias regras, já não tenho tanta certeza. O problema começa quando, mesmo depois do compromisso que o filme tem com o aspecto científico, e depois de toda essa promoção do esforço que a equipe de computação gráfica teve em renderizar um buraco negro cientificamente comprovado, e o resultado é realmente lindo, e fora do comum, o roteiro basicamente tenta martelar na sua cabeça que o amor vai salvar o dia: eu não sei quantas vezes uma variação da frase "o amor é o sentimento que transcende tempo e espaço", mas uma vez teria sido demais. Eu não tenho certeza a respeito daquela cena em que o Cooper volta no tempo em uma versão em miniatura para alertar a si mesmo por código sobre o futuro, porque literalmente ouviu a voz da filha através do tempo e espaço, mas parece forçar o aspecto científico que o filme tomou tanto cuidado para manter. Eu não deveria ter tanto problema com isso, porque eu acho que o uso de tempo e espaço pode gerar histórias bem tocantes, e esse é o caso do final do filme, quando Cooper reencontra com a filha, mas o que me incomoda aqui: Futurama já fez isso antes, e melhor, de uma forma não pretensiosa que não tenta te fazer pensar que é a coisa mais importante do mundo; o "poder do amor" parece funcionar só para o protagonista buscando a filha, porque quando a mulher da tripulação tenta usar a justificativa para ir atrás de alguém que ela ama, o filme a mostra como muito emotiva, e as decisões dela acabam prejudicando a tripulação. Eu só quero deixar claro as camadas aqui: toda essa história de "poder do amor" é inconsistente com o que filme tentou estabelecer até o momento; esse "poder" não funcionar no caso da mulher é inconsistente com ele funcionar no caso do protagonista, e de forma que sinceramente, faz essa parte parecer machista. O filme já era bem datado e piegas nesses aspectos logo quando foi lançado, mas A Chegada, que foi lançado só uns dois anos depois, aborda assuntos semelhantes na questão de empatia e união (que podem ser considerados "amor", dependendo do contexto), com uma protagonista que consegue resolver o problema com a ajuda de vários cientistas de outras nações, e onde os homens fardados de visão limitada ao seu redor são mostrados como um empecilho mais que uma ajuda, e a atitude americana de atirar antes de fazer perguntas se mostra prejudicial, Interestelar parece aInda pior em comparação. Eu comparo muito os dois porque existem vários comentários a respeito de A Chegada que parecem não ter entendido o filme, e não porque o roteiro é complexo, porque não é, e falta de entendimento por conta disso não é um problema, e é facilmente resolvido, mas parece ser por uma falta de capacidade de empatia, recusa em aceitar a mensagem do filme, e crítica aos elementos que fazem o filme bom sci-fi. Para mim, e para muitos, o bom filme de sci-fi (que se aplica a obras, também, menos no aspecto visual), que é atemporal, é mais que bons efeitos e cenários, e mais que acurácia científica, mas é também uma reflexão a respeito da natureza humana que é a mais universal, e mais empática o possível, sem sacrificar o aspecto científico.
Analisando alguns temas que Interestelar deixa não tão implícitos, além dos aspectos puramente científicos. parece que o que filme quer mostrar é: só os americanos podem salvar a terra da escassez de recursos: claro, vamos ignorar de forma conveniente que a cultura baseada em corporativismo predatório deles é o principal problema na questão de recursos mundiais, e ignorar também que não é realmente um problema de quantidade, mas de distribuição, porque algumas poucas nações, em particular Estados Unidos e seus excessos, têm acesso desproporcional a recursos, e buscam manter o status quo, e isso pode sim levar a uma escassez, se não tratado antes; vamos ignorar também o absurdo que seria acreditar que uma missão para colonização espacial e obtenção de recursos fora do planeta seria algo predominantemente americano, e sinceramente isso deveria ser bem óbvio, mas caso fique a dúvida, a explicação requer algumas aulas de história e economia internacional, e não vou fazer isso aqui. Além do primeiro ponto (que já foi uma tangente), a outra mensagem é que ciência é algo muito interessante, mas no fim das contas é o poder do amor que salva o dia, mas só se você um homem buscando sua filha, porque se você for mulher, é sentimentalismo barato que prejudica a missão. Já seria válido criticar o filme por conta desse protagonismo forçado dos EUA que é muito presente em filmes sobre o fim do mundo, simplesmente porque eles basicamente controlam a indústria cinematográfica, então boa parte dos filmes têm um aspecto de, ou são totalmente, propaganda, e por conta desses "apitos de cachorro" que esses diretores ficam enfiando em filme, mas esses temas impedem Interestelar de ser um bom sci-fi, apesar de ser um filme competente, na maior parte do tempo. Os motivos são que isso entra em conflito com os aspectos mais realistas da trama, e são inconsistentes em si mesmo; outro é que não tem o aspecto da universalidade, ao dar o protagonismo da resolução de um problema mundial a uma única nação (e isso também vai contra a parte "científica" de "ficção científica). O filme sequer mostra, visualmente, de qualquer forma convincente, o estado em que o mundo supostamente se encontra: é um problema mundial, supostamente, mas o pouco do filme que se passa na Terra mostra umas paisagens típicas do interior dos Estados Unidos, e os interiores de uma instalação espacial. Todo mundo adora falar do quão impressionante é que Nolan não quis fazer milho em CGI para a cena do drone, então ele mandou plantar tudo só para poder passar com o carro naquela cena, e vendeu o restante com lucro, mas o que as pessoas deveriam estar se perguntando é qual que foi o propósito, para o filme, se preocupar tanto em mostrar plantações de milho no meio oeste estadunidense (ou onde quer que seja isso) em um filme que trata de um problema mundial: se o propósito era estabelecer contraste entre o passado "próspero" e o futuro cheio de pó, teria sido mais efetivo mostrar o antes e depois de algumas florestas e outras paisagens naturais de países que têm mais cuidado nesse aspecto, como Nova Zelândia e Costa Rica; ou ainda mostrar a Floresta Amazônica soterrada em pó, considerando que ela se conecta ao território de mais de um país, e seu papel no clima mundial é muito maior que apenas na América Latina, e eu realmente queria que o prospecto da Floresta virar cinzas fosse só ficção. Do modo como é colocado no filme, com campos de milho se estendendo em uma paisagem tipicamente americana com condições de iluminação perfeitas para o "efeito nostálgico", pareceu desnecessário e estadunidense demais. Esse filme quer muito ser 2001 do Kubrick, mas tem muito mais do Armageddon do Michael Bay que muitos gostariam de admitir.
Interestelar não é um filme ruim, e onde acerta, que no caso são visuais, efeitos, e a maioria das atuações, acerta bem (mas os personagens são rasos), mas isso outros filme lançados antes e depois também têm, além de roteeiros muito superiores, mas além da superfície, apresenta problemas e inconsistências que ficam ainda mais óbvios e mais difíceis de relevar pelas expectativas de um sci-fi, pelo menos para mim. Tem alguns visuais marcantes, e uns aspectos do roteiro que eu gostei, mas ao contrário dos outros filmes que eu citei, esse eu não tenho vontade de ver mais de uma vez.
Drácula de Bram Stoker
4.0 1,4K Assista AgoraPara mim, foi meio decepcionante, pois embora o filme tenha tenha suas qualidades, especialmente em questão de cenários e figurinos, pois é um filme de época dirigido pelo Copolla, afinal de contas, e as atuações do Gary Oldman e do Anthony Hopkins praticamente carregam o filme, mas acho que o filme tem uns problemas bem difíceis de ignorar. Um deles é que Winona Ryder e Keanu Reeves é uma das piores combinações possíveis de par romântico para um filme. Ambos são atores que funcionam bem em contexto específicos, mas dificilmente alguém vai considerá-los bons atores, de uma forma geral, e infelizmente esse contexto não é em um filme de época do Copolla: junta a falta de expressão do Keanu com a mesma atuação que Winona faz em qualquer filme, que sempre parece meio forçada, e juntos eles têm zero química, e individualmente, não conseguem carregar suas partes da trama. Eu me importei tão pouco com o o que acontecia com eles, que deveria ser o conflito central da trama, que eu teria considerado o filme muito pior não fosse Anthony Hopkins aparecendo perto da metade do filme para interpretar uma versão bem do Van Helsing que gosta de um humor sombrio para dar um pouco de vida ao filme.
Outro problema foi a questão dos temas da história: eu não li o livro ainda, mas sei que o aspecto de terror do Drácula deveria vir do personagem ser uma metáfora bem direta de como a aristocracia era tirana, violenta, e usava a força vital da população em geral para sustentar seus excessos, algo que ainda pode ser aplicado no cenário atual, então porque esse filme tenta mostrar Drácula como um sujeito injustiçado de coração partido? A obsessão de Drácula com Mina, para ter adequação temática, deveria ter nada de romântico, mas deveria servir apenas para reforçar o aspecto possessivo e predatório do conde, mas o filme fica alternando entre um e outro. Provavelmente alguém vai me acusar de estar "pagando de cult", ou outro insulto vazio que o pessoal daqui adora, mas eu considero Nosferatu de 1922 e o Drácula de 1931 filmes superiores a esse.
007: Sem Tempo para Morrer
3.6 564 Assista Agora007 foi um desses filmes lançados recentemente que foi inicialmente recebido com o choro estridente de homens medíocres que nunca amadureceram além da fase do "proibido garotas", e tratam cinema como seu próprio clubinho, achando que deixarem mais pessoas entrarem, vão pegar sapinho, ou algo do tipo. Nesses casos, é preciso ver o filme para saber se é realmente ruim e o choro está bloqueando os reais problemas, ou se é bom. O filme não é tão ruim quanto os homens adultos de barba mal feita e com aversão a banho que ganham a vida reclamando de representatividade em filmes fazem parecer, mas ainda assim tem uma série de problemas que o impedem de chegar ao mesmo nível que Casino Royale e Skyfall; ainda é um filme com melhor roteiro e atuações que qualquer um da era Connery, ou Moore, mas isso não é dizer muito. Um dos melhores aspectos do filme, e um que obviamente incomodou a galerinha "raiz", é que essa é retratação mais madura do personagem até o momento, com menos dos excessos e infantilidades que infestavam tanto a era clássica do personagem, e uma certa crítica e comentários que começaram a ficar comuns na era Brosnan. Esse mesmo pessoal chiou horrores quando viram que o novo 007 do filme é uma mulher, porque aparentemente se esqueceram que esses números são apenas um título, e no filme ela nem é mostrada como superior ao Bond, e eles dispensam discussões infantis e desnecessárias que são comuns em outros filmes e rapidamente chegam a um respeito mútuo: a dinâmica é menos o que tipicamente vemos em filmes do personagem, e mais próximo de algo como Mad Max e Furiosa, e tudo bem, por mim.
O problema do filme é querer ser muita coisa ao mesmo tempo: a era Craig introduziu um tipo de continuidade na franquia que não existia antes, então o filme tem o objetivo de concluir a história da Vesper em Casino Royale, as pontas soltas deixadas em Spectre, e ainda quer introduzir um novo vilão ligado ao passado da Madeleine, com uma nova motivação e um plano mirabolante, enquanto também tenta dar uma conclusão ao protagonista da era, de uma forma também que nunca foi feito antes. O resultado é um filme de 2h40m que ainda parece corrido, e com tons dissonantes, pois quer ser o Bond mais sério e realista da era Craig, mas também quer ter um pouco do tom irreverente que envolve pseudociência mirabolante da era Brosnan, e ainda quer encaixar umas pitadas do Bond clássico. É tudo tão apertado que Ana de Armas, que foi bastante promovida como uma personagem do filme, aparece do nada, e desaparece pouco tempo depois, o que é uma pena, porque a cena com ela é uma das melhores do filme. As atuações são boas, mas o filme é tão cheio de personagens que o elenco tem pouco tempo para brilhar, individualmente, e as cenas de ação são muito bem dirigidas, mas acabam tomando muito tempo em um roteiro que já é carregado. O filme também permite alguns absurdos na escrita que Casino Royale e Skyfall fizeram esforços para evitar: o plano de Spectre para matar o Bond no filme necessita que muitos detalhes funcionem, e é cheio de falhas em potencial, o esquema da nano máquinas é muita explicação para algo que não é demonstrado de forma efetiva no filme, a cena da neblina, embora visualmente interessante, vira piada com a burrice dos motoristas, e o terceiro ato envolve muita repetitividade em uns cenários pouco interessantes. O filme mais visualmente interessante e variado de toda a franquia é Skyfall, por conta da fotografia de Roger Deakins, e eu realmente teria gostado que ele tivesse trabalhado em todos os filmes da era Craig. No fim das contas No Time to Die está longe de ser um dos piores filmes da série, nem é o pior da era Craig, é uma bagunça em vários momentos, e mais longo do que deveria, mas entretém o suficiente e encerra a era de forma satisfatória. Comparado ao padrão que se espera da série, é mais que suficiente. Um outro aspecto que eu gostei, para encerrar:
depois de vários títulos com "morte" e "morrer" na franquia, esse é o primeiro em que James Bond realmente morre.