A estética de Goonies. E.T e Eerie Indiana com um plot Stephen King contado como se fosse um episódio de Arquivo X. Pra mim funcionou melhor no papel porque os personagens são genéricos, previsíveis e a escrita e o trama da série nunca estão a nível da direção de arte e das atuações
Prós:
+ Direção, arte, fotografia, a recriação dos 80s de um filme do Spielberg é perfeita + Atuações, especialmente da Winona e da 11 + É bem escuro e nas matas, que nem as melhores séries são (e raramnete uma série é tão escura)
Contras:
- Personagens genéricos com alguns subplots horríveis tipo o do playboy tentando comer a nerd. - Escrita fraca com vários diálogos meio embaraçosos. - Trama interessante mas sem nada de novo e com alguns problemas de consistência - A série força toda hora jogar referências à cultura pop na cara do expectador e nunca parece natural, e sim uma tática de merchandising. Alguém ensina a eles que referência a cultura pop é algo sutil e não gritar na tela o nome de outros produtos o tempo todo - A história esticou demais pra 8 episódios, e como várias séries Netflix, tem fillers bem fracos no meio desses 8 episódios, alguns onde não acontece nada, só enrolação. Podia ser uma série tipo Black Mirror onde cada episódio contava uma história diferente no universo da série e esse plot podia ser história pra 1 episódio só (ou pra um duplo). Ou mesmo um longa-metragem de 2h, se juntar os melhores momentos da série deve dar umas 2h mesmo, cortando todos os subplots fracos e fillers.
Ainda recomendo, mas pra quem curte tais temas em específico
A terceira temporada de The Wire volta o foco para os personagens e arcos da primeira, mas assim como a segunda, acrescenta uma nova instituição na narrativa: a política de Baltimore. Essa temporada vale mais que uma tese de pós-phd para entender muita coisa na sociedade. Hamsterdam, os corpos caindo, fones descartáveis, as situações políticas da cidade, a redenção do Cutty. O nível de detalhismo aqui com todos os vários temas levantados e até a "ficção" das drogas legalizadas e suas consequências positivas que uma sociedade conservadora se recusou a olhar são de cair o queixo, chocar. Eu fico sem ter o que falar porque paguei pau nos textos das duas temporadas anteriores e - de alguma forma - a série consegue ficar ainda melhor nessa obra-prima irrefutável de temporada. Apenas assista cada segundo que essa série produziu, a primeira e a segunda temporada são excepcionais, mas a terceira e a quarta são os prêmios pra quem ficou até ali. E na TV moderna, serializada e de complexas narrativas, as duas temporadas do meio de The Wire são o prêmio máximo.
Obs: Vale ver como o Tommy Carcetti, bem intencionado no começo, virou um político comum após ser orientado pela coordenadora de campanha. O carreirismo destruindo a ideologia.
A segunda temporada de The Wire é ainda superior a primeira. Ela toca numa questão muito negligenciada na sociedade: por onde entram as drogas no país? Aproveitando para estabelecer um arco inteiro baseado na entrada de drogas, prostitutas e aparelhos roubados nas zonas portuárias pelo mundo, The Wire apresenta o sindicado dos estivadores, trabalhadores de classe baixa que descarregam as mercadorias que entram no país. Ao mesmo tempo a série toca na corrupção e no "smuggling" das zonas portuárias em grandes cidades e na forma como a classe trabalhadora foi traída e abandonada. Dois coelhos numa cajadada só.
Arcos da primeira temporada são colocados em segundo plano, mas nunca negligenciados. A série - que não tem personagens principais - não tem medo nenhum de dar muito tempo de tela para novatos, que aproveitam muito bem - a família Sobotka, em atuação e importância, toma conta da temporada, com seus problemas funcionais. Frano Sobotka é o líder de um sindicado traído e falido, fazendo de tudo para reeguer. Nick e Ziggy, um dos personagens mais perturbados da série, são jovens de classe trabalhadora que entram no mundo das drogas por opção, não por obrigação como D'Angelo e os personagens da primeira temporada.
Novas perspectivas, arcos feitos de forma perfeccionista - as meninas mortas foi espetacular, Laura Palmer ao quadrado. A segunda temporada de The Wire foi mal recebida pelos fãs na época que não simpatizaram com as histórias entorno das docas - talvez porque a audiência branca se viu demais em Nick e Ziggy e se sentiu ofendida? Anos depois, já é consenso a obra-prima que foi a segunda encarnação de The Wire. E o assustador é que a série ainda iria melhorar mais...
The Wire é a narrativa mais perfeccionista talvez da história do entretenimento - contando séries e filmes. O show ignora todas as regras e estratégias de narrativa da TV e se constrói como se fosse um livro. O criador é um jornalista criminal que cobriu a maioria da situações da série, assim como o co-criador que é um ex-detetive da polícia de Baltimore. A sala de roteiristas de The Wire tem escritores de livros, não de roteiros. O trabalho de pesquisa é feito de forma praticamente acadêmica e direção, produção, sonorização são perfeccionistas - tirando series finale, a série só tem música quando ela toca em algum rádio na cena, toda a sonorização de The Wire é feita com gravações reais da parte da cidade de Baltimore onde foi filmada - onde o show é todo gravado, com vários atores locais, às vezes com personagens que existem na vida real, como a Snoop (que aparece na terceira temporada) e um antigo prefeito da cidade que aparece de figurante. Inspirado em grandes obras da literatura e tragédias gregas, The Wire não tem cliffhangers, mistérios ou recursos de série como coisas do tipo. A história é contada sem apelação nenhuma e é sustentada pela própria qualidade de primeira linha da narrativa, sem maquiagens - no final você até já sabe o que aconteceu há muito tempo, mas o desenrolar é incrível pela simples riqueza de detalhe. Dos produtos baseados na realidade, sem contar com livros, The Wire é imbatível e inalcançável. Nada foi feito igual. O décimo quinto personagem da série é mais interessante do que o protagonista da maioria das séries populares.
Aqui você tem a introdução ao mundo das escutas, a Guerra ás Drogas - onde a polícia nunca é colocada como herói, e sim como instituição falha, enquanto muitas vezes os traficantes são humanizados e é perfeitamente possível simpatizar com eles, presos naquele mundo. Como dito antes, a série tem dezenas de personagens inesquecíveis que poderiam ter uma série separada para si próprios.
Como a maioria da grandeza artística, leva um tempo para pegar. Dê uns 5 ou 6 episódios de chance à série. No começo, parece tudo confuso - não há apresentação didática como outras séries. Mas o final compensa - ninguém que viu essa série até o fim discorda que ela é um dos maiores dramas já feitos. Ou então você prefere partir para o prazer imediato fast-food da maioria das séries, com seus cliffhangers baratos, episódios explosivos de forma genérica e etc. Aliás, foi o que público fez na época que The Wire foi ao ar...
Divisor de águas em ambos terror e sci-fi, Alien transformou o otimismo das space operas dos anos 70 em um futuro espacial dark e tomado pelas corporações (coisa que o Ridley Scott ia explorar ainda mais no Blade Runner), misturou com a grande ascensão que o horror teve na mesma década (ele vendeu como "Tubarão no espaço"), pegou elementos de filmes antigos como "Thing from another world" e criou o clássico definitivo do híbrido "Sci-fi + Horror"
Alien é um dos filmes mais importantes do cinema moderno por inúmeras razões. Não só o trabalho state-of-art em direção, som, visuais, atmosfera e o design artístico do Alien by H.R Giger que influenciaram tudo dos dois gêneros que vieram a seguir, mas uma atuação humana e mais que convincente de um elenco que não era estrelar na época, e introduziu Ellen Ripley, a protagonista feminina mais importante da história do cinema, empoderada sem dar satisfação a ninguém, sem precisar ser salva e fora a desnecessária parte da cena da calcinha no fim, sem ser sexualizada.
Assistindo hoje é difícil se assustar; nossa geração viu horror trash e hardcore e coisa mais violenta e assustadora em jornal na TV aberta, mas em 1979, numa época sem internet e sem excessos gráficos, o filme deixou muita gente sem dormir. O que não envelheceu é a atmosfera e a tensão. Alien é uma obra-prima e um dos filmes mais influentes, não só no cinema, de todos os tempos
Alien 3 é o grande injustiçado da quadrilogia Alien. Criticado pelos fãs e pela crítica até hoje, foi o primeiro filme do impecável David Fincher e o desenvolvimento foi intensamente problemático com problemas na equipe, nas filmagens e roteiros sendo reescritos.
É fácil ver porque Alien 3 foi tão impopular: o filme já toma atitudes impopulares nas primeiras cenas
matando personagens principais do filme anterior - a cena da autopsia da Newt é a mais perturbadora de toda a série pra mim
. Então ele ignora a mitologia de Aliens e recua ao formato do primeiro Alien - sem armas e apenas um Alien. E para terminar de tirar o estilo blockbuster que deixou seu antecessor tão acessível, insere uma história depressiva, em uma das guinadas mais downbeat de uma grande franquia.
Alien 3 é um grande filme onde o xenomorph é um personagem que talvez nem precisava existir. Talvez fosse um filme sem o nome da franquia seria mais aclamado - mas Ripley é essencial aqui. O setting low-tech no planeta-prisão, onde Ripley é a única mulher, é particularmente meu favorito de toda a série. A direção do Fincher é espetacular e o tom noir dado ao espaço já prevê seu próximo trabalho, Se7en.
Quando o xeno começa a atacar e os prisioneiros, todos estupradores, pedófilos, criminosos e assassinos, começam a se questionar o que realmente tem a perder. É quando Alien 3 toca no seu tema central: niilismo. O filme é um drama perturbador que mostra personagens que bem antes do monstro começar a atacar, já tinham perdido a esperança. A religião é usada de forma excelente pela primeira vez na série.
O problema em Alien 3 são suas cenas de ação, onde os prisioneiros tentam capturar/enfrentar o xenomorph sem armas. São particularmente confusas e desinteressantes - a primeira metade do filme onde exploram o universo do planeta prisão é a melhor
O desfecho da trilogia, nas cenas finais, até fãs que não gostaram do filme aprovaram. Alien 3 é (mais) uma brava drástica mudança de direção na franquia e merece ser reavaliado pelos seus méritos próprios e seus temas únicos tratados de forma peculiar.
PS: A "Assembly Cut" tem 30 minutos de novo material, além de "consertar" cenas antigas. É a versão definitiva disparada e alguns críticos já começaram a reavaliar o filme por essa versão.
Uma das melhores sequels da história do cinema ao lado do segundo Godfather, Aliens é uma aula de como fazer uma sequência de uma história fechada. O filme dedica o seu primeiro ato a expandir a mitologia do primeiro, contando o trágico futuro de Ripley, mostrando mais da corrupta "companhia" e eventualmente colocando a heroína de volta ao planeta do primeiro filme. O segundo ato de Aliens é perfeição cinematográfica. Sem jamais largar o horror do primeiro filme, James Cameron transforma Aliens num irretocável épico de ação. Há mais monstros, há armas dessa vez, e muitas armas gigantes e descoladas. Toda fórmula de transformar um filme intimista em ação tinha tudo para destruir um filme Alien, mas a ação é comandada por desespero, tensão, claustrofobia e a luta para sobreviver. Protagonistas militares começam a sucumbir psicologicamente e Aliens fica incessante.
Os novos personagens são todos excelentes e mais uma vez bem atuados - Bishop e Newt em especical - e Ellen Ripley se consolida como protagonista feminina mais importante da história do cinema. É aqui a atuação onde ela chuta bundas, dramática, estressada, não-sexualizada, uma sobrevivente que não deve nada a ninguém. A Director's Cut contém uma cena que dá toda uma profundidade nova pra personagem durante o todo filme, inacreditável ter sido cortada
Aliens é quase tão importante quanto seu primeiro filme - a influência até nos one-liners em filmes de ação é inegável - e provável é mais divertido de se assistir. Se tem um problema, é o diálogo cheesy quando os marines são apresentados. Aliens é um raríssimo exemplo de terror ganhando elementos de ação de forma impecável, uma raríssima sequel de um clássico a altura do seu original e o melhor filme da carreira de James Cameron
OBS: Recomendo mais uma vez o Director's Cut fortemente
A história, no livro "Four Past Midnight", é uma obra-prima.
O filme é um TV Movie B de baixo orçamento feito em 1995. Levando isso em consideração, é uma adaptação muito digna e com todo seu charme de filme B pra história (uma das mais underated da carreira do King). O orçamento baixo e os atores menos conhecidos contribuem pra estranheza da história ser ainda maior.
O fato de que uma história média (é apenas uma das 4 histórias do livro) ter sido adaptada pra uma minisérie de 3h de conteúdo significa que deu tempo para colocar TUDO que acontece na história. Em termos de plot, é uma adaptação perfeita.
Langoliers tem todo seu culto, muita gente viu numa tarde ou noite perdida na TV a cabo nos anos 90 e na época os CGIs ruins criticados aqui eram normais, então foi uma das coisas mais estranhas pra muita gente, especialmente quem era mais novo.
No final das contas, o feeling é de um longo episódio de Twilight Zone escrito pelo Stephen King, muito estranho e desolado, sem deixar de ser assustador e perturbado. Ainda que tenha seu valor como companion piece, seria legal ver essa história sendo refeita com um orçamento melhor - até porque o livro não é "terror B" de forma alguma.
Obs: Patética a tradução pra português com o spoiler. Por sorte quando eu vi isso na TV a cabo eu não vi o nome e tive a surpresa intacta
A mini 10ª temporada mostra que X-Files ainda tem muita lenha pra queimar - talvez tenha lenha pra queimar eternamente, com os episódios "monster of the week" podendo tratar sobre absolutamente qualquer coisa. Os 4 do 6 que são nesse formato são os melhores da volta; "Were-Monster" escrito pelo legendário Darin Morgan é o melhor de todos, um clássico instantâneo tão bom quanto qualquer um dos melhores episódios da série, fazendo jus a aclamação que os episódios mais humorosos da série recebem pelo tratamento humano que eles dão.
Founder's Mutation é um clássico monster of the week aterrorizante, bem dark e violento; o excelente "Babylon" é intrigante, toca em temas políticos atuais e é a loucura deliciosa que a série assumiu lá pra 6ª temporada. "Home Again" é mais dramático, um counterpart ao clássico "One Breathe", com uma grande atuação da Gillian Anderson, que sobra mais uma vez na série. É uma alegria ver a maravilhosa e inacabável química dela com o Duchovny, que nos momentos humorosos da série mandou demais, mostrando o que aprendeu em Californication (aliás, mesmo antes Duchovny já era um excelente ator humoroso)
O ponto forte da 10ª temporada é a passagem de tempo. Mulder e Scully, na meia-idade, se adaptando uns aos outros e ao mundo atual - inclusive a tecnologia - foi algo trabalhado de forma muito delicada. O clima político atual de 2016, passado o baque do 11 de Setembro, voltou a uma paranoia bem parecida com a dos anos 90, então temas atuais como excesso de tecnologia, isolamento, false flag e conspirações na Internet se adequaram perfeitamente à volta da série. A exploração do personagem do William fez todo sentido no cliffhanger.
A mitologia da série, com o primeiro e último episódio, foi menos consistente apesar de vários momentos memoráveis. Ficou parecendo que faltou tempo para desenvolver, e apareceram alguns momentos lame e principalmente inconsistências com o que a série estabeleceu lá trás. Mas estou confiante que deixou o terreno preparado para ser arrumado numa temporada mais longa. O mais legal é a porra toda ficando louca no final - algo que X-Files sempre evitou porque não podia largar a narrativa noir pra virar um Guerra dos Mundos. Mas o episódio final, mesmo com falhas, foi bombástico e o cliffhanger pra próxima temporada foi excelente - tem espaço pra uma nova temporada de 10 ou 12 episódios fácil, resolvendo a mitologia e trazendo mais monstros da semana. Seria legal a volta do Vince Gilligan (Breaking Bad e Better Call Saul), um dos melhores roteiristas da série nos 90s que hoje deve estar ainda melhor com as obras-primas que fez.
Ficou a sensação que essa nova temporada foi a banda voltando a tocar junto, aquecendo os motores para retomar a grande forma, com mais calma, numa mais longa 11ª temporada, mas a 10ª temporada tem seus próprios méritos, é uma alegria ver Mulder e Scully de novo, fiéis a passagem do tempo em uma temporada que olha pra trás sem nunca se apoiar na nostalgia e olha pra hoje em dia sem nunca perder a identidade de saber onde veio.
PS: Não recomendo começarem por aqui. Dá pra entender, mas a passagem de tempo e os easter eggs são o mais legal dessa temporada. Só ver o Mulder com um telefone gigante por 202 episódios pra achar tanta graça nele tiozão perdido num smartphone.
(Spoilers) Direção boa. Fotografia linda (em uma locação que até a camera de um motorola daquele de 2007 ia conseguir uma fotografia espetacular).
Mas o roteiro é simplesmente uma fuckfest. Os acontecimentos da metade do filme foram filmados fora de ordem e depois que escolheram como colocar, tenho certeza. As coisas não fazem exatamente sentido. O filme já perde a credibilidade quando um urso ataca 3 vezes o Leo DiCaprio e em todas elas parece que ele foi orientado: urso, não amputa nada nem executa o Leo, porque o filme tem que durar 2 horas. E a grande cena de impacto dramático sobrevivencialista é o Leo dormir dentro de um cavalo? Wtf, amigos?
Nada no filme acontece fora do esperado o tempo todo. São cenas de sobrevivência clichês. A simpatia pelo protagonista é porque ele é o cara do Titanic, o personagem é inexistente - nada contra ser quietão, desde que ele não soltasse só frase vergonha alheia de tough-guy quando abre a boca. O filho aparece umas 3 vezes antes de morrer então nem deu tempo de ligar pra ele. Daí tem o Gui Wesley e o Tom Hardy, esse com o único personagem desenvolvido do filme. Ou seja, com tanto personagem pouco desenvolvido, é difícil comprar a agonia do filme. Vira tédio. E o final do filme lança uns lances de alucinações/fantasmas que nem o próprio filme levava a sério antes. Pelo menos o filme critica o homem branco e fica do lado dos índios , mas o homem branco do mal não são os AMERICANOS, ok? São os franceses!. Mas enfim, qual o ponto? Não tem mensagem política nem moral, é tudo uma desculpa pra mostrar paisagens legais
E se o Leo ganhar o Oscar por essa atuação onde ele basicamente faz o que eu faço todo dia que acordo de ressaca - tendo perdido pela atuação legendária de Wolf of wall street - vai ser triste demais.
Goofy, mas eventualmente interessante pela diversidade de gêneros (é uma série de detetive? advogado? política? a mistura é bem legal), por algumas sólidas atuações (a principal e o senhor gay que trabalha com o presidente) e alguns tapas nos conservadores. Mais coerência e verossimilidade na história e nos personagens (alguns só existem pra usar atores bonitos) é até injusto cobrar de uma série para esse tipo de público. E pra quem não pertence a ele, ainda é bem dispensável, mas, pra um novelão que é, Scandal arrisca e tenta cosias diferentes bem mais que o normal.
Difícil entender o propósito desse filme. Não que ele não devia existir, mas a proposta mesmo. Além de vários documentários, dois filmes notáveis sobre o Jobs já tinham sido feitos - o "Piratas do Vale do Silício", mesmo desatualizado em 1997, é o melhor disparado. Então esse tenta ser diferente, ter outra perspectiva, mas de uma forma pouco definida que acho que nem o Danny Boyle entendeu direito no que ele quis focar.
O recorte é muito estranho. Ele passa no backstage de três conferências vitais na carreira de Jobs: o Macintosh, o Next (ambos fracassos), e a sua volta a Apple nos anos 90 - e o ponto mais legal dessa última, que é a parceria anunciada com o Bill Gates no telão, é ignorado. Ou seja, é um filme com ênfase na decadência, profissional e pessoal, da vida do Jobs.
De cara ele já ignora os maiores feitos da carreira dele - o Apple 2 e a popularização dos PCs; e o sucesso do iPod, iPhone, iPad nos anos 2000. Esses momentos de glória são tratados com mínimas menções, praticamente ignorados no filme, ou seja, ele é o pior possível pra mostrar para alguém que quer saber QUEM FOI Steve Jobs - a Pixar é esquecida.
Fica pior. Vários momentos fictícios são inseridos nessa que devia ser uma biografia. O diretor ainda assume com orgulho nas entrevistas, usando shakespeare como desculpa. O relacionamento do Jobs com o Woz, o Sculley e com a filha Lisa é perigosamente romantizado - o print no fim, uma história falsa, não emociona e parece até mal gosto à história de uma figura importante como o Jobs. Numa vida com tanto a falar quanto a dele, pra que colocar coisas ficticias? Sabendo dessas coisas, o filme perde credibilidade - e mesmo o filme não tem foco se está falando sobre a vida pessoal ou profissional dele, acabando mostrando as duas de forma superficial.
Não é uma perda total. É bonito, bem dirigido, bem atuado - apesar do Fassbender novo ficar absurdamente diferente de como era o Jobs. Tem algumas cenas memoráveis (que como o filme não faz questão de ser verdadeiro o tempo todo, eu não faço ideia se aconteceram de verdade). E se esforçar muito para encontrar algum lugar para esse "Steve Jobs", é como um recorte complementar às outras obras sobre a vida dele. Ou seja, se você é apaixonado pela história da informática e já assistiu todos os outros filmes sobre o Jobs, talvez esse seja um recorte diferente interessante. Mas fora isso, use melhor seu tempo pra ver o filme que indiquei no primeiro parágrafo - até em respeito a importância do próprio Steve Jobs.
--------
ou resumindo em uma frase: "um filme pointless sobre 30% da vida do Jobs - e o 30% menos importante que aconteceu no meio dela".
Esse filme ser considerado "obra-prima" ou "filme do ano" diz muito sobre o estado das coisas atuais onde hype, marketing e a empolgação coletiva são muito maiores que qualquer julgamento crítico sobre as obras.
Mad Max Fury Road é bom, mas só bom. A ambientação, atuações, direção, efeitos especiais, cenas de ação e direção artística são excelentes - tirando aquele cara tocando guitarra que é a coisa mais cheesy do mundo. O que é compensado com um filme praticamente sem plot, sem desenvolvimento de história nenhum, é praticamente uma cena de perseguição de 2h, só ação e ação e os bons momentos de desenvolvimento de personagem ou mesmo do universo pós-apocalíptico são raríssimos. Mesmo a ação, carro chefe do filme, é apenas boa, com poucos momentos memoráveis.
No fim das contas é um filme de ação com algumas cenas legais, ambientação incrível, mas que nunca desenvolve seu mundo ou seus personagens, ficando constantemente tedioso, monótono e repetitivo. Ainda vale se assistir pela excelência técnica, mas não é nada imperdível. Sou grande fã de filmes pós-apocalipticos, inclusive do Road Warrior que esse aqui não chega nem aos pés, e esse não acrescenta nada ao gênero.
O ponto mais alto do filme mesmo é a narrativa com empoderamento das mulheres, um ponto onde o filme foi atualizado com esplendor - mas mesmo isso é muito menos desenvolvido do que tinha potencial para ser, nesse filme que capricha no estilo mas esquece a substância.
Uma série a frente do próprio tempo e única de várias formas, Millennium é uma obra de arte. É tanto uma série mais arty, bem influenciada pelo formato da sua série irmã X-Files, mas também por Twin Peaks e Se7en, com toques bíblicos e simbológicos, quanto um dos primeiros shows que mostrava o uso de tecnologia, profiling, autopsias e recursos assim na investigação criminal, anos antes de Criminal Minds ou CSI.
A atmosfera da série na chuvosa Seattle é uma das mais soturnas e obscuras já vistas na TV; e com certeza uma das séries mais violentas, deprimidas e perturbadas da história da TV aberta, algo que contribuiu no seu cancelamento e em muitos protestos de grupos religiosos na época. Só a primeira temporada de "True Detective", bem influenciada por Millennium, fez algo parecido em termo de densidade atmosférica, mas ainda assim na TV a cabo.
Millennium é, além de tudo, sobre o mal no mundo. A proposta da série nunca fica muito bem definida na primeira temporada, o que é ótimo pois deixa o terreno bem experimental, mas o ênfase é na maldade - sejam na forma mais sobrenatural, ou em vários episódios onde é simplesmente o mais puro mal humano mesmo - afinal, a série nasceu de "Irresistible", um dos poucos X-Files sem nada de sobrenatural.
A estrela é Lance Henriksen, grande e subestimado ator que aqui tem a melhor atuação de toda sua carreira. De 0 a 10, eu dou 20 pra atuação do Lance como Frank Black, o grande personagem da "1013 Productions", junto com Mulder e Scully.
Há muito a se debater tanto sobre a simbologia quanto sobre o lado humano da série. E na segunda temporada a série muda bastante de tom, começa a focar mais na mitologia que é bem tímida na primeira e acaba por ser ainda melhor. Mas a primeira temporada e seus casos perturbadíssimos tem seu valor, que é gigante.
Não é uma série pra todos, mas quem tiver estômago para encarar o que o ser humano tem de pior e habitar o mundo soturno e apocalíptico que a série passa, vai levar Millennium no coração pela vida.
Na altura que esse filme saiu, X-Files era um dos produtos culturais mais quentes dos anos 90, os episódios chegavam a números absurdos de 20-25 milhões de TVs ligadas na audiência e o filme usou uma boa parte do seu orçamento maior na parte do marketing, criando um hype gigantesco.
Quado ele saiu, cinemas lotados, todo mundo viu, retornou 3 vezes o investimento que foi colocado nele... mas ao contrário da expectativa (surreal) de alguns produtores, não virou uma super saga cinematográfica como Star Wars. E nem teria como, visto que a série é tão bem sucedida e bem apegada ao formato televisivo, tendo sido a série de ficção cientifica que ficou no ar seguidamente por mais tempo.
X-files já era uma super franquia, mas em outro meio, na televisão. Para conquistar o cinema também, seria necessário abandonar muito do que foi construído nos então 5 anos de série até aqui, já que mesmo sendo uma das séries mais populares da década, grande parte do público do cinema não assistia a série regularmente.
Felizmente e assumidamente, Chris Carter, Frank Spotniz e cia ficaram em cima do muro, fazendo um filme com apelo tanto para os fãs de longa data quanto para os novos espectadores - pesando bem mais pros fãs.
Para quem não é fã da série, X-Files é um ótimo filme que na primeira metade tem toda a conspiração paranoica da série e na segunda se aproveita do orçamento para evoluir para um sci-fi épico.
Para os fãs da série, o filme é um sonho. Tudo que os fãs amaram na TV por 5 anos está aqui potencializado pelo orçamento e produção de pontas: as conspirações, a paranoia, o tom noir, praticamente todos os personagens principais (menos Krycek; como explicar ele pra quem nao vê a série?), o humor, o relacionamento muito bem trabalhado do Mulder e da Scully - e ponto pra eles por não ter rolado beijo, fugindo dos clichês - aliens, abelhas, black oil, vírus, híbridos, gente morrendo misteriosamente, tecnologia dos anos 90... Tudo que fez X-Files ser a série zeitgeist dos anos 90 aparece aqui de alguma forma. A história da mitologia anda, mesmo tendo que dar uns passos atrás para explicar coisas para quem não assiste, e algumas perguntas chave são respondidas.
Todo mundo que trabalha bem na série trabalha ainda melhor aqui. O roteiro é criativo e o filme voa porque nunca deixa de ser interessante. A direção é espetacular. Os efeitos especiais dão de 10x0 em filme que sai hoje quase 20 anos depois. A trilha sonora do gênio Mark Snow é talvez a melhor da sua carreira e comanda o filme. Duchovny mostra o quanto ele evoluiu em 5 anos e encara o grande papel como a estrela que virou. Gillian Anderson é absolutamente perfeita, seriamente uma das melhores atrizes da história da TV
Todos esses estavam fazendo uma série cult de um novo canal chamado Fox em 1993, saindo da obscuridade, e anos depois estavam fazendo um dos filmes mais produzidos do ano em Hollywood. Ver a lenta evolução das minhocas em CG na primeira temporada pras cenas impressionantes na Antartida no fim é fantástico
Chamar de "episódio estendido" é injusto. Bem verdade que os fãs da série vão apreciar muito mais isso aqui - é a razão da nota máxima, daria 8 como filme avulso da série. Mas é difícil chamar algo com dessas proporções de episódio de TV estendido - embora X-Files sempre tenha sido a série mais cinematografica da TV até ali, de qualquer forma.
No fim do filme, os X-Files são reabertos e meses depois, a Fox cancela a ideia de tornar a série uma franquia de filmes e renova por mais duas ótimas temporadas. Filmes de X-Files são sempre bem vindos, mas como grandes aberturas para, no final, voltarmos para o meio que deu, no final das contas, tanta liberdade criativa pra essa série ser o que é
O programa dele era genial, mas o personagem não se traduziu tão bem no cinema, ainda mais na estrutura roterizada. Quando foi fazer o filme dos outros dois personagens do show, Borat e Bruno, o Sasha inteligentemente reverteu à estrutura de falso documentário e colocou eles pra interagir com pessoas de verdade - como o próprio Ali G fazia no programa e no filme se enfraqueceu por estar interagindo com atores, com falas escritas e etc. Sasha é sempre melhor no improviso, quando ele mesmo vira os personagens, do que em fazer comédia roterizada. Ele é bom em fazer interações sociais e usar seus personagens imbecis como ferramenta para tirar o preconceito das próprias pessoas, algo que acontece em Borat e Bruno.
Ainda assim o filme tem momentos engraçados e toscos, sobretudo da cultura dos anos 2000 que olhando de hoje é muito, muito tosca, mas só é recomendado pros fãs do Sasha e pra quem conhece o lado mais pobre da Inglaterra moderna o suficiente pra captar o humor bem interno em vários trechos.
O Ali G, mesmo sendo o personagem que deu fama ao Sasha, não é o seu melhor, mas quem quiser conhecê-lo em ação pra valer, recomendo baixar os episódios do Ali G Show. O filme é um mero complemento divertido.
Essa é a temporada mais experimental de X-Files, já que o filme estava sendo produzido, Duchovny e Gillian não estavam disponíveis para todos os episódios e então tiveram que se desapegar as formulas para fazer episódios únicos. Com isso, embora não atinja os high lights da 3ª e da 4ª temporada, essa é mais uma temporada do show no topo da sua forma, e o melhor, a temporada com mais episódios "únicos" que começaram a romper as fórmulas tradicionais da série, inclusive com escritores consagrados convidados para escrever episódios.
Destaques são a jóia absoluta "The Post Modern Prometheus", um dos melhores episódios da série, que homenageia Cher, quadrinhos e filmes antigos; "Unnusual Suspects", contando a história do Lone Gunman; "Detour", um episódio mais terror estilo as primeiras temporadas; "Travelers", um episódio de "época" que passa nos anos 50 e mostra o começo dos X-files, "Pine Bluff Variant" sobre bioterrorismo, e o excepcional double "Christmas Carol" e "Emily".
O dono da temporada é sem dúvidas o Vince Gilligan, que com as ocupações do Chris Carter no filme, escreveu vários episódios aqui, todos obras-primas à exceção da desapontante continuação do "Pusher". Seus melhores: Folie à Deux e o humoroso e genial "Bad Blood"
William Gibson, escritor cyberpunk do "Neuromancer", fez o espetacular "Kill Switch"; Stephen King fez o super creepy "Chinga".
Na mitologia, "Redux" é emotivo, encerrando o arco do câncer da Scully; "The End" prepara terreno pro filme. Mas talvez os dois melhores mythology da série são "Patient X" e "The Red And The Black", com o Krycek arrebentado, pois praticamente explicam tudo até aqui.
Mesmo pequena, a temporada quebra fórmulas, faz vários clássicos - e mesmo os não-clássicos ainda são ousados e interessantes - e entre os fãs da série é geralmente considerada uma das melhores.
É a despedida da primeira era de X-Files, que termina com o filme. Na sexta temporada, a série mudaria de Vancouver para Los Angeles e teria uma mudança grande na tonalidade dos episódios. (A mini-série que vai ao ar ano que vem voltará para Vancouver!)
Essa é uma das melhores temporadas da história da TV. Praticamente todos os episódios são impecáveis, cada um de uma forma e estilo diferente, dos 24 episódios tem umas 12 obras-primas, uns 8 excelentes e apenas uns 4 "apenas nota 7", que mesmo esses são perfeitamente apreciáveis porque a série é tão inventiva, versátil e original que funciona mesmo quando não funciona.
A gente pode separar por roteiristas pra falar dos méritos aqui. Primeiro, Glenn Morgan e James Wong, que voltaram pra série após o cancelamento de "Space: Above And Beyond", e depois saíram pra trabalhar em "Millennium". Esses dois são talvez os roteiristas mais importantes da história da série e os últimos e melhores episódios deles estão aqui.
Pra começar pelo ultra ofensivo, o episódio mais perturbado e assustador de X-Files até hoje, "Home", que além de tudo é uma obra-prima de roteiro e direção e certamente um dos pontos altos da série, apesar de ter sido banido logo após ter ido ao ar. "Home" mereceria um texto gigante a parte, mas vamos seguir com mais episódios da dupla; um sobre vidas passadas muito bonito, triste e original chamado "The Field Where I Died"; "Musings of a Cigarrete Smoking Man", clássico espetacular contando a vida do CSM; e "Never Again", episódio que tem desenvolvimento espetacular da Scully.
O próximo roteirista genial comandando essa temporada é Vince Gilligan, que mais tarde virou estrela por causa de Breaking Bad. Seus 3 episódios são perfeitos, 10/10 mesmo: "Unruhe" e "Paper Hearts", perturbadíssimos, especialmente esse último que é um dos meus favoritos da série, com brilhantes performances do Duchovny e do Mark Snow; e "Small Potatoes", um episódio de comédia genial que é tão sucessor dos episódios do Darin Morgan espiritualmente que o próprio Darin atua como o vilão.
Co-escrito por vários roteiristas está "Leonard Betts", mais um clássico, o episódio da série mais assistido de todos os tempos, que foi ao ar depois do Superbowl de 1997. Um episódio que é tudo que X-files é ao quadrado.
Chris Carter capricha como sempre nos episódios da mitologia. Os que abrem e fecham a temporada são tão cinematográficos que parecem ensaios pro filme que sairia no ano seguinte. "Tunguska/Terma" são ótimos pela excelente tensão - pra muitos sexual - entre o Krycek e o Mulder, mas os meus favoritos da mitologia dessa temporada são mesmo os mais humanizados "Tempus Fugit/Max", junto com a atuação incrível da Gillian Anderson em "Memento Mori"
O ultra gore e violento "Sanguinarium" é inacreditável de ter ido ao ar - e foi escrito por fãs que mandaram pelo correio; "Demons" foi escrito por um membro do crew que nem era roteirista e é uma obra-prima; "Elegy" é outra, redenção do roteirista John Shiban que tinha feito episódios mais fracos; "Zero-Sum" é um excelente episódio do Skinner
Você pode separar assim: a primeira temporada de X-Files, com um baixo orçamento, fez o show virar um cult-hit, com toda aquela atmosfera. A segunda temporada deu continuidade a isso, adicionando novas ideias e dando elasticidade a proposta da série. A terceira levou tudo a outro nível com orçamentos mais altos, episódios com novas propostas e a série ficando cada vez mais versátil.
A quarta temporada é onde enfim X-Files se tornou um mega hit, um programa assistido pelas massas, leadout do Superbowl daquele ano, com orçamentos grandes à disposição.
E pro mérito de uma equipe no ápice da forma criativa, X-Files nunca amoleceu ou sequer se orientou para ficar mais apelativo a um público amplo. A fórmula da série após começar a ter 30 milhões de audiência foi justamente ficar mais dark, mais violenta, mais perturbada, mais assustadora. Os próprios Mulder e Scully não obedeciam os padrões de beleza da época e viraram ícones sexuais.
Tudo porque, numa série altamente experimental, escrita e dirigida por gente ultra-talentosa com altos níveis de permissão criativa - inclusive da censura que incrivelmente deixou passar muita coisa - é o show que controla a audiência, e não o contrário.
A terceira temporada de X-Files é simplesmente irretocável. Só um episódio (Teso Dos Bichos) está abaixo, e mesmo ele tem uma ótima direção. Nos demais, a regularidade é impressionante.
Os episódios da mitologia são praticamente filmes divididos em duas partes; eles nunca foram tão grandiosos, explosivos, super produzidos e cheios de acontecimentos. Tanto que a partir desses que começaram a produzir o filme que sairia anos depois. Os episódios stand-alone são clássicos, sempre variando o tema, o tom, o comentário social, o senso de época e o estilo. Comentam de chats de internet (que surgia nessa época) até a vida de imigrantes chineses; há episódios paranormais (como um excelente sobre sequestro), e episódios sobre conspirações e mensagens subliminares. Todos funcionam - até um ótimo episódio do Skinner tem.
Os diretores e roteiristas estão em plena forma, e nessa temporada X-Files aos poucos passava de fenômeno cult pra hit mainstream, ganhando em produção, mas sem perder a profundidade e atmosfera. Gillian Anderson é cada vez mais incrível e até David Duchovny tem seus belos momentos aqui.
O maior destaque mesmo é uma figura chamada Darin Morgan, irmão de outro roteirista, Glen Morgan, que estreou na série como... figurante, dentro do Flukman. Darin começou a escrever os episódios humorísticos (e cheios de informação) da série na segunda temporada, com o brilhante Humbug.
Aqui ele coloca três: Clyde Buckman's Final Response, War of the Coprophages e Jose Chung's Outerspace. Três obras-primas que não só estão entre os melhores que a série já fez, mas das coisas mais inteligentes e intrigantes de toda a TV.
Darin só escreveu esses 4 episódios; mas estará de volta ano que vem na minisérie.
- Fotografia soberba, espetacular, nota 11 - Direção excelente - Atmosfera fodida, dark - Personagens (todos que aparecem pela série, não só os principais) complexos, fodidos, cheio de problemas pessoais, ou então nojentos, cínicos e corruptos, todos com uma proposta muito bem definida e a passagem de tempo na trajetória deles bem legal. - A resolução do crime principal(quem matou o Caspere) foi muito, muito boa, a relação com os Riots de 1992 foi muito legal. Embora no final das contas esse crime mal importasse. - Comentário social. A atriz mentindo sobre assédio e ferrando a carreira do Paul; o policial acusando a Bez de aliciar ele como vingança; as reações do Velcoro e da Bez depois do estupro; Velcoro e a paternidade do filho dele; o conflito do Paul com sua sexualidade; às críticas ao governo, empresários, pessoas poderosas e à corrupção policial. São grandes momentos que podiam até ser mais explorados. - Buas atuações. Tirando alguns momentos fracos do Vince, todos os outros mandam muito bem. - Cenas de ação e violência super realistas e perturbadas. - Soundtrack excelente.
Baixos:
- Não chega aos pés da primeira temporada. Elas só tem o nome em comum. - Confusão demais em elaborar um plot muito complexo e pretensioso, que infelizmente até tinha potencial se fosse bem enxugado. Desenvolver 4 personagens em 8 episódios e ao mesmo tempo andar com o crime foi muita pretensão. - Mortes baratas e forçadas. Não tenho nada contra matar um personagem principal, desde que tenha algum desenvolvimento por trás. Frank morrendo no deserto porque não quis dar o terno pra um cara? Tendo alucinações bizarras? E o Velcoro, cheio de munição, já tinha matado dois caras, praticamente se entregando? - Sexo barato e forçado. A relação da Bez com o Velcoro foi patética. Eles eram bem distantes e de repente viraram parceiros sexuais? Wtf. Essa necessidade de ter sexo e ter casais em tudo fode com vários filmes. Porque fica tão barato e mal desenvolvido. - Esperava mais do Final da série, foi um bom episódio, começou eletrizante, mas que do meio pra frente foi mal desenvolvido e falhou em redimir a série dos maus momentos. - Roteiro desleixado, diálogos filosóficos meio vexatórios perto dos da primeira e que só engrenou a série a partir do final do quarto episódio. Nic Pizzolato, o gênio por trás da primeira temporada (ou os gênios eram Matthew e Woody?), é o único a se culpar.
Conclusão: a segunda temporada de TD não repete o nível da primeira, mas jamais falha porque deixou de tentar. Na real, esforço é o que não faltou. A temporada foi ambiciosa até demais. Há uma quantidade de informação gigante aqui, o que faltou foi filtrar e lembrar que são só 8 episódios. As coisas ficam boas mesmo no final do quarto em diante.
Mas pra quem tem a cabeça aberta, tem muito a se apreciar nessa temporada e mais uma vez eles provam que tem uma equipe talentosa por trás - sobretudo a parte artística. Eles merecem crédito, pela primeira temporada espetacular e pelos méritos que a segunda teve, para a terceira que vem ano que vem.
Dei nota máxima pra primeira temporada, dei 9 pra essa por não ter o "fator revolução" da estreia, mas poderia muito bem ter dado 10. É o mesmo show da temporada anterior, poucas dinâmicas foram mudadas, mas no que está dando certo não se mexe e tudo que já dava brilhantemente bem na primeira temporada é levado adiante aqui, com muitas ideias amadurecendo, vários episódios Monster-of-the-week são clássicos absolutos (The Host, Die Hand, Red Museum, Our Town, etc) alguns que não funcionam tão bem mas que mesmo assim tem fortes virtudes, como a atmosfera que sempre é memorável e compensa nas poucas vezes que a história não é tão bem desenvolvida, episódios que quebram a dinâmica padrão da série como o lindo One Breathe, o perturbador Irresistible e o bizarríssimo episódio "Humbug", inaugurando um estilo de humor negro que não existia antes na série; e enfim ,os episódios da mitologia que estão simplesmente impecáveis, de tirar o fôlego como nunca estiveram antes, e créditos pro David Duchovny que além de atuar, deu pitacos pro Chris Carter escrever dois dos melhores episódios da mitologia, "Colony" e "Anasazi". Nem preciso mencionar os méritos da Gillian Anderson (que sobra em termos de atuação), do gênio Chris Carter, dos roteiristas regulares e todos os usuais.
Essa é uma temporada de uma série especial em plena forma, com uma equipe extremamente talentosa e sem medo de experimentar por trás dela. Ideias magníficas da temporada de estreia são levadas à outro nível e a natureza aberta da série, aliada ao fenômeno na cultura popular que ela virou, já sinalizava, lá em 1995, que ainda vinha muito pela frente
Gummo, pra mim, fica em um meio termo entre quem o ama e quem o odeia. A direção é estilosa e a demonstração de uma América que é completamente o oposto daquela glamourizada do Sonho Americano é convincente. Xenia é uma cidade destruída pela pobreza e o seu povo é tão ignorante e sem recursos que o completo niilismo é praticamente a única coisa que lhes resta.
Dito isso, o filme acaba sendo raso, uma vez que a crítica é superficial já que em nenhum momento é analisado quem é o causador de toda aquela situação. Também entra em contradição com o background de classe média de seu diretor - Gummo nunca parece um retrato da pobreza sob quem a vive, e sim sob os olhos de alguém de outra classe que está ali como o observador - no caso, o próprio Korine. O que faz algumas cenas, como a que ele próprio se apaixona por um anão negro, parecerem simplesmente uma piada hipster, enquanto outras, como da conversa na cozinha com quedas de braço, são mais convincentes.
Assim, Gummo funciona mais como um retrato interessante do que como uma crítica definitiva. É uma curiosidade para cinéfilos mais aventurosos, um filme saiu da zona de conforto, trouxe alguns frutos interessantes de lá, mas nada que efetivamente mudasse as regras do jogo.
O melhor filme de 2014 na minha opinião, Gone Girl é um clássico dos nossos tempos. A história absurda é cheia de críticas à relacionamentos, redes sociais e principalmente à mídia. O thriller é cheio de reviravoltas insanas e cada pedaço é construído cheio de detalhes que conciliam a paranoia do trama com as mensagens que o filme tenta passar com sua linguagem absurdista.
Ben Affleck é beneficiado pelo seu papel - ele é um cara tão estúpido que ser um ator ruim caiu como uma luva. Rosamund Pike, impecável, sobra no filme, mas a estrela mesmo é David Fincher, que retornou ao território thriller (embora Gone Girl não seja um thriller convencional), mas ainda usa várias ideias originais de direção e edição que foram concebidas no The Social Network.
É o próprio Fincher e sua equipe (que conta com a própria Gillian Flynn, autora do livro, escrevendo o roteiro) que torna a versão cinematográfica de Gone Girl um tour-de-force, confirmando junto com os últimos trabalhos do diretor que ele nunca parou de se atualizar e aperfeiçoar e talvez se encontre atualmente no ápice da forma artística, construindo imagens que estão entre as mais estilosas do cinema atual.
Um exemplo disso é soundtrack espetacular, mais uma vez a cargo de Trent Reznor, fugindo completamente do estilo tradicional de trilhas sonoras, uma vez que Trent, assim como Fincher, tem um estilo peculiar e uma forma não convencional de construir seus recortes.
O que, não menos como "Fight Club", nos dá a receita para transformar um grande livro em um grande filme: colocá-lo na mão de um diretor que tem seus próprias ambições artísticas.
Talvez o filme de humor mais relevante dos anos 2000, Borat é brilhante por dois motivos: pelo seu humor absurdamente agressivo e destemido e pela ironia de que tudo é justificado pela forma como o personagem do Cohen (que já existia no The Ali G show, popular na Inglaterra), ao se passar de um idiota que vem de uma sociedade atrasada e preconceituosa, acaba expondo o próprio ódio e preconceito dos tão "desenvolvidos" Estados Unidos.
O filme funciona tanto pelo humor trash quanto pelo significado profundo por trás dele, principalmente nos inteligentes choques culturais que a cultura ocidental causa não só com Borat, mas com tantos milhões no mundo afetados pela influência cultural dos EUA e da Europa.
Em uma cena especialmente genial, Borat e um cidadão de bem norte-americano encontram a homofobia como algo em comum; em outra, minimalisticamente, a adoração pela bandeira dos Estados Confederados é criticada. A Guerra do Iraque que rolava no momento que o filme saiu também não escapou de críticas.
Não fosse tão inteligente, Borat seria apenas insanamente agressivo e uma comédia definitiva para quem tem esse tipo de humor. Mas a significação de tudo por trás torna esse filme também essencial para qualquer um interessado em temas como antropologia, etnocentrismo e choque cultural.
[Pontos pro Cohen que durante toda a divulgação do filme, sempre deu entrevistas e apareceu em público dentro do personagem Borat, mostrando o quão talentoso ele é como performer e o quanto ele levou a sério a proposta.]
Stranger Things (1ª Temporada)
4.5 2,7K Assista AgoraA estética de Goonies. E.T e Eerie Indiana com um plot Stephen King contado como se fosse um episódio de Arquivo X. Pra mim funcionou melhor no papel porque os personagens são genéricos, previsíveis e a escrita e o trama da série nunca estão a nível da direção de arte e das atuações
Prós:
+ Direção, arte, fotografia, a recriação dos 80s de um filme do Spielberg é perfeita
+ Atuações, especialmente da Winona e da 11
+ É bem escuro e nas matas, que nem as melhores séries são (e raramnete uma série é tão escura)
Contras:
- Personagens genéricos com alguns subplots horríveis tipo o do playboy tentando comer a nerd.
- Escrita fraca com vários diálogos meio embaraçosos.
- Trama interessante mas sem nada de novo e com alguns problemas de consistência
- A série força toda hora jogar referências à cultura pop na cara do expectador e nunca parece natural, e sim uma tática de merchandising. Alguém ensina a eles que referência a cultura pop é algo sutil e não gritar na tela o nome de outros produtos o tempo todo
- A história esticou demais pra 8 episódios, e como várias séries Netflix, tem fillers bem fracos no meio desses 8 episódios, alguns onde não acontece nada, só enrolação. Podia ser uma série tipo Black Mirror onde cada episódio contava uma história diferente no universo da série e esse plot podia ser história pra 1 episódio só (ou pra um duplo). Ou mesmo um longa-metragem de 2h, se juntar os melhores momentos da série deve dar umas 2h mesmo, cortando todos os subplots fracos e fillers.
Ainda recomendo, mas pra quem curte tais temas em específico
The Wire (3ª Temporada)
4.7 78A terceira temporada de The Wire volta o foco para os personagens e arcos da primeira, mas assim como a segunda, acrescenta uma nova instituição na narrativa: a política de Baltimore. Essa temporada vale mais que uma tese de pós-phd para entender muita coisa na sociedade. Hamsterdam, os corpos caindo, fones descartáveis, as situações políticas da cidade, a redenção do Cutty. O nível de detalhismo aqui com todos os vários temas levantados e até a "ficção" das drogas legalizadas e suas consequências positivas que uma sociedade conservadora se recusou a olhar são de cair o queixo, chocar. Eu fico sem ter o que falar porque paguei pau nos textos das duas temporadas anteriores e - de alguma forma - a série consegue ficar ainda melhor nessa obra-prima irrefutável de temporada. Apenas assista cada segundo que essa série produziu, a primeira e a segunda temporada são excepcionais, mas a terceira e a quarta são os prêmios pra quem ficou até ali. E na TV moderna, serializada e de complexas narrativas, as duas temporadas do meio de The Wire são o prêmio máximo.
Obs: Vale ver como o Tommy Carcetti, bem intencionado no começo, virou um político comum após ser orientado pela coordenadora de campanha. O carreirismo destruindo a ideologia.
The Wire (2ª Temporada)
4.4 73A segunda temporada de The Wire é ainda superior a primeira. Ela toca numa questão muito negligenciada na sociedade: por onde entram as drogas no país? Aproveitando para estabelecer um arco inteiro baseado na entrada de drogas, prostitutas e aparelhos roubados nas zonas portuárias pelo mundo, The Wire apresenta o sindicado dos estivadores, trabalhadores de classe baixa que descarregam as mercadorias que entram no país. Ao mesmo tempo a série toca na corrupção e no "smuggling" das zonas portuárias em grandes cidades e na forma como a classe trabalhadora foi traída e abandonada. Dois coelhos numa cajadada só.
Arcos da primeira temporada são colocados em segundo plano, mas nunca negligenciados. A série - que não tem personagens principais - não tem medo nenhum de dar muito tempo de tela para novatos, que aproveitam muito bem - a família Sobotka, em atuação e importância, toma conta da temporada, com seus problemas funcionais. Frano Sobotka é o líder de um sindicado traído e falido, fazendo de tudo para reeguer. Nick e Ziggy, um dos personagens mais perturbados da série, são jovens de classe trabalhadora que entram no mundo das drogas por opção, não por obrigação como D'Angelo e os personagens da primeira temporada.
Novas perspectivas, arcos feitos de forma perfeccionista - as meninas mortas foi espetacular, Laura Palmer ao quadrado. A segunda temporada de The Wire foi mal recebida pelos fãs na época que não simpatizaram com as histórias entorno das docas - talvez porque a audiência branca se viu demais em Nick e Ziggy e se sentiu ofendida? Anos depois, já é consenso a obra-prima que foi a segunda encarnação de The Wire. E o assustador é que a série ainda iria melhorar mais...
The Wire (1ª Temporada)
4.6 170 Assista AgoraThe Wire é a narrativa mais perfeccionista talvez da história do entretenimento - contando séries e filmes. O show ignora todas as regras e estratégias de narrativa da TV e se constrói como se fosse um livro. O criador é um jornalista criminal que cobriu a maioria da situações da série, assim como o co-criador que é um ex-detetive da polícia de Baltimore. A sala de roteiristas de The Wire tem escritores de livros, não de roteiros. O trabalho de pesquisa é feito de forma praticamente acadêmica e direção, produção, sonorização são perfeccionistas - tirando series finale, a série só tem música quando ela toca em algum rádio na cena, toda a sonorização de The Wire é feita com gravações reais da parte da cidade de Baltimore onde foi filmada - onde o show é todo gravado, com vários atores locais, às vezes com personagens que existem na vida real, como a Snoop (que aparece na terceira temporada) e um antigo prefeito da cidade que aparece de figurante. Inspirado em grandes obras da literatura e tragédias gregas, The Wire não tem cliffhangers, mistérios ou recursos de série como coisas do tipo. A história é contada sem apelação nenhuma e é sustentada pela própria qualidade de primeira linha da narrativa, sem maquiagens - no final você até já sabe o que aconteceu há muito tempo, mas o desenrolar é incrível pela simples riqueza de detalhe. Dos produtos baseados na realidade, sem contar com livros, The Wire é imbatível e inalcançável. Nada foi feito igual. O décimo quinto personagem da série é mais interessante do que o protagonista da maioria das séries populares.
Aqui você tem a introdução ao mundo das escutas, a Guerra ás Drogas - onde a polícia nunca é colocada como herói, e sim como instituição falha, enquanto muitas vezes os traficantes são humanizados e é perfeitamente possível simpatizar com eles, presos naquele mundo. Como dito antes, a série tem dezenas de personagens inesquecíveis que poderiam ter uma série separada para si próprios.
Como a maioria da grandeza artística, leva um tempo para pegar. Dê uns 5 ou 6 episódios de chance à série. No começo, parece tudo confuso - não há apresentação didática como outras séries. Mas o final compensa - ninguém que viu essa série até o fim discorda que ela é um dos maiores dramas já feitos. Ou então você prefere partir para o prazer imediato fast-food da maioria das séries, com seus cliffhangers baratos, episódios explosivos de forma genérica e etc. Aliás, foi o que público fez na época que The Wire foi ao ar...
Alien: O Oitavo Passageiro
4.1 1,3K Assista AgoraDivisor de águas em ambos terror e sci-fi, Alien transformou o otimismo das space operas dos anos 70 em um futuro espacial dark e tomado pelas corporações (coisa que o Ridley Scott ia explorar ainda mais no Blade Runner), misturou com a grande ascensão que o horror teve na mesma década (ele vendeu como "Tubarão no espaço"), pegou elementos de filmes antigos como "Thing from another world" e criou o clássico definitivo do híbrido "Sci-fi + Horror"
Alien é um dos filmes mais importantes do cinema moderno por inúmeras razões. Não só o trabalho state-of-art em direção, som, visuais, atmosfera e o design artístico do Alien by H.R Giger que influenciaram tudo dos dois gêneros que vieram a seguir, mas uma atuação humana e mais que convincente de um elenco que não era estrelar na época, e introduziu Ellen Ripley, a protagonista feminina mais importante da história do cinema, empoderada sem dar satisfação a ninguém, sem precisar ser salva e fora a desnecessária parte da cena da calcinha no fim, sem ser sexualizada.
Assistindo hoje é difícil se assustar; nossa geração viu horror trash e hardcore e coisa mais violenta e assustadora em jornal na TV aberta, mas em 1979, numa época sem internet e sem excessos gráficos, o filme deixou muita gente sem dormir. O que não envelheceu é a atmosfera e a tensão. Alien é uma obra-prima e um dos filmes mais influentes, não só no cinema, de todos os tempos
Alien 3
3.2 540 Assista AgoraAlien 3 é o grande injustiçado da quadrilogia Alien. Criticado pelos fãs e pela crítica até hoje, foi o primeiro filme do impecável David Fincher e o desenvolvimento foi intensamente problemático com problemas na equipe, nas filmagens e roteiros sendo reescritos.
É fácil ver porque Alien 3 foi tão impopular: o filme já toma atitudes impopulares nas primeiras cenas
matando personagens principais do filme anterior - a cena da autopsia da Newt é a mais perturbadora de toda a série pra mim
Alien 3 é um grande filme onde o xenomorph é um personagem que talvez nem precisava existir. Talvez fosse um filme sem o nome da franquia seria mais aclamado - mas Ripley é essencial aqui. O setting low-tech no planeta-prisão, onde Ripley é a única mulher, é particularmente meu favorito de toda a série. A direção do Fincher é espetacular e o tom noir dado ao espaço já prevê seu próximo trabalho, Se7en.
Quando o xeno começa a atacar e os prisioneiros, todos estupradores, pedófilos, criminosos e assassinos, começam a se questionar o que realmente tem a perder. É quando Alien 3 toca no seu tema central: niilismo. O filme é um drama perturbador que mostra personagens que bem antes do monstro começar a atacar, já tinham perdido a esperança. A religião é usada de forma excelente pela primeira vez na série.
O problema em Alien 3 são suas cenas de ação, onde os prisioneiros tentam capturar/enfrentar o xenomorph sem armas. São particularmente confusas e desinteressantes - a primeira metade do filme onde exploram o universo do planeta prisão é a melhor
O desfecho da trilogia, nas cenas finais, até fãs que não gostaram do filme aprovaram. Alien 3 é (mais) uma brava drástica mudança de direção na franquia e merece ser reavaliado pelos seus méritos próprios e seus temas únicos tratados de forma peculiar.
PS: A "Assembly Cut" tem 30 minutos de novo material, além de "consertar" cenas antigas. É a versão definitiva disparada e alguns críticos já começaram a reavaliar o filme por essa versão.
Aliens: O Resgate
4.0 809 Assista AgoraUma das melhores sequels da história do cinema ao lado do segundo Godfather, Aliens é uma aula de como fazer uma sequência de uma história fechada. O filme dedica o seu primeiro ato a expandir a mitologia do primeiro, contando o trágico futuro de Ripley, mostrando mais da corrupta "companhia" e eventualmente colocando a heroína de volta ao planeta do primeiro filme. O segundo ato de Aliens é perfeição cinematográfica. Sem jamais largar o horror do primeiro filme, James Cameron transforma Aliens num irretocável épico de ação. Há mais monstros, há armas dessa vez, e muitas armas gigantes e descoladas. Toda fórmula de transformar um filme intimista em ação tinha tudo para destruir um filme Alien, mas a ação é comandada por desespero, tensão, claustrofobia e a luta para sobreviver. Protagonistas militares começam a sucumbir psicologicamente e Aliens fica incessante.
Os novos personagens são todos excelentes e mais uma vez bem atuados - Bishop e Newt em especical - e Ellen Ripley se consolida como protagonista feminina mais importante da história do cinema. É aqui a atuação onde ela chuta bundas, dramática, estressada, não-sexualizada, uma sobrevivente que não deve nada a ninguém. A Director's Cut contém uma cena que dá toda uma profundidade nova pra personagem durante o todo filme, inacreditável ter sido cortada
-mostrar que ela tinha uma filha
Aliens é quase tão importante quanto seu primeiro filme - a influência até nos one-liners em filmes de ação é inegável - e provável é mais divertido de se assistir. Se tem um problema, é o diálogo cheesy quando os marines são apresentados. Aliens é um raríssimo exemplo de terror ganhando elementos de ação de forma impecável, uma raríssima sequel de um clássico a altura do seu original e o melhor filme da carreira de James Cameron
OBS: Recomendo mais uma vez o Director's Cut fortemente
Fenda no Tempo
3.4 206 Assista AgoraA história, no livro "Four Past Midnight", é uma obra-prima.
O filme é um TV Movie B de baixo orçamento feito em 1995. Levando isso em consideração, é uma adaptação muito digna e com todo seu charme de filme B pra história (uma das mais underated da carreira do King). O orçamento baixo e os atores menos conhecidos contribuem pra estranheza da história ser ainda maior.
O fato de que uma história média (é apenas uma das 4 histórias do livro) ter sido adaptada pra uma minisérie de 3h de conteúdo significa que deu tempo para colocar TUDO que acontece na história. Em termos de plot, é uma adaptação perfeita.
Langoliers tem todo seu culto, muita gente viu numa tarde ou noite perdida na TV a cabo nos anos 90 e na época os CGIs ruins criticados aqui eram normais, então foi uma das coisas mais estranhas pra muita gente, especialmente quem era mais novo.
No final das contas, o feeling é de um longo episódio de Twilight Zone escrito pelo Stephen King, muito estranho e desolado, sem deixar de ser assustador e perturbado. Ainda que tenha seu valor como companion piece, seria legal ver essa história sendo refeita com um orçamento melhor - até porque o livro não é "terror B" de forma alguma.
Obs: Patética a tradução pra português com o spoiler. Por sorte quando eu vi isso na TV a cabo eu não vi o nome e tive a surpresa intacta
Arquivo X (10ª Temporada)
3.8 192 Assista AgoraA mini 10ª temporada mostra que X-Files ainda tem muita lenha pra queimar - talvez tenha lenha pra queimar eternamente, com os episódios "monster of the week" podendo tratar sobre absolutamente qualquer coisa. Os 4 do 6 que são nesse formato são os melhores da volta; "Were-Monster" escrito pelo legendário Darin Morgan é o melhor de todos, um clássico instantâneo tão bom quanto qualquer um dos melhores episódios da série, fazendo jus a aclamação que os episódios mais humorosos da série recebem pelo tratamento humano que eles dão.
Founder's Mutation é um clássico monster of the week aterrorizante, bem dark e violento; o excelente "Babylon" é intrigante, toca em temas políticos atuais e é a loucura deliciosa que a série assumiu lá pra 6ª temporada. "Home Again" é mais dramático, um counterpart ao clássico "One Breathe", com uma grande atuação da Gillian Anderson, que sobra mais uma vez na série. É uma alegria ver a maravilhosa e inacabável química dela com o Duchovny, que nos momentos humorosos da série mandou demais, mostrando o que aprendeu em Californication (aliás, mesmo antes Duchovny já era um excelente ator humoroso)
O ponto forte da 10ª temporada é a passagem de tempo. Mulder e Scully, na meia-idade, se adaptando uns aos outros e ao mundo atual - inclusive a tecnologia - foi algo trabalhado de forma muito delicada. O clima político atual de 2016, passado o baque do 11 de Setembro, voltou a uma paranoia bem parecida com a dos anos 90, então temas atuais como excesso de tecnologia, isolamento, false flag e conspirações na Internet se adequaram perfeitamente à volta da série. A exploração do personagem do William fez todo sentido no cliffhanger.
A mitologia da série, com o primeiro e último episódio, foi menos consistente apesar de vários momentos memoráveis. Ficou parecendo que faltou tempo para desenvolver, e apareceram alguns momentos lame e principalmente inconsistências com o que a série estabeleceu lá trás. Mas estou confiante que deixou o terreno preparado para ser arrumado numa temporada mais longa. O mais legal é a porra toda ficando louca no final - algo que X-Files sempre evitou porque não podia largar a narrativa noir pra virar um Guerra dos Mundos. Mas o episódio final, mesmo com falhas, foi bombástico e o cliffhanger pra próxima temporada foi excelente - tem espaço pra uma nova temporada de 10 ou 12 episódios fácil, resolvendo a mitologia e trazendo mais monstros da semana. Seria legal a volta do Vince Gilligan (Breaking Bad e Better Call Saul), um dos melhores roteiristas da série nos 90s que hoje deve estar ainda melhor com as obras-primas que fez.
Ficou a sensação que essa nova temporada foi a banda voltando a tocar junto, aquecendo os motores para retomar a grande forma, com mais calma, numa mais longa 11ª temporada, mas a 10ª temporada tem seus próprios méritos, é uma alegria ver Mulder e Scully de novo, fiéis a passagem do tempo em uma temporada que olha pra trás sem nunca se apoiar na nostalgia e olha pra hoje em dia sem nunca perder a identidade de saber onde veio.
PS: Não recomendo começarem por aqui. Dá pra entender, mas a passagem de tempo e os easter eggs são o mais legal dessa temporada. Só ver o Mulder com um telefone gigante por 202 episódios pra achar tanta graça nele tiozão perdido num smartphone.
O Regresso
4.0 3,5K Assista Agora(Spoilers)
Direção boa. Fotografia linda (em uma locação que até a camera de um motorola daquele de 2007 ia conseguir uma fotografia espetacular).
Mas o roteiro é simplesmente uma fuckfest. Os acontecimentos da metade do filme foram filmados fora de ordem e depois que escolheram como colocar, tenho certeza. As coisas não fazem exatamente sentido. O filme já perde a credibilidade quando um urso ataca 3 vezes o Leo DiCaprio e em todas elas parece que ele foi orientado: urso, não amputa nada nem executa o Leo, porque o filme tem que durar 2 horas. E a grande cena de impacto dramático sobrevivencialista é o Leo dormir dentro de um cavalo? Wtf, amigos?
Nada no filme acontece fora do esperado o tempo todo. São cenas de sobrevivência clichês. A simpatia pelo protagonista é porque ele é o cara do Titanic, o personagem é inexistente - nada contra ser quietão, desde que ele não soltasse só frase vergonha alheia de tough-guy quando abre a boca. O filho aparece umas 3 vezes antes de morrer então nem deu tempo de ligar pra ele. Daí tem o Gui Wesley e o Tom Hardy, esse com o único personagem desenvolvido do filme. Ou seja, com tanto personagem pouco desenvolvido, é difícil comprar a agonia do filme. Vira tédio. E o final do filme lança uns lances de alucinações/fantasmas que nem o próprio filme levava a sério antes. Pelo menos o filme critica o homem branco e fica do lado dos índios , mas o homem branco do mal não são os AMERICANOS, ok? São os franceses!. Mas enfim, qual o ponto? Não tem mensagem política nem moral, é tudo uma desculpa pra mostrar paisagens legais
E se o Leo ganhar o Oscar por essa atuação onde ele basicamente faz o que eu faço todo dia que acordo de ressaca - tendo perdido pela atuação legendária de Wolf of wall street - vai ser triste demais.
Escândalos: Os Bastidores do Poder (1ª Temporada)
4.2 147 Assista AgoraGoofy, mas eventualmente interessante pela diversidade de gêneros (é uma série de detetive? advogado? política? a mistura é bem legal), por algumas sólidas atuações (a principal e o senhor gay que trabalha com o presidente) e alguns tapas nos conservadores. Mais coerência e verossimilidade na história e nos personagens (alguns só existem pra usar atores bonitos) é até injusto cobrar de uma série para esse tipo de público. E pra quem não pertence a ele, ainda é bem dispensável, mas, pra um novelão que é, Scandal arrisca e tenta cosias diferentes bem mais que o normal.
Steve Jobs
3.5 591 Assista AgoraDifícil entender o propósito desse filme. Não que ele não devia existir, mas a proposta mesmo. Além de vários documentários, dois filmes notáveis sobre o Jobs já tinham sido feitos - o "Piratas do Vale do Silício", mesmo desatualizado em 1997, é o melhor disparado. Então esse tenta ser diferente, ter outra perspectiva, mas de uma forma pouco definida que acho que nem o Danny Boyle entendeu direito no que ele quis focar.
O recorte é muito estranho. Ele passa no backstage de três conferências vitais na carreira de Jobs: o Macintosh, o Next (ambos fracassos), e a sua volta a Apple nos anos 90 - e o ponto mais legal dessa última, que é a parceria anunciada com o Bill Gates no telão, é ignorado. Ou seja, é um filme com ênfase na decadência, profissional e pessoal, da vida do Jobs.
De cara ele já ignora os maiores feitos da carreira dele - o Apple 2 e a popularização dos PCs; e o sucesso do iPod, iPhone, iPad nos anos 2000. Esses momentos de glória são tratados com mínimas menções, praticamente ignorados no filme, ou seja, ele é o pior possível pra mostrar para alguém que quer saber QUEM FOI Steve Jobs - a Pixar é esquecida.
Fica pior. Vários momentos fictícios são inseridos nessa que devia ser uma biografia. O diretor ainda assume com orgulho nas entrevistas, usando shakespeare como desculpa. O relacionamento do Jobs com o Woz, o Sculley e com a filha Lisa é perigosamente romantizado - o print no fim, uma história falsa, não emociona e parece até mal gosto à história de uma figura importante como o Jobs. Numa vida com tanto a falar quanto a dele, pra que colocar coisas ficticias? Sabendo dessas coisas, o filme perde credibilidade - e mesmo o filme não tem foco se está falando sobre a vida pessoal ou profissional dele, acabando mostrando as duas de forma superficial.
Não é uma perda total. É bonito, bem dirigido, bem atuado - apesar do Fassbender novo ficar absurdamente diferente de como era o Jobs. Tem algumas cenas memoráveis (que como o filme não faz questão de ser verdadeiro o tempo todo, eu não faço ideia se aconteceram de verdade). E se esforçar muito para encontrar algum lugar para esse "Steve Jobs", é como um recorte complementar às outras obras sobre a vida dele. Ou seja, se você é apaixonado pela história da informática e já assistiu todos os outros filmes sobre o Jobs, talvez esse seja um recorte diferente interessante. Mas fora isso, use melhor seu tempo pra ver o filme que indiquei no primeiro parágrafo - até em respeito a importância do próprio Steve Jobs.
--------
ou resumindo em uma frase: "um filme pointless sobre 30% da vida do Jobs - e o 30% menos importante que aconteceu no meio dela".
Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7K Assista AgoraEsse filme ser considerado "obra-prima" ou "filme do ano" diz muito sobre o estado das coisas atuais onde hype, marketing e a empolgação coletiva são muito maiores que qualquer julgamento crítico sobre as obras.
Mad Max Fury Road é bom, mas só bom. A ambientação, atuações, direção, efeitos especiais, cenas de ação e direção artística são excelentes - tirando aquele cara tocando guitarra que é a coisa mais cheesy do mundo. O que é compensado com um filme praticamente sem plot, sem desenvolvimento de história nenhum, é praticamente uma cena de perseguição de 2h, só ação e ação e os bons momentos de desenvolvimento de personagem ou mesmo do universo pós-apocalíptico são raríssimos. Mesmo a ação, carro chefe do filme, é apenas boa, com poucos momentos memoráveis.
No fim das contas é um filme de ação com algumas cenas legais, ambientação incrível, mas que nunca desenvolve seu mundo ou seus personagens, ficando constantemente tedioso, monótono e repetitivo. Ainda vale se assistir pela excelência técnica, mas não é nada imperdível. Sou grande fã de filmes pós-apocalipticos, inclusive do Road Warrior que esse aqui não chega nem aos pés, e esse não acrescenta nada ao gênero.
O ponto mais alto do filme mesmo é a narrativa com empoderamento das mulheres, um ponto onde o filme foi atualizado com esplendor - mas mesmo isso é muito menos desenvolvido do que tinha potencial para ser, nesse filme que capricha no estilo mas esquece a substância.
Millennium (1ª Temporada)
4.1 17Uma série a frente do próprio tempo e única de várias formas, Millennium é uma obra de arte. É tanto uma série mais arty, bem influenciada pelo formato da sua série irmã X-Files, mas também por Twin Peaks e Se7en, com toques bíblicos e simbológicos, quanto um dos primeiros shows que mostrava o uso de tecnologia, profiling, autopsias e recursos assim na investigação criminal, anos antes de Criminal Minds ou CSI.
A atmosfera da série na chuvosa Seattle é uma das mais soturnas e obscuras já vistas na TV; e com certeza uma das séries mais violentas, deprimidas e perturbadas da história da TV aberta, algo que contribuiu no seu cancelamento e em muitos protestos de grupos religiosos na época. Só a primeira temporada de "True Detective", bem influenciada por Millennium, fez algo parecido em termo de densidade atmosférica, mas ainda assim na TV a cabo.
Millennium é, além de tudo, sobre o mal no mundo. A proposta da série nunca fica muito bem definida na primeira temporada, o que é ótimo pois deixa o terreno bem experimental, mas o ênfase é na maldade - sejam na forma mais sobrenatural, ou em vários episódios onde é simplesmente o mais puro mal humano mesmo - afinal, a série nasceu de "Irresistible", um dos poucos X-Files sem nada de sobrenatural.
A estrela é Lance Henriksen, grande e subestimado ator que aqui tem a melhor atuação de toda sua carreira. De 0 a 10, eu dou 20 pra atuação do Lance como Frank Black, o grande personagem da "1013 Productions", junto com Mulder e Scully.
Há muito a se debater tanto sobre a simbologia quanto sobre o lado humano da série. E na segunda temporada a série muda bastante de tom, começa a focar mais na mitologia que é bem tímida na primeira e acaba por ser ainda melhor. Mas a primeira temporada e seus casos perturbadíssimos tem seu valor, que é gigante.
Não é uma série pra todos, mas quem tiver estômago para encarar o que o ser humano tem de pior e habitar o mundo soturno e apocalíptico que a série passa, vai levar Millennium no coração pela vida.
Arquivo X: O Filme
3.5 182 Assista AgoraNa altura que esse filme saiu, X-Files era um dos produtos culturais mais quentes dos anos 90, os episódios chegavam a números absurdos de 20-25 milhões de TVs ligadas na audiência e o filme usou uma boa parte do seu orçamento maior na parte do marketing, criando um hype gigantesco.
Quado ele saiu, cinemas lotados, todo mundo viu, retornou 3 vezes o investimento que foi colocado nele... mas ao contrário da expectativa (surreal) de alguns produtores, não virou uma super saga cinematográfica como Star Wars. E nem teria como, visto que a série é tão bem sucedida e bem apegada ao formato televisivo, tendo sido a série de ficção cientifica que ficou no ar seguidamente por mais tempo.
X-files já era uma super franquia, mas em outro meio, na televisão. Para conquistar o cinema também, seria necessário abandonar muito do que foi construído nos então 5 anos de série até aqui, já que mesmo sendo uma das séries mais populares da década, grande parte do público do cinema não assistia a série regularmente.
Felizmente e assumidamente, Chris Carter, Frank Spotniz e cia ficaram em cima do muro, fazendo um filme com apelo tanto para os fãs de longa data quanto para os novos espectadores - pesando bem mais pros fãs.
Para quem não é fã da série, X-Files é um ótimo filme que na primeira metade tem toda a conspiração paranoica da série e na segunda se aproveita do orçamento para evoluir para um sci-fi épico.
Para os fãs da série, o filme é um sonho. Tudo que os fãs amaram na TV por 5 anos está aqui potencializado pelo orçamento e produção de pontas: as conspirações, a paranoia, o tom noir, praticamente todos os personagens principais (menos Krycek; como explicar ele pra quem nao vê a série?), o humor, o relacionamento muito bem trabalhado do Mulder e da Scully - e ponto pra eles por não ter rolado beijo, fugindo dos clichês - aliens, abelhas, black oil, vírus, híbridos, gente morrendo misteriosamente, tecnologia dos anos 90... Tudo que fez X-Files ser a série zeitgeist dos anos 90 aparece aqui de alguma forma. A história da mitologia anda, mesmo tendo que dar uns passos atrás para explicar coisas para quem não assiste, e algumas perguntas chave são respondidas.
Todo mundo que trabalha bem na série trabalha ainda melhor aqui. O roteiro é criativo e o filme voa porque nunca deixa de ser interessante. A direção é espetacular. Os efeitos especiais dão de 10x0 em filme que sai hoje quase 20 anos depois. A trilha sonora do gênio Mark Snow é talvez a melhor da sua carreira e comanda o filme. Duchovny mostra o quanto ele evoluiu em 5 anos e encara o grande papel como a estrela que virou. Gillian Anderson é absolutamente perfeita, seriamente uma das melhores atrizes da história da TV
Todos esses estavam fazendo uma série cult de um novo canal chamado Fox em 1993, saindo da obscuridade, e anos depois estavam fazendo um dos filmes mais produzidos do ano em Hollywood. Ver a lenta evolução das minhocas em CG na primeira temporada pras cenas impressionantes na Antartida no fim é fantástico
Chamar de "episódio estendido" é injusto. Bem verdade que os fãs da série vão apreciar muito mais isso aqui - é a razão da nota máxima, daria 8 como filme avulso da série. Mas é difícil chamar algo com dessas proporções de episódio de TV estendido - embora X-Files sempre tenha sido a série mais cinematografica da TV até ali, de qualquer forma.
No fim do filme, os X-Files são reabertos e meses depois, a Fox cancela a ideia de tornar a série uma franquia de filmes e renova por mais duas ótimas temporadas. Filmes de X-Files são sempre bem vindos, mas como grandes aberturas para, no final, voltarmos para o meio que deu, no final das contas, tanta liberdade criativa pra essa série ser o que é
Ali G Indahouse
2.9 82O programa dele era genial, mas o personagem não se traduziu tão bem no cinema, ainda mais na estrutura roterizada. Quando foi fazer o filme dos outros dois personagens do show, Borat e Bruno, o Sasha inteligentemente reverteu à estrutura de falso documentário e colocou eles pra interagir com pessoas de verdade - como o próprio Ali G fazia no programa e no filme se enfraqueceu por estar interagindo com atores, com falas escritas e etc. Sasha é sempre melhor no improviso, quando ele mesmo vira os personagens, do que em fazer comédia roterizada. Ele é bom em fazer interações sociais e usar seus personagens imbecis como ferramenta para tirar o preconceito das próprias pessoas, algo que acontece em Borat e Bruno.
Ainda assim o filme tem momentos engraçados e toscos, sobretudo da cultura dos anos 2000 que olhando de hoje é muito, muito tosca, mas só é recomendado pros fãs do Sasha e pra quem conhece o lado mais pobre da Inglaterra moderna o suficiente pra captar o humor bem interno em vários trechos.
O Ali G, mesmo sendo o personagem que deu fama ao Sasha, não é o seu melhor, mas quem quiser conhecê-lo em ação pra valer, recomendo baixar os episódios do Ali G Show. O filme é um mero complemento divertido.
Arquivo X (5ª Temporada)
4.5 58 Assista AgoraEssa é a temporada mais experimental de X-Files, já que o filme estava sendo produzido, Duchovny e Gillian não estavam disponíveis para todos os episódios e então tiveram que se desapegar as formulas para fazer episódios únicos. Com isso, embora não atinja os high lights da 3ª e da 4ª temporada, essa é mais uma temporada do show no topo da sua forma, e o melhor, a temporada com mais episódios "únicos" que começaram a romper as fórmulas tradicionais da série, inclusive com escritores consagrados convidados para escrever episódios.
Destaques são a jóia absoluta "The Post Modern Prometheus", um dos melhores episódios da série, que homenageia Cher, quadrinhos e filmes antigos; "Unnusual Suspects", contando a história do Lone Gunman; "Detour", um episódio mais terror estilo as primeiras temporadas; "Travelers", um episódio de "época" que passa nos anos 50 e mostra o começo dos X-files, "Pine Bluff Variant" sobre bioterrorismo, e o excepcional double "Christmas Carol" e "Emily".
O dono da temporada é sem dúvidas o Vince Gilligan, que com as ocupações do Chris Carter no filme, escreveu vários episódios aqui, todos obras-primas à exceção da desapontante continuação do "Pusher". Seus melhores: Folie à Deux e o humoroso e genial "Bad Blood"
William Gibson, escritor cyberpunk do "Neuromancer", fez o espetacular "Kill Switch"; Stephen King fez o super creepy "Chinga".
Na mitologia, "Redux" é emotivo, encerrando o arco do câncer da Scully; "The End" prepara terreno pro filme. Mas talvez os dois melhores mythology da série são "Patient X" e "The Red And The Black", com o Krycek arrebentado, pois praticamente explicam tudo até aqui.
Mesmo pequena, a temporada quebra fórmulas, faz vários clássicos - e mesmo os não-clássicos ainda são ousados e interessantes - e entre os fãs da série é geralmente considerada uma das melhores.
É a despedida da primeira era de X-Files, que termina com o filme. Na sexta temporada, a série mudaria de Vancouver para Los Angeles e teria uma mudança grande na tonalidade dos episódios. (A mini-série que vai ao ar ano que vem voltará para Vancouver!)
Arquivo X (4ª Temporada)
4.5 89 Assista AgoraEssa é uma das melhores temporadas da história da TV. Praticamente todos os episódios são impecáveis, cada um de uma forma e estilo diferente, dos 24 episódios tem umas 12 obras-primas, uns 8 excelentes e apenas uns 4 "apenas nota 7", que mesmo esses são perfeitamente apreciáveis porque a série é tão inventiva, versátil e original que funciona mesmo quando não funciona.
A gente pode separar por roteiristas pra falar dos méritos aqui. Primeiro, Glenn Morgan e James Wong, que voltaram pra série após o cancelamento de "Space: Above And Beyond", e depois saíram pra trabalhar em "Millennium". Esses dois são talvez os roteiristas mais importantes da história da série e os últimos e melhores episódios deles estão aqui.
Pra começar pelo ultra ofensivo, o episódio mais perturbado e assustador de X-Files até hoje, "Home", que além de tudo é uma obra-prima de roteiro e direção e certamente um dos pontos altos da série, apesar de ter sido banido logo após ter ido ao ar. "Home" mereceria um texto gigante a parte, mas vamos seguir com mais episódios da dupla; um sobre vidas passadas muito bonito, triste e original chamado "The Field Where I Died"; "Musings of a Cigarrete Smoking Man", clássico espetacular contando a vida do CSM; e "Never Again", episódio que tem desenvolvimento espetacular da Scully.
O próximo roteirista genial comandando essa temporada é Vince Gilligan, que mais tarde virou estrela por causa de Breaking Bad. Seus 3 episódios são perfeitos, 10/10 mesmo: "Unruhe" e "Paper Hearts", perturbadíssimos, especialmente esse último que é um dos meus favoritos da série, com brilhantes performances do Duchovny e do Mark Snow; e "Small Potatoes", um episódio de comédia genial que é tão sucessor dos episódios do Darin Morgan espiritualmente que o próprio Darin atua como o vilão.
Co-escrito por vários roteiristas está "Leonard Betts", mais um clássico, o episódio da série mais assistido de todos os tempos, que foi ao ar depois do Superbowl de 1997. Um episódio que é tudo que X-files é ao quadrado.
Chris Carter capricha como sempre nos episódios da mitologia. Os que abrem e fecham a temporada são tão cinematográficos que parecem ensaios pro filme que sairia no ano seguinte. "Tunguska/Terma" são ótimos pela excelente tensão - pra muitos sexual - entre o Krycek e o Mulder, mas os meus favoritos da mitologia dessa temporada são mesmo os mais humanizados "Tempus Fugit/Max", junto com a atuação incrível da Gillian Anderson em "Memento Mori"
O ultra gore e violento "Sanguinarium" é inacreditável de ter ido ao ar - e foi escrito por fãs que mandaram pelo correio; "Demons" foi escrito por um membro do crew que nem era roteirista e é uma obra-prima; "Elegy" é outra, redenção do roteirista John Shiban que tinha feito episódios mais fracos; "Zero-Sum" é um excelente episódio do Skinner
Você pode separar assim: a primeira temporada de X-Files, com um baixo orçamento, fez o show virar um cult-hit, com toda aquela atmosfera. A segunda temporada deu continuidade a isso, adicionando novas ideias e dando elasticidade a proposta da série. A terceira levou tudo a outro nível com orçamentos mais altos, episódios com novas propostas e a série ficando cada vez mais versátil.
A quarta temporada é onde enfim X-Files se tornou um mega hit, um programa assistido pelas massas, leadout do Superbowl daquele ano, com orçamentos grandes à disposição.
E pro mérito de uma equipe no ápice da forma criativa, X-Files nunca amoleceu ou sequer se orientou para ficar mais apelativo a um público amplo. A fórmula da série após começar a ter 30 milhões de audiência foi justamente ficar mais dark, mais violenta, mais perturbada, mais assustadora. Os próprios Mulder e Scully não obedeciam os padrões de beleza da época e viraram ícones sexuais.
Tudo porque, numa série altamente experimental, escrita e dirigida por gente ultra-talentosa com altos níveis de permissão criativa - inclusive da censura que incrivelmente deixou passar muita coisa - é o show que controla a audiência, e não o contrário.
Arquivo X (3ª Temporada)
4.5 113 Assista AgoraA terceira temporada de X-Files é simplesmente irretocável. Só um episódio (Teso Dos Bichos) está abaixo, e mesmo ele tem uma ótima direção. Nos demais, a regularidade é impressionante.
Os episódios da mitologia são praticamente filmes divididos em duas partes; eles nunca foram tão grandiosos, explosivos, super produzidos e cheios de acontecimentos. Tanto que a partir desses que começaram a produzir o filme que sairia anos depois. Os episódios stand-alone são clássicos, sempre variando o tema, o tom, o comentário social, o senso de época e o estilo. Comentam de chats de internet (que surgia nessa época) até a vida de imigrantes chineses; há episódios paranormais (como um excelente sobre sequestro), e episódios sobre conspirações e mensagens subliminares. Todos funcionam - até um ótimo episódio do Skinner tem.
Os diretores e roteiristas estão em plena forma, e nessa temporada X-Files aos poucos passava de fenômeno cult pra hit mainstream, ganhando em produção, mas sem perder a profundidade e atmosfera. Gillian Anderson é cada vez mais incrível e até David Duchovny tem seus belos momentos aqui.
O maior destaque mesmo é uma figura chamada Darin Morgan, irmão de outro roteirista, Glen Morgan, que estreou na série como... figurante, dentro do Flukman. Darin começou a escrever os episódios humorísticos (e cheios de informação) da série na segunda temporada, com o brilhante Humbug.
Aqui ele coloca três: Clyde Buckman's Final Response, War of the Coprophages e Jose Chung's Outerspace. Três obras-primas que não só estão entre os melhores que a série já fez, mas das coisas mais inteligentes e intrigantes de toda a TV.
Darin só escreveu esses 4 episódios; mas estará de volta ano que vem na minisérie.
Minhas notas:
03x01: 8
03x02: 10
03x03: 8
03x04: 10
03x05: 8
03x06: 8
03x07: 9
03x08: 9
03x09: 9
03x10: 10
03x11: 7
03x12: 10
03x13: 8
03x14: 7
03x15: 10
03x16: 10
03x17: 10
03x18: 6
03x19: 8
03x20: 10
03x21: 9
03x22: 8
03x23: 9
03x24: 10
True Detective (2ª Temporada)
3.6 772Essa temporada teve muita coisa dando certo e muita coisa dando errando:
Altos:
- Fotografia soberba, espetacular, nota 11
- Direção excelente
- Atmosfera fodida, dark
- Personagens (todos que aparecem pela série, não só os principais) complexos, fodidos, cheio de problemas pessoais, ou então nojentos, cínicos e corruptos, todos com uma proposta muito bem definida e a passagem de tempo na trajetória deles bem legal.
- A resolução do crime principal(quem matou o Caspere) foi muito, muito boa, a relação com os Riots de 1992 foi muito legal. Embora no final das contas esse crime mal importasse.
- Comentário social. A atriz mentindo sobre assédio e ferrando a carreira do Paul; o policial acusando a Bez de aliciar ele como vingança; as reações do Velcoro e da Bez depois do estupro; Velcoro e a paternidade do filho dele; o conflito do Paul com sua sexualidade; às críticas ao governo, empresários, pessoas poderosas e à corrupção policial. São grandes momentos que podiam até ser mais explorados.
- Buas atuações. Tirando alguns momentos fracos do Vince, todos os outros mandam muito bem.
- Cenas de ação e violência super realistas e perturbadas.
- Soundtrack excelente.
Baixos:
- Não chega aos pés da primeira temporada. Elas só tem o nome em comum.
- Confusão demais em elaborar um plot muito complexo e pretensioso, que infelizmente até tinha potencial se fosse bem enxugado. Desenvolver 4 personagens em 8 episódios e ao mesmo tempo andar com o crime foi muita pretensão.
- Mortes baratas e forçadas. Não tenho nada contra matar um personagem principal, desde que tenha algum desenvolvimento por trás. Frank morrendo no deserto porque não quis dar o terno pra um cara? Tendo alucinações bizarras? E o Velcoro, cheio de munição, já tinha matado dois caras, praticamente se entregando?
- Sexo barato e forçado. A relação da Bez com o Velcoro foi patética. Eles eram bem distantes e de repente viraram parceiros sexuais? Wtf. Essa necessidade de ter sexo e ter casais em tudo fode com vários filmes. Porque fica tão barato e mal desenvolvido.
- Esperava mais do Final da série, foi um bom episódio, começou eletrizante, mas que do meio pra frente foi mal desenvolvido e falhou em redimir a série dos maus momentos.
- Roteiro desleixado, diálogos filosóficos meio vexatórios perto dos da primeira e que só engrenou a série a partir do final do quarto episódio. Nic Pizzolato, o gênio por trás da primeira temporada (ou os gênios eram Matthew e Woody?), é o único a se culpar.
Conclusão: a segunda temporada de TD não repete o nível da primeira, mas jamais falha porque deixou de tentar. Na real, esforço é o que não faltou. A temporada foi ambiciosa até demais. Há uma quantidade de informação gigante aqui, o que faltou foi filtrar e lembrar que são só 8 episódios. As coisas ficam boas mesmo no final do quarto em diante.
Mas pra quem tem a cabeça aberta, tem muito a se apreciar nessa temporada e mais uma vez eles provam que tem uma equipe talentosa por trás - sobretudo a parte artística. Eles merecem crédito, pela primeira temporada espetacular e pelos méritos que a segunda teve, para a terceira que vem ano que vem.
Arquivo X (2ª Temporada)
4.5 123 Assista AgoraDei nota máxima pra primeira temporada, dei 9 pra essa por não ter o "fator revolução" da estreia, mas poderia muito bem ter dado 10. É o mesmo show da temporada anterior, poucas dinâmicas foram mudadas, mas no que está dando certo não se mexe e tudo que já dava brilhantemente bem na primeira temporada é levado adiante aqui, com muitas ideias amadurecendo, vários episódios Monster-of-the-week são clássicos absolutos (The Host, Die Hand, Red Museum, Our Town, etc) alguns que não funcionam tão bem mas que mesmo assim tem fortes virtudes, como a atmosfera que sempre é memorável e compensa nas poucas vezes que a história não é tão bem desenvolvida, episódios que quebram a dinâmica padrão da série como o lindo One Breathe, o perturbador Irresistible e o bizarríssimo episódio "Humbug", inaugurando um estilo de humor negro que não existia antes na série; e enfim ,os episódios da mitologia que estão simplesmente impecáveis, de tirar o fôlego como nunca estiveram antes, e créditos pro David Duchovny que além de atuar, deu pitacos pro Chris Carter escrever dois dos melhores episódios da mitologia, "Colony" e "Anasazi". Nem preciso mencionar os méritos da Gillian Anderson (que sobra em termos de atuação), do gênio Chris Carter, dos roteiristas regulares e todos os usuais.
Essa é uma temporada de uma série especial em plena forma, com uma equipe extremamente talentosa e sem medo de experimentar por trás dela. Ideias magníficas da temporada de estreia são levadas à outro nível e a natureza aberta da série, aliada ao fenômeno na cultura popular que ela virou, já sinalizava, lá em 1995, que ainda vinha muito pela frente
Vidas sem Destino
3.7 657Gummo, pra mim, fica em um meio termo entre quem o ama e quem o odeia. A direção é estilosa e a demonstração de uma América que é completamente o oposto daquela glamourizada do Sonho Americano é convincente. Xenia é uma cidade destruída pela pobreza e o seu povo é tão ignorante e sem recursos que o completo niilismo é praticamente a única coisa que lhes resta.
Dito isso, o filme acaba sendo raso, uma vez que a crítica é superficial já que em nenhum momento é analisado quem é o causador de toda aquela situação. Também entra em contradição com o background de classe média de seu diretor - Gummo nunca parece um retrato da pobreza sob quem a vive, e sim sob os olhos de alguém de outra classe que está ali como o observador - no caso, o próprio Korine. O que faz algumas cenas, como a que ele próprio se apaixona por um anão negro, parecerem simplesmente uma piada hipster, enquanto outras, como da conversa na cozinha com quedas de braço, são mais convincentes.
Assim, Gummo funciona mais como um retrato interessante do que como uma crítica definitiva. É uma curiosidade para cinéfilos mais aventurosos, um filme saiu da zona de conforto, trouxe alguns frutos interessantes de lá, mas nada que efetivamente mudasse as regras do jogo.
Garota Exemplar
4.2 5,0K Assista AgoraO melhor filme de 2014 na minha opinião, Gone Girl é um clássico dos nossos tempos. A história absurda é cheia de críticas à relacionamentos, redes sociais e principalmente à mídia. O thriller é cheio de reviravoltas insanas e cada pedaço é construído cheio de detalhes que conciliam a paranoia do trama com as mensagens que o filme tenta passar com sua linguagem absurdista.
Ben Affleck é beneficiado pelo seu papel - ele é um cara tão estúpido que ser um ator ruim caiu como uma luva. Rosamund Pike, impecável, sobra no filme, mas a estrela mesmo é David Fincher, que retornou ao território thriller (embora Gone Girl não seja um thriller convencional), mas ainda usa várias ideias originais de direção e edição que foram concebidas no The Social Network.
É o próprio Fincher e sua equipe (que conta com a própria Gillian Flynn, autora do livro, escrevendo o roteiro) que torna a versão cinematográfica de Gone Girl um tour-de-force, confirmando junto com os últimos trabalhos do diretor que ele nunca parou de se atualizar e aperfeiçoar e talvez se encontre atualmente no ápice da forma artística, construindo imagens que estão entre as mais estilosas do cinema atual.
Um exemplo disso é soundtrack espetacular, mais uma vez a cargo de Trent Reznor, fugindo completamente do estilo tradicional de trilhas sonoras, uma vez que Trent, assim como Fincher, tem um estilo peculiar e uma forma não convencional de construir seus recortes.
O que, não menos como "Fight Club", nos dá a receita para transformar um grande livro em um grande filme: colocá-lo na mão de um diretor que tem seus próprias ambições artísticas.
Borat - O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão …
3.4 1,2K Assista AgoraTalvez o filme de humor mais relevante dos anos 2000, Borat é brilhante por dois motivos: pelo seu humor absurdamente agressivo e destemido e pela ironia de que tudo é justificado pela forma como o personagem do Cohen (que já existia no The Ali G show, popular na Inglaterra), ao se passar de um idiota que vem de uma sociedade atrasada e preconceituosa, acaba expondo o próprio ódio e preconceito dos tão "desenvolvidos" Estados Unidos.
O filme funciona tanto pelo humor trash quanto pelo significado profundo por trás dele, principalmente nos inteligentes choques culturais que a cultura ocidental causa não só com Borat, mas com tantos milhões no mundo afetados pela influência cultural dos EUA e da Europa.
Em uma cena especialmente genial, Borat e um cidadão de bem norte-americano encontram a homofobia como algo em comum; em outra, minimalisticamente, a adoração pela bandeira dos Estados Confederados é criticada. A Guerra do Iraque que rolava no momento que o filme saiu também não escapou de críticas.
Não fosse tão inteligente, Borat seria apenas insanamente agressivo e uma comédia definitiva para quem tem esse tipo de humor. Mas a significação de tudo por trás torna esse filme também essencial para qualquer um interessado em temas como antropologia, etnocentrismo e choque cultural.
[Pontos pro Cohen que durante toda a divulgação do filme, sempre deu entrevistas e apareceu em público dentro do personagem Borat, mostrando o quão talentoso ele é como performer e o quanto ele levou a sério a proposta.]