Friamente, Capitã Marvel é um filme padrão como os outros dos Estúdios Marvel, com seus erros e acertos: é divertido, tem um ritmo gostoso (te diverte ao longo das 2 horas de projeção; nem vi o tempo passar), possui personagens incríveis, alguns bons plot twists e um roteiro simples, mas bem redondinho, onde, como de costume, as coisas volta e meia se resolvem magicamente, de maneiras muito fáceis. Mas acho válido dizer que essa é a maneira da Marvel de fazer filmes: seus filmes são voltados, sim, para o público mais infantil, por mais que a empresa ainda tente conversar também com a galera mais velha. Eles fizeram isso pelos últimos 10 anos, e provavelmente continuarão fazendo pelos próximos 10. Se você não gosta, Capitã Marvel não vai ser diferente. Mas se você é uma dessas pessoas que, como eu, já está um pouco enjoado desta fórmula, eu ainda recomendo que vá assistir a esse filme no cinema, pois ele faz parte do seleto grupo dos filmes que extraem o melhor do “Marvel way”. Agora, se você gosta, se você é fã, ou se está procurando uma sessão pra se divertir com a sua família, você vai sair do cinema com um puta sorrisão no rosto. Principalmente se você tiver uma filha pequena, leve ela para ver este filme. É muito legal ver toda uma geração de meninas que vão crescer tendo super heroínas incríveis em quem se espelhar. Capitã Marvel é uma protagonista incrível, forte e extremamente carismática (por sinal, se tem uma coisa que a Marvel sabe fazer é criar personagens carismáticos), assim como todo o elenco de apoio (Samuel L. Jackson está incrível). Aliás, o coração desse filme está em seus personagens e no protagonismo feminino (extremamente natural e nunca forçado, como vi algumas pessoas dizendo por aí), muito mais do que na história. Agora, infelizmente, como em alguns outros filmes da Marvel, a história aborda temas interessantes,
mas não se aprofunda em nenhum deles. Isso, obviamente, me deixa com um gostinho amargo na boca, pela oportunidade perdida de se aprofundar um pouquinho mais em temas tão atuais e importantes, principalmente para o público mais novo, sem simplificar demais ao ponto das coisas parecem tão preto no branco
(Krees são maus e querem a dominação/ Skrulls são bonzinhos e só querem uma casa).
Ficou também faltando explorar mais do “background” desse universo cósmico: não sabemos quase nada dos Kree, e de sua história. Enfim, Capitã Marvel sofre dos mesmos problemas da maioria dos filmes da Marvel: vamos lembrar da Capitã Marvel, vamos lembrar dos Skrulls, mas vamos esquecer do filme. Ou seja, os personagens são maiores do que a história, o que, dependendo do ponto de vista, não é necessariamente ruim.
PS: Vi muita gente criticando a personalidade do Nick Fury neste filme. Eu até entendo essas críticas, apesar de não ver problemas com um Fury mais leve, mais fanfarrão, 25 anos amtes dele se tornar o diretor da SHIELD. Mas confesso que eu acho que piadas com gatinho são forçadas demais para um personagem deste tamanho. Dá pra você tornar o persogem engraçado com um pouquinho mais de classe. E já que o tema é gatinhos, eu sou uma das pessoas que não curtiu a forma que o filme conta como o herói perdeu um dos olhos. Ainda assim, eu consigo entender a argumentação das pessoas que adoraram como o filme explica isso (apesar da maioria dessas pessoas, curiosamente, serem donas de gatos)
Visualmente falando, “Isle of Dogs” já deveria valer o ingresso de qualquer amante de animações: o filme é todo feito em stop-motion, técnica a qual eu em particular sou muito fã. E “Ilha dos Cachorros” é uma das exibições mais primorosas do modelo que eu já assisti. Para um leigo como eu, é até difícil descrever. Só sei dizer que é lindo, lindo, lindo, e cheio de detalhes. Aliás, aliado a exuberância visual, a dublagem também é um sucesso, e a gostosa trilha sonoro encaixa perfeitamente com a narrativa.
Quanto a história em si, a narrativa de “Isle of Dogs” segue uma estrutura básica dos filmes infanto-juvenis de aventura, em que um grupo de personagens é movido por um objetivo (encontrar o amigo perdido de Atari), e atrás deste objetivo, estes personagens encontram diversos desafios e vão fortalecendo a relação entre si, tornando-se cada vez mais amigos. Ou seja, em uma projeção descompromissada o filme já poderia agradar pela trama de Atari em busca do seu cachorro, que somado ao seu visual deslumbrante e a maneira a qual é contada, prende o espectador do início ao fim. Porém, é na profundidade de seus temas transversais que o filme se abrilhanta.
Através de sua abordagem antropomofizada, “Ilha dos Cachorros” evidencia a sátira social que o filme propõe no contexto contemporâneo. Como muito bem descrito por Erik Avilez no site Cinema com Rapadura, “É impossível não traçar um paralelo entre o governo que favorece os gatos em Megasaki e os poderes contemporâneos que tratam imigrantes como animais dignos somente de serem sacrificados.” Kobayashi cria uma ameaça inexistente, demoniza todos os integrantes de um grupo, considerando-os indignos de viver, lançando-os ao lixo e posteriormente prometendo exterminá-los como promessa de campanha para eleição. “Esta dimensão é aprofundada ao se observar o fato de que, em grande parte do filme, somente os cães falam em inglês; por se passar no Japão, todos os outros personagens se comunicam e os letreiros que surgem na tela são todos em japonês – e muitas vezes sem tradução. Desta forma, apesar de haver muitas pessoas conversando, só é possível compreender – e, consequentemente, é mais fácil de se conectar – com os cachorros. Essa barreira idiomática serve para ressaltar o subtexto social; os cães, inteligentes e complexos, não conseguem se impor frente àqueles que veneram os gatos por não poderem se comunicar apropriadamente.”
Mas há de se ressaltar que não acredito que “Isle of Dogs” seja uma animação para crianças. Apesar da estrutura narrativa simples da trama principal, esta é uma animação para adultos; seu ritmo não é para todos, e o visual em stop-motion, apesar de belíssimo, pode ser “creepy” demais para algumas crianças. Além disso, o humor não é aquele humor típico que agrada a todas as idades, é um tipo de humor mais inteligente, muitas vezes até mesmo melancólico.
Enfim, ainda que não seja um filme para todos, é uma obra magistral de Wes Anderson, que eu recomendo que você dê uma chance, principalmente pela mensagem que ele está passando. E se você é um amante de gênero, é carta certa! É lindo, é comovente, é inteligente, é oportuno e é original.
Em 1978, a renda média dos norte-americanos era de US$ 48 mil por ano, enquanto os mais ricos ganhavam, em média, US$ 390 mil por ano. Hoje, a média salarial dos trabalhadores do país é de US$ 33,75 mil por ano, enquanto os do topo da pirâmide ganham, em média, US$ 1,1 milhão. Apenas 400 cidadãos americanos têm, juntos, uma riqueza superior à soma de toda a riqueza da metade mais pobre da população. Essa é apenas uma das denúncias que são feitas no documentário "Desigualdade para Todos", que expõe o abismo social nos EUA e desmorona alguns dos mitos associados ao capitalismo, servindo de mensagem não apenas para a população norte-americana, mas para todo o mundo em desenvolvimento.
Cobrindo uma amplo espectro da teoria econômica de modo simples e interessante, o documentário pretende fazer, para a questão da desigualdade de renda, aquilo que Uma Verdade Inconveniente fez para as mudanças climáticas, esforçando-se para manter-se o tempo inteiro imparcial.
E de onde vem o embasamento das verdades inconvenientes que o filme aborda? De um algum pensador de esquerda? Não, quem apresenta o documentário é o economista Robert Reich, professor da Universidade da Califórnia e ex secretário de Trabalho no governo de Bill Clinton (cargo equivalente ao de ministro do Trabalho no governo). Robert é um dos intelectuais mais vistos e ouvidos dos Estados Unidos, autor de 14 livros, editor de revistas, além de participar de incontáveis programas de rádio e televisão, tanto os da Fox News (conservadores) quanto os da CNN (liberais).
Talvez a mensagem mais submersiva passado por Reich seja a de que os ricos não criam empregos. O empreendedor americano Nick Hanauer desmorona um dos mitos associados ao capitalismo, de que os ricos merecem ter privilégios tais como impostos reduzidos para que possam continuar a desempenhar a sua suposta função social. Nick afirma que é falsa a ideia de que "os ricos são criadores de emprego e que por isso não devem pagar impostos", afirmand que o verdadeiro criador de emprego é o consumidor da classe média. Sem uma classe com poder de compra, o mercado estagna.
Enfim, “Desigualdade para Todos” é um documentário que deveria ser assistido por todos. Mais que uma mera aula de teoria econômica, é um alarme para a questão da desigualdade social e para a desinformação e polarização política. Para muitos, será chocante ver a imagem dos EUA como a terra dos sonhos ser substituída por uma mais real, de enorme desigualdade social, onde poucos ganham muito, e a maior parte da população se enche de dívidas para manter o padrão de vida.
Que agradável surpresa foi esta animação! Confesso que devido a alta expectativa, estava com medo de me decepcionar, mas Homem-Aranha: No Aranhaverso figura entre os melhores filmes do aracnídeo, disputando o páreo com Homem-Aranha 1 e 2, do Sam Raimi, cujo maior triunfo fora o de contar uma boa história, com pouquíssimos furos de roteiro, mesclando momentos de comédia com cenas de enorme peso emocional, que emocionam até os menos sensíveis e servem para aprofundar a história e principalmente os personagens (eu fiquei emocionado muitas vezes nesse filme): coisa que nem mesmo o bom novo filme protagonizado por Tom Holland conseguiu. No Aranhaverso consegue ter momentos pesados, fortes, que não precisam apelar pra violência, e prova mais uma vez que um filme não precisa disso para ser mais "adulto". Visualmente, a animação é linda demais, e possui uma identidade visual muito forte: parece que estamos lendo um quadrinho em movimento. E apesar de ser uma animação com designs bastante caricatos, na hora que é o drama, o peso é o mesmo que se você estivesse assistindo a um filme com atores. Quanto a trama, a história do filme é bem simples, e de certa forma linear, mas isso não importa muito, pois este filme é sobre seus personagens, é sobre o que significa ser o Homem-aranha e sobre a dor da perda. O filme dá tanta importância a seus personagens, que até mesmo os vilões são humanizados de forma maestral, sem que o roteiro precise passe a mão na cabeça de suas ações. Agora, ainda que a narrativa seja simples, ela é pouco expositiva e vai exigir um pouco mais dos espectadores que não conhecem o básico da mitologia do aracnídeo. As crianças vão se divertir com as piadas, mas talvez não entendam toda a história em si. Por sinal, quem não está por dentro das histórias do personagem vai se surpreender com o fato do protagonista desta história ser o Miles Morales, e não o Peter. Enfim, o filme funciona tão bem que é difícil apontar defeitos. Ele possui alguns vícios do gênero, como se beneficar de algumas coincidências no roteiro, ou do vilão oscilar entre a ingenuidade e a genialidade, mas não sei se estou sendo exigente demais. Gostaria apenas, talvez, de um pouco mais de profundidade no Homem-Aranha Noir, no Porco-Aranha e na Penny Parker, que apareceram mais pro final do filme e não puderam ser desenvolvidos como os demais. Sei que isso muito se deve ao tempo de tela e ao excesso de personagens, mas eles destoam um pouco de Miles, da Spider-Gwen e do Peter quarentão. Mas é isso. Homem-Aranha no Aranhaverso é sem dúvidas, um dos melhores filmes do ano, e merecia o Oscar de melhor animação. Aliás, é um dos melhores filmes de herói dos últimos tempos, e podia servir de lição a próxima leva de filmes do gênero.
PS1: A música é excelente, e eu saí da sessão procurando a playlist no Spotfy.
PS2: Apesar de muito bem utilizado, achei um exagero os novos poderes que deram ao Miles (invisibilidade e "choques elétricos"). Eu sei que ele possui esses poderes nas HQs, mas sempre achei overpowered demais.
Não gosto de fazer comparações, mas as vezes elas são importantes para facilitar a compreensão da mensagem que queremos passar. Dito isso, este novo filme do Aquaman é o que deveriam ter sido os primeiros filmes do Thor, da Marvel: um filme leve, divertido, com personagens extremamente carismáticos e um roteiro simples e extremamente competente, mas que não procura em momento algum se aprofundar demais, com diversos momentos cafonas e diálogos forçados que beiram o brega, mas o mais importante, que abraça e se aprofunda na mitologia de Atlântida da maneira que a Marvel deveria ter feito com Asgard nos filmes do deus nórdico – este o ponto alto do filme. Além disso, como adaptação do herói, este Arthur Cury está para o personagem das HQs assim como o Thor da Marvel Estúdios está para o Thor dos quadrinhos: a essência do personagem está ali, mas eles retiram toda a parte da nobreza, inteligência e postura de um personagem criado para assumir o trono de uma nação diversa e poderosa, – nas HQs, eles são nobres e agem como tal –, em subsituição a um personagem mais bobalhão e fanfarrão, mas extremamente carismático. Alguns fãs podem torcer o nariz, mas há de se reconhecer que foi uma excelente mudança de paradigma: quero ver quem vai fazer piada com o Aquaman depois dessa encarnação tão “badass” do herói que fala com peixes.
Se vale o preço do ingresso? Na minha opinião, valeu por ser Aquaman, valeu por finalmente ver Atlântida maravilhosamente representada nas telas do cinema, e saí feliz da sessão de cinema, empolgado por ver o personagem tão bem introduzido. São duas horas de puro entretenimento! Porém, ao mesmo tempo, saí do sessão com a triste impressão de que a DC abandonou de vez tudo o que ainda conseguia diferenciá-la da concorrência, e não sei se tenho fôlego pra esse tipo de filme por muito mais tempo – já estou começando a enjoar..
Observações: Fica anotado apenas a oportunidade perdida: este filme poderia trazer uma mensagem bem forte sobre os impactos da poluição dos mares e o que o humanidade está fazendo com nossos oceanos, mas tudo isso acaba ficando de lado e abordado de maneira apenas bem superficial, em detrimento da jornada dos herós atrás do tridente, que se estende por tempo demais. Por mais que isto em momento algum se torne cansativo, já que o filme possui um ótimo ritmo narrativo, acho que poderiam ter investido mais em desenvolver os personagens e as motivações dos atlântes, ou até mesmo em aprofundar o excelente background político que rola entre os 7 Reinos, a la House of Cards ou Game of Thrones. Acho que ficaria bem mais instigante.
Resenhar Os Crimes de Grindelwald é muito difícil, pois como fã da franquia eu saí muito empolgado e animado da sessão. O filme tem tantas referências, easter-eggs e plot-twists que eu fiquei vidrado na tela do cinema do início ao fim, e saí literalmente sem fôlego da projeção, como há anos eu não saía de uma pré-estreia. A relação Grindelwald e Dumbledore é uma das coisas mais incríveis desta franquia, e Jude Law está incrível como o jovem Dumbledore. Pena que ele não é tão protagonista ainda deste filme como esperamos que venha a ser.
Bom, mas passada a euforia inicial, há de se admitir que o filme tem um sério problema: ele apresenta muitas ideias incríveis (são viradas e sacadas brilhantes), mas não desenvolve muito bem nenhuma delas. Falta o primor técnico dos roteiros dos filmes baseados na franquia literária. Como escritora, Rowling consegue desenvolver e aprofundar todas as subtramas e personagens, mas em seus novos filmes não há tempo de criarmos empatia pelos personagens ou nos aprofundarmos em suas histórias, e elanão consegue amarrar todas as pontas soltas. Há um abuso inclusive de soluções preguiçosas, como novos feitiços que funcionam constantemente como “Deus Ex-Machina”.
Outro problema é que o primeiro longa-metragem funcionava muito bem como uma aventura fechada, que conta a história de Newt Scamander, ao mesmo tempo que dá pitadas do que vinha acontecendo no mundo bruxo da época (os ataques de Grindelwald). Nessa continuação, porém, a franquia muda abruptamente de rumo para contar a história da batalha entre Dumbledore e Grindewald. Isso pra mim é um problema a partir do momento que a franquia se chama Animais Fantásticos, e que temos um grupo de protagonistas que nos fora apresentado no primeiro filme que tomam um tempo da trama que deveria estar sendo investida no arco de Grindelwald. Mas o problema não é Newt Scamander, que é um excelente personagem, é a obrigação que Rowling tem agora de inserir ele em uma história que não é dele. Não se trata mais da história de Newt, trata-se agora da história de Grindewald e Dumbledore, e JK tem que inserir o magizoologista no meio de uma das histórias mais interessantes da franquia. Num livro, em que temos páginas e mais páginas para desenvolver cada uma das subtramas, isso funcionaria melhor. Mas em um filme, sobrecarrega o roteiro.
E olha, é difícil até dizer isso diante de todas as polêmicas que envolvem o ator Johnny Deep ao longo dos últimos anos, mas com todas as ressalvas possíveis ao ator, Grindelwald rouba a cena. Dito isso, achei que faltou um pouco da carga dramática esperada de um vilão do nível de Grindelwald. Quero ter tanto medo do bruxo, quanto tínhamos de Voldemort. Neste segundo longa-metragem sua retórica é incrível, seu discurso extremamente poderoso, e fica fácil entender como ele conseguiu tantos seguidores. Mas falta um pouco do peso de um vilão do nível de Voldemort. Gostaria de ver mais o personagem nas sombras. Aliás, o nome do filme é Crimes de Grindelwald, e ele não comete nenhum. Rs
Enfim, Animais Fantásticos e Onde Habitam é um filme feito sob medido para os fãs, infelizmente na conotação negativa do termo. Com tantos easter-eggs, referências e revelações incríveis, ficamos sedados diante dos problemas do roteiro, que é totalmente dependente de um conhecimento da franquia para funcionar: o filme é muito auto referente, e se você não tem conhecimento mínimo do universo e das histórias do universo criado pela autora, você não tem a base necessária para entender os conflitos deste filme, e achará que o filme não faz sentido nenhum, um compilado de cenas soltas e personagens que não se desenvolvem. Mas há uma luz: JK nos brinda com excelentes ideias (o filme trata de temas muito atuais) e muito potencial para os próximos filmes. E bom, se você é fã da franquia, como eu, vai curtir pra caramba mesmo, e surtar com todas as referências, não tem jeito. Rs
Como fã de Harry Potter, a experiência de voltar a este mundo é tão gostosa que pode nublar minha percepção quanto a qualidade do filme. Mas acho que dá pra chegar no consenso de que Animais Fantásticos e Onde Habitam é um filme divertido, com personagens carismáticos, mas bem despretencioso, que provavelmente vai agradar mais ao aficcionados pela franquia.
O ponto alto do filme, sem sombra de dúvidas, é a direção de arte e os efeitos visuais. Sério, que filme lindo e que efeitos de tirar o fôlego. Eu, que amo Pokémon, fiquei completamente apaixonado pelas criaturas do zoológico particular de Newt (e sério, a mala dele é uma poké-bola do mundo bruxo, reparem só). O design dos diversos animais é impressionante, e eles estão muito reais. Mas não só as criaturinhas estão lindas, todo o figurino e cenários são esplêndidos, desde a sede do Conselho de Magia dos EUA até a reconstituição das ruas de uma Nova York dos anos 1920.
Os personagens são extremamente carismáticos, principalmente Newt e Jacob, e a interação entre eles é ótima.
A trama é muito interessante, mas por mais fascinado que fique com tudo que envolve a franquia de JK, tenho algumas ressalvas à narrativa visual de Rowling. O filme se divide em dois arcos: a perseguição de Scamander pelos seus animais fantásticos, e a problemática do bruxo Grindelwald, que fica o tempo inteiro ali como background. A trama fica indo e vindo nessas duas narrativas, mas o problema é que o roteiro dá mais atenção a trama envolvendo Scamander (o que seria ótimo, visto que é a melhor parte da trama. Por mim, o filme focava apenas no arco do personagem), em detrimento ao resto, que soa meio apressado e com soluções preguiçosas, ações bobinhas que trazem consequências gigantes pra trama, como a maneira que o personagem Creedence foi utilizado: foi colocada um puta carga dramática no personagem, e no final ele foi somente utilizado de escada pra trama principal. E essa é minha maior crítica ao filme: enquanto nos livros da franquia você tem tempo de desenvolver com calma e profundidade cada uma das subtramas e personagens, num filme de 2 horas, muita coisa se perde diante do excesso. E por mais que estes elementos possam ser melhor desenvolvidas em futuras continuações, atrapalham o filme como entretenimento.
Enfim, Animais Fantásticos e Onde Habitam é um filme divertidíssimo e visualmente fantástico, mas que não possui o primor de roteiro que é marca registrado dos livros de Harry Potter. E é obrigatório para os fãs da franquia, que vão se deleitar com as referências e expansão do universo da autora.
Na mais nova tentativa da indústria do entretenimento de modernizar o icônico livro Fahrenheit 451, a HBO nos apresenta essa sociedade em que os bombeiros queimam livros, ao invés de apagar incêndios. O filme acompanha a trajetória de autodescoberta de Guy Montag (Michael B. Jordan), um bombeiro que faz seu trabalho sem questionar nada, acreditando que está ajudando a manter a ordem, queimando publicações e impedindo que o conhecimento se dissemine como praga, que livros polêmicos ofendam determinados grupos ou minorias, que algumas histórias possam inflamar a população, e a eclosão de guerras religiosas incentivadas por escrituras em livros sagrados. Mas Montag vê seu mundo virar de cabeça pra baixo depois de conhecer Clarisse (Sofia Boutella), uma garota que o faz desafiar todas as suas convicções e crenças. Nesse contexto, Montag se vê em um dilema entre o que sempre foi instruído a fazer por seu chefe Beatty (Michael Shannon) e o que passa a considerar realmente certo.
Bem, há duas formas distintas de avaliarmos o novo filme da HBO: como adaptação de um dos maiores clássicos da literatura do século passado, ou como uma obra à parte. Como filme, este Fahrenheit 451 é uma aventura de ficção morna, um entretenimento acessível para quem quer apenas espairecer. O longa-metragem do diretor Ramin Bahrani conta com um excelente visual, um elenco de qualidade, nos introduz um universo riquíssimo e apresenta ótimas ideias, mas peca pela superficialidade do roteiro. Nada é devidamente aprofundando, principalmente o funcionamento das engrenagens que movem este mundo, o que vai desagradar profundamente os fãs do gênero. Até mesmo a crítica social inerente a obra é tocada apenas na superfície, e falta substância no roteiro para que o espectador entenda mais a fundo o funcionamento desta sociedade e suas motivações.
O trio de protagonistas é magistralmente interpretado, mas o roteiro não ajuda. Montag carece de motivações e senti falta de coerência a seu personagem (um drama do passado até é inserido durante a projeção, mas nada que consiga justificar a mudança repentina do personagem, muito menos acarretar nas decisões que ele acaba tomando), e Clarisse é uma coadjuvante rasa. Mas apesar disso, o filme conta com excelentes diálogos (tirados diretamente do livro), que servem para fortalecer o papel do suposto antagonista, Capitão Beatty, que acaba roubando a cena e sendo a coisa mais interessante deste longa. Shannon está ótimo como sempre, e seu personagem é o único com a devida profundidade.
Mas até aí, se você conseguir ignorar por completo o livro original ou não estiver atrás de ficar horas refletindo sobre o que viu na tela do cinema, este Fahrenheit 451 não será de todo ruim, funcionando como “thriller” e filme de aventura. O meu maior problema com o filme é o terceiro ato, no qual nos é jogado um novo “plot” (o tal omnis) meio sem pé e nem cabeça, completamente desnecessário, que acelera demais o ritmo no final e tira completamente o foco daquilo que vinha sendo construído (aos trancos e barrancos) até então.
Enfim, como filme, Fahrenheit 451 consegue trazer boas atuações e nos apresentar um universo interessante e ótimas ideias, mas falha miseravelmente na construção do roteiro, que nunca se aprofunda aonde deveria, e o resultado é um filme morno, que funciona melhor como thriller de ação e que pode, no melhor dos cenários, atrair a atenção de uma nova geração para ir atrás do livro original.
PS: Como adaptação, este Fahrenheit 451 perde toda a essência da obra de Bradbury, subvertendo os pilares da narrativa original e ignorando por completo a mensagem que o autor pretendia passar contra a indústria do entretenimento e a busca incessante da sociedade moderna por passa-tempos e distrações. Como muito bem citado por Martinho Neto, do site Cinema com Rapadura, “ao adaptar uma obra que critica diretamente a perda de interesse pela leitura, em decorrência da massificação da mídia televisiva e o emburrecimento da sociedade causado por esse fator, “Fahrenheit 451” surpreende – de forma negativa – por ter uma trama tão superficial e pobre de discussões, tornando-se parte do objeto da crítica de sua própria fonte primordial."
Muito se sabe sobre a corrida espacial do final do século XX, entre Estados Unidos e União Soviética, e dos desbrodamentos da missão Apollo 11. No entanto, pouco sabemos sobre o primeiro homem a pisar em solo lunar. O Primeiro Homem, baseado na biografia autorizada de Neil Armstrong, o livro O Primeiro Homem - A Vida de Neil Armstrong, de James R. Hansen (Intrínseca, 512 páginas, R$ 59,90), acompanha justamente o astronauta norte-americano durante os 8 anos de preparação para a missão Apollo 11, que o levou até a Lua. Ou seja, este filme não é sobre a missão Apollo 11, nem sobre como o homem chegou a Lua: o espectador não irá encontrar um filme informativo sobre a corrida espacial – apesar do filme prestar várias referências ao momento socio-político da época –, nem um filme de aventura espacial. Uma perda visceral está na origem da dedicação de Armstrong ao Projeto Apollo, e O Primeiro Homem é um filme focado justamente na na percepção de mundo do protagonista, oferecendo uma visão intimista do astronauta. Vale muito a pena conhecer a história por trás dessa lenda. O ser humano tem a tendência de mistificar grandes homens e seus feitos, mas esquecemos que por trás de tudo isso, há uma pessoa comum. Cheeze acerta justamente em rejeitar a mitificação do primeiro homem a pisar na Lua e explorar a fragilidade de Neil Armstrong. Por isso, O Primeiro Homem não se trata simplesmente de um filme sobre um herói destinado à história, mas da história de um homem comum, cheio de traumas, angústias e defeitos. Trata-se da história do homem por trás da figura história, e por isso é belíssimo. Infelizmente, por se manter fiel a personalidade de seu protagonista, a obra acaba por nos privar de momentos catárticos – eu, por exemplo, estou até agora com o choro engasgado por todas as perdas que acontecem ao longo da projeção –, e de algumas passagens importantes da corrida espacial. Agora, cá entre nós, na minha opinião, o ingresso já valeria o preço apenas pela sensação visual de vivenciarmos junto de Armnstrong as experiências do Projeto Apollo, seja em uma das muitas simulações e dos treinamentos que o astronauta tinha que fazer em terra, ou no cubículo apertado que é o "cockpit" das naves, com construções visuais claustrofóbicas, nas quais o espectador sente-se sufocado junto do protagonista, ou então na chegada do homem a lua, em planos mais abertos, nos quais o espectador sente-se literalmente no astro, dando os primeiros passos em primeira pessoa junto do astronauta.
PS: Fiz um “post” também discutindo um pouquinho sobre a fidelidade histórica do longa-metragem, então se você quer saber se aquela cena na qual
Vejam bem, Venom não é um bom filme. Mas ainda assim, ele não chega a ser uma ofensa a sua inteligência como vem sendo taxado por algumas críticas. Podemos compará-lo aos filmes de super-herói dos ano 1990, e do começo dos anos 2000, quando o gênero ainda estava se estabelecendo. Mas está longe de ser tão ruim quanto Demolidor, Elektra ou Mulher-Gato. O filme funciona como entretenimento, mas com a devida suspensão de descrença, pois o roteiro não é dos melhores, com furos aqui e ali – decisões motivadas por estupidez dos personagens e exageros para forçar uma coincidência que culminam em situações que beiram o absurdo. A maior parte dos problemas do filme provém desses absurdos no roteiro, e da falta de profundidade da história e dos personagens – o que faz com que a gente acabe não se identificando da maneira que devíamos com nenhum desses personagens, principalmente com o vilão, que apresenta conceitos interessantes, mas é pessimamente desenvolvido Tom Hardy é o único que consegue se destacar, entregando a melhor atuação do filme, transmitindo bem a sensação de incômodo que o simbionte causa em Eddie Brock. Aliás, a relação entre Eddie e Venom, por mais cafona que seja as vezes, é uma das melhores coisas do filme. Resumindo bem, é o seguinte: se você gosta de filmes “blockbuster” e adora filmes de super-heróis, não acha que o gênero já está começando a ficar saturado, e se divertiu ao assistir quase todos os filmes da Marvel e DC, OK, esse é um filme que provavelmente vai te divertir, e valer o preço do ingresso – até porque, filmes de super-heróis são sempre mais legais de se assistir no cinema do que em casa. E ele tem alguns méritos pra isso, principalmente por apresentar uma dinâmica – se funciona ou não, é outra história – que é bem diferente da que estamos acostumados nos filmes tradicionais de herói – justamente a interação entre Eddie e Venom. Enfim, o filme ainda tem alguns outros problemas, mas o objetivo aqui é dar uma impressão rápida. Caso tenha interesse em uma análise um pouco mais completa (mas ainda procurando ser o mais objetiva possível, e sem falar "difícil") acesse a resenha completa no Blog Portfólio da Vida.
Pantera Negra é aquele agradável ponto fora da curva (a la Soldado Invernal) que conseguiu cativar meu coração e me fez vibrar na sala de cinema como há anos nenhum filme de super herói fazia. Não vou nem entrar no mérito da importância da representatividade deste filme: muita gente mais gabaritada que eu o está fazendo. Ainda assim, gostaria de ressaltá-la. Dessa vez, devo parabenizar a Marvel. É incrível a forma com a qual o estúdio criou Wakanda, misturando alta tecnologia com a cultura e as tradições milenares do povo africano. Eu, particularmente, amo esse tipo de abordagem; sociedades altamente desenvolvidas mas que ao mesmo tempo mantém na estética e na cultura valores e práticas milenares. O visual deste filme e o trabalho de pesquisa feito com ele é de tirar o chapéu. Os personagens são todos extremamente carismáticos, o roteiro não é previsível (fazia tempos que eu não segurava no braço da cadeira durante um filme deste tipo) e ainda arruma tempo para tratar de temas tão atuais e tão importantes, como imigração, preconceito, xenofobia, segregação social e representatividade. Outro ponto que me agradou muito é que o filme em momento algum força no humor: não há piadas forçadas nem excesso de cenas de humor. É um filme divertido, sem querer ficar te fazendo rir o tempo todo. Como sentia falta disso! Quanto aos antagonistas, que costumam ser o calcanhar de Aquiles dos filmes da Marvel, fiquei dividido. Garra Sônica está formidável, e Killmonger é um vilão real, muito crível; um monstro fruto de uma realidade que atinge a muitas pessoas. Dono de ótimas frase de impacto (um soco no estômago dos desavisados), ele é um ótimo antagonista ao Pantera. Porém, admito que adoraria que ele fosse menos "porradeiro". Seria ótimo vê-lo usar de seus argumentos pra tentar mudar a postura do Pantera, convencê-lo ideologicamente; mais como se ele fosse um político radical do que um monstro criado pela sociedade apenas em busca de vingança. Porém, Pantera Negra ainda é um blockbuster que precisa de um ritmo mais acelerado para não entediar parte de seu público, então muitas vezes bons diálogos são substituídos por frases trocadas entre alguns sopapos. Isso é a única coisa que ainda me incomoda nos filmes do gênero de super herói: o tempo inteiro tentando transitar entre a aventura juvenil e um pouco de seriedade e pé no chão. Isso faz com que mesmo quando o filme tenta tratar de assuntos mais sérios, como política e as dificuldades de ser um líder, ele não possa abandonar o ritmo frenético que o público exige e se aprofundar um pouco mais em um outro momento. Admito, porém, que isso é algo muito particular meu. Enfim, Pantera Negra é, na minha opinião, o melhor produto recente da Marvel, não abandonando seu público, mas amadurecendo na narrativa e na forma de tratar de temas tão atuais. Que sirva de exemplo para as produções futuras, num mercado que estava começando a saturar.
Há tempos eu queria assistir ao falado documentário "The Propaganda Game". Aproveitando que o mesmo ainda está no catálogo da Netflix e aos recentes eventos durante as Olimpíadas de Inverno na Coréia do Sul, achei que era a hora de o fazer. No mundo exterior, temos boatos e notícias incessantes sobre o regime de Kim Jon-un, alguns até criados sem base na realidade mas dos quais ninguém duvida. Quem de vocês lembra do episódio da circulação da notícia de que o tio de Kim Jong-un teria sido jogado aos cães como forma de execução? Jang Song-thaek realmente foi preso e executado, mas a versão dos cães foi criada por um tabloide chinês e durante algum tempo o mundo acreditou, afinal na Coreia do Norte tudo parece possível. E, como dito com razão pelo site O Estranho Sem Nome, enquanto o ocidente procura informações, os norte-coreanos as distribuem para quem quiser ouvir, o que inclui cineastas curiosos. É interessante a maneira como este documentário foi produzido. Para a sua realização, o diretor Álvaro Longoria contou com a ajuda e autorização de Alejandro Cao de Benos, o único estrangeiro que trabalha para o governo da República Popular Democrática da Coreia, sendo um grande apologista do sistema (o que por si só já daria uma história interessantíssima). Durante as gravações, toda a equipe do filme foi acompanhada em todos os momentos por políticos, agentes do governo e guias turísticos locais, que tentaram ao máximo mostrar os prós de se viver em uma sociedade comunista, onde o acesso à educação, moradias, saúde, transportes e alimentação é de graça, porém, controladas pelo governo. Admito que eu esperava um documentário que me desse respostas, e não que me enchesse de perguntas. Fui garoto. Afinal, ninguém sabe de verdade como é a vida dentro da Coréia do Norte. Pouca coisa é respondida, o que deveria ser óbvio diante de um regime tão fechado e onde tudo pode não ser o que aparenta. "The Propaganda Game" baseia-se em exibir as cenas de felicidade das rotinas dos norte-coreanos e da aparente paradisíaca cidade de Pyongyang filmadas durante a visita de Alvaro a capital, e contradizê-las com os discursos mostrados por desertores do sistema, especialistas e na imprensa do ocidente. Nesse contexto, muito da propaganda norte-coreana se dá por meio de discursos estagnados em arquétipos de guerra, onde o vilão é o invasor ocidental e o herói é o resistente do combate, que deve se orgulhar do seu território, defendê-lo bravamente e adorar o seu líder e salvador da guerra. Os norte-coreanos adoram seus líderes como deuses desde a mais tenra infância. Nas ruas, tudo é perfeito demais: as casas, os prédios, os mercados. Tudo muito perfeito. Perfeito até demais. E uma pergunta não sai da cabeça de Alvaro: de onde vem esse dinheiro? Ao entrevistar as pessoas nas ruas e na cidade, o que vemos são respostas quase iguais, frases prontas, parecendo um esquadrão de robôs do governo, como apontado por um usuário abaixo. E apesar disso, a expressão corporal/facial parece querer dar uma resposta completamente diferente. Há algumas cenas marcantes, como no caso de um menino que estava de rolê numa praça, e foi perguntado por Alejandro sobre seus sonhos. Ele disse que estava estudando para ser maquinista de trem. Depois de um pequeno momento de hesitação, o rapaz responde que o sonho dele é ser maquinista de trem e servir seu grande líder. Outra imagem chocante: um homem está lendo jornal na estação de metrô, e é escolhido para uma entrevista para o filme. De repente, ele começa a suar frio, como se sua vida dependesse da resposta àquelas perguntas. É difícil acreditar que aquelas pessoas e aquelas informações são verdadeiras. Parece tudo artificial. Mas ao mesmo tempo, eu quase acreditei. Durante um breve momento, eu quase quis me mudar para llá. Esse é o poder da propaganda. PS: Senti apenas falta de mais embasamento nos discursos dos especialistas do ocidente. De onde eles tiravam suas certezas acerca das alegações que faziam contra o regime norte-coreano? Algumas vezes ficou parecendo que, de fato, eles apenas vilanizam o regime da mesma forma que o regime os vilanizava.
Lançado em 1942, Bambi é possivelmente umas das mais clássicas e conhecidas animações dos estúdios Disney. Narrativamente falando, para alguns Bambi é um filme chato, arrastado e sem grandes atrativos. Para outros, a animação é uma obra sensível que marcou gerações. Uma coisa, porém, é “Hors concours”: visualmente o filme é esplêndido: cada cenário foi desenhado com um cuidado impressionante. De fato, uma obra-prima que serviria de referência para toda uma nova geração de filmes animados. Eu não lembro quando assisti Bambi pela primeira vez. Ainda assim, tenho “flashes” e cenas do filme bem marcados em minha memória, como o canto dos pássaros que marca o nascimento do pequeno cervo na abertura da animação. Mas assistir novamente a animação, depois de ter lido o livro e tantos anos depois, foi uma experiência deliciosa. Bambi é, de fato, um filme arrastado, que talvez não agrade as crianças de nosso tempo pela falta do frenetismo e da comédia das animações contemporâneas. É um filme extremamente contemplativo e um tanto quanto melancólico, o que é reforçado pela magnífica trilha sonora orquestrada. A trama é simples, e pouca coisa acontece (basicamente acompanhamos Bambi crescer enquanto faz alguns amigos na floresta, e vez ou outra tem que fugir de caçadores na floresta), mas o fato do filme em si ser curto, é uma decisão acertada, pois não nos deixa enjoar do ritmo da narrativa. Enfim, grande homenagem ao clássico de Felix Salten (inclusive reproduzindo fielmente algumas passagens do livro), Bambi é uma belíssima animação, gostosa de assistir, principalmente pela curta duração, e que apesar de não ter conseguido me emocionar como Rei Leão, merece ser assistida pela sua importância e sensibilidade narrativa. Mas recomendo mesmo é a leitura do livro de Salten, clássico atemporal que consegue passar ainda melhor as mensagens que a animação se dispõe a contar. Bambi é possivelmente umas das mais clássicas e conhecidas animações do estúdios Disney. Lançado em 1942, visualmente o filme é esplêndido: cada cenário foi desenhado com um cuidado impressionante.
Travei uma batalha interna para aceitar a proposta de Thor: Ragnarok. Não consegui aceitar de maneira alguma que o filme escolhido pela Marvel pra entrar de vez no gênero de comédia seria o Ragnork, o fim dos tempos nórdico. Também demorei para aceitar que a Marvel iria continuar fazendo filmes leves e de entretenimento descompromissado, para toda a família. Mas uma que você ve tenha aceitado isso, Thor inegavelmente vai se provar um bom entretenimento. Mas não pelos motivos que eu estava pensando. Existe uma diferença entre Thor e os últimos filmes da Marvel. Enquanto esgotado da fórmula do estúdio, Thor não é mais um filme de introdução a outro herói em uma aventura genérica. Thor Ragnarok, por mais entregue que esteja a esta fórmula, é o arco final de personagens que acompanhamos desde 2011 e isso por si só já dá outro peso dramático ao filme. Eu acompanho esses caras de 2008, e me apeguei ao deus do Trovão. O visual do filme é muito bom, apesar de ter sentido novamente falta de ver mais de Asgard. Inegavelmente a mitologia nórdico e o rico universo de personagens me mantivram preso na historia. A mitologia nórdica é uma terial riquíssimo para os filmes do Thor, e dentro da proposta do filme, foram muito bem utilizados. Admito que o filme me prendeu do início ao fim, e conseguiu ser imprevisível mais de uma vez. Principalmente na resolução final. Sim, algumas piadas são muito forçadas, e cheguei a ter momentos de vergonha alheia durante a sessão, mas de uma maneira geral o humor funciona. Você vai rir, se divertir. Me diverti mais assistindo Thor 3 do que GG2. Como nem tudo são flores, minha crítica é aquela dos chatos de plantão: o ritmo alucinado do filme, que não dá tempo de você assimilar o que acontece em tela, personagens sem profundidades, cenas sem sentido e o fato do filme ser repleto de boas ideias, mas não se dar ao tempo de desenvolver nenhuma delas. Hela é uma vilã com um puta potencial. As referências ao passado de Odin e seu papel nos primórdios de Asgard nunca são explorados, sempre pra dar lugar a uma cena de açõa mais impactante ou a uma piada deslocada. Aliás, a sensação de assistir Thor Ragnarok é a mesma a de assistir um desenho animado. Ame ou odeie, é como as coisas são. Enfim, dito isso, curiosamente Thor Ragnarok foi o melhor dos últimos filmes da Marvel que assisti. Mesmo se entregando a comédia e em alguns momentos a galhofa, ele é o mais original e subversivo dos últimos filmes da Marvel. Agora, por mais que o saldo seja positivo, fica o questionamento: este ciclo está acabando. Os medalhões que ainda me fazem vibrar nos filmes da Marvel estão com os dias contados. Thor, Capitão América e Homem de Ferro não devem voltar depois de Guerra Infinita. A fórmula Marvel está sim desgastada, e sem os medalhões para tirarem o melhor dela, sinceramente não sei se tenho interesse em continuar indo ao cinema para assistir a esse tipo de filme com novos personagens que não possuo o apego emocional que criei pelos já existentes.
O Círculo Dourado tinha a ingrata missão de superar seu predecessor. Eu, particularmente, achava isso um tanto difícil. Kingsman tinha sido um filme que veio sem prometer nada e pegou a todos de surpresa. Com as expectativas lá em cima, ia ser difícil ser surpreendido novamente, afinal, por mais divertido que fosse o filme, que brincava com o conceito do gênero dos antigos filmes de espionagem, perderia o ineditismo e poderia cair na mesmice. Fico feliz em dizer o quanto estava enganado. O Círculo Dourado não repete apenas a fórmula do primeiro filme, mas a expande, principalmente ao dar mais corpo a mitologia dos Kingsman (Não há como não adorar os Statesman!). O filme continua brincando com todos os clichês do gênero, mas sem nunca enjoar. E além das marcas registradas do primeiro filme (personagens carismáticos, cenas de ação plásticas de tirar o fôlego, narrativa frenética e mortes à la Game of Thrones), Kingsman 2 insere uma crítica social pesadíssima que pode surpreender quem foi ao cinema achando que seria um mero filme de ação descompromissado. O teor cínico da narrativa e os vários diálogos ácidos combinam com a franquia e vão, com certeza absoluta, fazer muita gente se sentir incomodada. Enfim, Kingsman 2 é um dos melhores filmes Blockbusters do ano: entrega o que promete e ainda arruma tempo para discutir um tema tão difícil e atual como a guerra às drogas. Ademais, dá uma aula aos recentes filmes de herói de como fazer longas tomadas de ação sem enjoar o espectador. Tudo isso faz de o Círculo Dourado o filme clichê menos clichê dos últimos anos, e mostra que franquia ainda tem muito fôlego pela frente. PS1: O que dizer da maravilhosa participação de Sir Elton John? PS2: Uma pena o papel de Channing Tatum ter perdido espaço durante o filme por conta de conflitos de agenda..
“Essa crítica é referente ao corte do diretor lançado em DVD”
Blade Runner é um clássico Cult dos anos 80, aclamadíssimo por ter redefinido o gênero no cinema. Com um visual incrível até mesmo para os dias de hoje, um futuro fascinante, sombrio e duvidoso nunca antes visto no cinema, e uma trilha sonora estupenda somada a uma pegada contemplativa que funciona maravilhosamente bem, é impossível não reconhecer o quanto o filme serviu de inspiração para quase tudo o que veio depois. Assistindo o filme pela primeira vez, fica claro o quanto obras como Matrix e Ghost in The Shell pegaram do seu visual e clima. Ghost in the Shell então, nem se fala! Bem, não vou chover no molhado ao tentar destrinchar porque o filme nasceu um clássico, até porque não sou um crítico profissional e existem muitos artigos melhores por aí cumprindo esse papel. Como entretenimento, Blade Runner funciona muito bem. É uma história noir de investigação num cenário pós apocalípistico instigante. Porém, fãs da obra original (como eu) já devem ir avisados: o filme não adapta fielmente a trama do livre, e deixa de lado alguns dos questionamentos mais interessantes do livro de Phillip K. Dick. O filme de Ridley Scott aposta mais no visual e numa aventura policial de clima noir (que funciona muito bem), e num primeiro momento achei que não mergulhou em questionamentos ou em personagens muito profundos como achei que iria. Porém, quanto mais eu parava para pensar no filme, quanto mais eu lembrava de cenas específicas, a ficha começou a cair. Blade Runner é sim um filme rodeado de camadas e filosofias interessantes, e talvez o que tenha me nublado a este fato inicialmente foi o fato da obra já ter sido replicada tantas e tantas vezes em outras franquias que seus temas não foram tão impactantes a mim quanto foram na época de sua exibição original. Em “Androides Sonham com Ovelhas Elétricas”, os andróides não estão ali para cumprir o papel de antagonismo, de forma de várias vezes durante a leitura você não questiona se não seria o próprio Deckard o vilão da história. Não acho essa temática tão bem explorada quanto no livro de K. Dick, mas Blade Runner consegue humanizar com maestria o insano líder dos Replicantes no último ato do filme. O personagem, que a princípio parecia a mim vilanesco demais, se mostra um antagonista complexo e cheio de camadas humanas, que só quer viver a sua vida. Enfim, é difícil falar de um filme amado por tantos, ainda mais fora do contexto de seu lançamento. Mas sou um fã declarado da obra original, portanto, estou muito ansioso pela continuação. OBS: As pessoas falaram durante tantos anos sobre “Deckard: Humano ou Replicante”, e admito que não consegui pegar o motivo de tanto alvorço durante a projeção. No livro, é muito claro que o caçador é um humano, e esse questionamento nunca foi relevante para a história. Porém, após assistir ao filme, fui ler umas teorias na internet, e até que elas fazem sentido dentro do roteiro. Mas, honestamente, pra mim ainda não faz muito diferença na história do longa-metragem. OBS 2: A cena final deste filme é talvez uma das cenas mais marcantes da história do cinema, e certamente se tornou um dos meus momentos favoritos dentro de todos os filmes que já assisti. “Like tears in the rain” é simplesmente arrebatador, todos deveriam assistir este filme apenas para contemplar este final.
Thank God For Jokes foi meu primeiro contato com o comediante Meki Birbiglia. Cheguei até aqui por recomendação do Podcast Braincast, e não esperava encontrar neste Stand Up o que encontrei. O show de Birbiglia é diferenciado. Diferente dos Stand Ups que estou acostumado, Mike não sobe ao pouco para jorrar piadas; ele é quase um story teller, e seu humor surge da forma mais inesperada, de forma inocente, na forma que ele conta histórias e as vai conectando num todo maior até o fim do espetáculo. Thank God For Jokes pode não ter sido o espetáculo mais engraçado que assisti, talvez até pelo seu humor ser mais simples e inocente (apesar de alguns momentos provocativos, como quase nenhum comediante consegue escapar), mas Mike me pegou pelo seu carisma (dá vontade de abraçar o cara), pela forma diferente de fazer humor, e pela emocionante mensagem dos minutos finais deste show!
Admito que eu estava com boas expectativas para Emoji. A ideia era muito interessante e com potencial para render um filme extremamente criativo e rodeado de referências, críticas e alfinetadas, a exemplo de Uma Aventura Lego e Detona Ralph! Na trama, somos transportados a Textopolis, a cidade dos Emojis, aonde cada emoji tem sua função dentro do celular do jovem Alex. Gene, o emoji Meh (a carinha de desânimo), vai substituir seus pais como o emoji que não deveria se empolgar com nada. Mas, devido a uma falha, ele mistura as expressões de todos os outros emojis, provocando um bug geral na central de controle da cidade na hora que é convocado, e Alex acaba mandando uma mensagem sem sentido para sua “crush”. Desesperado, ele decide levar seu celular para a assistência técnica formatar o aparelho. Começa então a sua jornada ao lado do emoji Hi-5, a mãozinha, para que todos os aplicativos do celular não sejam deletados. Gene busca seu lugar no mundo, se recusando a ser o que esperam dele, e assim como Ralph passava por inúmeros jogos em sua epopeia, Gene e seus amigos se deparam com diversos aplicativos num celular, entre eles Facebook, Instagram, Youtube, Just Dance e até Candy Crush. E é justamente aí que está o ponto alto do filme: existem piadas, tiradas e easter eggs que funcionam muito bem. A animação faz questão de adereçar tais tópicos, como se cutucasse seu público alvo, criticando-os levemente. Assim temos menções ao déficit de atenção da garotada, e inclusive as relações de amizade no mundo pós-moderno, questionando a inversão de valores em um mundo onde a quantidade de curtidas que você recebe vale mais do que um tempo de qualidade com as pessoas queridas. Além disso, o filme ainda trata da crise de identidade do protagonista, que é tratado como um “defeito” por ser diferente dos demais e tenta abrir mão de algo que o faz se sentir bem para ser aceito na sociedade. Tudo isso e Emoji ainda arruma tempo para discursar brevemente sobre a independência feminina. No entanto, ainda que a animação abrace tudo isso, porque está sendo tão massacrada pela crítica? Infelizmente, apesar de bem intencionado, Emoji apenas toca esses temas na superfície: nenhuma das ideias é muito bem desenvolvida. Mas até aí, OK, já estaria melhor que muita animação infantil presente no mercado, que existem apenas para entreter. Acredito que o mais pegou nos críticos foi que o filme perdeu a oportunidade de criticar os muitos aspectos negativos ligados à era digital, como o imediatismo e o fim do ato da leitura, para retratar os adolescentes de forma danosa, como estudantes que utilizam o celular o tempo inteiro, inclusive dentro de salas de aula (o que é a realidade), mas de forma casual e sem em momento algum criticar essa postura
(chega ao ponto de uma menina dizer que gosta de alguém que sabe expressar seus sentimentos, sendo que tudo o que o garoto fez foi mandar uma carinha por SMS. Por mais que encare isso com humor, há o medo disso reforçar essa ideia na cabeça da criançada.)]
Enfim, Emoji é uma animação inventiva, que, porém, não tenta revolucionar o gênero nem se aprofunda nos temas que se propõe a abordar como a Pixar ou a Dreamworks: possui ótimas ideas, um belo visual, mas uma trama que não sabe aproveitar o seu potencial. O resultado não foi exatamente o que eu esperava, mas o filme está longe também de merecer a chuva de críticas negativas que vem recebendo, sendo no mínimo um entretenimento divertido pra criançada e que não fere a inteligência daquele que não é seu público-alvo: nós.
A Batalha do Planeta dos Macacos, que é, em termos de história, o mais fraco de todos. O roteiro é muito mais focado em fechar o ciclo da história do que gerar debates filosóficos com as críticas e sátiras dos filmes anteriores. O pior de tudo é ter que engolir que no breve intervalo de tempo entre esse o quarto filme todos os macacos tenham aprendido magicamente a falar. Mas, apesar disso tudo, eu gostei do filme. Gostei talvez até por sua inocência, e por seu final ambíguo. Nunca saberemos se o final desse filme abre uma nova linha do tempo, em que humanos e macacos conseguirão viver em harmonia, ou se esse antecede mesmo o primeiro filme. E foi essa ambiguidade que me agradou: a esperança de que talvez hajam dias melhores, coisas que os outros filmes definitivamente não passam. Mas que fique claro que esse aqui é mais um filme de Sessão da Tarde mesmo. Uma das poucas boas reflexões que tive ao assisti-lo foi a de que o ser humano fica tedioso em tempos de paz, ávido por conflito, mesmo quando o mundo parece ir muito bem. E se o final não é tão surpreendente quanto os outros quatro, o filme conta com uma triste reviravolta, que só me confirmou o quanto é bom assistir filmes em que você nunca sabe o que vai acontecer. Você se identifica com os personagens, mas tem medo por eles, e assisti o filme todo tenso, porque você sabe que eles podem morrer, e que definitivamente qualquer coisa pode acontecer. Esse tipo de imprevisibilidade é uma coisa que eu acho que falta nos filmes de hoje em dia. Não que eu queira que meus personagens preferidos morram em tela, mas é legal você compartilhar das emoções e aflições que eles passam durante os filmes.
Planeta dos Macacos: A Origem, conseguiu ser tudo aquilo que os antigos prelúdios não conseguiram, e superou todas as expectativas, sendo sem sombra de dúvidas um de meus filmes preferidos. O filme respeita o filme de 1968, traz várias referências que vão agradar aos fãs, e apresenta uma história de origem que mesmo quem nunca viu nenhum dos filmes originais vai conseguir acompanhar. A história desse filme também é muito bonita, e ficamos emocionados em vários momentos do longa-metragem. Ele pode não ter toda a sátira social do filme original, mas também está carregado de questionamentos e críticas a nossa sociedade. Aqui, tantos anos após o fim da Guerra Fria, somos levados a nos questionar sobre toda a política de uso de cobaias em experimentos, e de como tratamos os animais, sejam em abrigos ou em zoológicos. A discussão a esse respeito é muito bem contrabalanceada ao acompanharmos a situação do personagem interpretado por John Lithgow, que sofre de Alzheimer. Acompanhar seu sofrimento, e de sua família, é tão tocante quando acompanhar o sofrimento dos animais do laboratório. Algo que talvez poucos tenham reparado é que esse filme começa exatamente como o primeiro filme: com uma caçada. Aqui, vemos chimpanzés serem capturados para servirem de cobaias em laboratórios, o mesmo que acontece logo no começo do primeiro filme, mas com humanos. Achei genial, mesmo que tenha sido sem querer. Gostei também da atuação de James Franco, que conseguiu me passar uma atuação pra lá de depressiva, totalmente condizente com o momento pelo qual personagem está passando. Mas quem merece um Oscar por sua atuação é Andy Serkis, que interpreta Caesar. O macaco é todo feito por computação gráfico, e o ator é responsável por transmitir todas as sua emoções; missão pra lá de difícil. Mas não podíamos esperar menos de quem já foi responsável por Smeagol e King Kong. Os macacos, todos feitos em computação gráfica, são bem realistas. Há cenas em que realmente fica muito difícil de os diferenciar de um macaco de verdade.
Não há muito o que falar do filme do Tim Burton. O filme é meio que massacrado pela crítica, mas não é um filme ruim. O problema maior é que ele perde toda a questão social dos filmes originais. É um bom filme pra passar o tempo, com uma trama que te prende na história, um clima mais sombrio, ótimas reviravoltas, e com uma maquiagem melhor ainda. Sem nenhum auxílio de computação gráfico, eu consegui acreditar que aqueles atores eram macacos de verdade. Enfim, só não vá esperando ver um roteiro permeado de camadas e diálogos atemporais como nos antigos filmes da franquia. Mas vale sim o seu tempo. PS: Este filme vale também pelo final mais "no sense" de toda a série. E nunca saberemos a resposta pra esse final, porque jamais teremos uma sequencia.
De Volta ao Planeta dos Macacos, o segundo filme da franquia, foi o que eu achei mais chatinho, apesar de não ser o mais fraco de roteiro. O filme é um claro caça-níqueis: a Sony não vinha muito bem financeiramente na época, e depois do inesperado sucesso do primeiro Planeta dos Macacos, tentou tirar proveito da franquia, o que é até compreensível. Acontece que esse filme é quase uma repetição do primeiro. Apesar disso, há novas questões interessantes abordadas, como os hippies e a Guerra do Vietnã. O general gorila Ursus usa da desculpa de que os macacos precisam expandir as fronteiras em busca de alimento para iniciar uma guerra de conquista. Que outro país que conhecemos faz o mesmo? O filme fica chato mesmo quando aparecem os tais dos humanos mutantes. Essa parte do filme é bem maçante. Mas o final consegue ser tão surpreendente quanto o do primeiro. Eu adorei esse final. Além disso, era quase uma mensagem dos EUA para a União Soviética, do tipo:
A Conquista do Planeta dos Macacos é o quarto filme da franquia. Assim como todos os outros, ele faz várias críticas sociais ao abordar questões como a escravidão e o abuso de poder. Mas ao mesmo tempo, achei um dos filmes com o pior tipo de argumentação. Acho muito difícil de acreditar, mesmo pro cinema mais inocente da época, que um vírus mate todos os cães e gatos que e por isso os seres humanos resolveram usar macacos como animais de estimação. Até que o roteiro tenta justificar, falando que o desejo do ser humano em ter um bichinho de estimação é tamanho que até mesmo um macaco serve, e fazendo uso também da célebre frase do terceiro filme: "um homem mata seu irmão, mas não mata seu cachorro." Mas mesmo assim fica difícil de engolir, principalmente entender como esse macacos, dotados da inteligência de um macaco comum, passaram a agir como humanos apenas seguindo as instruções de um único macaco inteligente. Mas enfim, fazendo toda uma suspensão de descrença, o filme é bom. Deve ter diversas referências que talvez eu consiga pegar assistindo uma segunda vez. E a cena final é novamente excelente. Porém, poucos sabem que a versão original da produção termina com o cruel linchamento do Governador pelos primatas revoltosos, após um emocionante discurso de Ceasar. Porém, por ser considerado pessimista demais, um outro final foi criado mostrando o líder dos macacos tendo uma atitude de clemência. Essa versão traz uma conclusão um pouco mais otimista, deixando implícito que poderia haver uma coexistência pacífica entre as duas raças. PS: A nova Trilogia feita pela FOX é um prelúdio muito melhor e mais crível que este de 1972.
A Fuga do Planeta dos Macacos é o mais família dos filmes da franquia (bem, pelo menos até a cena final). Cheguei a escutar que foi ele o responsável por popularizar a série pra um público mais família, dando início a todo o merchandising baseado em sucessos do cinema. Eu achei o filme extramente divertido, apesar dele ter alguns exageros, e ter horas que é necessário uma boa dose de suspensão de descrença. Como todo filme da franquia, não podia faltar uma boa dose de sátira social. Acredito que uma das melhores sacadas do filme foi uma alusão a nossa "mídia do espetáculo", em que qualquer coisa é motivo pra fazer alguém virar celebridade da noite pro dia, até mesmo macacos falantes que vieram do espaço. E com a mesma velocidade que a mídia alavanca essas "celebridades", ela as jogam na lama. Ouvi dizer que há também uma referência ao modo que o serviço secreto americano trata seus prisioneiros. Acho essa interpretação muito válida, e faz todo o sentido. Há uma passagem desse filme que acho digna de destaque. Quando questionado sobre o fato de que ao matar os macacos inteligentes poderíamos estar evitando o fim da humanidade como a conhecemos, o presidente lança o seguinte questionamento: "Se voltássemos no tempo, pra quando Hitler era uma criança. Mesmo sabendo de tudo que o futuro nos reservava, você teria coragem de matar uma criança inocente?" Enfim, esse terceiro longa é divertido, apesar ser bem menos pensado que o primeiro. Mesmo assim, diferente do segundo, não achei o filme arrastado em momento algum. Vale ressaltar o final surpreendente novamente. Esse, em especial, é chocante demais, principalmente pras crianças que provavelmente o assistiram, já que ele passa essa impressão de ser um filme mais família.
Capitã Marvel
3.7 1,9K Assista AgoraFriamente, Capitã Marvel é um filme padrão como os outros dos Estúdios Marvel, com seus erros e acertos: é divertido, tem um ritmo gostoso (te diverte ao longo das 2 horas de projeção; nem vi o tempo passar), possui personagens incríveis, alguns bons plot twists e um roteiro simples, mas bem redondinho, onde, como de costume, as coisas volta e meia se resolvem magicamente, de maneiras muito fáceis. Mas acho válido dizer que essa é a maneira da Marvel de fazer filmes: seus filmes são voltados, sim, para o público mais infantil, por mais que a empresa ainda tente conversar também com a galera mais velha. Eles fizeram isso pelos últimos 10 anos, e provavelmente continuarão fazendo pelos próximos 10. Se você não gosta, Capitã Marvel não vai ser diferente. Mas se você é uma dessas pessoas que, como eu, já está um pouco enjoado desta fórmula, eu ainda recomendo que vá assistir a esse filme no cinema, pois ele faz parte do seleto grupo dos filmes que extraem o melhor do “Marvel way”.
Agora, se você gosta, se você é fã, ou se está procurando uma sessão pra se divertir com a sua família, você vai sair do cinema com um puta sorrisão no rosto. Principalmente se você tiver uma filha pequena, leve ela para ver este filme. É muito legal ver toda uma geração de meninas que vão crescer tendo super heroínas incríveis em quem se espelhar. Capitã Marvel é uma protagonista incrível, forte e extremamente carismática (por sinal, se tem uma coisa que a Marvel sabe fazer é criar personagens carismáticos), assim como todo o elenco de apoio (Samuel L. Jackson está incrível). Aliás, o coração desse filme está em seus personagens e no protagonismo feminino (extremamente natural e nunca forçado, como vi algumas pessoas dizendo por aí), muito mais do que na história.
Agora, infelizmente, como em alguns outros filmes da Marvel, a história aborda temas interessantes,
(como a questão dos refugiados)
(Krees são maus e querem a dominação/ Skrulls são bonzinhos e só querem uma casa).
Enfim, Capitã Marvel sofre dos mesmos problemas da maioria dos filmes da Marvel: vamos lembrar da Capitã Marvel, vamos lembrar dos Skrulls, mas vamos esquecer do filme. Ou seja, os personagens são maiores do que a história, o que, dependendo do ponto de vista, não é necessariamente ruim.
PS: Vi muita gente criticando a personalidade do Nick Fury neste filme. Eu até entendo essas críticas, apesar de não ver problemas com um Fury mais leve, mais fanfarrão, 25 anos amtes dele se tornar o diretor da SHIELD. Mas confesso que eu acho que piadas com gatinho são forçadas demais para um personagem deste tamanho. Dá pra você tornar o persogem engraçado com um pouquinho mais de classe. E já que o tema é gatinhos, eu sou uma das pessoas que não curtiu a forma que o filme conta como o herói perdeu um dos olhos. Ainda assim, eu consigo entender a argumentação das pessoas que adoraram como o filme explica isso (apesar da maioria dessas pessoas, curiosamente, serem donas de gatos)
Ilha dos Cachorros
4.2 655 Assista AgoraVisualmente falando, “Isle of Dogs” já deveria valer o ingresso de qualquer amante de animações: o filme é todo feito em stop-motion, técnica a qual eu em particular sou muito fã. E “Ilha dos Cachorros” é uma das exibições mais primorosas do modelo que eu já assisti. Para um leigo como eu, é até difícil descrever. Só sei dizer que é lindo, lindo, lindo, e cheio de detalhes. Aliás, aliado a exuberância visual, a dublagem também é um sucesso, e a gostosa trilha sonoro encaixa perfeitamente com a narrativa.
Quanto a história em si, a narrativa de “Isle of Dogs” segue uma estrutura básica dos filmes infanto-juvenis de aventura, em que um grupo de personagens é movido por um objetivo (encontrar o amigo perdido de Atari), e atrás deste objetivo, estes personagens encontram diversos desafios e vão fortalecendo a relação entre si, tornando-se cada vez mais amigos. Ou seja, em uma projeção descompromissada o filme já poderia agradar pela trama de Atari em busca do seu cachorro, que somado ao seu visual deslumbrante e a maneira a qual é contada, prende o espectador do início ao fim. Porém, é na profundidade de seus temas transversais que o filme se abrilhanta.
Através de sua abordagem antropomofizada, “Ilha dos Cachorros” evidencia a sátira social que o filme propõe no contexto contemporâneo. Como muito bem descrito por Erik Avilez no site Cinema com Rapadura, “É impossível não traçar um paralelo entre o governo que favorece os gatos em Megasaki e os poderes contemporâneos que tratam imigrantes como animais dignos somente de serem sacrificados.” Kobayashi cria uma ameaça inexistente, demoniza todos os integrantes de um grupo, considerando-os indignos de viver, lançando-os ao lixo e posteriormente prometendo exterminá-los como promessa de campanha para eleição. “Esta dimensão é aprofundada ao se observar o fato de que, em grande parte do filme, somente os cães falam em inglês; por se passar no Japão, todos os outros personagens se comunicam e os letreiros que surgem na tela são todos em japonês – e muitas vezes sem tradução. Desta forma, apesar de haver muitas pessoas conversando, só é possível compreender – e, consequentemente, é mais fácil de se conectar – com os cachorros. Essa barreira idiomática serve para ressaltar o subtexto social; os cães, inteligentes e complexos, não conseguem se impor frente àqueles que veneram os gatos por não poderem se comunicar apropriadamente.”
Mas há de se ressaltar que não acredito que “Isle of Dogs” seja uma animação para crianças. Apesar da estrutura narrativa simples da trama principal, esta é uma animação para adultos; seu ritmo não é para todos, e o visual em stop-motion, apesar de belíssimo, pode ser “creepy” demais para algumas crianças. Além disso, o humor não é aquele humor típico que agrada a todas as idades, é um tipo de humor mais inteligente, muitas vezes até mesmo melancólico.
Enfim, ainda que não seja um filme para todos, é uma obra magistral de Wes Anderson, que eu recomendo que você dê uma chance, principalmente pela mensagem que ele está passando. E se você é um amante de gênero, é carta certa! É lindo, é comovente, é inteligente, é oportuno e é original.
Desigualdade para Todos
4.1 8Em 1978, a renda média dos norte-americanos era de US$ 48 mil por ano, enquanto os mais ricos ganhavam, em média, US$ 390 mil por ano. Hoje, a média salarial dos trabalhadores do país é de US$ 33,75 mil por ano, enquanto os do topo da pirâmide ganham, em média, US$ 1,1 milhão. Apenas 400 cidadãos americanos têm, juntos, uma riqueza superior à soma de toda a riqueza da metade mais pobre da população. Essa é apenas uma das denúncias que são feitas no documentário "Desigualdade para Todos", que expõe o abismo social nos EUA e desmorona alguns dos mitos associados ao capitalismo, servindo de mensagem não apenas para a população norte-americana, mas para todo o mundo em desenvolvimento.
Cobrindo uma amplo espectro da teoria econômica de modo simples e interessante, o documentário pretende fazer, para a questão da desigualdade de renda, aquilo que Uma Verdade Inconveniente fez para as mudanças climáticas, esforçando-se para manter-se o tempo inteiro imparcial.
E de onde vem o embasamento das verdades inconvenientes que o filme aborda? De um algum pensador de esquerda? Não, quem apresenta o documentário é o economista Robert Reich, professor da Universidade da Califórnia e ex secretário de Trabalho no governo de Bill Clinton (cargo equivalente ao de ministro do Trabalho no governo). Robert é um dos intelectuais mais vistos e ouvidos dos Estados Unidos, autor de 14 livros, editor de revistas, além de participar de incontáveis programas de rádio e televisão, tanto os da Fox News (conservadores) quanto os da CNN (liberais).
Talvez a mensagem mais submersiva passado por Reich seja a de que os ricos não criam empregos. O empreendedor americano Nick Hanauer desmorona um dos mitos associados ao capitalismo, de que os ricos merecem ter privilégios tais como impostos reduzidos para que possam continuar a desempenhar a sua suposta função social. Nick afirma que é falsa a ideia de que "os ricos são criadores de emprego e que por isso não devem pagar impostos", afirmand que o verdadeiro criador de emprego é o consumidor da classe média. Sem uma classe com poder de compra, o mercado estagna.
Enfim, “Desigualdade para Todos” é um documentário que deveria ser assistido por todos. Mais que uma mera aula de teoria econômica, é um alarme para a questão da desigualdade social e para a desinformação e polarização política. Para muitos, será chocante ver a imagem dos EUA como a terra dos sonhos ser substituída por uma mais real, de enorme desigualdade social, onde poucos ganham muito, e a maior parte da população se enche de dívidas para manter o padrão de vida.
Homem-Aranha: No Aranhaverso
4.4 1,5K Assista AgoraQue agradável surpresa foi esta animação! Confesso que devido a alta expectativa, estava com medo de me decepcionar, mas Homem-Aranha: No Aranhaverso figura entre os melhores filmes do aracnídeo, disputando o páreo com Homem-Aranha 1 e 2, do Sam Raimi, cujo maior triunfo fora o de contar uma boa história, com pouquíssimos furos de roteiro, mesclando momentos de comédia com cenas de enorme peso emocional, que emocionam até os menos sensíveis e servem para aprofundar a história e principalmente os personagens (eu fiquei emocionado muitas vezes nesse filme): coisa que nem mesmo o bom novo filme protagonizado por Tom Holland conseguiu. No Aranhaverso consegue ter momentos pesados, fortes, que não precisam apelar pra violência, e prova mais uma vez que um filme não precisa disso para ser mais "adulto".
Visualmente, a animação é linda demais, e possui uma identidade visual muito forte: parece que estamos lendo um quadrinho em movimento. E apesar de ser uma animação com designs bastante caricatos, na hora que é o drama, o peso é o mesmo que se você estivesse assistindo a um filme com atores.
Quanto a trama, a história do filme é bem simples, e de certa forma linear, mas isso não importa muito, pois este filme é sobre seus personagens, é sobre o que significa ser o Homem-aranha e sobre a dor da perda. O filme dá tanta importância a seus personagens, que até mesmo os vilões são humanizados de forma maestral, sem que o roteiro precise passe a mão na cabeça de suas ações.
Agora, ainda que a narrativa seja simples, ela é pouco expositiva e vai exigir um pouco mais dos espectadores que não conhecem o básico da mitologia do aracnídeo. As crianças vão se divertir com as piadas, mas talvez não entendam toda a história em si. Por sinal, quem não está por dentro das histórias do personagem vai se surpreender com o fato do protagonista desta história ser o Miles Morales, e não o Peter.
Enfim, o filme funciona tão bem que é difícil apontar defeitos. Ele possui alguns vícios do gênero, como se beneficar de algumas coincidências no roteiro, ou do vilão oscilar entre a ingenuidade e a genialidade, mas não sei se estou sendo exigente demais. Gostaria apenas, talvez, de um pouco mais de profundidade no Homem-Aranha Noir, no Porco-Aranha e na Penny Parker, que apareceram mais pro final do filme e não puderam ser desenvolvidos como os demais. Sei que isso muito se deve ao tempo de tela e ao excesso de personagens, mas eles destoam um pouco de Miles, da Spider-Gwen e do Peter quarentão.
Mas é isso. Homem-Aranha no Aranhaverso é sem dúvidas, um dos melhores filmes do ano, e merecia o Oscar de melhor animação. Aliás, é um dos melhores filmes de herói dos últimos tempos, e podia servir de lição a próxima leva de filmes do gênero.
PS1: A música é excelente, e eu saí da sessão procurando a playlist no Spotfy.
PS2: Apesar de muito bem utilizado, achei um exagero os novos poderes que deram ao Miles (invisibilidade e "choques elétricos"). Eu sei que ele possui esses poderes nas HQs, mas sempre achei overpowered demais.
Aquaman
3.7 1,7K Assista AgoraNão gosto de fazer comparações, mas as vezes elas são importantes para facilitar a compreensão da mensagem que queremos passar. Dito isso, este novo filme do Aquaman é o que deveriam ter sido os primeiros filmes do Thor, da Marvel: um filme leve, divertido, com personagens extremamente carismáticos e um roteiro simples e extremamente competente, mas que não procura em momento algum se aprofundar demais, com diversos momentos cafonas e diálogos forçados que beiram o brega, mas o mais importante, que abraça e se aprofunda na mitologia de Atlântida da maneira que a Marvel deveria ter feito com Asgard nos filmes do deus nórdico – este o ponto alto do filme.
Além disso, como adaptação do herói, este Arthur Cury está para o personagem das HQs assim como o Thor da Marvel Estúdios está para o Thor dos quadrinhos: a essência do personagem está ali, mas eles retiram toda a parte da nobreza, inteligência e postura de um personagem criado para assumir o trono de uma nação diversa e poderosa, – nas HQs, eles são nobres e agem como tal –, em subsituição a um personagem mais bobalhão e fanfarrão, mas extremamente carismático. Alguns fãs podem torcer o nariz, mas há de se reconhecer que foi uma excelente mudança de paradigma: quero ver quem vai fazer piada com o Aquaman depois dessa encarnação tão “badass” do herói que fala com peixes.
Se vale o preço do ingresso? Na minha opinião, valeu por ser Aquaman, valeu por finalmente ver Atlântida maravilhosamente representada nas telas do cinema, e saí feliz da sessão de cinema, empolgado por ver o personagem tão bem introduzido. São duas horas de puro entretenimento! Porém, ao mesmo tempo, saí do sessão com a triste impressão de que a DC abandonou de vez tudo o que ainda conseguia diferenciá-la da concorrência, e não sei se tenho fôlego pra esse tipo de filme por muito mais tempo – já estou começando a enjoar..
Observações: Fica anotado apenas a oportunidade perdida: este filme poderia trazer uma mensagem bem forte sobre os impactos da poluição dos mares e o que o humanidade está fazendo com nossos oceanos, mas tudo isso acaba ficando de lado e abordado de maneira apenas bem superficial, em detrimento da jornada dos herós atrás do tridente, que se estende por tempo demais. Por mais que isto em momento algum se torne cansativo, já que o filme possui um ótimo ritmo narrativo, acho que poderiam ter investido mais em desenvolver os personagens e as motivações dos atlântes, ou até mesmo em aprofundar o excelente background político que rola entre os 7 Reinos, a la House of Cards ou Game of Thrones. Acho que ficaria bem mais instigante.
Animais Fantásticos - Os Crimes de Grindelwald
3.5 1,1K Assista AgoraResenhar Os Crimes de Grindelwald é muito difícil, pois como fã da franquia eu saí muito empolgado e animado da sessão. O filme tem tantas referências, easter-eggs e plot-twists que eu fiquei vidrado na tela do cinema do início ao fim, e saí literalmente sem fôlego da projeção, como há anos eu não saía de uma pré-estreia. A relação Grindelwald e Dumbledore é uma das coisas mais incríveis desta franquia, e Jude Law está incrível como o jovem Dumbledore. Pena que ele não é tão protagonista ainda deste filme como esperamos que venha a ser.
Bom, mas passada a euforia inicial, há de se admitir que o filme tem um sério problema: ele apresenta muitas ideias incríveis (são viradas e sacadas brilhantes), mas não desenvolve muito bem nenhuma delas. Falta o primor técnico dos roteiros dos filmes baseados na franquia literária. Como escritora, Rowling consegue desenvolver e aprofundar todas as subtramas e personagens, mas em seus novos filmes não há tempo de criarmos empatia pelos personagens ou nos aprofundarmos em suas histórias, e elanão consegue amarrar todas as pontas soltas. Há um abuso inclusive de soluções preguiçosas, como novos feitiços que funcionam constantemente como “Deus Ex-Machina”.
Outro problema é que o primeiro longa-metragem funcionava muito bem como uma aventura fechada, que conta a história de Newt Scamander, ao mesmo tempo que dá pitadas do que vinha acontecendo no mundo bruxo da época (os ataques de Grindelwald). Nessa continuação, porém, a franquia muda abruptamente de rumo para contar a história da batalha entre Dumbledore e Grindewald. Isso pra mim é um problema a partir do momento que a franquia se chama Animais Fantásticos, e que temos um grupo de protagonistas que nos fora apresentado no primeiro filme que tomam um tempo da trama que deveria estar sendo investida no arco de Grindelwald. Mas o problema não é Newt Scamander, que é um excelente personagem, é a obrigação que Rowling tem agora de inserir ele em uma história que não é dele. Não se trata mais da história de Newt, trata-se agora da história de Grindewald e Dumbledore, e JK tem que inserir o magizoologista no meio de uma das histórias mais interessantes da franquia. Num livro, em que temos páginas e mais páginas para desenvolver cada uma das subtramas, isso funcionaria melhor. Mas em um filme, sobrecarrega o roteiro.
E olha, é difícil até dizer isso diante de todas as polêmicas que envolvem o ator Johnny Deep ao longo dos últimos anos, mas com todas as ressalvas possíveis ao ator, Grindelwald rouba a cena. Dito isso, achei que faltou um pouco da carga dramática esperada de um vilão do nível de Grindelwald. Quero ter tanto medo do bruxo, quanto tínhamos de Voldemort. Neste segundo longa-metragem sua retórica é incrível, seu discurso extremamente poderoso, e fica fácil entender como ele conseguiu tantos seguidores. Mas falta um pouco do peso de um vilão do nível de Voldemort. Gostaria de ver mais o personagem nas sombras. Aliás, o nome do filme é Crimes de Grindelwald, e ele não comete nenhum. Rs
Enfim, Animais Fantásticos e Onde Habitam é um filme feito sob medido para os fãs, infelizmente na conotação negativa do termo. Com tantos easter-eggs, referências e revelações incríveis, ficamos sedados diante dos problemas do roteiro, que é totalmente dependente de um conhecimento da franquia para funcionar: o filme é muito auto referente, e se você não tem conhecimento mínimo do universo e das histórias do universo criado pela autora, você não tem a base necessária para entender os conflitos deste filme, e achará que o filme não faz sentido nenhum, um compilado de cenas soltas e personagens que não se desenvolvem. Mas há uma luz: JK nos brinda com excelentes ideias (o filme trata de temas muito atuais) e muito potencial para os próximos filmes. E bom, se você é fã da franquia, como eu, vai curtir pra caramba mesmo, e surtar com todas as referências, não tem jeito. Rs
PS: Fazia anos que não via um 3D tão bom.
Animais Fantásticos e Onde Habitam
4.0 2,2K Assista AgoraComo fã de Harry Potter, a experiência de voltar a este mundo é tão gostosa que pode nublar minha percepção quanto a qualidade do filme. Mas acho que dá pra chegar no consenso de que Animais Fantásticos e Onde Habitam é um filme divertido, com personagens carismáticos, mas bem despretencioso, que provavelmente vai agradar mais ao aficcionados pela franquia.
O ponto alto do filme, sem sombra de dúvidas, é a direção de arte e os efeitos visuais. Sério, que filme lindo e que efeitos de tirar o fôlego. Eu, que amo Pokémon, fiquei completamente apaixonado pelas criaturas do zoológico particular de Newt (e sério, a mala dele é uma poké-bola do mundo bruxo, reparem só). O design dos diversos animais é impressionante, e eles estão muito reais. Mas não só as criaturinhas estão lindas, todo o figurino e cenários são esplêndidos, desde a sede do Conselho de Magia dos EUA até a reconstituição das ruas de uma Nova York dos anos 1920.
Os personagens são extremamente carismáticos, principalmente Newt e Jacob, e a interação entre eles é ótima.
A trama é muito interessante, mas por mais fascinado que fique com tudo que envolve a franquia de JK, tenho algumas ressalvas à narrativa visual de Rowling. O filme se divide em dois arcos: a perseguição de Scamander pelos seus animais fantásticos, e a problemática do bruxo Grindelwald, que fica o tempo inteiro ali como background. A trama fica indo e vindo nessas duas narrativas, mas o problema é que o roteiro dá mais atenção a trama envolvendo Scamander (o que seria ótimo, visto que é a melhor parte da trama. Por mim, o filme focava apenas no arco do personagem), em detrimento ao resto, que soa meio apressado e com soluções preguiçosas, ações bobinhas que trazem consequências gigantes pra trama, como a maneira que o personagem Creedence foi utilizado: foi colocada um puta carga dramática no personagem, e no final ele foi somente utilizado de escada pra trama principal. E essa é minha maior crítica ao filme: enquanto nos livros da franquia você tem tempo de desenvolver com calma e profundidade cada uma das subtramas e personagens, num filme de 2 horas, muita coisa se perde diante do excesso. E por mais que estes elementos possam ser melhor desenvolvidas em futuras continuações, atrapalham o filme como entretenimento.
Enfim, Animais Fantásticos e Onde Habitam é um filme divertidíssimo e visualmente fantástico, mas que não possui o primor de roteiro que é marca registrado dos livros de Harry Potter. E é obrigatório para os fãs da franquia, que vão se deleitar com as referências e expansão do universo da autora.
Fahrenheit 451
2.6 173 Assista AgoraNa mais nova tentativa da indústria do entretenimento de modernizar o icônico livro Fahrenheit 451, a HBO nos apresenta essa sociedade em que os bombeiros queimam livros, ao invés de apagar incêndios. O filme acompanha a trajetória de autodescoberta de Guy Montag (Michael B. Jordan), um bombeiro que faz seu trabalho sem questionar nada, acreditando que está ajudando a manter a ordem, queimando publicações e impedindo que o conhecimento se dissemine como praga, que livros polêmicos ofendam determinados grupos ou minorias, que algumas histórias possam inflamar a população, e a eclosão de guerras religiosas incentivadas por escrituras em livros sagrados. Mas Montag vê seu mundo virar de cabeça pra baixo depois de conhecer Clarisse (Sofia Boutella), uma garota que o faz desafiar todas as suas convicções e crenças. Nesse contexto, Montag se vê em um dilema entre o que sempre foi instruído a fazer por seu chefe Beatty (Michael Shannon) e o que passa a considerar realmente certo.
Bem, há duas formas distintas de avaliarmos o novo filme da HBO: como adaptação de um dos maiores clássicos da literatura do século passado, ou como uma obra à parte. Como filme, este Fahrenheit 451 é uma aventura de ficção morna, um entretenimento acessível para quem quer apenas espairecer. O longa-metragem do diretor Ramin Bahrani conta com um excelente visual, um elenco de qualidade, nos introduz um universo riquíssimo e apresenta ótimas ideias, mas peca pela superficialidade do roteiro. Nada é devidamente aprofundando, principalmente o funcionamento das engrenagens que movem este mundo, o que vai desagradar profundamente os fãs do gênero. Até mesmo a crítica social inerente a obra é tocada apenas na superfície, e falta substância no roteiro para que o espectador entenda mais a fundo o funcionamento desta sociedade e suas motivações.
O trio de protagonistas é magistralmente interpretado, mas o roteiro não ajuda. Montag carece de motivações e senti falta de coerência a seu personagem (um drama do passado até é inserido durante a projeção, mas nada que consiga justificar a mudança repentina do personagem, muito menos acarretar nas decisões que ele acaba tomando), e Clarisse é uma coadjuvante rasa. Mas apesar disso, o filme conta com excelentes diálogos (tirados diretamente do livro), que servem para fortalecer o papel do suposto antagonista, Capitão Beatty, que acaba roubando a cena e sendo a coisa mais interessante deste longa. Shannon está ótimo como sempre, e seu personagem é o único com a devida profundidade.
Mas até aí, se você conseguir ignorar por completo o livro original ou não estiver atrás de ficar horas refletindo sobre o que viu na tela do cinema, este Fahrenheit 451 não será de todo ruim, funcionando como “thriller” e filme de aventura. O meu maior problema com o filme é o terceiro ato, no qual nos é jogado um novo “plot” (o tal omnis) meio sem pé e nem cabeça, completamente desnecessário, que acelera demais o ritmo no final e tira completamente o foco daquilo que vinha sendo construído (aos trancos e barrancos) até então.
Enfim, como filme, Fahrenheit 451 consegue trazer boas atuações e nos apresentar um universo interessante e ótimas ideias, mas falha miseravelmente na construção do roteiro, que nunca se aprofunda aonde deveria, e o resultado é um filme morno, que funciona melhor como thriller de ação e que pode, no melhor dos cenários, atrair a atenção de uma nova geração para ir atrás do livro original.
PS: Como adaptação, este Fahrenheit 451 perde toda a essência da obra de Bradbury, subvertendo os pilares da narrativa original e ignorando por completo a mensagem que o autor pretendia passar contra a indústria do entretenimento e a busca incessante da sociedade moderna por passa-tempos e distrações. Como muito bem citado por Martinho Neto, do site Cinema com Rapadura, “ao adaptar uma obra que critica diretamente a perda de interesse pela leitura, em decorrência da massificação da mídia televisiva e o emburrecimento da sociedade causado por esse fator, “Fahrenheit 451” surpreende – de forma negativa – por ter uma trama tão superficial e pobre de discussões, tornando-se parte do objeto da crítica de sua própria fonte primordial."
O Primeiro Homem
3.6 649 Assista AgoraMuito se sabe sobre a corrida espacial do final do século XX, entre Estados Unidos e União Soviética, e dos desbrodamentos da missão Apollo 11. No entanto, pouco sabemos sobre o primeiro homem a pisar em solo lunar. O Primeiro Homem, baseado na biografia autorizada de Neil Armstrong, o livro O Primeiro Homem - A Vida de Neil Armstrong, de James R. Hansen (Intrínseca, 512 páginas, R$ 59,90), acompanha justamente o astronauta norte-americano durante os 8 anos de preparação para a missão Apollo 11, que o levou até a Lua. Ou seja, este filme não é sobre a missão Apollo 11, nem sobre como o homem chegou a Lua: o espectador não irá encontrar um filme informativo sobre a corrida espacial – apesar do filme prestar várias referências ao momento socio-político da época –, nem um filme de aventura espacial. Uma perda visceral está na origem da dedicação de Armstrong ao Projeto Apollo, e O Primeiro Homem é um filme focado justamente na na percepção de mundo do protagonista, oferecendo uma visão intimista do astronauta.
Vale muito a pena conhecer a história por trás dessa lenda. O ser humano tem a tendência de mistificar grandes homens e seus feitos, mas esquecemos que por trás de tudo isso, há uma pessoa comum. Cheeze acerta justamente em rejeitar a mitificação do primeiro homem a pisar na Lua e explorar a fragilidade de Neil Armstrong. Por isso, O Primeiro Homem não se trata simplesmente de um filme sobre um herói destinado à história, mas da história de um homem comum, cheio de traumas, angústias e defeitos. Trata-se da história do homem por trás da figura história, e por isso é belíssimo.
Infelizmente, por se manter fiel a personalidade de seu protagonista, a obra acaba por nos privar de momentos catárticos – eu, por exemplo, estou até agora com o choro engasgado por todas as perdas que acontecem ao longo da projeção –, e de algumas passagens importantes da corrida espacial.
Agora, cá entre nós, na minha opinião, o ingresso já valeria o preço apenas pela sensação visual de vivenciarmos junto de Armnstrong as experiências do Projeto Apollo, seja em uma das muitas simulações e dos treinamentos que o astronauta tinha que fazer em terra, ou no cubículo apertado que é o "cockpit" das naves, com construções visuais claustrofóbicas, nas quais o espectador sente-se sufocado junto do protagonista, ou então na chegada do homem a lua, em planos mais abertos, nos quais o espectador sente-se literalmente no astro, dando os primeiros passos em primeira pessoa junto do astronauta.
PS: Fiz um “post” também discutindo um pouquinho sobre a fidelidade histórica do longa-metragem, então se você quer saber se aquela cena na qual
Neil presta uma homenagem a sua filha na superfície lunar
Venom
3.1 1,4K Assista AgoraVejam bem, Venom não é um bom filme. Mas ainda assim, ele não chega a ser uma ofensa a sua inteligência como vem sendo taxado por algumas críticas. Podemos compará-lo aos filmes de super-herói dos ano 1990, e do começo dos anos 2000, quando o gênero ainda estava se estabelecendo. Mas está longe de ser tão ruim quanto Demolidor, Elektra ou Mulher-Gato.
O filme funciona como entretenimento, mas com a devida suspensão de descrença, pois o roteiro não é dos melhores, com furos aqui e ali – decisões motivadas por estupidez dos personagens e exageros para forçar uma coincidência que culminam em situações que beiram o absurdo. A maior parte dos problemas do filme provém desses absurdos no roteiro, e da falta de profundidade da história e dos personagens – o que faz com que a gente acabe não se identificando da maneira que devíamos com nenhum desses personagens, principalmente com o vilão, que apresenta conceitos interessantes, mas é pessimamente desenvolvido Tom Hardy é o único que consegue se destacar, entregando a melhor atuação do filme, transmitindo bem a sensação de incômodo que o simbionte causa em Eddie Brock. Aliás, a relação entre Eddie e Venom, por mais cafona que seja as vezes, é uma das melhores coisas do filme.
Resumindo bem, é o seguinte: se você gosta de filmes “blockbuster” e adora filmes de super-heróis, não acha que o gênero já está começando a ficar saturado, e se divertiu ao assistir quase todos os filmes da Marvel e DC, OK, esse é um filme que provavelmente vai te divertir, e valer o preço do ingresso – até porque, filmes de super-heróis são sempre mais legais de se assistir no cinema do que em casa. E ele tem alguns méritos pra isso, principalmente por apresentar uma dinâmica – se funciona ou não, é outra história – que é bem diferente da que estamos acostumados nos filmes tradicionais de herói – justamente a interação entre Eddie e Venom.
Enfim, o filme ainda tem alguns outros problemas, mas o objetivo aqui é dar uma impressão rápida. Caso tenha interesse em uma análise um pouco mais completa (mas ainda procurando ser o mais objetiva possível, e sem falar "difícil") acesse a resenha completa no Blog Portfólio da Vida.
Pantera Negra
4.2 2,3K Assista AgoraPantera Negra é aquele agradável ponto fora da curva (a la Soldado Invernal) que conseguiu cativar meu coração e me fez vibrar na sala de cinema como há anos nenhum filme de super herói fazia.
Não vou nem entrar no mérito da importância da representatividade deste filme: muita gente mais gabaritada que eu o está fazendo. Ainda assim, gostaria de ressaltá-la. Dessa vez, devo parabenizar a Marvel. É incrível a forma com a qual o estúdio criou Wakanda, misturando alta tecnologia com a cultura e as tradições milenares do povo africano. Eu, particularmente, amo esse tipo de abordagem; sociedades altamente desenvolvidas mas que ao mesmo tempo mantém na estética e na cultura valores e práticas milenares. O visual deste filme e o trabalho de pesquisa feito com ele é de tirar o chapéu.
Os personagens são todos extremamente carismáticos, o roteiro não é previsível (fazia tempos que eu não segurava no braço da cadeira durante um filme deste tipo) e ainda arruma tempo para tratar de temas tão atuais e tão importantes, como imigração, preconceito, xenofobia, segregação social e representatividade.
Outro ponto que me agradou muito é que o filme em momento algum força no humor: não há piadas forçadas nem excesso de cenas de humor. É um filme divertido, sem querer ficar te fazendo rir o tempo todo. Como sentia falta disso!
Quanto aos antagonistas, que costumam ser o calcanhar de Aquiles dos filmes da Marvel, fiquei dividido. Garra Sônica está formidável, e Killmonger é um vilão real, muito crível; um monstro fruto de uma realidade que atinge a muitas pessoas. Dono de ótimas frase de impacto (um soco no estômago dos desavisados), ele é um ótimo antagonista ao Pantera. Porém, admito que adoraria que ele fosse menos "porradeiro". Seria ótimo vê-lo usar de seus argumentos pra tentar mudar a postura do Pantera, convencê-lo ideologicamente; mais como se ele fosse um político radical do que um monstro criado pela sociedade apenas em busca de vingança. Porém, Pantera Negra ainda é um blockbuster que precisa de um ritmo mais acelerado para não entediar parte de seu público, então muitas vezes bons diálogos são substituídos por frases trocadas entre alguns sopapos. Isso é a única coisa que ainda me incomoda nos filmes do gênero de super herói: o tempo inteiro tentando transitar entre a aventura juvenil e um pouco de seriedade e pé no chão. Isso faz com que mesmo quando o filme tenta tratar de assuntos mais sérios, como política e as dificuldades de ser um líder, ele não possa abandonar o ritmo frenético que o público exige e se aprofundar um pouco mais em um outro momento. Admito, porém, que isso é algo muito particular meu.
Enfim, Pantera Negra é, na minha opinião, o melhor produto recente da Marvel, não abandonando seu público, mas amadurecendo na narrativa e na forma de tratar de temas tão atuais. Que sirva de exemplo para as produções futuras, num mercado que estava começando a saturar.
The Propaganda Game
3.9 76Há tempos eu queria assistir ao falado documentário "The Propaganda Game". Aproveitando que o mesmo ainda está no catálogo da Netflix e aos recentes eventos durante as Olimpíadas de Inverno na Coréia do Sul, achei que era a hora de o fazer.
No mundo exterior, temos boatos e notícias incessantes sobre o regime de Kim Jon-un, alguns até criados sem base na realidade mas dos quais ninguém duvida. Quem de vocês lembra do episódio da circulação da notícia de que o tio de Kim Jong-un teria sido jogado aos cães como forma de execução? Jang Song-thaek realmente foi preso e executado, mas a versão dos cães foi criada por um tabloide chinês e durante algum tempo o mundo acreditou, afinal na Coreia do Norte tudo parece possível.
E, como dito com razão pelo site O Estranho Sem Nome, enquanto o ocidente procura informações, os norte-coreanos as distribuem para quem quiser ouvir, o que inclui cineastas curiosos.
É interessante a maneira como este documentário foi produzido. Para a sua realização, o diretor Álvaro Longoria contou com a ajuda e autorização de Alejandro Cao de Benos, o único estrangeiro que trabalha para o governo da República Popular Democrática da Coreia, sendo um grande apologista do sistema (o que por si só já daria uma história interessantíssima). Durante as gravações, toda a equipe do filme foi acompanhada em todos os momentos por políticos, agentes do governo e guias turísticos locais, que tentaram ao máximo mostrar os prós de se viver em uma sociedade comunista, onde o acesso à educação, moradias, saúde, transportes e alimentação é de graça, porém, controladas pelo governo.
Admito que eu esperava um documentário que me desse respostas, e não que me enchesse de perguntas. Fui garoto. Afinal, ninguém sabe de verdade como é a vida dentro da Coréia do Norte. Pouca coisa é respondida, o que deveria ser óbvio diante de um regime tão fechado e onde tudo pode não ser o que aparenta. "The Propaganda Game" baseia-se em exibir as cenas de felicidade das rotinas dos norte-coreanos e da aparente paradisíaca cidade de Pyongyang filmadas durante a visita de Alvaro a capital, e contradizê-las com os discursos mostrados por desertores do sistema, especialistas e na imprensa do ocidente. Nesse contexto, muito da propaganda norte-coreana se dá por meio de discursos estagnados em arquétipos de guerra, onde o vilão é o invasor ocidental e o herói é o resistente do combate, que deve se orgulhar do seu território, defendê-lo bravamente e adorar o seu líder e salvador da guerra. Os norte-coreanos adoram seus líderes como deuses desde a mais tenra infância.
Nas ruas, tudo é perfeito demais: as casas, os prédios, os mercados. Tudo muito perfeito. Perfeito até demais. E uma pergunta não sai da cabeça de Alvaro: de onde vem esse dinheiro?
Ao entrevistar as pessoas nas ruas e na cidade, o que vemos são respostas quase iguais, frases prontas, parecendo um esquadrão de robôs do governo, como apontado por um usuário abaixo. E apesar disso, a expressão corporal/facial parece querer dar uma resposta completamente diferente. Há algumas cenas marcantes, como no caso de um menino que estava de rolê numa praça, e foi perguntado por Alejandro sobre seus sonhos. Ele disse que estava estudando para ser maquinista de trem. Depois de um pequeno momento de hesitação, o rapaz responde que o sonho dele é ser maquinista de trem e servir seu grande líder. Outra imagem chocante: um homem está lendo jornal na estação de metrô, e é escolhido para uma entrevista para o filme. De repente, ele começa a suar frio, como se sua vida dependesse da resposta àquelas perguntas.
É difícil acreditar que aquelas pessoas e aquelas informações são verdadeiras. Parece tudo artificial. Mas ao mesmo tempo, eu quase acreditei. Durante um breve momento, eu quase quis me mudar para llá. Esse é o poder da propaganda.
PS: Senti apenas falta de mais embasamento nos discursos dos especialistas do ocidente. De onde eles tiravam suas certezas acerca das alegações que faziam contra o regime norte-coreano? Algumas vezes ficou parecendo que, de fato, eles apenas vilanizam o regime da mesma forma que o regime os vilanizava.
Bambi
3.5 440 Assista AgoraLançado em 1942, Bambi é possivelmente umas das mais clássicas e conhecidas animações dos estúdios Disney. Narrativamente falando, para alguns Bambi é um filme chato, arrastado e sem grandes atrativos. Para outros, a animação é uma obra sensível que marcou gerações. Uma coisa, porém, é “Hors concours”: visualmente o filme é esplêndido: cada cenário foi desenhado com um cuidado impressionante. De fato, uma obra-prima que serviria de referência para toda uma nova geração de filmes animados.
Eu não lembro quando assisti Bambi pela primeira vez. Ainda assim, tenho “flashes” e cenas do filme bem marcados em minha memória, como o canto dos pássaros que marca o nascimento do pequeno cervo na abertura da animação. Mas assistir novamente a animação, depois de ter lido o livro e tantos anos depois, foi uma experiência deliciosa.
Bambi é, de fato, um filme arrastado, que talvez não agrade as crianças de nosso tempo pela falta do frenetismo e da comédia das animações contemporâneas. É um filme extremamente contemplativo e um tanto quanto melancólico, o que é reforçado pela magnífica trilha sonora orquestrada. A trama é simples, e pouca coisa acontece (basicamente acompanhamos Bambi crescer enquanto faz alguns amigos na floresta, e vez ou outra tem que fugir de caçadores na floresta), mas o fato do filme em si ser curto, é uma decisão acertada, pois não nos deixa enjoar do ritmo da narrativa.
Enfim, grande homenagem ao clássico de Felix Salten (inclusive reproduzindo fielmente algumas passagens do livro), Bambi é uma belíssima animação, gostosa de assistir, principalmente pela curta duração, e que apesar de não ter conseguido me emocionar como Rei Leão, merece ser assistida pela sua importância e sensibilidade narrativa. Mas recomendo mesmo é a leitura do livro de Salten, clássico atemporal que consegue passar ainda melhor as mensagens que a animação se dispõe a contar.
Bambi é possivelmente umas das mais clássicas e conhecidas animações do estúdios Disney. Lançado em 1942, visualmente o filme é esplêndido: cada cenário foi desenhado com um cuidado impressionante.
Thor: Ragnarok
3.7 1,9K Assista AgoraTravei uma batalha interna para aceitar a proposta de Thor: Ragnarok. Não consegui aceitar de maneira alguma que o filme escolhido pela Marvel pra entrar de vez no gênero de comédia seria o Ragnork, o fim dos tempos nórdico. Também demorei para aceitar que a Marvel iria continuar fazendo filmes leves e de entretenimento descompromissado, para toda a família. Mas uma que você ve tenha aceitado isso, Thor inegavelmente vai se provar um bom entretenimento. Mas não pelos motivos que eu estava pensando.
Existe uma diferença entre Thor e os últimos filmes da Marvel. Enquanto esgotado da fórmula do estúdio, Thor não é mais um filme de introdução a outro herói em uma aventura genérica. Thor Ragnarok, por mais entregue que esteja a esta fórmula, é o arco final de personagens que acompanhamos desde 2011 e isso por si só já dá outro peso dramático ao filme. Eu acompanho esses caras de 2008, e me apeguei ao deus do Trovão.
O visual do filme é muito bom, apesar de ter sentido novamente falta de ver mais de Asgard. Inegavelmente a mitologia nórdico e o rico universo de personagens me mantivram preso na historia. A mitologia nórdica é uma terial riquíssimo para os filmes do Thor, e dentro da proposta do filme, foram muito bem utilizados.
Admito que o filme me prendeu do início ao fim, e conseguiu ser imprevisível mais de uma vez. Principalmente na resolução final. Sim, algumas piadas são muito forçadas, e cheguei a ter momentos de vergonha alheia durante a sessão, mas de uma maneira geral o humor funciona. Você vai rir, se divertir. Me diverti mais assistindo Thor 3 do que GG2.
Como nem tudo são flores, minha crítica é aquela dos chatos de plantão: o ritmo alucinado do filme, que não dá tempo de você assimilar o que acontece em tela, personagens sem profundidades, cenas sem sentido e o fato do filme ser repleto de boas ideias, mas não se dar ao tempo de desenvolver nenhuma delas.
Hela é uma vilã com um puta potencial. As referências ao passado de Odin e seu papel nos primórdios de Asgard nunca são explorados, sempre pra dar lugar a uma cena de açõa mais impactante ou a uma piada deslocada. Aliás, a sensação de assistir Thor Ragnarok é a mesma a de assistir um desenho animado. Ame ou odeie, é como as coisas são.
Enfim, dito isso, curiosamente Thor Ragnarok foi o melhor dos últimos filmes da Marvel que assisti. Mesmo se entregando a comédia e em alguns momentos a galhofa, ele é o mais original e subversivo dos últimos filmes da Marvel. Agora, por mais que o saldo seja positivo, fica o questionamento: este ciclo está acabando. Os medalhões que ainda me fazem vibrar nos filmes da Marvel estão com os dias contados. Thor, Capitão América e Homem de Ferro não devem voltar depois de Guerra Infinita. A fórmula Marvel está sim desgastada, e sem os medalhões para tirarem o melhor dela, sinceramente não sei se tenho interesse em continuar indo ao cinema para assistir a esse tipo de filme com novos personagens que não possuo o apego emocional que criei pelos já existentes.
Kingsman: O Círculo Dourado
3.5 885 Assista AgoraO Círculo Dourado tinha a ingrata missão de superar seu predecessor. Eu, particularmente, achava isso um tanto difícil. Kingsman tinha sido um filme que veio sem prometer nada e pegou a todos de surpresa. Com as expectativas lá em cima, ia ser difícil ser surpreendido novamente, afinal, por mais divertido que fosse o filme, que brincava com o conceito do gênero dos antigos filmes de espionagem, perderia o ineditismo e poderia cair na mesmice. Fico feliz em dizer o quanto estava enganado.
O Círculo Dourado não repete apenas a fórmula do primeiro filme, mas a expande, principalmente ao dar mais corpo a mitologia dos Kingsman (Não há como não adorar os Statesman!). O filme continua brincando com todos os clichês do gênero, mas sem nunca enjoar. E além das marcas registradas do primeiro filme (personagens carismáticos, cenas de ação plásticas de tirar o fôlego, narrativa frenética e mortes à la Game of Thrones), Kingsman 2 insere uma crítica social pesadíssima que pode surpreender quem foi ao cinema achando que seria um mero filme de ação descompromissado. O teor cínico da narrativa e os vários diálogos ácidos combinam com a franquia e vão, com certeza absoluta, fazer muita gente se sentir incomodada.
Enfim, Kingsman 2 é um dos melhores filmes Blockbusters do ano: entrega o que promete e ainda arruma tempo para discutir um tema tão difícil e atual como a guerra às drogas. Ademais, dá uma aula aos recentes filmes de herói de como fazer longas tomadas de ação sem enjoar o espectador. Tudo isso faz de o Círculo Dourado o filme clichê menos clichê dos últimos anos, e mostra que franquia ainda tem muito fôlego pela frente.
PS1: O que dizer da maravilhosa participação de Sir Elton John?
PS2: Uma pena o papel de Channing Tatum ter perdido espaço durante o filme por conta de conflitos de agenda..
Blade Runner: O Caçador de Andróides
4.1 1,6K Assista Agora“Essa crítica é referente ao corte do diretor lançado em DVD”
Blade Runner é um clássico Cult dos anos 80, aclamadíssimo por ter redefinido o gênero no cinema. Com um visual incrível até mesmo para os dias de hoje, um futuro fascinante, sombrio e duvidoso nunca antes visto no cinema, e uma trilha sonora estupenda somada a uma pegada contemplativa que funciona maravilhosamente bem, é impossível não reconhecer o quanto o filme serviu de inspiração para quase tudo o que veio depois.
Assistindo o filme pela primeira vez, fica claro o quanto obras como Matrix e Ghost in The Shell pegaram do seu visual e clima. Ghost in the Shell então, nem se fala!
Bem, não vou chover no molhado ao tentar destrinchar porque o filme nasceu um clássico, até porque não sou um crítico profissional e existem muitos artigos melhores por aí cumprindo esse papel.
Como entretenimento, Blade Runner funciona muito bem. É uma história noir de investigação num cenário pós apocalípistico instigante. Porém, fãs da obra original (como eu) já devem ir avisados: o filme não adapta fielmente a trama do livre, e deixa de lado alguns dos questionamentos mais interessantes do livro de Phillip K. Dick.
O filme de Ridley Scott aposta mais no visual e numa aventura policial de clima noir (que funciona muito bem), e num primeiro momento achei que não mergulhou em questionamentos ou em personagens muito profundos como achei que iria. Porém, quanto mais eu parava para pensar no filme, quanto mais eu lembrava de cenas específicas, a ficha começou a cair. Blade Runner é sim um filme rodeado de camadas e filosofias interessantes, e talvez o que tenha me nublado a este fato inicialmente foi o fato da obra já ter sido replicada tantas e tantas vezes em outras franquias que seus temas não foram tão impactantes a mim quanto foram na época de sua exibição original.
Em “Androides Sonham com Ovelhas Elétricas”, os andróides não estão ali para cumprir o papel de antagonismo, de forma de várias vezes durante a leitura você não questiona se não seria o próprio Deckard o vilão da história. Não acho essa temática tão bem explorada quanto no livro de K. Dick, mas Blade Runner consegue humanizar com maestria o insano líder dos Replicantes no último ato do filme. O personagem, que a princípio parecia a mim vilanesco demais, se mostra um antagonista complexo e cheio de camadas humanas, que só quer viver a sua vida.
Enfim, é difícil falar de um filme amado por tantos, ainda mais fora do contexto de seu lançamento. Mas sou um fã declarado da obra original, portanto, estou muito ansioso pela continuação.
OBS: As pessoas falaram durante tantos anos sobre “Deckard: Humano ou Replicante”, e admito que não consegui pegar o motivo de tanto alvorço durante a projeção. No livro, é muito claro que o caçador é um humano, e esse questionamento nunca foi relevante para a história. Porém, após assistir ao filme, fui ler umas teorias na internet, e até que elas fazem sentido dentro do roteiro. Mas, honestamente, pra mim ainda não faz muito diferença na história do longa-metragem.
OBS 2: A cena final deste filme é talvez uma das cenas mais marcantes da história do cinema, e certamente se tornou um dos meus momentos favoritos dentro de todos os filmes que já assisti. “Like tears in the rain” é simplesmente arrebatador, todos deveriam assistir este filme apenas para contemplar este final.
Mike Birbiglia: Thank God for Jokes
3.7 4 Assista AgoraThank God For Jokes foi meu primeiro contato com o comediante Meki Birbiglia. Cheguei até aqui por recomendação do Podcast Braincast, e não esperava encontrar neste Stand Up o que encontrei.
O show de Birbiglia é diferenciado. Diferente dos Stand Ups que estou acostumado, Mike não sobe ao pouco para jorrar piadas; ele é quase um story teller, e seu humor surge da forma mais inesperada, de forma inocente, na forma que ele conta histórias e as vai conectando num todo maior até o fim do espetáculo.
Thank God For Jokes pode não ter sido o espetáculo mais engraçado que assisti, talvez até pelo seu humor ser mais simples e inocente (apesar de alguns momentos provocativos, como quase nenhum comediante consegue escapar), mas Mike me pegou pelo seu carisma (dá vontade de abraçar o cara), pela forma diferente de fazer humor, e pela emocionante mensagem dos minutos finais deste show!
Emoji: O Filme
2.7 262 Assista AgoraAdmito que eu estava com boas expectativas para Emoji. A ideia era muito interessante e com potencial para render um filme extremamente criativo e rodeado de referências, críticas e alfinetadas, a exemplo de Uma Aventura Lego e Detona Ralph!
Na trama, somos transportados a Textopolis, a cidade dos Emojis, aonde cada emoji tem sua função dentro do celular do jovem Alex. Gene, o emoji Meh (a carinha de desânimo), vai substituir seus pais como o emoji que não deveria se empolgar com nada. Mas, devido a uma falha, ele mistura as expressões de todos os outros emojis, provocando um bug geral na central de controle da cidade na hora que é convocado, e Alex acaba mandando uma mensagem sem sentido para sua “crush”. Desesperado, ele decide levar seu celular para a assistência técnica formatar o aparelho. Começa então a sua jornada ao lado do emoji Hi-5, a mãozinha, para que todos os aplicativos do celular não sejam deletados. Gene busca seu lugar no mundo, se recusando a ser o que esperam dele, e assim como Ralph passava por inúmeros jogos em sua epopeia, Gene e seus amigos se deparam com diversos aplicativos num celular, entre eles Facebook, Instagram, Youtube, Just Dance e até Candy Crush. E é justamente aí que está o ponto alto do filme: existem piadas, tiradas e easter eggs que funcionam muito bem. A animação faz questão de adereçar tais tópicos, como se cutucasse seu público alvo, criticando-os levemente. Assim temos menções ao déficit de atenção da garotada, e inclusive as relações de amizade no mundo pós-moderno, questionando a inversão de valores em um mundo onde a quantidade de curtidas que você recebe vale mais do que um tempo de qualidade com as pessoas queridas. Além disso, o filme ainda trata da crise de identidade do protagonista, que é tratado como um “defeito” por ser diferente dos demais e tenta abrir mão de algo que o faz se sentir bem para ser aceito na sociedade. Tudo isso e Emoji ainda arruma tempo para discursar brevemente sobre a independência feminina. No entanto, ainda que a animação abrace tudo isso, porque está sendo tão massacrada pela crítica?
Infelizmente, apesar de bem intencionado, Emoji apenas toca esses temas na superfície: nenhuma das ideias é muito bem desenvolvida. Mas até aí, OK, já estaria melhor que muita animação infantil presente no mercado, que existem apenas para entreter. Acredito que o mais pegou nos críticos foi que o filme perdeu a oportunidade de criticar os muitos aspectos negativos ligados à era digital, como o imediatismo e o fim do ato da leitura, para retratar os adolescentes de forma danosa, como estudantes que utilizam o celular o tempo inteiro, inclusive dentro de salas de aula (o que é a realidade), mas de forma casual e sem em momento algum criticar essa postura
(chega ao ponto de uma menina dizer que gosta de alguém que sabe expressar seus sentimentos, sendo que tudo o que o garoto fez foi mandar uma carinha por SMS. Por mais que encare isso com humor, há o medo disso reforçar essa ideia na cabeça da criançada.)]
Enfim, Emoji é uma animação inventiva, que, porém, não tenta revolucionar o gênero nem se aprofunda nos temas que se propõe a abordar como a Pixar ou a Dreamworks: possui ótimas ideas, um belo visual, mas uma trama que não sabe aproveitar o seu potencial. O resultado não foi exatamente o que eu esperava, mas o filme está longe também de merecer a chuva de críticas negativas que vem recebendo, sendo no mínimo um entretenimento divertido pra criançada e que não fere a inteligência daquele que não é seu público-alvo: nós.
A Batalha do Planeta dos Macacos
3.2 125 Assista AgoraA Batalha do Planeta dos Macacos, que é, em termos de história, o mais fraco de todos. O roteiro é muito mais focado em fechar o ciclo da história do que gerar debates filosóficos com as críticas e sátiras dos filmes anteriores. O pior de tudo é ter que engolir que no breve intervalo de tempo entre esse o quarto filme todos os macacos tenham aprendido magicamente a falar. Mas, apesar disso tudo, eu gostei do filme. Gostei talvez até por sua inocência, e por seu final ambíguo. Nunca saberemos se o final desse filme abre uma nova linha do tempo, em que humanos e macacos conseguirão viver em harmonia, ou se esse antecede mesmo o primeiro filme. E foi essa ambiguidade que me agradou: a esperança de que talvez hajam dias melhores, coisas que os outros filmes definitivamente não passam. Mas que fique claro que esse aqui é mais um filme de Sessão da Tarde mesmo.
Uma das poucas boas reflexões que tive ao assisti-lo foi a de que o ser humano fica tedioso em tempos de paz, ávido por conflito, mesmo quando o mundo parece ir muito bem. E se o final não é tão surpreendente quanto os outros quatro, o filme conta com uma triste reviravolta, que só me confirmou o quanto é bom assistir filmes em que você nunca sabe o que vai acontecer. Você se identifica com os personagens, mas tem medo por eles, e assisti o filme todo tenso, porque você sabe que eles podem morrer, e que definitivamente qualquer coisa pode acontecer. Esse tipo de imprevisibilidade é uma coisa que eu acho que falta nos filmes de hoje em dia. Não que eu queira que meus personagens preferidos morram em tela, mas é legal você compartilhar das emoções e aflições que eles passam durante os filmes.
Planeta dos Macacos: A Origem
3.8 3,2K Assista AgoraPlaneta dos Macacos: A Origem, conseguiu ser tudo aquilo que os antigos prelúdios não conseguiram, e superou todas as expectativas, sendo sem sombra de dúvidas um de meus filmes preferidos. O filme respeita o filme de 1968, traz várias referências que vão agradar aos fãs, e apresenta uma história de origem que mesmo quem nunca viu nenhum dos filmes originais vai conseguir acompanhar.
A história desse filme também é muito bonita, e ficamos emocionados em vários momentos do longa-metragem. Ele pode não ter toda a sátira social do filme original, mas também está carregado de questionamentos e críticas a nossa sociedade. Aqui, tantos anos após o fim da Guerra Fria, somos levados a nos questionar sobre toda a política de uso de cobaias em experimentos, e de como tratamos os animais, sejam em abrigos ou em zoológicos. A discussão a esse respeito é muito bem contrabalanceada ao acompanharmos a situação do personagem interpretado por John Lithgow, que sofre de Alzheimer. Acompanhar seu sofrimento, e de sua família, é tão tocante quando acompanhar o sofrimento dos animais do laboratório.
Algo que talvez poucos tenham reparado é que esse filme começa exatamente como o primeiro filme: com uma caçada. Aqui, vemos chimpanzés serem capturados para servirem de cobaias em laboratórios, o mesmo que acontece logo no começo do primeiro filme, mas com humanos. Achei genial, mesmo que tenha sido sem querer.
Gostei também da atuação de James Franco, que conseguiu me passar uma atuação pra lá de depressiva, totalmente condizente com o momento pelo qual personagem está passando. Mas quem merece um Oscar por sua atuação é Andy Serkis, que interpreta Caesar. O macaco é todo feito por computação gráfico, e o ator é responsável por transmitir todas as sua emoções; missão pra lá de difícil. Mas não podíamos esperar menos de quem já foi responsável por Smeagol e King Kong.
Os macacos, todos feitos em computação gráfica, são bem realistas. Há cenas em que realmente fica muito difícil de os diferenciar de um macaco de verdade.
Planeta dos Macacos
3.0 622 Assista AgoraNão há muito o que falar do filme do Tim Burton. O filme é meio que massacrado pela crítica, mas não é um filme ruim. O problema maior é que ele perde toda a questão social dos filmes originais. É um bom filme pra passar o tempo, com uma trama que te prende na história, um clima mais sombrio, ótimas reviravoltas, e com uma maquiagem melhor ainda. Sem nenhum auxílio de computação gráfico, eu consegui acreditar que aqueles atores eram macacos de verdade.
Enfim, só não vá esperando ver um roteiro permeado de camadas e diálogos atemporais como nos antigos filmes da franquia. Mas vale sim o seu tempo.
PS: Este filme vale também pelo final mais "no sense" de toda a série. E nunca saberemos a resposta pra esse final, porque jamais teremos uma sequencia.
De Volta ao Planeta dos Macacos
3.3 211 Assista AgoraDe Volta ao Planeta dos Macacos, o segundo filme da franquia, foi o que eu achei mais chatinho, apesar de não ser o mais fraco de roteiro. O filme é um claro caça-níqueis: a Sony não vinha muito bem financeiramente na época, e depois do inesperado sucesso do primeiro Planeta dos Macacos, tentou tirar proveito da franquia, o que é até compreensível. Acontece que esse filme é quase uma repetição do primeiro. Apesar disso, há novas questões interessantes abordadas, como os hippies e a Guerra do Vietnã. O general gorila Ursus usa da desculpa de que os macacos precisam expandir as fronteiras em busca de alimento para iniciar uma guerra de conquista. Que outro país que conhecemos faz o mesmo?
O filme fica chato mesmo quando aparecem os tais dos humanos mutantes. Essa parte do filme é bem maçante. Mas o final consegue ser tão surpreendente quanto o do primeiro. Eu adorei esse final. Além disso, era quase uma mensagem dos EUA para a União Soviética, do tipo:
"Olha, se vocês continuarem nos peitando, nós vamos explodir TUDO. Não importa se isso mate nós dois."
Conquista do Planeta dos Macacos
3.4 137 Assista AgoraA Conquista do Planeta dos Macacos é o quarto filme da franquia. Assim como todos os outros, ele faz várias críticas sociais ao abordar questões como a escravidão e o abuso de poder. Mas ao mesmo tempo, achei um dos filmes com o pior tipo de argumentação.
Acho muito difícil de acreditar, mesmo pro cinema mais inocente da época, que um vírus mate todos os cães e gatos que e por isso os seres humanos resolveram usar macacos como animais de estimação. Até que o roteiro tenta justificar, falando que o desejo do ser humano em ter um bichinho de estimação é tamanho que até mesmo um macaco serve, e fazendo uso também da célebre frase do terceiro filme: "um homem mata seu irmão, mas não mata seu cachorro." Mas mesmo assim fica difícil de engolir, principalmente entender como esse macacos, dotados da inteligência de um macaco comum, passaram a agir como humanos apenas seguindo as instruções de um único macaco inteligente.
Mas enfim, fazendo toda uma suspensão de descrença, o filme é bom. Deve ter diversas referências que talvez eu consiga pegar assistindo uma segunda vez. E a cena final é novamente excelente. Porém, poucos sabem que a versão original da produção termina com o cruel linchamento do Governador pelos primatas revoltosos, após um emocionante discurso de Ceasar. Porém, por ser considerado pessimista demais, um outro final foi criado mostrando o líder dos macacos tendo uma atitude de clemência. Essa versão traz uma conclusão um pouco mais otimista, deixando implícito que poderia haver uma coexistência pacífica entre as duas raças.
PS: A nova Trilogia feita pela FOX é um prelúdio muito melhor e mais crível que este de 1972.
A Fuga do Planeta dos Macacos
3.4 162 Assista AgoraA Fuga do Planeta dos Macacos é o mais família dos filmes da franquia (bem, pelo menos até a cena final). Cheguei a escutar que foi ele o responsável por popularizar a série pra um público mais família, dando início a todo o merchandising baseado em sucessos do cinema.
Eu achei o filme extramente divertido, apesar dele ter alguns exageros, e ter horas que é necessário uma boa dose de suspensão de descrença. Como todo filme da franquia, não podia faltar uma boa dose de sátira social. Acredito que uma das melhores sacadas do filme foi uma alusão a nossa "mídia do espetáculo", em que qualquer coisa é motivo pra fazer alguém virar celebridade da noite pro dia, até mesmo macacos falantes que vieram do espaço. E com a mesma velocidade que a mídia alavanca essas "celebridades", ela as jogam na lama. Ouvi dizer que há também uma referência ao modo que o serviço secreto americano trata seus prisioneiros. Acho essa interpretação muito válida, e faz todo o sentido.
Há uma passagem desse filme que acho digna de destaque. Quando questionado sobre o fato de que ao matar os macacos inteligentes poderíamos estar evitando o fim da humanidade como a conhecemos, o presidente lança o seguinte questionamento: "Se voltássemos no tempo, pra quando Hitler era uma criança. Mesmo sabendo de tudo que o futuro nos reservava, você teria coragem de matar uma criança inocente?"
Enfim, esse terceiro longa é divertido, apesar ser bem menos pensado que o primeiro. Mesmo assim, diferente do segundo, não achei o filme arrastado em momento algum. Vale ressaltar o final surpreendente novamente. Esse, em especial, é chocante demais, principalmente pras crianças que provavelmente o assistiram, já que ele passa essa impressão de ser um filme mais família.