12 Anos de Escravidão é um drama forte, que não atenua situações incômodas, as expõe muitas vezes de forma crua, sem melodrama, pieguices, nem tampouco cenas apelativas. Apenas o drama humano exposto da forma mais real possível.
É surpreendente que seja um diretor negro britânico, Steve McQueen (homônimo de um famoso ator norte-americano morto em 1980) a dirigir esse que é considerado o mais contundente retrato cinematográfico da escravidão nos EUA, quando há no país expoentes como Spike Lee, Lee Daniels, dentre outros. Esse é um tema delicadíssimo nos EUA, poucos cineastas – negros ou brancos - se arriscaram a trazê-lo às telas de forma aprofundada. Recentemente Tarantino trouxe em “Django Livre” um recorte num formato de “épico-ação”, com seu conhecido estilo de violência estilizada, que tem doses de veracidade mas não se compromete com uma narrativa realista. Assim mesmo choveram críticas e reações indignadas. Disseram, entre outras acusações, que o filme de Tarantino banalizava uma situação muito séria.
O mesmo definitivamente não se pode dizer da abordagem de “12 Anos”. Temos aqui um retrato fiel das condições históricas em que se davam as relações escravagistas nos EUA. Solomon é comercializado como uma peça. Logo que entregue aos capatazes e refuta dizendo haver um engano, já que é um homem livre, alforriado, recebe um violento açoite como resposta. Ali se apresenta sua nova situação: um escravo prestes a ser mercantilizado.
Uma das cenas mais impactantes, talvez a mais dramaticamente corrosiva, é a que referida escrava, num acesso de ciúmes, é chicoteada por Edwin até sua pele ficar em carne viva. Solomon é ainda obrigado pelo escravocrata a chicotear a jovem escrava a quem se afeiçoou. Não mais conseguindo cumprir a determinação ele larga a chibata e cai desolado, enquanto o mestre segue impiedosamente com o ato, sob o regozijo de sua esposa que assiste a tudo sem esboçar a menor complacência.
O diálogo trocado entre Solomon e o escravocrata Edwin diante da cena é revelador: “O senhor é diabo! Mais cedo ou mais tarde, em algum lugar do curso da justiça eterna vai responder por esse pecado!” diz o escravo. Ao que o senhor responde friamente: “Pecado? Não existe nenhum pecado. Um homem faz o que quiser com sua propriedade”. A mentalidade era precisamente essa.
Nos EUA da segunda metade do Século XIX a sociedade sulista tinha uma ligação estreita com o escravagismo. As relações eram essencialmente comerciais, mas havia já incutido fortemente o ideal racista, que via negros como uma sub raça. Essa ideologia era transportada, inclusive, para a lógica da doutrina cristã das congregações protestantes e foi o embrião do Ku Klux Klan.
12 Anos de Escravidão é, sob muitos aspectos, um filme difícil de ser visto. Pelo tema difícil e até meio indigesto para boa parte do público não foi exatamente um sucesso de bilheteria, mas isso já era em parte esperado, em se tratando de uma produção dramática de abordagem realista de um tema delicado.
Só pode ser considerado inovador no contexto da filmografia dos EUA, dada a escassez de filmes americanos que abordam essa temática como enredo central. No caso do Brasil, por exemplo, sobram exemplos de produções televisas e cinematográficas que abordam a escravidão. Nos EUA isso é muito mais complicado de se fazer devido ao racismo institucional que vigorou em alguns estados americanos até meados dos anos 1970. Falar sobre a escravidão se tornou um tabu, assunto evitado sempre que possível. Não obstante, é grande o números de filmes que retratam o racismo pós-abolição.
A produção tem uma linguagem convencional, se ancora em alguns clichês típicos de dramas raciais e pouco surpreende. O roteiro é “redondo”, consistente mas pouco ousado. O elenco tem performances marcantes dos atores, destaque para Chiwetel Ejiofor, protagonista do filme, Michael Fassbander como o escravocrata sádico e Lupita Nyong como a escrava Patsey. Brad Pitt, que é um dos produtores do filme, faz uma participação especial.
O título do filme é retirado do livro escrito pelo próprio Solomon, que após ser resgatado em 1853 passou a ser um dos principais ativistas do movimento abolicionista. Foi encontrado morto 10 anos depois, sob os trilhos de um trem. As circunstâncias de sua morte jamais foram totalmente esclarecidas, mas imagina-se que num ambiente de guerra de secessão, onde os EUA eram um paiol aceso e cujo motivo principal do conflito era justamente a lei abolicionista promulgada pelo presidente Abraham Lincolm, que opôs os estados do Norte industrializado aos do Sul ainda majoritariamente agrário e umbilicalmente ligada ao escravagismo, sua morte tenha sido retaliação de partidários sulistas e/ou radicais conservadores.
Um filme denso, de uma dramaticidade realista e corrosiva que é muitas vezes difícil de acompanhar. A narrativa é consistente, a direção é segura e o elenco está extraordinário. Vale muito apena ser visto. Eu indico.
Intocáveis é uma daquelas produções onde o contraste acaba estabelecendo a atmosfera do filme: são dois personagens diferentes que tem origens diferentes, perfis diferentes, condições sociais diferentes, são em suma, diametralmente opostos, mas de uma maneira muito peculiar acabam tornando-se companheiros, amigos, cúmplices! Driss e Phillip, cada um com suas limitações e habilidades próprias acabam se complementando, numa relação construída com autenticidade e muita espontaneidade. Phillip, o tetraplégico milionário, vive num ambiente onde todos os tratam com a maior deferência, cheios de cuidado pra não afeta-lo, prejudica-lo ou ofendê-lo pela sua condição delicada. Ele vive como se estivesse anestesiado, letárgico, resignado às suas limitações mas no fundo repudia com veemência toda a situação e a forma "especial", como o tratam, repleta de compaixão. A chegada do Driss é como um sopro de ânimo na rotina apática de Phillip: um negro imigrante sem papas na língua e meio desajeitado que acaba por transformar os hábitos do milionário e a forma dele encarar o mundo e as pessoas. Poderia ser mais um de tantos filmes de enredo parecido, mas Intocáveis se diferencia pelo seu humor ácido, chegando a ser até mesmo corrosivo e politicamente incorreto, assim como ocorre ma vida real. As duras piadas e referências humorísticas nada comedidas que Driss faz ao estado Phillip acabam ajudando o milionário a sentir-se como alguém comum e a incentivá-lo a dispor dos prazeres que a vida ainda pode lhe oferecer. As cenas da dança de Driss no aniversário de Phillip, na casa de massagens eróticas e do passeio de carro são antológicas. A última cena, como Driss fazendo Phillip involuntariamente encontrar-se com a mulher de quem é apaixonado, deixando sozinho e impassível de mover-se do local, é bela, divertida e tocante. Enfim, um filme belíssimo, um dos representantes do legítimo bom cinema francês, além de ter se tornado um Blockbuster, com quase 400 milhões de espectadores na França e no mundo, o que é um feito e tanto pra um filme de arte e ainda por cima francês. Um filme sensível, delicado, bonito e divertido que vale muito a pena ser visto.
A produção não traz, no que se refere a linguagem cinematográfica, nada de extraordinário ou inovador, mas seu enredo, a forma como aborda a biografia e obra poética do grande Allen Ginsberg, são o ponto forte da película, o que emociona e prende a atenção. Ginsberg como um dos principais expoentes da Geração Beat (termo que sempre renegou) e da vanguarda literária norte-americana possui uma obra poética cuja beleza, magnitude, visceralidade e sofisticação eclodem num nível de transcendência abissal. A poesia de Allen retratou como nenhuma outras as angustias, desejos, prospecções, alegrias e transgressões da sua geração, transposta à literatura numa intensidade semântica que tornou-se referência estética, expressão verborrágica permeada de forma poética sublime. Allen Ginsberg e seus escritos são de tal forma envolventes que nem mesmo a performance caricata e anódina do igualmente inexpressivo James Franco conseguem macular o brilho e excelência dos seus poemas declamados e alegorizados no filme. Uma produção cinematográfica não excepcional mas com certeza bela e artisticamente relevante.
Confesso que sou simplesmente fascinado por dramas políticos e demais produções cinematográficas sobre o tema. Alguns correspondem as expectativas, outros estão abaixo e alguns superam e empolgam ao longo da exibição. Arquitetos do Poder faz parte da ultima categoria citada. Fazendo um recorte acerca do marketing político e sua influência na conjuntura social, o filme prende a atenção e acerta em cheio no uso já comum de imagens de arquivo intercaladas a depoimentos de especialistas e pessoas envolvidas nos eventos da época. Faz um balanço panorâmico das campanhas políticas desde Getúlio Vargas até a reeleição do presidente Lula em 2006. Nesse retrospecto, esmiúça detalhes, polêmicas,(como a histórica edição do debate Lula-Collor em 1989)contradições sob a ótica das imagens e de algumas das personagens atuantes à época. A narrativa tem algumas lacunas, mas que não comprometem o resultado final, que para a proposta - um recorte histórico de imagens permeado com depoimentos - está em boa sintonia aos padrões do gênero, embora pudesse utilizar-se de linguagem mais arrojada cinematograficamente falando. Ao final, evidencia-se que nas campanhas, mesmo o processo político tendo uma dinâmica social própria, o trabalho dos marqueteiros é essencial e não é tão superestimado assim. No Brasil, em muitos aspectos, eles são mesmo como arquitetos do poder.
Pessoal, necessito, em caráter de urgência, de uma cópia desse filme para exibição da obra numa Mostra de Cinema, com temática sobre sexualidade e gênero que será realizada em agosto desse ano pela Universidade Estadual da Paraíba/Campus IV. Se alguém dispuser do filme - em formato de copia Dolby Digital ou DVD com arquivo AVI legendado - entre em contato comigo nesse espaço ou através deste e-mail: sandrouepb@gmailcom. Agradeço imensamente desde já.
O argumento do roteiro somado a uma boa direção direção tinha tudo pra resultar num bom filme ou menos num interessante. Infelizmente não é isso que se vê. Trata-se de uma ideia boa mal aproveitada. Os diálogos são fracos, anódinos e soam desconexos, as personagens, a exceção do casal de idosos e talvez dos que estão pra se divorciar, não provocam empatia, as frases cômicas não surtem efeito cômico, o "rapaz tarado" é mal construído e soa caricato, enfim, nada parece fluir ou funcionar como deveria. A exceção talvez seja a partcipação do Ewan McGregor, que confere alguma autenticidade a história da sua personagem e a defende bem. De resto, apenas um filme mediano a compor o grupo dos que "poderiam ter sido legais".
Medíocre como filme e terrivelmente ruim como adaptação. Um diretor inexperiente e sem conceito na área pegar um texto dessa magnitude é uma temeridade. Quase nada se aproveita, salvo a performance de Colin Firth e os figurinos. O protagonista não tem empatia e narrativa tenta seguir a linha thriler-suspense mais se perde em exageros grotescos e cria uma atmosfera caricata e sem expressividade, parece uma versão nonsense de Wilde à lá "O Chamado", muito Bizarro! Não percam seu tempo assistindo a essa pataquada, me arrependo bastante de ter perdido o meu.
Clint Eastwood em seu pior momento. J. Edgar poderia ser considerado um filme razoável se realizado por um diretor medíocre e/ou desconhecido, mas como se trata de Clint, cujo currículo de trabalhos anteriores é simplesmente execepcional, deixa muito a desejar. Nem mesmo Leonardo DiCaprio consegue se sobressair dada a narrativa irregular, maquiagem ruim e fotografia muito escura. O roteiro do filme deixa muitas questões vagas, mal exploradas e/ou insuficientes. Pra mim foi uma experiencia decepcionante assisti-lo. Já havia lido críticas negativas a respeito da produção, mas resolvi conferir por mim mesmo, pois as vezes me surpreendo e acabo gostando. Infelizmente não foi esse o caso.
Spielberg usa uma narrativa quase infantil para abordar a 1º Guerra Mundial, pouco lembra a linguagem quase naturalista de "O Resgate do Soldado Ryan" (extremamente superior a este). Tudo no filme é meio pudico e "nada" em pieguice, embora não chegue a enveredar pelo melodrama. Um filme simpático, daqueles que vc assiste numa tarde em que não tem nada melhor pra fazer ou ver. A direção de Spielberg é segura, mas ele não surpreende, não ousa, prefere ficar no "feijão com arroz" clássico. Os atores tem certa empatia, o garoto-protagonista "bate-ponto" com uma performance ao estilo "série teen norte-americana", é esforçado, simpático no máximo. Quem chama a atenção mesmo é a garotinha francesa que encanta com uma interpretação que concilia força, vibração, delicadeza, paixão e brilho. Um achado. No mais, um filme de guerra comum que de "inovador" mesmo só traz a relação afetiva entre um garoto e seu cavalo (norte -americano adora enredo sobre relação afetuosa humano-animal). O saldo é que é um filme que entretém, mas não passa disso.
É um drama-suspense perturbador, com um "q" de thriler. Confesso que fiquei impactado. A Tilda Swinton dá banho de interpretação como a mãe que vê a crueldade do filho crescer progressivamente e as evidencias dela se manifestando de forma sutil e sofisticada através da perspicácia ferina e implacável do garoto. O filme utiliza uma narrativa que eu particularmente gosto: intercala imagens do presente e do passado que vão gradativamente conduzindo o espectador pra que ele possa ao final descobrir qual o terrível fato ocorrido. Acho instigante e arrojada a "narrativa em retrospectiva" parcial. Enfim, é uma boa pedida. Recomendo.
De uma beleza e delicadeza dramatúrgicas sublimes. O filme é magistral. Lars Von Trier deixa de lado os conflitos psicológicos abordados sobre uma estética tensa e corrosiva para optar pelo belo em sua acepção mais sublime. Filme extraordinário.
12 Anos de Escravidão
4.3 3,0K12 Anos de Escravidão é um drama forte, que não atenua situações incômodas, as expõe muitas vezes de forma crua, sem melodrama, pieguices, nem tampouco cenas apelativas. Apenas o drama humano exposto da forma mais real possível.
É surpreendente que seja um diretor negro britânico, Steve McQueen (homônimo de um famoso ator norte-americano morto em 1980) a dirigir esse que é considerado o mais contundente retrato cinematográfico da escravidão nos EUA, quando há no país expoentes como Spike Lee, Lee Daniels, dentre outros. Esse é um tema delicadíssimo nos EUA, poucos cineastas – negros ou brancos - se arriscaram a trazê-lo às telas de forma aprofundada. Recentemente Tarantino trouxe em “Django Livre” um recorte num formato de “épico-ação”, com seu conhecido estilo de violência estilizada, que tem doses de veracidade mas não se compromete com uma narrativa realista. Assim mesmo choveram críticas e reações indignadas. Disseram, entre outras acusações, que o filme de Tarantino banalizava uma situação muito séria.
O mesmo definitivamente não se pode dizer da abordagem de “12 Anos”. Temos aqui um retrato fiel das condições históricas em que se davam as relações escravagistas nos EUA. Solomon é comercializado como uma peça. Logo que entregue aos capatazes e refuta dizendo haver um engano, já que é um homem livre, alforriado, recebe um violento açoite como resposta. Ali se apresenta sua nova situação: um escravo prestes a ser mercantilizado.
Uma das cenas mais impactantes, talvez a mais dramaticamente corrosiva, é a que referida escrava, num acesso de ciúmes, é chicoteada por Edwin até sua pele ficar em carne viva. Solomon é ainda obrigado pelo escravocrata a chicotear a jovem escrava a quem se afeiçoou. Não mais conseguindo cumprir a determinação ele larga a chibata e cai desolado, enquanto o mestre segue impiedosamente com o ato, sob o regozijo de sua esposa que assiste a tudo sem esboçar a menor complacência.
O diálogo trocado entre Solomon e o escravocrata Edwin diante da cena é revelador: “O senhor é diabo! Mais cedo ou mais tarde, em algum lugar do curso da justiça eterna vai responder por esse pecado!” diz o escravo. Ao que o senhor responde friamente: “Pecado? Não existe nenhum pecado. Um homem faz o que quiser com sua propriedade”. A mentalidade era precisamente essa.
Nos EUA da segunda metade do Século XIX a sociedade sulista tinha uma ligação estreita com o escravagismo. As relações eram essencialmente comerciais, mas havia já incutido fortemente o ideal racista, que via negros como uma sub raça. Essa ideologia era transportada, inclusive, para a lógica da doutrina cristã das congregações protestantes e foi o embrião do Ku Klux Klan.
12 Anos de Escravidão é, sob muitos aspectos, um filme difícil de ser visto. Pelo tema difícil e até meio indigesto para boa parte do público não foi exatamente um sucesso de bilheteria, mas isso já era em parte esperado, em se tratando de uma produção dramática de abordagem realista de um tema delicado.
Só pode ser considerado inovador no contexto da filmografia dos EUA, dada a escassez de filmes americanos que abordam essa temática como enredo central. No caso do Brasil, por exemplo, sobram exemplos de produções televisas e cinematográficas que abordam a escravidão. Nos EUA isso é muito mais complicado de se fazer devido ao racismo institucional que vigorou em alguns estados americanos até meados dos anos 1970. Falar sobre a escravidão se tornou um tabu, assunto evitado sempre que possível. Não obstante, é grande o números de filmes que retratam o racismo pós-abolição.
A produção tem uma linguagem convencional, se ancora em alguns clichês típicos de dramas raciais e pouco surpreende. O roteiro é “redondo”, consistente mas pouco ousado. O elenco tem performances marcantes dos atores, destaque para Chiwetel Ejiofor, protagonista do filme, Michael Fassbander como o escravocrata sádico e Lupita Nyong como a escrava Patsey. Brad Pitt, que é um dos produtores do filme, faz uma participação especial.
O título do filme é retirado do livro escrito pelo próprio Solomon, que após ser resgatado em 1853 passou a ser um dos principais ativistas do movimento abolicionista. Foi encontrado morto 10 anos depois, sob os trilhos de um trem. As circunstâncias de sua morte jamais foram totalmente esclarecidas, mas imagina-se que num ambiente de guerra de secessão, onde os EUA eram um paiol aceso e cujo motivo principal do conflito era justamente a lei abolicionista promulgada pelo presidente Abraham Lincolm, que opôs os estados do Norte industrializado aos do Sul ainda majoritariamente agrário e umbilicalmente ligada ao escravagismo, sua morte tenha sido retaliação de partidários sulistas e/ou radicais conservadores.
Um filme denso, de uma dramaticidade realista e corrosiva que é muitas vezes difícil de acompanhar. A narrativa é consistente, a direção é segura e o elenco está extraordinário. Vale muito apena ser visto. Eu indico.
Intocáveis
4.4 4,1K Assista AgoraIntocáveis é uma daquelas produções onde o contraste acaba estabelecendo a atmosfera do filme: são dois personagens diferentes que tem origens diferentes, perfis diferentes, condições sociais diferentes, são em suma, diametralmente opostos, mas de uma maneira muito peculiar acabam tornando-se companheiros, amigos, cúmplices! Driss e Phillip, cada um com suas limitações e habilidades próprias acabam se complementando, numa relação construída com autenticidade e muita espontaneidade. Phillip, o tetraplégico milionário, vive num ambiente onde todos os tratam com a maior deferência, cheios de cuidado pra não afeta-lo, prejudica-lo ou ofendê-lo pela sua condição delicada. Ele vive como se estivesse anestesiado, letárgico, resignado às suas limitações mas no fundo repudia com veemência toda a situação e a forma "especial", como o tratam, repleta de compaixão. A chegada do Driss é como um sopro de ânimo na rotina apática de Phillip: um negro imigrante sem papas na língua e meio desajeitado que acaba por transformar os hábitos do milionário e a forma dele encarar o mundo e as pessoas. Poderia ser mais um de tantos filmes de enredo parecido, mas Intocáveis se diferencia pelo seu humor ácido, chegando a ser até mesmo corrosivo e politicamente incorreto, assim como ocorre ma vida real. As duras piadas e referências humorísticas nada comedidas que Driss faz ao estado Phillip acabam ajudando o milionário a sentir-se como alguém comum e a incentivá-lo a dispor dos prazeres que a vida ainda pode lhe oferecer. As cenas da dança de Driss no aniversário de Phillip, na casa de massagens eróticas e do passeio de carro são antológicas. A última cena, como Driss fazendo Phillip involuntariamente encontrar-se com a mulher de quem é apaixonado, deixando sozinho e impassível de mover-se do local, é bela, divertida e tocante. Enfim, um filme belíssimo, um dos representantes do legítimo bom cinema francês, além de ter se tornado um Blockbuster, com quase 400 milhões de espectadores na França e no mundo, o que é um feito e tanto pra um filme de arte e ainda por cima francês. Um filme sensível, delicado, bonito e divertido que vale muito a pena ser visto.
Uivo
3.8 215 Assista AgoraA produção não traz, no que se refere a linguagem cinematográfica, nada de extraordinário ou inovador, mas seu enredo, a forma como aborda a biografia e obra poética do grande Allen Ginsberg, são o ponto forte da película, o que emociona e prende a atenção. Ginsberg como um dos principais expoentes da Geração Beat (termo que sempre renegou) e da vanguarda literária norte-americana possui uma obra poética cuja beleza, magnitude, visceralidade e sofisticação eclodem num nível de transcendência abissal. A poesia de Allen retratou como nenhuma outras as angustias, desejos, prospecções, alegrias e transgressões da sua geração, transposta à literatura numa intensidade semântica que tornou-se referência estética, expressão verborrágica permeada de forma poética sublime. Allen Ginsberg e seus escritos são de tal forma envolventes que nem mesmo a performance caricata e anódina do igualmente inexpressivo James Franco conseguem macular o brilho e excelência dos seus poemas declamados e alegorizados no filme. Uma produção cinematográfica não excepcional mas com certeza bela e artisticamente relevante.
Arquitetos do Poder
4.0 15Confesso que sou simplesmente fascinado por dramas políticos e demais produções cinematográficas sobre o tema. Alguns correspondem as expectativas, outros estão abaixo e alguns superam e empolgam ao longo da exibição. Arquitetos do Poder faz parte da ultima categoria citada. Fazendo um recorte acerca do marketing político e sua influência na conjuntura social, o filme prende a atenção e acerta em cheio no uso já comum de imagens de arquivo intercaladas a depoimentos de especialistas e pessoas envolvidas nos eventos da época. Faz um balanço panorâmico das campanhas políticas desde Getúlio Vargas até a reeleição do presidente Lula em 2006. Nesse retrospecto, esmiúça detalhes, polêmicas,(como a histórica edição do debate Lula-Collor em 1989)contradições sob a ótica das imagens e de algumas das personagens atuantes à época. A narrativa tem algumas lacunas, mas que não comprometem o resultado final, que para a proposta - um recorte histórico de imagens permeado com depoimentos - está em boa sintonia aos padrões do gênero, embora pudesse utilizar-se de linguagem mais arrojada cinematograficamente falando. Ao final, evidencia-se que nas campanhas, mesmo o processo político tendo uma dinâmica social própria, o trabalho dos marqueteiros é essencial e não é tão superestimado assim. No Brasil, em muitos aspectos, eles são mesmo como arquitetos do poder.
Bem-Vindos
4.0 47Pessoal, necessito, em caráter de urgência, de uma cópia desse filme para exibição da obra numa Mostra de Cinema, com temática sobre sexualidade e gênero que será realizada em agosto desse ano pela Universidade Estadual da Paraíba/Campus IV. Se alguém dispuser do filme - em formato de copia Dolby Digital ou DVD com arquivo AVI legendado - entre em contato comigo nesse espaço ou através deste e-mail: sandrouepb@gmailcom.
Agradeço imensamente desde já.
Cenas de Natureza Sexual
2.9 28 Assista AgoraO argumento do roteiro somado a uma boa direção direção tinha tudo pra resultar num bom filme ou menos num interessante. Infelizmente não é isso que se vê. Trata-se de uma ideia boa mal aproveitada. Os diálogos são fracos, anódinos e soam desconexos, as personagens, a exceção do casal de idosos e talvez dos que estão pra se divorciar, não provocam empatia, as frases cômicas não surtem efeito cômico, o "rapaz tarado" é mal construído e soa caricato, enfim, nada parece fluir ou funcionar como deveria. A exceção talvez seja a partcipação do Ewan McGregor, que confere alguma autenticidade a história da sua personagem e a defende bem. De resto, apenas um filme mediano a compor o grupo dos que "poderiam ter sido legais".
O Retrato de Dorian Gray
3.2 1,5K Assista AgoraMedíocre como filme e terrivelmente ruim como adaptação. Um diretor inexperiente e sem conceito na área pegar um texto dessa magnitude é uma temeridade. Quase nada se aproveita, salvo a performance de Colin Firth e os figurinos. O protagonista não tem empatia e narrativa tenta seguir a linha thriler-suspense mais se perde em exageros grotescos e cria uma atmosfera caricata e sem expressividade, parece uma versão nonsense de Wilde à lá "O Chamado", muito Bizarro! Não percam seu tempo assistindo a essa pataquada, me arrependo bastante de ter perdido o meu.
J. Edgar
3.5 646 Assista AgoraClint Eastwood em seu pior momento. J. Edgar poderia ser considerado um filme razoável se realizado por um diretor medíocre e/ou desconhecido, mas como se trata de Clint, cujo currículo de trabalhos anteriores é simplesmente execepcional, deixa muito a desejar. Nem mesmo Leonardo DiCaprio consegue se sobressair dada a narrativa irregular, maquiagem ruim e fotografia muito escura. O roteiro do filme deixa muitas questões vagas, mal exploradas e/ou insuficientes. Pra mim foi uma experiencia decepcionante assisti-lo. Já havia lido críticas negativas a respeito da produção, mas resolvi conferir por mim mesmo, pois as vezes me surpreendo e acabo gostando. Infelizmente não foi esse o caso.
Cavalo de Guerra
4.0 1,9KSpielberg usa uma narrativa quase infantil para abordar a 1º Guerra Mundial, pouco lembra a linguagem quase naturalista de "O Resgate do Soldado Ryan" (extremamente superior a este). Tudo no filme é meio pudico e "nada" em pieguice, embora não chegue a enveredar pelo melodrama. Um filme simpático, daqueles que vc assiste numa tarde em que não tem nada melhor pra fazer ou ver. A direção de Spielberg é segura, mas ele não surpreende, não ousa, prefere ficar no "feijão com arroz" clássico. Os atores tem certa empatia, o garoto-protagonista "bate-ponto" com uma performance ao estilo "série teen norte-americana", é esforçado, simpático no máximo. Quem chama a atenção mesmo é a garotinha francesa que encanta com uma interpretação que concilia força, vibração, delicadeza, paixão e brilho. Um achado. No mais, um filme de guerra comum que de "inovador" mesmo só traz a relação afetiva entre um garoto e seu cavalo (norte -americano adora enredo sobre relação afetuosa humano-animal). O saldo é que é um filme que entretém, mas não passa disso.
Precisamos Falar Sobre o Kevin
4.1 4,2K Assista AgoraÉ um drama-suspense perturbador, com um "q" de thriler. Confesso que fiquei impactado. A Tilda Swinton dá banho de interpretação como a mãe que vê a crueldade do filho crescer progressivamente e as evidencias dela se manifestando de forma sutil e sofisticada através da perspicácia ferina e implacável do garoto. O filme utiliza uma narrativa que eu particularmente gosto: intercala imagens do presente e do passado que vão gradativamente conduzindo o espectador pra que ele possa ao final descobrir qual o terrível fato ocorrido. Acho instigante e arrojada a "narrativa em retrospectiva" parcial. Enfim, é uma boa pedida. Recomendo.
Melancolia
3.8 3,1K Assista AgoraDe uma beleza e delicadeza dramatúrgicas sublimes. O filme é magistral. Lars Von Trier deixa de lado os conflitos psicológicos abordados sobre uma estética tensa e corrosiva para optar pelo belo em sua acepção mais sublime. Filme extraordinário.
Toda Forma de Amor
4.0 1,0K Assista AgoraFilme agradável, delicado e com uma bela história.