Caramba, os filmes do Hooper e do Romero são mais sinistros do que parecem! Não entendi muito bem porque esse aqui tem uma média tão baixa. O marketing, especificamente nos filmes dos anos 80, sempre vendia algo mais tosco/cômico do que, de fato, eles eram. Aqui, o cenário é decadente e marginalizado, mas me lembrou a sensação que eu tinha quando ia em um circo itinerante que sempre passava pela minha cidade, lá para os meus 8 anos. Os truques de mágica sempre impressionam, mas a realidade nunca é tão glamourosa. As pessoas que trabalham nesses locais devem passar por maus bocados. Acho que o filme passa bem essa impressão, de quem tem algo errado desde o início. E o mais legal é que levamos mais da metade da duração para descobrir o que é, como isso funciona na prática. No fim, acabou me remetendo a Dario Argento, pelo uso das cores e pela sensação de enclausuramento transmitida ao espectador: não existem diálogos nos últimos 15 minutos, e nem tem para onde correr. O contato do assassino com a vítima (a transição dela de uma simples personagem para uma final girl é genial) não impõe nenhum tipo de respiro, e o Hooper subverte de forma bem eficiente as consequências desse embate.
Ao contrário da maioria dos filmes de horror psicológico, encerra com o sofrimento, com o choque, não dá nem tempo de se recompor ou assimilar o que aconteceu.
O que mais me afasta do tipo de de ficção científica que o Villeneuve faz é que seus filmes se utilizam de uma "casca" racional, se levam a sério demais... O que não teria nenhum problema, se "Duna" fosse minimante vibrante ou causasse algum tipo de empatia em quem vê, e não só distanciamento. A abordagem é super árida (sem trocadilho) e ele ainda quer se manter o tempo todo como um espetáculo à la Terrence Malick. A principal diferença é que, nos melhores momentos de Malick, a narração acompanha a imagem, e não o contrário. Há uma conexão quase sagrada entre os dois elementos, e aqui tudo é muito protocolar e decorativo. Eu entendo que essas sejam exatamente as intenções do diretor, mas não é um cinema que particularmente me agrade. Do pouco que eu lembro das minhas memórias de infância, se aproxima do rumo que a saga "Star Wars" tomou nos filmes de 1999 a 2005: épicos monumentais que pareciam não pertencer a seu tempo, já tendo nascido envelhecidos.
- Pensei muito em nós dois, mas não importa. A culpa não é nossa... a vida é assim: estamos sozinhos e continuaremos sozinhos.
"Lola", debut de Jacques Demy, é filmado em preto e branco, mas o cineasta extrai cor de todas as situações que retrata, e não importa se o viés é esperançoso (e consequentemente caloroso e vibrante) ou espirituoso e amargo. O filme todo é movido por encontros e desencontros cujos caminhos de destino (existem vários) nunca são aqueles anunciados de início.
Seja através de Eric Rohmer, Claude Chabrol ou Louis Malle, o cinema da Nouvelle Vague sempre foi, literalmente, uma vitrine de luxo, onde poetas e pessoas boêmias entram em lojas e curiosos e transeuntes encaram artigos de luxo nesses locais. Se esse filme fosse traduzido em música, seria uma canção de bossanova: dá muito destaque ao seu país de origem, mas ao mesmo tempo é cinema de exportação, que agrada o olhar estrangeiro. Charmoso, como poucos.
Sob uma fachada de realidade (no caso, a figura da pessoa e do cineasta Ingmar Bergman) coexistem várias camadas de ficção (a mitologia por trás de sua obra e o impulso criativo que move cada um de seus filmes). A referência imediata é Cenas de um Casamento, mas os constantes comentários sobre a "maldição da ilha" e as margens para múltiplas interpretações da(s) história(s) remetem diretamente à Hora do Lobo. A dose de mistério é mantida, mas ao invés de vir acompanhada de tensão psicógica, parece um longo vídeo de ASMR com toques de metalinguagem. O filme não é nem sobre o casal e nem sobre Bergman. É uma obra que suga toda a fantasia da existência dele enquanto autor e de suas personagens. Nunca há um grande conflito, todas as escolhas narrativas são acompanhadas de uma serenidade impressionante. Os dois segmentos do filme são verdadeiros faz-de-conta que nunca, de fato, acontecem.
O primeiro é uma farsa: a personagem do Tim Roth, um diretor de cinema renomado, só tem tempo para trabalho e mantém a pose de intelectual que não dá atenção para a esposa, e a personagem da Vicky Krieps finge que se interessa por esse jogo do qual os dois participam. Essa primeira parte é apenas um ensaio para a segunda.
No segundo segmento, o faz-de-conta existe porque a história de amor contada só ocorre de fato no papel. É propositalmente difícil nos conectarmos com ela porque está muito distante de ser uma encenação: é um amor vivido à moda antiga, longe de desapego e sem ser contaminado por bens materiais (aqui, ao contrário do início, a ilha não é uma Disneylandia cinéfila e seus habitantes não ficam usando aplicativo de iPhone para se comunicarem). Eu adorei o filme no geral porque, mesmo partindo do mote das discussões de casal, é uma experiência relaxante, que exalta belas paisagens enquanto desconstrói o processo criativo.
P.S.: Vicky mora no meu coração, mas é Mia Wasikowska dançando ABBA que me conquistou de vez!
Um filme intitulado "Creepshow", com esse cartaz, dirigido por quem foi, estrelando o Leslie Nielsen fazendo cara de susto na capa do site, só poderia me causar a impressão de que teria uma abordagem mista de horror e comédia, e isso até acontece, nos dois primeiros episódios dessa antologia, mas, justamente a partir do momento em que o comediante, famoso por "Corra Que a Polícia Vem Aí", aparece em cena, as coisas ficam realmente sombrias, e, se até ali o tom adotado era meio ingênuo, bobo, de brincadeira de criança, a partir desse instante o fator sobrenatural não constitui mais a essência das histórias, mas passa a ser uma consequência do mau comportamento e/ou da hipocrisia das personagens. Nos três últimos contos, o verdadeiro perigo sempre nasce de um toque humano, geralmente impulsionado por algum pecado cometido (que se mostra, literalmente, mortal), ou excesso de soberba. O episódio "Something to Tide You Over" é o meu preferido porque é o ponto de virada do filme enquanto unidade, em que há um movimento de tensão crescente conforme um capítulo passa o bastão para o outro. Foi o único que consegui visualizar no formato de longa-metragem, e funciona basicamente como um thriller psicológico (se fosse um daqueles filmes europeus com cara de festival internacional, todo mundo ia gostar e aceitar). Apesar da inconstância já esperada pelo tipo de narrativa escolhida pelo diretor, eu adorei assistir porque me deparei com muita coisa que não esperava encontrar.
P.S.: O último episódio deveria vir com alerta de gatilho. Meu pai passaria mal.
"Talvez aqui não fosse um lugar para pessoas. Era um lugar para coisas. Você faz um lugar para coisas, e elas vêm".
Para cada momento de sentimentalismo do primeiro, existe uma brecha para a tiração de sarro nesse segundo. É um filme que ridiculariza suas personagens humanas, as reduz a rascunhos mal feitos de caricaturas, e dá mais destaque às criaturas, cujo corpo, dessa vez, é só um suporte para que o diretor explore todos os tipos de personalidade possíveis para cada um deles. Temos um Gremlin literalmente elétrico, outro metido a intelectual que cita inesperadamente Susan Sontag (vivi para ver isso) e ainda uma versão feminina, vestida de noiva, de um deles. A semelhança é que todos são ligados em tecnologia. Aliás, Nova York, conhecida como uma cidade propícia para a comunicação entre as pessoas, dá ao filme uma cara de peça publicitária querendo ser notada em uma obra de cinema. O ambiente ao ar livre é pouco explorado, todos ficam trancafiados em suas salas de escritório e têm alma de empresário. Se o final do primeiro é fofo e conclusivo, aqui a mentalidade é de expansão. Do filme e dos negócios. Ele não acaba nem quando sobem os créditos finais, porque as grandes corporações estão sempre de olho e não deixam isso ocorrer.
Em filmes com monstros e/ou criaturas fantásticas, é sempre uma delícia acompanhar a lenta e gradual transformação das pessoas mais céticas da comunidade em questão em seres que acreditam porque tiveram contato com o desconhecido. Geralmente, esse é o primeiro passo para que elas convertam outras pessoas, e logo todos têm contato com a experiência (mas poucos sobrevivem, então não resta quase ninguém para passar a história adiante). O herói é sempre muito altruísta, mas esse consegue se destacar nesse sentido. Gremlins ganha pontos por conter instruções de como matar o bichinho (você pode enfia-lo no microondas ou até assassina-lo a facadas) e por ser o único filme que eu vi em que o Corey Feldman não só interpreta uma criança, como também se comporta como uma. Mesmo com um quê de rebeldia, não deixa de ser um clássico de natal com um final açucarado. Espero mais caos e destruição com o segundo. Pelos comentários, sei que encontrarei isso.
P.S.: Podia rolar um festival só com o tanto de filme que as personagens assistem. A sequência na sala de cinema é tão genial quanto a de "Um Lobisomem Americano em Londres". Na minha cabeça, vivo confundindo e comparando Joe Dante com John Landis.
P.S. 2: Se o protagonista e o seu coleguinha fossem mais cuidadosos e não tivessem deixado cair água na primeira das criaturinhas, as outras não teriam nascido e nada disso teria acontecido.
P.S. 3: A verdade é que a principal característica dos Gremlins não é causar medo, e sim irritar as pessoas a ponto de todos quererem se livrar deles.
Silêncio. Os garotos estão brincando de ciência na garagem.
Como uma das personagens diz no final, as imagens são meramente ilustrativas: tudo o que temos são as vozes. São as palavras que indicam o rumo da história, então cabe a nós decidirmos se o narrador é confiável ou não. Eu particularmente não curto muito filmes de ficção científica que não querem assumir elementos de fantasia, são pretensamente racionais e verborrágicos. Essa noção de realismo soa um pouco fake, e não encaixa muito comigo.
Toda obra, no fundo, é uma mistura, mas sua embalagem final é única. Hausu eleva à máxima potência o significado tanto da primeira quanto da segunda sentença. Tudo no filme fala, quase grita. Os cenários querem ser notados e as cores saltam da tela. Atuando como uma mediadora desses elementos, a edição brinca o tempo todo consigo mesma, como se o projeto fosse um experimento de alguém empenhado em desconstruir, na prática, tudo o que conhece de cinema. Às vezes, parece uma aventura infantil à la Turma da Mônica, com personagens caricatas, facilmente identificáveis. Em outros momentos, é completamente abstrato. O que une todos esses segmentos é a ousadia: o filme nunca permanece no mesmo lugar.
- O que você quer fazer? Apenas sobreviver? - E tirar foto. - De cocô? Não é o suficiente.
É um filme que se diz super caótico, mas acaba sendo de um jeito caricato, até meio óbvio, e não inovador. Algumas piadas não envelheceram bem e algumas cenas, como aquela em que a Patsy apresenta sua família ao Alfred, funcionariam melhor no formato televisivo, de uma sitcom. No fim, é uma mistura muito intensa de um filme do Buñuel dos anos 60 com uma comédia maluca dos anos 30. O protagonista é tão maduro e decidido quanto um recém-nascido, mas também existe charme na apatia.
Até a metade, é melhor que o outro. Problemático, ainda, mas em uma voltagem menor. O final é totalmente a vibe de Haneke em "Funny Games", mas no filme errado.
Em um mundo perfeito, onde o filme pudesse viver apenas de suas ideias, de juntar as duas partes da história em filmes individuais e fazer o público escolher de que lado está, ele funcionaria. Mas a verdade nua é crua é que seria difícil a abordagem escapar de clichês e moralismo.
Tudo é muito focado em ser chocante e edgy bem no estilo "angústia adolescente". Só faltou alguém fazer o símbolo do rock. As escolhas são reducionistas porque têm como consequência a caracterização de um ambiente propício para "andar no mau caminho", em um ambiente de drogas e depravação, quando tem muito mais coisa envolvida.
P.S.: Achei de uma grande falta de criatividade usar um remix de Radiohead na cena em que supostamente deveriamos ver toda a psicodelia envolvida na narrativa. Aquilo é tosco, não passa o efeito que deseja.
Eu espero que a Chloé volte a fazer filmes como esse e Nomadland (principalmente o primeiro, porque segue ainda mais à risca sua cartilha), mesmo após sua experiência com a Marvel. Seria uma pena se ela desperdiçasse esse potencial, independentemente da qualidade de seu próximo longa. É muito bonito notar que, ao enquadrar um pedaço da realidade dentro de uma narrativa continuada de ficção, o que está do lado de fora do filme, ou seja, a vivência "real" de cada uma daquelas pessoas, ajuda a formar aquilo que a câmera enxerga. O ator ajuda a personagem. Eles não se conhecem, e não sabem disso, mas nós sabemos: são as mesmas pessoas, mas com motivações diferentes. Porque essa é a grande sacada da experiência: você pode viver uma vida seguindo o mesmo princípio (no caso, domando cavalos), mas se alguém te puxa e incentiva para performar algo que você faz cotidianamente, aquela imagem à qual ninguém tem acesso, só você, que é uma memória, passa a fazer parte de um acervo público, que pertence ao imaginário coletivo. Uma junção de vários fotogramas que formam um álbum de recordações, dos atores/personagens ao público: em quase 100 minutos, estamos lá, com eles. Em determinado momento, inclusive, o protagonista Brady mostra a seu amigo Lane um vídeo dele montando em um cavalo durante um rodeio, antes que desse entrada no hospital. Afinal, quem viveu e quem assistiu?
Muita gente credita o Tarantino como pai desses roteiros ágeis e espertinhos, encomendados para festivais independentes, mas os Coen chegaram antes. Dá para dizer que seus filmes têm muito de suspense em como eles os constroem. Em Gosto de Sangue, contam uma história até os primeiros trinta minutos, te fazem acreditar nela e depois refazem tudo aquilo que você presenciou, quase como se nós fossemos falsas testemunhas. É como se existisse um curta e um longa dentro de um filme só. Eles são mestres em articular um cenário cuja arquitetura aponta sempre para a desconfiança. É o "caos calmo" daqueles ambientes onde nada e tudo acontece, com suas casas escondidas e bares vazios: ninguém escuta nada, mas todo mundo se vigia e sabe o que o outro faz. O filme é movido pelo lema de que quanto menos as personagens souberem (e, consequentemente, o público) melhor. Nossas expectativas são desarmadas porque eles optam por subtrair da trama os elementos centrais do roteiro. Para eles, como exposto no diálogo, menos é mais, então tudo fica menos explícito para que o foco recaia sobre a atmosfera.
P.S.: É incrível como todos os homens são estúpidos e espertos na mesma medida. Suas funções na narrativa estão sempre variando, de forma que a Abby da Frances McDormand sempre esteja no centro da intriga entre os dois protagonistas e, futuramente, seja manipulada pelo quarto, mas não menos importante, elemento dessa trama: o detetive particular. Acho muito legal, inclusive, que o fim acrescente ao suspense que vinha sendo articulado um filme de ação que existe em condomínios fechados, no espaço que separa a fechadura de uma porta do que está do outro lado. Basicamente, um jogo de gato e rato.
- Pare! Por que o matou? - Os bichos me deixam nervoso. - Era a nossa única testemunha! - O lagarto? - Sim, o lagarto viu o assassino. - Quando? - Bom, fiquem aqui. Vou interrogar os vizinhos.
Almodóvar e seus filmes de começo de carreira em que os homens são tão estúpidos que até um lagarto raciocina melhor do que eles. Esse é um filme bem irregular. É pautado por imprevistos e confusões, como em "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos", mas sem aquele nível de caos.
Em 1996, Tom Hanks era mais do que simplesmente um ator oscarizado. Era um diretor iniciante, que auxiliava atores brincando de astros da música. Funcionando quase como um “Mockumentary” (no encarte da trilha sonora do filme os membros da banda fictícia posavam e respondiam perguntas como se fossem uma banda de verdade), The Wonders – O Sonho Não Acabou, conta com Tom Everett Scott na bateria, Johnathon Schaech como vocalista, Steve Zahn como guitarrista e Ethan Embry como baixista na formação da banda, além das presenças marcantes de nomes conhecidos, como Liv Tyler, Charlize Theron e do próprio Tom Hanks em papeis secundários, como pessoas que sempre estavam ali, por perto, ora acompanhando, ora interferindo no rumo das decisões tomadas pelo grupo. É bem curioso quando um filme retrata uma área específica do show business, como a música enquanto atração midiática, capaz de promover uma banda ou alça-la ao rótulo de “One-Hit Wonder” (uma brincadeira que é feita ao longo do filme, porque onde quer que eles fossem, tocavam a mesma música, That Thing You Do!, que também estourou fora das telas). Os atores, mesmo que nem sempre estivessem tocando o instrumento da forma correta na “Hora H” e ainda contem com o auxílio de músicos profissionais, tornavam-se aprendizes de instrumentistas, porque viviam aquilo intensamente. É quase como se eles tivessem que aprender as “manhas” de uma outra profissão, o que faz deles, enquanto o filme é projetado, reféns do papel que estão exercendo.
A veia musical de Tom Hanks era tão forte que ele chegou a compor algumas músicas para o filme, ao lado de gente talentosa como o finado Adam Schlesinger e o compositor de cinema Howard Shore. Seu interesse na música era tão grande que, após o lançamento de The Wonders, ele chegou a criar seu próprio selo, com o mesmo nome que levava no filme: Playtone Records. Serviu como fonte de apoio a várias outras trilhas sonoras de cinema e televisão, até mesmo na série Sopranos. Esse lado “falsamente real” do filme nunca é inteiramente explicado, mas basta uma simples pesquisa no Google para você perceber que existiram, sim, pelo menos duas bandas com esse mesmo nome, mas a historinha contada no final para estabelecer o caminho que cada personagem trilhou é inspirada na trajetória da banda The Fabulous Epics. Acaba sendo bem divertido ver como, na indústria, existe mérito, mas também tem todo um script esculpido visando a continuidade do sucesso. Eu assisti a versão estendida, então tive acesso até a mais nuances dessa narrativa: brigas, disputas de ego, entraves românticos. Aqueles velhos clichês de bandas que começam a fazer tour e desabrochar para o mundo. Conhecemos essas histórias, mas cada pessoa é diferente, então sempre teremos uma nova versão dos fatos. Tom Hanks nos mostra uma delas, e é bem divertido e interessante acompanha-la.
Qualquer personagem da história distribui e recebe porrada na mesma medida, por todos os ângulos e de todas as maneiras possíveis. Moral do filme: não importa seu nome e sua função, vai rolar pancadaria, com golpes absurdos e efeitos deliciosos. Entra na categoria de filmes que não têm origem em um material de animação, mas poderiam facilmente ter.
Eu tive uma avó com Alzheimer, e a doença se manifestou nela de forma gradual. Intensa, porém gradual. Por esse motivo, para mim e para a minha mãe, que conviveu ainda mais diretamente com o trauma motivado pela situação, o filme soa um pouco apressado. A vivência pessoal da minha família com ela foi muito de contato, mesmo que ela fosse cuidada por terceiros. Sempre tinha alguém conversando, ou questionando o que estava acontecendo. Ao contrário da protagonista Fiona, a memória da minha avó podia ser localizada no presente, mas não só nele. Como ela ainda convivia com os membros de sua família, as lembranças eram fragmentadas, o tempo se desassociava do espaço. Ela podia muito bem estar sentada em frente a uma escada e se transferir para quando era mãe de crianças pequenas, no outro apartamento em que morava, e tinha que chamá-las para almoçar.
Na narrativa de Longe Dela, Sarah Polley faz uma escolha muito específica que é determinante para o rumo das vidas de Fiona e seu marido, Grant: eles ficaram trinta dias afastados um do outro quando ela dá entrada na clínica. A partir daí, motivado não necessariamente por ciúmes, mas por ignorância, incompreensão da doença, ele começa a apresentar um comportamento obsessivo, como quem quisesse levar ao hospital, diariamente, cada um dos dias vividos por 44 anos de casado. Tendo lido parte do conto em que a história é baseada, dá para perceber que a intenção de Polley era nos levar ao âmago da memória, e não ao background que a envolvia, o contexto em que aquelas vidas se situavam antes de a doença surgir. Bom filme com alguns problemas em sua estrutura.
Chuck Russell na direção e Frank Darabont no roteiro formam uma dupla e tanto! Os dois têm um pé no cinema underground mas ao mesmo tempo sabem utilizar carga dramática ao seu favor, então o resultado disso é um mega entretenimento extremamente acessível e divertido, que consegue homenagear, ao mesmo tempo, John Carpenter até a goela (principalmente O Enigma de Outro Mundo) e Matinee, do Joe Dante (por causa da ameaça invisível, que se manifesta principalmente na sequência alucinante no cinema). Impressionante a capacidade dos anos 80 de produzir um hit atrás do outro, e muitos deles totalmente fora de órbita, cativando um público mais seleto e se encaixando na prateleira dos "filmes cult" das videolocadoras (para citar outro exemplo de filme que é "b" e comercial ao mesmo tempo, A Pequena Loja dos Horrores).
Eu amo que o mocinho é super improvável e independente e o diretor sacrifica um possível núcleo romântico para provar o seu ponto. Sempre que alguém é enquadrado andando sozinho, à noite, ou dando uns amassos (muito comum pegação em carros, à beira da estrada, em filmes de terror), você já sabe que a bolha do título, algo material, não-humano, e, justamente por isso, imprevisível e nada seletivo (não existe estudo da vítima, nem ponto forte ou ponto fraco, ela ataca todos do mesmo jeito), irá entrar em ação e exercer seu papel na narrativa.
P.S.: Como a família Dillon gosta de uma motocicleta e como o Kevin é igual ao Matt. Jesus.
Como todos os outros que eu assisti do James Wan, tem suas irregularidades e excessos que o ajudam na mesma medida que o atrapalham. Tem ótimos dez minutos iniciais e depois é todo articulado na base da dicotomia silêncio/barulho, calma/caos. A estética de "Jogos Mortais" e de "Grito Mortais" está toda aí, só que servindo outro tipo de conteúdo. É fato que ele é um prato cheio para quem passou os anos formativos da relação com o cinema vendo filme de terror na tevê, mas eu achei as referências um pouco jogadas na trama, costuradas sem muita coesão. Sorte que é um filme divertido e vai conseguir causar certo furor por ser completamente zureta (é sempre legal quando isso acontece).
Às vezes, nós só temos que aceitar o fato de que um filme foi capaz de nos proporcionar tanta emoção de imediato que qualquer definição a ele soaria reducionista. Só posso dizer que, se a atuação da Giulietta Masina não é a melhor que eu já vi, é a mais poderosa e expressiva, sem precisar provar nada e nem se utilizar de nenhum método para atingir o espectador, só com simplicidade e espontaneidade. A câmera a acompanha o tempo todo e sempre parece estar registrando o desconhecido. Não dá para saber como ela reagirá, nos mínimos detalhes, a nenhum acontecimento. Então é como se ela permitisse que passeássemos por suas emoções.
Desde que a quarentena começou (e eu consigo visualizar bem os momentos de transição), eu comecei a enxergar a vida da mesma forma com a qual o protagonista de Morangos Silvestres, o renomado médico Isak Borg, enxerga: se colocando literalmente no centro de ação, como agente principal de suas próprias memórias (que não fazem parte só do passado, uma vez que o presente é uma ponte para construí-las, e o futuro um dia também será uma lembrança), imagens ora calorosas, ora sombrias, sempre trazendo espectros do que foi deixado de lado, do que foi subvalorizado. Poderia ser um gesto egoísta, mas as pessoas sempre vêm ao seu alcance, como um guia para que ele entre em contato consigo e explore a vida.
Para ser mais específico em meu registro, eu fui acometido por essa sensação a partir de abril do ano passado. Comecei a acordar cedo, aprendi a diferenciar introspecção e solidão de tristeza (antes, eu achava que um era complemento do outro, mas hoje eu percebo que estou só, mas satisfeito e estável, e muito disso foi adquirido com a maturidade) e também comecei a usufruir das relações interpessoais de um jeito mais saudável, sem me favorecer de ninguém e dando apenas o que eu posso oferecer. A vida passou a ser mais serena. Isso que o protagonista sente de ativar aquele cantinho especial das tardes ensolaradas de infância, em que sua larga família colhia morangos e se reunia para almoçar ou jantar juntos, eu também sinto. Minha cabeça gira como em uma linha do tempo, indo de um período a outro de minha trajetória sem nunca me deixar tonto ou enjoado.
Assim como ele possui seus fantasmas e o constante medo de ser julgado, do qual ninguém está 100% imune, eu também tenho muita coisa mal resolvida comigo e até com outras pessoas, mas são dívidas das quais eu não conseguirei dar conta agora e, talvez, nunca. E tudo bem, sabe, a gente faz o que a gente pode. O passado é um só, por isso as pessoas costumam imaginar que, no fim da vida, terão a oportunidade de vivenciar tudo de novo só com o poder da mente. Na "Hora H", todas as pessoas que você conheceu na vida estão interligadas, é quase como elas se conhecessem graças a você. Então, por mais clichê que seja dizer isso, somos responsáveis por nossas trajetórias. As pessoas vêm e voltam, mas se não entendermos que é saudável ser só, contemplar a natureza e todas as outras coisas exatamente como são, e abrir um pouco a janela para emanar paz (para dentro e para fora de si), a solidão dará lugar a uma tristeza profunda. A dor muitas vezes não pode ser evitada, mas pode ser amenizada. Como tudo aquilo que nos assombra.
Planos de uma vida, como qual faculdade uma jovem fará, qual carreira seguirá e como encarar uma série de fatos desagradáveis que podem atrapalhar um pouco a previsibilidade com que conduzimos nossas escolhas, não cabem em um intervalo de poucas horas, e muito menos nos cômodos apertados de um casa cheia de gente, em uma cerimônia ritualística ajustada para 77 minutos, mas que mais parece durar um dia (acredito que essa era a intenção, pelo grau de aflição envolvido).
Shiva Baby é filmado e montado sob a premissa de que a atenção do público deve recair sobre as reações da protagonista Danielle às notícias que recebe, e é tudo meticulosamente planejado pela diretora Emma Seligman para que você sinta o filme à flor da pele, no ritmo dela. Personagens aleatórias são inseridas na história a todo instante, sem pedir passagem, apenas para preencher a cota de constrangimento e ampliar a caricatura exposta. Tem uma cena emblemática em que seus pais e Max, seu sugar daddy, estão conversando (óbvio que seria sobre algo bombástico), e apesar de estarmos ouvindo-os, eles estão fora de foco, porque tudo já está esquematizado, todas as respostas foram dadas nas expressões de Danielle. A princípio, parece que a câmera é indecisa, não sabe direito o que filma, mas é justamente essa confusão que a dá um norte. Faz efeito? Faz. Poderia ser um pouco menos calculado? Também. Mas gostei do filme, principalmente do tom alcançado no final (eu tinha fortes suspeitas que iria terminar por aquele caminho: um respiro para concluir bem), que é sutil e bonito.
P.S.: Eu geralmente adoro reuniões em família, ao contrário da Dani, mas já presenciei algumas que foram um verdadeiro teste de ansiedade para mim. Então consigo entender a motivação do filme, até mais do que a execução.
Pague Para Entrar, Reze Para Sair
3.1 345Caramba, os filmes do Hooper e do Romero são mais sinistros do que parecem! Não entendi muito bem porque esse aqui tem uma média tão baixa. O marketing, especificamente nos filmes dos anos 80, sempre vendia algo mais tosco/cômico do que, de fato, eles eram. Aqui, o cenário é decadente e marginalizado, mas me lembrou a sensação que eu tinha quando ia em um circo itinerante que sempre passava pela minha cidade, lá para os meus 8 anos. Os truques de mágica sempre impressionam, mas a realidade nunca é tão glamourosa. As pessoas que trabalham nesses locais devem passar por maus bocados. Acho que o filme passa bem essa impressão, de quem tem algo errado desde o início. E o mais legal é que levamos mais da metade da duração para descobrir o que é, como isso funciona na prática. No fim, acabou me remetendo a Dario Argento, pelo uso das cores e pela sensação de enclausuramento transmitida ao espectador: não existem diálogos nos últimos 15 minutos, e nem tem para onde correr. O contato do assassino com a vítima (a transição dela de uma simples personagem para uma final girl é genial) não impõe nenhum tipo de respiro, e o Hooper subverte de forma bem eficiente as consequências desse embate.
Ao contrário da maioria dos filmes de horror psicológico, encerra com o sofrimento, com o choque, não dá nem tempo de se recompor ou assimilar o que aconteceu.
Duna: Parte 1
3.8 1,6K Assista AgoraO que mais me afasta do tipo de de ficção científica que o Villeneuve faz é que seus filmes se utilizam de uma "casca" racional, se levam a sério demais... O que não teria nenhum problema, se "Duna" fosse minimante vibrante ou causasse algum tipo de empatia em quem vê, e não só distanciamento. A abordagem é super árida (sem trocadilho) e ele ainda quer se manter o tempo todo como um espetáculo à la Terrence Malick. A principal diferença é que, nos melhores momentos de Malick, a narração acompanha a imagem, e não o contrário. Há uma conexão quase sagrada entre os dois elementos, e aqui tudo é muito protocolar e decorativo. Eu entendo que essas sejam exatamente as intenções do diretor, mas não é um cinema que particularmente me agrade. Do pouco que eu lembro das minhas memórias de infância, se aproxima do rumo que a saga "Star Wars" tomou nos filmes de 1999 a 2005: épicos monumentais que pareciam não pertencer a seu tempo, já tendo nascido envelhecidos.
Lola, a Flor Proibida
3.9 25* No meio do filme
- As pessoas estão lindas esta manhã.
- O amor faz bem a você.
- Tenho vontade de beijá-las e abraçá-las.
* No fim do filme
- Pensei muito em nós dois, mas não importa. A culpa não é nossa... a vida é assim: estamos sozinhos e continuaremos sozinhos.
"Lola", debut de Jacques Demy, é filmado em preto e branco, mas o cineasta extrai cor de todas as situações que retrata, e não importa se o viés é esperançoso (e consequentemente caloroso e vibrante) ou espirituoso e amargo. O filme todo é movido por encontros e desencontros cujos caminhos de destino (existem vários) nunca são aqueles anunciados de início.
Seja através de Eric Rohmer, Claude Chabrol ou Louis Malle, o cinema da Nouvelle Vague sempre foi, literalmente, uma vitrine de luxo, onde poetas e pessoas boêmias entram em lojas e curiosos e transeuntes encaram artigos de luxo nesses locais. Se esse filme fosse traduzido em música, seria uma canção de bossanova: dá muito destaque ao seu país de origem, mas ao mesmo tempo é cinema de exportação, que agrada o olhar estrangeiro. Charmoso, como poucos.
A Ilha de Bergman
3.5 37 Assista AgoraSob uma fachada de realidade (no caso, a figura da pessoa e do cineasta Ingmar Bergman) coexistem várias camadas de ficção (a mitologia por trás de sua obra e o impulso criativo que move cada um de seus filmes). A referência imediata é Cenas de um Casamento, mas os constantes comentários sobre a "maldição da ilha" e as margens para múltiplas interpretações da(s) história(s) remetem diretamente à Hora do Lobo. A dose de mistério é mantida, mas ao invés de vir acompanhada de tensão psicógica, parece um longo vídeo de ASMR com toques de metalinguagem. O filme não é nem sobre o casal e nem sobre Bergman. É uma obra que suga toda a fantasia da existência dele enquanto autor e de suas personagens. Nunca há um grande conflito, todas as escolhas narrativas são acompanhadas de uma serenidade impressionante. Os dois segmentos do filme são verdadeiros faz-de-conta que nunca, de fato, acontecem.
O primeiro é uma farsa: a personagem do Tim Roth, um diretor de cinema renomado, só tem tempo para trabalho e mantém a pose de intelectual que não dá atenção para a esposa, e a personagem da Vicky Krieps finge que se interessa por esse jogo do qual os dois participam. Essa primeira parte é apenas um ensaio para a segunda.
No segundo segmento, o faz-de-conta existe porque a história de amor contada só ocorre de fato no papel. É propositalmente difícil nos conectarmos com ela porque está muito distante de ser uma encenação: é um amor vivido à moda antiga, longe de desapego e sem ser contaminado por bens materiais (aqui, ao contrário do início, a ilha não é uma Disneylandia cinéfila e seus habitantes não ficam usando aplicativo de iPhone para se comunicarem). Eu adorei o filme no geral porque, mesmo partindo do mote das discussões de casal, é uma experiência relaxante, que exalta belas paisagens enquanto desconstrói o processo criativo.
P.S.: Vicky mora no meu coração, mas é Mia Wasikowska dançando ABBA que me conquistou de vez!
Creepshow: Arrepio do Medo
3.7 236 Assista AgoraUm filme intitulado "Creepshow", com esse cartaz, dirigido por quem foi, estrelando o Leslie Nielsen fazendo cara de susto na capa do site, só poderia me causar a impressão de que teria uma abordagem mista de horror e comédia, e isso até acontece, nos dois primeiros episódios dessa antologia, mas, justamente a partir do momento em que o comediante, famoso por "Corra Que a Polícia Vem Aí", aparece em cena, as coisas ficam realmente sombrias, e, se até ali o tom adotado era meio ingênuo, bobo, de brincadeira de criança, a partir desse instante o fator sobrenatural não constitui mais a essência das histórias, mas passa a ser uma consequência do mau comportamento e/ou da hipocrisia das personagens. Nos três últimos contos, o verdadeiro perigo sempre nasce de um toque humano, geralmente impulsionado por algum pecado cometido (que se mostra, literalmente, mortal), ou excesso de soberba. O episódio "Something to Tide You Over" é o meu preferido porque é o ponto de virada do filme enquanto unidade, em que há um movimento de tensão crescente conforme um capítulo passa o bastão para o outro. Foi o único que consegui visualizar no formato de longa-metragem, e funciona basicamente como um thriller psicológico (se fosse um daqueles filmes europeus com cara de festival internacional, todo mundo ia gostar e aceitar). Apesar da inconstância já esperada pelo tipo de narrativa escolhida pelo diretor, eu adorei assistir porque me deparei com muita coisa que não esperava encontrar.
P.S.: O último episódio deveria vir com alerta de gatilho. Meu pai passaria mal.
Gremlins 2: A Nova Geração
3.3 283 Assista Agora"Talvez aqui não fosse um lugar para pessoas. Era um lugar para coisas. Você faz um lugar para coisas, e elas vêm".
Para cada momento de sentimentalismo do primeiro, existe uma brecha para a tiração de sarro nesse segundo. É um filme que ridiculariza suas personagens humanas, as reduz a rascunhos mal feitos de caricaturas, e dá mais destaque às criaturas, cujo corpo, dessa vez, é só um suporte para que o diretor explore todos os tipos de personalidade possíveis para cada um deles. Temos um Gremlin literalmente elétrico, outro metido a intelectual que cita inesperadamente Susan Sontag (vivi para ver isso) e ainda uma versão feminina, vestida de noiva, de um deles. A semelhança é que todos são ligados em tecnologia. Aliás, Nova York, conhecida como uma cidade propícia para a comunicação entre as pessoas, dá ao filme uma cara de peça publicitária querendo ser notada em uma obra de cinema. O ambiente ao ar livre é pouco explorado, todos ficam trancafiados em suas salas de escritório e têm alma de empresário. Se o final do primeiro é fofo e conclusivo, aqui a mentalidade é de expansão. Do filme e dos negócios. Ele não acaba nem quando sobem os créditos finais, porque as grandes corporações estão sempre de olho e não deixam isso ocorrer.
Gremlins
3.5 861 Assista AgoraEm filmes com monstros e/ou criaturas fantásticas, é sempre uma delícia acompanhar a lenta e gradual transformação das pessoas mais céticas da comunidade em questão em seres que acreditam porque tiveram contato com o desconhecido. Geralmente, esse é o primeiro passo para que elas convertam outras pessoas, e logo todos têm contato com a experiência (mas poucos sobrevivem, então não resta quase ninguém para passar a história adiante). O herói é sempre muito altruísta, mas esse consegue se destacar nesse sentido. Gremlins ganha pontos por conter instruções de como matar o bichinho (você pode enfia-lo no microondas ou até assassina-lo a facadas) e por ser o único filme que eu vi em que o Corey Feldman não só interpreta uma criança, como também se comporta como uma. Mesmo com um quê de rebeldia, não deixa de ser um clássico de natal com um final açucarado. Espero mais caos e destruição com o segundo. Pelos comentários, sei que encontrarei isso.
P.S.: Podia rolar um festival só com o tanto de filme que as personagens assistem. A sequência na sala de cinema é tão genial quanto a de "Um Lobisomem Americano em Londres". Na minha cabeça, vivo confundindo e comparando Joe Dante com John Landis.
P.S. 2: Se o protagonista e o seu coleguinha fossem mais cuidadosos e não tivessem deixado cair água na primeira das criaturinhas, as outras não teriam nascido e nada disso teria acontecido.
P.S. 3: A verdade é que a principal característica dos Gremlins não é causar medo, e sim irritar as pessoas a ponto de todos quererem se livrar deles.
Primer
3.5 489 Assista AgoraSilêncio. Os garotos estão brincando de ciência na garagem.
Como uma das personagens diz no final, as imagens são meramente ilustrativas: tudo o que temos são as vozes. São as palavras que indicam o rumo da história, então cabe a nós decidirmos se o narrador é confiável ou não. Eu particularmente não curto muito filmes de ficção científica que não querem assumir elementos de fantasia, são pretensamente racionais e verborrágicos. Essa noção de realismo soa um pouco fake, e não encaixa muito comigo.
Hausu
3.7 241Toda obra, no fundo, é uma mistura, mas sua embalagem final é única. Hausu eleva à máxima potência o significado tanto da primeira quanto da segunda sentença. Tudo no filme fala, quase grita. Os cenários querem ser notados e as cores saltam da tela. Atuando como uma mediadora desses elementos, a edição brinca o tempo todo consigo mesma, como se o projeto fosse um experimento de alguém empenhado em desconstruir, na prática, tudo o que conhece de cinema. Às vezes, parece uma aventura infantil à la Turma da Mônica, com personagens caricatas, facilmente identificáveis. Em outros momentos, é completamente abstrato. O que une todos esses segmentos é a ousadia: o filme nunca permanece no mesmo lugar.
Pequenos Assassinatos
3.7 7- O que você quer fazer? Apenas sobreviver?
- E tirar foto.
- De cocô? Não é o suficiente.
É um filme que se diz super caótico, mas acaba sendo de um jeito caricato, até meio óbvio, e não inovador. Algumas piadas não envelheceram bem e algumas cenas, como aquela em que a Patsy apresenta sua família ao Alfred, funcionariam melhor no formato televisivo, de uma sitcom. No fim, é uma mistura muito intensa de um filme do Buñuel dos anos 60 com uma comédia maluca dos anos 30. O protagonista é tão maduro e decidido quanto um recém-nascido, mas também existe charme na apatia.
P.S.: Donald Sutherland nos anos 70... Que homem!
A Menina que Matou os Pais
3.1 679 Assista AgoraAté a metade, é melhor que o outro. Problemático, ainda, mas em uma voltagem menor. O final é totalmente a vibe de Haneke em "Funny Games", mas no filme errado.
O Menino que Matou Meus Pais
3.0 515 Assista AgoraEm um mundo perfeito, onde o filme pudesse viver apenas de suas ideias, de juntar as duas partes da história em filmes individuais e fazer o público escolher de que lado está, ele funcionaria. Mas a verdade nua é crua é que seria difícil a abordagem escapar de clichês e moralismo.
Tudo é muito focado em ser chocante e edgy bem no estilo "angústia adolescente". Só faltou alguém fazer o símbolo do rock. As escolhas são reducionistas porque têm como consequência a caracterização de um ambiente propício para "andar no mau caminho", em um ambiente de drogas e depravação, quando tem muito mais coisa envolvida.
P.S.: Achei de uma grande falta de criatividade usar um remix de Radiohead na cena em que supostamente deveriamos ver toda a psicodelia envolvida na narrativa. Aquilo é tosco, não passa o efeito que deseja.
Domando o Destino
3.8 78 Assista AgoraEu espero que a Chloé volte a fazer filmes como esse e Nomadland (principalmente o primeiro, porque segue ainda mais à risca sua cartilha), mesmo após sua experiência com a Marvel. Seria uma pena se ela desperdiçasse esse potencial, independentemente da qualidade de seu próximo longa. É muito bonito notar que, ao enquadrar um pedaço da realidade dentro de uma narrativa continuada de ficção, o que está do lado de fora do filme, ou seja, a vivência "real" de cada uma daquelas pessoas, ajuda a formar aquilo que a câmera enxerga. O ator ajuda a personagem. Eles não se conhecem, e não sabem disso, mas nós sabemos: são as mesmas pessoas, mas com motivações diferentes. Porque essa é a grande sacada da experiência: você pode viver uma vida seguindo o mesmo princípio (no caso, domando cavalos), mas se alguém te puxa e incentiva para performar algo que você faz cotidianamente, aquela imagem à qual ninguém tem acesso, só você, que é uma memória, passa a fazer parte de um acervo público, que pertence ao imaginário coletivo. Uma junção de vários fotogramas que formam um álbum de recordações, dos atores/personagens ao público: em quase 100 minutos, estamos lá, com eles. Em determinado momento, inclusive, o protagonista Brady mostra a seu amigo Lane um vídeo dele montando em um cavalo durante um rodeio, antes que desse entrada no hospital. Afinal, quem viveu e quem assistiu?
Gosto de Sangue
3.9 158Muita gente credita o Tarantino como pai desses roteiros ágeis e espertinhos, encomendados para festivais independentes, mas os Coen chegaram antes. Dá para dizer que seus filmes têm muito de suspense em como eles os constroem. Em Gosto de Sangue, contam uma história até os primeiros trinta minutos, te fazem acreditar nela e depois refazem tudo aquilo que você presenciou, quase como se nós fossemos falsas testemunhas. É como se existisse um curta e um longa dentro de um filme só. Eles são mestres em articular um cenário cuja arquitetura aponta sempre para a desconfiança. É o "caos calmo" daqueles ambientes onde nada e tudo acontece, com suas casas escondidas e bares vazios: ninguém escuta nada, mas todo mundo se vigia e sabe o que o outro faz. O filme é movido pelo lema de que quanto menos as personagens souberem (e, consequentemente, o público) melhor. Nossas expectativas são desarmadas porque eles optam por subtrair da trama os elementos centrais do roteiro. Para eles, como exposto no diálogo, menos é mais, então tudo fica menos explícito para que o foco recaia sobre a atmosfera.
P.S.: É incrível como todos os homens são estúpidos e espertos na mesma medida. Suas funções na narrativa estão sempre variando, de forma que a Abby da Frances McDormand sempre esteja no centro da intriga entre os dois protagonistas e, futuramente, seja manipulada pelo quarto, mas não menos importante, elemento dessa trama: o detetive particular. Acho muito legal, inclusive, que o fim acrescente ao suspense que vinha sendo articulado um filme de ação que existe em condomínios fechados, no espaço que separa a fechadura de uma porta do que está do outro lado. Basicamente, um jogo de gato e rato.
O Bandido da Luz Vermelha
3.9 267 Assista Agora"Conclusão: sozinho, a gente não vale nada. E daí?"
O Que Eu Fiz Para Merecer Isto?
3.7 126 Assista Agora- Pare! Por que o matou?
- Os bichos me deixam nervoso.
- Era a nossa única testemunha!
- O lagarto?
- Sim, o lagarto viu o assassino.
- Quando?
- Bom, fiquem aqui. Vou interrogar os vizinhos.
Almodóvar e seus filmes de começo de carreira em que os homens são tão estúpidos que até um lagarto raciocina melhor do que eles. Esse é um filme bem irregular. É pautado por imprevistos e confusões, como em "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos", mas sem aquele nível de caos.
The Wonders: O Sonho Não Acabou
3.9 563Em 1996, Tom Hanks era mais do que simplesmente um ator oscarizado. Era um diretor iniciante, que auxiliava atores brincando de astros da música. Funcionando quase como um “Mockumentary” (no encarte da trilha sonora do filme os membros da banda fictícia posavam e respondiam perguntas como se fossem uma banda de verdade), The Wonders – O Sonho Não Acabou, conta com Tom Everett Scott na bateria, Johnathon Schaech como vocalista, Steve Zahn como guitarrista e Ethan Embry como baixista na formação da banda, além das presenças marcantes de nomes conhecidos, como Liv Tyler, Charlize Theron e do próprio Tom Hanks em papeis secundários, como pessoas que sempre estavam ali, por perto, ora acompanhando, ora interferindo no rumo das decisões tomadas pelo grupo. É bem curioso quando um filme retrata uma área específica do show business, como a música enquanto atração midiática, capaz de promover uma banda ou alça-la ao rótulo de “One-Hit Wonder” (uma brincadeira que é feita ao longo do filme, porque onde quer que eles fossem, tocavam a mesma música, That Thing You Do!, que também estourou fora das telas). Os atores, mesmo que nem sempre estivessem tocando o instrumento da forma correta na “Hora H” e ainda contem com o auxílio de músicos profissionais, tornavam-se aprendizes de instrumentistas, porque viviam aquilo intensamente. É quase como se eles tivessem que aprender as “manhas” de uma outra profissão, o que faz deles, enquanto o filme é projetado, reféns do papel que estão exercendo.
A veia musical de Tom Hanks era tão forte que ele chegou a compor algumas músicas para o filme, ao lado de gente talentosa como o finado Adam Schlesinger e o compositor de cinema Howard Shore. Seu interesse na música era tão grande que, após o lançamento de The Wonders, ele chegou a criar seu próprio selo, com o mesmo nome que levava no filme: Playtone Records. Serviu como fonte de apoio a várias outras trilhas sonoras de cinema e televisão, até mesmo na série Sopranos. Esse lado “falsamente real” do filme nunca é inteiramente explicado, mas basta uma simples pesquisa no Google para você perceber que existiram, sim, pelo menos duas bandas com esse mesmo nome, mas a historinha contada no final para estabelecer o caminho que cada personagem trilhou é inspirada na trajetória da banda The Fabulous Epics. Acaba sendo bem divertido ver como, na indústria, existe mérito, mas também tem todo um script esculpido visando a continuidade do sucesso. Eu assisti a versão estendida, então tive acesso até a mais nuances dessa narrativa: brigas, disputas de ego, entraves românticos. Aqueles velhos clichês de bandas que começam a fazer tour e desabrochar para o mundo. Conhecemos essas histórias, mas cada pessoa é diferente, então sempre teremos uma nova versão dos fatos. Tom Hanks nos mostra uma delas, e é bem divertido e interessante acompanha-la.
Kung-Fusão
3.3 464 Assista AgoraQualquer personagem da história distribui e recebe porrada na mesma medida, por todos os ângulos e de todas as maneiras possíveis. Moral do filme: não importa seu nome e sua função, vai rolar pancadaria, com golpes absurdos e efeitos deliciosos. Entra na categoria de filmes que não têm origem em um material de animação, mas poderiam facilmente ter.
Longe Dela
3.9 133Eu tive uma avó com Alzheimer, e a doença se manifestou nela de forma gradual. Intensa, porém gradual. Por esse motivo, para mim e para a minha mãe, que conviveu ainda mais diretamente com o trauma motivado pela situação, o filme soa um pouco apressado. A vivência pessoal da minha família com ela foi muito de contato, mesmo que ela fosse cuidada por terceiros. Sempre tinha alguém conversando, ou questionando o que estava acontecendo. Ao contrário da protagonista Fiona, a memória da minha avó podia ser localizada no presente, mas não só nele. Como ela ainda convivia com os membros de sua família, as lembranças eram fragmentadas, o tempo se desassociava do espaço. Ela podia muito bem estar sentada em frente a uma escada e se transferir para quando era mãe de crianças pequenas, no outro apartamento em que morava, e tinha que chamá-las para almoçar.
Na narrativa de Longe Dela, Sarah Polley faz uma escolha muito específica que é determinante para o rumo das vidas de Fiona e seu marido, Grant: eles ficaram trinta dias afastados um do outro quando ela dá entrada na clínica. A partir daí, motivado não necessariamente por ciúmes, mas por ignorância, incompreensão da doença, ele começa a apresentar um comportamento obsessivo, como quem quisesse levar ao hospital, diariamente, cada um dos dias vividos por 44 anos de casado. Tendo lido parte do conto em que a história é baseada, dá para perceber que a intenção de Polley era nos levar ao âmago da memória, e não ao background que a envolvia, o contexto em que aquelas vidas se situavam antes de a doença surgir. Bom filme com alguns problemas em sua estrutura.
A Bolha Assassina
3.1 661 Assista AgoraHahahaha. Meu tipo de filme!
Chuck Russell na direção e Frank Darabont no roteiro formam uma dupla e tanto! Os dois têm um pé no cinema underground mas ao mesmo tempo sabem utilizar carga dramática ao seu favor, então o resultado disso é um mega entretenimento extremamente acessível e divertido, que consegue homenagear, ao mesmo tempo, John Carpenter até a goela (principalmente O Enigma de Outro Mundo) e Matinee, do Joe Dante (por causa da ameaça invisível, que se manifesta principalmente na sequência alucinante no cinema). Impressionante a capacidade dos anos 80 de produzir um hit atrás do outro, e muitos deles totalmente fora de órbita, cativando um público mais seleto e se encaixando na prateleira dos "filmes cult" das videolocadoras (para citar outro exemplo de filme que é "b" e comercial ao mesmo tempo, A Pequena Loja dos Horrores).
Eu amo que o mocinho é super improvável e independente e o diretor sacrifica um possível núcleo romântico para provar o seu ponto. Sempre que alguém é enquadrado andando sozinho, à noite, ou dando uns amassos (muito comum pegação em carros, à beira da estrada, em filmes de terror), você já sabe que a bolha do título, algo material, não-humano, e, justamente por isso, imprevisível e nada seletivo (não existe estudo da vítima, nem ponto forte ou ponto fraco, ela ataca todos do mesmo jeito), irá entrar em ação e exercer seu papel na narrativa.
P.S.: Como a família Dillon gosta de uma motocicleta e como o Kevin é igual ao Matt. Jesus.
Maligno
3.3 1,2KComo todos os outros que eu assisti do James Wan, tem suas irregularidades e excessos que o ajudam na mesma medida que o atrapalham. Tem ótimos dez minutos iniciais e depois é todo articulado na base da dicotomia silêncio/barulho, calma/caos. A estética de "Jogos Mortais" e de "Grito Mortais" está toda aí, só que servindo outro tipo de conteúdo. É fato que ele é um prato cheio para quem passou os anos formativos da relação com o cinema vendo filme de terror na tevê, mas eu achei as referências um pouco jogadas na trama, costuradas sem muita coesão. Sorte que é um filme divertido e vai conseguir causar certo furor por ser completamente zureta (é sempre legal quando isso acontece).
Noites de Cabíria
4.5 382 Assista AgoraÀs vezes, nós só temos que aceitar o fato de que um filme foi capaz de nos proporcionar tanta emoção de imediato que qualquer definição a ele soaria reducionista. Só posso dizer que, se a atuação da Giulietta Masina não é a melhor que eu já vi, é a mais poderosa e expressiva, sem precisar provar nada e nem se utilizar de nenhum método para atingir o espectador, só com simplicidade e espontaneidade. A câmera a acompanha o tempo todo e sempre parece estar registrando o desconhecido. Não dá para saber como ela reagirá, nos mínimos detalhes, a nenhum acontecimento. Então é como se ela permitisse que passeássemos por suas emoções.
Morangos Silvestres
4.4 658Desde que a quarentena começou (e eu consigo visualizar bem os momentos de transição), eu comecei a enxergar a vida da mesma forma com a qual o protagonista de Morangos Silvestres, o renomado médico Isak Borg, enxerga: se colocando literalmente no centro de ação, como agente principal de suas próprias memórias (que não fazem parte só do passado, uma vez que o presente é uma ponte para construí-las, e o futuro um dia também será uma lembrança), imagens ora calorosas, ora sombrias, sempre trazendo espectros do que foi deixado de lado, do que foi subvalorizado. Poderia ser um gesto egoísta, mas as pessoas sempre vêm ao seu alcance, como um guia para que ele entre em contato consigo e explore a vida.
Para ser mais específico em meu registro, eu fui acometido por essa sensação a partir de abril do ano passado. Comecei a acordar cedo, aprendi a diferenciar introspecção e solidão de tristeza (antes, eu achava que um era complemento do outro, mas hoje eu percebo que estou só, mas satisfeito e estável, e muito disso foi adquirido com a maturidade) e também comecei a usufruir das relações interpessoais de um jeito mais saudável, sem me favorecer de ninguém e dando apenas o que eu posso oferecer. A vida passou a ser mais serena. Isso que o protagonista sente de ativar aquele cantinho especial das tardes ensolaradas de infância, em que sua larga família colhia morangos e se reunia para almoçar ou jantar juntos, eu também sinto. Minha cabeça gira como em uma linha do tempo, indo de um período a outro de minha trajetória sem nunca me deixar tonto ou enjoado.
Assim como ele possui seus fantasmas e o constante medo de ser julgado, do qual ninguém está 100% imune, eu também tenho muita coisa mal resolvida comigo e até com outras pessoas, mas são dívidas das quais eu não conseguirei dar conta agora e, talvez, nunca. E tudo bem, sabe, a gente faz o que a gente pode. O passado é um só, por isso as pessoas costumam imaginar que, no fim da vida, terão a oportunidade de vivenciar tudo de novo só com o poder da mente. Na "Hora H", todas as pessoas que você conheceu na vida estão interligadas, é quase como elas se conhecessem graças a você. Então, por mais clichê que seja dizer isso, somos responsáveis por nossas trajetórias. As pessoas vêm e voltam, mas se não entendermos que é saudável ser só, contemplar a natureza e todas as outras coisas exatamente como são, e abrir um pouco a janela para emanar paz (para dentro e para fora de si), a solidão dará lugar a uma tristeza profunda. A dor muitas vezes não pode ser evitada, mas pode ser amenizada. Como tudo aquilo que nos assombra.
Shiva Baby
3.8 260 Assista AgoraPlanos de uma vida, como qual faculdade uma jovem fará, qual carreira seguirá e como encarar uma série de fatos desagradáveis que podem atrapalhar um pouco a previsibilidade com que conduzimos nossas escolhas, não cabem em um intervalo de poucas horas, e muito menos nos cômodos apertados de um casa cheia de gente, em uma cerimônia ritualística ajustada para 77 minutos, mas que mais parece durar um dia (acredito que essa era a intenção, pelo grau de aflição envolvido).
Shiva Baby é filmado e montado sob a premissa de que a atenção do público deve recair sobre as reações da protagonista Danielle às notícias que recebe, e é tudo meticulosamente planejado pela diretora Emma Seligman para que você sinta o filme à flor da pele, no ritmo dela. Personagens aleatórias são inseridas na história a todo instante, sem pedir passagem, apenas para preencher a cota de constrangimento e ampliar a caricatura exposta. Tem uma cena emblemática em que seus pais e Max, seu sugar daddy, estão conversando (óbvio que seria sobre algo bombástico), e apesar de estarmos ouvindo-os, eles estão fora de foco, porque tudo já está esquematizado, todas as respostas foram dadas nas expressões de Danielle. A princípio, parece que a câmera é indecisa, não sabe direito o que filma, mas é justamente essa confusão que a dá um norte. Faz efeito? Faz. Poderia ser um pouco menos calculado? Também. Mas gostei do filme, principalmente do tom alcançado no final (eu tinha fortes suspeitas que iria terminar por aquele caminho: um respiro para concluir bem), que é sutil e bonito.
P.S.: Eu geralmente adoro reuniões em família, ao contrário da Dani, mas já presenciei algumas que foram um verdadeiro teste de ansiedade para mim. Então consigo entender a motivação do filme, até mais do que a execução.