Da bizarrice televisiva dos anos 80 à atualíssima busca desenfreada por visualizações nas redes sociais, a série utiliza um agradável humor para costurar paródia e crítica, e com um timing incrível. Afinal, vive-se hoje um saudosismo das duas últimas décadas do século XX ao mesmo tempo em que polêmicas envolvendo os tais digital influencers pipocam por aí toda semana. Nesse sentido, a jornada da Samantha! é muito bem pensada ao transitar daquela época para essa, ainda que não seja totalmente original. Os envolvidos podem negar, mas as semelhanças de Samantha! com figuras reais são claríssimas.
Por outro lado, não vejo a estrutura dos episódios rendendo vida longa à série. Por ora está funcionando, mas ou ela se reinventa ou encontrará rapidamente seu ponto final - ou de exclamação. E por falar em timing, é uma pena que a 2a temporada não será lançada ainda nesse ano de eleições; os debates e as tensões políticas seriam o clima perfeito para o novo horizonte que Samantha! pretende desbravar.
Dizer que essa temporada introduziu um novo vilão soa um tanto injusto. Bushmaster é uma grande adição, mas seu maior inimigo não é Luke Cage, e sim Mariah Dillard, da competentíssima Alfre Woodard. É a partir disso que surge uma interessante dinâmica onde Luke tenta fazer valer suas crenças em uma guerra não apenas pelo comando do Harlem, mas motivada por um profundo sentimento de vingança. Personagens já bem desenvolvidos no ano anterior (e alguns também em "Os Defensores") revelam novas camadas, e o elenco não decepciona em relação ao que o texto pede. Porém, após cumprir sua função de movimentar a trama, o personagem de Mustafa Shakir perde o rumo a ponto de ficar de escanteio por 2 episódios e ter um destino, no mínimo, estranho. Que no futuro a série concerte essa injustiça.
O segundo ano de "Luke Cage" não faz apenas o seu protagonista mais interessante de se acompanhar, também traz outro Defensor para fazer uma participação especial e provar que uma certa série vizinha tem sim salvação, basta cuidado e bons roteiristas. A única ressalva quanto a isso é a total aleatoriedade que o dito-cujo chega e sai.
Há de se reconhecer também a grande e bem construída mudança do status quo dos personagens ao final, aludindo, intencionalmente ou não, "O Poderoso Chefão". Por causa dela o futuro da série é muito nublado, mas independente do que venha por aí... "sempre em frente".
Nunca foi surpresa para ninguém que Sr. Monk é inspirado no lendário Sherlock Holmes. As manias, os problemas de convivência, a familiaridade com um instrumento musical e, claro, a capacidade brilhante de observação e raciocínio. Mas, ainda mais que na 1a, ao assistir aos episódios dessa temporada têm-se exatamente a mesma sensação de se estar lendo os romances ou, principalmente, os contos da maior criação de Arthur Conan Doyle. Não apenas pelos roteiros redondinhos, mas também pela criatividade com que são elaboradas as situações de crimes aparentemente impossíveis e a forma verossímil com que são explicados, tal qual acontece nos casos da 221B Baker Street.
O elenco, por sua vez, dispensa maiores comentários. Tony Shalhoub e Bitty Schram tem uma química incrível; ele indo do humor involuntário ao drama trágico que seu personagem exige e a personagem dela fazendo as vezes de John Watson, até mesmo na área profissional. O episódio "Monk e o Astro da TV" se destaca pelo olhar crítico sobre as séries do gênero, além de brincar com seus próprios bastidores. O maior problema mesmo desse segundo ano é a estrutura engessadinha da primeira metade, coisa que nem o TOC do protagonista justifica.
Diferente das aventuras de Sherlock Holmes, "Monk" tem uma história de fundo que perpassa todos os episódios e vai se desenvolvendo aos poucos. Nessa temporada esse quebra-cabeças não ganha muitas peças, mas, se depender do final, na 3a poderemos ver mais de Monk e seu passado trágico ainda não resolvido.
3% estreou em 2016 atraindo muitas atenções por ser a primeira série brasileira original Netflix, além da novidade de uma distopia/ficção científica produzida em terras tupiniquins. Apesar da recepção mista por aqui, a 1a temporada foi abraçada lá fora, tornando-se a série estrangeira mais assistida nos Estados Unidos, por exemplo. Na época, comentei que o potencial de 3% "é do tamanho do Brasil". Bom, a 2a temporada veio justamente para começar a provar isso.
A trama se expande para além dos limites do prédio do Processo. Podemos finalmente acompanhar o cotidiano do miserável Continente e conhecer o futurista Maralto, bem como entender boa parte da origem desse mundo dividido em dois lados. Outra dimensão explorada da mitologia da série é a Causa, cujas ações frente à terrível guerra travada revelam-se muito controversas, colocando em xeque aquela aparência boazinha e altruísta de até então. E é o grupo, inclusive, o palco para o melhor plot twist, com o mais intrigante dos personagens; seu destino é lamentável, e não estou convencido de que fez bem à série. E por falar em plot twists, esses não faltam nessa temporada. Mais do que simplesmente chocar, eles funcionam à favor do enredo, e contribuem para o bom ritmo; mal se sente que são 10 episódios. Há de se levar em conta, é claro, que o fato de a trama principal caminhar em contagem regressiva também conta muito para isso. E nesse caminho todo não há espaço para previsibilidades, as ações e consequências alteram a todo instante. O público certamente sairá de sua zona de conforto... ainda que apenas alguns passos.
A evolução de 3% também chegou à parte técnica. Com o maior investimento, os cenários são maiores, mais bonitos, mais bem detalhados, e usar planos aéreos dos velhos prédios de São Paulo nos stock shots do Continente foi bem proveitoso, pois além de diminuir o uso de efeitos especiais (que também melhoraram bastante, mas ainda não alcançaram o nível cinematográfico de outras séries), dá peso para aquele mundo, torna-o mais crível e palpável. Já outras coisas não tem como executar sem o uso de CGI, como toda a tecnologia futurista do Maralto; ao menos o resultado é muito satisfatório. E é interessante notar, nesse quesito, a clara inspiração em Black Mirror, outra produção da casa.
É perceptível que os realizadores da série ouviram as críticas à respeito da 1a temporada, mas se nelas há algo completamente ignorado são os comentários negativos acerca do padrão de direção, recheado de planos holandês e sem qualquer função narrativa, segundo as críticas. Essa característica permanece na 2a temporada, e às vezes só atrai atenção indevida, realmente. Mas em não poucos momentos seu uso é consciente e feito em harmonia com o status quo dos personagens e da trama. A temporada pisa na bola mesmo é no descarte frio que faz das "coisas" novas e promissoras. Pra quê?!
A já prometida 3a temporada de 3% deve marcar definitivamente o amadurecimento da série, e continuar a provar não que ela tem um potencial "do tamanho do Brasil", mas que esse é tão grande quanto a distância que seus criadores estiverem dispostos a desbravar suas imaginações. Porque seu público, principalmente o de fora, parece já ter decidido há um bom tempo embarcar nessa viagem.
É entre a originalidade de "Narcos" e o estilo latino de se contar histórias das obras cruamente televisivas que se encontra "El Chapo", série que narra a vida do narcotraficante mexicano Joaquín Guzmán... mas não de forma linear. A trama começa em 2016, com El Chapo sendo capturado pela terceira vez (em 2018 seu julgamento ainda não se encerrou), e logo pula para os anos 80; é a partir daí que a série se desenrola. O grande problema dessa temporada é o tempo que ela leva para cativar com sua trama, porque bons personagens tem desde o início, e esses são mui bem defendidos. Marco de la O, por exemplo, encarna o personagem-título em um nível de trejeitos e aparência física que lembra - para citar outra "narco-narrativa" - Andrés Parra quase literalmente na pele de Escobar na colombiana "Pablo Escobar - O Senhor do Tráfico". Curiosamente, Mauricio Mejía, que interpretou o jovem Patrón nessa produção, reprisa o papel aqui, porém com o personagem já na idade madura. Como os 5 primeiros episódios de "El Chapo" focam na ascensão do traficante enquanto o restante é sobre sobrevivência, muitos deles são bem diferentes entre si em termos de estrutura, tom e ritmo. Mas no geral é realmente um drama americano convencional construído com peculiaridades da cultura audiovisual latina enquanto aqui e acolá flerta com o tom documental do qual "Narcos" usa e abusa. Enfim, convenceu.
P.S.: A canção escolhida em um dos episódios caiu como uma luva para o personagem. "Com ou sem dinheiro Sempre faço o que eu quero E minha palavra é a lei Não tenho trono nem rainha Nem ninguém que me entenda Mas ainda sou o rei!"
“Sabe, eu percebi algo... O universo não pode nos parar. Porque cruzamos galáxias, [...] sobrevivemos ao Atlântico, só para ficarmos juntos. Um amor assim é mais forte do que qualquer maldição. E você e eu... Nós somos imbatíveis juntos.”.
Começo citando esse incrível monólogo que ocorre entre o casal Fitz-Simmons para apontar uma qualidade que não é inerente a essa temporada, mas a “Agents of S.H.I.E.L.D.” como um todo: trata-se do romance, muitas vezes um espinho entre dedos no mundo das séries dramáticas. A maioria dessas, principalmente as no formato de mais de 20 episódios por temporada, aborda pares românticos aparentemente como uma obrigação para completar o tempo de duração e atrair uma audiência específica, ou pesa a mão e faz desse plot um freio para a trama principal, prejudicando-a completamente. Mas nada disso acontece aqui. O rumo que os showrunners adotam para os casais não apenas está intrinsecamente ligado ao desenvolvimento de cada um dos personagens como também é peça fundamental nos desdobramentos da trama, de forma que o apego por parte do público ocorra muito naturalmente. Não torcemos por um casal porque, sei lá, eles são fofos, mas sim porque a série conseguiu fazer com que nós gostássemos deles, e nos importássemos com eles, individualmente e juntos. E com tudo isso não aludo apenas Fitz-Simmons, mas também Mack & Yo-Yo e outros que seriam spoilers se citados.
Cientes de que essa poderia ser a temporada derradeira, os showrunners Maurissa Tancharoen e Jed Whedon arriscam tudo ao inserir elementos cósmicos na trama ao mesmo tempo em que tem o orçamento reduzido. O valor menor de produção é notado nas diversas cenas em corredores e cômodos cinzas, mas, por outro lado, essa economia permite que, pontualmente, sejam inseridas sequências com naves e corpos celestes extremamente realistas, acima de qualquer coisa que a série já apresentou em termos visuais.
O sentimento de despedida também faz com que personagens e outros elementos do passado retornem por meio de uma boa justificativa, ao mesmo tempo em que pontas soltas das primeiras temporadas finalmente ganham seus nós. E para ajudar, esse quinto ano é agraciado pelo almejado episódio 100, que tradicionalmente já tem características de auto-homenagem. Mas tudo isso vale a pena? Bom, por 14 episódios (salvo momentos específicos) a série continua tão incrível e satisfatória como na 4a temporada, mas perde força em seguida, com uma sequência de episódios um tanto enrolada. A season finale, na medida do possível, coloca as coisas nos lugares e finaliza a temporada sem saber se não está também finalizando a série, já que foi escrita e produzida antes do anúncio de renovação.
Apesar de todo esse clima de partida, dá para notar que “Agents of S.H.I.E.L.D.” não tem vontade de se encerrar, que ainda pode e quer contar boas histórias. De qualquer forma, uma Era foi fechada para Coulson e companhia, e levando em consideração que a já confirmada 6a temporada deve vir apenas depois do quarto filme dos Vingadores, talvez nada mais seja como antes para os agentes.
Após mais de 2 anos de hiato, "Jessica Jones" retorna para uma temporada, em vários aspectos, muito diferente da inaugural, a começar pela aceitação definitiva dos elementos sobrenaturais que permeiam aquele mundo. São personagens e situações que atestam que o universo pé no chão de Jessica é o mesmo universo fantástico do restante do MCU (não que precisássemos dessa confirmação). Outro contraponto à 1a temporada, e também ao restante das produções Marvel/Netflix, é a ausência de um vilão. Essa figura do inimigo é alternada em vários personagens, mas no fim das contas o que Jessica Jones precisa enfrentar é seu passado apresentando-se em forma de dúvidas, remorso, arrependimentos e raiva. Tal abordagem rende uma ótima primeira parte para a temporada, mas perde a força na segunda, provando - mais uma vez - que o formato obrigatório de 13 episódios por temporada já passou da hora de ser revisto. Por conta dessas alterações, em momento algum o segundo ano da série apresenta uma carga de tensão como aquela resultante da caça ao Kilgrave, ou nos faz prender a respiração momentaneamente como quando o vilão obrigava suas vítimas a cometerem atos criativamente sádicos. No entanto, o resultado é levemente superior ao anterior, mostrando que a decisão de olhar para trás antes de seguir em frente foi acertada. Mas e agora, o que será da 3a temporada? Outra mudança, uma terceira visão para a série? Ou a amálgama dos dois estilos? Pela situação dos personagens ao fim dessa leva, esse parece ser o caminho mais provável - e mais promissor, também. Veremos.
Ao começar pela origem de seu protagonista, "Luke Cage" não teve o fato de o Luke já ter aparecido em quase toda a 1a temporada de "Jessica Jones" como um empecilho. Ainda havia uma ideia a ser adotada, um manto a ser assumido. Luke não estava pronto e precisava ser provado para tornar-se o herói que estava destinado a ser. Mas como defender quase 8 episódios de "O Justiceiro" voltados para narrar uma história de origem que já foi tão bem contada e finalizada no segundo ano de "Demolidor"? Nessa primeira metade da temporada Frank Castle fica fora da ação tempo suficiente para os coadjuvantes crescerem em participação e relevância de trama. Não é algo necessariamente ruim, pois tais tramas paralelas, ainda que isoladas da principal em um primeiro momento, são interessantes a ponto de em alguns desses períodos de marasmo para Frank, serem o que de melhor há. Em contrapartida, é nesse período que a série humaniza o personagem ainda mais, um feito necessário ao perfeito funcionamento dos desdobramentos da segunda metade. A temporada acaba bem, sendo o seu clímax um ótimo exemplo de que ainda que um confronto físico talvez não trague tantas novidades visuais, é nos diálogos e no peso da jornada até ali que se constrói um clima de urgência e transmite para o espectador a carga de adrenalina necessária, transformando, por exemplo, o que poderia ser um golpe comum em um momento involuntário de prender a respiração. Espero que agora finalmente estejam satisfeitos com a origem do Justiceiro. Se for assim, é curioso pensar no que pode estar vindo por aí na 2a temporada, já que tudo que vimos ele fazer até aqui foi parte de uma mesma guerra.
Uma série que quer que nos importemos com diversas coisas que estão separadas ou sumidas, sendo que nunca vimos essas coisas juntas tempo suficiente para o fazermos. Se cancelarem, que entreguem o Dentinho para Agents of S.H.I.E.L.D.
Parece que o principal motivo da maior polêmica desse ano no mundo das séries é um profundo desconhecimento do significado de ficção. Que outra razão justificaria cobranças de veracidade histórica em uma série de TV? O Mecanismo é apenas mais um produto de entretenimento, diversão... APENAS isso. Uma obra claramente apartidária e com a visão particular de José Padilha e, muito provavelmente, de Elena Soares. "Ah, mas eles colocaram a fala do Jucá na boca do Lula". ESSA é a visão mencionada do Padilha, de que não importa lados, esquerda ou direita, é tudo parte de uma mesma engrenagem, o mecanismo. Concorde você ou não, a série deixa isso claro desde o início. "Ah, mas eles atacam o PT". A obra ataca todos os lados, basta querer ver. E se a contraparte de Aécio Neves na série tem muito menos tempo de tela, a compensação acontece na forma de proferimento, com todas as letras, do quão bandido o personagem é. Pois é, está lá. E é por essas e outras que também acho essa discussão boboca. O que talvez poderia se questionar é o lançamento da série em um ano de eleições, e com o país cada vez mais polarizado e consumido pelo ódio; era óbvio que a obra geraria polêmica. "Ah, mas ela desinforma! É FAKE NEWS!". De novo, se queres aprender História por meio de uma ficção, algo está bem errado contigo. Se um filme como Pantera Negra aumentou ABSURDAMENTE as buscas por hotel em Wakanda no Google, que dirá o que uma série inspirada na Lava Jato não fará alguns acreditarem? Então toda essa discussão é realmente bem boboca, e esse meu primeiro parágrafo, infelizmente, faz parte disso. Agora falemos sobre a série de fato. Se tem algo que Padilha trouxe de Narcos para O Mecanismo, além obviamente da narração, foi o estilo de filmagem em externas, com inspirados planos aéreos e uma bela e eficiente direção em cenas com mais ação. Claro que ele não dirige todos os episódios, mas impregnou sua essência em ambas as produções. Já a narração em off mencionada surge aqui não com organicidade como em Narcos, mas redundante em não poucos momentos; depois melhora, ainda bem. O que mais incomoda mesmo nessa temporada é o roteiro não explorar seus personagens com o potencial que tem. A protagonista de Caroline Abras, a delegada Verena Cardoni, é beneficiada pela ótima atuação da atriz e pela relação bem escrita com o também protagonista delegado Marco Ruffo, mas só consegue atingir um drama pessoal de relevância na reta final. Um outro caso importante: na vida real o doleiro Alberto Youssef e o ex-delegado Gerson Machado têm origem na mesma cidade. Na série a relação entre eles estendeu-se para uma amizade na infância. Um ponto no passado que poderia ser melhor trabalhado e, sem sombra de dúvidas, daria ainda mais peso para o antagonismo atual entre os personagens dos ótimos Enrique Díaz e Selton Mello. No fim das contas, o que mais espero da 2a temporada são esses personagens mais aprofundados e, por que não, um núcleo de "cidadãos comuns" representando a população sendo afetada e reagindo a todos esses acontecimentos reais que beiram a ficção. Mas no fim, o saldo dessa temporada de estreia é certamente positivo.
Obs.: Julinho da Van não honrou o título. "Olha a denúncia aí!" :)
Aplicar pressão nos personagens é parte do processo de escrita de uma trama. Levá-los a situações difíceis, extremas, para que possam reagir e revelar mais de sua natureza, contribuindo assim para o enriquecimento da obra. Porém, em "Agents of S.H.I.E.L.D." essa aplicação não se restringe aos personagens, mas atinge a série como um todo. Conseguem imaginar um seriado sobre algo (agência, corporação, grupo) desfazendo essa coisa por completo ainda em sua primeira temporada? Muito difícil. Mas "S.H.I.E.L.D." foi obrigada a fazer exatamente isso assim que a revelação dos bastidores da agência estourou em "Capitão América 2". A partir dessa grande e importante revelação, e ao longo desses quatro anos, a série mostrou que não se incomoda e nem teme mudar sua realidade; corajosa, aplicada e bem-sucedida. Que outra produção de mais de 20 episódios por temporada, principalmente sendo baseada em HQs da Marvel ou DC, arrisca em sair de sua zona de conforto? Dá pra dizer com tranquilidade que uma temporada de 22 episódios de "S.H.I.E.L.D." passa voando, enquanto "Punho de Ferro" por exemplo, com seus 13 episódios, é complicada de chegar ao final. Enfim, 3 arcos narrativos distintos mas intrinsecamente conectados formando a melhor temporada da série. Os melhores enredos, as melhores atuações... Ah, "S.H.I.E.L.D."... E agora espaço sideral na 5a temporada?... Tem meu voto de confiança.
Até então eu não havia visto nenhuma obra de Glória Perez, apenas a minissérie "O Canto da Sereia" na qual ela atuou como supervisora de texto. No entanto, é notória a repercussão de seus trabalhos autorais. De clássicos como "O Clone" e "Caminho das Índias" ao estrondoso sucesso "A Força do Querer", passando pela mal-recebida "Salve Jorge"; ou seja, é nas novelas - formato melodramático por natureza - que seu trabalho se destaca. E por isso é perfeitamente compreensível manter um pé atrás com a primeira incursão da autora no mundo das séries em uma época onde elas são extremamente populares - Glória já havia escrito outras anos antes, como "Amazônia - de Galvez a Chico Mendes". Mas, surpreendentemente, o texto de "Dupla Identidade" é bem resolvido em relação ao formato a que pertence e adapta obras consagradas mundo afora. Sim, a minissérie que narra o jogo de gato e rato entre o serial killer Eduardo Borges e a investigadora e psicóloga Vera Muller é fortemente inspirada em uma gama de filmes e séries policiais. Mas sua base é a britânica "The Fall". Na verdade é praticamente um remake dessa, dos principais desdobramentos da trama à caracterização e construção dos personagens, em especial da protagonista. E, sinceramente, eu fico com a nossa versão. Não que o clima lento, frio e sufocante característico de "The Fall" seja inferior, mas parte pelo ritmo mais dinâmico aliado ao melhor desenvolvimento dos personagens, a verdade é que "Dupla Identidade" é mais atraente e, de certa forma, mais satisfatória.
Uma temporada que mira o grande arco mas acerta nos procedurais. Apostar numa trama novelesca dentro do formato de série não é necessariamente um erro, mas não há como negar que em um folhetim, muito por conta de suas características próprias como o melodrama e a velocidade baixa, há muito mais tempo para o público conhecer e entender os personagens. E assim fica fácil nutrir sentimentos de torcida, empatia ou raiva, esses fluem com naturalidade. E a grande causa do não funcionamento da história principal da 1a temporada de Scandal são justamente os personagens. Quem são eles? Por que movem o mundo e o universo para servir e satisfazer sua líder máxima, Olivia Pope, uma protagonista rasa e difícil de suportar (não do jeito bom)? O time de profissionais a venera de uma forma assustadora, e raramente aquelas pessoas parecem ser afetadas pela natureza complicada de sua chefe. O roteiro quer a todo custo nos fazer engolir o quão incrível ela é, mas não há um desenvolvimento satisfatório para isso, apenas uma aparente realização da fantasia de mulher ideal da criadora Shonda Rhimes. Tão diferente de Annalise Keating, outra cria de Shonda mas que, no centro da muito superior How to Get Away with Murder, mostra seu poder e extrema competência para, logo depois, ter sua fragilidade explorada (tornando-a humana e crível) e ainda se complica nos relacionamentos com os seus, já que suas fortes atitudes afetam as pessoas ao redor. E o que fazer para distrair o público e não deixá-lo refletir sobre os personagens? Tacando diálogos bobos e discursos extensos proferidos a 99% da velocidade da luz. Ao invés de refletirmos, nos esforçamos para captar o máximo de informações que nos atingem como balas de metralhadora. E depois disso, atuações. Kerry Washington é esforçada, mas não há muito o que fazer pelo texto. O mesmo vale para os outros protagonistas, são praticamente estereótipos; e daí dá-lhe caretas. Tony Goldwyn como Fitz, apavorante. Bellamy Young vivendo a primeira-dama e Jeff Perry na pele de Cyrus fazem milagres. Mas o mais intrigante é Guillermo Diaz interpretando Huck. Ele emprega uma postura sempre contida, como se o personagem se esforçasse para não deixar emergir algo terrível a qualquer momento. Ironia? Não sei, mas gostei, e espero que Shonda tenha aproveitado bem o personagem na 2a temporada. Apesar de tantos aspectos decepcionantes, como já dito a série acerta nos casos da semana. Variados, inventivos e com um tempo de tela suficiente para a experiência não ser um completo desastre. Que o futuro de Scandal seja mais How to Get Away with Murder e menos quase tudo isso acima.
Depois de um começo morno (cerca de 7 episódios), e por vezes repetitivo, tem início a nova etapa do Exame Chunin, que ocupando uns 8 episódios, mostra-se a melhor fase da temporada, equilibrando inventivos combates na arena com aprofundamento dos personagens que restavam daqueles vários apresentados no início do segundo arco. Já a terceira e última parte da temporada - o início do arco "Esmagamento de Konoha" -, ao longo de pouco mais que 10 episódios, promove um excelente chacoalhão na trama e aumenta a escala da ação para o nível que esperamos ver desde o início. A batalha entre o Terceiro Hokage e Orochimaru, por exemplo, enquanto não decepciona absurdamente na reta final, é um grande espetáculo demonstrativo das habilidades daqueles personagens. Por outro lado, o caminho que o enredo traça para Gaara, personagem mais intrigante do anime graças ao seu imenso poder, discrição e frieza, chega a ser patético. De uma figura misteriosa e calculista para uma coisa genérica e entediante. No entanto, o gancho deixado ao final pode indicar uma salvação para esse plot; tomara que assim seja na próxima leva de episódios.
A série Marvel/Netflix que mais referencia o restante do MCU começa bem, e apesar de detalhes aqui e ali, assim caminha por cerca de 7 episódios, que é onde ocorre uma grande virada na trama. Tal evento não apaga o desenvolvimento até ali, mas acarreta em substituições de gosto um tanto duvidoso. E é nessa segunda metade que o velho fantasma dos episódios além da conta ataca. Ritmo, texto e até mesmo atuações, todos problemas inexistentes ou mínimos na metade anterior, mostram-se obstáculos que a série enfrenta com dificuldade para chegar ao seu desfecho. Na verdade desfecho entre aspas, pois as pontas soltas, um tanto frustrante num primeiro momento, podem ter deixado para o segundo ano o melhor da 1a temporada. Esperemos.
Como já havia sido citado em "Jessica Jones" e visto na virada da 2a para a 3a temporada de "S.H.I.E.L.D.", "Guerra Civil" cita o aumento de habilidosos no mundo em mais uma menção sutil dos filmes às séries - depois dos amigos misteriosos de Nick Fury em "Era de Ultron". Afinal, universo compartilhado não serve apenas para crossovers. Enfim, é com esse plot dos habilidosos - mais especificamente os Inumanos, já que nem todos o são - que se desenvolve a 3a temporada de "Agents of S.H.I.E.L.D.". E confesso que a repetição da dinâmica "problema - plano - agentes invadindo lugares" cansou um bocado, a ponto de entregar o episódio mais boring da série, aquele da despedida. O que vale mesmo ali é a cena final. Apesar dessa observação ocupar um espaço considerável desse comentário, e de esse ser sim um ponto fraco da temporada, não resultou em uma absurda queda de qualidade, pois mesmo nos momentos complicados "S.H.I.E.L.D." tem um lado forte. No caso, as interações entre os personagens. Ponto para os roteiros. Como constatado nos minutos finais, a série parece ter entendido que o que precisa agora é de uma mudança no status quo. Mais uma prova de uma produção consciente.
A AVENTURA ESPACIAL: Mais leve que a maioria dos episódios da série até então, USS Callister homenageia a franquia Star Trek sem proporcionar novidades em termos de reflexão tecnológica, mas gera discussões interessantes sobre interação humana. O DRAMA FAMILIAR: Bem dirigido, bem fotografado e com um conceito interessante nas mãos. Mas, por demérito do roteiro, não chega a um lugar bem definido, e o que fica é uma sensação de vazio. O THRILLER CRIMINAL: Instigante e visualmente belo. Mas é a terceira vez na temporada que abordam variações de sistemas "inseridos" na mente, e isso parece reciclagem de ideias passadas. Por outro lado, o que mais se fala hoje em dia é em realidade virtual, então... A COMÉDIA ROMÂNTICA: A maior parte do episódio mais fofucho de Black Mirror parece se passar em uma realidade opressora levemente semelhante àquela do Fifteen Million Merits, o 1x02 e melhor da série. Mas no fim o que fica são algumas reflexões sobre aplicativos como o Tinder. Excelente episódio. O THRILLER PSICOLÓGICO PÓS-APOCALÍPTICO: Um diferencial estético funcional. Muitos argumentam contra dizendo que o episódio não proporciona nenhuma reflexão sobre a tecnologia, apenas a usa levianamente. Ora, mas todos os outros já fazem isso. Por que não sair um pouco da curva e curtir uma mulher lutando para sobreviver e fugir de um cão robô assassino inspirado - entre outras coisas da ficção e do mundo real - no Alien? A DRAMÉDIA TRÁGICA COM PITADAS DE HORROR: O ponto sensível da temp... Não, da série. Estruturalmente semelhante ao especial de Natal, Black Museum narra três histórias interligadas que culminam em um plot twist sensacional. Apesar do resultado incrível, a essência do episódio são os easter eggs que praticamente escancaram que a maioria dos episódios da série se passa sim em um mesmo universo. Uma ideia preocupante, pois pode limitar - ainda mais? - as ideias do criador e roteirista (único da temporada) Charlie Brooker. Black Mirror é uma série com potencial para ser eterna, sempre se reinventando conforme nosso mundo avança tecnologicamente e o homem se adapta a essas novidades. Socar tudo em uma única linha temporal pode barrar futuras ideias que surgirem, forçando-as a obedecerem regras pré-estabelecidas. Sem falar nos fãs que vão chiar caso algo não se encaixe. No mais, curioso para ver o que será da 5a temporada, e torcendo também para que outras mentes venham a escrever episódios, como os já citados por aí Neil Gaiman e Stephen King. Não que Charlie Brooker deva ser substituído, não! Black Mirror é sua essência. Mas novas ideias devem fazem bem à série.
O mundo acabou, a humanidade caiu e os mortos dominam as cidades - ao menos as partes que pudemos ver. Situações extremas como essa já foram a base para outras séries de TV que escolheram focar nos atos, escolhas e evolução dos personagens frente a um cenário trágico e infernal. Tal abordagem rendeu, por exemplo, uma excelente temporada de estreia para Lost. Este, o primeiro ano de The Walking Dead, também executa essa tarefa com excelência, além de apresentar uma bem-vinda sub-trama (que cresce na reta final) sobre o início da queda do Homem que não está na versão em HQ. Mas sua maior força também é sua grande fraqueza. Não é 1 nem 2 personagens que tomam tempo considerável de tela e que, no fim das contas, não tem relevância alguma à trama. Já outro em específico, que não se encaixa nessa situação, é subaproveitado. Instigante, densa, visceral, triste e até mesma divertida, a 1a temporada, para todos os efeitos, é uma boa pincelada do potencial que essa série tem. O que será que me aguarda no futuro?...
As temporadas de estreia de Demolidor e Jessica Jones guardam semelhanças entre si, como o fato de ambas possuírem um vilão bem definido. E por mais que ocorram vários confrontos ao longo dos episódios e que reviravoltas pipoquem aqui e ali, o espectador sabe que o embate final que concluirá a trama só ocorrerá mesmo no último episódio. Portanto, parte da experiência é prejudicada, pois o grau de previsibilidade é bastante considerável. Porém, a 2a temporada de Demolidor subverte essa ideia construindo uma estrutura bem diferente para a série. "Contaminado" pelas temporadas introdutórias anteriores, o espectador, ainda na primeira metade do 2x01, já imagina como a temporada se desenrolará. Entretanto, o que em tese ocorreria lá pelos episódios 4 ou 5, acontece nesse primeiro. E a trama que tomaria toda a temporada é desenvolvida e finalizada em um arco de exatos 4 episódios. Assim, outros arcos menos delimitados e mais mesclados surgem a partir do episódio 5 (a temporada tem 13). Isso é bom? Em partes. Se por um lado a previsibilidade é aniquilada a ponto de no penúltimo episódio o espectador não ter muita ideia dos desdobramentos da season finale, por outro tem-se a sensação de inchaço com o número de tramas e sub-tramas que são abordadas. Conflito foi o que não faltou aos roteiristas. E então chegamos à Elektra. Personagem mais suportável na reta final, porque sua função no início e sua história de origem não são tão interessantes. E a personagem ainda contagia Matt Murdock com sua chatice. Já o Justiceiro tem uma trama melhor desenvolvida e com um final de arco satisfatório, mas também não se isenta de alguns momentos maçantes; Jon Bernthal, no entanto, segura a barra. Essa, no geral, é uma temporada corajosa e provavelmente decisiva. Seus protagonistas mudaram. Onde eles chegam ao final é um lugar muito distante daquele onde se encontravam no início. Sem falar da inserção de elementos e temas que já puxam outras séries como Punho de Ferro e a "goal" de toda essa brincadeira: Os Defensores. Agora só me resta torcer pelo melhor.
Conta com um time de atores que entendeu a proposta do texto e mergulhou de cabeça nesse universo gótico, estranho e lúdico da Nordeste do século XIX e XX.
Eu definitivamente não sou dos que se sentem entediados com episódios "parados", desde que realmente há um conteúdo a ser desenvolvido e uma justificativa para a baixa velocidade. A 1a temporada mesmo faz isso bem. Mas convenhamos que, apesar das atuações brilhantes e do padrão de direção elegante (ambos aspectos estabelecidos nos anos anteriores), um bocado de momentos nessa temporada poderia ser suprimido, de forma que uns 8 a 10 episódios fosse um tamanho mais agradável. E olha que a temporada de série que mais me empolgou nos últimos anos (a quase perfeita 3a de Narcos) também apresenta essas gordurinhas, mas em uma quantidade muito menor. #teamfly
Samantha! (1ª Temporada)
3.6 141 Assista AgoraDa bizarrice televisiva dos anos 80 à atualíssima busca desenfreada por visualizações nas redes sociais, a série utiliza um agradável humor para costurar paródia e crítica, e com um timing incrível. Afinal, vive-se hoje um saudosismo das duas últimas décadas do século XX ao mesmo tempo em que polêmicas envolvendo os tais digital influencers pipocam por aí toda semana. Nesse sentido, a jornada da Samantha! é muito bem pensada ao transitar daquela época para essa, ainda que não seja totalmente original. Os envolvidos podem negar, mas as semelhanças de Samantha! com figuras reais são claríssimas.
Por outro lado, não vejo a estrutura dos episódios rendendo vida longa à série. Por ora está funcionando, mas ou ela se reinventa ou encontrará rapidamente seu ponto final - ou de exclamação. E por falar em timing, é uma pena que a 2a temporada não será lançada ainda nesse ano de eleições; os debates e as tensões políticas seriam o clima perfeito para o novo horizonte que Samantha! pretende desbravar.
Luke Cage (2ª Temporada)
3.5 147Dizer que essa temporada introduziu um novo vilão soa um tanto injusto. Bushmaster é uma grande adição, mas seu maior inimigo não é Luke Cage, e sim Mariah Dillard, da competentíssima Alfre Woodard. É a partir disso que surge uma interessante dinâmica onde Luke tenta fazer valer suas crenças em uma guerra não apenas pelo comando do Harlem, mas motivada por um profundo sentimento de vingança. Personagens já bem desenvolvidos no ano anterior (e alguns também em "Os Defensores") revelam novas camadas, e o elenco não decepciona em relação ao que o texto pede. Porém, após cumprir sua função de movimentar a trama, o personagem de Mustafa Shakir perde o rumo a ponto de ficar de escanteio por 2 episódios e ter um destino, no mínimo, estranho. Que no futuro a série concerte essa injustiça.
O segundo ano de "Luke Cage" não faz apenas o seu protagonista mais interessante de se acompanhar, também traz outro Defensor para fazer uma participação especial e provar que uma certa série vizinha tem sim salvação, basta cuidado e bons roteiristas. A única ressalva quanto a isso é a total aleatoriedade que o dito-cujo chega e sai.
Há de se reconhecer também a grande e bem construída mudança do status quo dos personagens ao final, aludindo, intencionalmente ou não, "O Poderoso Chefão". Por causa dela o futuro da série é muito nublado, mas independente do que venha por aí... "sempre em frente".
Monk: Um Detetive Diferente (2ª Temporada)
4.3 15Nunca foi surpresa para ninguém que Sr. Monk é inspirado no lendário Sherlock Holmes. As manias, os problemas de convivência, a familiaridade com um instrumento musical e, claro, a capacidade brilhante de observação e raciocínio. Mas, ainda mais que na 1a, ao assistir aos episódios dessa temporada têm-se exatamente a mesma sensação de se estar lendo os romances ou, principalmente, os contos da maior criação de Arthur Conan Doyle. Não apenas pelos roteiros redondinhos, mas também pela criatividade com que são elaboradas as situações de crimes aparentemente impossíveis e a forma verossímil com que são explicados, tal qual acontece nos casos da 221B Baker Street.
O elenco, por sua vez, dispensa maiores comentários. Tony Shalhoub e Bitty Schram tem uma química incrível; ele indo do humor involuntário ao drama trágico que seu personagem exige e a personagem dela fazendo as vezes de John Watson, até mesmo na área profissional. O episódio "Monk e o Astro da TV" se destaca pelo olhar crítico sobre as séries do gênero, além de brincar com seus próprios bastidores. O maior problema mesmo desse segundo ano é a estrutura engessadinha da primeira metade, coisa que nem o TOC do protagonista justifica.
Diferente das aventuras de Sherlock Holmes, "Monk" tem uma história de fundo que perpassa todos os episódios e vai se desenvolvendo aos poucos. Nessa temporada esse quebra-cabeças não ganha muitas peças, mas, se depender do final, na 3a poderemos ver mais de Monk e seu passado trágico ainda não resolvido.
3% (2ª Temporada)
3.8 273 Assista Agora3% estreou em 2016 atraindo muitas atenções por ser a primeira série brasileira original Netflix, além da novidade de uma distopia/ficção científica produzida em terras tupiniquins. Apesar da recepção mista por aqui, a 1a temporada foi abraçada lá fora, tornando-se a série estrangeira mais assistida nos Estados Unidos, por exemplo. Na época, comentei que o potencial de 3% "é do tamanho do Brasil". Bom, a 2a temporada veio justamente para começar a provar isso.
A trama se expande para além dos limites do prédio do Processo. Podemos finalmente acompanhar o cotidiano do miserável Continente e conhecer o futurista Maralto, bem como entender boa parte da origem desse mundo dividido em dois lados. Outra dimensão explorada da mitologia da série é a Causa, cujas ações frente à terrível guerra travada revelam-se muito controversas, colocando em xeque aquela aparência boazinha e altruísta de até então. E é o grupo, inclusive, o palco para o melhor plot twist, com o mais intrigante dos personagens; seu destino é lamentável, e não estou convencido de que fez bem à série. E por falar em plot twists, esses não faltam nessa temporada. Mais do que simplesmente chocar, eles funcionam à favor do enredo, e contribuem para o bom ritmo; mal se sente que são 10 episódios. Há de se levar em conta, é claro, que o fato de a trama principal caminhar em contagem regressiva também conta muito para isso. E nesse caminho todo não há espaço para previsibilidades, as ações e consequências alteram a todo instante. O público certamente sairá de sua zona de conforto... ainda que apenas alguns passos.
A evolução de 3% também chegou à parte técnica. Com o maior investimento, os cenários são maiores, mais bonitos, mais bem detalhados, e usar planos aéreos dos velhos prédios de São Paulo nos stock shots do Continente foi bem proveitoso, pois além de diminuir o uso de efeitos especiais (que também melhoraram bastante, mas ainda não alcançaram o nível cinematográfico de outras séries), dá peso para aquele mundo, torna-o mais crível e palpável. Já outras coisas não tem como executar sem o uso de CGI, como toda a tecnologia futurista do Maralto; ao menos o resultado é muito satisfatório. E é interessante notar, nesse quesito, a clara inspiração em Black Mirror, outra produção da casa.
É perceptível que os realizadores da série ouviram as críticas à respeito da 1a temporada, mas se nelas há algo completamente ignorado são os comentários negativos acerca do padrão de direção, recheado de planos holandês e sem qualquer função narrativa, segundo as críticas. Essa característica permanece na 2a temporada, e às vezes só atrai atenção indevida, realmente. Mas em não poucos momentos seu uso é consciente e feito em harmonia com o status quo dos personagens e da trama. A temporada pisa na bola mesmo é no descarte frio que faz das "coisas" novas e promissoras. Pra quê?!
A já prometida 3a temporada de 3% deve marcar definitivamente o amadurecimento da série, e continuar a provar não que ela tem um potencial "do tamanho do Brasil", mas que esse é tão grande quanto a distância que seus criadores estiverem dispostos a desbravar suas imaginações. Porque seu público, principalmente o de fora, parece já ter decidido há um bom tempo embarcar nessa viagem.
El Chapo (1ª Temporada)
3.8 39 Assista AgoraÉ entre a originalidade de "Narcos" e o estilo latino de se contar histórias das obras cruamente televisivas que se encontra "El Chapo", série que narra a vida do narcotraficante mexicano Joaquín Guzmán... mas não de forma linear. A trama começa em 2016, com El Chapo sendo capturado pela terceira vez (em 2018 seu julgamento ainda não se encerrou), e logo pula para os anos 80; é a partir daí que a série se desenrola.
O grande problema dessa temporada é o tempo que ela leva para cativar com sua trama, porque bons personagens tem desde o início, e esses são mui bem defendidos. Marco de la O, por exemplo, encarna o personagem-título em um nível de trejeitos e aparência física que lembra - para citar outra "narco-narrativa" - Andrés Parra quase literalmente na pele de Escobar na colombiana "Pablo Escobar - O Senhor do Tráfico". Curiosamente, Mauricio Mejía, que interpretou o jovem Patrón nessa produção, reprisa o papel aqui, porém com o personagem já na idade madura.
Como os 5 primeiros episódios de "El Chapo" focam na ascensão do traficante enquanto o restante é sobre sobrevivência, muitos deles são bem diferentes entre si em termos de estrutura, tom e ritmo. Mas no geral é realmente um drama americano convencional construído com peculiaridades da cultura audiovisual latina enquanto aqui e acolá flerta com o tom documental do qual "Narcos" usa e abusa. Enfim, convenceu.
P.S.: A canção escolhida em um dos episódios caiu como uma luva para o personagem.
"Com ou sem dinheiro
Sempre faço o que eu quero
E minha palavra é a lei
Não tenho trono nem rainha
Nem ninguém que me entenda
Mas ainda sou o rei!"
Agentes da S.H.I.E.L.D. (5ª Temporada)
4.0 75 Assista Agora“Sabe, eu percebi algo... O universo não pode nos parar. Porque cruzamos galáxias, [...] sobrevivemos ao Atlântico, só para ficarmos juntos. Um amor assim é mais forte do que qualquer maldição. E você e eu... Nós somos imbatíveis juntos.”.
Começo citando esse incrível monólogo que ocorre entre o casal Fitz-Simmons para apontar uma qualidade que não é inerente a essa temporada, mas a “Agents of S.H.I.E.L.D.” como um todo: trata-se do romance, muitas vezes um espinho entre dedos no mundo das séries dramáticas. A maioria dessas, principalmente as no formato de mais de 20 episódios por temporada, aborda pares românticos aparentemente como uma obrigação para completar o tempo de duração e atrair uma audiência específica, ou pesa a mão e faz desse plot um freio para a trama principal, prejudicando-a completamente. Mas nada disso acontece aqui. O rumo que os showrunners adotam para os casais não apenas está intrinsecamente ligado ao desenvolvimento de cada um dos personagens como também é peça fundamental nos desdobramentos da trama, de forma que o apego por parte do público ocorra muito naturalmente. Não torcemos por um casal porque, sei lá, eles são fofos, mas sim porque a série conseguiu fazer com que nós gostássemos deles, e nos importássemos com eles, individualmente e juntos. E com tudo isso não aludo apenas Fitz-Simmons, mas também Mack & Yo-Yo e outros que seriam spoilers se citados.
Cientes de que essa poderia ser a temporada derradeira, os showrunners Maurissa Tancharoen e Jed Whedon arriscam tudo ao inserir elementos cósmicos na trama ao mesmo tempo em que tem o orçamento reduzido. O valor menor de produção é notado nas diversas cenas em corredores e cômodos cinzas, mas, por outro lado, essa economia permite que, pontualmente, sejam inseridas sequências com naves e corpos celestes extremamente realistas, acima de qualquer coisa que a série já apresentou em termos visuais.
O sentimento de despedida também faz com que personagens e outros elementos do passado retornem por meio de uma boa justificativa, ao mesmo tempo em que pontas soltas das primeiras temporadas finalmente ganham seus nós. E para ajudar, esse quinto ano é agraciado pelo almejado episódio 100, que tradicionalmente já tem características de auto-homenagem. Mas tudo isso vale a pena? Bom, por 14 episódios (salvo momentos específicos) a série continua tão incrível e satisfatória como na 4a temporada, mas perde força em seguida, com uma sequência de episódios um tanto enrolada. A season finale, na medida do possível, coloca as coisas nos lugares e finaliza a temporada sem saber se não está também finalizando a série, já que foi escrita e produzida antes do anúncio de renovação.
Apesar de todo esse clima de partida, dá para notar que “Agents of S.H.I.E.L.D.” não tem vontade de se encerrar, que ainda pode e quer contar boas histórias. De qualquer forma, uma Era foi fechada para Coulson e companhia, e levando em consideração que a já confirmada 6a temporada deve vir apenas depois do quarto filme dos Vingadores, talvez nada mais seja como antes para os agentes.
Jessica Jones (2ª Temporada)
3.6 286 Assista AgoraApós mais de 2 anos de hiato, "Jessica Jones" retorna para uma temporada, em vários aspectos, muito diferente da inaugural, a começar pela aceitação definitiva dos elementos sobrenaturais que permeiam aquele mundo. São personagens e situações que atestam que o universo pé no chão de Jessica é o mesmo universo fantástico do restante do MCU (não que precisássemos dessa confirmação). Outro contraponto à 1a temporada, e também ao restante das produções Marvel/Netflix, é a ausência de um vilão. Essa figura do inimigo é alternada em vários personagens, mas no fim das contas o que Jessica Jones precisa enfrentar é seu passado apresentando-se em forma de dúvidas, remorso, arrependimentos e raiva. Tal abordagem rende uma ótima primeira parte para a temporada, mas perde a força na segunda, provando - mais uma vez - que o formato obrigatório de 13 episódios por temporada já passou da hora de ser revisto.
Por conta dessas alterações, em momento algum o segundo ano da série apresenta uma carga de tensão como aquela resultante da caça ao Kilgrave, ou nos faz prender a respiração momentaneamente como quando o vilão obrigava suas vítimas a cometerem atos criativamente sádicos. No entanto, o resultado é levemente superior ao anterior, mostrando que a decisão de olhar para trás antes de seguir em frente foi acertada.
Mas e agora, o que será da 3a temporada? Outra mudança, uma terceira visão para a série? Ou a amálgama dos dois estilos? Pela situação dos personagens ao fim dessa leva, esse parece ser o caminho mais provável - e mais promissor, também. Veremos.
Fugitivos (1ª Temporada)
3.5 75Uma espécie de prelúdio para o material original a ser adaptado.
O Justiceiro (1ª Temporada)
4.2 569Ao começar pela origem de seu protagonista, "Luke Cage" não teve o fato de o Luke já ter aparecido em quase toda a 1a temporada de "Jessica Jones" como um empecilho. Ainda havia uma ideia a ser adotada, um manto a ser assumido. Luke não estava pronto e precisava ser provado para tornar-se o herói que estava destinado a ser. Mas como defender quase 8 episódios de "O Justiceiro" voltados para narrar uma história de origem que já foi tão bem contada e finalizada no segundo ano de "Demolidor"?
Nessa primeira metade da temporada Frank Castle fica fora da ação tempo suficiente para os coadjuvantes crescerem em participação e relevância de trama. Não é algo necessariamente ruim, pois tais tramas paralelas, ainda que isoladas da principal em um primeiro momento, são interessantes a ponto de em alguns desses períodos de marasmo para Frank, serem o que de melhor há. Em contrapartida, é nesse período que a série humaniza o personagem ainda mais, um feito necessário ao perfeito funcionamento dos desdobramentos da segunda metade.
A temporada acaba bem, sendo o seu clímax um ótimo exemplo de que ainda que um confronto físico talvez não trague tantas novidades visuais, é nos diálogos e no peso da jornada até ali que se constrói um clima de urgência e transmite para o espectador a carga de adrenalina necessária, transformando, por exemplo, o que poderia ser um golpe comum em um momento involuntário de prender a respiração.
Espero que agora finalmente estejam satisfeitos com a origem do Justiceiro. Se for assim, é curioso pensar no que pode estar vindo por aí na 2a temporada, já que tudo que vimos ele fazer até aqui foi parte de uma mesma guerra.
Inumanos (1ª Temporada)
2.2 118Uma série que quer que nos importemos com diversas coisas que estão separadas ou sumidas, sendo que nunca vimos essas coisas juntas tempo suficiente para o fazermos.
Se cancelarem, que entreguem o Dentinho para Agents of S.H.I.E.L.D.
O Mecanismo (1ª Temporada)
3.5 526Parece que o principal motivo da maior polêmica desse ano no mundo das séries é um profundo desconhecimento do significado de ficção. Que outra razão justificaria cobranças de veracidade histórica em uma série de TV? O Mecanismo é apenas mais um produto de entretenimento, diversão... APENAS isso. Uma obra claramente apartidária e com a visão particular de José Padilha e, muito provavelmente, de Elena Soares. "Ah, mas eles colocaram a fala do Jucá na boca do Lula". ESSA é a visão mencionada do Padilha, de que não importa lados, esquerda ou direita, é tudo parte de uma mesma engrenagem, o mecanismo. Concorde você ou não, a série deixa isso claro desde o início. "Ah, mas eles atacam o PT". A obra ataca todos os lados, basta querer ver. E se a contraparte de Aécio Neves na série tem muito menos tempo de tela, a compensação acontece na forma de proferimento, com todas as letras, do quão bandido o personagem é. Pois é, está lá. E é por essas e outras que também acho essa discussão boboca. O que talvez poderia se questionar é o lançamento da série em um ano de eleições, e com o país cada vez mais polarizado e consumido pelo ódio; era óbvio que a obra geraria polêmica. "Ah, mas ela desinforma! É FAKE NEWS!". De novo, se queres aprender História por meio de uma ficção, algo está bem errado contigo. Se um filme como Pantera Negra aumentou ABSURDAMENTE as buscas por hotel em Wakanda no Google, que dirá o que uma série inspirada na Lava Jato não fará alguns acreditarem? Então toda essa discussão é realmente bem boboca, e esse meu primeiro parágrafo, infelizmente, faz parte disso.
Agora falemos sobre a série de fato. Se tem algo que Padilha trouxe de Narcos para O Mecanismo, além obviamente da narração, foi o estilo de filmagem em externas, com inspirados planos aéreos e uma bela e eficiente direção em cenas com mais ação. Claro que ele não dirige todos os episódios, mas impregnou sua essência em ambas as produções. Já a narração em off mencionada surge aqui não com organicidade como em Narcos, mas redundante em não poucos momentos; depois melhora, ainda bem.
O que mais incomoda mesmo nessa temporada é o roteiro não explorar seus personagens com o potencial que tem. A protagonista de Caroline Abras, a delegada Verena Cardoni, é beneficiada pela ótima atuação da atriz e pela relação bem escrita com o também protagonista delegado Marco Ruffo, mas só consegue atingir um drama pessoal de relevância na reta final. Um outro caso importante: na vida real o doleiro Alberto Youssef e o ex-delegado Gerson Machado têm origem na mesma cidade. Na série a relação entre eles estendeu-se para uma amizade na infância. Um ponto no passado que poderia ser melhor trabalhado e, sem sombra de dúvidas, daria ainda mais peso para o antagonismo atual entre os personagens dos ótimos Enrique Díaz e Selton Mello.
No fim das contas, o que mais espero da 2a temporada são esses personagens mais aprofundados e, por que não, um núcleo de "cidadãos comuns" representando a população sendo afetada e reagindo a todos esses acontecimentos reais que beiram a ficção. Mas no fim, o saldo dessa temporada de estreia é certamente positivo.
Obs.: Julinho da Van não honrou o título. "Olha a denúncia aí!" :)
Os Defensores
3.5 501A boa reunião não consegue maquiar a fragilidade da trama.
Agentes da S.H.I.E.L.D. (4ª Temporada)
4.2 124 Assista AgoraAplicar pressão nos personagens é parte do processo de escrita de uma trama. Levá-los a situações difíceis, extremas, para que possam reagir e revelar mais de sua natureza, contribuindo assim para o enriquecimento da obra. Porém, em "Agents of S.H.I.E.L.D." essa aplicação não se restringe aos personagens, mas atinge a série como um todo.
Conseguem imaginar um seriado sobre algo (agência, corporação, grupo) desfazendo essa coisa por completo ainda em sua primeira temporada? Muito difícil. Mas "S.H.I.E.L.D." foi obrigada a fazer exatamente isso assim que a revelação dos bastidores da agência estourou em "Capitão América 2". A partir dessa grande e importante revelação, e ao longo desses quatro anos, a série mostrou que não se incomoda e nem teme mudar sua realidade; corajosa, aplicada e bem-sucedida. Que outra produção de mais de 20 episódios por temporada, principalmente sendo baseada em HQs da Marvel ou DC, arrisca em sair de sua zona de conforto? Dá pra dizer com tranquilidade que uma temporada de 22 episódios de "S.H.I.E.L.D." passa voando, enquanto "Punho de Ferro" por exemplo, com seus 13 episódios, é complicada de chegar ao final.
Enfim, 3 arcos narrativos distintos mas intrinsecamente conectados formando a melhor temporada da série. Os melhores enredos, as melhores atuações... Ah, "S.H.I.E.L.D."... E agora espaço sideral na 5a temporada?... Tem meu voto de confiança.
Dupla Identidade
4.0 212Até então eu não havia visto nenhuma obra de Glória Perez, apenas a minissérie "O Canto da Sereia" na qual ela atuou como supervisora de texto. No entanto, é notória a repercussão de seus trabalhos autorais. De clássicos como "O Clone" e "Caminho das Índias" ao estrondoso sucesso "A Força do Querer", passando pela mal-recebida "Salve Jorge"; ou seja, é nas novelas - formato melodramático por natureza - que seu trabalho se destaca. E por isso é perfeitamente compreensível manter um pé atrás com a primeira incursão da autora no mundo das séries em uma época onde elas são extremamente populares - Glória já havia escrito outras anos antes, como "Amazônia - de Galvez a Chico Mendes". Mas, surpreendentemente, o texto de "Dupla Identidade" é bem resolvido em relação ao formato a que pertence e adapta obras consagradas mundo afora.
Sim, a minissérie que narra o jogo de gato e rato entre o serial killer Eduardo Borges e a investigadora e psicóloga Vera Muller é fortemente inspirada em uma gama de filmes e séries policiais. Mas sua base é a britânica "The Fall". Na verdade é praticamente um remake dessa, dos principais desdobramentos da trama à caracterização e construção dos personagens, em especial da protagonista. E, sinceramente, eu fico com a nossa versão.
Não que o clima lento, frio e sufocante característico de "The Fall" seja inferior, mas parte pelo ritmo mais dinâmico aliado ao melhor desenvolvimento dos personagens, a verdade é que "Dupla Identidade" é mais atraente e, de certa forma, mais satisfatória.
Punho de Ferro (1ª Temporada)
3.0 499 Assista AgoraAs definições de "temporada com mais episódios que o necessário" foram atualizadas.
Escândalos: Os Bastidores do Poder (1ª Temporada)
4.2 147 Assista AgoraUma temporada que mira o grande arco mas acerta nos procedurais.
Apostar numa trama novelesca dentro do formato de série não é necessariamente um erro, mas não há como negar que em um folhetim, muito por conta de suas características próprias como o melodrama e a velocidade baixa, há muito mais tempo para o público conhecer e entender os personagens. E assim fica fácil nutrir sentimentos de torcida, empatia ou raiva, esses fluem com naturalidade. E a grande causa do não funcionamento da história principal da 1a temporada de Scandal são justamente os personagens. Quem são eles? Por que movem o mundo e o universo para servir e satisfazer sua líder máxima, Olivia Pope, uma protagonista rasa e difícil de suportar (não do jeito bom)? O time de profissionais a venera de uma forma assustadora, e raramente aquelas pessoas parecem ser afetadas pela natureza complicada de sua chefe. O roteiro quer a todo custo nos fazer engolir o quão incrível ela é, mas não há um desenvolvimento satisfatório para isso, apenas uma aparente realização da fantasia de mulher ideal da criadora Shonda Rhimes. Tão diferente de Annalise Keating, outra cria de Shonda mas que, no centro da muito superior How to Get Away with Murder, mostra seu poder e extrema competência para, logo depois, ter sua fragilidade explorada (tornando-a humana e crível) e ainda se complica nos relacionamentos com os seus, já que suas fortes atitudes afetam as pessoas ao redor.
E o que fazer para distrair o público e não deixá-lo refletir sobre os personagens? Tacando diálogos bobos e discursos extensos proferidos a 99% da velocidade da luz. Ao invés de refletirmos, nos esforçamos para captar o máximo de informações que nos atingem como balas de metralhadora.
E depois disso, atuações. Kerry Washington é esforçada, mas não há muito o que fazer pelo texto. O mesmo vale para os outros protagonistas, são praticamente estereótipos; e daí dá-lhe caretas. Tony Goldwyn como Fitz, apavorante. Bellamy Young vivendo a primeira-dama e Jeff Perry na pele de Cyrus fazem milagres. Mas o mais intrigante é Guillermo Diaz interpretando Huck. Ele emprega uma postura sempre contida, como se o personagem se esforçasse para não deixar emergir algo terrível a qualquer momento. Ironia? Não sei, mas gostei, e espero que Shonda tenha aproveitado bem o personagem na 2a temporada.
Apesar de tantos aspectos decepcionantes, como já dito a série acerta nos casos da semana. Variados, inventivos e com um tempo de tela suficiente para a experiência não ser um completo desastre.
Que o futuro de Scandal seja mais How to Get Away with Murder e menos quase tudo isso acima.
Naruto (3ª Temporada)
4.3 56Depois de um começo morno (cerca de 7 episódios), e por vezes repetitivo, tem início a nova etapa do Exame Chunin, que ocupando uns 8 episódios, mostra-se a melhor fase da temporada, equilibrando inventivos combates na arena com aprofundamento dos personagens que restavam daqueles vários apresentados no início do segundo arco. Já a terceira e última parte da temporada - o início do arco "Esmagamento de Konoha" -, ao longo de pouco mais que 10 episódios, promove um excelente chacoalhão na trama e aumenta a escala da ação para o nível que esperamos ver desde o início. A batalha entre o Terceiro Hokage e Orochimaru, por exemplo, enquanto não decepciona absurdamente na reta final, é um grande espetáculo demonstrativo das habilidades daqueles personagens. Por outro lado, o caminho que o enredo traça para Gaara, personagem mais intrigante do anime graças ao seu imenso poder, discrição e frieza, chega a ser patético. De uma figura misteriosa e calculista para uma coisa genérica e entediante. No entanto, o gancho deixado ao final pode indicar uma salvação para esse plot; tomara que assim seja na próxima leva de episódios.
Luke Cage (1ª Temporada)
3.7 502A série Marvel/Netflix que mais referencia o restante do MCU começa bem, e apesar de detalhes aqui e ali, assim caminha por cerca de 7 episódios, que é onde ocorre uma grande virada na trama. Tal evento não apaga o desenvolvimento até ali, mas acarreta em substituições de gosto um tanto duvidoso. E é nessa segunda metade que o velho fantasma dos episódios além da conta ataca. Ritmo, texto e até mesmo atuações, todos problemas inexistentes ou mínimos na metade anterior, mostram-se obstáculos que a série enfrenta com dificuldade para chegar ao seu desfecho. Na verdade desfecho entre aspas, pois as pontas soltas, um tanto frustrante num primeiro momento, podem ter deixado para o segundo ano o melhor da 1a temporada. Esperemos.
Agentes da S.H.I.E.L.D. (3ª Temporada)
4.1 133 Assista AgoraComo já havia sido citado em "Jessica Jones" e visto na virada da 2a para a 3a temporada de "S.H.I.E.L.D.", "Guerra Civil" cita o aumento de habilidosos no mundo em mais uma menção sutil dos filmes às séries - depois dos amigos misteriosos de Nick Fury em "Era de Ultron". Afinal, universo compartilhado não serve apenas para crossovers. Enfim, é com esse plot dos habilidosos - mais especificamente os Inumanos, já que nem todos o são - que se desenvolve a 3a temporada de "Agents of S.H.I.E.L.D.". E confesso que a repetição da dinâmica "problema - plano - agentes invadindo lugares" cansou um bocado, a ponto de entregar o episódio mais boring da série, aquele da despedida. O que vale mesmo ali é a cena final.
Apesar dessa observação ocupar um espaço considerável desse comentário, e de esse ser sim um ponto fraco da temporada, não resultou em uma absurda queda de qualidade, pois mesmo nos momentos complicados "S.H.I.E.L.D." tem um lado forte. No caso, as interações entre os personagens. Ponto para os roteiros.
Como constatado nos minutos finais, a série parece ter entendido que o que precisa agora é de uma mudança no status quo. Mais uma prova de uma produção consciente.
Black Mirror (4ª Temporada)
3.8 1,3K Assista AgoraA AVENTURA ESPACIAL: Mais leve que a maioria dos episódios da série até então, USS Callister homenageia a franquia Star Trek sem proporcionar novidades em termos de reflexão tecnológica, mas gera discussões interessantes sobre interação humana.
O DRAMA FAMILIAR: Bem dirigido, bem fotografado e com um conceito interessante nas mãos. Mas, por demérito do roteiro, não chega a um lugar bem definido, e o que fica é uma sensação de vazio.
O THRILLER CRIMINAL: Instigante e visualmente belo. Mas é a terceira vez na temporada que abordam variações de sistemas "inseridos" na mente, e isso parece reciclagem de ideias passadas. Por outro lado, o que mais se fala hoje em dia é em realidade virtual, então...
A COMÉDIA ROMÂNTICA: A maior parte do episódio mais fofucho de Black Mirror parece se passar em uma realidade opressora levemente semelhante àquela do Fifteen Million Merits, o 1x02 e melhor da série. Mas no fim o que fica são algumas reflexões sobre aplicativos como o Tinder. Excelente episódio.
O THRILLER PSICOLÓGICO PÓS-APOCALÍPTICO: Um diferencial estético funcional. Muitos argumentam contra dizendo que o episódio não proporciona nenhuma reflexão sobre a tecnologia, apenas a usa levianamente. Ora, mas todos os outros já fazem isso. Por que não sair um pouco da curva e curtir uma mulher lutando para sobreviver e fugir de um cão robô assassino inspirado - entre outras coisas da ficção e do mundo real - no Alien?
A DRAMÉDIA TRÁGICA COM PITADAS DE HORROR: O ponto sensível da temp... Não, da série. Estruturalmente semelhante ao especial de Natal, Black Museum narra três histórias interligadas que culminam em um plot twist sensacional. Apesar do resultado incrível, a essência do episódio são os easter eggs que praticamente escancaram que a maioria dos episódios da série se passa sim em um mesmo universo. Uma ideia preocupante, pois pode limitar - ainda mais? - as ideias do criador e roteirista (único da temporada) Charlie Brooker. Black Mirror é uma série com potencial para ser eterna, sempre se reinventando conforme nosso mundo avança tecnologicamente e o homem se adapta a essas novidades. Socar tudo em uma única linha temporal pode barrar futuras ideias que surgirem, forçando-as a obedecerem regras pré-estabelecidas. Sem falar nos fãs que vão chiar caso algo não se encaixe. No mais, curioso para ver o que será da 5a temporada, e torcendo também para que outras mentes venham a escrever episódios, como os já citados por aí Neil Gaiman e Stephen King. Não que Charlie Brooker deva ser substituído, não! Black Mirror é sua essência. Mas novas ideias devem fazem bem à série.
The Walking Dead (1ª Temporada)
4.3 2,3K Assista AgoraO mundo acabou, a humanidade caiu e os mortos dominam as cidades - ao menos as partes que pudemos ver. Situações extremas como essa já foram a base para outras séries de TV que escolheram focar nos atos, escolhas e evolução dos personagens frente a um cenário trágico e infernal. Tal abordagem rendeu, por exemplo, uma excelente temporada de estreia para Lost. Este, o primeiro ano de The Walking Dead, também executa essa tarefa com excelência, além de apresentar uma bem-vinda sub-trama (que cresce na reta final) sobre o início da queda do Homem que não está na versão em HQ.
Mas sua maior força também é sua grande fraqueza. Não é 1 nem 2 personagens que tomam tempo considerável de tela e que, no fim das contas, não tem relevância alguma à trama. Já outro em específico, que não se encaixa nessa situação, é subaproveitado.
Instigante, densa, visceral, triste e até mesma divertida, a 1a temporada, para todos os efeitos, é uma boa pincelada do potencial que essa série tem. O que será que me aguarda no futuro?...
Demolidor (2ª Temporada)
4.3 967 Assista AgoraAs temporadas de estreia de Demolidor e Jessica Jones guardam semelhanças entre si, como o fato de ambas possuírem um vilão bem definido. E por mais que ocorram vários confrontos ao longo dos episódios e que reviravoltas pipoquem aqui e ali, o espectador sabe que o embate final que concluirá a trama só ocorrerá mesmo no último episódio. Portanto, parte da experiência é prejudicada, pois o grau de previsibilidade é bastante considerável. Porém, a 2a temporada de Demolidor subverte essa ideia construindo uma estrutura bem diferente para a série.
"Contaminado" pelas temporadas introdutórias anteriores, o espectador, ainda na primeira metade do 2x01, já imagina como a temporada se desenrolará. Entretanto, o que em tese ocorreria lá pelos episódios 4 ou 5, acontece nesse primeiro. E a trama que tomaria toda a temporada é desenvolvida e finalizada em um arco de exatos 4 episódios. Assim, outros arcos menos delimitados e mais mesclados surgem a partir do episódio 5 (a temporada tem 13). Isso é bom? Em partes. Se por um lado a previsibilidade é aniquilada a ponto de no penúltimo episódio o espectador não ter muita ideia dos desdobramentos da season finale, por outro tem-se a sensação de inchaço com o número de tramas e sub-tramas que são abordadas. Conflito foi o que não faltou aos roteiristas.
E então chegamos à Elektra. Personagem mais suportável na reta final, porque sua função no início e sua história de origem não são tão interessantes. E a personagem ainda contagia Matt Murdock com sua chatice. Já o Justiceiro tem uma trama melhor desenvolvida e com um final de arco satisfatório, mas também não se isenta de alguns momentos maçantes; Jon Bernthal, no entanto, segura a barra.
Essa, no geral, é uma temporada corajosa e provavelmente decisiva. Seus protagonistas mudaram. Onde eles chegam ao final é um lugar muito distante daquele onde se encontravam no início. Sem falar da inserção de elementos e temas que já puxam outras séries como Punho de Ferro e a "goal" de toda essa brincadeira: Os Defensores. Agora só me resta torcer pelo melhor.
Amorteamo
4.3 100Conta com um time de atores que entendeu a proposta do texto e mergulhou de cabeça nesse universo gótico, estranho e lúdico da Nordeste do século XIX e XX.
Breaking Bad (3ª Temporada)
4.6 840Eu definitivamente não sou dos que se sentem entediados com episódios "parados", desde que realmente há um conteúdo a ser desenvolvido e uma justificativa para a baixa velocidade. A 1a temporada mesmo faz isso bem. Mas convenhamos que, apesar das atuações brilhantes e do padrão de direção elegante (ambos aspectos estabelecidos nos anos anteriores), um bocado de momentos nessa temporada poderia ser suprimido, de forma que uns 8 a 10 episódios fosse um tamanho mais agradável. E olha que a temporada de série que mais me empolgou nos últimos anos (a quase perfeita 3a de Narcos) também apresenta essas gordurinhas, mas em uma quantidade muito menor.
#teamfly