Era 2020… o mundo estava sendo brutalmente invadido pela pandemia de covid-19 que naquela época era uma doença ainda desconhecida e que solicitava como medida emergencial o isolamento social. Eu tinha acabado de perder meu emprego de anos e estava então nessa fase, elaborando o desemprego e assombrado pelo combo brasileiro da crise sanitária que ocorria em meio a uma crise política, econômica e, portanto, humanitária.
Algumas plataformas e redes de cinema tomaram a iniciativa de fornecer ao público em isolamento social, transmissões gratuitas de filmes em diferentes circuitos e, em alguma dessas iniciativas, a qual já não me recordo, conheci Agnès Varda através de seu Visages, Village. Foi um encantamento à primeira vista! Aquela que seria a sua penúltima obra audiovisual me ofereceu afeto, conforto e me apresentou essa singular cineasta da qual passei a me interessar.
Pois bem… acabo de assistir Agnès Varda: From Here to There (2011) que é uma espécie de minissérie documental com cinco episódios (ou crônicas, como ela nomeia). Com ares de associação livre, Varda abre seu imaginário e faz dele uma belíssima exposição de arte que será exposta em cada uma dessas crônicas. É como se ela abrisse sua mente para uma visitação guiada, algo que remete um pouco a Godard, exceto pela generosidade em nos incluir em sua viagem.
A experiência remete a uma associação livre na medida em que Varda sempre se utiliza de associações entre um elemento e outro similar para dar movimento e construção a sua narrativa, rompendo as barreiras do espaço e do tempo no material que é entregue ao telespectador. Com uma longa trajetória de tela, Varda montou em sua vida profissional, um imenso acervo audiovisual e, portanto, consegue recuperar desse acervo, gravações que vão dar suporte às memórias que pretende resgatar, colocando-as em associação a algo que ela está criando ali, naquele momento ou com algo que ela manifesta, em forma de desejo, a intenção de criar. E assim, o telespectador volta para a década de 50 e no minuto seguinte já está posicionado nos anos 2000. Ou ainda, está em algum país estrangeiro observando uma equipe que realiza a poda das árvores urbanas e, no mesmo minuto, estará no Brasil com outra equipe realizando a mesma atividade.
Apenas para ilustrar com um exemplo o espírito de associação livre que toma conta da obra de Varda, há uma peça de arte que aparece em uma de suas crônicas que é uma cabana que apresenta uma chuva interna. Após explorar essa cabana que está chovendo, ela cuidadosamente transporta o telespectador, através do movimento esboçado na janela de um automóvel, para um dia de chuva na rua em uma cidade portuguesa, enfeitando a cena com um fado de Amália Rodrigues. Nessa transição, ela brinca com as formas que a água faz na janela desse automóvel que está transportando o telespectador e pára ao avistar pessoas pulando uma enxurrada. À partir dessa cena, Varda reflete o conceito do “momento decisivo” de Cartier-Bresson e começa a divagar sobre o movimento e o não movimento, o cinema e a fotografia, a duração e o instante. E assim ela vai transitando, se utilizando de obras autorais, filmes de outros cineastas, músicas, artes plásticas, animações e histórias.
Movimento seria um bom significante que sintetizaria essa minissérie documental. Em alguns momentos há, no entanto, o desejo de parar um pouco e caminhar solo, contemplando e tensionando as reflexões que a cineasta nos direcionou. Por diversas vezes eu me senti emocionado sem saber expressar em palavras o afeto que me tomou. Movimento e pausa… Varda brinca muito saltando de um significante para outro, montando o movimento em peças estáticas e retirando o instante daquilo que era puro movimento. Cria antíteses na representação de opostos, em um salto da morte para a vida ou da violência para a paz. A sensação é de que cada trecho de “From here to there” poderia ser aprofundado em algum outro documentário à parte, tamanho o volume de informações, obras, pessoas e ideias que são ali apresentadas.
Nas narrativas desenvolvidas por Varda, ela conta muito de sua vida através dos laços desenvolvidos com pessoas e lugares ao redor de todo o mundo e apresenta em tela uma enorme capacidade de sintetizar a essência dessas relações. Varda quer nos mostrar obras e ideias que nos coloquem em movimento: ela rompe a todo momento com as expectativas, quer nos mostrar o que é desejo, produzir sensações, fazer emergir a poesia em forma de palavras ou imagens. Em resumo, Varda quer fazer emergir o inusitado, levando às últimas consequências uma frase que ela mesmo nos diz: “A arte é ilimitada. A arte é uma festa. A arte é uma feira”.
Algo que a cineasta faz muito bem é extrair o mais belo e instigante de cada peça que nos apresenta. Outra marca de Agnès Varda é a generosidade que se reflete no tom de voz fraterno com o qual ela dialoga com cada pessoa que se coloca em seu caminho, sobretudo com o telespectador. Nas crônicas de Varda, ela dispensa as legendas que poderiam economizar tempo ao nos informar os nomes dos lugares e das pessoas que compõem a cena. Varda faz questão de nos apresentá-los com a sua própria voz, algo que nos aproxima e nos enche de ternura. E como a sua obra é construída em cima de memórias, muitas vezes suportadas na relação com outras pessoas, ela se esforça para dar visibilidade e voz a esses outros criadores, de modo fornecer ao telespectador a intenção, o sentido e o processo da construção de cada obra de arte.
Na segunda crônica da minissérie, Varda conta um pouco sobre suas passagens no Brasil, em contato com familiares de Glauber Rocha, com Copacabana e Ouro Preto de outrora em conexão com a energia vibrante de pescadores em Fortaleza 40 anos depois, que fazem festa com a presença da cineasta entoando os versos: “sorria que eu estou te filmando, sorria o coração tá gravando”, algo que inusitadamente dá muito sentido ao trabalho que ela faz.
Varda nos presenteia também com ideias que se esbarraram na impossibilidade, contando de sua intenção e nos mostrando o que coube ser representado na realidade, deixando à cargo da nossa imaginação preencher a lacuna que atingiria o ideal que ela apontou. “From Here to There” é uma obra que convoca a nossa participação e portanto, a experiência de cada um será singular.
Antes de dar o play em “Agnès Varda: From Here to There” observei a duração que apontava para quase 4 horas de conteúdo e eu pensei na impossibilidade de sustentar meu interesse por tanto tempo. Acontece que a minissérie documental não tem um auge ou um grande clímax. Ela é esse clímax o tempo todo e a cada micronarrativa que se fecha o telespectador já estará imerso em alguma outra que já se abriu. A divisão em cinco episódios permite que a obra seja assistida em cinco etapas, mas não será estranho se você sentir desejo de maratona-lá em apenas uma sentada. E se você topar esse convite de Varda em viajar pelo seu imaginário real, tenha certeza que ganhará uma experiência inestimável. Varda oferece, nessas quase quatro horas, peças inimagináveis que toda a experiência de uma vida impossibilitaria conhecer. É uma minissérie que muitos deveriam se dar de presente.
(Este texto foi redigido para o Rascunhagem. No ato da escrita, realizada em fevereiro de 2023, a minissérie Agnès Varda: From Here to There está disponível no Brasil através da plataforma de streaming Mubi.)
Vou defender essa temporada. Mantém a mesma qualidade das outras, mesmo não conseguindo se aprofundar na discussão proposta. Imagino que se fosse a primeira temporada da série, estaria todo mundo impactado e tal. Ousou nos episódios USS Callister e Metalhead, fez um San Junipero 2.0 (Hang the DJ) e finalizou com um episódio que homenageou a própria obra , o Black Museum .
Crocodille e Arkangel achei mais fracos, este último faltou aprofundamento e foi irresponsável na abordagem do tema proposto. Poderia ter se amparado mais na psicologia para construção da relação mãe e filha.
Muito legal ver séries de outros países ganhando popularidade. Ponto para Netflix que está investindo nessa empreitada. Falando da série em si: o roteiro é o melhor? não! tem alguns furos e fraquezas explícitos. Mas a série é interessante, cresce com o decorrer da temporada e cria uma boa expectativa pra uma segunda temporada.
Fiquei bastante empolgado na primeira metade da temporada. Uma série com uma sinopse bastante similar à branca e magra Brothers And Sisters, mas ao mesmo tempo, tão diferente, pela mistura de linhas de tempo (presenta-passado) que dá dinamismo à história, e pela diversidade de elenco, que trata de importantes questões étnicas e tem uma personagem obesa retratada com profundidade, sem ser alívio cômico de roteiro.
A segunda metade da temporada diminuiu bastante minhas expectativas. Não sei se This is Us tem história para muitas temporadas, talvez preferisse que tudo fosse contado com profundidade em uma temporada só. Espero estar enganado!
Temporada mais interessante da série, onde tivemos menos distrações e a questão do Normam foi abordada com mais profundidade. Como telespectador tive as mesmas sensações de uma convivência real próxima a um paciente psiquiátrico, que é passar pelas fases de ódio pelas merdas que a pessoa faz, seguida de empatia por entender que ela não tem culpa de sua condição. As cenas na terapia para mim foram as melhores, com tanto funcionamento destrutivo no relacionamento Norma e Sam, era impossível que a personalidade do Norman se formasse de maneira saudável.
A morte da Norma, apesar de previsível, foi dolorosa e perturbadora de assistir. Desejo tanto que o Dylan e a Emma permaneçam longe vivendo um possível final feliz. E as expectativas estão altas para a quinta e derradeira temporada, que poderá ser um remake extendido do Psicose.
3% sendo a primeira série brasileira com uma grande logística de investimento e distribuição mundial. Nascida de um piloto exaltado e "perdido" na internet, agregando em seu elenco um monte de atores desconhecidos e utilizando um formato bem no estilo seriado americano. Deu mais que certo, para uma primeira experiência deste porte. O roteiro é fraco, não dá pra negar. Mas o desenvolvimento consegue ser cativante, e a 3% acaba prendendo o telespectador. Os atores estão bem na maioria do tempo, mas se mostram pouco flexíveis a medida que as cenas pedem algum aprofundamento emotivo. O cenário e a direção são bem satisfatórios e a distopia como toda boa distopia, pode ser encarada como uma metáfora da nossa realidade. O formato de inserir flashbacks de construção dos personagens em cada episódio, recurso abusado nas séries americanas (vide lost, orange is the new black) funciona bem em 3%.
Aposto numa segunda temporada mais madura, não tão experimental mais, e tenho a expectativa que 3% inspire e abra portas para o formato de seriados no Brasil.
Estou sem inspiração pra escrever a respeito, mas Westworld foi uma grata surpresa neste 2016. Principalmente no início de seu desenvolvimento, fui invadido por um emaranhado de questionamentos, muito a respeito de ética e humanidade. Anseio pela segunda temporada.
Amor e ódio pela temporada. Achei impecável até o quinto episódio, não gostei do que fizeram no sexto e sétimo episódios (que serviram como um reajuste nas expectativas) e acredito que dentro da nova realidade, terminou bem. De todas as temporadas de American Horror Story, esta é minha terceira favorita, ficando atrás apenas de Asylum e Murder House.
Poderia conversar durante dias e mais dias sobre esta série, que é meu nome favorito neste formato. Já havia assistido as duas primeiras temporadas e aguardei com ansiedade a liberação de novos episódios pelo serviço de streaming Netflix. Não fiquei nada decepcionado com a nova remessa. Como nas outras temporadas, alguns episódios pegam mais que outros, e é muito pessoal classificá-los como bons ou ruins. Sendo vendida como uma série abordando distopias onde algum aterfato tecnológico futurístico classifica as interações sociais, basta tirar tal tecnologia para nos reconhecermos ali, exatamente como estamos vivendo agora. A condição humana é bem explorada, de forma ousada até, considerando o formato de séries. Poderia ser mais aprofundado, mas já é um passo considerável ver esta abordagem. A começar pelo primeiro episódio, é chocante se reconhecer na personagem central. Na era do caça likes, com alguns exageros (que tiram um pouco o brilho do episódio) vemos toda hipocrisia diante às relações passíveis de avaliação. Seria esta uma realidade muito distante? Quando pensamos na interação do Uber, onde a avaliação é mutua, nos processos de feedback dentro das empresas e formulários de avaliaçao de serviços (principalmente de telemarketing) nos vemos com tal poder. Talvez este venha a se tornar o episódio mais óbvio da série. Prosseguindo com a temporada, temos um episódio que serve como uma grande homenagem ao terror psicológico, onde games de realidade bastante aumentada são testados. De início senti falta em enxergar alguma crítica social, mas depois que tirei fora esta expectativa - pois Black Mirror permite isto - passei a encarar o episódio de maneira melhor. O episódio 3x03 aborda nossa vulnerabilidade em ambiente virtual e aprofunda uma reflexão sobre justiça. Gostaria de ver a questao da pedofilia mais aprofundada, já que tocaram neste assunto. Logo depois, veio meu episódio favorito da temporada, San Junipero, mostrando que podemos aproveitar a tecnologia de maneira também benéfica, apresentando um conceito de vida eterna. Final Feliz? Sim e não. Mérito do episódio colocar entre os personagens centrais, uma protagonista negra e bisexual. Representatividade importa sim!. Não poderia deixar de comentar a cativante trilha e direção impecável. Para quem já assistiu San Junipero, recomendo uma revisita ao episódio. Assisti-lo em uma segunda oportunidade, dá um resignificado bastante interessante, e é onde percebemos as peculariedades do roteiro, como quando a Yorkie se recusa a jogar o game de carros. Depois do belíssimo San Junipero, vem um episódio apostando na temática militar, apresentando um conceito bastante explícito de nazismo, preconceito, na formaçao de uma sociedade "pura", livre de certas características. Quem não tivesse o privilégio de nascer dentro de um padrão, era visto como "barata" e vivia de forma marginalizada, podendo ser abatido a qualquer hora, como baratas realmente. O sexto, e meu episódio menos favoritos apresenta uma questionável justiça ao jorro de ódio virtual.
Enfim, assistindo esta temporada, só deu vontade de ver os outros 6 episódios que já foram encomendados à Netflix.
Os efeitos especiais são horríveis, mas aos poucos esta precariedade se transforma no charme da série. Doctor e Rose possuem uma dinâmica fantástica. O fascínio do Doctor ao se deparar com novas descobertas é contagiante. Alguns personagens extraterrestes (Daleks, Cassandra) apesar de posicionarem como vilões, são bem queridos à história. Série desprendida de grandes reflexões, do tipo para passar o tempo.
Orange Is the New Black fez sua melhor temporada. O roteiro da série pode nem ser o mais primoroso, mas a representatividade que ela dá ao ter um elenco de mulheres reais, longe da hollywoodização das séries americanas, com negras maravilhosas e poderosas, latinas, gordas, trans, orientais e mulheres idosas; todo o girl power envolvido e quiçá a denúncia da hipocrisia do sistema carcerário americano, são fatores que valem a existência da série. Aguardo com ansiedade pela próxima temporada.
Esse episódio trata-se de uma perfeição no mundo seriador. Por ter tempo que já o assisti, não vou conseguir fazer uma resenha fiel ao acontecido. Mas lembro que achei fantástico o roteiro, em como a série abordou de forma literal o "ser escravo de si próprio", a idéia da invisibilidade pós período carcerário. Seria diferente no mundo atual e não tao tecnológico quanto o ambiente da série? Qual perspectiva tem alguém que cumpre um período na prisão e não é privilegiada?
Esta segunda temporada reforça nossa aproximação aos personagens, introduz a Weaver, mostra um lado mais familiar e sensível da Susan, desdobramentos da vida pessoal do Doctor Green, um drama na vida da Jeanie (que passa a ser fixa no elenco) e um grande desenvolvimento do Carter. Estou ansioso pela 3ª temporada.
Agnes Varda: From Here to There
4.4 4 Assista AgoraEra 2020… o mundo estava sendo brutalmente invadido pela pandemia de covid-19 que naquela época era uma doença ainda desconhecida e que solicitava como medida emergencial o isolamento social. Eu tinha acabado de perder meu emprego de anos e estava então nessa fase, elaborando o desemprego e assombrado pelo combo brasileiro da crise sanitária que ocorria em meio a uma crise política, econômica e, portanto, humanitária.
Algumas plataformas e redes de cinema tomaram a iniciativa de fornecer ao público em isolamento social, transmissões gratuitas de filmes em diferentes circuitos e, em alguma dessas iniciativas, a qual já não me recordo, conheci Agnès Varda através de seu Visages, Village. Foi um encantamento à primeira vista! Aquela que seria a sua penúltima obra audiovisual me ofereceu afeto, conforto e me apresentou essa singular cineasta da qual passei a me interessar.
Pois bem… acabo de assistir Agnès Varda: From Here to There (2011) que é uma espécie de minissérie documental com cinco episódios (ou crônicas, como ela nomeia). Com ares de associação livre, Varda abre seu imaginário e faz dele uma belíssima exposição de arte que será exposta em cada uma dessas crônicas. É como se ela abrisse sua mente para uma visitação guiada, algo que remete um pouco a Godard, exceto pela generosidade em nos incluir em sua viagem.
A experiência remete a uma associação livre na medida em que Varda sempre se utiliza de associações entre um elemento e outro similar para dar movimento e construção a sua narrativa, rompendo as barreiras do espaço e do tempo no material que é entregue ao telespectador. Com uma longa trajetória de tela, Varda montou em sua vida profissional, um imenso acervo audiovisual e, portanto, consegue recuperar desse acervo, gravações que vão dar suporte às memórias que pretende resgatar, colocando-as em associação a algo que ela está criando ali, naquele momento ou com algo que ela manifesta, em forma de desejo, a intenção de criar. E assim, o telespectador volta para a década de 50 e no minuto seguinte já está posicionado nos anos 2000. Ou ainda, está em algum país estrangeiro observando uma equipe que realiza a poda das árvores urbanas e, no mesmo minuto, estará no Brasil com outra equipe realizando a mesma atividade.
Apenas para ilustrar com um exemplo o espírito de associação livre que toma conta da obra de Varda, há uma peça de arte que aparece em uma de suas crônicas que é uma cabana que apresenta uma chuva interna. Após explorar essa cabana que está chovendo, ela cuidadosamente transporta o telespectador, através do movimento esboçado na janela de um automóvel, para um dia de chuva na rua em uma cidade portuguesa, enfeitando a cena com um fado de Amália Rodrigues. Nessa transição, ela brinca com as formas que a água faz na janela desse automóvel que está transportando o telespectador e pára ao avistar pessoas pulando uma enxurrada. À partir dessa cena, Varda reflete o conceito do “momento decisivo” de Cartier-Bresson e começa a divagar sobre o movimento e o não movimento, o cinema e a fotografia, a duração e o instante. E assim ela vai transitando, se utilizando de obras autorais, filmes de outros cineastas, músicas, artes plásticas, animações e histórias.
Movimento seria um bom significante que sintetizaria essa minissérie documental. Em alguns momentos há, no entanto, o desejo de parar um pouco e caminhar solo, contemplando e tensionando as reflexões que a cineasta nos direcionou. Por diversas vezes eu me senti emocionado sem saber expressar em palavras o afeto que me tomou. Movimento e pausa… Varda brinca muito saltando de um significante para outro, montando o movimento em peças estáticas e retirando o instante daquilo que era puro movimento. Cria antíteses na representação de opostos, em um salto da morte para a vida ou da violência para a paz. A sensação é de que cada trecho de “From here to there” poderia ser aprofundado em algum outro documentário à parte, tamanho o volume de informações, obras, pessoas e ideias que são ali apresentadas.
Nas narrativas desenvolvidas por Varda, ela conta muito de sua vida através dos laços desenvolvidos com pessoas e lugares ao redor de todo o mundo e apresenta em tela uma enorme capacidade de sintetizar a essência dessas relações. Varda quer nos mostrar obras e ideias que nos coloquem em movimento: ela rompe a todo momento com as expectativas, quer nos mostrar o que é desejo, produzir sensações, fazer emergir a poesia em forma de palavras ou imagens. Em resumo, Varda quer fazer emergir o inusitado, levando às últimas consequências uma frase que ela mesmo nos diz: “A arte é ilimitada. A arte é uma festa. A arte é uma feira”.
Algo que a cineasta faz muito bem é extrair o mais belo e instigante de cada peça que nos apresenta. Outra marca de Agnès Varda é a generosidade que se reflete no tom de voz fraterno com o qual ela dialoga com cada pessoa que se coloca em seu caminho, sobretudo com o telespectador. Nas crônicas de Varda, ela dispensa as legendas que poderiam economizar tempo ao nos informar os nomes dos lugares e das pessoas que compõem a cena. Varda faz questão de nos apresentá-los com a sua própria voz, algo que nos aproxima e nos enche de ternura. E como a sua obra é construída em cima de memórias, muitas vezes suportadas na relação com outras pessoas, ela se esforça para dar visibilidade e voz a esses outros criadores, de modo fornecer ao telespectador a intenção, o sentido e o processo da construção de cada obra de arte.
Na segunda crônica da minissérie, Varda conta um pouco sobre suas passagens no Brasil, em contato com familiares de Glauber Rocha, com Copacabana e Ouro Preto de outrora em conexão com a energia vibrante de pescadores em Fortaleza 40 anos depois, que fazem festa com a presença da cineasta entoando os versos: “sorria que eu estou te filmando, sorria o coração tá gravando”, algo que inusitadamente dá muito sentido ao trabalho que ela faz.
Varda nos presenteia também com ideias que se esbarraram na impossibilidade, contando de sua intenção e nos mostrando o que coube ser representado na realidade, deixando à cargo da nossa imaginação preencher a lacuna que atingiria o ideal que ela apontou. “From Here to There” é uma obra que convoca a nossa participação e portanto, a experiência de cada um será singular.
Antes de dar o play em “Agnès Varda: From Here to There” observei a duração que apontava para quase 4 horas de conteúdo e eu pensei na impossibilidade de sustentar meu interesse por tanto tempo. Acontece que a minissérie documental não tem um auge ou um grande clímax. Ela é esse clímax o tempo todo e a cada micronarrativa que se fecha o telespectador já estará imerso em alguma outra que já se abriu. A divisão em cinco episódios permite que a obra seja assistida em cinco etapas, mas não será estranho se você sentir desejo de maratona-lá em apenas uma sentada. E se você topar esse convite de Varda em viajar pelo seu imaginário real, tenha certeza que ganhará uma experiência inestimável. Varda oferece, nessas quase quatro horas, peças inimagináveis que toda a experiência de uma vida impossibilitaria conhecer. É uma minissérie que muitos deveriam se dar de presente.
(Este texto foi redigido para o Rascunhagem. No ato da escrita, realizada em fevereiro de 2023, a minissérie Agnès Varda: From Here to There está disponível no Brasil através da plataforma de streaming Mubi.)
Black Mirror (4ª Temporada)
3.8 1,3K Assista AgoraVou defender essa temporada. Mantém a mesma qualidade das outras, mesmo não conseguindo se aprofundar na discussão proposta. Imagino que se fosse a primeira temporada da série, estaria todo mundo impactado e tal.
Ousou nos episódios USS Callister e Metalhead, fez um San Junipero 2.0 (Hang the DJ) e finalizou com um episódio que homenageou a própria obra , o Black Museum .
Crocodille e Arkangel achei mais fracos, este último faltou aprofundamento e foi irresponsável na abordagem do tema proposto. Poderia ter se amparado mais na psicologia para construção da relação mãe e filha.
A Anatomia de Grey (13ª Temporada)
4.1 275 Assista AgoraAdoro Grey´s e esta foi a temporada mais fraca.
Dark (1ª Temporada)
4.4 1,6KMuito legal ver séries de outros países ganhando popularidade.
Ponto para Netflix que está investindo nessa empreitada.
Falando da série em si: o roteiro é o melhor? não! tem alguns furos e fraquezas explícitos. Mas a série é interessante, cresce com o decorrer da temporada e cria uma boa expectativa pra uma segunda temporada.
Atypical (1ª Temporada)
4.3 490 Assista AgoraDeixando o olhar crítico em cima de uma certa romantização, a série é delicinha de assistir.
Transparent (3ª Temporada)
4.4 47 Assista AgoraTransparent é minha série preferida, considerando as séries que estão em atividade. <3
Necessária!!!
This Is Us (1ª Temporada)
4.7 779 Assista AgoraFiquei bastante empolgado na primeira metade da temporada.
Uma série com uma sinopse bastante similar à branca e magra Brothers And Sisters, mas ao mesmo tempo, tão diferente, pela mistura de linhas de tempo (presenta-passado) que dá dinamismo à história, e pela diversidade de elenco, que trata de importantes questões étnicas e tem uma personagem obesa retratada com profundidade, sem ser alívio cômico de roteiro.
A segunda metade da temporada diminuiu bastante minhas expectativas. Não sei se This is Us tem história para muitas temporadas, talvez preferisse que tudo fosse contado com profundidade em uma temporada só. Espero estar enganado!
Bates Motel (4ª Temporada)
4.4 721Temporada mais interessante da série, onde tivemos menos distrações e a questão do Normam foi abordada com mais profundidade.
Como telespectador tive as mesmas sensações de uma convivência real próxima a um paciente psiquiátrico, que é passar pelas fases de ódio pelas merdas que a pessoa faz, seguida de empatia por entender que ela não tem culpa de sua condição. As cenas na terapia para mim foram as melhores, com tanto funcionamento destrutivo no relacionamento Norma e Sam, era impossível que a personalidade do Norman se formasse de maneira saudável.
A morte da Norma, apesar de previsível, foi dolorosa e perturbadora de assistir.
Desejo tanto que o Dylan e a Emma permaneçam longe vivendo um possível final feliz.
E as expectativas estão altas para a quinta e derradeira temporada, que poderá ser um remake extendido do Psicose.
3% (1ª Temporada)
3.6 772 Assista AgoraVamos lá...
3% sendo a primeira série brasileira com uma grande logística de investimento e distribuição mundial. Nascida de um piloto exaltado e "perdido" na internet, agregando em seu elenco um monte de atores desconhecidos e utilizando um formato bem no estilo seriado americano. Deu mais que certo, para uma primeira experiência deste porte.
O roteiro é fraco, não dá pra negar. Mas o desenvolvimento consegue ser cativante, e a 3% acaba prendendo o telespectador. Os atores estão bem na maioria do tempo, mas se mostram pouco flexíveis a medida que as cenas pedem algum aprofundamento emotivo. O cenário e a direção são bem satisfatórios e a distopia como toda boa distopia, pode ser encarada como uma metáfora da nossa realidade. O formato de inserir flashbacks de construção dos personagens em cada episódio, recurso abusado nas séries americanas (vide lost, orange is the new black) funciona bem em 3%.
Aposto numa segunda temporada mais madura, não tão experimental mais, e tenho a expectativa que 3% inspire e abra portas para o formato de seriados no Brasil.
Westworld (1ª Temporada)
4.5 1,3KEstou sem inspiração pra escrever a respeito, mas Westworld foi uma grata surpresa neste 2016. Principalmente no início de seu desenvolvimento, fui invadido por um emaranhado de questionamentos, muito a respeito de ética e humanidade.
Anseio pela segunda temporada.
American Horror Story: Roanoke (6ª Temporada)
3.9 716 Assista AgoraAmor e ódio pela temporada.
Achei impecável até o quinto episódio, não gostei do que fizeram no sexto e sétimo episódios (que serviram como um reajuste nas expectativas) e acredito que dentro da nova realidade, terminou bem.
De todas as temporadas de American Horror Story, esta é minha terceira favorita, ficando atrás apenas de Asylum e Murder House.
Black Mirror (3ª Temporada)
4.5 1,3K Assista AgoraPoderia conversar durante dias e mais dias sobre esta série, que é meu nome favorito neste formato. Já havia assistido as duas primeiras temporadas e aguardei com ansiedade a liberação de novos episódios pelo serviço de streaming Netflix. Não fiquei nada decepcionado com a nova remessa. Como nas outras temporadas, alguns episódios pegam mais que outros, e é muito pessoal classificá-los como bons ou ruins.
Sendo vendida como uma série abordando distopias onde algum aterfato tecnológico futurístico classifica as interações sociais, basta tirar tal tecnologia para nos reconhecermos ali, exatamente como estamos vivendo agora. A condição humana é bem explorada, de forma ousada até, considerando o formato de séries. Poderia ser mais aprofundado, mas já é um passo considerável ver esta abordagem.
A começar pelo primeiro episódio, é chocante se reconhecer na personagem central. Na era do caça likes, com alguns exageros (que tiram um pouco o brilho do episódio) vemos toda hipocrisia diante às relações passíveis de avaliação. Seria esta uma realidade muito distante? Quando pensamos na interação do Uber, onde a avaliação é mutua, nos processos de feedback dentro das empresas e formulários de avaliaçao de serviços (principalmente de telemarketing) nos vemos com tal poder. Talvez este venha a se tornar o episódio mais óbvio da série.
Prosseguindo com a temporada, temos um episódio que serve como uma grande homenagem ao terror psicológico, onde games de realidade bastante aumentada são testados. De início senti falta em enxergar alguma crítica social, mas depois que tirei fora esta expectativa - pois Black Mirror permite isto - passei a encarar o episódio de maneira melhor.
O episódio 3x03 aborda nossa vulnerabilidade em ambiente virtual e aprofunda uma reflexão sobre justiça. Gostaria de ver a questao da pedofilia mais aprofundada, já que tocaram neste assunto.
Logo depois, veio meu episódio favorito da temporada, San Junipero, mostrando que podemos aproveitar a tecnologia de maneira também benéfica, apresentando um conceito de vida eterna. Final Feliz? Sim e não. Mérito do episódio colocar entre os personagens centrais, uma protagonista negra e bisexual. Representatividade importa sim!. Não poderia deixar de comentar a cativante trilha e direção impecável. Para quem já assistiu San Junipero, recomendo uma revisita ao episódio. Assisti-lo em uma segunda oportunidade, dá um resignificado bastante interessante, e é onde percebemos as peculariedades do roteiro, como quando a Yorkie se recusa a jogar o game de carros.
Depois do belíssimo San Junipero, vem um episódio apostando na temática militar, apresentando um conceito bastante explícito de nazismo, preconceito, na formaçao de uma sociedade "pura", livre de certas características. Quem não tivesse o privilégio de nascer dentro de um padrão, era visto como "barata" e vivia de forma marginalizada, podendo ser abatido a qualquer hora, como baratas realmente.
O sexto, e meu episódio menos favoritos apresenta uma questionável justiça ao jorro de ódio virtual.
Enfim, assistindo esta temporada, só deu vontade de ver os outros 6 episódios que já foram encomendados à Netflix.
Doctor Who (1ª Temporada)
4.3 302Os efeitos especiais são horríveis, mas aos poucos esta precariedade se transforma no charme da série.
Doctor e Rose possuem uma dinâmica fantástica. O fascínio do Doctor ao se deparar com novas descobertas é contagiante.
Alguns personagens extraterrestes (Daleks, Cassandra) apesar de posicionarem como vilões, são bem queridos à história.
Série desprendida de grandes reflexões, do tipo para passar o tempo.
Orange Is The New Black (4ª Temporada)
4.4 838 Assista AgoraOrange Is the New Black fez sua melhor temporada.
O roteiro da série pode nem ser o mais primoroso, mas a representatividade que ela dá ao ter um elenco de mulheres reais, longe da hollywoodização das séries americanas, com negras maravilhosas e poderosas, latinas, gordas, trans, orientais e mulheres idosas; todo o girl power envolvido e quiçá a denúncia da hipocrisia do sistema carcerário americano, são fatores que valem a existência da série.
Aguardo com ansiedade pela próxima temporada.
Black Mirror: White Christmas
4.5 452Esse episódio trata-se de uma perfeição no mundo seriador.
Por ter tempo que já o assisti, não vou conseguir fazer uma resenha fiel ao acontecido. Mas lembro que achei fantástico o roteiro, em como a série abordou de forma literal o "ser escravo de si próprio", a idéia da invisibilidade pós período carcerário. Seria diferente no mundo atual e não tao tecnológico quanto o ambiente da série? Qual perspectiva tem alguém que cumpre um período na prisão e não é privilegiada?
Indico Black Mirror a todos de olhos fechados.
Plantão Médico (2ª Temporada)
4.2 12 Assista AgoraEsta segunda temporada reforça nossa aproximação aos personagens, introduz a Weaver, mostra um lado mais familiar e sensível da Susan, desdobramentos da vida pessoal do Doctor Green, um drama na vida da Jeanie (que passa a ser fixa no elenco) e um grande desenvolvimento do Carter.
Estou ansioso pela 3ª temporada.
Sense8 (1ª Temporada)
4.4 2,1K Assista AgoraEsta série foi tão maravilhosa, que o sci-fi (a que ela se propõe) ficou em segundo plano frente aos diálogos que ela propôs.
A cena do Lito com a Nomi no museu, com aquele diálogo é a minha favorita no mundo seriador, deste ano.
A diversidade dos personagens e nacionalidade, o fato de uma trans ser personagem central, empoderada e maravilhosa, acrescenta muito à série.