Um romance que veste "Scene d'Amour" de Bernard Herrmann ("Vertigo"? Sim!) e é feito de melancolia, como também de uma saturação aquecida, talvez bela. Uma homenagem à Wong Kar-Wai e à sensoestética Almodovariana por um estilista que mostra ser seleto com suas referências. A fragmentação do tempo forma, além de belas sequências, uma base fundamental para a compreensão da idéia – "vivendo do passado" – transposta pelo protagonista. George Carlyle Falconer – personagem de Colin Firth –, um professor universitário, buscando libertar-se da dor pela perda de seu companheiro que conviveu por 16 anos, decide findá-la com o planejamento de sua morte. Entretanto, em seu caminho existem alguns fatores transformadores, um deles é Charlotte – Julianne Moore – uma mulher que participou insatisfatoriamente em seu passado, tornou-se frustrada com a própria vida e acontecimentos posteriores. O segundo pode ser Kenny Potter, um menino sedutor que é admirado pelo protagonista como uma lembrança de si mesmo. Acima disso tudo, o medo é um grande influenciador na desistência de George. Aquela nostalgia, uma saudade dolorosa e o medo... Medo de viver diferente? Medo de não conseguir desprender-se do passado? Medo do próprio Amor? Ainda penso no final, até agora descrevo-o como agradável e vicioso.
É linda a cena que George estaciona o carro de frente para o olhar de Janet Leigh em "Psicose". Digo mais, alguém sequer reparou que a menina que anda sempre com o garoto (Nicolas Hoult) é uma modelo Brasileira? e que já fez Marc Jacobs? Detalhes...
Há séculos atrás, "CineConhecimento" e um fim de domingo. Ainda guardo lembrança da frieza de Isabelle Huppert em uma quantidade quase similar à personalidade de Emma. Das literaturas mais suculentas, tamanha é a burguesia decadente que Flaubert discrimina, que Chabrol visualiza e que eu aprecio.
"Sunset Boulevard" é a metalinguagem prima no meio de um século. Da ascendência mortal até a decadência eterna, onde criaturas bebem na cruel fonte do show business. Só podia ser a comunicação do espectador com um verdadeiro cérebro, sim... Pela genialidade e por bom tempo que acredito no cinema de Billy Wilder, na sua maneira construtora desta linguagem visual que faz incontáveis cinéfilos vir aqui e adicioná-lo aos favoritos, e acima de tudo no poder manipulativo que as suas obras conseguem alcançar. O famoso "fazer agir". Neste dissimulado Noir, Gloria Swanson incorpora-se no papel de Norma Desmond – uma estrela recusando a acreditar que entrou em decadência com o fim do cinema mudo – vivendo em sonhos e numa mansão vazia situada na Sunset Boulevard n°10086. O pontapé da história se dá quando Norma, por um equívoco, depara-se com um roteirista em fuga chamado Joe Gillis – personagem do charmoso William Holden –, que até então já tinha se mostrado como narrador da história e também revelado um assassinato desentendido. É com a mistura mortífera desta narração detalhista e a evasão da protagonista com os reflexos cinematográficos, a análise comportamental diante de aspectos – como fama, narcisismo, necessidade, ciúmes, solidão e reciprocidade –, estruturados em uma situação comum e cotidiana, faz desta obra uma verdadeira fonte de significado ilimitado. É como assistir filme sobre bastidores de filmes e como resultado disso, o espectador não tem a segurança de descrever aquilo como sendo arte ou vida, real ou imaginário; porém, de uma forma lúcida, a primeira coisa possível que ele observa é o círculo vicioso que alguns dos personagens estão envolvidos, característica forte do estilo Noir, que seria a alienação do personagem trajada por uma moral ambígua e que, provavelmente, é uma condição crônica. A dependência econômica de Joe com a necessidade de liberdade, a ilusão construída por Norma de esperar pelo seu retorno triunfal ao estrelato, as aparições saudosistas de artistas do cinema mudo, esta liberdade de comunicar o passado histórico com o presente fictício e o cenário milimetricamente calculado fazem de "Sunset Boulevard" ser considerado uma das obras mais influentes na história do cinema. Em "Beleza Americana", por exemplo, é possível observar a mesma tendência narrativa, até mesmo no detalhe da iniciação do trajeto através da morte. Em "Twin Peaks", quando David Lynch faz seu cameo de 6 episódios, o nome de seu personagem é inspirado aqui no Billy Wilder. É através de uma origem decadente que "Sunset Blvd." se fez uma ascensão eterna e nunca, por motivo nenhum, se tornará pequeno; nem mesmo quando Norma Desmond não tiver mais espaço para ser grande.
Desavisados devem saber que "Funny Lady" não tem metade da beleza de "Funny Girl". É fora do nexo que uma obra com tamanho peso emocional, com a representação de tal estrela da década de 20, seja desmerecida por esta sequência. "Funny Girl" trata a origem da comediante, cabo a rabo, dois atos, 15 melodias, amores, ousadia, humor, vida... Com o fim vago nos termos da vida amorosa, "Funny Lady" é como um reafirmativa da independência matrimonial de Fanny (ou seria energia eletrostática repelidora de maridos?). Deixando as análises conjugais para Woody Allen, em "Funny Lady" o que conta mais são os momentos vividos durante a Grande Depressão, a busca por sobrevivência e talvez quem sabe um novo romance. Não dá para evitar também, que uma boa razão para o filme existir é Barbra saciando as curiosidades sobre o que rola com Nick Sr.(Charlatão)Arnstein. Fanny cresceu uma arrogância e Nick cresceu cabelos brancos. A atuação de seus atores, como sempre, bem caricatas também na sequência. Nick com seus sumiços rotineiros faz Fanny ocupar ainda mais seu tempo e suas piadas de última hora. Só que com um diferencial, a funny girl agora não é mais garota e isso acabou pedindo uma (Lady?) responsabilidade de seu destino. "Funny Lady" tem músicas carismáticas e é um ótimo entretenimento para quem gostou do anterior; mas ainda repito, "Funny Girl" é um dos que marcaram a história da musicalidade no cinema.
Woody Allen é um fascínio nervoso e "Annie Hall" é um grande influenciador em obras, mais recentes, que tratam de conflitos conjugais. A visão e a maneira como coloca sua linguagem, de forma bastante coesiva nos seus relacionamentos, é quase impossível de não prender a atenção do espectador. Ele transforma situações e faz o passado refletir no presente, viceversa. É muito fácil perceber isso, quando Woody relata algum fato que vivenciou, criando uma idéia imaginária de que ele pode voltar, rever aquilo e analisar de forma psicológica. Como se ainda não fosse sistemático o bastante, o personagem de Woody faz uma terapia há 15 anos, então é como uma relação contínua de analisar e ser analisado. Com todo aquele ar setentista de Nova York, tudo é crítica por trás de longos diálogos. Tudo é conceitual – ele pode comparar sua vida a uma batata, e ainda sim, fazer parecer que é a coisa mais complexa do mundo.
Logo depois de assistir a "My Fair Lady" em DVD, fui aos extras conferir algumas sequências musicais – com a voz original de Audrey –, e não é que gostei? Sua voz é um pouco desmerecida. Anyway, a atuação dela é incrível e constrói toda uma transformação de voz esganiçada e vestimenta simples; até a feição de princesa com trajes elegantes e coberta de jóias. Rex Harrison está único como Professor Henry Higgins. Stanley Holloway é o maior destaque como o pai alcoólatra e ausente na vida de Eliza – personagem de Audrey. A cena que ela vai ao primeiro evento social, com o traje que marcaria o filme, é simplesmente genial. Sendo nesta hora que ela encontra o carismático Fred, Eliza Doolitle já domina uma linguagem elegante e é uma peça chave na beleza daquela fotografia fashionista – em outras palavras, uma competição de chapéu. É hilária toda aquela piada dela poder conversar apenas sobre um tema restrito (tempo e saúde), pois mesmo assim ela consegue um jeito de colocar, no meio do assunto, uma tia que tinha gripe. Sobre crítica social, "My Fair Lady" é realmente "fair" no que diz respeito a alta sociedade e ao preconceito. Percebe-se a diferença clara de uma mulher que não tem nada e ao mesmo tempo contempla de muita dignidade (e uma personalidade difícil também) em contraposição a um homem rico que a trata como sujeira e faz uso de suas deficiências como um meio de entretenimento pessoal. Não só de uma forma negativa, mas George Cukor utiliza o personagem de Eliza Doolitle para simbolizar uma pessoa que não tem vergonha de suas origens, independente de qual ela seja.
É um filme ótimo para se assistir – naqueles dias que pedem um humor idiota/exagerado – em função do seu circo de estereótipos, profanações ideológicas e aquela pouca exigência de raciocínio para com o seu espectador. Considero válido apenas a maneira como o filme aborda a epifania do protagonista, que é a essência do roteiro, porém desconsidero o resto totalmente e ouso dizer que toda a reviravolta a partir dele é um grande tédio desinteressante. Trata-se de Jim Carrey e suas caretas rotineiras incorporados no papel do golpista Steve Russell que se descobre gay a partir de um acidente, passando a viver uma vida desmiolada e psicologicamente afetada pelo abandono materno. Quando gay, Steven é exibido no filme em diversas cenas picantes, que deixariam o espectador um tanto desconfortável na presença de familiares ou amigos desatualizados do mundo "gay friendly". Entretanto, seria uma falta de conforto irônica, pois as cenas passam longe de excitação e ereção; na verdade beiram a artificialidade e a maneira como Jim Carrey expressa suas reações, através de seu personagem, é tão rápida, é aquele humor tão "Todo mundo em Pânico", que isso tudo constrói um universo de fatos os quais o espectador não consegue engolir. A única participação que Rodrigo Santoro obteve no filme foi o toque final, como a cereja em cima do bolo, na futilidade que é expressa para caracterizar o mundo Gay e suas derivações plásticas. Quem sim se destaca é Ewan McGregor – aquele tão comentado Phillip Morris –, que com sua feição emotiva e suas afirmações dramáticas, deixa o espectador por alguns momentos crentes de sua relação com o protagonista. O ponto crítico do filme é quando Steve Russell revela-se um grande golpista, que acaba preso, e com isso, passa a viver a vida tramando maneiras para livrar-se dos crimes e viver uma vida gay luxuosa. É bem ilustrada no filme essa necessidade do protagonista, que por ter vivido o sonho americano quando casado com uma mulher religiosa e ter descoberto o mundo gay, em recriar a mesma vida de perfeição com novos termos; e com isso, acaba impedindo a si próprio de reconhecer outros valores. Repito, é apenas um entretenimento e que não pode de forma alguma ser considerado um filme sobre homossexualidade. Phillip Morris é para aqueles dias, e se estes dias você não tem, então não recomendo.
"Cabaret" surpreendeu-me com sua evidência. É diferente de tudo já vi – um musical de direção e crítica eficiente, um elenco de atuações interessantes, um retrato do show business em pano do crescimento nazista, figurino sensual e canções belíssimas. Em primeiro plano, temos o personagem de Liza Minnelli – Sally Bowles –, que é uma atriz e cantora americana de cabaret, aspirante à estrela e um coração ingênuo.
"That's me, darling. Unusual places, unusual love affairs. I am a most strange and extraordinary person.", diz Sally.
Brian Roberts, personagem de Michael York, é um britânico reservado que procura local para morar na pensão que Sally mora. Tornando-se amigos nos últimos momentos da república de Weimar, Brian conhece a vida boêmia e anárquica que Sally leva. Misterioso e de natureza duvidosa, Brian envolve-se em um jogo de sensualidade com Sally na companhia de um terceiro cavalheiro. Este é Maximilian Von Heune – personagem de Helmut Griem –, um rico barão que leva Sally e Brian a passeios no campo. O ponto alto dos protagonistas é quando se envolvem tanto, que já não sabemos quem está seduzindo quem. O narrador do filme e apresentador das sequências musicais é o carismático Joel Grey, cantor e dançarino vencedor de vários prêmios. Seu personagem tem uma influência um tanto irônica na trama, além de participar na construção da linha de pensamento no filme, seus diálogos funcionam também como críticas políticas. Outra ferramenta de inspiração que Bob Fosse utiliza é o Expressionismo Alemão; em sequências musicais, por exemplo, a filmagem é feita com pouca luz. Tamanha é a beleza musical e fotográfica, que Cabaret foi premiado com 8 estatuetas no Oscar.
Quando decorre o filme, é deveras intrigante perceber as influências do crescimento nazista – o alemão judeu se passando por protestante e que nutre sentimentos por uma judia, espancamentos aleatórios à filmagem, a sequência a qual um garoto loiro canta a melodia "Tomorrow Belongs To Me" vestido com um uniforme da juventude de Hitler e reflexões por parte dos protagonistas sobre comunismo e controle político.
"Gold Diggers of 1933" é um musical maravilhoso produzido pela Warner Bros., durante a Grande Depressão e antes da intensificação da censura. É mostrada a busca pelo dinheiro, para sustentar o show business, em meio à sensualidade exuberante da mulher. Ginger Rogers está belíssima, porém Aline MacMahon e Dick Powell são os que mais se destacam; a primeira como Trixie, uma das caçadoras de ouro, é extremamente hilária e ironiza nas melhores horas e o segundo como Brad, um cantor talentoso e carismático. Dentro deste universo pessimista, é impossível não perceber a influência da Grande Depressão no Cinema, aqui nestas caçadoras de ouro, você tem quatro garotas talentosas que aspiram ao estrelato em uma ambientação crítica e vendendo um lindo espetáculo. "Pettin' in the park" é a música mais divertida.
A pureza de "Les Amitiés Particulières" é infinita. Nunca em um filme preto e branco, o universo masculino de um garoto foi tão bem dimensionado e poético. Diria até que este pode ter sido uma excêntrica inspiração para Almodóvar criar o grande "Má Educação". Ambos se completam com uma idéia de garotos enclausurados numa fortaleza religiosa, o rompante de seus sentimentos e uma quase ditadura educacional. Almodóvar, em sua obra, explora mais profundamente a passagem religiosa, suas consequências em forma psicológica e a vida adulta; contudo, Jean Delannoy restringe sua obra ao final da infância e consegue retratar todos os aspectos de um relacionamento proibido. Isso através de uma nuance subliminar e técnicas certeiras na filmagem. Apesar de preto e branco, o espectador sente-se seguro e encantado com a maneira agradável da coloração e do brilho, creio ainda que seja um fator influenciador nos momentos expressivos dos personagens. Georges de Sarre é o protagonista, aluno novato na escola católica e a primeiro momento sente-se atraído por Lucien Rouvière. Quando descobre que este já possui um amigo, acaba ficando mordido de ciúmes e tenta destruir a relação do amigo; isto é, até que encontra Alexandre Motier. Daí então se inicia o detalhe mais notável e particular desta obra – a amizade romântica com o personagem do pequeno Didier Haudepin –, este que como Alexandre está surreal e carismático para sua idade, tal como aquelas crianças que estão sempre a frente de seu tempo. A sua teimosia é insistente, a valentia é profunda e crível; em outras palavras, digno de atos dramáticos para uma obra que é quase uma dama. Fazendo uma observação mais ampla do pano de fundo da história, é possível observar uma crítica ao fundamentalismo no uso da batina. De diversas maneiras, Delannoy constrói através de imagens uma contradição ao significado de ser padre e abrir mão de certos desejos. É estranho ao espectador a maneira com a qual o terceiro personagem se envolve com o romance acima descrito. Vários dos padres se mostram duvidosos na maneira que tratam os internos e um em específico cria quase uma perseguição posicionada no objetivo de por fim à convivência dos garotos. A maneira como o diretor revela o desfecho desta história é desconsertante, nos fazendo refletir nas idéias que habitam a mente humana e sentir cada verso destas poesias; rimas do limiar adolescente em estado de transcendência.
É possível imaginar uma obra com este formato no início da década de 60? Diria mais, este merece ser considerado como um dos melhores filmes a abordar o "assunto de meninos" por sua delicadeza.
"Tacones Lejanos", como outras obras Almodovarianas, é aquela construção genial da personalidade feminina. Tamanha é a importância fêmea na mente do diretor, que o espectador é levado a perceber traços femininos em tudo. Desde a sutil sedução das cores até a potencialização do salto alto. Rebeca, personagem de Victoria Abril, desde pequena mantém uma relação agitada com sua mãe. O motivo é relevante, sua mãe é uma cantora famosa que tem a tendência de atrair muita atenção e isso deixa espaço suficiente para que Rebeca se sinta insegura, buscando assim no seu psicológico a necessidade de competir com a mãe. A obra homenageia a outros filmes que tratam do mesmo tema, particularmente "Autumn Sonata" de Ingmar Bergman.
É muito claro perceber a ausência paterna na relação de Rebeca com sua mãe. No seu universo quase predomina feminilidade, uma prova disso são as maneiras com as quais Almodóvar explora a imagem do salto alto, a distância considerável que o pai parece estar aos olhos do espectador e a ligação da filha com o transformista que imita sua mãe. Com um trabalho programado no México, Becky del Páramo permanece anos sem ver sua filha e decide voltar de vez para que possa de alguma forma redimir sua falta materna. Quando estava longe, Becky foi convidada para o casamento da filha e não compareceu. Em seu encontro com a mesma, depara-se com o velho conhecido que se casou com sua filha. É daí em diante que está o ponto de atenção em "Tacones Lejanos", o espectador observa a trajetória do reencontro de mãe e filha, em meio a um turbilhão de complexidades e sentimentos. Marisa Paredes está incrivelmente emotiva no papel de Becky del Páramo, a mãe de Rebeca. Seu personagem se revela ser muito admirado e excentricamente influenciador. Tanto é que um querido amigo transformista de Rebeca é também um grande imitador de sua mãe. Em suas belas aparições, surpreende o espectador com sua carcaça deveras maleável e sua ambientação rende muitos risos.
Na prisão, em que Rebeca se encontra, existem cenas de pura criatividade na interação de algumas detentas. Elas realizam uma dança que recordo-me claramente de já ter visto em comerciais dançantes da VH1
Isso tudo é parte do salto alto psicológico que Almodóvar utiliza; aquele barulho tão sedutor de se ouvir.
Posso dizer que "Prayers for Bobby" é uma crítica religiosa e, acima de tudo, história verídica de um filho desesperado e uma mãe arrependida. Esta dramática produção televisiva questiona os limites que a fé exagerada reproduz em uma mãe, que ama seu filho e por escolher ignorar a agonia vivida pelo mesmo, cria uma teia de pensamentos autodestruidores na sua mente. Tamanha é a desorientação de Bobby, que a mesma o faz, em momentos de depressão profunda, relatar em um diário toda a falsa culpa que ele alimentava a alma. "Torturado pelo medo de ir para o inferno; Sinto vontade de desaparecer da face da terra." Esta entre outras frases podem ser lidas no diário que Bobby manteve por dois anos. Mary Griffith – mãe de Bobby, que na obra é incorporada por Sigourney Weaver – descrevia seu filho como um espírito amável, doce e gentil. Conta também que amava cinema Cult e Clássico; seu filme preferido era "O Pecado Mora ao Lado" protagonizado por Marilyn Monroe – a sua Diva.
No filme é possível perceber este gosto pelo cinema quando ele assiste "Suspicion" de Hitchcock com sua mãe e quando sai com amigos para ir a uma sessão de "Rocky Horror".
Quando sua família fica ciente de sua homossexualidade, Bobby é submetido a diversos processos religiosos e psiquiátricos. Sua mãe utiliza de todos os versículos bíblicos como arma para fazer Bobby entender, que ele não poderia estar com sua família na vida posterior, caso ele não se redimisse de seus atos impuros. A pressão externa, o medo de perder a família e viver à margem da sua sociedade descontrola seus sentimentos e o faz cometer um ato final a si mesmo. É então desde ponto que a trajetória dramática de Mary Griffith obtém um clímax. Mutilada pela culpa da morte de Bobby, ela busca maneiras de conseguir construir uma relação de paz com ela mesma. Tenta recorrer ao entendimento que não conseguiu encontrar quando seu filho ainda vivia. A beleza de "Prayers de Bobby" está no modo que a dor da protagonista é explorada e na trajetória que ela percorre da culpa desorientada até a aceitação.
"I like to call New York BC – Before Carrie!" – Diz a famosa personagem de Sarah Jessica Parker definindo a sua relação com a Big Apple. Definitivamente é possível traçar um paralelo antes e depois de Carrie. Ou melhor, antes e depois de Sex and the City – esta grande série que marcou profundamente a maneira da mídia abordar a mulher de NY, no fim da década de 90. Até hoje traça influências culturais, intelectuais e comerciais sobre a trajetória da população globalizada. Trazer o cotidiano fashionista de Carrie para as telonas só pode resultar em uma coisa: matar tortuosamente a saudade dos fãs da série. Em Sex and the City 2, temos mais uma grande tentativa nostálgica e um entretenimento deveras divertido. O drama agora gira em torno do Casamento, uma temática um tanto delicada, que soube ser abordada de uma forma carismática e sexy. Entre flashes de Carrie e as amigas em Retro Outfits e o casamento de Stanford simbolizando a abertura do tema proposto, temos conflitos internos em cada um dos casais. O momento daí em diante, como na série, abre espaço para uma sucessão de acontecimentos que sempre acabam se desdobrando para a futura solução. Antes de esse entendimento chegar, o espectador é levado a uma viagem exageradamente bela a um dos Emirados Árabes – Ab Dhabi – com todas as despesas pagas devido favorecimentos pessoais de Samantha. Quando se é fervendo nas altas temperaturas desérticas, reencontrando velhos amores ou lutando contra o envelhecimento e o desafio da maternidade, este quarteto leva qualquer um a boas gargalhadas!
Vale a pena conferir o casamento lindo de Stanford com participação da Liza, que me recorreu a uma nostalgia incrível do musical "Funny Girl", com todos aqueles rapazes de cartolas, o lago de cisnes e creio ter visto um "Don't rain on my parade" escrito em algum lugar (ou posso estar insano também).
"Dançando no Escuro" é uma dor unânime. Se algum dia existir um Award para o filme que consegue arrancar a maior quantidade de lágrimas de um ser humano, acredito que esta obra de Lars Von Trier ganharia várias estatuetas. Criando um musical completo, permita-se mergulhar pela cabeça do diretor, que leva o espectador a uma viagem artística e poética transcrita em situações de alegria e dramaticidade. A obra possui várias referências e mantêm uma relação bela com universo que é o gênero Musical. Além da presença do astro de "Cabaret" – Joel Grey, uma delas é claramente "The Sound of Music". Durante a tentativa de um ensaio, a protagonista ouve uma exclamação – "You'll always be my perfect Maria." – sua história de coragem e enfrentar os desafios é similar. Selma Jezkova – incorporada pela cantora Björk – é uma imigrante tcheca, fanática irrecuperável por musicais, que se muda com o filho para os EUA. Trabalhando com uma rotina pesada devido à necessidade de juntar dinheiro, Selma leva uma rotina deveras miserável e mesmo assim consegue estampar um sorriso em seu rosto. Ela tem o dom de balancear a própria dor fazendo as coisas que ama – cantando e sapateando. Desde pequena, Selma sabe que sofre de uma doença degenerativa que afeta a sua visão e é esta trajetória que o espectador acompanha com a veia pulsando. Lars Von Trier, com suas técnicas de filmagem e seus conceitos cinematográficos, consegue explorar o sentimento e a arte na emoção, nos olhares, na beleza simples facial como ninguém e faz a dor da protagonista impossível de ser ignorada.
Em um momento de tristeza absoluta, Selma canta "My Favourite Things" e isso me faz vítima sincera de sua dor. Esta é uma música criada para se esquecer dos males e depois finalizando o filme já após a sua morte – cortinas se fecham como em um grande espetáculo. Tamanha é artimanha sentimental por parte do diretor.
"To Catch a Thief" é considerado o filme mais romântico de Hitchcock. Pessoalmente, prefiro "Rear Window". Existe uma semelhança interessante entre as personagens de Grace Kelly nestas duas obras do mestre. É impossível negar que o seu deslumbre combinado com o carisma de Cary Grant tenha influenciado potencialmente a obra. A futura Princesa de Mônaco vive aqui a pele de Frances Stevens – uma viúva rica autêntica e que não tem medo de diversões. Cary Grant é o ‘Gato’, um ex-ladrão de jóias famoso, que luta com o desafio de provar ao mundo que deixou os roubos para o passado, isso porque existe um novo ladrão utilizando das mesmas artimanhas que o próprio ‘Gato’ maquiava. Puro Hitchcock, uma trajetória sobre a busca de um ladrão envolvido pelo romance inesperado dos protagonistas. Apesar de esse detalhe fervoroso ser crucial para a elaboração da obra, em "Rear Window" é possível perceber uma versão mais impulsiva de Grace Kelly, menos "man-eater" e mais poética. Ambas carregando no sangue o que vem a ser considerado ícone Fashionista, porém em "Rear Window" percebemos um lado muito mais perigoso da personalidade feminina. "To Catch a Thief" possui uma das mais belas fotografias do cinema. Uma fotografia merecedora de Oscar em 1956. É como uma viagem inesquecível aos amores da Riviera Francesa.
Sou um fanático irrecuperável de "O Mágico de OZ" e isso me faz bem suspeito quando tento criticar este coração selvagem. Penso em meus momentos o assistindo e concluo - A relação da obra com suas referências é esplendorosa, muito porque identifiquei-me profundamente com ela. Um dos principais detalhes para se notar é a época que ocorrem as filmagens, claramente David Lynch está hipnotizado com as corujas de "Twin Peaks" e deixou isso transparecer na direção. "Twin Peaks" - um universo contínuo e fabuloso sobre a morte de Laura Palmer - deixou não somente a participação de quatro personalidades excêntricas (Sheryl Lee, Sheryl Flenn, Grace Zabriskie e Jack Nance) como também um conjunto de técnicas, signos e paráfrases que mais tarde seriam aprofundados em seu enredo. Em "Coração Selvagem", observando personagens caricatos e dramáticos envolvidos por um mistério ardente à la Road Movie, tomo a liberdade de caracterizá-los. Nicolas Cage como Sailor é um James Dean, só que chic e levemente bizarro, querendo ser Elvis e buscando por uma amada. Laura Dern é uma Dorothy perdida nos tijolos amarelos de sua sexualidade e buscando por uma Cidade de Esmeraldas que ela ainda não sabe se existe. Ambos assumem identidades. Sailor caracteriza sua jaqueta de pele de cobra como o símbolo de sua liberdade pessoal e a preenche de forma crua, violenta e masculina. Lula é uma fêmea fatal incorporada dentro de uma fantasia "Marilyn-mascando-chiclets" e um sotaque sulista.
A violência misturada com as cenas sexuais cria uma fórmula arrasadora, tão excitantes quanto suas declarações. Lynch recusou a utilizar o final proposto pelo livro, que seria a separação do casal, e em contramão correndo o risco de ser rotulado comercial, preferiu mantê-los felizes para sempre ao som de “Love me tender”, sucesso de Elvis Presley e cantada por Nicolas Cage.
Um personagem que marca ardentemente a trajetória dos protagonistas é a mãe de Lula - personagem de Diane Ladd, que mantêm a mesma relação com a atriz na realidade. Diane Ladd como Marietta Fortune é uma mulher exagerada, possessiva e determinada a impedir o romance infernal dos protagonistas sob qualquer custo. Dos coadjuvantes, o mais notável é Willem Dafoe como o atrevido Bobby Peru, o qual acredito estar profundamente ligado à "Twin Peaks". David Lynch nutre também um sentimento por "O Mágico de Oz" e durante o seguimento do enredo constrói grandiosas alusões.
A mãe de Lula é associada à Wicked Witch of the West, aparece frequentemente em cima de uma vassoura soltando gargalhadas, observando sua bola de cristal e sempre envolvida por um penumbra. Lula como Dorothy aparece usando os cobiçados Ruby slippers e em um momento de tristeza bate os calcanhares três vezes. A atriz Sheryl Lee - famosa Laura Palmer de "Twin Peaks" - faz uma aparição deveras especial como Glinda, the good witch.
Estas entre outras referências difundidas em diálogos e na sonoridade de Badalamenti eternizam a obra sob um aspecto mágico. "Wild at Heart" é uma obra polêmica, porém não deve ser desmerecida e a Palma de Ouro apenas completa isso. Uma paráfrase do valor ao relacionamento. Coração Selvagem é a busca do amor no inferno, diz Lynch.
Apocalypse Now é o sangramento mental, que Coppola te faz sentir. Um ultraviolence melhor conceituado. Ele coloca o público em um pequeno barco - durante a Guerra de Vietnã - e nos faz percorrer uma viagem quase a parte dela. Uma viagem através da consciência de um homem. Este homem é Martin Sheen. Seu personagem - Capitão Willard - recebe uma missão um tanto delicada a respeito do Coronel Kurtz, um personagem enlouquecido do momentanemante horroroso Marlon Brando. Robert Duvall - "I love the smell of napalm in the morning!" - foi melhor coadjuvante no Globo de Ouro. Apocalypse Now matou pela Palma de Ouro.
Lance desfilando com a fumaça rosa e o tal cachorro que desaparece "The dog! Where's the dog? We have to go back for the dog" HAHA, obviamente a cena posterior a morte do Coronel Kurtz exatamente no momento que Martin Sheen sai da água. Nostálgico e fabuloso. O momento "vamos-surfar" e por último, a morte do homem que conduzia o barco - é chocante a maneira como a câmera explorou o movimento da lança o perfurando. Senti como se a lança tivesse saido da projeção. Se fosse em 3D, provavelmente teria saido.
"Espantalhos não assustam os corvos. Fazendeiros os colocam com uma cara engraçada para que eles façam os corvos rirem. Eles são gente boa, daí o corvo pensa em não incomodá-los já que suas caras são tão engraçadas. Os corvos riem. Os espantalhos são lindos."
Mais uma vez, Hitchcock mostra que além de dirigir bem filmes, dirige bem o público. Uma característica enfática de seu cinema são os detalhes nos objetos de suspense e a maneira com a qual ele utiliza para nos fazer perceber as emoções a seu modo. Em "Os Pássaros", Hitchcock utiliza efeitos especiais de vanguarda e elima a trilha sonora. Apenas os barulhos produzidos por pássaros e do bater de suas asas são o suficiente para contribuir com a tensão. Sem dúvida, taí o pai dos filmes de animais perigosos. Jessica Tandy é uma típica sogra possessiva e Rod Taylor está impecável como um galã simpático e zombador, de lençinho no pescoço, vindo mostrar como seus olhos apenas tratam tamanha linguagem cinematográfica com os de Tippi Hendren. Hitchcock absorve em cena o melhor de Tippi Hendren e seus gestos delicados e tabágicos, o medo das aves - uma bela arte de temer! Ela pergunta - "Como sabe o meu nome?" Ele responde - "Disse-me um passarinho."
"The past is a foreign country: they do things differently there" É a famosa frase utilizada para iniciar o romance de L. P. Hartley, adaptada no cinema por Joseph Losey - uma belíssima fotografia com a grandiosa sonoridade por Michel Legrand. A história se passa quando Leo Colston faz uma nostalgia sobre a trajetória e as consequências de sua infância. Verão de 1900 em Norfolk, Leo é hospedado - quando está prestes a completar 13 anos - em uma luxuosa casa de campo, onde mora a família burguesa que o acolhe. Dentro desta família Maudsley, Leo socializa-se na maior parte do tempo com Marcus Maudsley, assim sendo sente-se solitário com a posterior doença do amigo e aproxima-se da irmã do mesmo - Marian Maudsley (Julie Christie, de "Doutor Jivago" 1965), uma jovem bela comprometida ao Visconde Hugh Trimingham. O climax da história está quando, através de troca de favores, Leo Colston envolve-se na troca de mensagens amorosas entre Marian e Ted Burgess - O amante, O outro, O Ricardão inglês... - um fazendeiro rude que mora próximo à grande casa. É possível perceber que a princípio, Leo fica contente em ajudar principalmente porque guarda uma atração inocente por Marian e é ignorante para com o significado das mensagens e da relação do casal. Facilmente manipulado pelo casal apaixonado, Leo é um garoto inocente e não compreende o fato de Marian não poder largar seu compromisso pelo amante, que é uma questão dos tabus da época - Ted Burgess fazia parte de uma classe social muito abaixo da classe onde Marian se encontrava. Com o passar do tempo, Leo começa a entender todo o significado da situação que estava vivendo, tenta de alguma forma modificá-la e é nesta modificação que a história gira em torno, focalizando a maneira como as consequências dessa condição influenciam em sua vida e simbolizando de uma forma profunda a perda da inocência.
"The hills are alive with the sound of music" Essa é a frase que marcou Julie Andrews girando em cima da mais verde montanha que ja vistes em vida. Apesar de perder-se bastante do contexto histórico original, "The Sound of Music" é um dos mais belos divertimentos musicais que podemos encontrar hoje em dia e tem todas as características de um clássico. Tem uma fotografia bela e dois ou mais personagens apaixonados, envolve o amor em contexto histório mundial e trabalha uma trajetória linear do personagem seguindo de problema até solução. Preza por bons valores e tem função de apresentar uma mensagem humanista que tem tudo para perdurar por muitas gerações. Uma noviça rebelde, indecisa com sua escolha religiosa, afastada temporariamente do convento para trabalhar como governanta na casa de um capitão do coração gélido e sete crianças talentosas, com sua ambientação determinada na Áustria antes e até a ocupação Nazista, nada mais! A descoberta do amor, a formação e importância da relação familiar, a solução de conflitos pessoais e socioeconomicos envolvidos por uma trilha sonora construída e delineada homogeneamente para o seu enredo. É ainda mais belo de ouvir.
Viridiana - a santa católica do século XIII banida por blasfêmia e indecência - na obra de Buñuel é uma freira ordinária e aquela grande alegoria ao modo de pessoas se interagindo com a religião. A cena dos mendigos com sua santa ceia é genial. É possível notar as caridades da protagonista, por conta do seu sentimento de culpa, nos fazendo intensamente pensar em uma crítica à opressão religiosa. De diversas formas e com uma delicadeza indescritível, Buñuel constrói imagens simbólicas entrelaçadas a suas cenas, conseguindo nos mostrar a incapacidade da protagonista de resistir ao seu destino e referenciando assim a toda uma cultura, que não mudará do dia para a noite. "Limona", "Limonita"... - À esmola! À caridade! À maneira como alguém ousa, através de todos os meios, consolar a si mesmo e seus pecados. Desnecessário deveras.
Direito de Amar
4.0 1,1K Assista AgoraUm romance que veste "Scene d'Amour" de Bernard Herrmann ("Vertigo"? Sim!) e é feito de melancolia, como também de uma saturação aquecida, talvez bela. Uma homenagem à Wong Kar-Wai e à sensoestética Almodovariana por um estilista que mostra ser seleto com suas referências. A fragmentação do tempo forma, além de belas sequências, uma base fundamental para a compreensão da idéia – "vivendo do passado" – transposta pelo protagonista. George Carlyle Falconer – personagem de Colin Firth –, um professor universitário, buscando libertar-se da dor pela perda de seu companheiro que conviveu por 16 anos, decide findá-la com o planejamento de sua morte. Entretanto, em seu caminho existem alguns fatores transformadores, um deles é Charlotte – Julianne Moore – uma mulher que participou insatisfatoriamente em seu passado, tornou-se frustrada com a própria vida e acontecimentos posteriores. O segundo pode ser Kenny Potter, um menino sedutor que é admirado pelo protagonista como uma lembrança de si mesmo. Acima disso tudo, o medo é um grande influenciador na desistência de George. Aquela nostalgia, uma saudade dolorosa e o medo...
Medo de viver diferente?
Medo de não conseguir desprender-se do passado?
Medo do próprio Amor?
Ainda penso no final, até agora descrevo-o como agradável e vicioso.
É linda a cena que George estaciona o carro de frente para o olhar de Janet Leigh em "Psicose". Digo mais, alguém sequer reparou que a menina que anda sempre com o garoto (Nicolas Hoult) é uma modelo Brasileira? e que já fez Marc Jacobs? Detalhes...
Madame Bovary
3.5 77 Assista AgoraHá séculos atrás, "CineConhecimento" e um fim de domingo. Ainda guardo lembrança da frieza de Isabelle Huppert em uma quantidade quase similar à personalidade de Emma. Das literaturas mais suculentas, tamanha é a burguesia decadente que Flaubert discrimina, que Chabrol visualiza e que eu aprecio.
Crepúsculo dos Deuses
4.5 795 Assista Agora"Sunset Boulevard" é a metalinguagem prima no meio de um século. Da ascendência mortal até a decadência eterna, onde criaturas bebem na cruel fonte do show business. Só podia ser a comunicação do espectador com um verdadeiro cérebro, sim... Pela genialidade e por bom tempo que acredito no cinema de Billy Wilder, na sua maneira construtora desta linguagem visual que faz incontáveis cinéfilos vir aqui e adicioná-lo aos favoritos, e acima de tudo no poder manipulativo que as suas obras conseguem alcançar.
O famoso "fazer agir".
Neste dissimulado Noir, Gloria Swanson incorpora-se no papel de Norma Desmond – uma estrela recusando a acreditar que entrou em decadência com o fim do cinema mudo – vivendo em sonhos e numa mansão vazia situada na Sunset Boulevard n°10086. O pontapé da história se dá quando Norma, por um equívoco, depara-se com um roteirista em fuga chamado Joe Gillis – personagem do charmoso William Holden –, que até então já tinha se mostrado como narrador da história e também revelado um assassinato desentendido. É com a mistura mortífera desta narração detalhista e a evasão da protagonista com os reflexos cinematográficos, a análise comportamental diante de aspectos – como fama, narcisismo, necessidade, ciúmes, solidão e reciprocidade –, estruturados em uma situação comum e cotidiana, faz desta obra uma verdadeira fonte de significado ilimitado.
É como assistir filme sobre bastidores de filmes e como resultado disso, o espectador não tem a segurança de descrever aquilo como sendo arte ou vida, real ou imaginário; porém, de uma forma lúcida, a primeira coisa possível que ele observa é o círculo vicioso que alguns dos personagens estão envolvidos, característica forte do estilo Noir, que seria a alienação do personagem trajada por uma moral ambígua e que, provavelmente, é uma condição crônica.
A dependência econômica de Joe com a necessidade de liberdade, a ilusão construída por Norma de esperar pelo seu retorno triunfal ao estrelato, as aparições saudosistas de artistas do cinema mudo, esta liberdade de comunicar o passado histórico com o presente fictício e o cenário milimetricamente calculado fazem de "Sunset Boulevard" ser considerado uma das obras mais influentes na história do cinema. Em "Beleza Americana", por exemplo, é possível observar a mesma tendência narrativa, até mesmo no detalhe da iniciação do trajeto através da morte. Em "Twin Peaks", quando David Lynch faz seu cameo de 6 episódios, o nome de seu personagem é inspirado aqui no Billy Wilder.
É através de uma origem decadente que "Sunset Blvd." se fez uma ascensão eterna e nunca, por motivo nenhum, se tornará pequeno; nem mesmo quando Norma Desmond não tiver mais espaço para ser grande.
Apenas uma Questão de Amor
4.0 150Será que é apenas uma questão de amor?!
Funny Lady - A Garota Genial
3.5 21 Assista AgoraDesavisados devem saber que "Funny Lady" não tem metade da beleza de "Funny Girl". É fora do nexo que uma obra com tamanho peso emocional, com a representação de tal estrela da década de 20, seja desmerecida por esta sequência. "Funny Girl" trata a origem da comediante, cabo a rabo, dois atos, 15 melodias, amores, ousadia, humor, vida...
Com o fim vago nos termos da vida amorosa, "Funny Lady" é como um reafirmativa da independência matrimonial de Fanny (ou seria energia eletrostática repelidora de maridos?). Deixando as análises conjugais para Woody Allen, em "Funny Lady" o que conta mais são os momentos vividos durante a Grande Depressão, a busca por sobrevivência e talvez quem sabe um novo romance. Não dá para evitar também, que uma boa razão para o filme existir é Barbra saciando as curiosidades sobre o que rola com Nick Sr.(Charlatão)Arnstein.
Fanny cresceu uma arrogância e Nick cresceu cabelos brancos. A atuação de seus atores, como sempre, bem caricatas também na sequência. Nick com seus sumiços rotineiros faz Fanny ocupar ainda mais seu tempo e suas piadas de última hora. Só que com um diferencial, a funny girl agora não é mais garota e isso acabou pedindo uma (Lady?) responsabilidade de seu destino. "Funny Lady" tem músicas carismáticas e é um ótimo entretenimento para quem gostou do anterior; mas ainda repito, "Funny Girl" é um dos que marcaram a história da musicalidade no cinema.
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa
4.1 1,1K Assista AgoraWoody Allen é um fascínio nervoso e "Annie Hall" é um grande influenciador em obras, mais recentes, que tratam de conflitos conjugais. A visão e a maneira como coloca sua linguagem, de forma bastante coesiva nos seus relacionamentos, é quase impossível de não prender a atenção do espectador. Ele transforma situações e faz o passado refletir no presente, viceversa. É muito fácil perceber isso, quando Woody relata algum fato que vivenciou, criando uma idéia imaginária de que ele pode voltar, rever aquilo e analisar de forma psicológica. Como se ainda não fosse sistemático o bastante, o personagem de Woody faz uma terapia há 15 anos, então é como uma relação contínua de analisar e ser analisado. Com todo aquele ar setentista de Nova York, tudo é crítica por trás de longos diálogos. Tudo é conceitual – ele pode comparar sua vida a uma batata, e ainda sim, fazer parecer que é a coisa mais complexa do mundo.
Minha Bela Dama
4.0 359 Assista AgoraLogo depois de assistir a "My Fair Lady" em DVD, fui aos extras conferir algumas sequências musicais – com a voz original de Audrey –, e não é que gostei? Sua voz é um pouco desmerecida. Anyway, a atuação dela é incrível e constrói toda uma transformação de voz esganiçada e vestimenta simples; até a feição de princesa com trajes elegantes e coberta de jóias. Rex Harrison está único como Professor Henry Higgins. Stanley Holloway é o maior destaque como o pai alcoólatra e ausente na vida de Eliza – personagem de Audrey. A cena que ela vai ao primeiro evento social, com o traje que marcaria o filme, é simplesmente genial. Sendo nesta hora que ela encontra o carismático Fred, Eliza Doolitle já domina uma linguagem elegante e é uma peça chave na beleza daquela fotografia fashionista – em outras palavras, uma competição de chapéu. É hilária toda aquela piada dela poder conversar apenas sobre um tema restrito (tempo e saúde), pois mesmo assim ela consegue um jeito de colocar, no meio do assunto, uma tia que tinha gripe. Sobre crítica social, "My Fair Lady" é realmente "fair" no que diz respeito a alta sociedade e ao preconceito. Percebe-se a diferença clara de uma mulher que não tem nada e ao mesmo tempo contempla de muita dignidade (e uma personalidade difícil também) em contraposição a um homem rico que a trata como sujeira e faz uso de suas deficiências como um meio de entretenimento pessoal. Não só de uma forma negativa, mas George Cukor utiliza o personagem de Eliza Doolitle para simbolizar uma pessoa que não tem vergonha de suas origens, independente de qual ela seja.
O Golpista do Ano
3.2 1,3K Assista AgoraÉ um filme ótimo para se assistir – naqueles dias que pedem um humor idiota/exagerado – em função do seu circo de estereótipos, profanações ideológicas e aquela pouca exigência de raciocínio para com o seu espectador. Considero válido apenas a maneira como o filme aborda a epifania do protagonista, que é a essência do roteiro, porém desconsidero o resto totalmente e ouso dizer que toda a reviravolta a partir dele é um grande tédio desinteressante.
Trata-se de Jim Carrey e suas caretas rotineiras incorporados no papel do golpista Steve Russell que se descobre gay a partir de um acidente, passando a viver uma vida desmiolada e psicologicamente afetada pelo abandono materno. Quando gay, Steven é exibido no filme em diversas cenas picantes, que deixariam o espectador um tanto desconfortável na presença de familiares ou amigos desatualizados do mundo "gay friendly". Entretanto, seria uma falta de conforto irônica, pois as cenas passam longe de excitação e ereção; na verdade beiram a artificialidade e a maneira como Jim Carrey expressa suas reações, através de seu personagem, é tão rápida, é aquele humor tão "Todo mundo em Pânico", que isso tudo constrói um universo de fatos os quais o espectador não consegue engolir. A única participação que Rodrigo Santoro obteve no filme foi o toque final, como a cereja em cima do bolo, na futilidade que é expressa para caracterizar o mundo Gay e suas derivações plásticas. Quem sim se destaca é Ewan McGregor – aquele tão comentado Phillip Morris –, que com sua feição emotiva e suas afirmações dramáticas, deixa o espectador por alguns momentos crentes de sua relação com o protagonista.
O ponto crítico do filme é quando Steve Russell revela-se um grande golpista, que acaba preso, e com isso, passa a viver a vida tramando maneiras para livrar-se dos crimes e viver uma vida gay luxuosa. É bem ilustrada no filme essa necessidade do protagonista, que por ter vivido o sonho americano quando casado com uma mulher religiosa e ter descoberto o mundo gay, em recriar a mesma vida de perfeição com novos termos; e com isso, acaba impedindo a si próprio de reconhecer outros valores.
Repito, é apenas um entretenimento e que não pode de forma alguma ser considerado um filme sobre homossexualidade. Phillip Morris é para aqueles dias, e se estes dias você não tem, então não recomendo.
Cabaret
4.2 253"Cabaret" surpreendeu-me com sua evidência. É diferente de tudo já vi – um musical de direção e crítica eficiente, um elenco de atuações interessantes, um retrato do show business em pano do crescimento nazista, figurino sensual e canções belíssimas.
Em primeiro plano, temos o personagem de Liza Minnelli – Sally Bowles –, que é uma atriz e cantora americana de cabaret, aspirante à estrela e um coração ingênuo.
"That's me, darling. Unusual places, unusual love affairs. I am a most strange and extraordinary person.", diz Sally.
Brian Roberts, personagem de Michael York, é um britânico reservado que procura local para morar na pensão que Sally mora. Tornando-se amigos nos últimos momentos da república de Weimar, Brian conhece a vida boêmia e anárquica que Sally leva. Misterioso e de natureza duvidosa, Brian envolve-se em um jogo de sensualidade com Sally na companhia de um terceiro cavalheiro. Este é Maximilian Von Heune – personagem de Helmut Griem –, um rico barão que leva Sally e Brian a passeios no campo. O ponto alto dos protagonistas é quando se envolvem tanto, que já não sabemos quem está seduzindo quem. O narrador do filme e apresentador das sequências musicais é o carismático Joel Grey, cantor e dançarino vencedor de vários prêmios. Seu personagem tem uma influência um tanto irônica na trama, além de participar na construção da linha de pensamento no filme, seus diálogos funcionam também como críticas políticas. Outra ferramenta de inspiração que Bob Fosse utiliza é o Expressionismo Alemão; em sequências musicais, por exemplo, a filmagem é feita com pouca luz. Tamanha é a beleza musical e fotográfica, que Cabaret foi premiado com 8 estatuetas no Oscar.
Quando decorre o filme, é deveras intrigante perceber as influências do crescimento nazista – o alemão judeu se passando por protestante e que nutre sentimentos por uma judia, espancamentos aleatórios à filmagem, a sequência a qual um garoto loiro canta a melodia "Tomorrow Belongs To Me" vestido com um uniforme da juventude de Hitler e reflexões por parte dos protagonistas sobre comunismo e controle político.
Cavadoras de Ouro
3.8 26 Assista Agora"Gold Diggers of 1933" é um musical maravilhoso produzido pela Warner Bros., durante a Grande Depressão e antes da intensificação da censura. É mostrada a busca pelo dinheiro, para sustentar o show business, em meio à sensualidade exuberante da mulher. Ginger Rogers está belíssima, porém Aline MacMahon e Dick Powell são os que mais se destacam; a primeira como Trixie, uma das caçadoras de ouro, é extremamente hilária e ironiza nas melhores horas e o segundo como Brad, um cantor talentoso e carismático. Dentro deste universo pessimista, é impossível não perceber a influência da Grande Depressão no Cinema, aqui nestas caçadoras de ouro, você tem quatro garotas talentosas que aspiram ao estrelato em uma ambientação crítica e vendendo um lindo espetáculo.
"Pettin' in the park" é a música mais divertida.
As Amizades Particulares
4.1 116A pureza de "Les Amitiés Particulières" é infinita. Nunca em um filme preto e branco, o universo masculino de um garoto foi tão bem dimensionado e poético. Diria até que este pode ter sido uma excêntrica inspiração para Almodóvar criar o grande "Má Educação". Ambos se completam com uma idéia de garotos enclausurados numa fortaleza religiosa, o rompante de seus sentimentos e uma quase ditadura educacional. Almodóvar, em sua obra, explora mais profundamente a passagem religiosa, suas consequências em forma psicológica e a vida adulta; contudo, Jean Delannoy restringe sua obra ao final da infância e consegue retratar todos os aspectos de um relacionamento proibido. Isso através de uma nuance subliminar e técnicas certeiras na filmagem. Apesar de preto e branco, o espectador sente-se seguro e encantado com a maneira agradável da coloração e do brilho, creio ainda que seja um fator influenciador nos momentos expressivos dos personagens. Georges de Sarre é o protagonista, aluno novato na escola católica e a primeiro momento sente-se atraído por Lucien Rouvière. Quando descobre que este já possui um amigo, acaba ficando mordido de ciúmes e tenta destruir a relação do amigo; isto é, até que encontra Alexandre Motier. Daí então se inicia o detalhe mais notável e particular desta obra – a amizade romântica com o personagem do pequeno Didier Haudepin –, este que como Alexandre está surreal e carismático para sua idade, tal como aquelas crianças que estão sempre a frente de seu tempo. A sua teimosia é insistente, a valentia é profunda e crível; em outras palavras, digno de atos dramáticos para uma obra que é quase uma dama.
Fazendo uma observação mais ampla do pano de fundo da história, é possível observar uma crítica ao fundamentalismo no uso da batina. De diversas maneiras, Delannoy constrói através de imagens uma contradição ao significado de ser padre e abrir mão de certos desejos. É estranho ao espectador a maneira com a qual o terceiro personagem se envolve com o romance acima descrito. Vários dos padres se mostram duvidosos na maneira que tratam os internos e um em específico cria quase uma perseguição posicionada no objetivo de por fim à convivência dos garotos.
A maneira como o diretor revela o desfecho desta história é desconsertante, nos fazendo refletir nas idéias que habitam a mente humana e sentir cada verso destas poesias; rimas do limiar adolescente em estado de transcendência.
É possível imaginar uma obra com este formato no início da década de 60? Diria mais, este merece ser considerado como um dos melhores filmes a abordar o "assunto de meninos" por sua delicadeza.
De Salto Alto
3.7 175 Assista Agora"Tacones Lejanos", como outras obras Almodovarianas, é aquela construção genial da personalidade feminina. Tamanha é a importância fêmea na mente do diretor, que o espectador é levado a perceber traços femininos em tudo. Desde a sutil sedução das cores até a potencialização do salto alto. Rebeca, personagem de Victoria Abril, desde pequena mantém uma relação agitada com sua mãe. O motivo é relevante, sua mãe é uma cantora famosa que tem a tendência de atrair muita atenção e isso deixa espaço suficiente para que Rebeca se sinta insegura, buscando assim no seu psicológico a necessidade de competir com a mãe. A obra homenageia a outros filmes que tratam do mesmo tema, particularmente "Autumn Sonata" de Ingmar Bergman.
Rebeca vestindo Chanel é incrivelmente sedutor.
É muito claro perceber a ausência paterna na relação de Rebeca com sua mãe. No seu universo quase predomina feminilidade, uma prova disso são as maneiras com as quais Almodóvar explora a imagem do salto alto, a distância considerável que o pai parece estar aos olhos do espectador e a ligação da filha com o transformista que imita sua mãe.
Com um trabalho programado no México, Becky del Páramo permanece anos sem ver sua filha e decide voltar de vez para que possa de alguma forma redimir sua falta materna. Quando estava longe, Becky foi convidada para o casamento da filha e não compareceu. Em seu encontro com a mesma, depara-se com o velho conhecido que se casou com sua filha. É daí em diante que está o ponto de atenção em "Tacones Lejanos", o espectador observa a trajetória do reencontro de mãe e filha, em meio a um turbilhão de complexidades e sentimentos.
Marisa Paredes está incrivelmente emotiva no papel de Becky del Páramo, a mãe de Rebeca. Seu personagem se revela ser muito admirado e excentricamente influenciador. Tanto é que um querido amigo transformista de Rebeca é também um grande imitador de sua mãe. Em suas belas aparições, surpreende o espectador com sua carcaça deveras maleável e sua ambientação rende muitos risos.
Na prisão, em que Rebeca se encontra, existem cenas de pura criatividade na interação de algumas detentas. Elas realizam uma dança que recordo-me claramente de já ter visto em comerciais dançantes da VH1
Isso tudo é parte do salto alto psicológico que Almodóvar utiliza; aquele barulho tão sedutor de se ouvir.
Orações para Bobby
4.4 1,4KPosso dizer que "Prayers for Bobby" é uma crítica religiosa e, acima de tudo, história verídica de um filho desesperado e uma mãe arrependida. Esta dramática produção televisiva questiona os limites que a fé exagerada reproduz em uma mãe, que ama seu filho e por escolher ignorar a agonia vivida pelo mesmo, cria uma teia de pensamentos autodestruidores na sua mente. Tamanha é a desorientação de Bobby, que a mesma o faz, em momentos de depressão profunda, relatar em um diário toda a falsa culpa que ele alimentava a alma.
"Torturado pelo medo de ir para o inferno;
Sinto vontade de desaparecer da face da terra."
Esta entre outras frases podem ser lidas no diário que Bobby manteve por dois anos.
Mary Griffith – mãe de Bobby, que na obra é incorporada por Sigourney Weaver – descrevia seu filho como um espírito amável, doce e gentil.
Conta também que amava cinema Cult e Clássico; seu filme preferido era "O Pecado Mora ao Lado" protagonizado por Marilyn Monroe – a sua Diva.
No filme é possível perceber este gosto pelo cinema quando ele assiste "Suspicion" de Hitchcock com sua mãe e quando sai com amigos para ir a uma sessão de "Rocky Horror".
Quando sua família fica ciente de sua homossexualidade, Bobby é submetido a diversos processos religiosos e psiquiátricos. Sua mãe utiliza de todos os versículos bíblicos como arma para fazer Bobby entender, que ele não poderia estar com sua família na vida posterior, caso ele não se redimisse de seus atos impuros. A pressão externa, o medo de perder a família e viver à margem da sua sociedade descontrola seus sentimentos e o faz cometer um ato final a si mesmo.
É então desde ponto que a trajetória dramática de Mary Griffith obtém um clímax. Mutilada pela culpa da morte de Bobby, ela busca maneiras de conseguir construir uma relação de paz com ela mesma. Tenta recorrer ao entendimento que não conseguiu encontrar quando seu filho ainda vivia. A beleza de "Prayers de Bobby" está no modo que a dor da protagonista é explorada e na trajetória que ela percorre da culpa desorientada até a aceitação.
"I know now why God didn't heal Bobby.
He didn't heal him because there was nothing wrong with him."
Sex and the City 2
3.3 739 Assista Agora"I like to call New York BC – Before Carrie!" – Diz a famosa personagem de Sarah Jessica Parker definindo a sua relação com a Big Apple. Definitivamente é possível traçar um paralelo antes e depois de Carrie. Ou melhor, antes e depois de Sex and the City – esta grande série que marcou profundamente a maneira da mídia abordar a mulher de NY, no fim da década de 90. Até hoje traça influências culturais, intelectuais e comerciais sobre a trajetória da população globalizada. Trazer o cotidiano fashionista de Carrie para as telonas só pode resultar em uma coisa: matar tortuosamente a saudade dos fãs da série. Em Sex and the City 2, temos mais uma grande tentativa nostálgica e um entretenimento deveras divertido. O drama agora gira em torno do Casamento, uma temática um tanto delicada, que soube ser abordada de uma forma carismática e sexy. Entre flashes de Carrie e as amigas em Retro Outfits e o casamento de Stanford simbolizando a abertura do tema proposto, temos conflitos internos em cada um dos casais. O momento daí em diante, como na série, abre espaço para uma sucessão de acontecimentos que sempre acabam se desdobrando para a futura solução. Antes de esse entendimento chegar, o espectador é levado a uma viagem exageradamente bela a um dos Emirados Árabes – Ab Dhabi – com todas as despesas pagas devido favorecimentos pessoais de Samantha. Quando se é fervendo nas altas temperaturas desérticas, reencontrando velhos amores ou lutando contra o envelhecimento e o desafio da maternidade, este quarteto leva qualquer um a boas gargalhadas!
Vale a pena conferir o casamento lindo de Stanford com participação da Liza, que me recorreu a uma nostalgia incrível do musical "Funny Girl", com todos aqueles rapazes de cartolas, o lago de cisnes e creio ter visto um "Don't rain on my parade" escrito em algum lugar (ou posso estar insano também).
Dançando no Escuro
4.4 2,3K Assista Agora"Dançando no Escuro" é uma dor unânime. Se algum dia existir um Award para o filme que consegue arrancar a maior quantidade de lágrimas de um ser humano, acredito que esta obra de Lars Von Trier ganharia várias estatuetas. Criando um musical completo, permita-se mergulhar pela cabeça do diretor, que leva o espectador a uma viagem artística e poética transcrita em situações de alegria e dramaticidade. A obra possui várias referências e mantêm uma relação bela com universo que é o gênero Musical. Além da presença do astro de "Cabaret" – Joel Grey, uma delas é claramente "The Sound of Music". Durante a tentativa de um ensaio, a protagonista ouve uma exclamação – "You'll always be my perfect Maria." – sua história de coragem e enfrentar os desafios é similar. Selma Jezkova – incorporada pela cantora Björk – é uma imigrante tcheca, fanática irrecuperável por musicais, que se muda com o filho para os EUA. Trabalhando com uma rotina pesada devido à necessidade de juntar dinheiro, Selma leva uma rotina deveras miserável e mesmo assim consegue estampar um sorriso em seu rosto. Ela tem o dom de balancear a própria dor fazendo as coisas que ama – cantando e sapateando. Desde pequena, Selma sabe que sofre de uma doença degenerativa que afeta a sua visão e é esta trajetória que o espectador acompanha com a veia pulsando. Lars Von Trier, com suas técnicas de filmagem e seus conceitos cinematográficos, consegue explorar o sentimento e a arte na emoção, nos olhares, na beleza simples facial como ninguém e faz a dor da protagonista impossível de ser ignorada.
Em um momento de tristeza absoluta, Selma canta "My Favourite Things" e isso me faz vítima sincera de sua dor. Esta é uma música criada para se esquecer dos males e depois finalizando o filme já após a sua morte – cortinas se fecham como em um grande espetáculo.
Tamanha é artimanha sentimental por parte do diretor.
Ladrão de Casaca
3.7 260"To Catch a Thief" é considerado o filme mais romântico de Hitchcock. Pessoalmente, prefiro "Rear Window". Existe uma semelhança interessante entre as personagens de Grace Kelly nestas duas obras do mestre. É impossível negar que o seu deslumbre combinado com o carisma de Cary Grant tenha influenciado potencialmente a obra. A futura Princesa de Mônaco vive aqui a pele de Frances Stevens – uma viúva rica autêntica e que não tem medo de diversões. Cary Grant é o ‘Gato’, um ex-ladrão de jóias famoso, que luta com o desafio de provar ao mundo que deixou os roubos para o passado, isso porque existe um novo ladrão utilizando das mesmas artimanhas que o próprio ‘Gato’ maquiava. Puro Hitchcock, uma trajetória sobre a busca de um ladrão envolvido pelo romance inesperado dos protagonistas. Apesar de esse detalhe fervoroso ser crucial para a elaboração da obra, em "Rear Window" é possível perceber uma versão mais impulsiva de Grace Kelly, menos "man-eater" e mais poética. Ambas carregando no sangue o que vem a ser considerado ícone Fashionista, porém em "Rear Window" percebemos um lado muito mais perigoso da personalidade feminina.
"To Catch a Thief" possui uma das mais belas fotografias do cinema.
Uma fotografia merecedora de Oscar em 1956.
É como uma viagem inesquecível aos amores da Riviera Francesa.
Coração Selvagem
3.7 341 Assista AgoraSou um fanático irrecuperável de "O Mágico de OZ" e isso me faz bem suspeito quando tento criticar este coração selvagem. Penso em meus momentos o assistindo e concluo -
A relação da obra com suas referências é esplendorosa, muito porque identifiquei-me profundamente com ela.
Um dos principais detalhes para se notar é a época que ocorrem as filmagens, claramente David Lynch está hipnotizado com as corujas de "Twin Peaks" e deixou isso transparecer na direção. "Twin Peaks" - um universo contínuo e fabuloso sobre a morte de Laura Palmer - deixou não somente a participação de quatro personalidades excêntricas (Sheryl Lee, Sheryl Flenn, Grace Zabriskie e Jack Nance) como também um conjunto de técnicas, signos e paráfrases que mais tarde seriam aprofundados em seu enredo.
Em "Coração Selvagem", observando personagens caricatos e dramáticos envolvidos por um mistério ardente à la Road Movie, tomo a liberdade de caracterizá-los. Nicolas Cage como Sailor é um James Dean, só que chic e levemente bizarro, querendo ser Elvis e buscando por uma amada. Laura Dern é uma Dorothy perdida nos tijolos amarelos de sua sexualidade e buscando por uma Cidade de Esmeraldas que ela ainda não sabe se existe. Ambos assumem identidades. Sailor caracteriza sua jaqueta de pele de cobra como o símbolo de sua liberdade pessoal e a preenche de forma crua, violenta e masculina. Lula é uma fêmea fatal incorporada dentro de uma fantasia "Marilyn-mascando-chiclets" e um sotaque sulista.
A violência misturada com as cenas sexuais cria uma fórmula arrasadora, tão excitantes quanto suas declarações. Lynch recusou a utilizar o final proposto pelo livro, que seria a separação do casal, e em contramão correndo o risco de ser rotulado comercial, preferiu mantê-los felizes para sempre ao som de “Love me tender”, sucesso de Elvis Presley e cantada por Nicolas Cage.
Um personagem que marca ardentemente a trajetória dos protagonistas é a mãe de Lula - personagem de Diane Ladd, que mantêm a mesma relação com a atriz na realidade. Diane Ladd como Marietta Fortune é uma mulher exagerada, possessiva e determinada a impedir o romance infernal dos protagonistas sob qualquer custo.
Dos coadjuvantes, o mais notável é Willem Dafoe como o atrevido Bobby Peru, o qual acredito estar profundamente ligado à "Twin Peaks".
David Lynch nutre também um sentimento por "O Mágico de Oz" e durante o seguimento do enredo constrói grandiosas alusões.
A mãe de Lula é associada à Wicked Witch of the West, aparece frequentemente em cima de uma vassoura soltando gargalhadas, observando sua bola de cristal e sempre envolvida por um penumbra. Lula como Dorothy aparece usando os cobiçados Ruby slippers e em um momento de tristeza bate os calcanhares três vezes. A atriz Sheryl Lee - famosa Laura Palmer de "Twin Peaks" - faz uma aparição deveras especial como Glinda, the good witch.
Estas entre outras referências difundidas em diálogos e na sonoridade de Badalamenti eternizam a obra sob um aspecto mágico. "Wild at Heart" é uma obra polêmica, porém não deve ser desmerecida e a Palma de Ouro apenas completa isso.
Uma paráfrase do valor ao relacionamento.
Coração Selvagem é a busca do amor no inferno, diz Lynch.
Sob o Sol de Satã
3.7 22Trata a religião de uma forma delicada e sombria.
Apocalypse Now
4.3 1,2K Assista AgoraApocalypse Now é o sangramento mental, que Coppola te faz sentir. Um ultraviolence melhor conceituado. Ele coloca o público em um pequeno barco - durante a Guerra de Vietnã - e nos faz percorrer uma viagem quase a parte dela. Uma viagem através da consciência de um homem. Este homem é Martin Sheen. Seu personagem - Capitão Willard - recebe uma missão um tanto delicada a respeito do Coronel Kurtz, um personagem enlouquecido do momentanemante horroroso Marlon Brando. Robert Duvall - "I love the smell of napalm in the morning!" - foi melhor coadjuvante no Globo de Ouro.
Apocalypse Now matou pela Palma de Ouro.
Tenho 4 cenas prediletas -
Lance desfilando com a fumaça rosa e o tal cachorro que desaparece "The dog! Where's the dog? We have to go back for the dog" HAHA, obviamente a cena posterior a morte do Coronel Kurtz exatamente no momento que Martin Sheen sai da água. Nostálgico e fabuloso. O momento "vamos-surfar" e por último, a morte do homem que conduzia o barco - é chocante a maneira como a câmera explorou o movimento da lança o perfurando. Senti como se a lança tivesse saido da projeção. Se fosse em 3D, provavelmente teria saido.
Espantalho
3.8 56 Assista Agora"Espantalhos não assustam os corvos. Fazendeiros os colocam com uma cara engraçada para que eles façam os corvos rirem. Eles são gente boa, daí o corvo pensa em não incomodá-los já que suas caras são tão engraçadas.
Os corvos riem. Os espantalhos são lindos."
Palma de Ouro no Festival de Cannes, 1973.
Os Pássaros
3.9 1,1KMais uma vez, Hitchcock mostra que além de dirigir bem filmes, dirige bem o público. Uma característica enfática de seu cinema são os detalhes nos objetos de suspense e a maneira com a qual ele utiliza para nos fazer perceber as emoções a seu modo. Em "Os Pássaros", Hitchcock utiliza efeitos especiais de vanguarda e elima a trilha sonora. Apenas os barulhos produzidos por pássaros e do bater de suas asas são o suficiente para contribuir com a tensão. Sem dúvida, taí o pai dos filmes de animais perigosos. Jessica Tandy é uma típica sogra possessiva e Rod Taylor está impecável como um galã simpático e zombador, de lençinho no pescoço, vindo mostrar como seus olhos apenas tratam tamanha linguagem cinematográfica com os de Tippi Hendren. Hitchcock absorve em cena o melhor de Tippi Hendren e seus gestos delicados e tabágicos, o medo das aves - uma bela arte de temer!
Ela pergunta - "Como sabe o meu nome?"
Ele responde - "Disse-me um passarinho."
O Mensageiro
3.9 12"The past is a foreign country: they do things differently there" É a famosa frase utilizada para iniciar o romance de L. P. Hartley, adaptada no cinema por Joseph Losey - uma belíssima fotografia com a grandiosa sonoridade por Michel Legrand. A história se passa quando Leo Colston faz uma nostalgia sobre a trajetória e as consequências de sua infância. Verão de 1900 em Norfolk, Leo é hospedado - quando está prestes a completar 13 anos - em uma luxuosa casa de campo, onde mora a família burguesa que o acolhe. Dentro desta família Maudsley, Leo socializa-se na maior parte do tempo com Marcus Maudsley, assim sendo sente-se solitário com a posterior doença do amigo e aproxima-se da irmã do mesmo - Marian Maudsley (Julie Christie, de "Doutor Jivago" 1965), uma jovem bela comprometida ao Visconde Hugh Trimingham. O climax da história está quando, através de troca de favores, Leo Colston envolve-se na troca de mensagens amorosas entre Marian e Ted Burgess - O amante, O outro, O Ricardão inglês... - um fazendeiro rude que mora próximo à grande casa. É possível perceber que a princípio, Leo fica contente em ajudar principalmente porque guarda uma atração inocente por Marian e é ignorante para com o significado das mensagens e da relação do casal. Facilmente manipulado pelo casal apaixonado, Leo é um garoto inocente e não compreende o fato de Marian não poder largar seu compromisso pelo amante, que é uma questão dos tabus da época - Ted Burgess fazia parte de uma classe social muito abaixo da classe onde Marian se encontrava. Com o passar do tempo, Leo começa a entender todo o significado da situação que estava vivendo, tenta de alguma forma modificá-la e é nesta modificação que a história gira em torno, focalizando a maneira como as consequências dessa condição influenciam em sua vida e simbolizando de uma forma profunda a perda da inocência.
A Noviça Rebelde
4.2 801 Assista Agora"The hills are alive with the sound of music" Essa é a frase que marcou Julie Andrews girando em cima da mais verde montanha que ja vistes em vida. Apesar de perder-se bastante do contexto histórico original, "The Sound of Music" é um dos mais belos divertimentos musicais que podemos encontrar hoje em dia e tem todas as características de um clássico. Tem uma fotografia bela e dois ou mais personagens apaixonados, envolve o amor em contexto histório mundial e trabalha uma trajetória linear do personagem seguindo de problema até solução. Preza por bons valores e tem função de apresentar uma mensagem humanista que tem tudo para perdurar por muitas gerações. Uma noviça rebelde, indecisa com sua escolha religiosa, afastada temporariamente do convento para trabalhar como governanta na casa de um capitão do coração gélido e sete crianças talentosas, com sua ambientação determinada na Áustria antes e até a ocupação Nazista, nada mais! A descoberta do amor, a formação e importância da relação familiar, a solução de conflitos pessoais e socioeconomicos envolvidos por uma trilha sonora construída e delineada homogeneamente para o seu enredo. É ainda mais belo de ouvir.
Viridiana
4.2 141Viridiana - a santa católica do século XIII banida por blasfêmia e indecência - na obra de Buñuel é uma freira ordinária e aquela grande alegoria ao modo de pessoas se interagindo com a religião. A cena dos mendigos com sua santa ceia é genial. É possível notar as caridades da protagonista, por conta do seu sentimento de culpa, nos fazendo intensamente pensar em uma crítica à opressão religiosa. De diversas formas e com uma delicadeza indescritível, Buñuel constrói imagens simbólicas entrelaçadas a suas cenas, conseguindo nos mostrar a incapacidade da protagonista de resistir ao seu destino e referenciando assim a toda uma cultura, que não mudará do dia para a noite. "Limona", "Limonita"... - À esmola! À caridade! À maneira como alguém ousa, através de todos os meios, consolar a si mesmo e seus pecados. Desnecessário deveras.