Estranhei a quantidade de avaliações negativas do site. Achei um trabalho magnífico; com exceção da fotografia, que não tinha nada de sofisticado. Mas saindo da caixinha das chatices da técnica: o filme instiga coisas interessantes, como essa relação artista-afeto-arte. Me lembrou bastante "Capote"; em que por mais que as relações construídas sejam diferentes, em essência, as situações são as mesmas. Ademais, o filme tem um o quê de onírico [voltado ao pesadelo] e soturno que parecem criar uma atmosfera muito própria a vida e obra do biografado. Em suma, o filme tem aqui um correligionário.
A despeito da fala final do filme, que é de uma genialidade absurda, o filme tem seus defeitinhos. Achei uma baita de uma adaptação de roteiro, apesar de umas liberdades que o Kubrick tomou e que eu achei meio infelizes. Não que o ato de tomar liberdade em cima de uma obra literária seja algo ruim, mas a modo como o Kubrick fez foi meio estranhão. Se ele deixou algumas cenas mais explicitas e cruas, coisas que elas não eram no Breve Romance de Sonho, outros trechos, porém, ele amenizou, ou cortou. Fiquei sem entender. Bom, pra todos, recomendo a leitura do Breve Romance, que é de fato muito breve (não passa das 90 páginas), e depois assistam ao filme; apesar dos pesares, Kubrick ainda é um big exemplo de como se adaptar um roteiro.
Filme dulcíssimo! Apesar de algumas falhas, como a morte no mosteiro e as cenas do Ski, o filme consegue trazer aquela melancolia resignada e sorridente das pessoas recitam poesia romântica, representam o último bastião civilizado num mundo acometido pela barbárie, e têm a oportunidade de serem as últimas a morrerem. Em suma, um filme bastante recomendável.
Das várias qualidades de Querelle, talvez a mais impressionante seja a construção do próprio protagonista, que empresta muito de praticamente tudo. A começar pelo amor doentio por si mesmo, na forma do seu irmão; na forma de Gil, que também matou um homem; ou na paixão pelo tenente, que é obcecado por ele. Outra coisa interessante são os recursos estéticos, e a fantástica narrativa em over, que constrói uma trama mista de literatura bíblica e romances a lá Joyce. Em suma, um filme genial, principalmente sobre homossexualidade. Recomendado pra caralho.
Com suas doses controladas de violência substituídas por doses cavalares de humor, O Lobo de Wall Street se deu bem à sua maneira. Apesar de (confesso) sentir falta dos personagens à margem do sistema (Goodfellas) e à beira de um colapso (Taxi Driver) devo admitir que mais uma vez Scorsese fez algo primoroso e, principalmente, atual. Espero que os gringos tirem algo de útil do filme, e, também espero que o DiCaprio leve a droga do Oscar, porque ele merece.
Sharknado é, apesar da avalanche de tosquice, um filme que cumpre sua proposta; cumpre mal, evidentemente, mas cumpre. Porém, alguns dogmas dos trash-films são levados tão a sério que a má-execução do filme torna inúmeros trechos simplesmente ininteligíveis: você simplesmente não sabe o que a cena quis dizer, por mais simples que a mensagem pretendesse ser, e no final das contas, não entende nada. De resto é um filme agradável pra quem curte chuva de cocô; recomendo.
Manderlay supera, ao contrário do que muitos podem dizer, Dogville, sim. É mais sutil, ao mesmo tempo em que é engajado. Enfim, o filme em que o humor de Trier melhor se manifesta e um questionamento moral interessante. Recomendadíssimo.
Edifício Master é uma proposta despretenciosa de que cada subjetividade esconde algo de fantástico, seja um hábito, uma história da juventude, um ofício, um modo de ver o mundo, etc; o filme parte de uma premissa aparentemente simples, que resume-se em uma sucessão de pequenas entrevistas com moradores do edifício, mas que, ao final, constroi um mosaico que expõe a singularidade de um indivíduo como uma fonte inesgotável saberes e conhecimentos interessante; em suma, um estudo antropológico e sociológico sem a pretenção de o ser, ao mesmo tempo que um retrato lírico das faces múltiplas que as pessoas têm. Para concluir, é um documentário delicioso e inteligível; vale a pena ver.
Da minha primeiras experiência com Bergman eu só tenho uma consideração: fabulosa; O filme tem tantas camadas e nuances que deveriam ser comentados, que acabo ficando perdido na escolha. Atenho-me ao que mais me interessou: o papel da arte como desconforto.
A construção do filme em volta da peça condenada pelas autoridades, além de fantástica, nos deixa uma mensagem: a arte dentro da cultura é onde a materialidade da vida pode, dentro dos seus meandres, melhor se expressar. Só pela arte consegue-se rasgar a cortina envolta na cultura e criar situações revelação da realidade material, que é a em que vivemos, e que é horrorosa. E a nossa cultura tende a enxergar a realidade na arte de maneira tolerável, até que chegue-se num limite, que é exatamente o ponto do filme. Posso estar viajando, mas na minha concepção, o papel dos artistas e da peça na cena final é o exato reflexo da potência da arte como meio de mostrar as coisas; isso porque aceita-se a arte antes, para, de fato, vê-la depois; e é essa disposição que permite que nós, pessoas que nos expomos à ela, sejamos pegos desprevenidos, nos choquemos, soframos e coisas do gênero.
Em suma: genial dez vezes, e levemente perturbador.
Forte; mas não perturbador. O diretor trata muito bem de como a protagonista canaliza sua vida exterior na religião; vou além: na Figura de Jesus. Fica explícito também, na cena final, o cair-em-si da protagonista, que é um reflexo caricatural de nós mesmos. Enfim, é um filme desconfortável, porém, altamente recomendável.
Fantástico! Não há muitas considerações a se fazer sobre esse documentário, ele diz tudo. Só queria ressaltar aqui a quantidade de significados que a última frase do Scorsese carrega; é lírica, é sociológica, poética e antropológica. Scorsese nos dá, nessa frase uma pista valiosa sobre o sentido do cinema, e até da arte; enfim, assistam várias vezes.
A temática de Rashomon transcende as narrações difusas de um estupro e assassinato e leva que o assiste à velha discussão filosófica sobre a natureza humana. O interessante de se observar é como o Kurosawa usa as figuras para comprovar o que seria a sua "teoria" no filme; quando ele duvida da sinceridade do morto, que não precisaria mais mentir por estar em outro plano, ele põe em cheque toda a construção de bondade do ser humano, tanto inata com socialmente adquirida. A mentira dos personagens cria um clima de desconfiança que a todo momento destrincha o quê de egoísmo, vaidade e luxúria que os personagens deixam transparecer em suas narrativas sobre os crimes. Em suma: fascinante e obrigatório.
Num trabalho visceral, Sérgio Bianchi constrói uma caricatura tão sutil do ser humano - antes do Brasileiro - que por muitas vezes confunde-se como o nosso vizinho, com o dono do banco, com o cara que te roubou semana passada, ou com o te colega mimado da pré-escola. Num ensaio sobre a dominação, o preconceito e a subserviência - temas recorrentes na obra dele - Sérgio conduz as reflexões à conclusão do caos e da crônica conduta destrutiva do homem. Tudo isso com um senso de humor por vezes ofensivo, de tão sagaz. Em dúvida, Sérgio Bianchi criou um filme difícil, forte e violento, porém ainda muito mais controverso; é difícil decidir se ele é um monstro ou um gênio. Fica aí uma sugestão obrigatória do cinema nacional.
Fui ao cinema ver do que é realmente feito o homem de ferro e não sai com a melhor das impressões. O filme prometia: tinha a direção do Snyder - do maravilhoso Watchmen - e produção do Nolan, que dispensa comentários. Porém, o que aconteceu foi uma tentativa frustrada de atualizar o Super-homem, e isso devido a vários problemas: roteiro falho, megalomania das cenas de ação, diálogos pobres e um ator que não consegue dar carisma a um super herói que, convenhamos, já não tem muita... A única oportunidade de construir uma reflexão interessante no filme - a questão do "outro" como um ser vindo de uma galáxia distante - foi afogada com a frase de praxe: "hurp durp não estamos sozinhos no universo"
Pra passar o tempo o filme cumpre seu papel perfeitamente; pra quem é fã do herói, sinto muito...
Diamante de sangue é um filme grandioso; praticamente um épico contemporâneo. Apesar das falhas no roteiro, que às vezes adota um clichezinho aqui ou ali, o filme é fantástico. E mais; é um lembrete importante de que o colonialismo ainda não acabou. Socialmente falando, é uma questão ainda muito importante, mesmo nos dias de hoje. Nesse aspecto o filme está de parabéns, o tom de denúncia é visceral e de certa maneira, o filme é acessível. É um quase-clássico.
Genialíssimo! O filme é um grande experimento artístico. Um pouco sobre o psicológico de quem cria, um pouco sobre os limites da produção artística e muito, muito, sobre a infinita capacidade criativa de uns gênios! É um filme realmente fascinante!
É sempre um parto comentar algum filme do Haneke, especialmente esse. Creio realmente que tudo já foi dito nos comentários abaixo, então me limitarei a uma observação e um elogio:
Elogio: Haneke é um gênio diabólico Observação: Não quero mais viver.
É impressionante a capacidade do Billy em criar situações reais tão próximas das fantásticas. Guardadas suas devidas proporções, o filme é uma trama kafkiana, não pela construção psicológica dos personagens - magnífica - mas pelo sentimento de enclausuramento que quem assiste acaba sentindo; o interessante é que trata-se de um falso enclausuramento, mas que quando colocado a prova cria uma tragédia e um filme fenomenal.
Obs: Charmosíssimo esse início de filme à Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Foi escrito num dos comentários abaixo sobre O Enigma ser um interessante estudo antropológico; não posso concordar mais. Questões antropológicas pulularam pela minha cabeça durante o filme todo. É interessante observar a evolução linguística do personagem e também o como a educação "tardia" agiu na moldagem de uma concepção diversa do mundo. Por fim, gostaria de atentar aos silogismos criados pelo personagem, que são sensacionais.
Bom, sobre a grandiosidade do filme e a atuação do Nicholson já há muito comentários elogiosos, fazer mais algum seria redundante. Gostaria de atentar a duas peculiaridades: a construção dos personagens no filme é sensacional e é o filme do Kubrick que mais termina com cara de que o filme terminou. Em suma, é um dos melhores do Kubrick, como todos.
Um Ode ao Japão e sua cultura. Com temas atuais, com mitos e história que pululam o campo do onírico, Dreams fala dos anseios tanto do homem como indivíduo como quanto coletivo; reflexões sobre honra, armas nucleares e mitos do folclore nipônico reproduzem a multifacetada identidade dos sonhos. Não é a grande obra do Kurosawa, mas vale a pena.
Um filme forte e, de certo modo, doloroso. Apesar de ser meio parado, é um dos filmes que mais deixam transparecer as preferências temáticas do diretor sobre o ser humano e seus sistemas; é possível também reparar no detalhismo do Trier com algumas técnicas de direção. Resumindo, a obra não é impecável, mas está próxima de ser.
Haneke, como é de praxe, me chocou de novo. A trama de la pianiste desvela a relação íntima entre a moral e a sua força coercitiva na formação de um indivíduo. Os protagonistas se enroscam em um choque de moralidade que acaba criando situações que destoam da normalidade. Tanto na protagonista, que é coagida pela mãe, reprimindo e depois exteriorizando suas "perversões" sexuais, quanto no protagonista, que não suporta o peso dessas fantasias, há duas coisas: a primeira, de caráter de constatação, é a moralidade velada do indivíduo social, surgida em uma coerção com base na educação dele, e a segunda, e mais interessante, é a sondagem sobre como o indivíduo se relaciona com a explosão surda dessas "perversões" coibidas pela moral vigente.
Muito bom. O filme tem um roteiro bem amarrado e maravilhosas atuações. A graça da trama está no humor fino que perpassa as cenas. Pra quem gosta de sutilezas é uma grande pedida.
Love Is the Devil: Study for a Portrait of Francis …
3.2 25Estranhei a quantidade de avaliações negativas do site. Achei um trabalho magnífico; com exceção da fotografia, que não tinha nada de sofisticado. Mas saindo da caixinha das chatices da técnica: o filme instiga coisas interessantes, como essa relação artista-afeto-arte. Me lembrou bastante "Capote"; em que por mais que as relações construídas sejam diferentes, em essência, as situações são as mesmas. Ademais, o filme tem um o quê de onírico [voltado ao pesadelo] e soturno que parecem criar uma atmosfera muito própria a vida e obra do biografado. Em suma, o filme tem aqui um correligionário.
De Olhos Bem Fechados
3.9 1,5K Assista AgoraA despeito da fala final do filme, que é de uma genialidade absurda, o filme tem seus defeitinhos. Achei uma baita de uma adaptação de roteiro, apesar de umas liberdades que o Kubrick tomou e que eu achei meio infelizes. Não que o ato de tomar liberdade em cima de uma obra literária seja algo ruim, mas a modo como o Kubrick fez foi meio estranhão. Se ele deixou algumas cenas mais explicitas e cruas, coisas que elas não eram no Breve Romance de Sonho, outros trechos, porém, ele amenizou, ou cortou. Fiquei sem entender. Bom, pra todos, recomendo a leitura do Breve Romance, que é de fato muito breve (não passa das 90 páginas), e depois assistam ao filme; apesar dos pesares, Kubrick ainda é um big exemplo de como se adaptar um roteiro.
O Grande Hotel Budapeste
4.2 3,0KFilme dulcíssimo! Apesar de algumas falhas, como a morte no mosteiro e as cenas do Ski, o filme consegue trazer aquela melancolia resignada e sorridente das pessoas recitam poesia romântica, representam o último bastião civilizado num mundo acometido pela barbárie, e têm a oportunidade de serem as últimas a morrerem. Em suma, um filme bastante recomendável.
Querelle
3.6 128Das várias qualidades de Querelle, talvez a mais impressionante seja a construção do próprio protagonista, que empresta muito de praticamente tudo. A começar pelo amor doentio por si mesmo, na forma do seu irmão; na forma de Gil, que também matou um homem; ou na paixão pelo tenente, que é obcecado por ele. Outra coisa interessante são os recursos estéticos, e a fantástica narrativa em over, que constrói uma trama mista de literatura bíblica e romances a lá Joyce. Em suma, um filme genial, principalmente sobre homossexualidade. Recomendado pra caralho.
O Lobo de Wall Street
4.1 3,4K Assista AgoraCom suas doses controladas de violência substituídas por doses cavalares de humor, O Lobo de Wall Street se deu bem à sua maneira. Apesar de (confesso) sentir falta dos personagens à margem do sistema (Goodfellas) e à beira de um colapso (Taxi Driver) devo admitir que mais uma vez Scorsese fez algo primoroso e, principalmente, atual. Espero que os gringos tirem algo de útil do filme, e, também espero que o DiCaprio leve a droga do Oscar, porque ele merece.
Sharknado
2.0 832 Assista AgoraSharknado é, apesar da avalanche de tosquice, um filme que cumpre sua proposta; cumpre mal, evidentemente, mas cumpre. Porém, alguns dogmas dos trash-films são levados tão a sério que a má-execução do filme torna inúmeros trechos simplesmente ininteligíveis: você simplesmente não sabe o que a cena quis dizer, por mais simples que a mensagem pretendesse ser, e no final das contas, não entende nada. De resto é um filme agradável pra quem curte chuva de cocô; recomendo.
Manderlay
4.0 297 Assista AgoraManderlay supera, ao contrário do que muitos podem dizer, Dogville, sim. É mais sutil, ao mesmo tempo em que é engajado. Enfim, o filme em que o humor de Trier melhor se manifesta e um questionamento moral interessante. Recomendadíssimo.
Edifício Master
4.3 372 Assista AgoraEdifício Master é uma proposta despretenciosa de que cada subjetividade esconde algo de fantástico, seja um hábito, uma história da juventude, um ofício, um modo de ver o mundo, etc; o filme parte de uma premissa aparentemente simples, que resume-se em uma sucessão de pequenas entrevistas com moradores do edifício, mas que, ao final, constroi um mosaico que expõe a singularidade de um indivíduo como uma fonte inesgotável saberes e conhecimentos interessante; em suma, um estudo antropológico e sociológico sem a pretenção de o ser, ao mesmo tempo que um retrato lírico das faces múltiplas que as pessoas têm. Para concluir, é um documentário delicioso e inteligível; vale a pena ver.
O Rito
4.0 46Da minha primeiras experiência com Bergman eu só tenho uma consideração: fabulosa; O filme tem tantas camadas e nuances que deveriam ser comentados, que acabo ficando perdido na escolha. Atenho-me ao que mais me interessou: o papel da arte como desconforto.
A construção do filme em volta da peça condenada pelas autoridades, além de fantástica, nos deixa uma mensagem: a arte dentro da cultura é onde a materialidade da vida pode, dentro dos seus meandres, melhor se expressar. Só pela arte consegue-se rasgar a cortina envolta na cultura e criar situações revelação da realidade material, que é a em que vivemos, e que é horrorosa. E a nossa cultura tende a enxergar a realidade na arte de maneira tolerável, até que chegue-se num limite, que é exatamente o ponto do filme. Posso estar viajando, mas na minha concepção, o papel dos artistas e da peça na cena final é o exato reflexo da potência da arte como meio de mostrar as coisas; isso porque aceita-se a arte antes, para, de fato, vê-la depois; e é essa disposição que permite que nós, pessoas que nos expomos à ela, sejamos pegos desprevenidos, nos choquemos, soframos e coisas do gênero.
Em suma: genial dez vezes, e levemente perturbador.
Paraíso: Fé
3.7 55Forte; mas não perturbador. O diretor trata muito bem de como a protagonista canaliza sua vida exterior na religião; vou além: na Figura de Jesus. Fica explícito também, na cena final, o cair-em-si da protagonista, que é um reflexo caricatural de nós mesmos. Enfim, é um filme desconfortável, porém, altamente recomendável.
Uma Viagem Pessoal pelo Cinema Americano
4.6 64Fantástico! Não há muitas considerações a se fazer sobre esse documentário, ele diz tudo. Só queria ressaltar aqui a quantidade de significados que a última frase do Scorsese carrega; é lírica, é sociológica, poética e antropológica. Scorsese nos dá, nessa frase uma pista valiosa sobre o sentido do cinema, e até da arte; enfim, assistam várias vezes.
Rashomon
4.4 301 Assista AgoraA temática de Rashomon transcende as narrações difusas de um estupro e assassinato e leva que o assiste à velha discussão filosófica sobre a natureza humana. O interessante de se observar é como o Kurosawa usa as figuras para comprovar o que seria a sua "teoria" no filme; quando ele duvida da sinceridade do morto, que não precisaria mais mentir por estar em outro plano, ele põe em cheque toda a construção de bondade do ser humano, tanto inata com socialmente adquirida. A mentira dos personagens cria um clima de desconfiança que a todo momento destrincha o quê de egoísmo, vaidade e luxúria que os personagens deixam transparecer em suas narrativas sobre os crimes. Em suma: fascinante e obrigatório.
Cronicamente Inviável
4.0 140Num trabalho visceral, Sérgio Bianchi constrói uma caricatura tão sutil do ser humano - antes do Brasileiro - que por muitas vezes confunde-se como o nosso vizinho, com o dono do banco, com o cara que te roubou semana passada, ou com o te colega mimado da pré-escola. Num ensaio sobre a dominação, o preconceito e a subserviência - temas recorrentes na obra dele - Sérgio conduz as reflexões à conclusão do caos e da crônica conduta destrutiva do homem. Tudo isso com um senso de humor por vezes ofensivo, de tão sagaz. Em dúvida, Sérgio Bianchi criou um filme difícil, forte e violento, porém ainda muito mais controverso; é difícil decidir se ele é um monstro ou um gênio. Fica aí uma sugestão obrigatória do cinema nacional.
O Homem de Aço
3.6 3,9K Assista AgoraFui ao cinema ver do que é realmente feito o homem de ferro e não sai com a melhor das impressões. O filme prometia: tinha a direção do Snyder - do maravilhoso Watchmen - e produção do Nolan, que dispensa comentários. Porém, o que aconteceu foi uma tentativa frustrada de atualizar o Super-homem, e isso devido a vários problemas: roteiro falho, megalomania das cenas de ação, diálogos pobres e um ator que não consegue dar carisma a um super herói que, convenhamos, já não tem muita... A única oportunidade de construir uma reflexão interessante no filme - a questão do "outro" como um ser vindo de uma galáxia distante - foi afogada com a frase de praxe: "hurp durp não estamos sozinhos no universo"
Pra passar o tempo o filme cumpre seu papel perfeitamente; pra quem é fã do herói, sinto muito...
Diamante de Sangue
4.0 968 Assista AgoraDiamante de sangue é um filme grandioso; praticamente um épico contemporâneo. Apesar das falhas no roteiro, que às vezes adota um clichezinho aqui ou ali, o filme é fantástico. E mais; é um lembrete importante de que o colonialismo ainda não acabou. Socialmente falando, é uma questão ainda muito importante, mesmo nos dias de hoje. Nesse aspecto o filme está de parabéns, o tom de denúncia é visceral e de certa maneira, o filme é acessível. É um quase-clássico.
As Cinco Obstruções
3.8 40 Assista AgoraGenialíssimo! O filme é um grande experimento artístico. Um pouco sobre o psicológico de quem cria, um pouco sobre os limites da produção artística e muito, muito, sobre a infinita capacidade criativa de uns gênios! É um filme realmente fascinante!
O Sétimo Continente
4.0 174É sempre um parto comentar algum filme do Haneke, especialmente esse. Creio realmente que tudo já foi dito nos comentários abaixo, então me limitarei a uma observação e um elogio:
Elogio: Haneke é um gênio diabólico
Observação: Não quero mais viver.
Crepúsculo dos Deuses
4.5 794 Assista AgoraÉ impressionante a capacidade do Billy em criar situações reais tão próximas das fantásticas. Guardadas suas devidas proporções, o filme é uma trama kafkiana, não pela construção psicológica dos personagens - magnífica - mas pelo sentimento de enclausuramento que quem assiste acaba sentindo; o interessante é que trata-se de um falso enclausuramento, mas que quando colocado a prova cria uma tragédia e um filme fenomenal.
Obs: Charmosíssimo esse início de filme à Memórias Póstumas de Brás Cubas.
O Enigma de Kaspar Hauser
4.0 328Foi escrito num dos comentários abaixo sobre O Enigma ser um interessante estudo antropológico; não posso concordar mais. Questões antropológicas pulularam pela minha cabeça durante o filme todo. É interessante observar a evolução linguística do personagem e também o como a educação "tardia" agiu na moldagem de uma concepção diversa do mundo. Por fim, gostaria de atentar aos silogismos criados pelo personagem, que são sensacionais.
O Iluminado
4.3 4,0K Assista AgoraBom, sobre a grandiosidade do filme e a atuação do Nicholson já há muito comentários elogiosos, fazer mais algum seria redundante. Gostaria de atentar a duas peculiaridades: a construção dos personagens no filme é sensacional e é o filme do Kubrick que mais termina com cara de que o filme terminou. Em suma, é um dos melhores do Kubrick, como todos.
Sonhos
4.4 381 Assista AgoraUm Ode ao Japão e sua cultura. Com temas atuais, com mitos e história que pululam o campo do onírico, Dreams fala dos anseios tanto do homem como indivíduo como quanto coletivo; reflexões sobre honra, armas nucleares e mitos do folclore nipônico reproduzem a multifacetada identidade dos sonhos. Não é a grande obra do Kurosawa, mas vale a pena.
Dançando no Escuro
4.4 2,3K Assista AgoraUm filme forte e, de certo modo, doloroso. Apesar de ser meio parado, é um dos filmes que mais deixam transparecer as preferências temáticas do diretor sobre o ser humano e seus sistemas; é possível também reparar no detalhismo do Trier com algumas técnicas de direção. Resumindo, a obra não é impecável, mas está próxima de ser.
A Professora de Piano
4.0 684 Assista AgoraHaneke, como é de praxe, me chocou de novo. A trama de la pianiste desvela a relação íntima entre a moral e a sua força coercitiva na formação de um indivíduo. Os protagonistas se enroscam em um choque de moralidade que acaba criando situações que destoam da normalidade. Tanto na protagonista, que é coagida pela mãe, reprimindo e depois exteriorizando suas "perversões" sexuais, quanto no protagonista, que não suporta o peso dessas fantasias, há duas coisas: a primeira, de caráter de constatação, é a moralidade velada do indivíduo social, surgida em uma coerção com base na educação dele, e a segunda, e mais interessante, é a sondagem sobre como o indivíduo se relaciona com a explosão surda dessas "perversões" coibidas pela moral vigente.
Era Uma Vez na Anatólia
3.8 60Muito bom. O filme tem um roteiro bem amarrado e maravilhosas atuações. A graça da trama está no humor fino que perpassa as cenas. Pra quem gosta de sutilezas é uma grande pedida.