Daigo Kobayashi (Masahiro Motoki) é um violoncelista que se vê frente a dissolução da orquestra onde havia sido recentemente incorporado, a partir desse evento questiona seu talento para a música e decide retornar a sua cidade natal, onde começará uma jornada de reencontro com sua própria história ao mesmo tempo em que lidará com sua nova atividade, emprego buscado sem que tivesse conhecimento do que se tratava, aceito nele, passará a participar da preparação dos mortos para a “última jornada”.
Daigo nos demonstra todo nojo e horror que a morte nos desperta em sua feiúra e ameaça. Enfrenta os conflitos que essa sua nova ocupação o colocará, Já seu chefe, parece ser um homem totalmente absorvido por essa delicada tarefa, que desempenha com dedicação e muito afeto. Daigo percebe esse afeto em todos os cuidados que Ikuei Sasaki (Tsutomu Yamazaki), agora seu mestre, coloca em cada preparação do morto para sua colocação no caixão, a cerimônia evidencia tudo aquilo que de certa forma vemos contemplado nos estudos sobre o luto, onde podemos ver que essas cerimônias de funeral servem para que os vivos possam começar o grande trabalho que representa a vivência do luto e o “desenlutamento” que deverá vir com o tempo. Daigo observa e aos poucos do nojo e horror vão cedendo lugar para um verdadeiro apaixonamento, começará a entender a morte, “a jornada”, como algo que representa, muito, um sublinhar sobre a vida de quem fica, dos vínculos que foram constituídos por aquele que parte, fim de todos nós afinal. A preocupação com a maquilagem que transformará esse cadáver naquilo que foi quando habitado pela energia da vida é um detalhe tocante na confecção do mestre e que Daigo logo se dará conta, minúcia delicadamente abordada nesse filme.
Capturado pela morte, nosso protagonista se volta à vida com uma força até então desconhecida, abraçado ao seu violoncelo utilizado quando era criança, tocará para o grande espaço, descobrindo no prazer de tocar sua grande ligação não somente com a música, mas com sua própria história que fala de um abandono paterno que Daigo ainda não conseguiu processar em sua emoção. Todos temos tarefas de luto inacabadas, sabemos disso em algum lugar do nosso ser, assim como sabemos que só realizando-as poderemos descobrir a beleza do vínculo que estar vivo representa e a marca que todos nossos afetos deixam depois de passar por nós. Aqui lembramos, por associações possíveis, de uma cena muito forte que tem em outro filme japonês intitulado “Dolls”(Direção Takeshi Kitano – 2002) onde uma jovem tenta se suicidar após ser abandonada por seu noivo, salva da morte, esse noivo passa a andar com ela para toda parte, pulsos amarrados aos seus, com receio de que ela volte a tentar o suicídio(matá-lo dentro de si mesma?). Outro filme sobre o qual vale fazer reflexões sobre vida, morte, culpa, prazer e repetição, elaboração, liberdade e natureza dos vínculos. Representações possíveis acerca da tarefa do luto e “desaprisionamento” da relação acusação/culpa/perdão/desapego/elaboração. .....
Quando propusemos uma possível Cinematerapia, comentamos sobre a possibilidade de se deixar invadir pelas emoções que o cinema nos desperta. É preciso se deixar envolver e o filme despertará algo em seu psiquismo.
Nada melhor do que a “realidade 3D”, onde ao invés de você adentrar no filme, ele “vem” até você. A terceira edição do desenho veio neste formato e a experiência é bastante interessante, uma vez que desenhos com suas belas metáforas, trazem consigo mensagens que podem levar à reflexões.
Se puder, assista acompanhado com crianças, naquela bagunça que somente elas sabem fazer no cinema. Se permita voltar no tempo, a sua infância, e curta um momento de regressão somente seu, repleto de efeitos especiais. É claro que com isso, você terá que ver o filme dublado (infelizmente, não é uma das melhores já realizadas).
O desenho versa sobre relações familiares, laços afetivos e em como a chegada de um novo membro pode alterar a dinâmica familiar. Nada mais produtivo para uma cinematerapia, seja pessoal, seja em grupos de adolescentes e crianças. Uma belíssima história de como construímos nossos laços afetivos ao longo de nossas vidas.
Ellie, a mamute, está “grávida” e preste a ter seu filhotinho. O pai, Manny está ansioso como tantos outros, tentando se adaptar as responsabilidades que o papel social exige. Um filho nos traz a imortalidade (nome de família) e ao mesmo tempo nos define para sempre como mortais que somos. Seja em que idade for que isso aconteça é um despedir-se da grata imortalidade juvenil. Nos damos conta rapidamente disso ao olharmos para aquele ser ali tão desprotegido em sua fragilidade em desenvolvimento.
Estamos proibidos de morrer, a vida passa a ter sentido duplo, aumentado, redefinido. Manny e Ellie, como todo casal, passam por essas transformações e dúvidas e seus personagens, metaforicamente, começam a assumir posturas mais adultas, tendo a fêmea adotado a posição decisória.
A pequena “Amora” vai chegar, e como diria Freud, como “sua majestade o bebê”, nos impõem suas necessidades, nos ensinam a ouvi-los, nos acolhem em nossas desmedidas emoções. Como nos diz Luis Cláudio Figueiredo: “De qualquer forma, mantém-se a hipótese de que, antes de mais nada, um bebê é o suporte para as transferências de seus pais, não apenas um objeto de seus cuidados desinteressados, e de que é a partir desta condição que uma subjetividade se organiza, na forma de uma resposta à transferência”.(Sugerimos a leitura completa do texto no link A)
Com direção de Joseph Rubene, roteiro de Gerald di Pego e estrelado por Julianne Moore, Alfre Woodard, Gary Sinise e Dominic West.
Se, estamos falando de cinema e psicologia ou de cinematerapia, será que faz algum sentido falarmos desse filme? Essa foi a pergunta que nos fizemos ao decidir escrever sobre essa estranha película cinematográfica. Se o desfecho dela não tem muita relação com a psicologia em si, transformando aquilo que veríamos como delírio em uma possibilidade real, toda a argumentação construída ao longo do filme é muito interessante para pensarmos a partir de um olhar, para questões estudadas e compreendidas pelo campo psi.
O filme narra a história de uma mãe, Kelly Paretta (Julianne Moore), que perdeu seu filho há aproximadamente um ano e começa a viver uma estranha situação, porque tudo a sua volta, assim como todos, tentam convencê-la de que seu filho jamais existiu. Segundo estes, ela o teria perdido durante a gravidez e por isso, como mecanismo de defesa, haveria desenvolvido toda uma construção delirante acerca da existência de um filho, inclusive com fragmentos de lembrança que aparecem com alguma constância.
Tanto seu marido, Jim (Anthony Edwards), como seu médico Dr. Munce (Gary Sinise), tentam mostrar-lhe evidências de que tudo não passa de uma fantasia ligada a uma dificuldade de elaborar sua perda, que seria apenas um delírio reparador. Kelly Paretta segue em estado de confusão, porém sem duvidar das suas sensações internas sobre a existência de seu filho, confusa e desorientada segue, até que conhece Ash Correll (Dominic West), que seria pai de outra criança que também teria sido uma das vítimas do acidente com um pequeno avião que estaria levando em excursão crianças de uma escola.
Inicialmente ele também pensa que ela é apenas uma mulher em estado confusional, que estaria precisando de ajuda e tratamento, embora ela tente convencê-lo de que seu filho e uma suposta filha dele, teriam sido muito amigos. Ash se encontra em uma fase também muito conturbada e sofre com um estado de alcoolismo recente. Kelly, fugindo do Dr. Munce e de seu marido Jim, passa a noite na casa de Ash cuidando dele, e ao acordar repete sua história para. Ele frente a narrativa, chama a polícia para levá-la de sua casa. Ela havia retirado todo papel de parede do quarto que teria sido da filha de Ash e por debaixo dele encontravam-se muitos desenhos feitos na parede, habito esse de desenhar que teria a filha de Ash, segundo Kelly, permitido por ele. Ash primeiramente argumenta que deviam ser desenhos de antigos moradores, até que a lembrança o assalta e começa a ter flashs de momentos com sua filha.
Os amantes de Psicopatologia ao ver essa cena vibram e sempre questionam: Seria um “folie à deux”(delírio compartilhado)? Daí pra frente o filme toma rumo impensáveis, interessantes também para nosso exercício criativo e de alguma maneira como uma metáfora a respeito de como nós mesmos, não precisamos de alienígenas para fazer isso, estudamos sobre nossos comportamentos muitas vezes de maneira indutiva com uma neutralidade um tanto quanto impossível. Podemos ainda pensar nos alienígenas como os “demônios” internos, tão bem descritos por Rubens Alves em sua coluna mensal na Revista Psiquê.
Mas, o que nos interessa abordar quanto a temática desse filme? Justamente a questão dos vínculos entre crianças e seus “cuidadores”, aqueles que cumprem a função materna, que estabelecem aquilo que Winnicott nomeava de “holding” que fala de uma capacidade da mãe de identificar-se com seu filho, estabelecer uma relação tão intensa que começará, antes de que, ele possa se ver como um organismo independente e se desenvolve no sentido da autonomia quando encontra aquilo que nomeia como uma “mãe suficientemente boa” que vai junto ao seu filho construindo essa possibilidade.
Encontraremos aí outro conceito bastante interessante que é o de verdadeiro self que fala daquilo que é o sujeito antes da entrada de todas as adaptações que fará em relação ao “ambiente”. Essa ligação que se estabelece nos cuidados com o bebê funda uma relação que muitos outros autores nomearão de formas mais variadas, mas que sustentam algo que costumamos pensar, quando se estabelece, como o chamado “amor incondicional”, onde aqueles que se permitem tocar por ele, são modificados de uma maneira bastante significativa. .....
Esse é um filme delicado que fala sobre Psicose e sobre Religião. E todos nós sabemos quanto é delicada esta questão. Acreditamos que alguns pontos sobre esse tema, relacionando Psicologia e Religião, precisam ser esclarecidos.
É complicado quando lidamos com esse tema e é um dos que mais aparece em debates virtuais. Quase que diariamente são mencionadas situações que envolvem a religião e psicologia. Falar sobre Religião dentro de um contexto psicológico e social é uma coisa, mesclar religião com Psicologia é outra. Prometer curas atreladas à religiosidade, usando teorias psicológicas não faz parte das atribuições do profissional Psicólogo(e de nenhum outro do campo psi). Se você conhece algum profissional que use de religião dentro do trabalho como Psicólogo, sugerimos que procure orientação no Conselho Regional de Psicologia (CRP). O nosso Código de Ética do Profissional do Psicólogo não permite esse tipo de associação. Portanto, desconfie de trabalhos psicoterápicos atrelados a qualquer que seja a corrente religiosa.
Existem diversos “tipos de conhecimento”, sendo a Religião em deles, e a Ciência, outro. Estamos, portanto, trabalhando no campo da ciência psicologia, e a religião aqui tem um papel específico. Sabemos que muitas ou mesmo maioria das vezes, alguma tensão se instala entre esses dois campos.
A religião entra em nossos estudos como um evento coletivo, um fenômeno, uma crença, uma necessidade. Existem mil possibilidades de entendimento deste objeto de estudo, mas não como um pressuposto teórico, pois não é Psicologia.
Um religioso usa seus conhecimentos na área para ajudar aqueles que o procuram. Este é seu papel. Um psicólogo, usa a psicologia e os conhecimentos do campo psi para auxiliar seus pacientes.
Assim, a religião adentra o consultório (setting) somente em um sentido. É uma mão-única[2] que vem somente do paciente ou analisando. A religião do profissional fica do lado de fora do consultório e não faz parte de nenhum pressuposto teórico de nenhuma escola da Psicologia.
O que isso quer dizer? Não estamos, nem pretendemos, ignorar as crenças religiosas. Elas existem e devem ser respeitados, pois antes de tudo, são um Direito Constitucional.
O profissional psicólogo precisa entender o significado que essas crenças têm no psiquismo do paciente, sempre com muito respeito e acolhimento.
Esse filme é recomendado para pessoas que convivem com pacientes já diagnosticados com tipos de psicose. Serve como identificador de sofrimento, ou seja, ver que outras famílias também já passaram por isso e sofreram também e que há sim, uma possibilidade de ajudar este familiar, esse ser que sofre. A Religião é apenas uma das maneiras, e nessas horas, devemos nos utilizar de todas as possíveis. Para os profissionais, há um material importante sobre Religião e comportamento e em como pode haver interferência na psicoterapia. Útil para refletir que o profissional “embarca” com seu paciente, na tentativa de um resgate, dentro das próprias crenças dele (paciente). ....
Estamos em 2007. Temos como cenário a grande Nova Iorque, com seu terror pós-atentado e uma sociedade cansada de guerras infundadas e com medo! Medo do novo....medo de novos comportamentos....medo de novos formatos de relacionamentos e família. No centro de tudo temos Tracy Turnblad - uma típica jovem adulta americana, que busca a fama a todo custo. Veste roupas de marcas européias, idolatra a magreza anoréxica fashionista, usa um piercing babel, vive sonhando em sala de aula e seu grande sonho é participar de um desses “reality shows”, onde estudos e intelectualidade não são pré-requisitos necessários.
Ooops....erro grotesco! Essa parecia a vida de quase toda jovem adolescente dos dias de hoje, mas apesar da similaridade, neste filme temos um cenário um pouco diferenciado.
O ano é 1962, a cidade é Baltimore, localizada a nordeste do território americano. O incidente chave da participação americana na guerra do Vietnam ainda não ocorrera, entretanto, o medo gerado pela Guerra Fria tomava conta dessa sociedade, ainda bastante impregnada com idéias racistas. O medo tem dois lados: um político (comunismo) e um social (racismo). Nossa protagonista-heroína é sim Tracy Turnblad, que os invés de um piercing e roupas de moda, usa seu típico penteado no maior estilo “Jackie”. Seu sonho não é estar no “Reality Show” com câmeras espalhadas em uma casa, mas sim, em um programa de dança juvenil, ao vivo na TV, que prega que o importante é viver o “aqui e o agora” o mais intensamente possível, quase como um preparativo para uma ideologia de vida nos anos seguintes, que levaria milhares de jovens a Woodstock.
Nossa heroína atrapalhada não esta sozinha. Não tem um IMC (índice de massa corporal) solicitado nas passarelas de Milão e apesar de estar “ligeiramente” acima do seu peso, aposta no seu potencial, com ajuda de seu pai Wilbru (Christopher Walken) e sua mãe, Edna (John Travolta). Sim, Travolta retorna ao estilo musical, quase 30 anos depois de “Grease” (1978), no papel de uma dona de casa, também acima do peso, com leves sintomas de fobia social, que não sai de casa há mais de 10 anos. Edna, inicialmente, não apóia sua filha, por achar que sua aparência não está compatível com a ditadura da moda da época, mas logo percebe que viver o sonho da filha também será uma maneira de revivenciar alguns de seus maiores medos e conflitos e assim, amenizá-los. É através da jornada da filha que Edna aceitará seu corpo e redescobrirá sua sensualidade, sexualidade e seu casamento.
Como todo filme americano, a fórmula básica exige que tenhamos um vilão. Neste caso, o clã malvado é liderado por Velma Von Tussle (Michelle Pfeiffer). Uma vilã com traços europeus, quase sociopática, obcecada pelo sucesso, fama e beleza. Mais uma daquelas tão típicas mães americanas que empurram suas filhas para o estrelato a todo o custo, nos quais muitos casos derivam em transtornos alimentares.
Tracy não é apenas um catalisador para sua mãe, mas sim, para toda uma comunidade negra, segregada pela sociedade local. Encabeçando esta turma está Motormouth Maybelle, interpretada pela Diva Queen Latifah. Motormouth é uma líder comunitária que coordena um grupo de jovens negros dançarinos com sonhos de liberdade e igualdade de direitos.
Mas como nossa heroína rechonchuda pode nos ajudar? Estamos lidando aqui com um belíssimo filme sobre “Imagem corporal”, que grotescamente definindo, seria a imagem psíquica que temos de nos mesmos. Em uma leitura mais Psicanalítica, sabemos que o processo de formação da imagem corporal tem, obviamente, sua base no que Freud chamou de “Princípio do Prazer”, e se funde com o próprio processo de formação do Ego, passando pela Ego Função e Ego projeção, onde nossos sentidos (no termo mais biológico possível), são fundamentais, posteriormente sendo necessário o Outro. Ou ainda nas operações de alienação e separação no que Lacan denominou de “Estádio do Espelho”.
Nós, profissionais psi, sabemos do grande impacto que um prejuízo na auto-imagem corporal pode causar no comportamento de um sujeito, especialmente na adolescência. E em como as figuras parentais são importantes neste longo processo. Grande parte dos transtornos alimentares ocorrem hoje em adolescentes do sexo feminino, pressionadas por uma industria da moda e beleza, em uma plataforma de magreza exagerada. Tracy nos trás um exemplo positivo a ser utilizado com referência de aceitação e pacífica convivência com seu peso, dentro de parâmetros considerados saudáveis.
Do ponto de vista social, temos ainda uma excelente exemplificação de racismo, que Freud nos coloca como uma forma de esteriotipização mais narcisica e destruitiva. Não há como negar a superioridade da “ginga” e ritmo das dançarinas negras, bem como na “quase” consciente inveja e medo daqueles responsáveis por esta segregação.
Portanto, prepare seu spray, sua roupa de época, chiclete, muita pipoca e vontade de dançar. Se ao final do filme você não estiver estalando os dedos, batendo palmas ou os pés no chão e vibrando com as cenas musicais, é sinal de que você não conseguiu captar a essência do filme.
O mestre do terror chega as telas com mais um de seus filmes. E em época bem oportuna. Quando se pensa em terror, o primeiro e único nome que nos vem a mente é Stephen King e sua coleção de obras literárias, que, nem todas com grande sucesso, foram adaptadas ao cinema. O Nevoeiro foi uma das que deu certo!
Lançado nos cinemas brasileiros ao mesmo tempo que o projeto LHC (Large Hadron Collide), tomou conta da mídia, onde os cientistas tentavam recriar, na Europa, o Big Bang, e pessoas no mundo inteiro temiam que um buraco negro engolisse o planeta como resultado desta experiencia, o filme atraiu diversos espectadores, fascinados pelas teorias sempre mirabolantes e quase perversas, propostas pelo pacato escritor. Sua capacidade de amedrontar aqueles que lêem ou assistem as adaptacões de suas obras é unica e qualquer amante de suspense ou terror concorda com sua peculiar forma de se expressar.
Mas, o que um filme de suspense interessa aos profissionais e estudantes psi ? Muita coisa! São nessas situações, onde os personagens são levados aos seus limites de tolerância psicológica, que alguns quadros interessantes são apresentados, e passíveis de inferências.
E porque temos tanto interesse em filmes de suspense ou ficção cientifica ? Estaria isto relacionado a nossa necessidade de entender ou prever o futuro? Freud ja postulava que quanto mais se conhece em relação ao passado e ao presente, mais inseguro nos tornamos em relação ao nosso proprio futuro. Talvez a ficção cientifica venha preencher essa lacuna no nosso psiquismo, ocupando um espaço que nem mesmo as nossas mais positivas ciências conseguem prever. Outra análise possível seria pela própria experimentação da angústica como uma certa realização de desejo por parte do psiquismo, aquilo que popularmente chama-se de “injeção de adrenalina”.
Em momentos de alto nível de estresse, os personagens tentam recorrer à racionalidade, em meio a uma situação digna da ficção, dificil e distante de acreditar. É nessas horas que a irracionalidade toma conta e vemos claramente o que Freud escreveu em 1927, em “O futuro de uma Ilusão”, quando afirma que os regulamentos, instituições e ordens da sociedade existem para preserva-la e a defender do PRÓPRIO individuo “O estado proíbe ao indivíduo a prática de atos infratores, não porque deseje aboli-los, mas sim porque quer monopolizá-los.” Quando não se tem mais policia, bandido, juizes e legislação, ou a quem recorrer, as “pulsoes hostis” podem tomar contar e causar estragos. Sem ter para onde correr ou a quem pedir ajuda, os “habitantes” da micro-comunidade que se forma dentro do mini-mercado passam a agir por conta própria, com suas próprias leis, novas regras ou normas estabelecidas. Fragilizados pela situação atipica em que se encontram, se tornam vulneráveis às pulsões mais hostis, como se seu superego tivesse “adormecido”, uma vez que não pode ser reforçado pelas normas existentes, deixando a mostra o que Freud chamou de “tendências destrutivas”. Essas tendências destrutivas seriam próprias da pulsão de morte, que se move sempre aliada a pulsão de vida que é composta pela primeira dualidade da teoria freudiana, englobando então as pulsões sexuais e de auto-preservarção que atuariam juntas em uma mesma corrente. O organismo tende a destruição, mas preservará sempre sua tendência a morrer como escolhe. Salvar-se é uma premissa anterior a qualquer outra e para esse fim o aparelho disporá de toda sua agressividade contra tudo e todos. Afrouxam-se os laços afetivos e volta-se para um estado anterior às normas civilizadas, criando novas regras dentro das novas relações de vínculo e sobrevivência. Temos relatos na vida real de várias situações onde grupos para sua sobrevivência compuseram novas regras e superaram todos os seus impedimentos superegóicos civilizados.
E a partir deste momento, no filme, que temos exemplificaçoes do que Freud chamou de “frustrações, proibições e privação”.
Um dos personagens mais interessantes do filme e Mrs. Carmody, interpretado por Marcia Gay Harden. Reparem como no começo do filme ela e apenas vista pelos demais habitantes do vilarejo como a “fanática religiosa” e com “mania de limpeza”. Ao longo do filme seu personagem cresce, em meio ao desespero dos demais, e suas “loucuras” passam a ser compartilhadas, como normas superegóicas infantis de identificação e dependência ao superego parental. Sua capacidade de argumentação cresce a medida que o desespero toma conta dos demais confinados aquele pequeno espaço de terror e desinformação. Ao se verem totalmente desamparados das restrições sociais, a merce da natureza, mais do que “natural” que se apegassem a questões religiosas. Freud já nos remeteu a esse sentimento de desamparo como a sustentação das religiões em seu texto “O Futuro de uma Ilusão”, onde aponta para toda a importância que o homem conferirá a alguns símbolos como tentativa de se proteger de um desamparo primordial, repetido nas sensações do bebê deixado sozinho em seu berço. Ali naquela vivência, cada sujeito será remetido a essa profunda sensação de desamparo frente a natureza e suas ameaças. Isto abre espaço para Mrs Carmody impor sua vontade sobre os demais, devido a remoção das restrições sempre propostas pela civilizaçao, se tornando nada mais do que uma tirana, governando os demais pelas suas proprias pulsões.
Há uma forma de contar a história desse filme e temos que começar pelo fim, sua revelação, o analfabetismo de Hanna. Outras tantas seriam possíveis e cabíveis.
Tomemos essa incapacidade como algo que amarra toda a trama que constrói esse filme, que começa como uma história de sedução e primeiro amor, lembrando um pouco um clássico do cinema com sua trilha sonora inesquecível, o filme “Verão de 42”(Summer of '42, 1971) vencedor do Oscar. No Brasil foi lançado com o título “Houve uma vez um verão”. Os dois filmes tratando de aspectos da 2ª Grande Guerra, em abordagens e contextos bastante diferentes, mas que trazem algo que os aproxima e que não é somente a aparente semelhança do enredo, meninos adolescentes em suas primeiras experiências sexuais com mulheres mais velhas que de alguma maneira nos transportam para a história emocionada da guerra.
Há algo a mais que amarra os dois, mas que somente o filme “O Leitor” irá nos contar, como se respondesse a uma pergunta que tenha ficado suspensa no ar, como parece ser a intenção do diretor(Stephen Daldry) ao encerrar o filme com a cena do nosso protagonista Michael Berg (interpretado por Ralph Fiennes quando adulto, e por David Kross quando jovem) narrando para sua filha, já mulher adulta, tudo que aconteceu com ele e Hanna quando ele tinha apenas 15 anos. E será que essa pergunta se refere apenas a vida desses jovens depois dessa experiência? Com certeza que não, embora também a isso tente responder e ao fazê-lo responde a bem mais que isso.
Essa talvez seja uma pergunta que tenha ficado pendente ao final do outro filme que nos referimos o Summer of’ 42: e depois, como seguiu a vida desse menino? O que teria acontecido ao mundo após a 2ª Grande Guerra? O que aconteceu com as relações que estabelecemos a partir disso? Logo de cara pensamos na grande transformação que houve do papel da mulher no mundo, sua inserção nele que se transforma radicalmente a partir desse episódio, a guerra. Hanna nos faz pensar nisso ao responder frente ao tribunal sobre o porquê não teria aberto as portas da igreja onde 300 prisioneiras sob sua guarda teriam morrido, responde Hanna: - mas nós éramos guardas, nossa tarefa era não permitir que fugissem! Mulheres cumprindo ordens, como lhes cabia muito bem. Essa de cara é uma mudança que sabemos ter ocorrido a partir das modificações que aconteceram via a entrada no trabalho de guerra da mão de obra feminina, como nos conta Marie Langer:
“Terminou a guerra. Voltaram os homens e se encontraram com uma mulher independente economicamente, consciente de seus valores, de cabelo cortado à “garçonne” e com uma liberdade sexual comparável à do homem. Ao não implicar conseqüências biológicas para ela, o ato sexual corria o risco de converter-se somente em fonte de prazer, de ter perdido transcedência e adquirido autonomia”(LANGER, M. in “Maternidade e Sexo”)
Mas, se pensarmos apenas nesse aspecto, a história de Hanna, não será contada como deve, afinal ela retrata o extermínio, a ausência de pensamento crítico, seu analfabetismo social, como em determinado ponto do filme, em uma discussão acontecida na aula de direito que Michael freqüenta durante o julgamento, seu colega pergunta a partir da sua revolta do como todos participaram daquilo, se todos sabiam o que estava acontecendo na Alemanha de Hitler, o que levou a que ninguém fizesse nada? Essa é uma pergunta que ainda dói e constrói a culpa dos países que compuseram o Eixo. Outros grandes diretores, como por exemplo, Rainer Werner Fassbinder, abordaram com grande precisão essa temática da opressão da culpa nos anos pós guerra......
Apesar de ser um filme lançado em 2005 nos cinemas, “A Prova” chegou sem muito alarde às locadoras brasileiras. Indicado para diversos prêmios (Incluindo o Globo de Ouro - Melhor Atriz em drama - Gwyneth Paltrow), este filme não teve o mesmo impacto junto ao público brasileiro.
Talvez não tenha também grande impacto nas locadoras, pois a leitura da sinopse nos remonta ao já tão conhecido Uma mente brilhante ( A Beautiful Mind, 2001) . O elenco por si só já vende o produto e espero, sinceramente, que isto seja o suficiente para atrair espectadores, pois o filme traz contribuições interessantes sobre Transtornos mentais, que podem ser úteis tanto para profissionais e estudantes, como para os leigos.
A adaptação da peça de teatro (original) para a tela grande já surpreende desde o começo, já se percebe que o filme traz um pouco mais de conteúdo do que os demais. Catherine (Gwyneth Paltrow) conversa com seu pai Robert (Anthony Hopkins), um momento totalmente familiar que passaria despercebido em uma cena simples. Temos então uma reviravolta inicial que para nós, profissionais psi, pode ser de grande utilidade.
A cena em questão traz o questionamento de que “os loucos não se perguntam se estão loucos”, o que nos remete aos conteúdos teóricos de Egossintonia e Egodistonia, um dos princípios diferenciadores das estruturas neurótica e psicótica. Na mesma cena, temos questionamentos sobre a hereditariedade ou não da Esquizofrenia, bem como dados estatísticos sobre o seu aparecimento.
Qualquer leitura de Manual de diagnóstico CID-10 ou DSM-IV-TR, poderá trazer mais luz a esta cena, onde se encontram informações sobre a incidência genética e a interação ambiental e suas influências no aparecimento da Esquizofrenia. Acho ainda interessante terem utilizado a idade “27 anos”, pois muitos autores afirmam que os esquizofrênicos normalmente têm seu primeiro episódio psicótico até esta idade, sendo raros os casos posteriores.
Pronto, então temos uma protagonista psicótica? Não necessariamente. A alteração na sensopercepção que ela tem no início do filme jamais poderia ser interpretada como um surto psicótico. Ao longo da trama, percebe-se que Catherine está passando por um momento de alto nível de estresse e que nessas situações é aceitável que um paciente possa se comportar de maneira intensa e um tanto fragmentada. Assim, podemos entender essa situação como apenas um “episódio”, pois não temos informações de uma anamnese mais detalhada para saber se estaríamos lidando com um surto. É importante que o leitor assista às cenas “extras” do DVD, pois acreditamos que uma delas tenha sido cortada justamente por este motivo. Nesta, Catherine aparece no banheiro conversando com seu pai, levando então, o espectador, a confirmar possíveis suspeitas de que ela, teria “herdado”, a doença dele (reparem que nesta cena ela usa uma expressão matemática para dizer que seu pai – alucinação visual e auditiva – não é “real”).
Assisti recentemente ao filme “O Clube do Livro de Jane Austin (The Jane Austen Book Club) e fiquei impressionado com as informações dos personagens dos Romances desta autora. Não têm como não se interessar pela saga de cada personagem mencionado e deixar se envolver pela influencia que exercem na vida daquelas pessoas.
Jane Austin viveu há alguns séculos, mas seus livros a tornaram imortal. É lida mundialmente e ganhou seu espaço nos romances mais lidos do mundo. Influenciado pelo Clube do Livro, resolvi re-ler alguns romances, ler outros, e principalmente, rever as adaptações para o cinema. O primeiro escolhido foi “Razão e Sensibilidade” (Sense and Sensibility). A saga da família Dashwood se consagrou nos cinemas em 1995, apresentando futuros astros, como Kate Winslet, e consagrando mais ainda alguns outros, como Emma Thompson e Hugh Grant.
O mais interessante, para mim, é poder rever algo 13 anos depois, mas desta vez, com uma “escuta clínica”, que perpassa por minha atuação profissional. É interessante perceber toda a rede de amor e intrigas, partir de um outro referencial.
O que mais me chamou a atenção foi a capacidade que Austin teve de compor a psicodinâmica de suas personagens, retratando com uma brutal veracidade, o universo psicológico, principalmente das personagens femininas. Não sou adepto a qualquer machismo ou feminismo, mas quanto mais me aproximo de Austin, mas acredito que apenas uma mulher é capaz de descrever a complexidade e magnitude do universo feminino. Talvez isso tivesse auxiliado, e muito, a Freud.
O cotidiano de Jane foi a Inglaterra do final dos 1700 e inicio dos 1800, mas me surpreende a atualidade de alguns conflitos mostrados. O que chama a atenção é a pacata vida, tão bucólica que beira a perfeição, mas mesmo assim, não há “felicidade” absoluta.
Questiono-me se seria mais fácil resolver conflitos naquela época do que na nossa. Hoje, além dos conflitos internos e o sofrimento psíquico que nos causam, temos que lidar com problemas “externos”, agravantes da situação, como violência, miséria, trânsito, etc.
As formas como as relações eram baseadas em valores distintos, trás inquietude, ao se ver o filme. A impressão é que havia uma “atividade superegóica” mais intensa, o que gerava uma necessidade maior de dispêndio de “energia psíquica”[caso quantificável] para o dia-a-dia. Falar exigia um maior “pensar”.Sentimentos eram mais escondidos. Andar, vestir, comer, demonstrar.....tudo parece ser mais “complexo” e dispendioso.
Porém, sobrava mais tempo para atividades intelectuais, como literatura e música.
Do outro lado, o ciúmes, inveja, corrupção, maldade...eram mais expressos abertamente, e não com a “velação” que se tem hoje, os tornando, talvez, mais prejudiciais. As cenas em que os personagens masculinos participam, agredindo verbalmente uns aos outros, demonstra isso.
De um jeito ou de outro, comparando aquela “sociedade” e a “nossa”, podemos nos questionar onde teria sido melhor viver, ou trabalhar [:]. O que me deixa a pergunta:
O que aconteceu com nossa “sociedade”, que deixamos chegar ao ponto em que estamos? Quando deixamos de ter “sensibilidade”, e consequentemente poesia e amor, e passamos a usar e sermos somente “razão”?
Intrigas, amores proibidos, escândalos, assassinatos, traições, pecados, blasfemia.....não, você não está assistindo a mais uma novela mexicana....esses são relatos da história. Para os amantes dos filmes que retraram as famílias reais, este é mais um presente que nos conta a história, e quem sabe, nos ensinar um pouco sobre o futuro.
Sem muito “alvoroço” o filme passou quase despercebido nos EUA e aqui no Brasil, sem grandes premiações ou indicações. O que não quer dizer que não seja bom. Pelo contrário. Mais um filme que pode nos ensinar através da história, seja ela inglesa, americana ou brasileira.
Natalie Portman é Ana Bolena, a rainha inglesa mais comentada e talvez mais criticada de todos os tempos. Sua filha, Elizabeth, já rendou alguns grandes filmes e produções, assim como prêmios a renomadas atrizes. Depois de balançar o mundo de vários espectadores em Closer- Perto Demais, Portmam retorna a um papel dramático e complexo, onde pode novamente mostrar seu talento. Apesar do filme ser direcionado a sua irmã, Maria, é Ana Bolena “Portman” que rouba a cena e nos remete a reflexões e analogias, a seguir.
O segredo de várias áreas mercadológicas dos dias de hoje está em ser criativo, melhorar resultados, antecipar ações, pever problemas e soluções. Para isso, podemos usar nossos conhecimentos de história e de psicologia, para entendermos as relações de hoje, e ver que não mudaram muito, mesmo 500 anos depois.
Quem eram os “Reis” senão “escolhidos por Deus”, representantes máximos no imaginário da população medieval? Eram representados pelo “Sol”, símbolo psíquico do PAI, do Poder, e do Falo. São comuns os relatos a esta simbologia na literatura específica. Como explicar a adoração e submissão de tantos, pela representação simbólica de alguém, “filho legítimo” e herdeiro do trono, responsável por todo destino de uma nação? Tentem imaginar como seria NASCER acreditando que aquele que governa seu país havia sido escolhido por “Deus”, superior a você e a todos, e a aceitação deste como tal soberano seria essencial para sua sobrevivência. Não estamos falando somente no fato de não ter “liberdade política”, mas também em ACREDITAR que aquilo lhe era imposto por “Deus” e não poderia ser contestado. Com esta visão se torna mais fácil entender alguns comportamentos daquela época.
Talvez séculos tenham se passado, mas o sujeito da psicanálise continua o mesmo, nos referenciando novamente a Freud e em como ele foi precursor em alguns aspectos muito importantes sobre a nossa vida psíquica.
Gravidez sempre foi , e não podemos negar, um objeto de barganha. O “golpe da barriga” era dado nos séculos passados e alguns homens ainda continuam com a mesma “ingenuidade” e caem no mesmo golpe nos dias de hoje. São inúmeros os relatos na clínica que nos mostram que este fato ainda ocorre. A esperteza de Ana e Maria Bolena no filme nos mostra que mesmo sendo vistas como objetos e não reconhecidas socialmente, as mulheres continuavam buscando pelos seus ideais, mesmo em condições tão adversas. (no sentido mais feminista possível). Qual a diferença entre Ana e Maria Bolena e as eternas aspirantes a estrelas de televisão ou caçadoras de astros de futebol nos dias de hoje? Nenhuma.....
Se você, leitor, acha que os adolescentes dos dia de hoje são “rebeldes”, “maldosos” e “folgados”, imagine como seria ser adolescente na corte inglesa, rodeado de inveja, traições e todas as tramas que a história nos relata. Isso pode nos remeter a idéia de que os conflitos em todas as fases da vida são referenciados dentro do seu contexto histórico e social no qual estão incluídos, e jamais podem ser comparados entre “gerações”. Isto se aplica aqueles comentários do senso comum “na minha época as coisas nao eram assim....”
Acho que o filme pode nos trazer reflexões sobre as questões “temporais” que cercam a vida moderna. Vamos criar um exemplo: Há alguns anos, o trajeto para o trabalho demorava em média 60 minutos. Com a melhoria das vias urbanas e consequentemente da tecnologia, esse trajeto passou a 30 minutos. Anos depois, mais melhorias e este trajeto leva hoje 15 minutos. Agora, em pleno século XXI, SE seu ônibus levar 18 minutos pelo mesmo trajeto, pode ser uma “catástrofe”. “Time is Money” e encorporamos isto de uma tal maneira que qualquer minuto ou segundo a mais no dia pode nos trazer benefícios e com isso, ocupamos 18 ou 20 horas de nossos dias, com o eterno intuito de produzir mais, para ganhar mais, para conseguir mais e seguir sempre com “mais e mais”. Com isso, perdemos a possibilidade de elaborarmos alguns conteúdos e talvez, isso nos faça requerer cada vez mais e mais ajuda psi nos dias de hoje. .....
Jodie Foster retorna ao cinema depois de algum tempo, confirmando o porquê fora um ícone nos anos 90, arrebatando diversos prêmios. Como de costume, Foster interpreta uma mulher forte, decidida e disposta a controlar sua vida. Erica Bain (Jodie Foster) acaba de perder seu futuro marido, nas vésperas do casamento. Ambos sofrem um ataque com requintes de crueldade, quando curtiam os prazeres da vida a dois, aproveitando momentos simples, como um passeio com o cachorro pelo parque.
Após ficar em coma por algumas semanas, Érica “retorna” e é informada sobre a morte de seu noivo. Porém, a pessoa que retorna não é mais a mesma, dando vazão para pulsões [e não “instinto”], que antes eram reprimidos.
As primeiras cenas do filme nos remotam aos casos clássicos de Transtorno de Estresse Pos-Traumático (TEPT). Ficamos surpresos ao perceber que Erica não recebe nenhum acompanhamento psicoterápico ou orientação, mesmo tendo sido vítima de um crime brutal. E obviamente, os primeiros sintomas aparecem na sequência: agorofobia e evitação. Seus sentidos aparentam estar aguçados, especialmente a audição – sua ferramenta de trabalho. Temos cenas perfeitas de sinestesia, onde sua audição distorcida se liga a memórias do trauma.
Após o incidente, ela questiona o mesmo que muitos cidadãos de megalópoles: quem são os bandidos e quem são os mocinhos? Sua percepção de que a força policial não está cumprindo sua função social fica clara quando ela demonstra esse “medo”. Podemos pensar na incerteza quanto aos interditos da cultura que se apresentam na contemporaneidade e que têm levado ao sofrimento o sujeito psíquico que passa, então, a se inscrever a partir do lugar do sintoma
Nas cenas em que procura ajuda policial, percebemos a des-humanização das delegacias, que não somente acontecem em países “em desenvolvimento” ou países pobres. Mesmo em Nova Iorque, os contribuintes são tratados como “números”, como se estivessem sendo recepcionados por um dos irritantes atendentes robóticos de telemarketing. A falta de sensibilidade, de alguns membros da força policial, para lidar com situações traumáticas e causadoras de sofrimento psíquico são nítidas
O trauma a que foi exposta no primeiro incidente, desperta em Érica o desejo de proteção. Como a proteção oficial é falha, ela procura se defender com a ajuda do submundo do crime, conseguindo uma arma ilegalmente. Como vive em uma cidade efervescente e em constante crescimento, era de se esperar que fosse exposta novamente a outra situação de violência, e assim, Érica dá início a uma nova forma de defesa: o ataque!
É como se os traumas consecutivos, aliados ao medo e a sintomatologia do TEPT despertassem em Érica um quadro comórbido de Parafilia. Um Superego, talvez “flácido”, passa a atuar e defesas perversas surgem. Érica se transforma em alguém que nem mesmo ela reconhece: fria, calculista e disposta a matar.
Seu programa de rádio passar a exercer uma função catártica, e é através dele que ela tenta entender o que se passa consigo mesma. A violência da cidade, e agora a sua, passam a ter menos impacto, e viver com o “medo” é mencionado, mas afastado da vida dela. É então que ela entra em um ciclo de compulsividade, atuando em situações de risco, disposta a realizar sua vingança.
A tríade perversa toma conta de seu comportamento: Onisciência, Onipresença e a Onipotência. Como nos contos clássicos de serial killers, Érica retorna ao local de um dos crimes, e sua profissão de jornalista facilita uma aproximação com o policial responsável pela investigação dos crimes que ELA cometera. Se aproxima do Detetive Mercer (Terrence Howard) e usa as entrevistas e conversas informais para aperfeiçoar sua atividade ilícita. Assim como os policiais e bandidos, percebe que suas “mãos” não tremem, e por mais que relute em alguns momentos, matar se torna algo “necessário”. É então que saí em busca de situações que a coloquem em risco, buscando uma “defesa-ataque”. Talvez buscando como está dito por alguns autores, uma forma de ser vista em sua dor, pela atuação psicopática que busca ser descoberta.
Quando seus ouvintes e fãs começam a debater sobre o possível justiceiro, podemos ver o Superego de Érica agindo novamente. É como se estivesse lutando para ter influência sobre ela novamente. Em diversos momentos Érica relata que se tornou uma outra pessoa, brincando de Deus. A diferença entre ela e um anti-social é que ELA percebe que as mortes não lhe trazem prazer e algo a trás novamente para o “mundo real”.
Classificado como comédia romântica, poderíamos pensar esse filme, dentro da nossa concepção, como uma verdadeira fábula cinematográfica. Sem dúvida um tema mais do que explorado pela sétima arte, a questão do nazismo, é o que alinhava o roteiro desse filme à primeira vista. Pensamos que esse seja apenas um dos aspectos abordados, o nazismo nele entra como uma verdadeira metáfora da capacidade humana de oprimir, de ligar-se a destruição entre os grupos e aponta para os traços humanos que, ao final, de alguma maneira nos ligam a todos, a um destino comum, a um entrelaçado que vivemos a maioria do tempo insistindo em negar. Por tudo isso e muitos mais aspectos, esse filme se torna interessante mesmo para aqueles que não apreciam esse gênero.
Esse filme nos apresenta uma boa temática para o campo psi, o embate entre fantasia e realidade(mundo externo) que Freud propôs algo como “realidade psíquica” onde não se negligencia a questão do mundo exterior com seus dados de realidade e sequer se joga pro limbo as questões importantes da fantasia nos atos que operamos. No filme o pai, Guido Orefice (Roberto Benigni), cria frente a aterradora realidade de um campo de concentração, toda uma vivência fantasiosa que proteja seu filho do medo, teremos muito o que pensar a partir disso, indo até a importância do sintoma para sobrevivência do aparelho psíquico.
Continuemos no tema, mas antes assista a esse aqui : vídeo
Hoje, muitas correntes psicoterápicas têm como objetivo atacar o sintoma, em alguns momentos isso poderá sim ser muito benéfico ao paciente, porém devemos pensar, e estamos tomando esse filme aqui como uma metáfora para pensar nessa questão, que todo sintoma é resultante de uma complexa negociação operada pelo aparelhamento psíquico, resultado do desejo e da defesa(famosos dois D’s), ele cumpre uma função, até que o ego possa sofrer uma modificação, é o melhor resultado que pode encontrar. Vamos pensar a partir da cena desse vídeo, frente a uma realidade atemorizante, e assim é vista a realização do impulso do id pelo ego frente a realidade e ao superego, aquele pai, representado belamente por Roberto Benigni, impõe uma nova versão onde a fantasia toma o lugar da realidade, em uma tentativa de salvar seu filho do sofrimento do campo de prisioneiros. Muitas vezes é justamente nesse espaço intermediário que está o sintoma.
Que beleza pode haver na capacidade da criança em ver o mundo através dos olhos de seu pai, difícil tarefa que nos impomos ao nos aventurarmos na grande jornada da maternidade e da paternidade. Freud, mais que qualquer outro, trouxe essa concepção para que pensemos, um olhar pra trás em nossa infância perdida e um olhar pra frente nas representações que ajudaremos a construir no olhar do filho, investido por todas as nossas transferências(Figueiredo, L.C.) e por aquilo que podemos sustentar na relação com ele. Nesse encontro o resultado esperado é a possibilidade de que esse filho venha a construir sua própria subjetividade, alcançar sua alteridade. Pudessem os pais controlar as variáveis de sofrimento do mundo externo como essa fábula em filme propõe, mas também nos perguntamos se isso, caso fosse viável, traria realmente algum benefício para o sujeito em formação. Freud nos fala da questão da frustração como outro importante aspecto do aparelhamento psíquico, assim como, da capacidade de adiamento da satisfação. Nessa cena vista podemos pensar também sobre esse aspecto, uma vez que ele, o pai, substitui o sofrimento existente ali por uma promessa de um grande prêmio ao final de tudo. A espera se torna o próprio alimento da sobrevivência do ego, aqui representado nesse filho.
Esse filme convida muito a que pensemos nos aspectos dos vínculos parentais e sua capacidade de doação e amor, toda a agressividade que faz parte do nosso ser também é dirigida no sentido da proteção, a questão das pulsões de auto-conservação se apresentarão totalmente modificadas, ganham uma outra dimensão, na preservação do “filo”, também emocionadamente representado no final desse filme, que nos levará a pensar na grande capacidade de ligação que há em Eros.
O pai que atravessa com suas fantasias e realidade e promove em seu filho a capacidade de superação e sobrevivência, filho esse ao final do filme, devolvido a sua mãe, orgulhosamente investido da capacidade paterna de salvá-lo enquanto sujeito.
Belo filme como pode a vida em muitos dos seus aspectos nos presentear com momentos de pura fantasia de braços dados com a realidade, uma dança que nos deixaremos envolver com todo o prazer e que faz com que afinal a vida possa valer a pena.
Filme dirigido por Clint Eastwood e lançado no ano de 2008. Nele, irá também representar o ensimesmado Walt Kowalski.
O filme se inicia com as cerimônias fúnebres da mulher de Walt, com a presença dos filhos e netos e alguns amigos. Clint está impagável na pele de um ranzinza e sorumbático solitário, seus comentários nos colocam sorrisos no rosto, sua falta de paciência com inúmeras posturas dos que estão presente, inclusive de sua neta, não nos passam despercebidos em sua força de ironia. Já nos é apresentado como um homem extremamente irascível, mas seu jeito nos diverte pela demonstração de que seria totalmente contrário à dissimulação e hipocrisia. Odeia todos da sua vizinhança pela mudança que o bairro sofreu sendo invadido principalmente por orientais. Por detrás dessa antipatia, ao longo do filme, conheceremos o tormento que o acompanha e que gera uma angústia desconhecida justamente por sua incapacidade de nomeá-la.
Suas conversas com o jovem padre Janovich (Christopher Carley), incumbido por sua mulher antes de morrer de que fizesse ele se confessar(nomear sua angústia), são deliciosamente sarcásticas. Embora Clint ao final do filme nos deixe com uma boa imagem desse empenhado clérigo, teremos alguns momentos onde ele beirará ao patético.
Mais um filme onde notamos a sutileza da mão de Clint dirigindo. Ela, sua direção, traz sempre um traço que beira ao poético que rasga, não o que enfeita. Saiu noticiado em algumas publicações que Angeline Jolie, depois de ser dirigida por ele no filme “Changeling”, teria dito que ele passaria a ser o único diretor que aceitaria. Vendo a qualquer um dos filmes por ele dirigido, não será difícil sentir o porquê dessa declaração de Jolie, vê-se uma profunda delicadeza na dureza dos temas que aborda, um traço marcante da presença de Clint por detrás das câmeras. Emocionante e inesquecível é a cena da morte da protagonista no filme “A Menina de Ouro”, também dirigido por Clint que tb atua nele.
Gran Torino também está longe de ser um filme leve, na temática nos fez lembrar vagamente o pesado “Duro Aprendizado”(do diretor John Singleton), mas a leveza de Clint nos leva a sorrir em muitos de seus trechos e justamente por conta disso, toda temática se torna ainda mais emocionada, causa um profundo impacto em nossas emoções, constrói possibilidades profundas de desconstrução de valores.
Nosso herói misantropo vai aos poucos sendo perturbado em seu isolamento, isso começa a dar-se a partir de um episódio com seus vizinhos, onde ele, pela visão do uso da violência e ameaça que sofre o oriental adolescente por parte de um primo e sua gangue, parte em sua defesa, a família e vizinhos agradecidos passam a deixar presentes em sua porta. Esse mesmo adolescente havia tentado roubar de sua garagem, como obediência a uma ordem dada por seu primo, chefe desse grupo que aterroriza o bairro, o carro por Walt tão estimado, quase que um símbolo da sua vida, a marca é o nome que dá o título ao filme, um Gran Torino, carro que ele mesmo montou em 1972. A mãe de Thao(Bee Vang), e sua irmã Sue(Ahney Her), o obrigam a prestar serviços a Walt para pagar tanto pela tentativa de roubo, como pela defesa de sua vida que Walt fez.
Filme que nos ensina sobre a capacidade de Eros em Thanatos, ou da pulsão de vida que impera na pulsão de morte, com seu representante máximo, sua possibilidade de se mostrar em vínculo amoroso, capacidade de fazer ligações, investir afeto. Apresentam-nos os personagens Brad Pitt e Antony Hopkins, refazendo percursos e aproximando-se ao longo desse complexo argumento que nos levará pensar sobre, o roteiro desse filme.
Thanatos resolve experimentar o que há na vida que leva a que as pessoas, a desejem tanto, tão bem representado na voracidade que mostrará ao provar a pasta de amendoim, simples ato que leva direto ao entendimento de algo tão presente na formulação freudiana, o prazer, sentido por quem experimenta alguns dos sentidos da evolução do sujeito, aqui mostrado na oralidade tão constituinte de cada um de nós. Vislumbrará em seguida a curiosidade despertada pelo forte vínculo de um pai com sua filha, a capacidade de amar presente nessa relação. Ao mesmo tempo lançará ao espectador a pergunta tão intrigante de o que seria que sustenta o amor. O que buscamos no objeto onde se adere toda a impulsão de Eros? Amar seria sempre também morrer um pouco, matar um tanto? Luto e Melancolia. No filme, representados pela perda do objeto de amor recém encontrado e que retorna investido de morte, como a nos lembrar da perda inevitável a qual ameaça todos os vínculos que fazemos ao longo da vida. Ou na aceitação das escolhas dos filhos ou da aquisição de autonomia a que têm direito.
Se esse filme não responde a nenhuma dessas perguntas, nos levará a entrar em contato com tudo aquilo que as formulam e suas possibilidades múltiplas de resposta. Como a vida se constitui a partir da sua incontornável finitude. Como Freud pôde descobrir ao longo de suas pesquisas que apontou para a descoberta de que temos em nós, o visitante permanente representado nesse filme por Brad Pitt que ganha no filme o nome de Joe Black e nos aponta para a atração que Thanatos pode exercer em nossas vidas.
Dirigido por Martin Brest e trazendo no elenco o sempre formidável Antony Hopkins, além de Brad Pitt e Claire Forlani.
Encontraremos nele de uma forma lúdica e divertida uma bela apresentação da definitiva teoria pulsional apresentada por Sigmund Freud, a luta contra nossa finitude e a atração que temos por ela, mistura que nos move em nosso desejo frente aos nossos objetos de investimento. ....
“Se não houver nenhuma luta, não há nenhum progresso” (Frederick Douglass, pseudônimo de Frederick Augustus Washington Bailey*). Citado no filme.
*“Ele acreditava firmemente na igualdade de todas as pessoas, independentemente de negro, mulher, índio, ou recente imigrante. Ele gostava de dizer, "eu me uniria com qualquer pessoa que faça o certo e com ninguém que faça o mal."(wikipédia)
Termina o filme, bandeira americana desfraldada na tela e a fala: Desaprenda(unlearn).
Filme de uma intensidade crescente. Inicia-se parecendo mais um desses dramas que raspará de leve questões importantes como diversidade, racismo, loucura, violência, opressão. Segue em tensão crescente, passando pelos principais acontecimentos que marcam um mundo desigual e partido e tomando um aprofundamento que causa bastante impacto no espectador.
Nosso personagem principal, Malik (Omar Epps), negro americano que consegue acesso à universidade (campus fictício da Columbia). Ele um corredor promissor que tem acesso a uma bolsa parcial para seus estudos, porém não tem como algo muito aprofundado sua relação com o conhecimento, a busca do saber. No intuito de conseguir a bolsa integral aceita competir em nome da Universidade. Em seu caminho atravessará o professor de Ciências Políticas, Phipps (Laurence Fishburne) que o levará a questionar seus próprios posicionamentos frente à vida, a luta racial, a relação com o conhecimento e discurso. Assim como sua proximidade e amizade com um veterano estudante na Universidade, o aluno Fudge (Ice Cube), marcará sua trajetória nesse primeiro semestre dentro do campus.
Cada personagem que compõe o tecido desse filme trará uma importante questão pra pensarmos, como a questão feminina e sua opressão, a diversidade sexual, a violência das relações familiares e suas conseqüências, a juventude em sua alienação, a busca de aceitação pelo grupo social e principalmente as questões do racismo e xenofobia.
John Singleton que teve aos 23 anos duas indicações para o Oscar(1991) por “Os Donos da Rua”( (Boyz'n the Hood), sendo o diretor mais novo a ter sido indicado para esse prêmio, dirige e assina o roteiro de “Duro Aprendizado”. Também é até hoje o único diretor negro a ter sido indicado ao Oscar.
Veremos ao longo desse filme muitas das questões que se colocarão para os jovens estadunidenses ali onde o campus da universidade representa todas as tensões que alimentam o social, em difíceis lições, que levam no caso do filme até ao limite da própria vida. Grupos diferentes nos são apresentados e ao longo do filme irão se entrelaçar formando a história dessa tensão bastante contemporânea.
Desde a questão dos estupros dentro do campus sobre os quais algumas matérias já foram publicadas em grandes meios de comunicação, até a vivência da segregação, perseguição da população negra dentro do espaço do campus, passando pela questão da orientação sexual e outros temas ainda pincelados ao longo do roteiro. A tensão se instala e fica bem clara ao longo do desenrolar da película, em uma direção que não se furta a aprofundar reflexões bastante importantes em meio a conversas entre os personagens. Faz refletir e se apresenta como um bom filme para balançar as mais rígidas convicções baseadas em preconceitos, problematiza questões sociais de uma maneira mobilizadora de emoções das mais diversas.
O interessante é que Malik não é um personagem que nos cause simpatia à primeira vista, também não chama a atenção por nenhuma grandeza, a não ser por seu enorme talento em correr. Questiona de maneira incessante o caminho da luta da população negra dentro de um país de supremacia branca. De frente a estátua de Colombo que dá nome à universidade, tece comentários históricos de uma maneira bastante pontual, novos parâmetros do pensar nossos heróis dentro da atualidade, há em nossos dias valores que foram sendo modificados ao longo de décadas de lutas encaminhadas por grupos alcançando modificações de crenças antes instituintes dos ideais da cultura. Dentro de uma perspectiva absolutamente pessoal, nosso personagem nos leva pelas mãos ao tomar contato com toda a tensão estrutural, a luta de forças que está abrigada dentro da malha social, da questão dos vínculos como também bastante determinados por nossos papéis dentro desse tecido, falando de origem de classe, gênero, raça, religião, ideologia. Em muitos momentos do filme o espectador será levado a sentir o mesmo estado “confusional” do personagem, onde aquilo que se acredita busca se determinar na cena, mas algo de insólito leva a um pensar por outros caminhos, brilhante essa forma como o filme nos encaminha para os questionamentos necessários, delicadas e sutis cenas que nos levam a uma desconstrução de importantes crenças que ditam aquilo que nos é vivido(que vive em nós) como nosso self .
Malik apaixona-se, e através desse amor muito de sua irascibilidade irá se tornar mais tênue, mostrando-nos a presença de Eros, porém em igual proporção sua capacidade de ação crescerá de maneira evidente, o que aumenta a tensão dentro do contexto que nos é apresentado. Não há conciliação possível, embora o amor, via fala de sua namorada, queira convidar a um revisitar essas separações raciais, sociais, de grupos. O filme não se propõe, e não cumpre mesmo essa tarefa, de apresentar soluções para a tensão social e muito menos buscará um final feliz para aplacar nossas angústias frente ao modelo instituído, sobre o qual em nossa vida cotidiana e nossos afetos, nos vemos referenciados e mantenedores dessas referências. O convite ao final do filme é claro, como deixamos aqui no início desse texto: “desaprenda”. O que de forma alguma substitui um pensar por outro, apenas convida a uma desconstrução e uma nova busca, tarefa quase sempre de angústia para o sujeito psíquico. Cada um de nós em nosso desamparo pedimos por um fast food de ideologia, como cantava nosso poeta da música nacional: “Ideologia eu quero uma pra viver...”(Cazuza).
Porque vamos ao cinema? Para nos divertirmos, para relaxar, para chorarmos, rirmos, para nos identificarmos nos personagens, para passar o tempo, etc. E quando a realidade mostrada na grande tela nos choca, comove, assusta e envergonha?
Depois de quase dois, chega às locadoras o filme “Infância Roubada”, baseado na obra do escritor sul-africano Athol Fugard. O filme aborda a temática violência x pobreza de uma maneira bem realista e verdadeira, pelo menos para nós, brasileiros.
Apesar de ambientado e filmado na África do Sul, o leitor poderá perceber logo no inicio de que estamos presenciando uma versão importada do nosso tão aclamado “Cidade de Deus”. Talvez esta nossa produção tenha aberto o caminho para a temática, e em 2005 o diretor Gavin Hood ganhou a “nossa” sonhada estatueta.
Nosso herói (ou anti-herói) aqui é Tsotsi, um jovem pobre, analfabeto e marginalizado. Não sabemos a idade exata do rapaz, mas podemos supor que seja ainda adolescente....talvez 15 ou 16 anos. Como todo jovem, adora andar em grupos, porem, em seu caso, seu grupo é uma gangue de criminosos, com a mesma faixa etária.
Este grupo de adolescentes vive no que chamam de “ghueto”, e que por aqui, chamamos de “favela”. São discriminados socialmente, isolados de todas as maneiras possíveis, quase que vivendo em uma matrix, sobre a qual, nós temos apenas conhecimento através de livros, revistas, jornais, debates e trabalhos sociais, sem convivermos diretamente com ela.
Logo no inicio do filme, uma breve pincelada sobre alguns problemas sociais enfrentados pelos nossos amigos do outro lado do oceano. Se repararmos bem nas cenas, existe apenas um Outdoor, e o assunto nele é “HIV/AIDS”. Em um país onde mais de 20% da população encontra-se contaminada, com uma perspectiva de vida inferior a 50 anos e índices de contaminação piores do que os piores índices na América do Sul, podemos refletir que a criminalidade não é o único nem maior problema social desse país.
Mas como podemos pensar nesse filme do ponto de vista psicológico? Do ponto de vista social, é obvio que teríamos conteúdos para dezenas de debates, mas para nós, profissionais “psis”, temos um personagem cheio de nuances e que nos fornece tanta informação sobre sua psicodinâmica, que fica impossível não elaborar inferências sobre ele.
Tsotsi é nosso foco aqui, bem como suas cenas, muitas vezes expressas pelo olhar, pelo simples gesto, sem nenhuma expressão sonora deles. Temos aqui um exemplo clássico de “Transtorno de Conduta” (F91.8 - 312.8). Se nosso protagonista tivesse apenas alguns anos a mais, talvez pudéssemos inferir em um psicodiagnostico de “Transtorno de Personalidade Anti-social”, mas, não esqueça, que partimos do principio de que ele tem “apenas” 15 ou 16 anos.
Traz no elenco Jesse Eisenberg, Jason Ritter, Eva Amurri, Chris Marquette, Sebastian Stan, Gloria Votsis. Direção de Fred Durst(da banda Limp Bizkit) em estréia de longa metragem, embora já tivesse dirigido todos os clips da banda.
O filme tem uma construção bastante interessante, leva-nos sem uma análise maniqueísta entre o bem e o mal, a conhecermos o fio que entrelaça a formação de uma personalidade. Entramos em contato com nossos lados conhecidos e desconhecidos, nossos freios, nossa permissividade que se irrompe contra as todas as regras sociais.
O personagem Charlie na verdade irá nos apresentar a Mick Leary (Jason Ritter), sedutor e violento, provocando em todos que entram em contato mais íntimo com ele, sentimentos ambivalentes bastante presentes, amor e ódio, fascínio até chegar à aversão, em uma alusão bastante eficiente do funcionamento dos ditames superegoicos em nós, àquilo que dita nossa convivência de maneira civilizada. Charlie representará toda a atração juvenil frente à quebra dessas regras e aos questionamentos quanto quais seriam realmente as que importam para nossa realização frente ao mundo. A sexualidade que irrompe agressivamente na adolescência levando a um questionar profundo quanto às normas a seguir. Qual o limite entre uma adolescência normal e algo que nos levaria à preocupações mais profundas? Onde encontraremos um psiquismo estruturando-se em seu desenvolvimento e onde estaria fragmentando-se e adoecendo?
Isto se mostra presente até mesmo na ambivalência desta relação, que perpassa pela admiração. Em determinados momentos é possível perceber uma relação de “irmão mais velho” entre Charlie e Mick, até que a realidade se mostra rígida e os traços perversos vêm à tona.
Inevitavelmente nos levamos a pensar na possibilidade de um Transtorno de Conduta, tão debatido e mencionado quando o assunto é menores infratores. Influencias do meio e ações necessárias nestes casos nos apontam sempre para o personagem Leary. Teoricamente sabemos que este transtorno pode preceder um Transtorno de Personalidade Anti-social. Nos recusamos, em determinados pontos do filme, a acreditar que isso seja possível, visto que Mick demonstra traços tão “humanos”. Claro que estes são limitados dentro das suas possibilidades de afetos.
O filme lança-nos à atmosfera dos anos 70, faz-nos viver o que a juventude da época trazia enquanto questões existenciais e de amadurecimento, uma verdadeira viagem na história da vida privada. Sem dúvida que foi uma década de revolução de costumes, quebra de regras sociais até então bastante sedimentadas, em uma alusão a algo que remeteria aos modernos debates sobre o afrouxamento da “lei paterna”. Um momento histórico em termos de movimentos sociais, com quebra de paradigmas e questionamentos que deixaram suas marcas até os dias de hoje. O contraste entre a classe alta americana e aquele deixado à margem, se desenvolvendo na hostilidade das ruas do subúrbio se faz presente.
Nesse vácuo de uma revolução de costumes, encontraremos nosso personagem narrador, Charlie, e por outro lado nosso foco que se desvia dele durante o filme e vai para Mick. Dessa forma, essa apresentação deste roteiro coloca-nos frente a questões bem singulares que nos atravessam desde a infância na elaboração e escolha de caminhos. Algumas questões de grupo e adolescência nos remetem novamente a Charlie e sua timidez quase patológica, sempre evitando qualquer contato mais proximal.
Filme da obra homônima de Gabriel Garcia Márquez. O produtor Scott Steindorff levou três anos para convencer o escritor a vender os direitos de adaptação de seu livro para o cinema. Dirigido por Mike Newell (Harry Potter e o Cálice de Fogo) e com Javier Bardem, Catalina Sandino Moreno, Fernanda Montenegro, John Leguizamo, Benjamin Bratt e Hector Elizondo no elenco.
Como em toda obra de Gabriel Garcia Márquez, nessa encontraremos a profundidade com a qual trata as personagens que constrói, residindo a beleza de sua obra, segundo nossa concepção aqui, em dois aspectos fundamentais: seu conteúdo histórico político e o entendimento sobre as emoções que saltam aos olhos através de suas incríveis personagens.
Obviamente que um filme contém uma narrativa completamente diferente de uma obra literária e por conta disso não encontraremos as viagens interiorizadas que vemos nos personagens de Garcia Márquez quando lemos sua obra. A linguagem de um filme é outra, própria de suas especificidades e possibilidades de recursos. Ela é mais diretiva, impossibilita o imaginar ilimitado que uma obra literária nos disponibiliza em sua existência e narrativa.
Para assistir a esse filme temos que ter em conta tais características de uma e outra narrativa. Aqui então, estaremos apenas nos deixando envolver por essa película cinematográfica, abstraindo da magnífica obra literária.
O filme nos mostrará uma bela e comovente história de amor e devoção que atravessa toda uma vida de espera. Florentino Ariza (Javier Bardem) e Fermina Daza (Giovanna Mezzogiorno) se apaixonam um pelo outro, quando ainda muito jovens. Um amor que contém uma delicadeza de intenções desde o seu aparecimento, costurado pela poesia.
Serão separados, pela ambição do pai de Fermina, o novo rico Lorenzo Daza (John Leguizamo) que a forçará primeiro a se ausentar, mandando-a para a fazenda de sua prima Hildebranda Sanchez (Catalina Sandino Moreno), em lugar distante e de difícil comunicação. Ao retornar estará já totalmente tomada pelas concepções de seu pai e terminará com Florentino e passando a aceitar a aproximação do preferido do seu pai o Juvenal Urbino (Benjamin Bratt) que é um médico que chega para combater a epidemia do cólera. Fermina acabará se casando com Juvernal Urbino e começarão então todas as aventuras e desventuras de Florentino enquanto aguardará silenciosamente um dia poder retomar seu amor por sua doce Fermina. Florentino conhecerá a relação com muitas mulheres que anotará diligentemente em um caderninho. Incapaz de se doar, por ter seu amor permanentemente ocupado por seus laços não desfeitos com Fermina.
“Condenada por ter vivido um amor adúltero com o reverendo local, uma mulher é obrigada a usar em sua roupa uma letra vermelha bordada, símbolo de sua vergonha. Com Demi Moore, Gary Oldman e Robert Duvall”.(site adorocinema)
Demi Moore representa nesse filme a convicta personagem Hester Prynne, o ano 1666, local Massachussetts, chega ao novo continente sozinha, enviada por seu marido, Dr Roger Prynne(Robert Duvall), com a incumbência de organizar uma casa para eles. De uma forma bastante emocionante esse filme nos chamou a atenção pela sua análise a respeito do lugar do feminino dentro da sociedade, menos do que retratar a época onde ocorre, fala da sempre permanente luta da mulher frente às imposições repressivas que servem ao seu submetimento e opressão pelo poder masculino, o poder fálico. Assim como nos falará da construção de uma possível coerência e coragem. Nesse filme de forma marcante estará presente o discurso das “bocas de ouro”(Lacan) de Freud.
Abordará a luta de uma corajosa mulher frente ao assumir seu desejo e domínio do pensamento e corpo, luta feminina que encontraremos ainda presente na atualidade, longe, muito longe ainda de estar resolvida. A questão do religioso sempre a sustentar o discurso repressivo também é amplamente contemplada nesse filme.
Apesar de podermos pensar em muitos avanços em termos de conquista do seu lugar social, ainda encontraremos nos dias atuais de forma aberta ou ainda velada, todo um discurso bastante tomado por misoginia e machismo. O lugar da mulher ainda é abordado como o lugar de direitos concedidos, aproximando, muito, sua luta, da luta de outros grupos chamados de “minoria”, como os homossexuais, negros, índios etc. Fica-nos sempre a questão para pensarmos o do porque seriam esses grupos chamados de minoria.
Obviamente que como um filme feito para o circuito comercial teve que usar uma das fórmulas que sempre trazem resultado, então o amor proibido está presente amarrando o enredo, mas se apresenta de uma maneira bela e envolvente, não diminui a capacidade de questionamentos que o filme sublinha.
Todo amor exige coragem para ser vivido, aqui no filme o pedido de coragem aos amantes é feito através de toda uma estrutura arcaica e socialmente primitiva em suas leis e que acaba por castigar terrivelmente nossa protagonista que se atreveu a desejar e ter prazer, tornar isso público e questionar alguns dogmas religiosos afirmando falar com Deus diretamente(aqui, caberia com toda certeza um outro artigo sobre autoridade religiosa, política e poder) .
Grupo de mulheres que se reúne para livres conversas, o que as leva a serem acusadas de bruxaria, antiga marca que se dava à mulher que ousava quebrar o apertado “espartilho moral” ao qual era atrelada e ao diminuto espaço ao qual socialmente estaria confinada. A luta feminina sempre avançou por conta de algumas corajosas mulheres, algumas famosas e outras tantas anônimas e perseguidas em sua vida afetiva e pessoal, de certa forma esse grupo do filme representa isso.
A autora Marie Langer em sua obra intitulada de “Maternidade e Sexo”, nos diz que a mudança da mulher da classe operária se deu no século XIX, enquanto que a das mulheres das classes média e alta só teria se efetuado a partir da Primeira Guerra Mundial, foram chamadas à participação no trabalho fora de sua casa e de certa maneira a um abandono quanto à dependência total alimentada pelo financeiro, em relação aos seus maridos. Ao fim da guerra essas mudanças já teriam se tornado irreversíveis.
Diz Langer:
“Terminou a guerra. Voltaram os homens e se encontraram com uma mulher independente economicamente, consciente de seus valores, de cabelo cortado à “garçonne” e com uma liberdade sexual comparável à do homem. Ao não implicar conseqüências biológicas para ela, o ato sexual corria o risco de converter-se somente em fonte de prazer, de ter perdido transcedência e adquirido autonomia”
No filme, passado muito antes dessas modificações, a gravidez vem a denunciar a existência do desejo em nossa protagonista, sem marido por conta dele ter sido considerado morto pelos índios em sua viagem para o novo continente, a gravidez denuncia o adultério, a marca da sexualidade atuada sem dono. ....
Quem disser que Pedro Almodóvar é ruim possivelmente não entendeu a complexidade da sua obra. Você pode não achar perfeita, não gostar do estilo, achar defeitos nas produções, figurinos, trilha sonora, mas não pode dizer que é ruim. É como a Monalisa de Da Vinci: pode estar rindo, sendo debochada, triste, deprimida, irônica, etc.
Os filmes dele despertam em nós diversas sensações. Podemos rir, ter nojo, chorar, ou mesmo achar brega. Mesmo negativamente, algo faz sentido no seu inconsciente.
Este filme é indicado para mulheres, famílias e namorados. Pessoas com capacidade de apreciar uma trama complexa que não envolve efeitos especiais, mas sim .
Nossa Leitura do Filme:
Por seu papel nesse filme Penélope Cruz, uma das atrizes preferidas do diretor, foi indicada ao Oscar e levou o Cannes como melhor atriz. Inclui-se no elenco também a atriz Carmem Maura, sendo possível notar-se aquela mistura entre drama e traço cômico em mais uma de suas atuações impecáveis. Não há como olhar para ela e não pensar em Almodóvar.
Esse será um filme que, com grande probabilidade, levar-lo-á a muitos insights. Apresentando um traço de mistério e muito de psicológico o filme abordará principalmente questões de relações familiares e de grupos com fortes traços de endogamia.[1]
Falará de culpas, perdão, desapego, incesto, transformações possíveis através da revisitação da própria história. Nada mais psicanalítico não é mesmo? Esse é um diretor que busca discussões aprofundadas sobre o mundo psíquico de suas personagens, como vemos em outros filmes como Tudo sobre minha mãe (Todo sobre mi madre, 1999), Fale com ela (Hable con ella , 2002) , A lei do desejo (La Ley del deseo, 1987), Atame (¡Átame!, 1990), entre tantos outros. Um filme desse diretor é sempre um convite para profundas e intensas reflexões. Nas questões que envolvem o feminino em sua construção social, é sempre um excelente instigador de análises aprofundadas.
Porém, o que queremos ressaltar em nossa abordagem sobre esse filme focar-se-á mais nas questões que envolvem as relações com o objeto em psicanálise, falando de perdão, desapego e luto. Torna-se necessário esclarecermos, mais uma vez, que essa é apenas uma das leituras possíveis.
Se você já assistiu os outros dois filmes dos capítulos anteriores, espere alguns dias e assista esse. Vai reforçar o seu aprendizado, pois fala de temas bem parecidos, sempre ligados aos objetos da psicanálise.
Vamos pensar então em qual relação teria perdão com desapego. Estranha essa junção, parece um paradoxo, porque geralmente, pelo senso comum, entendemos o perdão como caminho para uma reaproximação. Às vezes será, e outras servirá para criar um afastamento definitivo.
O que é perdoar, no sentido religioso? Pense numa resposta a essa pergunta abstendo-se de religião, crença ou filosofia religiosa. Para perdoar não se precisa estar atrelado, por exemplo, a uma religião. Você pode perdoar mesmo sendo ateu ou agnóstico.
E o que proporemos no texto é que o perdão pode ser exatamente o caminho para o desinvestimento, ou seja, o que possibilitará a retirada de investimento daquele objeto perdido (que lembremos mais uma vez, pode ser um trabalho, um vínculo afetivo, um objeto material, uma posição social, um analista, etc).
No filme veremos a longa trajetória de Raimunda (Penélope Cruz), mulher corajosa que não assume o discurso vitimizado e isso marca a construção dessa personagem todo o tempo. Mas ela só se irá libertar completamente quando puder resgatar sua história do silêncio, processo que denunciará o homem como aquele que violenta e oprime a mulher.
Em aliança com sua filha, talvez nos mostre a forma como a mulher lida com tudo isso e a possibilidade de “matar” esse homem ligado ao mito do pai primordial[2] (com todos os direitos de opressão e uso). Tudo isso será trazido por esse genial e colorido filme, com temática profunda e pesada que nos chega com toques de leveza e nos tira sorrisos espontâneos. Se puder assista-o em companhia do seu amor.
Alguns psicoterapeutas acreditam que uma psicoterapia (ou ainda a psicanálise), em seu fim último, teria como meta perdoar nossas imagos parentais[3], aquelas onde fundamos nossas fixações e que norteiam nossas buscas de investimento e identificação.
Essas imagos são construídas ao longo do nosso desenvolvimento e têm total relação com o mundo exterior e em como vivenciamos cada fase do desenvolvimento psicossexual. Nessa trama, o perdão terá que alcançar a figura materna envolvida em segredos que misturam silêncio e dor. Tudo isso dentro de um cenário sempre muito colorido que Almodóvar imprime em seus filmes.
Você já deve ter ouvido dizer que Freud fala muito do desenvolvimento psicossexual. Costuma-se afirmar que Freud versa sobre sexo. “Tudo pra Freud era sexo”, dizem alguns. E não é verdade. Freud fala de libido, de prazer, de sensação de satisfação.
Ora, com certeza você já passou por situações assim:
1 – Estava dirigindo e sentiu vontade de fazer xixi. A vontade foi crescendo e os minutos pareciam horas. Chegou correndo em casa e mal conseguiu abrir a porta. Correu para o banheiro e ufa, sentiu um alívio. Esse alívio é prazeroso? É claro que é.
2 – Estava na mesma situação, mas, havia comido algo que não lhe fez bem. Correu também para o banheiro e, ufa, que alívio.
3 – Ficou horas sem comer e seu estômago parecia um leão, rosnando sem parar. Procurou algo para saciar a fome e comeu com tanta pressa que mal conseguiu mastigar. Ufa! Que alívio, nao é mesmo?
Freud fala das fases nas quais passamos, sendo elas: oral, anal e fálica, quando sentimos prazer em diferentes partes do corpo. Repare que não estamos falando de sexo, e sim, de prazer, de satisfação da libido: em acúmulo de tensão e alívio dela.
Porém, durante este desenvolvimento, algumas pessoas podem não elaborar muito bem essa fase, e temos o que chamamos de fixações. Talvez, a maneira mais fácil de explicar, sem deturpar a teoria, seria a seguinte:
Suponha que seu psiquismo seja um exército[4]. Sim, nascer, crescer e se desenvolver é uma “guerra” que travamos entre nós (psiquismo) e o mundo exterior. Seu exército ao nascer tem cinco mil soldadinhos. Na fase oral, teriam morrido mil soldados. Na fase anal, morreram dois mil, e na fase fálica, morreram mais mil. Cada uma das fases é uma batalha, composta por desejos, satisfeitos ou não.Você mantém seus soldadinhos a vida inteira, mas, muitos ficaram ao longo dessa jornada. Isso quer dizer que a fase mal elaborada, nesse exemplo, foi a anal (quando o número de soldadinhos mortos foi maior).
Mal elaborada nesse aspecto pode ser por excesso de satisfação ou por falta. Ambos os extremos podem gerar fixações. Logo, em situações conflituosas é mais do que normal que você “retorne” a essa fase e aja com as defesas que tinha naquela época.
Repare que mesmo assim, você perdeu soldadinhos em outras fases, e por isso, temos o que chamamos de traços de personalidade referentes a cada uma delas.
Se estudarmos mais a fundo (Psicopatologia com Orientação Analítica), poderemos perceber que as personalidades e as psicopatologias serão oriundas de fixações em fases específicas[5]. Mas, isso já é um assunto teórico demais para o momento.
Construímos nosso mundo psíquico com uma argamassa que começa em relações com nossos pais ou cuidadores (que operam essas funções). A partir disso construímos nossos senhores e senhoras internos. Os primeiros relacionamentos que temos na vida serão com essas figuras parentais. São eles que despertam os nossos melhores e piores sentimentos no ínicio das nossas vidas e a maneira como nos relacionamos com eles, e aprendemos, será levada por muito tempo em nosso psiquismo. ....
As salas de cinema em todo país se tornaram agitadas pela entrada em cartaz da continuação dea “Crepúsculo” (Twilight- 2008), o filme “Lua Nova” (New Moon, 2009). Filas se organizavam na expectativa de assistir mais essa película cuja direção é agora assinada por Chris Weitz e Melissa Rosenberg. Bateu recordes de vendas antecipadas e invadiu a mídia especializada na temática por semanas.
Vamos retomar o primeiro para tentar entender quais aspectos sublinha, e de tal maneira, que deixa anunciado esse segundo com essa grande demanda, significativa.
Esse filme, assim como já vimos acontecer com outros que evocam de alguma maneira elementos simbólicos, que apreendemos apenas em parte pelo mergulho inconsciente que representam, como é o caso do "vampirismo", morte, relações de poder etc, veio provocando debates e uma certa agitação. Costumam filmes assim construídos, mobilizar afetos que permanecem ligados a extensas cadeias representacionais, ou seja, se ligam a inúmeras idéias que construímos ao longo da vida, investidas por elementos bastante pulsionais.
“Crepúsculo” foi baseado no livro de Stephenie Meyer. Estreou no Brasil em 19 de dezembro de 2008, tendo sido lançado anteriormente nos USA, em 21 de novembro do mesmo ano. Dirigido por Catherine Hardwicke. Traz no elenco Kristen Stewart como Isabella Swan, Robert Pattinson como Edward Cullen e Taylor Lautner como Jacob Black, entre seus principais personagens.
A lenda do vampirismo foi e é ainda, bastante contemplada pelo cinema, até mesmo por grandes diretores como Roman Polanski que já abordou esse tema no magnífico “A Dança dos Vampiros” (The Fearless Vampire Killers, 1967) , com seu personagem irreverentemente vampiresco o Conde Krolock, filme esse que consideramos que antecipa algumas das grandes questões que hoje se discute em torno desse sujeito contemporâneo, ou pós-moderno e sobre aqueles que o estudam, despertando entre uma incredulidade e uma aproximação perigosa com o objeto estudado, como se dará com nosso atrapalhado pesquisador representado pelo próprio Polanski, o professor Abronsius.
Antes de qualquer outro filme, teremos o clássico “Nosferatu” (com o vampiro Conde Orlock), obra do ainda cinema mudo de F. W. Murnau (1922). Outros grandes filmes também marcaram esse tema como o “Entrevista com o Vampiro”(The Vampire Chronicles, 1994), do diretor Neil Jordan. Temos ainda os clássicos que consagraram o ator Bela Lugosa, que personificava o Conde Drácula de Bram Stocker que escreveu seu romance sobre ele em 1897. Depois dele teremos aquele que lançou de vez nosso olhar entre amedrontado e seduzido para essa lenda, o ator Christopher Lee, muitos foram os filmes que protagonizou com esse personagem, marcando toda uma época e trazendo fortemente a questão da sedução vampiresca, colocando-nos de frente com a sedução que amedronta e excita.
Falar sobre o personagem do vampiro no cinema pode render extensas considerações que nos levariam até mesmo ao nosso nacionalíssimo Zé do Caixão, mas aqui não estamos empenhados nessa tarefa, voltemos então ao nosso filme Crepúsculo, inserindo-o no contexto de agora, e vejamos um pouco dessa grande sedução que tem provocado em todos nós, lotando inúmeras salas de cinema.
Quando pensamos em vampiros logo três carregadas questões nos vêm a mente: sexualidade, agressividade e morte. Isso já nos remeterá ao que dissemos anteriormente sobre extensas cadeias representacionais que em sentido inverso de leitura nos levariam até o mais remoto conteúdo das pulsões, ou ainda daquilo que se constitui dentro do aparelhamento psíquico como o recalcado.
Crepúsculo já nos provoca de cara chamando para um retorno a um estado juvenil, nos coloca ali onde nos deparamos com a sexualidade emergindo com força do desejo genital, da busca de parceiro(a). Cada um irá para o caminho desses encontros, geralmente uma sucessão em termos de busca, munido de modelos que remetem lá para suas vivências edípicas, calcados nas imagos parentais, na busca do objeto ideal de investimento, agora como uma progressão daquelas primeiras vivências em investimento, que em última leitura, nos remeterão sempre ao primeiro objeto de amor, igual para ambos os gêneros: a mãe(ou quem exerce essa função), nossa matriz do amor. Nesse caminho encontraremos as marcas que denotarão a diferenciação entre construir um ideal de ego ou uma fixação ao chamado ego ideal. A adolescência é rica em seus questionamentos, inunda o mundo com sua construção de ideais, altamente catexizados e que buscam se afastar do modelo do chamado mundo adulto que em seu movimento de busca de autonomia, via de regra, costumam desprezar. A tudo isso “Crepúsculo” nos remeterá.
O belo casal que protagoniza o filme, Edward e Bella, nos remetem ao apaixonamento característico da adolescência, começa pela relação à distância, uma certa dose do chamado “amor platônico” que faz parte dessa fase de desenvolvimento e segundo muitos teóricos prepara para uma relação objetal mais saudável, há que se passar por ela, e em parte isso explicaria a febre que Robert Pattinson (Edward) provocou no público adolescente, torçamos para que elaborem e façam a passagem para as relações reais.
No filme, apesar de toda diferença existente entre eles, Edward e Bella se aproximam, passam para a tentativa de proximidade corporal, a que pode ser realizada. A conversa inicial de Bella e Edward traz uma beleza indescritível, ela em busca da verdade para poder confiar, ele assustado com a possibilidade de ser rejeitado por ela por sua condição(qual adolescente não traz esse medo?). Todo revelar-se dele só faz ganhar a aproximação de Bella, linda a mensagem para pensarmos nas máscaras relacionais. A cena da revelação à luz do sol é encantadora pela singeleza.
Interessante no filme a questão de Bella abandonar sua relação com sua mãe para que essa possa ter sua relação amorosa, na aproximação com o pai, que traz nesse caminho a aproximação com o amor por Edward, poderemos ver o traçado da dissolução do Complexo de Édipo de uma forma muito bonita. Levanta muitos pontos para o debate, se visto por uma ótica freudiana.
O Diabo Veste Prada
3.8 2,4K Assista Agoradiversão certa!
Mamma Mia! O Filme
3.6 1,8K Assista AgoraMeryl mostrando suas mil facetas em um musical de te tirar da cadeira!!
A Dama de Ferro
3.6 1,7Kótimo filme q conta uma fase da historia mundial q muitos jovens nao vivenciaram e foi tao importante. Mereceu o premio. Perfeita!
A Partida
4.3 523 Assista AgoraDaigo Kobayashi (Masahiro Motoki) é um violoncelista que se vê frente a dissolução da orquestra onde havia sido recentemente incorporado, a partir desse evento questiona seu talento para a música e decide retornar a sua cidade natal, onde começará uma jornada de reencontro com sua própria história ao mesmo tempo em que lidará com sua nova atividade, emprego buscado sem que tivesse conhecimento do que se tratava, aceito nele, passará a participar da preparação dos mortos para a “última jornada”.
Daigo nos demonstra todo nojo e horror que a morte nos desperta em sua feiúra e ameaça. Enfrenta os conflitos que essa sua nova ocupação o colocará, Já seu chefe, parece ser um homem totalmente absorvido por essa delicada tarefa, que desempenha com dedicação e muito afeto. Daigo percebe esse afeto em todos os cuidados que Ikuei Sasaki (Tsutomu Yamazaki), agora seu mestre, coloca em cada preparação do morto para sua colocação no caixão, a cerimônia evidencia tudo aquilo que de certa forma vemos contemplado nos estudos sobre o luto, onde podemos ver que essas cerimônias de funeral servem para que os vivos possam começar o grande trabalho que representa a vivência do luto e o “desenlutamento” que deverá vir com o tempo. Daigo observa e aos poucos do nojo e horror vão cedendo lugar para um verdadeiro apaixonamento, começará a entender a morte, “a jornada”, como algo que representa, muito, um sublinhar sobre a vida de quem fica, dos vínculos que foram constituídos por aquele que parte, fim de todos nós afinal. A preocupação com a maquilagem que transformará esse cadáver naquilo que foi quando habitado pela energia da vida é um detalhe tocante na confecção do mestre e que Daigo logo se dará conta, minúcia delicadamente abordada nesse filme.
Capturado pela morte, nosso protagonista se volta à vida com uma força até então desconhecida, abraçado ao seu violoncelo utilizado quando era criança, tocará para o grande espaço, descobrindo no prazer de tocar sua grande ligação não somente com a música, mas com sua própria história que fala de um abandono paterno que Daigo ainda não conseguiu processar em sua emoção. Todos temos tarefas de luto inacabadas, sabemos disso em algum lugar do nosso ser, assim como sabemos que só realizando-as poderemos descobrir a beleza do vínculo que estar vivo representa e a marca que todos nossos afetos deixam depois de passar por nós. Aqui lembramos, por associações possíveis, de uma cena muito forte que tem em outro filme japonês intitulado “Dolls”(Direção Takeshi Kitano – 2002) onde uma jovem tenta se suicidar após ser abandonada por seu noivo, salva da morte, esse noivo passa a andar com ela para toda parte, pulsos amarrados aos seus, com receio de que ela volte a tentar o suicídio(matá-lo dentro de si mesma?). Outro filme sobre o qual vale fazer reflexões sobre vida, morte, culpa, prazer e repetição, elaboração, liberdade e natureza dos vínculos. Representações possíveis acerca da tarefa do luto e “desaprisionamento” da relação acusação/culpa/perdão/desapego/elaboração.
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A Era do Gelo 3
3.6 1,1K Assista AgoraSe é para se jogar, que “se jogue de cabeça”.
Quando propusemos uma possível Cinematerapia, comentamos sobre a possibilidade de se deixar invadir pelas emoções que o cinema nos desperta. É preciso se deixar envolver e o filme despertará algo em seu psiquismo.
Nada melhor do que a “realidade 3D”, onde ao invés de você adentrar no filme, ele “vem” até você. A terceira edição do desenho veio neste formato e a experiência é bastante interessante, uma vez que desenhos com suas belas metáforas, trazem consigo mensagens que podem levar à reflexões.
Se puder, assista acompanhado com crianças, naquela bagunça que somente elas sabem fazer no cinema. Se permita voltar no tempo, a sua infância, e curta um momento de regressão somente seu, repleto de efeitos especiais. É claro que com isso, você terá que ver o filme dublado (infelizmente, não é uma das melhores já realizadas).
O desenho versa sobre relações familiares, laços afetivos e em como a chegada de um novo membro pode alterar a dinâmica familiar. Nada mais produtivo para uma cinematerapia, seja pessoal, seja em grupos de adolescentes e crianças. Uma belíssima história de como construímos nossos laços afetivos ao longo de nossas vidas.
Ellie, a mamute, está “grávida” e preste a ter seu filhotinho. O pai, Manny está ansioso como tantos outros, tentando se adaptar as responsabilidades que o papel social exige. Um filho nos traz a imortalidade (nome de família) e ao mesmo tempo nos define para sempre como mortais que somos. Seja em que idade for que isso aconteça é um despedir-se da grata imortalidade juvenil. Nos damos conta rapidamente disso ao olharmos para aquele ser ali tão desprotegido em sua fragilidade em desenvolvimento.
Estamos proibidos de morrer, a vida passa a ter sentido duplo, aumentado, redefinido. Manny e Ellie, como todo casal, passam por essas transformações e dúvidas e seus personagens, metaforicamente, começam a assumir posturas mais adultas, tendo a fêmea adotado a posição decisória.
A pequena “Amora” vai chegar, e como diria Freud, como “sua majestade o bebê”, nos impõem suas necessidades, nos ensinam a ouvi-los, nos acolhem em nossas desmedidas emoções. Como nos diz Luis Cláudio Figueiredo: “De qualquer forma, mantém-se a hipótese de que, antes de mais nada, um bebê é o suporte para as transferências de seus pais, não apenas um objeto de seus cuidados desinteressados, e de que é a partir desta condição que uma subjetividade se organiza, na forma de uma resposta à transferência”.(Sugerimos a leitura completa do texto no link A)
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Os Esquecidos
3.0 604 Assista AgoraCom direção de Joseph Rubene, roteiro de Gerald di Pego e estrelado por Julianne Moore, Alfre Woodard, Gary Sinise e Dominic West.
Se, estamos falando de cinema e psicologia ou de cinematerapia, será que faz algum sentido falarmos desse filme? Essa foi a pergunta que nos fizemos ao decidir escrever sobre essa estranha película cinematográfica. Se o desfecho dela não tem muita relação com a psicologia em si, transformando aquilo que veríamos como delírio em uma possibilidade real, toda a argumentação construída ao longo do filme é muito interessante para pensarmos a partir de um olhar, para questões estudadas e compreendidas pelo campo psi.
O filme narra a história de uma mãe, Kelly Paretta (Julianne Moore), que perdeu seu filho há aproximadamente um ano e começa a viver uma estranha situação, porque tudo a sua volta, assim como todos, tentam convencê-la de que seu filho jamais existiu. Segundo estes, ela o teria perdido durante a gravidez e por isso, como mecanismo de defesa, haveria desenvolvido toda uma construção delirante acerca da existência de um filho, inclusive com fragmentos de lembrança que aparecem com alguma constância.
Tanto seu marido, Jim (Anthony Edwards), como seu médico Dr. Munce (Gary Sinise), tentam mostrar-lhe evidências de que tudo não passa de uma fantasia ligada a uma dificuldade de elaborar sua perda, que seria apenas um delírio reparador. Kelly Paretta segue em estado de confusão, porém sem duvidar das suas sensações internas sobre a existência de seu filho, confusa e desorientada segue, até que conhece Ash Correll (Dominic West), que seria pai de outra criança que também teria sido uma das vítimas do acidente com um pequeno avião que estaria levando em excursão crianças de uma escola.
Inicialmente ele também pensa que ela é apenas uma mulher em estado confusional, que estaria precisando de ajuda e tratamento, embora ela tente convencê-lo de que seu filho e uma suposta filha dele, teriam sido muito amigos. Ash se encontra em uma fase também muito conturbada e sofre com um estado de alcoolismo recente. Kelly, fugindo do Dr. Munce e de seu marido Jim, passa a noite na casa de Ash cuidando dele, e ao acordar repete sua história para. Ele frente a narrativa, chama a polícia para levá-la de sua casa. Ela havia retirado todo papel de parede do quarto que teria sido da filha de Ash e por debaixo dele encontravam-se muitos desenhos feitos na parede, habito esse de desenhar que teria a filha de Ash, segundo Kelly, permitido por ele. Ash primeiramente argumenta que deviam ser desenhos de antigos moradores, até que a lembrança o assalta e começa a ter flashs de momentos com sua filha.
Os amantes de Psicopatologia ao ver essa cena vibram e sempre questionam: Seria um “folie à deux”(delírio compartilhado)? Daí pra frente o filme toma rumo impensáveis, interessantes também para nosso exercício criativo e de alguma maneira como uma metáfora a respeito de como nós mesmos, não precisamos de alienígenas para fazer isso, estudamos sobre nossos comportamentos muitas vezes de maneira indutiva com uma neutralidade um tanto quanto impossível. Podemos ainda pensar nos alienígenas como os “demônios” internos, tão bem descritos por Rubens Alves em sua coluna mensal na Revista Psiquê.
Mas, o que nos interessa abordar quanto a temática desse filme? Justamente a questão dos vínculos entre crianças e seus “cuidadores”, aqueles que cumprem a função materna, que estabelecem aquilo que Winnicott nomeava de “holding” que fala de uma capacidade da mãe de identificar-se com seu filho, estabelecer uma relação tão intensa que começará, antes de que, ele possa se ver como um organismo independente e se desenvolve no sentido da autonomia quando encontra aquilo que nomeia como uma “mãe suficientemente boa” que vai junto ao seu filho construindo essa possibilidade.
Encontraremos aí outro conceito bastante interessante que é o de verdadeiro self que fala daquilo que é o sujeito antes da entrada de todas as adaptações que fará em relação ao “ambiente”. Essa ligação que se estabelece nos cuidados com o bebê funda uma relação que muitos outros autores nomearão de formas mais variadas, mas que sustentam algo que costumamos pensar, quando se estabelece, como o chamado “amor incondicional”, onde aqueles que se permitem tocar por ele, são modificados de uma maneira bastante significativa.
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O Exorcismo de Emily Rose
3.5 1,5K Assista AgoraOrientações aos Leitores
Esse é um filme delicado que fala sobre Psicose e sobre Religião. E todos nós sabemos quanto é delicada esta questão. Acreditamos que alguns pontos sobre esse tema, relacionando Psicologia e Religião, precisam ser esclarecidos.
É complicado quando lidamos com esse tema e é um dos que mais aparece em debates virtuais. Quase que diariamente são mencionadas situações que envolvem a religião e psicologia. Falar sobre Religião dentro de um contexto psicológico e social é uma coisa, mesclar religião com Psicologia é outra. Prometer curas atreladas à religiosidade, usando teorias psicológicas não faz parte das atribuições do profissional Psicólogo(e de nenhum outro do campo psi). Se você conhece algum profissional que use de religião dentro do trabalho como Psicólogo, sugerimos que procure orientação no Conselho Regional de Psicologia (CRP). O nosso Código de Ética do Profissional do Psicólogo não permite esse tipo de associação. Portanto, desconfie de trabalhos psicoterápicos atrelados a qualquer que seja a corrente religiosa.
Existem diversos “tipos de conhecimento”, sendo a Religião em deles, e a Ciência, outro. Estamos, portanto, trabalhando no campo da ciência psicologia, e a religião aqui tem um papel específico. Sabemos que muitas ou mesmo maioria das vezes, alguma tensão se instala entre esses dois campos.
A religião entra em nossos estudos como um evento coletivo, um fenômeno, uma crença, uma necessidade. Existem mil possibilidades de entendimento deste objeto de estudo, mas não como um pressuposto teórico, pois não é Psicologia.
Um religioso usa seus conhecimentos na área para ajudar aqueles que o procuram. Este é seu papel. Um psicólogo, usa a psicologia e os conhecimentos do campo psi para auxiliar seus pacientes.
Assim, a religião adentra o consultório (setting) somente em um sentido. É uma mão-única[2] que vem somente do paciente ou analisando. A religião do profissional fica do lado de fora do consultório e não faz parte de nenhum pressuposto teórico de nenhuma escola da Psicologia.
O que isso quer dizer? Não estamos, nem pretendemos, ignorar as crenças religiosas. Elas existem e devem ser respeitados, pois antes de tudo, são um Direito Constitucional.
O profissional psicólogo precisa entender o significado que essas crenças têm no psiquismo do paciente, sempre com muito respeito e acolhimento.
Esse filme é recomendado para pessoas que convivem com pacientes já diagnosticados com tipos de psicose. Serve como identificador de sofrimento, ou seja, ver que outras famílias também já passaram por isso e sofreram também e que há sim, uma possibilidade de ajudar este familiar, esse ser que sofre. A Religião é apenas uma das maneiras, e nessas horas, devemos nos utilizar de todas as possíveis. Para os profissionais, há um material importante sobre Religião e comportamento e em como pode haver interferência na psicoterapia. Útil para refletir que o profissional “embarca” com seu paciente, na tentativa de um resgate, dentro das próprias crenças dele (paciente).
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Hairspray: Em Busca da Fama
3.4 755 Assista AgoraEstamos em 2007. Temos como cenário a grande Nova Iorque, com seu terror pós-atentado e uma sociedade cansada de guerras infundadas e com medo! Medo do novo....medo de novos comportamentos....medo de novos formatos de relacionamentos e família. No centro de tudo temos Tracy Turnblad - uma típica jovem adulta americana, que busca a fama a todo custo. Veste roupas de marcas européias, idolatra a magreza anoréxica fashionista, usa um piercing babel, vive sonhando em sala de aula e seu grande sonho é participar de um desses “reality shows”, onde estudos e intelectualidade não são pré-requisitos necessários.
Ooops....erro grotesco! Essa parecia a vida de quase toda jovem adolescente dos dias de hoje, mas apesar da similaridade, neste filme temos um cenário um pouco diferenciado.
O ano é 1962, a cidade é Baltimore, localizada a nordeste do território americano. O incidente chave da participação americana na guerra do Vietnam ainda não ocorrera, entretanto, o medo gerado pela Guerra Fria tomava conta dessa sociedade, ainda bastante impregnada com idéias racistas. O medo tem dois lados: um político (comunismo) e um social (racismo). Nossa protagonista-heroína é sim Tracy Turnblad, que os invés de um piercing e roupas de moda, usa seu típico penteado no maior estilo “Jackie”. Seu sonho não é estar no “Reality Show” com câmeras espalhadas em uma casa, mas sim, em um programa de dança juvenil, ao vivo na TV, que prega que o importante é viver o “aqui e o agora” o mais intensamente possível, quase como um preparativo para uma ideologia de vida nos anos seguintes, que levaria milhares de jovens a Woodstock.
Nossa heroína atrapalhada não esta sozinha. Não tem um IMC (índice de massa corporal) solicitado nas passarelas de Milão e apesar de estar “ligeiramente” acima do seu peso, aposta no seu potencial, com ajuda de seu pai Wilbru (Christopher Walken) e sua mãe, Edna (John Travolta). Sim, Travolta retorna ao estilo musical, quase 30 anos depois de “Grease” (1978), no papel de uma dona de casa, também acima do peso, com leves sintomas de fobia social, que não sai de casa há mais de 10 anos. Edna, inicialmente, não apóia sua filha, por achar que sua aparência não está compatível com a ditadura da moda da época, mas logo percebe que viver o sonho da filha também será uma maneira de revivenciar alguns de seus maiores medos e conflitos e assim, amenizá-los. É através da jornada da filha que Edna aceitará seu corpo e redescobrirá sua sensualidade, sexualidade e seu casamento.
Como todo filme americano, a fórmula básica exige que tenhamos um vilão. Neste caso, o clã malvado é liderado por Velma Von Tussle (Michelle Pfeiffer). Uma vilã com traços europeus, quase sociopática, obcecada pelo sucesso, fama e beleza. Mais uma daquelas tão típicas mães americanas que empurram suas filhas para o estrelato a todo o custo, nos quais muitos casos derivam em transtornos alimentares.
Tracy não é apenas um catalisador para sua mãe, mas sim, para toda uma comunidade negra, segregada pela sociedade local. Encabeçando esta turma está Motormouth Maybelle, interpretada pela Diva Queen Latifah. Motormouth é uma líder comunitária que coordena um grupo de jovens negros dançarinos com sonhos de liberdade e igualdade de direitos.
Mas como nossa heroína rechonchuda pode nos ajudar? Estamos lidando aqui com um belíssimo filme sobre “Imagem corporal”, que grotescamente definindo, seria a imagem psíquica que temos de nos mesmos. Em uma leitura mais Psicanalítica, sabemos que o processo de formação da imagem corporal tem, obviamente, sua base no que Freud chamou de “Princípio do Prazer”, e se funde com o próprio processo de formação do Ego, passando pela Ego Função e Ego projeção, onde nossos sentidos (no termo mais biológico possível), são fundamentais, posteriormente sendo necessário o Outro. Ou ainda nas operações de alienação e separação no que Lacan denominou de “Estádio do Espelho”.
Nós, profissionais psi, sabemos do grande impacto que um prejuízo na auto-imagem corporal pode causar no comportamento de um sujeito, especialmente na adolescência. E em como as figuras parentais são importantes neste longo processo. Grande parte dos transtornos alimentares ocorrem hoje em adolescentes do sexo feminino, pressionadas por uma industria da moda e beleza, em uma plataforma de magreza exagerada. Tracy nos trás um exemplo positivo a ser utilizado com referência de aceitação e pacífica convivência com seu peso, dentro de parâmetros considerados saudáveis.
Do ponto de vista social, temos ainda uma excelente exemplificação de racismo, que Freud nos coloca como uma forma de esteriotipização mais narcisica e destruitiva. Não há como negar a superioridade da “ginga” e ritmo das dançarinas negras, bem como na “quase” consciente inveja e medo daqueles responsáveis por esta segregação.
Portanto, prepare seu spray, sua roupa de época, chiclete, muita pipoca e vontade de dançar. Se ao final do filme você não estiver estalando os dedos, batendo palmas ou os pés no chão e vibrando com as cenas musicais, é sinal de que você não conseguiu captar a essência do filme.
O Nevoeiro
3.5 2,6K Assista AgoraO mestre do terror chega as telas com mais um de seus filmes. E em época bem oportuna. Quando se pensa em terror, o primeiro e único nome que nos vem a mente é Stephen King e sua coleção de obras literárias, que, nem todas com grande sucesso, foram adaptadas ao cinema. O Nevoeiro foi uma das que deu certo!
Lançado nos cinemas brasileiros ao mesmo tempo que o projeto LHC (Large Hadron Collide), tomou conta da mídia, onde os cientistas tentavam recriar, na Europa, o Big Bang, e pessoas no mundo inteiro temiam que um buraco negro engolisse o planeta como resultado desta experiencia, o filme atraiu diversos espectadores, fascinados pelas teorias sempre mirabolantes e quase perversas, propostas pelo pacato escritor. Sua capacidade de amedrontar aqueles que lêem ou assistem as adaptacões de suas obras é unica e qualquer amante de suspense ou terror concorda com sua peculiar forma de se expressar.
Mas, o que um filme de suspense interessa aos profissionais e estudantes psi ? Muita coisa! São nessas situações, onde os personagens são levados aos seus limites de tolerância psicológica, que alguns quadros interessantes são apresentados, e passíveis de inferências.
E porque temos tanto interesse em filmes de suspense ou ficção cientifica ? Estaria isto relacionado a nossa necessidade de entender ou prever o futuro? Freud ja postulava que quanto mais se conhece em relação ao passado e ao presente, mais inseguro nos tornamos em relação ao nosso proprio futuro. Talvez a ficção cientifica venha preencher essa lacuna no nosso psiquismo, ocupando um espaço que nem mesmo as nossas mais positivas ciências conseguem prever. Outra análise possível seria pela própria experimentação da angústica como uma certa realização de desejo por parte do psiquismo, aquilo que popularmente chama-se de “injeção de adrenalina”.
Em momentos de alto nível de estresse, os personagens tentam recorrer à racionalidade, em meio a uma situação digna da ficção, dificil e distante de acreditar. É nessas horas que a irracionalidade toma conta e vemos claramente o que Freud escreveu em 1927, em “O futuro de uma Ilusão”, quando afirma que os regulamentos, instituições e ordens da sociedade existem para preserva-la e a defender do PRÓPRIO individuo “O estado proíbe ao indivíduo a prática de atos infratores, não porque deseje aboli-los, mas sim porque quer monopolizá-los.” Quando não se tem mais policia, bandido, juizes e legislação, ou a quem recorrer, as “pulsoes hostis” podem tomar contar e causar estragos. Sem ter para onde correr ou a quem pedir ajuda, os “habitantes” da micro-comunidade que se forma dentro do mini-mercado passam a agir por conta própria, com suas próprias leis, novas regras ou normas estabelecidas. Fragilizados pela situação atipica em que se encontram, se tornam vulneráveis às pulsões mais hostis, como se seu superego tivesse “adormecido”, uma vez que não pode ser reforçado pelas normas existentes, deixando a mostra o que Freud chamou de “tendências destrutivas”. Essas tendências destrutivas seriam próprias da pulsão de morte, que se move sempre aliada a pulsão de vida que é composta pela primeira dualidade da teoria freudiana, englobando então as pulsões sexuais e de auto-preservarção que atuariam juntas em uma mesma corrente. O organismo tende a destruição, mas preservará sempre sua tendência a morrer como escolhe. Salvar-se é uma premissa anterior a qualquer outra e para esse fim o aparelho disporá de toda sua agressividade contra tudo e todos. Afrouxam-se os laços afetivos e volta-se para um estado anterior às normas civilizadas, criando novas regras dentro das novas relações de vínculo e sobrevivência. Temos relatos na vida real de várias situações onde grupos para sua sobrevivência compuseram novas regras e superaram todos os seus impedimentos superegóicos civilizados.
E a partir deste momento, no filme, que temos exemplificaçoes do que Freud chamou de “frustrações, proibições e privação”.
Um dos personagens mais interessantes do filme e Mrs. Carmody, interpretado por Marcia Gay Harden. Reparem como no começo do filme ela e apenas vista pelos demais habitantes do vilarejo como a “fanática religiosa” e com “mania de limpeza”. Ao longo do filme seu personagem cresce, em meio ao desespero dos demais, e suas “loucuras” passam a ser compartilhadas, como normas superegóicas infantis de identificação e dependência ao superego parental. Sua capacidade de argumentação cresce a medida que o desespero toma conta dos demais confinados aquele pequeno espaço de terror e desinformação. Ao se verem totalmente desamparados das restrições sociais, a merce da natureza, mais do que “natural” que se apegassem a questões religiosas. Freud já nos remeteu a esse sentimento de desamparo como a sustentação das religiões em seu texto “O Futuro de uma Ilusão”, onde aponta para toda a importância que o homem conferirá a alguns símbolos como tentativa de se proteger de um desamparo primordial, repetido nas sensações do bebê deixado sozinho em seu berço. Ali naquela vivência, cada sujeito será remetido a essa profunda sensação de desamparo frente a natureza e suas ameaças. Isto abre espaço para Mrs Carmody impor sua vontade sobre os demais, devido a remoção das restrições sempre propostas pela civilizaçao, se tornando nada mais do que uma tirana, governando os demais pelas suas proprias pulsões.
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O Leitor
4.1 1,8K Assista AgoraHanna, analfabeta.
Há uma forma de contar a história desse filme e temos que começar pelo fim, sua revelação, o analfabetismo de Hanna. Outras tantas seriam possíveis e cabíveis.
Tomemos essa incapacidade como algo que amarra toda a trama que constrói esse filme, que começa como uma história de sedução e primeiro amor, lembrando um pouco um clássico do cinema com sua trilha sonora inesquecível, o filme “Verão de 42”(Summer of '42, 1971) vencedor do Oscar. No Brasil foi lançado com o título “Houve uma vez um verão”. Os dois filmes tratando de aspectos da 2ª Grande Guerra, em abordagens e contextos bastante diferentes, mas que trazem algo que os aproxima e que não é somente a aparente semelhança do enredo, meninos adolescentes em suas primeiras experiências sexuais com mulheres mais velhas que de alguma maneira nos transportam para a história emocionada da guerra.
Há algo a mais que amarra os dois, mas que somente o filme “O Leitor” irá nos contar, como se respondesse a uma pergunta que tenha ficado suspensa no ar, como parece ser a intenção do diretor(Stephen Daldry) ao encerrar o filme com a cena do nosso protagonista Michael Berg (interpretado por Ralph Fiennes quando adulto, e por David Kross quando jovem) narrando para sua filha, já mulher adulta, tudo que aconteceu com ele e Hanna quando ele tinha apenas 15 anos. E será que essa pergunta se refere apenas a vida desses jovens depois dessa experiência? Com certeza que não, embora também a isso tente responder e ao fazê-lo responde a bem mais que isso.
Essa talvez seja uma pergunta que tenha ficado pendente ao final do outro filme que nos referimos o Summer of’ 42: e depois, como seguiu a vida desse menino? O que teria acontecido ao mundo após a 2ª Grande Guerra? O que aconteceu com as relações que estabelecemos a partir disso? Logo de cara pensamos na grande transformação que houve do papel da mulher no mundo, sua inserção nele que se transforma radicalmente a partir desse episódio, a guerra. Hanna nos faz pensar nisso ao responder frente ao tribunal sobre o porquê não teria aberto as portas da igreja onde 300 prisioneiras sob sua guarda teriam morrido, responde Hanna: - mas nós éramos guardas, nossa tarefa era não permitir que fugissem! Mulheres cumprindo ordens, como lhes cabia muito bem. Essa de cara é uma mudança que sabemos ter ocorrido a partir das modificações que aconteceram via a entrada no trabalho de guerra da mão de obra feminina, como nos conta Marie Langer:
“Terminou a guerra. Voltaram os homens e se encontraram com uma mulher independente economicamente, consciente de seus valores, de cabelo cortado à “garçonne” e com uma liberdade sexual comparável à do homem. Ao não implicar conseqüências biológicas para ela, o ato sexual corria o risco de converter-se somente em fonte de prazer, de ter perdido transcedência e adquirido autonomia”(LANGER, M. in “Maternidade e Sexo”)
Mas, se pensarmos apenas nesse aspecto, a história de Hanna, não será contada como deve, afinal ela retrata o extermínio, a ausência de pensamento crítico, seu analfabetismo social, como em determinado ponto do filme, em uma discussão acontecida na aula de direito que Michael freqüenta durante o julgamento, seu colega pergunta a partir da sua revolta do como todos participaram daquilo, se todos sabiam o que estava acontecendo na Alemanha de Hitler, o que levou a que ninguém fizesse nada? Essa é uma pergunta que ainda dói e constrói a culpa dos países que compuseram o Eixo. Outros grandes diretores, como por exemplo, Rainer Werner Fassbinder, abordaram com grande precisão essa temática da opressão da culpa nos anos pós guerra......
A Prova
3.2 138 Assista AgoraApesar de ser um filme lançado em 2005 nos cinemas, “A Prova” chegou sem muito alarde às locadoras brasileiras. Indicado para diversos prêmios (Incluindo o Globo de Ouro - Melhor Atriz em drama - Gwyneth Paltrow), este filme não teve o mesmo impacto junto ao público brasileiro.
Talvez não tenha também grande impacto nas locadoras, pois a leitura da sinopse nos remonta ao já tão conhecido Uma mente brilhante ( A Beautiful Mind, 2001) . O elenco por si só já vende o produto e espero, sinceramente, que isto seja o suficiente para atrair espectadores, pois o filme traz contribuições interessantes sobre Transtornos mentais, que podem ser úteis tanto para profissionais e estudantes, como para os leigos.
A adaptação da peça de teatro (original) para a tela grande já surpreende desde o começo, já se percebe que o filme traz um pouco mais de conteúdo do que os demais. Catherine (Gwyneth Paltrow) conversa com seu pai Robert (Anthony Hopkins), um momento totalmente familiar que passaria despercebido em uma cena simples. Temos então uma reviravolta inicial que para nós, profissionais psi, pode ser de grande utilidade.
A cena em questão traz o questionamento de que “os loucos não se perguntam se estão loucos”, o que nos remete aos conteúdos teóricos de Egossintonia e Egodistonia, um dos princípios diferenciadores das estruturas neurótica e psicótica. Na mesma cena, temos questionamentos sobre a hereditariedade ou não da Esquizofrenia, bem como dados estatísticos sobre o seu aparecimento.
Qualquer leitura de Manual de diagnóstico CID-10 ou DSM-IV-TR, poderá trazer mais luz a esta cena, onde se encontram informações sobre a incidência genética e a interação ambiental e suas influências no aparecimento da Esquizofrenia. Acho ainda interessante terem utilizado a idade “27 anos”, pois muitos autores afirmam que os esquizofrênicos normalmente têm seu primeiro episódio psicótico até esta idade, sendo raros os casos posteriores.
Pronto, então temos uma protagonista psicótica? Não necessariamente. A alteração na sensopercepção que ela tem no início do filme jamais poderia ser interpretada como um surto psicótico. Ao longo da trama, percebe-se que Catherine está passando por um momento de alto nível de estresse e que nessas situações é aceitável que um paciente possa se comportar de maneira intensa e um tanto fragmentada. Assim, podemos entender essa situação como apenas um “episódio”, pois não temos informações de uma anamnese mais detalhada para saber se estaríamos lidando com um surto. É importante que o leitor assista às cenas “extras” do DVD, pois acreditamos que uma delas tenha sido cortada justamente por este motivo. Nesta, Catherine aparece no banheiro conversando com seu pai, levando então, o espectador, a confirmar possíveis suspeitas de que ela, teria “herdado”, a doença dele (reparem que nesta cena ela usa uma expressão matemática para dizer que seu pai – alucinação visual e auditiva – não é “real”).
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Razão e Sensibilidade
4.0 526 Assista AgoraAssisti recentemente ao filme “O Clube do Livro de Jane Austin (The Jane Austen Book Club) e fiquei impressionado com as informações dos personagens dos Romances desta autora. Não têm como não se interessar pela saga de cada personagem mencionado e deixar se envolver pela influencia que exercem na vida daquelas pessoas.
Jane Austin viveu há alguns séculos, mas seus livros a tornaram imortal. É lida mundialmente e ganhou seu espaço nos romances mais lidos do mundo. Influenciado pelo Clube do Livro, resolvi re-ler alguns romances, ler outros, e principalmente, rever as adaptações para o cinema. O primeiro escolhido foi “Razão e Sensibilidade” (Sense and Sensibility). A saga da família Dashwood se consagrou nos cinemas em 1995, apresentando futuros astros, como Kate Winslet, e consagrando mais ainda alguns outros, como Emma Thompson e Hugh Grant.
O mais interessante, para mim, é poder rever algo 13 anos depois, mas desta vez, com uma “escuta clínica”, que perpassa por minha atuação profissional. É interessante perceber toda a rede de amor e intrigas, partir de um outro referencial.
O que mais me chamou a atenção foi a capacidade que Austin teve de compor a psicodinâmica de suas personagens, retratando com uma brutal veracidade, o universo psicológico, principalmente das personagens femininas. Não sou adepto a qualquer machismo ou feminismo, mas quanto mais me aproximo de Austin, mas acredito que apenas uma mulher é capaz de descrever a complexidade e magnitude do universo feminino. Talvez isso tivesse auxiliado, e muito, a Freud.
O cotidiano de Jane foi a Inglaterra do final dos 1700 e inicio dos 1800, mas me surpreende a atualidade de alguns conflitos mostrados. O que chama a atenção é a pacata vida, tão bucólica que beira a perfeição, mas mesmo assim, não há “felicidade” absoluta.
Questiono-me se seria mais fácil resolver conflitos naquela época do que na nossa. Hoje, além dos conflitos internos e o sofrimento psíquico que nos causam, temos que lidar com problemas “externos”, agravantes da situação, como violência, miséria, trânsito, etc.
As formas como as relações eram baseadas em valores distintos, trás inquietude, ao se ver o filme. A impressão é que havia uma “atividade superegóica” mais intensa, o que gerava uma necessidade maior de dispêndio de “energia psíquica”[caso quantificável] para o dia-a-dia. Falar exigia um maior “pensar”.Sentimentos eram mais escondidos. Andar, vestir, comer, demonstrar.....tudo parece ser mais “complexo” e dispendioso.
Porém, sobrava mais tempo para atividades intelectuais, como literatura e música.
Do outro lado, o ciúmes, inveja, corrupção, maldade...eram mais expressos abertamente, e não com a “velação” que se tem hoje, os tornando, talvez, mais prejudiciais. As cenas em que os personagens masculinos participam, agredindo verbalmente uns aos outros, demonstra isso.
De um jeito ou de outro, comparando aquela “sociedade” e a “nossa”, podemos nos questionar onde teria sido melhor viver, ou trabalhar [:]. O que me deixa a pergunta:
O que aconteceu com nossa “sociedade”, que deixamos chegar ao ponto em que estamos? Quando deixamos de ter “sensibilidade”, e consequentemente poesia e amor, e passamos a usar e sermos somente “razão”?
Quando perdemos nossa sensibilidade?
Quando deixamos de ser humanos?
Fica a reflexão....
A Outra
3.8 981 Assista AgoraIntrigas, amores proibidos, escândalos, assassinatos, traições, pecados, blasfemia.....não, você não está assistindo a mais uma novela mexicana....esses são relatos da história. Para os amantes dos filmes que retraram as famílias reais, este é mais um presente que nos conta a história, e quem sabe, nos ensinar um pouco sobre o futuro.
Sem muito “alvoroço” o filme passou quase despercebido nos EUA e aqui no Brasil, sem grandes premiações ou indicações. O que não quer dizer que não seja bom. Pelo contrário. Mais um filme que pode nos ensinar através da história, seja ela inglesa, americana ou brasileira.
Natalie Portman é Ana Bolena, a rainha inglesa mais comentada e talvez mais criticada de todos os tempos. Sua filha, Elizabeth, já rendou alguns grandes filmes e produções, assim como prêmios a renomadas atrizes. Depois de balançar o mundo de vários espectadores em Closer- Perto Demais, Portmam retorna a um papel dramático e complexo, onde pode novamente mostrar seu talento. Apesar do filme ser direcionado a sua irmã, Maria, é Ana Bolena “Portman” que rouba a cena e nos remete a reflexões e analogias, a seguir.
O segredo de várias áreas mercadológicas dos dias de hoje está em ser criativo, melhorar resultados, antecipar ações, pever problemas e soluções. Para isso, podemos usar nossos conhecimentos de história e de psicologia, para entendermos as relações de hoje, e ver que não mudaram muito, mesmo 500 anos depois.
Quem eram os “Reis” senão “escolhidos por Deus”, representantes máximos no imaginário da população medieval? Eram representados pelo “Sol”, símbolo psíquico do PAI, do Poder, e do Falo. São comuns os relatos a esta simbologia na literatura específica. Como explicar a adoração e submissão de tantos, pela representação simbólica de alguém, “filho legítimo” e herdeiro do trono, responsável por todo destino de uma nação? Tentem imaginar como seria NASCER acreditando que aquele que governa seu país havia sido escolhido por “Deus”, superior a você e a todos, e a aceitação deste como tal soberano seria essencial para sua sobrevivência. Não estamos falando somente no fato de não ter “liberdade política”, mas também em ACREDITAR que aquilo lhe era imposto por “Deus” e não poderia ser contestado. Com esta visão se torna mais fácil entender alguns comportamentos daquela época.
Talvez séculos tenham se passado, mas o sujeito da psicanálise continua o mesmo, nos referenciando novamente a Freud e em como ele foi precursor em alguns aspectos muito importantes sobre a nossa vida psíquica.
Gravidez sempre foi , e não podemos negar, um objeto de barganha. O “golpe da barriga” era dado nos séculos passados e alguns homens ainda continuam com a mesma “ingenuidade” e caem no mesmo golpe nos dias de hoje. São inúmeros os relatos na clínica que nos mostram que este fato ainda ocorre. A esperteza de Ana e Maria Bolena no filme nos mostra que mesmo sendo vistas como objetos e não reconhecidas socialmente, as mulheres continuavam buscando pelos seus ideais, mesmo em condições tão adversas. (no sentido mais feminista possível). Qual a diferença entre Ana e Maria Bolena e as eternas aspirantes a estrelas de televisão ou caçadoras de astros de futebol nos dias de hoje? Nenhuma.....
Se você, leitor, acha que os adolescentes dos dia de hoje são “rebeldes”, “maldosos” e “folgados”, imagine como seria ser adolescente na corte inglesa, rodeado de inveja, traições e todas as tramas que a história nos relata. Isso pode nos remeter a idéia de que os conflitos em todas as fases da vida são referenciados dentro do seu contexto histórico e social no qual estão incluídos, e jamais podem ser comparados entre “gerações”. Isto se aplica aqueles comentários do senso comum “na minha época as coisas nao eram assim....”
Acho que o filme pode nos trazer reflexões sobre as questões “temporais” que cercam a vida moderna. Vamos criar um exemplo: Há alguns anos, o trajeto para o trabalho demorava em média 60 minutos. Com a melhoria das vias urbanas e consequentemente da tecnologia, esse trajeto passou a 30 minutos. Anos depois, mais melhorias e este trajeto leva hoje 15 minutos. Agora, em pleno século XXI, SE seu ônibus levar 18 minutos pelo mesmo trajeto, pode ser uma “catástrofe”. “Time is Money” e encorporamos isto de uma tal maneira que qualquer minuto ou segundo a mais no dia pode nos trazer benefícios e com isso, ocupamos 18 ou 20 horas de nossos dias, com o eterno intuito de produzir mais, para ganhar mais, para conseguir mais e seguir sempre com “mais e mais”. Com isso, perdemos a possibilidade de elaborarmos alguns conteúdos e talvez, isso nos faça requerer cada vez mais e mais ajuda psi nos dias de hoje.
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Valente
3.5 257 Assista AgoraJodie Foster retorna ao cinema depois de algum tempo, confirmando o porquê fora um ícone nos anos 90, arrebatando diversos prêmios. Como de costume, Foster interpreta uma mulher forte, decidida e disposta a controlar sua vida. Erica Bain (Jodie Foster) acaba de perder seu futuro marido, nas vésperas do casamento. Ambos sofrem um ataque com requintes de crueldade, quando curtiam os prazeres da vida a dois, aproveitando momentos simples, como um passeio com o cachorro pelo parque.
Após ficar em coma por algumas semanas, Érica “retorna” e é informada sobre a morte de seu noivo. Porém, a pessoa que retorna não é mais a mesma, dando vazão para pulsões [e não “instinto”], que antes eram reprimidos.
As primeiras cenas do filme nos remotam aos casos clássicos de Transtorno de Estresse Pos-Traumático (TEPT). Ficamos surpresos ao perceber que Erica não recebe nenhum acompanhamento psicoterápico ou orientação, mesmo tendo sido vítima de um crime brutal. E obviamente, os primeiros sintomas aparecem na sequência: agorofobia e evitação. Seus sentidos aparentam estar aguçados, especialmente a audição – sua ferramenta de trabalho. Temos cenas perfeitas de sinestesia, onde sua audição distorcida se liga a memórias do trauma.
Após o incidente, ela questiona o mesmo que muitos cidadãos de megalópoles: quem são os bandidos e quem são os mocinhos? Sua percepção de que a força policial não está cumprindo sua função social fica clara quando ela demonstra esse “medo”. Podemos pensar na incerteza quanto aos interditos da cultura que se apresentam na contemporaneidade e que têm levado ao sofrimento o sujeito psíquico que passa, então, a se inscrever a partir do lugar do sintoma
Nas cenas em que procura ajuda policial, percebemos a des-humanização das delegacias, que não somente acontecem em países “em desenvolvimento” ou países pobres. Mesmo em Nova Iorque, os contribuintes são tratados como “números”, como se estivessem sendo recepcionados por um dos irritantes atendentes robóticos de telemarketing. A falta de sensibilidade, de alguns membros da força policial, para lidar com situações traumáticas e causadoras de sofrimento psíquico são nítidas
O trauma a que foi exposta no primeiro incidente, desperta em Érica o desejo de proteção. Como a proteção oficial é falha, ela procura se defender com a ajuda do submundo do crime, conseguindo uma arma ilegalmente. Como vive em uma cidade efervescente e em constante crescimento, era de se esperar que fosse exposta novamente a outra situação de violência, e assim, Érica dá início a uma nova forma de defesa: o ataque!
É como se os traumas consecutivos, aliados ao medo e a sintomatologia do TEPT despertassem em Érica um quadro comórbido de Parafilia. Um Superego, talvez “flácido”, passa a atuar e defesas perversas surgem. Érica se transforma em alguém que nem mesmo ela reconhece: fria, calculista e disposta a matar.
Seu programa de rádio passar a exercer uma função catártica, e é através dele que ela tenta entender o que se passa consigo mesma. A violência da cidade, e agora a sua, passam a ter menos impacto, e viver com o “medo” é mencionado, mas afastado da vida dela. É então que ela entra em um ciclo de compulsividade, atuando em situações de risco, disposta a realizar sua vingança.
A tríade perversa toma conta de seu comportamento: Onisciência, Onipresença e a Onipotência. Como nos contos clássicos de serial killers, Érica retorna ao local de um dos crimes, e sua profissão de jornalista facilita uma aproximação com o policial responsável pela investigação dos crimes que ELA cometera. Se aproxima do Detetive Mercer (Terrence Howard) e usa as entrevistas e conversas informais para aperfeiçoar sua atividade ilícita. Assim como os policiais e bandidos, percebe que suas “mãos” não tremem, e por mais que relute em alguns momentos, matar se torna algo “necessário”. É então que saí em busca de situações que a coloquem em risco, buscando uma “defesa-ataque”. Talvez buscando como está dito por alguns autores, uma forma de ser vista em sua dor, pela atuação psicopática que busca ser descoberta.
Quando seus ouvintes e fãs começam a debater sobre o possível justiceiro, podemos ver o Superego de Érica agindo novamente. É como se estivesse lutando para ter influência sobre ela novamente. Em diversos momentos Érica relata que se tornou uma outra pessoa, brincando de Deus. A diferença entre ela e um anti-social é que ELA percebe que as mortes não lhe trazem prazer e algo a trás novamente para o “mundo real”.
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A Vida é Bela
4.5 2,7K Assista AgoraClassificado como comédia romântica, poderíamos pensar esse filme, dentro da nossa concepção, como uma verdadeira fábula cinematográfica. Sem dúvida um tema mais do que explorado pela sétima arte, a questão do nazismo, é o que alinhava o roteiro desse filme à primeira vista. Pensamos que esse seja apenas um dos aspectos abordados, o nazismo nele entra como uma verdadeira metáfora da capacidade humana de oprimir, de ligar-se a destruição entre os grupos e aponta para os traços humanos que, ao final, de alguma maneira nos ligam a todos, a um destino comum, a um entrelaçado que vivemos a maioria do tempo insistindo em negar. Por tudo isso e muitos mais aspectos, esse filme se torna interessante mesmo para aqueles que não apreciam esse gênero.
Esse filme nos apresenta uma boa temática para o campo psi, o embate entre fantasia e realidade(mundo externo) que Freud propôs algo como “realidade psíquica” onde não se negligencia a questão do mundo exterior com seus dados de realidade e sequer se joga pro limbo as questões importantes da fantasia nos atos que operamos. No filme o pai, Guido Orefice (Roberto Benigni), cria frente a aterradora realidade de um campo de concentração, toda uma vivência fantasiosa que proteja seu filho do medo, teremos muito o que pensar a partir disso, indo até a importância do sintoma para sobrevivência do aparelho psíquico.
Continuemos no tema, mas antes assista a esse aqui : vídeo
Hoje, muitas correntes psicoterápicas têm como objetivo atacar o sintoma, em alguns momentos isso poderá sim ser muito benéfico ao paciente, porém devemos pensar, e estamos tomando esse filme aqui como uma metáfora para pensar nessa questão, que todo sintoma é resultante de uma complexa negociação operada pelo aparelhamento psíquico, resultado do desejo e da defesa(famosos dois D’s), ele cumpre uma função, até que o ego possa sofrer uma modificação, é o melhor resultado que pode encontrar. Vamos pensar a partir da cena desse vídeo, frente a uma realidade atemorizante, e assim é vista a realização do impulso do id pelo ego frente a realidade e ao superego, aquele pai, representado belamente por Roberto Benigni, impõe uma nova versão onde a fantasia toma o lugar da realidade, em uma tentativa de salvar seu filho do sofrimento do campo de prisioneiros. Muitas vezes é justamente nesse espaço intermediário que está o sintoma.
Que beleza pode haver na capacidade da criança em ver o mundo através dos olhos de seu pai, difícil tarefa que nos impomos ao nos aventurarmos na grande jornada da maternidade e da paternidade. Freud, mais que qualquer outro, trouxe essa concepção para que pensemos, um olhar pra trás em nossa infância perdida e um olhar pra frente nas representações que ajudaremos a construir no olhar do filho, investido por todas as nossas transferências(Figueiredo, L.C.) e por aquilo que podemos sustentar na relação com ele. Nesse encontro o resultado esperado é a possibilidade de que esse filho venha a construir sua própria subjetividade, alcançar sua alteridade. Pudessem os pais controlar as variáveis de sofrimento do mundo externo como essa fábula em filme propõe, mas também nos perguntamos se isso, caso fosse viável, traria realmente algum benefício para o sujeito em formação. Freud nos fala da questão da frustração como outro importante aspecto do aparelhamento psíquico, assim como, da capacidade de adiamento da satisfação. Nessa cena vista podemos pensar também sobre esse aspecto, uma vez que ele, o pai, substitui o sofrimento existente ali por uma promessa de um grande prêmio ao final de tudo. A espera se torna o próprio alimento da sobrevivência do ego, aqui representado nesse filho.
Esse filme convida muito a que pensemos nos aspectos dos vínculos parentais e sua capacidade de doação e amor, toda a agressividade que faz parte do nosso ser também é dirigida no sentido da proteção, a questão das pulsões de auto-conservação se apresentarão totalmente modificadas, ganham uma outra dimensão, na preservação do “filo”, também emocionadamente representado no final desse filme, que nos levará a pensar na grande capacidade de ligação que há em Eros.
O pai que atravessa com suas fantasias e realidade e promove em seu filho a capacidade de superação e sobrevivência, filho esse ao final do filme, devolvido a sua mãe, orgulhosamente investido da capacidade paterna de salvá-lo enquanto sujeito.
Belo filme como pode a vida em muitos dos seus aspectos nos presentear com momentos de pura fantasia de braços dados com a realidade, uma dança que nos deixaremos envolver com todo o prazer e que faz com que afinal a vida possa valer a pena.
Gran Torino
4.2 1,5K Assista AgoraFilme dirigido por Clint Eastwood e lançado no ano de 2008. Nele, irá também representar o ensimesmado Walt Kowalski.
O filme se inicia com as cerimônias fúnebres da mulher de Walt, com a presença dos filhos e netos e alguns amigos. Clint está impagável na pele de um ranzinza e sorumbático solitário, seus comentários nos colocam sorrisos no rosto, sua falta de paciência com inúmeras posturas dos que estão presente, inclusive de sua neta, não nos passam despercebidos em sua força de ironia. Já nos é apresentado como um homem extremamente irascível, mas seu jeito nos diverte pela demonstração de que seria totalmente contrário à dissimulação e hipocrisia. Odeia todos da sua vizinhança pela mudança que o bairro sofreu sendo invadido principalmente por orientais. Por detrás dessa antipatia, ao longo do filme, conheceremos o tormento que o acompanha e que gera uma angústia desconhecida justamente por sua incapacidade de nomeá-la.
Suas conversas com o jovem padre Janovich (Christopher Carley), incumbido por sua mulher antes de morrer de que fizesse ele se confessar(nomear sua angústia), são deliciosamente sarcásticas. Embora Clint ao final do filme nos deixe com uma boa imagem desse empenhado clérigo, teremos alguns momentos onde ele beirará ao patético.
Mais um filme onde notamos a sutileza da mão de Clint dirigindo. Ela, sua direção, traz sempre um traço que beira ao poético que rasga, não o que enfeita. Saiu noticiado em algumas publicações que Angeline Jolie, depois de ser dirigida por ele no filme “Changeling”, teria dito que ele passaria a ser o único diretor que aceitaria. Vendo a qualquer um dos filmes por ele dirigido, não será difícil sentir o porquê dessa declaração de Jolie, vê-se uma profunda delicadeza na dureza dos temas que aborda, um traço marcante da presença de Clint por detrás das câmeras. Emocionante e inesquecível é a cena da morte da protagonista no filme “A Menina de Ouro”, também dirigido por Clint que tb atua nele.
Gran Torino também está longe de ser um filme leve, na temática nos fez lembrar vagamente o pesado “Duro Aprendizado”(do diretor John Singleton), mas a leveza de Clint nos leva a sorrir em muitos de seus trechos e justamente por conta disso, toda temática se torna ainda mais emocionada, causa um profundo impacto em nossas emoções, constrói possibilidades profundas de desconstrução de valores.
Nosso herói misantropo vai aos poucos sendo perturbado em seu isolamento, isso começa a dar-se a partir de um episódio com seus vizinhos, onde ele, pela visão do uso da violência e ameaça que sofre o oriental adolescente por parte de um primo e sua gangue, parte em sua defesa, a família e vizinhos agradecidos passam a deixar presentes em sua porta. Esse mesmo adolescente havia tentado roubar de sua garagem, como obediência a uma ordem dada por seu primo, chefe desse grupo que aterroriza o bairro, o carro por Walt tão estimado, quase que um símbolo da sua vida, a marca é o nome que dá o título ao filme, um Gran Torino, carro que ele mesmo montou em 1972. A mãe de Thao(Bee Vang), e sua irmã Sue(Ahney Her), o obrigam a prestar serviços a Walt para pagar tanto pela tentativa de roubo, como pela defesa de sua vida que Walt fez.
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Encontro Marcado
3.8 811 Assista AgoraFilme que nos ensina sobre a capacidade de Eros em Thanatos, ou da pulsão de vida que impera na pulsão de morte, com seu representante máximo, sua possibilidade de se mostrar em vínculo amoroso, capacidade de fazer ligações, investir afeto.
Apresentam-nos os personagens Brad Pitt e Antony Hopkins, refazendo percursos e aproximando-se ao longo desse complexo argumento que nos levará pensar sobre, o roteiro desse filme.
Thanatos resolve experimentar o que há na vida que leva a que as pessoas, a desejem tanto, tão bem representado na voracidade que mostrará ao provar a pasta de amendoim, simples ato que leva direto ao entendimento de algo tão presente na formulação freudiana, o prazer, sentido por quem experimenta alguns dos sentidos da evolução do sujeito, aqui mostrado na oralidade tão constituinte de cada um de nós. Vislumbrará em seguida a curiosidade despertada pelo forte vínculo de um pai com sua filha, a capacidade de amar presente nessa relação. Ao mesmo tempo lançará ao espectador a pergunta tão intrigante de o que seria que sustenta o amor. O que buscamos no objeto onde se adere toda a impulsão de Eros? Amar seria sempre também morrer um pouco, matar um tanto? Luto e Melancolia. No filme, representados pela perda do objeto de amor recém encontrado e que retorna investido de morte, como a nos lembrar da perda inevitável a qual ameaça todos os vínculos que fazemos ao longo da vida. Ou na aceitação das escolhas dos filhos ou da aquisição de autonomia a que têm direito.
Se esse filme não responde a nenhuma dessas perguntas, nos levará a entrar em contato com tudo aquilo que as formulam e suas possibilidades múltiplas de resposta.
Como a vida se constitui a partir da sua incontornável finitude. Como Freud pôde descobrir ao longo de suas pesquisas que apontou para a descoberta de que temos em nós, o visitante permanente representado nesse filme por Brad Pitt que ganha no filme o nome de Joe Black e nos aponta para a atração que Thanatos pode exercer em nossas vidas.
Dirigido por Martin Brest e trazendo no elenco o sempre formidável Antony Hopkins, além de Brad Pitt e Claire Forlani.
Encontraremos nele de uma forma lúdica e divertida uma bela apresentação da definitiva teoria pulsional apresentada por Sigmund Freud, a luta contra nossa finitude e a atração que temos por ela, mistura que nos move em nosso desejo frente aos nossos objetos de investimento.
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Duro Aprendizado
3.8 31 Assista Agora“Se não houver nenhuma luta, não há nenhum progresso” (Frederick Douglass, pseudônimo de Frederick Augustus Washington Bailey*). Citado no filme.
*“Ele acreditava firmemente na igualdade de todas as pessoas, independentemente de negro, mulher, índio, ou recente imigrante. Ele gostava de dizer, "eu me uniria com qualquer pessoa que faça o certo e com ninguém que faça o mal."(wikipédia)
Termina o filme, bandeira americana desfraldada na tela e a fala: Desaprenda(unlearn).
Filme de uma intensidade crescente. Inicia-se parecendo mais um desses dramas que raspará de leve questões importantes como diversidade, racismo, loucura, violência, opressão. Segue em tensão crescente, passando pelos principais acontecimentos que marcam um mundo desigual e partido e tomando um aprofundamento que causa bastante impacto no espectador.
Nosso personagem principal, Malik (Omar Epps), negro americano que consegue acesso à universidade (campus fictício da Columbia). Ele um corredor promissor que tem acesso a uma bolsa parcial para seus estudos, porém não tem como algo muito aprofundado sua relação com o conhecimento, a busca do saber. No intuito de conseguir a bolsa integral aceita competir em nome da Universidade. Em seu caminho atravessará o professor de Ciências Políticas, Phipps (Laurence Fishburne) que o levará a questionar seus próprios posicionamentos frente à vida, a luta racial, a relação com o conhecimento e discurso. Assim como sua proximidade e amizade com um veterano estudante na Universidade, o aluno Fudge (Ice Cube), marcará sua trajetória nesse primeiro semestre dentro do campus.
Cada personagem que compõe o tecido desse filme trará uma importante questão pra pensarmos, como a questão feminina e sua opressão, a diversidade sexual, a violência das relações familiares e suas conseqüências, a juventude em sua alienação, a busca de aceitação pelo grupo social e principalmente as questões do racismo e xenofobia.
John Singleton que teve aos 23 anos duas indicações para o Oscar(1991) por “Os Donos da Rua”( (Boyz'n the Hood), sendo o diretor mais novo a ter sido indicado para esse prêmio, dirige e assina o roteiro de “Duro Aprendizado”. Também é até hoje o único diretor negro a ter sido indicado ao Oscar.
Veremos ao longo desse filme muitas das questões que se colocarão para os jovens estadunidenses ali onde o campus da universidade representa todas as tensões que alimentam o social, em difíceis lições, que levam no caso do filme até ao limite da própria vida. Grupos diferentes nos são apresentados e ao longo do filme irão se entrelaçar formando a história dessa tensão bastante contemporânea.
Desde a questão dos estupros dentro do campus sobre os quais algumas matérias já foram publicadas em grandes meios de comunicação, até a vivência da segregação, perseguição da população negra dentro do espaço do campus, passando pela questão da orientação sexual e outros temas ainda pincelados ao longo do roteiro. A tensão se instala e fica bem clara ao longo do desenrolar da película, em uma direção que não se furta a aprofundar reflexões bastante importantes em meio a conversas entre os personagens. Faz refletir e se apresenta como um bom filme para balançar as mais rígidas convicções baseadas em preconceitos, problematiza questões sociais de uma maneira mobilizadora de emoções das mais diversas.
O interessante é que Malik não é um personagem que nos cause simpatia à primeira vista, também não chama a atenção por nenhuma grandeza, a não ser por seu enorme talento em correr. Questiona de maneira incessante o caminho da luta da população negra dentro de um país de supremacia branca. De frente a estátua de Colombo que dá nome à universidade, tece comentários históricos de uma maneira bastante pontual, novos parâmetros do pensar nossos heróis dentro da atualidade, há em nossos dias valores que foram sendo modificados ao longo de décadas de lutas encaminhadas por grupos alcançando modificações de crenças antes instituintes dos ideais da cultura. Dentro de uma perspectiva absolutamente pessoal, nosso personagem nos leva pelas mãos ao tomar contato com toda a tensão estrutural, a luta de forças que está abrigada dentro da malha social, da questão dos vínculos como também bastante determinados por nossos papéis dentro desse tecido, falando de origem de classe, gênero, raça, religião, ideologia. Em muitos momentos do filme o espectador será levado a sentir o mesmo estado “confusional” do personagem, onde aquilo que se acredita busca se determinar na cena, mas algo de insólito leva a um pensar por outros caminhos, brilhante essa forma como o filme nos encaminha para os questionamentos necessários, delicadas e sutis cenas que nos levam a uma desconstrução de importantes crenças que ditam aquilo que nos é vivido(que vive em nós) como nosso self .
Malik apaixona-se, e através desse amor muito de sua irascibilidade irá se tornar mais tênue, mostrando-nos a presença de Eros, porém em igual proporção sua capacidade de ação crescerá de maneira evidente, o que aumenta a tensão dentro do contexto que nos é apresentado. Não há conciliação possível, embora o amor, via fala de sua namorada, queira convidar a um revisitar essas separações raciais, sociais, de grupos. O filme não se propõe, e não cumpre mesmo essa tarefa, de apresentar soluções para a tensão social e muito menos buscará um final feliz para aplacar nossas angústias frente ao modelo instituído, sobre o qual em nossa vida cotidiana e nossos afetos, nos vemos referenciados e mantenedores dessas referências. O convite ao final do filme é claro, como deixamos aqui no início desse texto: “desaprenda”. O que de forma alguma substitui um pensar por outro, apenas convida a uma desconstrução e uma nova busca, tarefa quase sempre de angústia para o sujeito psíquico. Cada um de nós em nosso desamparo pedimos por um fast food de ideologia, como cantava nosso poeta da música nacional: “Ideologia eu quero uma pra viver...”(Cazuza).
Infância Roubada
3.5 81 Assista AgoraPorque vamos ao cinema? Para nos divertirmos, para relaxar, para chorarmos, rirmos, para nos identificarmos nos personagens, para passar o tempo, etc. E quando a realidade mostrada na grande tela nos choca, comove, assusta e envergonha?
Depois de quase dois, chega às locadoras o filme “Infância Roubada”, baseado na obra do escritor sul-africano Athol Fugard. O filme aborda a temática violência x pobreza de uma maneira bem realista e verdadeira, pelo menos para nós, brasileiros.
Apesar de ambientado e filmado na África do Sul, o leitor poderá perceber logo no inicio de que estamos presenciando uma versão importada do nosso tão aclamado “Cidade de Deus”. Talvez esta nossa produção tenha aberto o caminho para a temática, e em 2005 o diretor Gavin Hood ganhou a “nossa” sonhada estatueta.
Nosso herói (ou anti-herói) aqui é Tsotsi, um jovem pobre, analfabeto e marginalizado. Não sabemos a idade exata do rapaz, mas podemos supor que seja ainda adolescente....talvez 15 ou 16 anos. Como todo jovem, adora andar em grupos, porem, em seu caso, seu grupo é uma gangue de criminosos, com a mesma faixa etária.
Este grupo de adolescentes vive no que chamam de “ghueto”, e que por aqui, chamamos de “favela”. São discriminados socialmente, isolados de todas as maneiras possíveis, quase que vivendo em uma matrix, sobre a qual, nós temos apenas conhecimento através de livros, revistas, jornais, debates e trabalhos sociais, sem convivermos diretamente com ela.
Logo no inicio do filme, uma breve pincelada sobre alguns problemas sociais enfrentados pelos nossos amigos do outro lado do oceano. Se repararmos bem nas cenas, existe apenas um Outdoor, e o assunto nele é “HIV/AIDS”. Em um país onde mais de 20% da população encontra-se contaminada, com uma perspectiva de vida inferior a 50 anos e índices de contaminação piores do que os piores índices na América do Sul, podemos refletir que a criminalidade não é o único nem maior problema social desse país.
Mas como podemos pensar nesse filme do ponto de vista psicológico? Do ponto de vista social, é obvio que teríamos conteúdos para dezenas de debates, mas para nós, profissionais “psis”, temos um personagem cheio de nuances e que nos fornece tanta informação sobre sua psicodinâmica, que fica impossível não elaborar inferências sobre ele.
Tsotsi é nosso foco aqui, bem como suas cenas, muitas vezes expressas pelo olhar, pelo simples gesto, sem nenhuma expressão sonora deles. Temos aqui um exemplo clássico de “Transtorno de Conduta” (F91.8 - 312.8). Se nosso protagonista tivesse apenas alguns anos a mais, talvez pudéssemos inferir em um psicodiagnostico de “Transtorno de Personalidade Anti-social”, mas, não esqueça, que partimos do principio de que ele tem “apenas” 15 ou 16 anos.
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A Educação de Charlie Banks
3.3 31Traz no elenco Jesse Eisenberg, Jason Ritter, Eva Amurri, Chris Marquette, Sebastian Stan, Gloria Votsis. Direção de Fred Durst(da banda Limp Bizkit) em estréia de longa metragem, embora já tivesse dirigido todos os clips da banda.
O filme tem uma construção bastante interessante, leva-nos sem uma análise maniqueísta entre o bem e o mal, a conhecermos o fio que entrelaça a formação de uma personalidade. Entramos em contato com nossos lados conhecidos e desconhecidos, nossos freios, nossa permissividade que se irrompe contra as todas as regras sociais.
O personagem Charlie na verdade irá nos apresentar a Mick Leary (Jason Ritter), sedutor e violento, provocando em todos que entram em contato mais íntimo com ele, sentimentos ambivalentes bastante presentes, amor e ódio, fascínio até chegar à aversão, em uma alusão bastante eficiente do funcionamento dos ditames superegoicos em nós, àquilo que dita nossa convivência de maneira civilizada. Charlie representará toda a atração juvenil frente à quebra dessas regras e aos questionamentos quanto quais seriam realmente as que importam para nossa realização frente ao mundo. A sexualidade que irrompe agressivamente na adolescência levando a um questionar profundo quanto às normas a seguir. Qual o limite entre uma adolescência normal e algo que nos levaria à preocupações mais profundas? Onde encontraremos um psiquismo estruturando-se em seu desenvolvimento e onde estaria fragmentando-se e adoecendo?
Isto se mostra presente até mesmo na ambivalência desta relação, que perpassa pela admiração. Em determinados momentos é possível perceber uma relação de “irmão mais velho” entre Charlie e Mick, até que a realidade se mostra rígida e os traços perversos vêm à tona.
Inevitavelmente nos levamos a pensar na possibilidade de um Transtorno de Conduta, tão debatido e mencionado quando o assunto é menores infratores. Influencias do meio e ações necessárias nestes casos nos apontam sempre para o personagem Leary. Teoricamente sabemos que este transtorno pode preceder um Transtorno de Personalidade Anti-social. Nos recusamos, em determinados pontos do filme, a acreditar que isso seja possível, visto que Mick demonstra traços tão “humanos”. Claro que estes são limitados dentro das suas possibilidades de afetos.
O filme lança-nos à atmosfera dos anos 70, faz-nos viver o que a juventude da época trazia enquanto questões existenciais e de amadurecimento, uma verdadeira viagem na história da vida privada. Sem dúvida que foi uma década de revolução de costumes, quebra de regras sociais até então bastante sedimentadas, em uma alusão a algo que remeteria aos modernos debates sobre o afrouxamento da “lei paterna”. Um momento histórico em termos de movimentos sociais, com quebra de paradigmas e questionamentos que deixaram suas marcas até os dias de hoje. O contraste entre a classe alta americana e aquele deixado à margem, se desenvolvendo na hostilidade das ruas do subúrbio se faz presente.
Nesse vácuo de uma revolução de costumes, encontraremos nosso personagem narrador, Charlie, e por outro lado nosso foco que se desvia dele durante o filme e vai para Mick. Dessa forma, essa apresentação deste roteiro coloca-nos frente a questões bem singulares que nos atravessam desde a infância na elaboração e escolha de caminhos. Algumas questões de grupo e adolescência nos remetem novamente a Charlie e sua timidez quase patológica, sempre evitando qualquer contato mais proximal.
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O Amor nos Tempos do Cólera
3.5 288Filme da obra homônima de Gabriel Garcia Márquez. O produtor Scott Steindorff levou três anos para convencer o escritor a vender os direitos de adaptação de seu livro para o cinema. Dirigido por Mike Newell (Harry Potter e o Cálice de Fogo) e com Javier Bardem, Catalina Sandino Moreno, Fernanda Montenegro, John Leguizamo, Benjamin Bratt e Hector Elizondo no elenco.
Como em toda obra de Gabriel Garcia Márquez, nessa encontraremos a profundidade com a qual trata as personagens que constrói, residindo a beleza de sua obra, segundo nossa concepção aqui, em dois aspectos fundamentais: seu conteúdo histórico político e o entendimento sobre as emoções que saltam aos olhos através de suas incríveis personagens.
Obviamente que um filme contém uma narrativa completamente diferente de uma obra literária e por conta disso não encontraremos as viagens interiorizadas que vemos nos personagens de Garcia Márquez quando lemos sua obra. A linguagem de um filme é outra, própria de suas especificidades e possibilidades de recursos. Ela é mais diretiva, impossibilita o imaginar ilimitado que uma obra literária nos disponibiliza em sua existência e narrativa.
Para assistir a esse filme temos que ter em conta tais características de uma e outra narrativa. Aqui então, estaremos apenas nos deixando envolver por essa película cinematográfica, abstraindo da magnífica obra literária.
O filme nos mostrará uma bela e comovente história de amor e devoção que atravessa toda uma vida de espera. Florentino Ariza (Javier Bardem) e Fermina Daza (Giovanna Mezzogiorno) se apaixonam um pelo outro, quando ainda muito jovens. Um amor que contém uma delicadeza de intenções desde o seu aparecimento, costurado pela poesia.
Serão separados, pela ambição do pai de Fermina, o novo rico Lorenzo Daza (John Leguizamo) que a forçará primeiro a se ausentar, mandando-a para a fazenda de sua prima Hildebranda Sanchez (Catalina Sandino Moreno), em lugar distante e de difícil comunicação. Ao retornar estará já totalmente tomada pelas concepções de seu pai e terminará com Florentino e passando a aceitar a aproximação do preferido do seu pai o Juvenal Urbino (Benjamin Bratt) que é um médico que chega para combater a epidemia do cólera. Fermina acabará se casando com Juvernal Urbino e começarão então todas as aventuras e desventuras de Florentino enquanto aguardará silenciosamente um dia poder retomar seu amor por sua doce Fermina. Florentino conhecerá a relação com muitas mulheres que anotará diligentemente em um caderninho. Incapaz de se doar, por ter seu amor permanentemente ocupado por seus laços não desfeitos com Fermina.
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A Letra Escarlate
3.5 153 Assista Agora“Condenada por ter vivido um amor adúltero com o reverendo local, uma mulher é obrigada a usar em sua roupa uma letra vermelha bordada, símbolo de sua vergonha. Com Demi Moore, Gary Oldman e Robert Duvall”.(site adorocinema)
Demi Moore representa nesse filme a convicta personagem Hester Prynne, o ano 1666, local Massachussetts, chega ao novo continente sozinha, enviada por seu marido, Dr Roger Prynne(Robert Duvall), com a incumbência de organizar uma casa para eles. De uma forma bastante emocionante esse filme nos chamou a atenção pela sua análise a respeito do lugar do feminino dentro da sociedade, menos do que retratar a época onde ocorre, fala da sempre permanente luta da mulher frente às imposições repressivas que servem ao seu submetimento e opressão pelo poder masculino, o poder fálico. Assim como nos falará da construção de uma possível coerência e coragem. Nesse filme de forma marcante estará presente o discurso das “bocas de ouro”(Lacan) de Freud.
Abordará a luta de uma corajosa mulher frente ao assumir seu desejo e domínio do pensamento e corpo, luta feminina que encontraremos ainda presente na atualidade, longe, muito longe ainda de estar resolvida. A questão do religioso sempre a sustentar o discurso repressivo também é amplamente contemplada nesse filme.
Apesar de podermos pensar em muitos avanços em termos de conquista do seu lugar social, ainda encontraremos nos dias atuais de forma aberta ou ainda velada, todo um discurso bastante tomado por misoginia e machismo. O lugar da mulher ainda é abordado como o lugar de direitos concedidos, aproximando, muito, sua luta, da luta de outros grupos chamados de “minoria”, como os homossexuais, negros, índios etc. Fica-nos sempre a questão para pensarmos o do porque seriam esses grupos chamados de minoria.
Obviamente que como um filme feito para o circuito comercial teve que usar uma das fórmulas que sempre trazem resultado, então o amor proibido está presente amarrando o enredo, mas se apresenta de uma maneira bela e envolvente, não diminui a capacidade de questionamentos que o filme sublinha.
Todo amor exige coragem para ser vivido, aqui no filme o pedido de coragem aos amantes é feito através de toda uma estrutura arcaica e socialmente primitiva em suas leis e que acaba por castigar terrivelmente nossa protagonista que se atreveu a desejar e ter prazer, tornar isso público e questionar alguns dogmas religiosos afirmando falar com Deus diretamente(aqui, caberia com toda certeza um outro artigo sobre autoridade religiosa, política e poder) .
Grupo de mulheres que se reúne para livres conversas, o que as leva a serem acusadas de bruxaria, antiga marca que se dava à mulher que ousava quebrar o apertado “espartilho moral” ao qual era atrelada e ao diminuto espaço ao qual socialmente estaria confinada. A luta feminina sempre avançou por conta de algumas corajosas mulheres, algumas famosas e outras tantas anônimas e perseguidas em sua vida afetiva e pessoal, de certa forma esse grupo do filme representa isso.
A autora Marie Langer em sua obra intitulada de “Maternidade e Sexo”, nos diz que a mudança da mulher da classe operária se deu no século XIX, enquanto que a das mulheres das classes média e alta só teria se efetuado a partir da Primeira Guerra Mundial, foram chamadas à participação no trabalho fora de sua casa e de certa maneira a um abandono quanto à dependência total alimentada pelo financeiro, em relação aos seus maridos. Ao fim da guerra essas mudanças já teriam se tornado irreversíveis.
Diz Langer:
“Terminou a guerra. Voltaram os homens e se encontraram com uma mulher independente economicamente, consciente de seus valores, de cabelo cortado à “garçonne” e com uma liberdade sexual comparável à do homem. Ao não implicar conseqüências biológicas para ela, o ato sexual corria o risco de converter-se somente em fonte de prazer, de ter perdido transcedência e adquirido autonomia”
No filme, passado muito antes dessas modificações, a gravidez vem a denunciar a existência do desejo em nossa protagonista, sem marido por conta dele ter sido considerado morto pelos índios em sua viagem para o novo continente, a gravidez denuncia o adultério, a marca da sexualidade atuada sem dono.
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4.1 1,1K Assista AgoraQuem disser que Pedro Almodóvar é ruim possivelmente não entendeu a complexidade da sua obra. Você pode não achar perfeita, não gostar do estilo, achar defeitos nas produções, figurinos, trilha sonora, mas não pode dizer que é ruim. É como a Monalisa de Da Vinci: pode estar rindo, sendo debochada, triste, deprimida, irônica, etc.
Os filmes dele despertam em nós diversas sensações. Podemos rir, ter nojo, chorar, ou mesmo achar brega. Mesmo negativamente, algo faz sentido no seu inconsciente.
Este filme é indicado para mulheres, famílias e namorados. Pessoas com capacidade de apreciar uma trama complexa que não envolve efeitos especiais, mas sim .
Nossa Leitura do Filme:
Por seu papel nesse filme Penélope Cruz, uma das atrizes preferidas do diretor, foi indicada ao Oscar e levou o Cannes como melhor atriz. Inclui-se no elenco também a atriz Carmem Maura, sendo possível notar-se aquela mistura entre drama e traço cômico em mais uma de suas atuações impecáveis. Não há como olhar para ela e não pensar em Almodóvar.
Esse será um filme que, com grande probabilidade, levar-lo-á a muitos insights. Apresentando um traço de mistério e muito de psicológico o filme abordará principalmente questões de relações familiares e de grupos com fortes traços de endogamia.[1]
Falará de culpas, perdão, desapego, incesto, transformações possíveis através da revisitação da própria história. Nada mais psicanalítico não é mesmo? Esse é um diretor que busca discussões aprofundadas sobre o mundo psíquico de suas personagens, como vemos em outros filmes como Tudo sobre minha mãe (Todo sobre mi madre, 1999), Fale com ela (Hable con ella , 2002) , A lei do desejo (La Ley del deseo, 1987), Atame (¡Átame!, 1990), entre tantos outros. Um filme desse diretor é sempre um convite para profundas e intensas reflexões. Nas questões que envolvem o feminino em sua construção social, é sempre um excelente instigador de análises aprofundadas.
Porém, o que queremos ressaltar em nossa abordagem sobre esse filme focar-se-á mais nas questões que envolvem as relações com o objeto em psicanálise, falando de perdão, desapego e luto. Torna-se necessário esclarecermos, mais uma vez, que essa é apenas uma das leituras possíveis.
Se você já assistiu os outros dois filmes dos capítulos anteriores, espere alguns dias e assista esse. Vai reforçar o seu aprendizado, pois fala de temas bem parecidos, sempre ligados aos objetos da psicanálise.
Vamos pensar então em qual relação teria perdão com desapego. Estranha essa junção, parece um paradoxo, porque geralmente, pelo senso comum, entendemos o perdão como caminho para uma reaproximação. Às vezes será, e outras servirá para criar um afastamento definitivo.
O que é perdoar, no sentido religioso? Pense numa resposta a essa pergunta abstendo-se de religião, crença ou filosofia religiosa. Para perdoar não se precisa estar atrelado, por exemplo, a uma religião. Você pode perdoar mesmo sendo ateu ou agnóstico.
E o que proporemos no texto é que o perdão pode ser exatamente o caminho para o desinvestimento, ou seja, o que possibilitará a retirada de investimento daquele objeto perdido (que lembremos mais uma vez, pode ser um trabalho, um vínculo afetivo, um objeto material, uma posição social, um analista, etc).
No filme veremos a longa trajetória de Raimunda (Penélope Cruz), mulher corajosa que não assume o discurso vitimizado e isso marca a construção dessa personagem todo o tempo. Mas ela só se irá libertar completamente quando puder resgatar sua história do silêncio, processo que denunciará o homem como aquele que violenta e oprime a mulher.
Em aliança com sua filha, talvez nos mostre a forma como a mulher lida com tudo isso e a possibilidade de “matar” esse homem ligado ao mito do pai primordial[2] (com todos os direitos de opressão e uso). Tudo isso será trazido por esse genial e colorido filme, com temática profunda e pesada que nos chega com toques de leveza e nos tira sorrisos espontâneos. Se puder assista-o em companhia do seu amor.
Alguns psicoterapeutas acreditam que uma psicoterapia (ou ainda a psicanálise), em seu fim último, teria como meta perdoar nossas imagos parentais[3], aquelas onde fundamos nossas fixações e que norteiam nossas buscas de investimento e identificação.
Essas imagos são construídas ao longo do nosso desenvolvimento e têm total relação com o mundo exterior e em como vivenciamos cada fase do desenvolvimento psicossexual. Nessa trama, o perdão terá que alcançar a figura materna envolvida em segredos que misturam silêncio e dor. Tudo isso dentro de um cenário sempre muito colorido que Almodóvar imprime em seus filmes.
Você já deve ter ouvido dizer que Freud fala muito do desenvolvimento psicossexual. Costuma-se afirmar que Freud versa sobre sexo. “Tudo pra Freud era sexo”, dizem alguns. E não é verdade. Freud fala de libido, de prazer, de sensação de satisfação.
Ora, com certeza você já passou por situações assim:
1 – Estava dirigindo e sentiu vontade de fazer xixi. A vontade foi crescendo e os minutos pareciam horas. Chegou correndo em casa e mal conseguiu abrir a porta. Correu para o banheiro e ufa, sentiu um alívio. Esse alívio é prazeroso? É claro que é.
2 – Estava na mesma situação, mas, havia comido algo que não lhe fez bem. Correu também para o banheiro e, ufa, que alívio.
3 – Ficou horas sem comer e seu estômago parecia um leão, rosnando sem parar. Procurou algo para saciar a fome e comeu com tanta pressa que mal conseguiu mastigar. Ufa! Que alívio, nao é mesmo?
Freud fala das fases nas quais passamos, sendo elas: oral, anal e fálica, quando sentimos prazer em diferentes partes do corpo. Repare que não estamos falando de sexo, e sim, de prazer, de satisfação da libido: em acúmulo de tensão e alívio dela.
Porém, durante este desenvolvimento, algumas pessoas podem não elaborar muito bem essa fase, e temos o que chamamos de fixações. Talvez, a maneira mais fácil de explicar, sem deturpar a teoria, seria a seguinte:
Suponha que seu psiquismo seja um exército[4]. Sim, nascer, crescer e se desenvolver é uma “guerra” que travamos entre nós (psiquismo) e o mundo exterior. Seu exército ao nascer tem cinco mil soldadinhos. Na fase oral, teriam morrido mil soldados. Na fase anal, morreram dois mil, e na fase fálica, morreram mais mil. Cada uma das fases é uma batalha, composta por desejos, satisfeitos ou não.Você mantém seus soldadinhos a vida inteira, mas, muitos ficaram ao longo dessa jornada. Isso quer dizer que a fase mal elaborada, nesse exemplo, foi a anal (quando o número de soldadinhos mortos foi maior).
Mal elaborada nesse aspecto pode ser por excesso de satisfação ou por falta. Ambos os extremos podem gerar fixações. Logo, em situações conflituosas é mais do que normal que você “retorne” a essa fase e aja com as defesas que tinha naquela época.
Repare que mesmo assim, você perdeu soldadinhos em outras fases, e por isso, temos o que chamamos de traços de personalidade referentes a cada uma delas.
Se estudarmos mais a fundo (Psicopatologia com Orientação Analítica), poderemos perceber que as personalidades e as psicopatologias serão oriundas de fixações em fases específicas[5]. Mas, isso já é um assunto teórico demais para o momento.
Construímos nosso mundo psíquico com uma argamassa que começa em relações com nossos pais ou cuidadores (que operam essas funções). A partir disso construímos nossos senhores e senhoras internos. Os primeiros relacionamentos que temos na vida serão com essas figuras parentais. São eles que despertam os nossos melhores e piores sentimentos no ínicio das nossas vidas e a maneira como nos relacionamos com eles, e aprendemos, será levada por muito tempo em nosso psiquismo.
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Crepúsculo
2.5 4,1K Assista AgoraAs salas de cinema em todo país se tornaram agitadas pela entrada em cartaz da continuação dea “Crepúsculo” (Twilight- 2008), o filme “Lua Nova” (New Moon, 2009). Filas se organizavam na expectativa de assistir mais essa película cuja direção é agora assinada por Chris Weitz e Melissa Rosenberg. Bateu recordes de vendas antecipadas e invadiu a mídia especializada na temática por semanas.
Vamos retomar o primeiro para tentar entender quais aspectos sublinha, e de tal maneira, que deixa anunciado esse segundo com essa grande demanda, significativa.
Esse filme, assim como já vimos acontecer com outros que evocam de alguma maneira elementos simbólicos, que apreendemos apenas em parte pelo mergulho inconsciente que representam, como é o caso do "vampirismo", morte, relações de poder etc, veio provocando debates e uma certa agitação. Costumam filmes assim construídos, mobilizar afetos que permanecem ligados a extensas cadeias representacionais, ou seja, se ligam a inúmeras idéias que construímos ao longo da vida, investidas por elementos bastante pulsionais.
“Crepúsculo” foi baseado no livro de Stephenie Meyer. Estreou no Brasil em 19 de dezembro de 2008, tendo sido lançado anteriormente nos USA, em 21 de novembro do mesmo ano. Dirigido por Catherine Hardwicke. Traz no elenco Kristen Stewart como Isabella Swan, Robert Pattinson como Edward Cullen e Taylor Lautner como Jacob Black, entre seus principais personagens.
A lenda do vampirismo foi e é ainda, bastante contemplada pelo cinema, até mesmo por grandes diretores como Roman Polanski que já abordou esse tema no magnífico “A Dança dos Vampiros” (The Fearless Vampire Killers, 1967) , com seu personagem irreverentemente vampiresco o Conde Krolock, filme esse que consideramos que antecipa algumas das grandes questões que hoje se discute em torno desse sujeito contemporâneo, ou pós-moderno e sobre aqueles que o estudam, despertando entre uma incredulidade e uma aproximação perigosa com o objeto estudado, como se dará com nosso atrapalhado pesquisador representado pelo próprio Polanski, o professor Abronsius.
Antes de qualquer outro filme, teremos o clássico “Nosferatu” (com o vampiro Conde Orlock), obra do ainda cinema mudo de F. W. Murnau (1922). Outros grandes filmes também marcaram esse tema como o “Entrevista com o Vampiro”(The Vampire Chronicles, 1994), do diretor Neil Jordan. Temos ainda os clássicos que consagraram o ator Bela Lugosa, que personificava o Conde Drácula de Bram Stocker que escreveu seu romance sobre ele em 1897. Depois dele teremos aquele que lançou de vez nosso olhar entre amedrontado e seduzido para essa lenda, o ator Christopher Lee, muitos foram os filmes que protagonizou com esse personagem, marcando toda uma época e trazendo fortemente a questão da sedução vampiresca, colocando-nos de frente com a sedução que amedronta e excita.
Falar sobre o personagem do vampiro no cinema pode render extensas considerações que nos levariam até mesmo ao nosso nacionalíssimo Zé do Caixão, mas aqui não estamos empenhados nessa tarefa, voltemos então ao nosso filme Crepúsculo, inserindo-o no contexto de agora, e vejamos um pouco dessa grande sedução que tem provocado em todos nós, lotando inúmeras salas de cinema.
Quando pensamos em vampiros logo três carregadas questões nos vêm a mente: sexualidade, agressividade e morte. Isso já nos remeterá ao que dissemos anteriormente sobre extensas cadeias representacionais que em sentido inverso de leitura nos levariam até o mais remoto conteúdo das pulsões, ou ainda daquilo que se constitui dentro do aparelhamento psíquico como o recalcado.
Crepúsculo já nos provoca de cara chamando para um retorno a um estado juvenil, nos coloca ali onde nos deparamos com a sexualidade emergindo com força do desejo genital, da busca de parceiro(a). Cada um irá para o caminho desses encontros, geralmente uma sucessão em termos de busca, munido de modelos que remetem lá para suas vivências edípicas, calcados nas imagos parentais, na busca do objeto ideal de investimento, agora como uma progressão daquelas primeiras vivências em investimento, que em última leitura, nos remeterão sempre ao primeiro objeto de amor, igual para ambos os gêneros: a mãe(ou quem exerce essa função), nossa matriz do amor. Nesse caminho encontraremos as marcas que denotarão a diferenciação entre construir um ideal de ego ou uma fixação ao chamado ego ideal. A adolescência é rica em seus questionamentos, inunda o mundo com sua construção de ideais, altamente catexizados e que buscam se afastar do modelo do chamado mundo adulto que em seu movimento de busca de autonomia, via de regra, costumam desprezar. A tudo isso “Crepúsculo” nos remeterá.
O belo casal que protagoniza o filme, Edward e Bella, nos remetem ao apaixonamento característico da adolescência, começa pela relação à distância, uma certa dose do chamado “amor platônico” que faz parte dessa fase de desenvolvimento e segundo muitos teóricos prepara para uma relação objetal mais saudável, há que se passar por ela, e em parte isso explicaria a febre que Robert Pattinson (Edward) provocou no público adolescente, torçamos para que elaborem e façam a passagem para as relações reais.
No filme, apesar de toda diferença existente entre eles, Edward e Bella se aproximam, passam para a tentativa de proximidade corporal, a que pode ser realizada. A conversa inicial de Bella e Edward traz uma beleza indescritível, ela em busca da verdade para poder confiar, ele assustado com a possibilidade de ser rejeitado por ela por sua condição(qual adolescente não traz esse medo?). Todo revelar-se dele só faz ganhar a aproximação de Bella, linda a mensagem para pensarmos nas máscaras relacionais. A cena da revelação à luz do sol é encantadora pela singeleza.
Interessante no filme a questão de Bella abandonar sua relação com sua mãe para que essa possa ter sua relação amorosa, na aproximação com o pai, que traz nesse caminho a aproximação com o amor por Edward, poderemos ver o traçado da dissolução do Complexo de Édipo de uma forma muito bonita. Levanta muitos pontos para o debate, se visto por uma ótica freudiana.
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