É gratificante conhecer o trabalho de pessoas que se voltam ao cinema de forma abnegada, pelo simples prazer de contar uma história por meio de quadros em movimento. Ainda mais quando há segurança suficiente para encadeá-los de forma eficiente. Nesse quesito, "Perpétuo" justifica sua existência. Os planos bem definidos e alternados são o grande trunfo deste curta, somado à boa fotografia e ao propósito metalinguístico. O único senão encontra-se no uso da voz do único ator em cena, que destoa da belíssima trilha sonora. No entanto, essas questões aos poucos poderão ser resolvidas. O mais importante é a espontaneidade. Seja ela natural ou apenas transparecida. Veremos o que virá depois de "Perpétuo".
A sensibilidade é algo muito relativo neste mundo. Certos filmes que comoveram multidões não me dizem nada. Ao contrário, chegam a me irritar de tão incensados e por serem tão emocionalmente manipuladores, no pior dos sentidos. Dito isso, "Tá" segue o caminho inverso: atraiu a repulsa e o escárnio de muita gente por elementos que considero suas maiores virtudes. A começar pelo tema abordado. Poucos filmes conseguem retratar esse assunto, ainda mais entre pessoas do mesmo sexo, sem resvalar no romantismo mais rasteiro ou partir para a reprodução gráfica pura e simples.
A grande qualidade de "Tá" foi a condensação de uma série de etapas da descoberta sexual entre dois rapazes num espaço de tempo curtíssimo. Um ótimo trabalho de concisão.
Claro que um ou outro diálogo acaba sobrando, mesmo em um filme tão breve.
Especialmente porque o ato mais chocante, aqui, é o beijo na boca entre os garotos. É uma pena que os detratores deste filme não tenham percebido o ótimo uso do som dos beijos estalados ao longo dos créditos finais.
Embora eu reconheça que não é para qualquer público, este curta merece o reconhecimento obtido. E o nome de Karim Aïnouz nos créditos não é mérito nem demérito. Felipe Sholl tem personalidade própria.
Não nego que o aspecto aparentemente pitoresco do argumento deste documentário motivou-me a assisti-lo. Contudo, surpreendi-me com a sua singeleza e sinceridade, atributos que andam em falta no gênero. "Deus é o Elvis Maior" conta com uma protagonista sem receios de lembrar da sua juventude, quando era uma atriz promissora e com tudo para ser uma grande estrela em Hollywood. O chamado para a vida religiosa, apartada das coisas mundanas, pode parecer loucura em tempos tão desgarrados quanto estes. O filme prova que, apesar das consequências fortes advindas do ingresso de Dolores Hart na vida monástica, tudo ganha uma coerência incrível. Destaque também para algumas das outras freiras do convento, onde Dolores chegou a Madre Superiora. Aliás, se há um defeito neste curta, é justamente a sua duração. São tantas histórias promissoras que dá muita pena vê-las resumidas. Tomara que as diretoras Julie Anderson e Rebecca Cammisa façam um longa a partir deste trabalho.
Fiquei com o coração apertado quando o ex-noivo de Dolores diz que ainda a amava, mesmo compreendendo sua escolha, e quando eles se encontram no convento, onde ele a visita desde sempre. Se isso não é amor, eu não sei mais o que é.
Se toparem com este filme na tv paga, ou em qualquer outro lugar, assistam. Risos e choros virão à tona.
Refinamento não precisa vir embalado em afetação. Talvez essa seja a lição que Reichenbach nos passou em praticamente todos os seus filmes. A despeito da eventual precariedade de recursos, ele buscou, ao máximo possível, imprimir suas obsessões particulares e preferências éticas e estéticas em seus filmes. E em "Equilíbrio e Graça", tudo conspirou para que as melhores características do seu estilo aflorassem ao máximo.
Unir zen-budismo, música erudita e o apreço pela beleza do antílope e do corpo feminino (representado de forma elegantemente voluptuosa pela atriz e bailarina Luciana Brites) não é para qualquer criatura.
OBS: Este curta encontra-se dentre os extras do DVD do longa "Garotas do ABC". Mais um motivo para ir atrás.
Reichenbach sabia exprimir seu estilo em qualquer metragem. A fusão de imagens aqui apresentadas é um olhar fragmentado sobre a São Paulo que ele retratou tão bem em "Sangue Corsário" ou mesmo na sua estreia, "Esta Rua Tão Augusta". A rever.
Trata-se de uma diversão entre os atores deste filme que, por vezes, contagia o espectador. Desde que esteja a par das referências culturais apresentadas nesta homenagem ao inacreditável Sérgio Mallandro. É bonito ver rosas lhe sendo entregues em vida. Fora isso, não é nenhuma obra-prima. Felizmente não era essa a sua pretensão.
Um belo ensaio do que o diretor Adam Elliot faria em "Mary & Max". Bastante humano, inclusive ao retratar defeitos e fraquezas típicas deste ser. "Seize the day"!
Além de ser a gênese do que Reichenbach faria em "Alma Corsária", este curta apresenta o confronto da poesia com o peso do cotidiano nos sonhos de todo aquele que não se conforma com a realidade. Além de retratar uma São Paulo prenunciando os colapsos diários em suas vias públicas, é uma oportunidade única de conhecer a poesia do finado Orlando Parolini, colaborador em vários filmes de Reichenbach e que, infelizmente, não possui livros publicados. A ver, sem falta.
É bem mais do que uma homenagem a um dentre tantos músicos populares praticamente ignorados pela historiografia musical oficialesca. Resulta no retrato de um genuíno artista, já esquecido desde então. A lamentar que o filme jamais tenha sido exibido em circuito.
Nesta safra recente de filmes brasileiros voltados à adolescência, este é um caso especial: aliar a deficiência visual à descoberta da sexualidade é um ótimo argumento. Com atores adequados aos seus papéis, porque espontâneos, melhor ainda. Daniel Ribeiro acerta mais uma vez, num filme que, assim feito o seu antecessor, vale muito a pena para quem tiver a mente aberta o bastante para apreciá-lo.
Este primeiro curta do saudoso Reichenbach não era lá muito querido pelo próprio diretor. Talvez pela indefinição de rumos por quem estava começando sua carreira. O certo é que, embora ainda não se vislumbre categoricamente o fantástico cineasta em que se transformaria, este curta já valeria pela presença do insólito pintor Waldomiro de Deus. Bela curiosidade.
Por seu valor histórico, já seria necessário assistir a "Um Cão Andaluz". Malgrado a perecibilidade de toda vanguarda, este curta ainda é bastante válido em termos estéticos. Onirismo puro.
A lamentar apenas uma coisa: como não conheci este filme antes? Eu o assisti numa sessão dupla com outro curta do mesmo diretor, "O Cavalo Selvagem". Ambos diante duma tela de cinema. Difícil imaginar condição melhor para este filme simplesmente perfeito. A se apontar o ótimo uso da música, a quase ausência de falas, o cenário emblemático e a pura poesia na amizade de um menino com um balão. Aliás, esse balão consegue interpretar melhor do que muitos atores e atrizes por aí. Sério! Para encerrar, apenas uma palavra: vejam!
Para demonstrar o quanto Visconti era obcecado com detalhes, este curta apresenta a difícil tarefa de escolher quem poderia encarnar Tadzio, o jovem perturbador de seu grande filme, "Morte em Veneza". Atentem para os vários candidatos ao papel e de como Björn Andresen se distinguia de todos. Ótimo complemento ao longa.
Se a anunciada comédia que será o próximo trabalho de Almodóvar seguir os rumos indicados neste curta, será um ótimo filme. Há muito tempo ele não soava tão provocador e hispanicamente colorido. E pensar que o contexto de "A Vereadora Antropófaga" tenha saído do decepcionante "Os Abraços Partidos"...
David Lynch fazendo comédia? Tudo bem que há algum humor em vários dos seus filmes, tão bizarro quanto eles próprios. Porém, nunca ele havia feito nada tão voltado para essa vertente. E o resultado fica acima da média. Destaque para o excelente Harry Dean Stanton encarnando o cowboy surdo. E um comentário a mais: este curta, junto com "The Straight Story", são os filmes mais simpáticos da obra lyncheana. Ambos feitos sob encomenda, com alguma liberdade artística. Seria coincidência, ou isso não tem nada a ver?
Agora, sim, Lynch começa a fazer cinema. Antes, tinha tudo para ser um artista plástico, ou quando muito um videoartista. O ambiente insólito que caracterizaria seu estilo permeia este curta. Um prenúncio de "Eraserhead", talvez.
O amor, além de fugaz por natureza, é matéria frágil perante as vicissitudes do cotidiano. Ainda mais quando aqueles que amam, além de enfrentarem as dificuldades típicas da natureza particular do seu sentimento, se deparam com responsabilidades imprevistas. Um filme que se sustenta apenas em propósitos tão instigantes feito a premissa acima não mereceria grande atenção. Felizmente, "Café com Leite" é bem mais do que um filme bem intencionado.
A cena inicial, com os rapazes em um momento íntimo, consegue ser sentimental, não sentimentaloide; sensual, não vulgar. A revelação da morte dos pais de um dos protagonistas é uma aula de sutileza. E a relação da criança com seu irmão e com o namorado deste é um dos pontos mais bem resolvidos do roteiro. E o final é o suprasumo do agridoce.
Decididamente, Daniel Ribeiro acertou em praticamente tudo neste curta. Idem para os atores, verossímeis em tudo. Para pessoas de mente aberta, este filme é deveras recompensador. Se houvessem mais filmes assim sendo feitos no Brasil...
Um Cronenberg incomum. Em vez de transformações do corpo, de questionar a natureza dos sentidos ou o absurdo que é a espécie humana, ele preferiu, aqui, homenagear o ato de fazer cinema. E não haveria forma mais poética de fazer isso do que contrapor um ator veterano sendo filmado por um bando de crianças. Este curta merece todos os elogios que, por engano, fizeram a "Cinema Paradiso".
Perpétuo
3.8 4É gratificante conhecer o trabalho de pessoas que se voltam ao cinema de forma abnegada, pelo simples prazer de contar uma história por meio de quadros em movimento.
Ainda mais quando há segurança suficiente para encadeá-los de forma eficiente.
Nesse quesito, "Perpétuo" justifica sua existência.
Os planos bem definidos e alternados são o grande trunfo deste curta, somado à boa fotografia e ao propósito metalinguístico.
O único senão encontra-se no uso da voz do único ator em cena, que destoa da belíssima trilha sonora.
No entanto, essas questões aos poucos poderão ser resolvidas.
O mais importante é a espontaneidade. Seja ela natural ou apenas transparecida.
Veremos o que virá depois de "Perpétuo".
Tá
2.1 83 Assista AgoraA sensibilidade é algo muito relativo neste mundo.
Certos filmes que comoveram multidões não me dizem nada. Ao contrário, chegam a me irritar de tão incensados e por serem tão emocionalmente manipuladores, no pior dos sentidos.
Dito isso, "Tá" segue o caminho inverso: atraiu a repulsa e o escárnio de muita gente por elementos que considero suas maiores virtudes.
A começar pelo tema abordado.
Poucos filmes conseguem retratar esse assunto, ainda mais entre pessoas do mesmo sexo, sem resvalar no romantismo mais rasteiro ou partir para a reprodução gráfica pura e simples.
A grande qualidade de "Tá" foi a condensação de uma série de etapas da descoberta sexual entre dois rapazes num espaço de tempo curtíssimo. Um ótimo trabalho de concisão.
Claro que um ou outro diálogo acaba sobrando, mesmo em um filme tão breve.
Ainda mais porque a forma como se evitam os detalhes das "brincadeiras" entre os personagens contrasta com a falta de sutileza duma ou doutra fala.
Acontece que, se o contexto agrada, os deslizes são perdoáveis.
E não, "Tá" não é um filme gratuito.
Especialmente porque o ato mais chocante, aqui, é o beijo na boca entre os garotos.
É uma pena que os detratores deste filme não tenham percebido o ótimo uso do som dos beijos estalados ao longo dos créditos finais.
Embora eu reconheça que não é para qualquer público, este curta merece o reconhecimento obtido.
E o nome de Karim Aïnouz nos créditos não é mérito nem demérito. Felipe Sholl tem personalidade própria.
Deus é o Elvis Maior
4.0 10Não nego que o aspecto aparentemente pitoresco do argumento deste documentário motivou-me a assisti-lo.
Contudo, surpreendi-me com a sua singeleza e sinceridade, atributos que andam em falta no gênero.
"Deus é o Elvis Maior" conta com uma protagonista sem receios de lembrar da sua juventude, quando era uma atriz promissora e com tudo para ser uma grande estrela em Hollywood.
O chamado para a vida religiosa, apartada das coisas mundanas, pode parecer loucura em tempos tão desgarrados quanto estes.
O filme prova que, apesar das consequências fortes advindas do ingresso de Dolores Hart na vida monástica, tudo ganha uma coerência incrível.
Destaque também para algumas das outras freiras do convento, onde Dolores chegou a Madre Superiora. Aliás, se há um defeito neste curta, é justamente a sua duração.
São tantas histórias promissoras que dá muita pena vê-las resumidas.
Tomara que as diretoras Julie Anderson e Rebecca Cammisa façam um longa a partir deste trabalho.
Fiquei com o coração apertado quando o ex-noivo de Dolores diz que ainda a amava, mesmo compreendendo sua escolha, e quando eles se encontram no convento, onde ele a visita desde sempre. Se isso não é amor, eu não sei mais o que é.
Se toparem com este filme na tv paga, ou em qualquer outro lugar, assistam. Risos e choros virão à tona.
Deus é o Elvis Maior
4.0 10Ao usuário que cadastrou este filme:
Não seria melhor ilustrar este perfil com uma foto da própria Dolores Hart?
Ou com um cartaz do filme?
Equilíbrio & Graça
3.6 5Refinamento não precisa vir embalado em afetação.
Talvez essa seja a lição que Reichenbach nos passou em praticamente todos os seus filmes.
A despeito da eventual precariedade de recursos, ele buscou, ao máximo possível, imprimir suas obsessões particulares e preferências éticas e estéticas em seus filmes.
E em "Equilíbrio e Graça", tudo conspirou para que as melhores características do seu estilo aflorassem ao máximo.
Unir zen-budismo, música erudita e o apreço pela beleza do antílope e do corpo feminino (representado de forma elegantemente voluptuosa pela atriz e bailarina Luciana Brites) não é para qualquer criatura.
OBS: Este curta encontra-se dentre os extras do DVD do longa "Garotas do ABC". Mais um motivo para ir atrás.
Olhar e Sensação
3.6 7Reichenbach sabia exprimir seu estilo em qualquer metragem.
A fusão de imagens aqui apresentadas é um olhar fragmentado sobre a São Paulo que ele retratou tão bem em "Sangue Corsário" ou mesmo na sua estreia, "Esta Rua Tão Augusta".
A rever.
Ópera do Mallandro
3.2 32Trata-se de uma diversão entre os atores deste filme que, por vezes, contagia o espectador. Desde que esteja a par das referências culturais apresentadas nesta homenagem ao inacreditável Sérgio Mallandro.
É bonito ver rosas lhe sendo entregues em vida.
Fora isso, não é nenhuma obra-prima. Felizmente não era essa a sua pretensão.
Harvie Krumpet
4.4 167 Assista AgoraUm belo ensaio do que o diretor Adam Elliot faria em "Mary & Max". Bastante humano, inclusive ao retratar defeitos e fraquezas típicas deste ser.
"Seize the day"!
Sangue Corsário
4.1 12Além de ser a gênese do que Reichenbach faria em "Alma Corsária", este curta apresenta o confronto da poesia com o peso do cotidiano nos sonhos de todo aquele que não se conforma com a realidade.
Além de retratar uma São Paulo prenunciando os colapsos diários em suas vias públicas, é uma oportunidade única de conhecer a poesia do finado Orlando Parolini, colaborador em vários filmes de Reichenbach e que, infelizmente, não possui livros publicados.
A ver, sem falta.
O M da Minha Mão
3.3 5É bem mais do que uma homenagem a um dentre tantos músicos populares praticamente ignorados pela historiografia musical oficialesca. Resulta no retrato de um genuíno artista, já esquecido desde então. A lamentar que o filme jamais tenha sido exibido em circuito.
Eu Não Quero Voltar Sozinho
4.4 1,9K Assista AgoraNesta safra recente de filmes brasileiros voltados à adolescência, este é um caso especial: aliar a deficiência visual à descoberta da sexualidade é um ótimo argumento. Com atores adequados aos seus papéis, porque espontâneos, melhor ainda.
Daniel Ribeiro acerta mais uma vez, num filme que, assim feito o seu antecessor, vale muito a pena para quem tiver a mente aberta o bastante para apreciá-lo.
Esta Rua Tão Augusta
3.7 17Este primeiro curta do saudoso Reichenbach não era lá muito querido pelo próprio diretor. Talvez pela indefinição de rumos por quem estava começando sua carreira. O certo é que, embora ainda não se vislumbre categoricamente o fantástico cineasta em que se transformaria, este curta já valeria pela presença do insólito pintor Waldomiro de Deus. Bela curiosidade.
Um Cão Andaluz
4.1 707Por seu valor histórico, já seria necessário assistir a "Um Cão Andaluz".
Malgrado a perecibilidade de toda vanguarda, este curta ainda é bastante válido em termos estéticos.
Onirismo puro.
Onde Andará Petrucio Felker?
3.8 11 Assista AgoraVale mais pelo provocador Allan Sieber do que por outros possíveis méritos.
A Amputada
3.0 37Outra curiosidade de Lynch. Apenas para completistas.
O Balão Vermelho
4.4 239 Assista AgoraA lamentar apenas uma coisa: como não conheci este filme antes?
Eu o assisti numa sessão dupla com outro curta do mesmo diretor, "O Cavalo Selvagem". Ambos diante duma tela de cinema.
Difícil imaginar condição melhor para este filme simplesmente perfeito.
A se apontar o ótimo uso da música, a quase ausência de falas, o cenário emblemático e a pura poesia na amizade de um menino com um balão.
Aliás, esse balão consegue interpretar melhor do que muitos atores e atrizes por aí.
Sério!
Para encerrar, apenas uma palavra: vejam!
À Procura de Tadzio
3.8 9Para demonstrar o quanto Visconti era obcecado com detalhes, este curta apresenta a difícil tarefa de escolher quem poderia encarnar Tadzio, o jovem perturbador de seu grande filme, "Morte em Veneza". Atentem para os vários candidatos ao papel e de como Björn Andresen se distinguia de todos. Ótimo complemento ao longa.
A Vereadora Antropófaga
3.9 127Se a anunciada comédia que será o próximo trabalho de Almodóvar seguir os rumos indicados neste curta, será um ótimo filme.
Há muito tempo ele não soava tão provocador e hispanicamente colorido.
E pensar que o contexto de "A Vereadora Antropófaga" tenha saído do decepcionante "Os Abraços Partidos"...
O Cowboy e o francês
3.2 22David Lynch fazendo comédia?
Tudo bem que há algum humor em vários dos seus filmes, tão bizarro quanto eles próprios.
Porém, nunca ele havia feito nada tão voltado para essa vertente.
E o resultado fica acima da média.
Destaque para o excelente Harry Dean Stanton encarnando o cowboy surdo.
E um comentário a mais: este curta, junto com "The Straight Story", são os filmes mais simpáticos da obra lyncheana. Ambos feitos sob encomenda, com alguma liberdade artística. Seria coincidência, ou isso não tem nada a ver?
A Avó
4.0 69Agora, sim, Lynch começa a fazer cinema. Antes, tinha tudo para ser um artista plástico, ou quando muito um videoartista. O ambiente insólito que caracterizaria seu estilo permeia este curta. Um prenúncio de "Eraserhead", talvez.
O Alfabeto
3.7 121Mera curiosidade, por se tratar de um trabalho de David Lynch. E só.
Six Figures Getting Sick
3.2 40Vale por ser o primeiro curta do David Lynch. Mais uma instalação do que um filme propriamente dito.
Café com Leite
3.5 364O amor, além de fugaz por natureza, é matéria frágil perante as vicissitudes do cotidiano. Ainda mais quando aqueles que amam, além de enfrentarem as dificuldades típicas da natureza particular do seu sentimento, se deparam com responsabilidades imprevistas.
Um filme que se sustenta apenas em propósitos tão instigantes feito a premissa acima não mereceria grande atenção.
Felizmente, "Café com Leite" é bem mais do que um filme bem intencionado.
A cena inicial, com os rapazes em um momento íntimo, consegue ser sentimental, não sentimentaloide; sensual, não vulgar.
A revelação da morte dos pais de um dos protagonistas é uma aula de sutileza.
E a relação da criança com seu irmão e com o namorado deste é um dos pontos mais bem resolvidos do roteiro.
E o final é o suprasumo do agridoce.
Decididamente, Daniel Ribeiro acertou em praticamente tudo neste curta. Idem para os atores, verossímeis em tudo.
Para pessoas de mente aberta, este filme é deveras recompensador.
Se houvessem mais filmes assim sendo feitos no Brasil...
Câmera
4.2 12Um Cronenberg incomum. Em vez de transformações do corpo, de questionar a natureza dos sentidos ou o absurdo que é a espécie humana, ele preferiu, aqui, homenagear o ato de fazer cinema.
E não haveria forma mais poética de fazer isso do que contrapor um ator veterano sendo filmado por um bando de crianças.
Este curta merece todos os elogios que, por engano, fizeram a "Cinema Paradiso".