Chernobyl ganhou o prêmio de melhor série ou telefilme no Globo de Ouro. A obra é excelente, em atuação, roteiro e suspense, mas como toda obra audiovisual baseada em fatos reais fico pensando no quanto não sei sobre o desastre e como a versão HBO é a versão oficial para muitas pessoas. Como as pessoas citadas é fatos ganham uma relevância que talvez não tinham. O episódio dos cachorros, por exemplo, foram mortos, mas matar todos os animais era algo impossível e foi deixado de lado. Apesar de adorar a série, eu fico pensando todos os dias no papel político do cinema em produzir um discurso político hegemônico e, muitas vezes, quase oficial.
The Witcher nos apresenta um universo de magia, um universo cheio de monstros e seres sobrenaturais. Logo, a primeira cena do primeiro episódio deixa isso claro. Quem não conhece os games ou livros, não precisa ter receio. A serie é uma obra independente, que não depende de epígrafe para ser compreendida. O roteiro mostra três personagens lidando com o destino que lhe é imposto. Os três tiveram algo robado. Gerald não escolheu ser bruxo, Yennifer foi vendida e Ciri teve seu sangue poderes imcompressiveis. Isso é conectado a luta contra aquilo que a sociedade, as instituições e a família quer que os personagens sejam ou façam. Temas como exílio, racismo, xenofobia se conectam com um mundo ambientado em sociedade semelhante a medieval. As cenas de luta são excelentes, não sei Henry Cavill treinou, não sei se usa dublê, mas os planos abertos deixam claro a dimensão da violência. A série faz tudo isso em cenas paralelas e criando flashbacks e flashforward.
Assisti todas as temporadas de GOT e demorou 4 temporadas para eu ver um dragão tocar o terror. Enquanto isso, vi gente pelada, muito penis, mais gente pelada e nenhuma grande batalha ou inverno chegar. Era uma masturbação sem fim que termino de forma precoce. A todo momento algo ia acontecer e não acontecia. Criava uma expectativa para logo em seguida frustrar. Em uma temporada de The Witcher teve cenas de guerra, magos, elfos, dois dragões e gente pelada. Na boa, The Witcher tem tudo para superar algo que apenas almejou ser bom.
PS: O Henry Cavill tah foda no papel de Gerald. Não li os livros, mas joguei o jogo, que acho ser um dos melhores dos ultimos tempos e toh bem feliz com a série.
Me canso das séries de comédia, pois elas não fazem da piada algo orgânico da trama. Esse é meu problema com Friends, Two and a Half Men e as séries de comédia da Warner, no geral. Parecem Stand Up colorido. As piadas são como em um jogo de ping pongue, bate e volta ou um jogo de vôlei, onde alguém precisa levantar para o outro sacar. Não há espaço para folego, o riso é provocado, ele não surge da naturalidade. Nesse sentido, Método Kominsky é uma boa surpresa. Primeiro, por ser do mesmo criador de The Big Bang Theory e Two and a Half Men; segundo pela quantidade de piada que ele faz com essas criações; terceiro por saber transitar entre a comédia e o drama, por colocar excelente atores juntos e sustentar a trama na atuação. Sandy, personagem de Michael Douglas, diz não existir diferença entre encenar drama e a comédia, quando o ator encena o texto, ele fará as pessoas rirem pela trama. Quando o personagem diz isso, ele critica as séries passadas do criador, mas fala também sobre a atuação do dueto protagonista da séries, Michael Douglas e Alan Arkin. Os mexicanos oscarizados Guáron e Del toro disseram que a netflix era o lugar onde eles podem fazer os filmes que a indústria não lhes permita, parece que isso também vale para as séries.
Algum dia no futuro, espero que em uma sociedade mais evoluída, pessoas perguntarão a professores de arte sobre qual motivo de adultos assistirem uma série sobre um cavalo que é um ator frustrado. Os estetas, críticos e professores dirão:
"O contexto qual o sentimento estético dessas pessoas era nutrido. Sem perspectiva de futuro, sem realização profissional e não conseguindo manter relacionamentos, esses indivíduos viam em Bojack um reflexo de si mesmas".
O motivo de terem assistido seis temporadas do cavalo bêbado, que acreditou ser péssimo em tudo, que magou várias pessoas durante a vida, era porque no fundo elas também eram assim. Infelizes, tristes e sem perspectiva. E principalmente por acreditarem que deveriam ser assim, assistir a série se tornou uma forma de buscar compreensão e, talvez, consolo.
Eisenstein dizia que a verdadeira arte deveria revelar as contradições do ser. Maravilhosa sra. Masiel é uma série dispostas a explorar essas contradições. Uma mulher da elite judia de Nova York, mãe de dois filhos é deixada pelo marido e em meio a um surto de tristeza vai a um bar de comédia e se apresenta extremamente bêbada. Conta como não é ruim de cama, fala de todos os sacrifícios que fazia para fazê-lo feliz e demonstra o imenso desalento por tê-la trocado por uma secretária que não sabe apontar um lápis. Masiel ri e faz rir em um momento qual ela queria muito chorar e gritar. A partir desse dia, ela e a amiga vão tentar torná-la comediante. Masiel ter uma família rica é o que lhe permite ir em busca do sonho, isso também a coloca em choque com a moral do ex-marido, amigos e pais. Afinal, mesmo tendo se formado na universidade, ela foi educada e criada para ser mãe, esse era o seu trabalho. Era para isso que ela se dedicava cotidianamente. Ser mulher de família inclua estar sempre bela, comer pouco, cuidar dos filhos e todas as coisas do lar. A separação lhe tira a felicidade, qual imaginava ser o paraíso, mas lhe empurra para uma vida de bares, trabalho e festas. Algo nada "adequado" para uma mulher de família na década de 50. Esse choque entre uma mulher judia educada para ser mãe e uma comediante stand up é o mais interessante e o que torna a primeira temporada excelente. Como a mãe de Masiel perde o sentido de sua vida conforme ela e o pai se ocupam mais. Como o marido de Masiel percebe que o problema dele era estar ofuscado pelo brilho da moça, não só por ser bonita e inteligente, mas por ser uma comediante muito melhor. Como mesmo tendo uma vida de sucesso pela frente, ela se questiona em retornar para a vida antiga. São essas possibilidades, ir ao âmago do ser, em expor e colocar em choque que torna a série uma boa surpresa.
Isso não é uma crítica, apenas um comentário um pouco... extenso.
A sensação, ao terminar a primeira temporada de Dark, é desoladora. Sentimos nosso chão ruir e ficamos desamparados. Todos parecem andarilhos no escuro, sem lugar no tempo e no espaço, perdidos no labirinto. Não importa quem o fez, fará ou faz, tudo ficará igual, e ter consciência disso é assustador.
Dos personagens, quem mais se encaixa no perfil de andarilho é Jonas Kahnwald, interpretado por Louis Hofmann. É o mais solitário e o mais angustiado por respostas. A atmosfera escura e fria da fotografia destaca o casaco amarelo do jovem e enfatiza esse isolamento. Na floresta, na escola, na casa ou em meio aos outros personagens, a imagem dele sempre se sobressai, não por estar guiando ou iluminando com a cor, mas por estar sozinho.
Quando ao fim de alguns episódios os personagens olham para o horizonte, o olhar não é de esperança, mas de abandono e desespero. Deus é apenas uma figura mitológica na série e os textos bíblicos servem como metáforas para explicar as descobertas científicas, mas a ciência não é exata. Nem tem o monopólio da verdade como a religião, isso os deixa ainda mais sem rumo, pois ninguém parece poder ajudar.
Não existe confiança em Winden, cidade onde passa a série, ninguém parece acreditar no outro e a família é o berço de todos os conflitos. Toda a conspiração, crimes e mortes estão ligados por laços de sangue. Os personagens não escolhem o destino ao qual estão conectados, como não escolhemos quando nascemos. A angústia de Jonas, o desespero de Ulrich e a loucura de Helge são sintomas da consciência desse destino.
A filosofía de Nietzsche e a teorías científicas sobre viagem no tempo embasam a série, mas esses não são os questionamentos que movem a trama. Descobrir respostas e a viagem no tempo são maneiras de consertar as vidas de cada personagem. O grande problema de Ulrich, por exemplo, é um problema moral, não filosófico nem científico. Jonas prefere se afastar de sua ex-namorada e de seus amigos, também por questões morais.
O questionamento sobre o limite para nossas ações é uma das bases da série. Caso pudéssemos voltar no tempo, poderíamos fazer qualquer coisa? O quanto nossas ações influenciariam na vida de outras e o quanto coisas ruins ou boas tiveram consequências diferentes devido as escolhas certas e erradas feitas por nós.
Ao mesmo tempo que a série questiona os limites das nossas ações, ela também duvida dos valores do ser humano. Se tudo está conectado e todas as ações estão predestinadas, qual o motivo de tentarmos mudar tudo?
Ao fim, a série, criada por Baran bo Odar e roteirizada por Jantje Friese, responde muitas questões apresentada
Fleabang – 1º Temporada- Crítica O trabalho do ator é mudar de corpo. Apagar a si próprio, quando interpreta. Aí, está a grande dificuldade de muitos: como ser outro, sem carregar algo de nós mesmos? Phoebe Waller-Bridge responde isso em Fleabang. Mesmo tendo inspirado a série em sua vida, ela consegue apagar sua personalidade quando interpreta, consegue nos dar algo novo, sem ser somente ela diante da tela.
Percebemos isso durante todos os episódios, quando olha para câmera e comenta a trama, não é a mesma personagem que vive a cena. O olhar, o sorriso, as sobrancelhas mexendo, não são as mesmas. Além de nos tornar confidentes com a “quebra da quarta parede”, Fleabang nos mostra seus pensamentos, seus medos e dúvidas. Ao olhar para a câmera, a personagem exibe seu alter ego e nos convida a entrar na cabeça da personagem.
Apesar do olhar de Fleabang para a câmera recordar o Frank Underwood de Kevin Spacey, os dois personagens são bem diferentes. Space, quando olhava para a câmera, era apenas Frank falando com o espectador. Quando Fleabang fala, é seu alter ego, outro personagem. Existe outra diferença, Phoebe Waller-Bridge criou a série baseada em um monólogo, o centro do texto era o olhar para a plateia.
A atriz consegue, assim, criar a ilusão de um personagem, apagando a si mesma em cena e quebrando isso a todo momento, quando comenta a ação. Mesmo assim, a quebra é algo interno à trama, não busca lembrar o espectador de estar vendo uma obra de ficção. A quebra aumenta a expectativa no por vir, instiga curiosidade, nos dá fôlego.
O ponto de vista feminino
A motivação da dramaturga, atriz, roteirista e produtora para a peça e a série é desmistificar o papel da mulher na ficção.
Ou seja, a obra é o ponto de vista feminino sobre problemas universais como relacionamentos, frustração sexual, profissional e conflitos familiares. Temos milhares de série do tipo retratada com homens, mas o que faz Fleabag ser uma experiência boa, não é apenas o olhar feminino, mas a originalidade desse olhar.
Logo no primeiro episódio, quando a uma palestrante pergunta quantas mulheres dariam 5 anos de sua vida para ter o corpo perfeito, Fleabag e sua irmã levantam as mãos. As duas abaixam logo em seguida com o comentário da personagem em meio a olhares de reprovação: “somos más feministas”.
Em uma palestra feminista, paga pelo pai das duas, elas reconhecem querer trocar de corpo, reconhecem não gostar do que são e querer mudar. E esse é ponto qual torna a série excelente, Phoebe Waller-Bridge não encaixa a personagem em uma ideologia, mas mostra sua luta por se adequar à ideologia qual ela acredita.
A série Taboo, estrelada por Tom Hardy é meio estranha, não é ruim, mas algumas coisas me incomodaram. Primeiro, os planos são muito fechados, não existe quase planos compostos ou abertos, a paleta escura ajuda na impressão de sujeira, mas é cansativa. Essa forma de filmar adaptada a tela de computador ou celular empobrece as narrativas. Outro problema, o personagem de Hardy tem relações com tribos africanas e nativos americanos, isso é pouco explorado no mistério, mas poderia ter flashbacks sobre essas origens, os nativos e africanos exercem um forte papel nele, mas não existem na tela.
Chernobyl
4.7 1,4K Assista AgoraChernobyl ganhou o prêmio de melhor série ou telefilme no Globo de Ouro. A obra é excelente, em atuação, roteiro e suspense, mas como toda obra audiovisual baseada em fatos reais fico pensando no quanto não sei sobre o desastre e como a versão HBO é a versão oficial para muitas pessoas. Como as pessoas citadas é fatos ganham uma relevância que talvez não tinham. O episódio dos cachorros, por exemplo, foram mortos, mas matar todos os animais era algo impossível e foi deixado de lado. Apesar de adorar a série, eu fico pensando todos os dias no papel político do cinema em produzir um discurso político hegemônico e, muitas vezes, quase oficial.
The Witcher (1ª Temporada)
3.9 925 Assista AgoraThe Witcher nos apresenta um universo de magia, um universo cheio de monstros e seres sobrenaturais. Logo, a primeira cena do primeiro episódio deixa isso claro. Quem não conhece os games ou livros, não precisa ter receio. A serie é uma obra independente, que não depende de epígrafe para ser compreendida. O roteiro mostra três personagens lidando com o destino que lhe é imposto. Os três tiveram algo robado. Gerald não escolheu ser bruxo, Yennifer foi vendida e Ciri teve seu sangue poderes imcompressiveis. Isso é conectado a luta contra aquilo que a sociedade, as instituições e a família quer que os personagens sejam ou façam. Temas como exílio, racismo, xenofobia se conectam com um mundo ambientado em sociedade semelhante a medieval. As cenas de luta são excelentes, não sei Henry Cavill treinou, não sei se usa dublê, mas os planos abertos deixam claro a dimensão da violência. A série faz tudo isso em cenas paralelas e criando flashbacks e flashforward.
The Witcher (1ª Temporada)
3.9 925 Assista AgoraAssisti todas as temporadas de GOT e demorou 4 temporadas para eu ver um dragão tocar o terror. Enquanto isso, vi gente pelada, muito penis, mais gente pelada e nenhuma grande batalha ou inverno chegar. Era uma masturbação sem fim que termino de forma precoce. A todo momento algo ia acontecer e não acontecia. Criava uma expectativa para logo em seguida frustrar. Em uma temporada de The Witcher teve cenas de guerra, magos, elfos, dois dragões e gente pelada. Na boa, The Witcher tem tudo para superar algo que apenas almejou ser bom.
PS: O Henry Cavill tah foda no papel de Gerald. Não li os livros, mas joguei o jogo, que acho ser um dos melhores dos ultimos tempos e toh bem feliz com a série.
O Método Kominsky (2ª Temporada)
4.3 50 Assista AgoraMe canso das séries de comédia, pois elas não fazem da piada algo orgânico da trama. Esse é meu problema com Friends, Two and a Half Men e as séries de comédia da Warner, no geral. Parecem Stand Up colorido. As piadas são como em um jogo de ping pongue, bate e volta ou um jogo de vôlei, onde alguém precisa levantar para o outro sacar. Não há espaço para folego, o riso é provocado, ele não surge da naturalidade. Nesse sentido, Método Kominsky é uma boa surpresa. Primeiro, por ser do mesmo criador de The Big Bang Theory e Two and a Half Men; segundo pela quantidade de piada que ele faz com essas criações; terceiro por saber transitar entre a comédia e o drama, por colocar excelente atores juntos e sustentar a trama na atuação.
Sandy, personagem de Michael Douglas, diz não existir diferença entre encenar drama e a comédia, quando o ator encena o texto, ele fará as pessoas rirem pela trama. Quando o personagem diz isso, ele critica as séries passadas do criador, mas fala também sobre a atuação do dueto protagonista da séries, Michael Douglas e Alan Arkin.
Os mexicanos oscarizados Guáron e Del toro disseram que a netflix era o lugar onde eles podem fazer os filmes que a indústria não lhes permita, parece que isso também vale para as séries.
BoJack Horseman (6ª Temporada)
4.6 296 Assista AgoraAlgum dia no futuro, espero que em uma sociedade mais evoluída, pessoas perguntarão a professores de arte sobre qual motivo de adultos assistirem uma série sobre um cavalo que é um ator frustrado. Os estetas, críticos e professores dirão:
"O contexto qual o sentimento estético dessas pessoas era nutrido. Sem perspectiva de futuro, sem realização profissional e não conseguindo manter relacionamentos, esses indivíduos viam em Bojack um reflexo de si mesmas".
O motivo de terem assistido seis temporadas do cavalo bêbado, que acreditou ser péssimo em tudo, que magou várias pessoas durante a vida, era porque no fundo elas também eram assim. Infelizes, tristes e sem perspectiva. E principalmente por acreditarem que deveriam ser assim, assistir a série se tornou uma forma de buscar compreensão e, talvez, consolo.
PS: Ver o fim de Bojack não vai ser legal.
Maravilhosa Sra. Maisel (1ª Temporada)
4.5 234 Assista AgoraEisenstein dizia que a verdadeira arte deveria revelar as contradições do ser. Maravilhosa sra. Masiel é uma série dispostas a explorar essas contradições. Uma mulher da elite judia de Nova York, mãe de dois filhos é deixada pelo marido e em meio a um surto de tristeza vai a um bar de comédia e se apresenta extremamente bêbada. Conta como não é ruim de cama, fala de todos os sacrifícios que fazia para fazê-lo feliz e demonstra o imenso desalento por tê-la trocado por uma secretária que não sabe apontar um lápis. Masiel ri e faz rir em um momento qual ela queria muito chorar e gritar. A partir desse dia, ela e a amiga vão tentar torná-la comediante. Masiel ter uma família rica é o que lhe permite ir em busca do sonho, isso também a coloca em choque com a moral do ex-marido, amigos e pais. Afinal, mesmo tendo se formado na universidade, ela foi educada e criada para ser mãe, esse era o seu trabalho. Era para isso que ela se dedicava cotidianamente. Ser mulher de família inclua estar sempre bela, comer pouco, cuidar dos filhos e todas as coisas do lar. A separação lhe tira a felicidade, qual imaginava ser o paraíso, mas lhe empurra para uma vida de bares, trabalho e festas. Algo nada "adequado" para uma mulher de família na década de 50. Esse choque entre uma mulher judia educada para ser mãe e uma comediante stand up é o mais interessante e o que torna a primeira temporada excelente. Como a mãe de Masiel perde o sentido de sua vida conforme ela e o pai se ocupam mais. Como o marido de Masiel percebe que o problema dele era estar ofuscado pelo brilho da moça, não só por ser bonita e inteligente, mas por ser uma comediante muito melhor. Como mesmo tendo uma vida de sucesso pela frente, ela se questiona em retornar para a vida antiga. São essas possibilidades, ir ao âmago do ser, em expor e colocar em choque que torna a série uma boa surpresa.
Isso não é uma crítica, apenas um comentário um pouco... extenso.
Dark (1ª Temporada)
4.4 1,6KA sensação, ao terminar a primeira temporada de Dark, é desoladora. Sentimos nosso chão ruir e ficamos desamparados. Todos parecem andarilhos no escuro, sem lugar no tempo e no espaço, perdidos no labirinto. Não importa quem o fez, fará ou faz, tudo ficará igual, e ter consciência disso é assustador.
Dos personagens, quem mais se encaixa no perfil de andarilho é Jonas Kahnwald, interpretado por Louis Hofmann. É o mais solitário e o mais angustiado por respostas. A atmosfera escura e fria da fotografia destaca o casaco amarelo do jovem e enfatiza esse isolamento. Na floresta, na escola, na casa ou em meio aos outros personagens, a imagem dele sempre se sobressai, não por estar guiando ou iluminando com a cor, mas por estar sozinho.
Quando ao fim de alguns episódios os personagens olham para o horizonte, o olhar não é de esperança, mas de abandono e desespero. Deus é apenas uma figura mitológica na série e os textos bíblicos servem como metáforas para explicar as descobertas científicas, mas a ciência não é exata. Nem tem o monopólio da verdade como a religião, isso os deixa ainda mais sem rumo, pois ninguém parece poder ajudar.
Não existe confiança em Winden, cidade onde passa a série, ninguém parece acreditar no outro e a família é o berço de todos os conflitos. Toda a conspiração, crimes e mortes estão ligados por laços de sangue. Os personagens não escolhem o destino ao qual estão conectados, como não escolhemos quando nascemos. A angústia de Jonas, o desespero de Ulrich e a loucura de Helge são sintomas da consciência desse destino.
A filosofía de Nietzsche e a teorías científicas sobre viagem no tempo embasam a série, mas esses não são os questionamentos que movem a trama. Descobrir respostas e a viagem no tempo são maneiras de consertar as vidas de cada personagem. O grande problema de Ulrich, por exemplo, é um problema moral, não filosófico nem científico. Jonas prefere se afastar de sua ex-namorada e de seus amigos, também por questões morais.
O questionamento sobre o limite para nossas ações é uma das bases da série. Caso pudéssemos voltar no tempo, poderíamos fazer qualquer coisa? O quanto nossas ações influenciariam na vida de outras e o quanto coisas ruins ou boas tiveram consequências diferentes devido as escolhas certas e erradas feitas por nós.
Ao mesmo tempo que a série questiona os limites das nossas ações, ela também duvida dos valores do ser humano. Se tudo está conectado e todas as ações estão predestinadas, qual o motivo de tentarmos mudar tudo?
Ao fim, a série, criada por Baran bo Odar e roteirizada por Jantje Friese, responde muitas questões apresentada
Fleabag (1ª Temporada)
4.4 626 Assista AgoraFleabang – 1º Temporada- Crítica
O trabalho do ator é mudar de corpo. Apagar a si próprio, quando interpreta. Aí, está a grande dificuldade de muitos: como ser outro, sem carregar algo de nós mesmos? Phoebe Waller-Bridge responde isso em Fleabang. Mesmo tendo inspirado a série em sua vida, ela consegue apagar sua personalidade quando interpreta, consegue nos dar algo novo, sem ser somente ela diante da tela.
Percebemos isso durante todos os episódios, quando olha para câmera e comenta a trama, não é a mesma personagem que vive a cena. O olhar, o sorriso, as sobrancelhas mexendo, não são as mesmas. Além de nos tornar confidentes com a “quebra da quarta parede”, Fleabang nos mostra seus pensamentos, seus medos e dúvidas. Ao olhar para a câmera, a personagem exibe seu alter ego e nos convida a entrar na cabeça da personagem.
Apesar do olhar de Fleabang para a câmera recordar o Frank Underwood de Kevin Spacey, os dois personagens são bem diferentes. Space, quando olhava para a câmera, era apenas Frank falando com o espectador. Quando Fleabang fala, é seu alter ego, outro personagem. Existe outra diferença, Phoebe Waller-Bridge criou a série baseada em um monólogo, o centro do texto era o olhar para a plateia.
A atriz consegue, assim, criar a ilusão de um personagem, apagando a si mesma em cena e quebrando isso a todo momento, quando comenta a ação. Mesmo assim, a quebra é algo interno à trama, não busca lembrar o espectador de estar vendo uma obra de ficção. A quebra aumenta a expectativa no por vir, instiga curiosidade, nos dá fôlego.
O ponto de vista feminino
A motivação da dramaturga, atriz, roteirista e produtora para a peça e a série é desmistificar o papel da mulher na ficção.
Ou seja, a obra é o ponto de vista feminino sobre problemas universais como relacionamentos, frustração sexual, profissional e conflitos familiares. Temos milhares de série do tipo retratada com homens, mas o que faz Fleabag ser uma experiência boa, não é apenas o olhar feminino, mas a originalidade desse olhar.
Logo no primeiro episódio, quando a uma palestrante pergunta quantas mulheres dariam 5 anos de sua vida para ter o corpo perfeito, Fleabag e sua irmã levantam as mãos. As duas abaixam logo em seguida com o comentário da personagem em meio a olhares de reprovação: “somos más feministas”.
Em uma palestra feminista, paga pelo pai das duas, elas reconhecem querer trocar de corpo, reconhecem não gostar do que são e querer mudar. E esse é ponto qual torna a série excelente, Phoebe Waller-Bridge não encaixa a personagem em uma ideologia, mas mostra sua luta por se adequar à ideologia qual ela acredita.
Crítica publicada no Blog Clube de Cinema Outubro
Taboo (1ª Temporada)
4.1 126 Assista AgoraA série Taboo, estrelada por Tom Hardy é meio estranha, não é ruim, mas algumas coisas me incomodaram. Primeiro, os planos são muito fechados, não existe quase planos compostos ou abertos, a paleta escura ajuda na impressão de sujeira, mas é cansativa. Essa forma de filmar adaptada a tela de computador ou celular empobrece as narrativas. Outro problema, o personagem de Hardy tem relações com tribos africanas e nativos americanos, isso é pouco explorado no mistério, mas poderia ter flashbacks sobre essas origens, os nativos e africanos exercem um forte papel nele, mas não existem na tela.