Tiago C

Li a série de livros em 2011 com o mesmo ânimo com que li Harry Potter. Desde que saiu a notícia da venda dos direitos autorais dos livros pra Warner, até a desistência da produtora de seguir em frente, depois ressuscitado pela Netflix, fiquei na expectativa. E que decepção! Mas uma parte da decepção se dá, acredito, pela ideia no livro ser mais convincente do que no audiovisual. Não acho que teria como a ideia dos livros - que são maravilhosos! - hoje em dia ficar bem em um filme.

Assisti pela primeira vez e me chamou muito a atenção ver que Game Of Thrones e Harry Potter (em especial esses dois por conterem elementos medievais, como castelos, armaduras, guerreiros, etc.) beberam muito daqui pro desenvolvimento de protagonista e principalmente para o desenvolvimento das cenas de guerras.

Freud diz que é impossível desejar a morte, visto que a morte é irrepresentável: não é possível imaginar como é estar morto. O que é possível imaginar é o fim da dor, do sofrimento que se sente, dos vivos que ficarão para sentir nossa falta; nada disso, entretanto, é a representação da morte. Desejar morrer é portanto um equívoco efetivo, pois há dores representáveis que só cessam com a morte irrepresentável. O filme toma por saída representar a morte: uma arara. Sem ela, seres decepados continuariam sofrendo vivos, pessoas se afogariam numa tortura incessante, sem morrer. Acho que nenhum filme representou tão bem que precisamos da morte tal como precisamos da vida. Aí se levanta uma questão ética muito complexa, extremamente delicada, vide os casos de sujeitos com doenças que os deixam completamente imóveis, vegetando por uma vida inteira com a ajuda de aparelhos porque os familiares não autorizam sua morte. Lembrei-me de uma expressão do filme A Excêntrica Família de Antônia: com o último suspiro, "o milagre da morte". O filme poderia ser melhor explorado. Me comovi menos do que eu estava esperando, visto o trailer. Mas ainda assim me fez refletir coisas interessantes.