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Na última década, tivemos diversas obras que tratam sobre a relação homem-tecnologia, porém me deixa triste a forma unilateral em que tudo é posto, os ensaios são feitos circundando um ambiente pessimista, homem se destruindo por causa da tecnologia ou tecnologia escravizando o homem, vivemos um período de sensação pós-guerra de pessimismo e paranoia sem muita razão.
Carpentier escreve "Novos mundos precisam ser vividos antes de poderem ser analisados", ele desenvolve esta frase para indicar a forma que passamos tempo demais tentando entender o mundo que nós criamos e acabamos não vivendo ele. A obra de Reitman, entretanto, é um ensaio que consegue tocar a discussão de maneira profunda e focada. Não vou entrar em detalhes técnicos de atuação que perderam tempo demais tentando ser reais e não conseguiram ser interessantes. O que venho escrever aqui é como este filme usa todos os conceitos e medos da sociedade atual como um pano de fundo para algo muito maior, um dialogo com seus toques de exacerbação, porém conciso e bem feito. Vive sem piadas em excesso, mas possui humor em tudo.
Cinema é a arte de mostrar, nada mais que isso, é a arte de mostrar imagens com conceitos e fazer com que o publico absorva da sua própria maneira a sua própria mensagem. O diretor é primoroso ao mostrar as relações de intimidade sexual da forma que mostrou, muitas em um off-screen sem toques de sensualidade justamente para mostrar a insipidez do momento, e as que cenas sexuais gráficas estão ali com um propósito muito bem fundamentado no argumento final. Estamos vendo este pequeno núcleo de humanidade do alto, como observadores das relações humanas sensíveis ao toque e ao sentimento, observamos o espectro do que é ser humano no século 21 por uma lupa que também se reflete no observador.

A grande mensagem que isso me deixa é de como tentamos explicar e analisar tudo a nossa volta e nos esquecemos que o erro é humano. Paramos para pensar tanto e isto consome a pouca felicidade que resta nos sentimentos mastigados pelo tempo, esta é a grande discussão, esta é a nossa realidade, a grande questão hoje ainda é a mesma do inicio da humanidade "O que é ser feliz¿". Estamos utilizando o cenário técnologico para mascarar o que sentimos e como vivemos.
Ao final, é recitado um texto maravilhoso de Carl Sagan contando como somos pequenos e a nossa arrogância ofusca o milagre de ser humano. "O que é ser feliz¿", posso finalizar parafraseando o texto de Sagan e dizendo "Não existe sinal de que ajuda virá de outro lugar, o que podemos fazer é cuidar mais um do outro e do pequeno ponto azul, o único lar que nós conhecemos."

Por vezes, quando leio os comentários e críticas feitas para os filmes aqui no site, eu fico me perguntando: Por que diabos eu estou aqui? Analises de três linhas reverenciando ou criticando da forma mais rasa e sem sal possível o filme. Cara, aqui dispõe de uma ferramenta para a troca de ideias sobre filmes, a oportunidade da demonstração de pontos negativos e positivos sem limite de linhas ou censura de pensamento, mas a grande maioria é reducionista no pensamento e nos argumentos, raras exceções se salvam e criam uma discussão interessante, por estas eu me mantenho aqui, isso é um leve desabafo sem relação com o filme.

O filme, que é talvez um dos mais maravilhosos que já tive o enorme prazer de pagar para assistir no cinema, é a ele que dedico todas as próximas linhas minhas do fundo d’alma. Ele começa com uma moça lendo um livro escrito por um jornalista que faz a biografia do dono do falido hotel que dá nome ao filme. Este proprietário, por sua vez, diz que a história do hotel deve ser contata passando por seu grande mestre e mentor, o antigo gerente do hotel em questão.

Dada esta introdução, a película segue a história de uma grande herança, uma injusta prisão e uma hilária fuga para uma incrível resolução, tudo isso passando por uma maravilhosa e sincera história de amor.

Entretanto, a grande herança que o filme revela é, na realidade, o que de mais importante um ser humano pode deixar para outro, são as memórias e as emoções. No final, o atual dono do hotel ficou rico no percurso da história e gastou todo o seu dinheiro na manutenção de um falido hotel, pois ali estavam as suas principais lembranças e memórias, dinheiro pouquíssimo valia quando posto em relação. Ele guardava o hotel para Agatha.

Este filme conversa comigo desta forma, o maior valor que meu pai deixa para mim foram as lembranças que tive com ele e gasto todo o dinheiro do mundo para guardar os grandes momentos que passo com ele. Me arranca lágrimas e sorrisos escrever sobre um filme que fala disso de forma tão sutil, poderosa e honesta.

Agora fiquem atentos e percebam, o filme começa com uma moça lendo um livro escrito por um jornalista sobre um dono de um falido hotel que conta a sua história de aventuras ao lado de seu melhor amigo e de amor ao lado de sua grande amada, ainda estão comigo? A moça fecha o livro e olha para você na tela, percebam a invisível corrente que o filme cria, a história é a grande herança que o filme deixa, você é o último elo desta corrente, e a herança é sua.

Only what you take with you.
É interessante ver que existe muita gente que gostou do filme, li certa vez na critica do jornal Folha de São Paulo que: O filme deu certo mesmo sem sabre de luz e “filosofia jedi”. Ler isso me choca, passei meus bons anos de infância reverenciando as obras do George Lucas e acredito que algumas obras moldaram meu caráter de forma muito pontual.
O Império contra-ataca, filme onde Luke parte para Dagobah para encontrar o principal mestre Jedi e aprender com ele os ensinamentos da força, percebam que neste trecho do filme, a primeira linha de diálogo concreta entre mestre e pupilo, Yoda exclama “Away with your weapon, i mean you no harm” e Luke continua o diálogo dizendo que procura um grande guerreiro, e Yoda ri e o responde que a guerra não torna ninguém grande.
Os grandes ensinamentos dos mestres Jedis não passam pelas grandes demonstrações de força, e sim na não agressividade, lembrem-se que antes de entrar na caverna sombria Luke pergunta “Mestre, o que tem lá dentro?” e, na fala mais perfeita de toda a história do cinema e que resume a pedra fundamental da filosofia Jedi, Yoda responde “Só o que você leva consigo.”
Dizer que Rogue One é um filme sem a filosofia Jedi é esquecer do momento que ao final, onde a guerra estava no seu maior ápice,

Uma situação que nós, seres feitos de medo e raiva, diremos “Mas é impossível, não acredito”, e em minha mente, o Grande Mestre Yoda surge, olha-me nos olhos e diz “É por isso que você falha”.