Me parece que o problema aqui foi o excesso de camadas para a construção de uma narrativa coesa. Não tem sido raro: na pretensão de entregar uma obra complexa, profunda e multifacetada (sobretudo neste caso, com a adaptação de uma obra premiada de literatura), assume-se o risco de não conseguir amarrar as pontas ─ os elementos narrativos ─, e o resultado perde a potência, "não chega lá". Parece história mal contada. Como fã da Colman desde Tyrannosaur (que para mim segue sendo a sua melhor performance), senti como se a personagem Leda não fosse um match perfeito para ela. Ou quem sabe o problema tenha sido mais a direção, que embora pareça excelente de modo geral, marca a estréia da Gyllenhaal. E é uma pena, porque a tentativa de importar a potência dos personagens da obra original ─ não romantizados, verossímeis ─ acaba parecendo frágil, confusa. A sensação é de que o tema é forte, o casting e a fotografia são bons, mas falha em algum outro aspecto de execução.
Que trabalho bem feito! Tecnicamente impecável, com uma direção de arte que se apropria de símbolos próprios da linguagem instagramer/tiktoker e um roteiro que funciona.
Encontrei muito da história de minha família aqui, mas senti falta de um trabalho mais cuidadoso com os detalhes históricos e antropológicos. Senti que foi um resumo superficial demais de uma cultura que irradiou sobretudo no sul do país, mas não só. Esperava uma maior riqueza de informações.
Antes mesmo do Leão de Ouro, em Veneza, minha expectativa era alta. A promessa de ver em tela o resultado de uma tríade composta pela atuação da McDormand, a direção de Zhao e o retrato da nova classe operária e a precarização de seu trabalho me encheu de esperança de que este fosse o grande título de 2020. Mas não foi exatamente assim. Tive dificuldade em entender a intenção de Zhao na condução da narrativa, diferentemente do que ela entregou em The Rider. Embora a classe operária e a precarização do trabalho estivessem ali retratadas, é uma apresentação amigável demais, a ponto de parecer apenas um "estilo de vida". A própria Zhao chegou a afirmar em entrevista que a intenção não foi fazer uma peça de crítica ─ e por si só, isso não seria um problema. Mas sem uma crítica com contornos mais explícitos, qual é a intenção do filme? Devido a recorrência do retorno à figura do marido, me perguntava se afinal não era essa a questão do filme: uma longa experiência de luto, e o nomadismo como pretexto, um mecanismo de defesa, de escape. Mesmo com a atuação sempre excelente de McDormand, achei difícil entender o universo interno da personagem, pelas poucas pistas de sua vida anterior. Em muitos dos seus momentos contemplativos, em que teoricamente está "tudo bem", surge uma expressão melancólica ou uma trilha sugerindo o contrário. E para mim foi difícil entender de onde isso estava vindo. Há uma resistência, por parte da personagem, em se adequar a uma "vida normal", mesmo quando essa é uma possibilidade à sua disposição. Afinal, Fern escolhe a vida que leva ou está sujeita às condições? Se ela escolhe, a sua melancolia não teria raiz na sua vida presente, escolhida, intencional, mas no passado. Mas se a única coisa de que ela recorda positivamente do passado é o próprio marido, parece que resta apenas o luto como raiz de sua melancolia. A ausência de uma crítica mais explícita sobre a vida laboral da nova classe operária faz parecer que o seu nomadismo é quase "estilo de vida" ─ de alguém que, afoito pela "liberdade", aceita o ônus dessa decisão ─, do que consequência de um sistema que arranca tudo que pode do trabalhador. De tal forma que a Amazon, retratada como um dos contextos em que está inserida essa nova classe, de repente se torna um local onde o trabalho precarizado POSSIBILITA esse "estilo de vida". Contraditório. Daí a minha frustração, que esperava algo mais próximo do que faz Ken Loach. Aqui, o excesso de camadas/falta de um foco narrativo mais me atrapalhou do que fez perceber o filme como uma obra multifacetada capaz de dar conta de amarrar tudo. Mas apesar disso, é um bom filme ao molde neorrealista, sensível, com uma atuação impactante da McDormand (que chegará ao Oscar com grandes chances) e bela fotografia.
Singelo. As atuações são ótimas, sobretudo entre os pares Alan Kim+Yoon Yuh Jung e Steven Yeun+Han Ye Ri. Fotografia delicada, sempre ajustada ao momento narrativo. A ausência de grandes momentos ou reviravoltas no roteiro pode causar estranheza, mas para mim só destaca as qualidades da obra. Se fosse uma pessoa, Minari seria aquela que surpreende não pela ousadia ou grandiosidade, mas pela autenticidade de ser quem é sem medo de decepcionar um público voraz por uma montanha-russa dramática.
Uma bela história. Alguns documentários são transformadores por desvelarem a realidade com todo o horror, a tragédia, o sofrimento. Mas há também aqueles que transformam pela sutileza dos afetos. Nos permitem ouvir as palavras trocadas quase que em sussuros, os dedos que se tocam discretamente, os olhares que se encontram e falam no silêncio. Aqui, o título parece sugerir um tom político mais carregado, o que não ocorre ─ e também não é um problema. E é bonito porque é genuíno. Pelo contexto da época, Pat e Terry foram forçadas a viver uma história escondidas do mundo, mas a despeito disso foram verdadeiras desde o primeiro momento, consigo mesmas e entre si. Gosto de me sentir ali na sala, junto delas, quando discutem para onde irão, ou quando os ânimos se agitam com alguém da família. Porque é genuíno. Nos faz pensar sobre a importância daqueles que envelhecem ao nosso lado. Chris Bolan, que bom que você acreditou que essa história valia ser compatilhada.
Que cogitem isso como melhor filme, ao lado de Roma e Green Book, é algo que jamais entenderei. Parece haver uma confusão entre a ideia de um filme enquanto uma peça completa, e um filme com boas canções. Para mim, Nasce uma Estrela se resume a isso, um filme com roteiro e atuações medíocres, mas com algumas boas canções.
Depois de muito revirar entre as produções que discutem a ditadura de 64, finalmente descobri o título deste que foi um dos primeiros (e melhores) que conferi. É para não esquecer como os discursos tão presentes na história de nossa política voltam ao palco e reencenam um velho e obscuro episódio de retrocesso, com roupagem de revolução. Quanta tristeza, Brasil.
A produção não é primorosa. A montagem é um tanto descompassada, principalmente no início. E isso não passa despercebido, embora também não represente demérito à Jennifer Fox em expor sua história. Ignorando aspectos técnicos e me concentrando estritamente no teor da narrativa, é inegável a importância desse material para o quadro atual, em que (sobretudo, mas não só) as mulheres se sentem mais seguras para compartilhar suas histórias de abuso sexual, quaisquer que sejam as condições. E essa me parece a maior contribuição d'O Conto nesse cenário: expor as silenciosas dinâmicas psicológicas de defesa resultantes de experiências traumáticas. A obra serve de alento às vítimas de abuso, capazes de assumir os conflitos e dores da personagem principal (afinal são em grande medida suas próprias dores e conflitos), mas também evidencia um universo que ao resto do mundo é difícil de capturar e compreender. Jennifer Fox se expõe porque parece não haver outra opção senão assumir o peso do revisionismo de sua história. Compartilhá-la com outras potenciais vítimas parece uma forma de dar lugar a algo novo, uma nova vida, tirando do caminho aquele mecanismo de defesa que a impediu de notar a intencionalidade abusiva dos seus algozes.
É como se Fox dissesse "Eu sei o que aconteceu e vocês também sabem o que fizeram comigo. Há agora uma absoluta clareza sobre isso: não houve cuidado, amor ou qualquer afeto. Foi abuso e violência desde o primeiro momento. E de onde estamos, não há nada que vocês possam fazer para apagar a consciência e o peso disso. A partir daqui, a minha vida é minha, e a miséria de vocês é um capítulo de um passado que foi menos meu do que eu fui capaz de perceber."
Vivi a expectativa de ouvir alguém dizer cada palavra dita por Hannah nesse especial. Alguém disposto a assumir todas as suas facetas (e o risco de assim proceder), rir, questionar, contextualizar-se no mundo ─ em uma dimensão, ao mesmo tempo, íntima e global ─, problematizar esse mundo em que vivemos, as pessoas que o habitam e, completamente entregue àquele momento de vulnerabilidade e fúria, dar uma aula de humanidade. Hannah começa sutil e, aos poucos, escala a tensão no auditório reconstituindo sua própria história. Encerra incontrita.
galera, vocês assistiram o doc do início ao fim? Muitos comentários aqui dizendo se tratar quase que de uma propaganda do medicamento... sendo que é relatado o estudo de uma doutora que colocou o medicamento à prova e não descobriram diferenças relevantes que justificassem o seu uso. Basicamente o negócio só deixa a pessoa acordada por mais tempo, sem proporcionar efeito de "melhoramento cognitivo"
Não tenho estrutura pra ver criança sofrendo assim. A ternura no olhar do pequeno Sunny Pawar é hipnótica, desperta essa necessidade do afago humano. O filme é muito tocante.
Tom Ford ensinando como se usa intertextualidade criativamente. E essa fotografia? Impecável! As atuações, de fato, incríveis. E o roteiro sólido, conseguindo sustentar o suspense do início ao fim. São vários golpes que sentimos ao longo do filme, junto de Susan, com um agonizante golpe final, nos últimos minutos de filme.
Viola Davis tem um poder arrebatador em cada expressão, atuou com uma carga enorme aqui. Mas fiquei mais surpreso com o Denzel, de quem não imaginava uma atuação compatível com a da Viola. E juntos, os dois funcionaram perfeitamente. Pude notar que, em 2016, as relações familiares ganharam atenção no universo do cinema: Toni Erdmann, The Red Turtle, Capitão Fantástico... O filme provoca desconforto do início ao fim. Assistimos brotar tantas questões do âmago dos personagens. É difícil simpatizar com Troy, com seu eterno discurso de "pai-que-prepara-para-o-mundo-lá-fora", mas que parece incapaz de amar mulher e filhos. Bem como é difícil não se solidarizar com Rose, que é declarada um fardo pelo próprio marido, apesar de dar tanto de si. Para mim, a história pesa muito. A sensação, ao rolar dos créditos, se aproxima daquela em que, ao nos colocarmos de espectadores na vida de uma família de um amigo (a exemplo), acabamos por descobrir aos poucos uma tonelada de coisas que, antes, pareciam não estar lá por não estarmos assistindo. Percebemo-las pesadas demais. O filme, como um todo, vale a pena! A cena final, contudo, é pobre e poderia ser evitada.
Sandra Hüller impecável, e um pouco mais, cantando Greatest Love Of All. Faz pensar nosso tempo, o que e quem importa, o que escolhemos fazer ou deixamos de lado, ao mesmo tempo que provoca risos nervosos... um filme sensível.
Monstro
4.3 290 Assista AgoraSingelo, íntimo e arrebatador de uma forma que só Koreeda sabe fazer.
A Filha Perdida
3.6 573Me parece que o problema aqui foi o excesso de camadas para a construção de uma narrativa coesa. Não tem sido raro: na pretensão de entregar uma obra complexa, profunda e multifacetada (sobretudo neste caso, com a adaptação de uma obra premiada de literatura), assume-se o risco de não conseguir amarrar as pontas ─ os elementos narrativos ─, e o resultado perde a potência, "não chega lá". Parece história mal contada. Como fã da Colman desde Tyrannosaur (que para mim segue sendo a sua melhor performance), senti como se a personagem Leda não fosse um match perfeito para ela. Ou quem sabe o problema tenha sido mais a direção, que embora pareça excelente de modo geral, marca a estréia da Gyllenhaal. E é uma pena, porque a tentativa de importar a potência dos personagens da obra original ─ não romantizados, verossímeis ─ acaba parecendo frágil, confusa. A sensação é de que o tema é forte, o casting e a fotografia são bons, mas falha em algum outro aspecto de execução.
A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas
4.0 494Que trabalho bem feito! Tecnicamente impecável, com uma direção de arte que se apropria de símbolos próprios da linguagem instagramer/tiktoker e um roteiro que funciona.
Legado Italiano
3.5 11Encontrei muito da história de minha família aqui, mas senti falta de um trabalho mais cuidadoso com os detalhes históricos e antropológicos. Senti que foi um resumo superficial demais de uma cultura que irradiou sobretudo no sul do país, mas não só. Esperava uma maior riqueza de informações.
Sussurros do Coração
4.3 481 Assista AgoraA Shizuku aceita casar "no futuro" com o Seiji, que ela mal conhece. Que doida, parece eu.
ps.: em 2020, o estúdio anunciou a sequência do título, em live-action, situada 10 anos depois, e ainda sem data para estrear.
O Som do Silêncio
4.1 988 Assista AgoraPara um estreante, Darius Marder surpreende na direção e roteiro, mas isso só se evidencia com a ótima atuação de Riz Ahmed.
Nomadland
3.9 896 Assista AgoraAntes mesmo do Leão de Ouro, em Veneza, minha expectativa era alta. A promessa de ver em tela o resultado de uma tríade composta pela atuação da McDormand, a direção de Zhao e o retrato da nova classe operária e a precarização de seu trabalho me encheu de esperança de que este fosse o grande título de 2020. Mas não foi exatamente assim. Tive dificuldade em entender a intenção de Zhao na condução da narrativa, diferentemente do que ela entregou em The Rider. Embora a classe operária e a precarização do trabalho estivessem ali retratadas, é uma apresentação amigável demais, a ponto de parecer apenas um "estilo de vida". A própria Zhao chegou a afirmar em entrevista que a intenção não foi fazer uma peça de crítica ─ e por si só, isso não seria um problema. Mas sem uma crítica com contornos mais explícitos, qual é a intenção do filme? Devido a recorrência do retorno à figura do marido, me perguntava se afinal não era essa a questão do filme: uma longa experiência de luto, e o nomadismo como pretexto, um mecanismo de defesa, de escape. Mesmo com a atuação sempre excelente de McDormand, achei difícil entender o universo interno da personagem, pelas poucas pistas de sua vida anterior. Em muitos dos seus momentos contemplativos, em que teoricamente está "tudo bem", surge uma expressão melancólica ou uma trilha sugerindo o contrário. E para mim foi difícil entender de onde isso estava vindo. Há uma resistência, por parte da personagem, em se adequar a uma "vida normal", mesmo quando essa é uma possibilidade à sua disposição. Afinal, Fern escolhe a vida que leva ou está sujeita às condições? Se ela escolhe, a sua melancolia não teria raiz na sua vida presente, escolhida, intencional, mas no passado. Mas se a única coisa de que ela recorda positivamente do passado é o próprio marido, parece que resta apenas o luto como raiz de sua melancolia. A ausência de uma crítica mais explícita sobre a vida laboral da nova classe operária faz parecer que o seu nomadismo é quase "estilo de vida" ─ de alguém que, afoito pela "liberdade", aceita o ônus dessa decisão ─, do que consequência de um sistema que arranca tudo que pode do trabalhador. De tal forma que a Amazon, retratada como um dos contextos em que está inserida essa nova classe, de repente se torna um local onde o trabalho precarizado POSSIBILITA esse "estilo de vida". Contraditório. Daí a minha frustração, que esperava algo mais próximo do que faz Ken Loach. Aqui, o excesso de camadas/falta de um foco narrativo mais me atrapalhou do que fez perceber o filme como uma obra multifacetada capaz de dar conta de amarrar tudo. Mas apesar disso, é um bom filme ao molde neorrealista, sensível, com uma atuação impactante da McDormand (que chegará ao Oscar com grandes chances) e bela fotografia.
Era Uma Vez um Sonho
3.5 448 Assista AgoraSe tirar a Amy Adams e a Gleen Close, sobra alguma coisa desse filme?
Minari - Em Busca da Felicidade
3.9 554 Assista AgoraSingelo. As atuações são ótimas, sobretudo entre os pares Alan Kim+Yoon Yuh Jung e Steven Yeun+Han Ye Ri. Fotografia delicada, sempre ajustada ao momento narrativo. A ausência de grandes momentos ou reviravoltas no roteiro pode causar estranheza, mas para mim só destaca as qualidades da obra. Se fosse uma pessoa, Minari seria aquela que surpreende não pela ousadia ou grandiosidade, mas pela autenticidade de ser quem é sem medo de decepcionar um público voraz por uma montanha-russa dramática.
Secreto e Proibido
4.4 119Uma bela história. Alguns documentários são transformadores por desvelarem a realidade com todo o horror, a tragédia, o sofrimento. Mas há também aqueles que transformam pela sutileza dos afetos. Nos permitem ouvir as palavras trocadas quase que em sussuros, os dedos que se tocam discretamente, os olhares que se encontram e falam no silêncio. Aqui, o título parece sugerir um tom político mais carregado, o que não ocorre ─ e também não é um problema. E é bonito porque é genuíno. Pelo contexto da época, Pat e Terry foram forçadas a viver uma história escondidas do mundo, mas a despeito disso foram verdadeiras desde o primeiro momento, consigo mesmas e entre si. Gosto de me sentir ali na sala, junto delas, quando discutem para onde irão, ou quando os ânimos se agitam com alguém da família. Porque é genuíno. Nos faz pensar sobre a importância daqueles que envelhecem ao nosso lado. Chris Bolan, que bom que você acreditou que essa história valia ser compatilhada.
História de um Casamento
4.0 1,9K Assista AgoraA briga. A música. A carta.
Nasce Uma Estrela
4.0 2,4K Assista AgoraQue cogitem isso como melhor filme, ao lado de Roma e Green Book, é algo que jamais entenderei. Parece haver uma confusão entre a ideia de um filme enquanto uma peça completa, e um filme com boas canções. Para mim, Nasce uma Estrela se resume a isso, um filme com roteiro e atuações medíocres, mas com algumas boas canções.
O Dia que Durou 21 Anos
4.3 226Depois de muito revirar entre as produções que discutem a ditadura de 64, finalmente descobri o título deste que foi um dos primeiros (e melhores) que conferi. É para não esquecer como os discursos tão presentes na história de nossa política voltam ao palco e reencenam um velho e obscuro episódio de retrocesso, com roupagem de revolução. Quanta tristeza, Brasil.
O Conto
4.1 338 Assista AgoraA produção não é primorosa. A montagem é um tanto descompassada, principalmente no início. E isso não passa despercebido, embora também não represente demérito à Jennifer Fox em expor sua história. Ignorando aspectos técnicos e me concentrando estritamente no teor da narrativa, é inegável a importância desse material para o quadro atual, em que (sobretudo, mas não só) as mulheres se sentem mais seguras para compartilhar suas histórias de abuso sexual, quaisquer que sejam as condições. E essa me parece a maior contribuição d'O Conto nesse cenário: expor as silenciosas dinâmicas psicológicas de defesa resultantes de experiências traumáticas. A obra serve de alento às vítimas de abuso, capazes de assumir os conflitos e dores da personagem principal (afinal são em grande medida suas próprias dores e conflitos), mas também evidencia um universo que ao resto do mundo é difícil de capturar e compreender. Jennifer Fox se expõe porque parece não haver outra opção senão assumir o peso do revisionismo de sua história. Compartilhá-la com outras potenciais vítimas parece uma forma de dar lugar a algo novo, uma nova vida, tirando do caminho aquele mecanismo de defesa que a impediu de notar a intencionalidade abusiva dos seus algozes.
É como se Fox dissesse "Eu sei o que aconteceu e vocês também sabem o que fizeram comigo. Há agora uma absoluta clareza sobre isso: não houve cuidado, amor ou qualquer afeto. Foi abuso e violência desde o primeiro momento. E de onde estamos, não há nada que vocês possam fazer para apagar a consciência e o peso disso. A partir daqui, a minha vida é minha, e a miséria de vocês é um capítulo de um passado que foi menos meu do que eu fui capaz de perceber."
Hannah Gadsby: Nanette
4.7 207 Assista AgoraVivi a expectativa de ouvir alguém dizer cada palavra dita por Hannah nesse especial. Alguém disposto a assumir todas as suas facetas (e o risco de assim proceder), rir, questionar, contextualizar-se no mundo ─ em uma dimensão, ao mesmo tempo, íntima e global ─, problematizar esse mundo em que vivemos, as pessoas que o habitam e, completamente entregue àquele momento de vulnerabilidade e fúria, dar uma aula de humanidade. Hannah começa sutil e, aos poucos, escala a tensão no auditório reconstituindo sua própria história. Encerra incontrita.
"E essa tensão é de vocês. Não vou mais ajudar."
Tome Suas Pílulas
3.5 66 Assista AgoraPalavras que poderiam resumir o doc:
> competitividade
> produtividade
> ser o melhor/único
...e que também poderiam figurar no diagnóstico da sociedade em que vivemos hoje.
galera, vocês assistiram o doc do início ao fim? Muitos comentários aqui dizendo se tratar quase que de uma propaganda do medicamento... sendo que é relatado o estudo de uma doutora que colocou o medicamento à prova e não descobriram diferenças relevantes que justificassem o seu uso. Basicamente o negócio só deixa a pessoa acordada por mais tempo, sem proporcionar efeito de "melhoramento cognitivo"
Salvando o Capitalismo
3.4 28 Assista AgoraA versão resumida, em vídeo, da discussão apresentada por Thomas Piketty em "A Economia da Desigualdade".
Lion: Uma Jornada para Casa
4.3 1,9K Assista AgoraNão tenho estrutura pra ver criança sofrendo assim. A ternura no olhar do pequeno Sunny Pawar é hipnótica, desperta essa necessidade do afago humano. O filme é muito tocante.
A Chegada
4.2 3,4K Assista AgoraUma bela direção de fotografia e de arte. Por algum motivo me fez relembrar de A Árvore da Vida, como se de alguma forma as narrativas se conectassem.
Animais Noturnos
4.0 2,2K Assista AgoraTom Ford ensinando como se usa intertextualidade criativamente. E essa fotografia? Impecável! As atuações, de fato, incríveis. E o roteiro sólido, conseguindo sustentar o suspense do início ao fim. São vários golpes que sentimos ao longo do filme, junto de Susan, com um agonizante golpe final, nos últimos minutos de filme.
Um Limite Entre Nós
3.8 1,1K Assista AgoraViola Davis tem um poder arrebatador em cada expressão, atuou com uma carga enorme aqui. Mas fiquei mais surpreso com o Denzel, de quem não imaginava uma atuação compatível com a da Viola. E juntos, os dois funcionaram perfeitamente. Pude notar que, em 2016, as relações familiares ganharam atenção no universo do cinema: Toni Erdmann, The Red Turtle, Capitão Fantástico...
O filme provoca desconforto do início ao fim. Assistimos brotar tantas questões do âmago dos personagens. É difícil simpatizar com Troy, com seu eterno discurso de "pai-que-prepara-para-o-mundo-lá-fora", mas que parece incapaz de amar mulher e filhos. Bem como é difícil não se solidarizar com Rose, que é declarada um fardo pelo próprio marido, apesar de dar tanto de si.
Para mim, a história pesa muito. A sensação, ao rolar dos créditos, se aproxima daquela em que, ao nos colocarmos de espectadores na vida de uma família de um amigo (a exemplo), acabamos por descobrir aos poucos uma tonelada de coisas que, antes, pareciam não estar lá por não estarmos assistindo. Percebemo-las pesadas demais.
O filme, como um todo, vale a pena! A cena final, contudo, é pobre e poderia ser evitada.
ps.: achei que Troy fosse morrer mesmo na cena inicial, porque senhôor, falou por uns 10 minutos sem nem dar uma pausa pra tomar ar.
As Faces de Toni Erdmann
3.8 257 Assista AgoraSandra Hüller impecável, e um pouco mais, cantando Greatest Love Of All. Faz pensar nosso tempo, o que e quem importa, o que escolhemos fazer ou deixamos de lado, ao mesmo tempo que provoca risos nervosos... um filme sensível.
A 13ª Emenda
4.6 354 Assista AgoraUm Oscar para esse documentário, por favor. Que aula!
Eis os Delírios do Mundo Conectado
3.8 35É interessante, porém muito disperso, o que dificulta um pouco a conexão dos pontos que o Herzog vai levantando.