Taika Waititi conseguiu trazer uma leveza proporcional à sua genialidade a um filme extremamente denso, cheio de amadurecimento e reflexão.
com um pano de fundo extremamente pesado, através da acidez, marca sua que já pode ser registrada e patenteada, o diretor consegue fazer um filme sobre autoquestionamento e amadurecimento. Usando o nazismo de forma caricata, sem abandonar a crueldade da ideologia, Taika utiliza as premissas infundadas do partido para perpassar por diversas etapas na vida de uma pessoa: idolatria, amizade, amor, rancor, tristeza e superação.
Com o charme do rosto extremamente expressivo de Roman Griffin Davis e um roteiro muito bem aparado pelo também diretor, o filme alcança complexidade o suficiente para alcançar diversas camadas, de acordo com sua audiência.
O elenco extremamente alinhado com o pensamento "fazer o filme mais raso do que de fato é" deixam a obra orgânica e leve, como se fosse um filme infantil; afina, vemos tudo através do imaginário de Jojo, nosso herói autocrítico. Sam Rockwell e Rebel Wilson são alívios cômicos estrategicamente inseridos para dar um quê de humor negro (a cena em que Fraulein Rahm arranca o pino de uma granada, encaixa nas costas de uma criança, e manda ela abraçar um soldado americano é genial pelo fato de desenhar uma filosofia inteira dentro de uma piada).
eivado de alma e nos inundando de questionamento póstumos, jojo rabbit é uma das grandes obras que fecharam a década. as obras de taika waititi definitivamente devem ser apreciadas com zelo, com o olhar que vai muito além da piada, sob pena de se perder um material lindo e rico.
é engraçado como diferentes olhares têm percepções tão diferentes.
vi esse filme ontem com minha mãe. enquanto ela fazia uma análise (que eu considero) simplista, argumentando coisas (que eu considero também) lineares como: "mas é só ir e cantar", "que mulher problemática", "merecia estar falida porque não dava o valor pro dom da voz que ela tinha" - entre outros comentários menos empáticos -, eu só via uma vítima.
quando via o filme, vi uma pessoa que, desde o início, fora tratada como produto: um produto de sua mãe, um produto de sua produtora e um produto de mercado. quando o público não via mais sua necessidade, foi descartada para, literalmente, ficar sem ter onde dormir.
enquanto muitos criticavam seus diversos casamentos, eu via na verdade um apelo por atenção ("se eu precisar ouvir 'eu te amo' dez vezes, fale, por favor") de alguém que nunca recebeu afeto ou um olhar mais empático.
para mim, a direção do filme peca no excesso de sugestividade, sempre deixando uma informação faltante, que poderia ter sido vista no filme. eu sei que o filme, muito mais do que aquilo que se vê, é o que não se vê, mas Rupert Goold levou essa máxima um pouco a sério demais.
os festivais deste ano estão extremamente bem servidos na disputa de oscar de melhor atriz. impossível não se comover com a atuação da renée zellweger, especialmente nos minutos finais, quando a voz falha, mas fica cheia de poesia com seu olhar emocionado.
Judy é um filme regular com uma atuação deslumbrante. ao fim, meu único desejo é que mais pessoas compartilhei a minha visão ao invés de minha mãe, e vejam, como o próprio título diz, muito além do arco-íris.
Filme bacana. Sempre gostei das obras do Fernando Meirelles, mas aqui acho que ele pecou um pouco no excesso de didatismo na película e, algumas vezes, até certo desleixo.
Veja que a dublagem em espanhol do Pryce é evidente (o timbre da voz do dublador sequer encaixa na do ator); da mesma forma, nos primeiros flashbacks, o filme fica em preto e branco, contudo, inexplicavelmente nos demais, a paleta de cores apenas fica desbotada levemente. Tentei inclusive achar um significado para isso, mas é justamente na memória mais dolorosa do Papa Francisco, quando o filme poderia perder a cor, é quando o flashback fica colorido.
Anthony Hopkins, embora seja um grande ator, fez um trabalho em nível ordinário; com um andar lento e aquela mistura de olhar sagaz com surtos episódicos em sua voz já é uma assinatura batida em muitos de seus trabalhos.
Em uma análise mais abrangente, acho um bom filme para se ver e quebrar o paradigma de antagonismo que se criou entre os dois papas. O filme mostra para desmistificar e humanizar o representante de Deus na Terra. No mesmo momento em que faz isso, automaticamente, nos faz desenvolver empatia por ambos, principalmente nos instantes finais, quando mostra que ambos fica evidente a amizade e a humanidade de ambos.
filme muito interessante. scorsese conseguiu aplicar em uma película toda a descritibilidade que encontramos nas páginas dos livros. o resultado por vezes é controverso: o que para muitos transforma o filme em uma experiência audiovisual rica, para outros pode deixar a obra maçante e tediosa.
varia de acordo com o gosto. discordo que seja a masterpiece do diretor, que é um dos que eu mais admiro, diga-se de passagem, mas sem dúvida é um grande trabalho, com grandes atores e um roteiro espetacular.
dou 3,5 estrelas porque, comparando com outras produções do scorsese, acho que peca um pouco na edição e no polimento do trabalho como um todo. além disso, queria que fosse mais aprofundado o conflito entre o de niro e a anna paquin.
filme muito singelo. a gente ri e chora, mas sai do cinema se sentindo leve. elenco maravilhoso. só não dou cinco estrelas porque achei a trama da emma watson subaproveitada. se tivesse explorado as dificuldades dela também, teria sido um filme completo.
Quando ainda estava cursando Direito, uma das perguntas mais recorrentes que me faziam sempre era "em que área tu pretende atuar?". Com apenas dezessete anos, ficava meio difícil saber o que responder, de modo que sempre respondi da mesma forma: qualquer uma que não seja Direito de Família.
Esses rompimentos de núcleo familiar sempre me foram doídos. Não por experiência própria, ainda bem. Mas, de alguma forma, sempre me atingiam de forma lacerante.
Com História de um Casamento não foi diferente; o roteiro sofisticado e as atuações impecáveis do casal protagonista me proporcionaram uma das mais doloridas e profundas viagens à ruptura de uma família.
É com muita dor que se vê um casal, que ainda se ama (e isso fica muito claro), mas não enxerga futuro por uma incompatibilidade de projetos. Ambos falhos, mas ao mesmo tempo, ambos perfeitos em tentar buscar a harmonia da vida em meio ao caos.
O filme é uma poesia chorada em meio ao mundo contemporâneo. Dói de saber que é a realidade de muitos. Dói ainda mais saber que pode ser a realidade de outros tantos.
No fim dessa obra eu pude apenas, em meio a soluços e voz embargada, ligar para minha namorada e dizer de peito cheio: eu te amo. Mesmo longe, eu te amo muito.
Ari Aster acha que só mantendo uma nota constante vai deixar a trilha sonora perturbadora. Hans Zimmer deu aula disso em The Dark Knight, mas acho que ele não prestou muito atenção.
O jogo de cores é lindíssimo. Não achei dos melhores filmes do Almodóvar, embora tenha ficado muito claro pra mim que ele não fez esse filme para ninguém senão ele mesmo. É um diálogo com as próprias memórias e aprendizados dele. Usa e abusa da metalinguagem.
(o filme faz referência à biografia dele, e o filme dentro do filme faz referência também)
É um típico filme de alguém orgulhoso - e com razão - da jornada traçada até agora. Tão orgulhoso que não precisa esconder sua intimidade de ninguém. Cria um alter-ego quase perfeito vivido pelo Antonio Banderas. Certo momento, em um de seus ensaios, Salvador escreve que "o amor pode mover montanhas, mas não salvar quem você ama"; é talvez não salve naquele momento, mas a única certeza que eu tive ao terminar o filme foi que todos ali, sem exceção, encontraram no amor (seja próprio, seja alheio) paz e redenção.
gostei bastante do lance em que o fantasma apareceu no momento da menina abrir o guarda-chuva transparente. são essas pequenas sacadinhas que salvam o filme de terror contemporâneo.
a invocação do mal teve as palmas. anabelle teve o monstro subindo as escadas. quando as luzes se apagam tem o lance dos tiros da arma fazerem o monstro sumir.
por ser um gênero desgastado, a gente precisa se apegar nessas pequenas ideias pra sair do lugar comum e dizer que o filme vale alguma coisa na fila do pão.
as primeiras reações que estão saindo na internet estão dando a entender que o filme está surpreendente! e falam, principalmente, que o ben mendelsohn está roubando a cena! acho que vai ser mais um sucesso da marvel!
finalmente conseguiram faze rum filme trash do predador. humor previsível e risível. enredo deplorável. me impressionei de ver sterling k brown e olivia munn em um filme como esse
Dirigido por Anthony Russo e Joe Russo. Escrito por Christopher Markus e Stephen McFeely. Com Josh Brolin, Robert Downey Jr., Chris Hemsworth, Mark Ruffalo, Chris Evans, Scarlett Johansson, Don Cheadle, Benedict Cumberbatch, Tom Holland, Chadwick Boseman, Zoe Saldana, Karen Gillan, Tom Hiddleston, Paul Bettany, Elizabeth Olsen, Anthony Mackie, Sebastian Stan, Peter Dinklage, Idris Elba, Danai Gurira, Benedict Wong, Pom Klementieff, Dave Bautista, Vin Diesel, Bradley Cooper, Chris Pratt.
Em 1980, com o lançamento da sequência de Star Wars: Uma Nova Esperança (que ainda não tinha esse título), as pessoas foram pegas de surpresa saindo do cinema após um filme em que, por incrível que pareça, os mocinhos não venciam. Como pode, no fim do filme, um dos mocinhos ter o braço amputado, o outro ser congelado e a outra sequestrada? Esse sentimento de derrotismo foi essencial para que em O Retorno de Jedi o espírito de superação pudesse compensar a perda de anos atrás.
Agora, em 2018, a história se repete em Vingadores: Guerra Infinita. O filme, prometido há mais de seis anos, é a culminação de um universo construído com zelo e planejamento desde o Homem de Ferro. Inclusive, não é exagero algum suspeitar que o filme estreou em 26 de abril, enquanto o primeiro filme de Tony Stark chegou às telonas no dia 30, há mais de dez anos.
A trama, facilitada ao longo das dezoito películas, é muito linear: Thanos, último sobrevivente de sua raça, anseia por encontrar o equilíbrio do universo. Para isso, ele vai em busca das Joias do Infinito, não poupando esforços para encontrá-la. Para quem acompanha o universo cinematográfico da Marvel, o enredo não tem novidade alguma. Partindo do ponto em que Thor: Ragnarok terminou, o filme consegue unir os super-heróis todos de forma muito fluida e natural.
De maneira muito inteligente, para não estragar o clímax que virá no próximo Vingadores (ainda sem título definido), os irmãos Russo optaram por dividi-los em duas equipes, com características semelhantes, a fim de deixar mais orgânico esse encontro dos Guardiões da Galáxia com os Vingadores, facilitando a troca de diálogos entre Homem de Ferro e o Senhor das Estrelas, por exemplo.
Além disso, agora fica mais evidente ainda a importância que Taika Watiti tem para Thor. Após usar de um humor ácido e autodepreciativo em Ragnarok, a jornada do Deus do Trovão com o Rocket e o Groot é um dos pontos mais altos do filme. É muito clara a crescente que o asgardiano vem tendo desde A Era de Ultron, onde é o primeiro a mensurar o impacto das Joias do Infinito na vida de todos. Não seria de se espantar que ele fosse um dos remanescentes da equipe antiga na fatídica transição para a nova geração.
Em termos de atuação, o blockbuster não fica com menos destaque. Em um filme em que o vilão é o protagonista, Brolin entrega uma atuação memorável no mesmo nível que Heath Ledger fez com o Coringa anos atrás. Parece que a Marvel repete o que fez com Killmonger (Pantera Negra) e constrói um vilão não-linear. Assim, ao mesmo tempo que abominamos as ações de Thanos, compreendemos seus ideais e por que ele faz o que faz.
A superpopulação, trabalhada por Thomas Maltus (progressão aritmética dos alimentos x progressão geométrica da população) até os pensadores contemporâneos, é um dos problemas mais iminentes que estamos por enfrentar. No caso do filme, essa questão se projeta da Terra ao universo, de sorte que o vilão acha que precisa eliminar metade de suas pessoas para atingir o equilíbrio perfeito. Sem teorias de higienização ou supremacia de alguma raça, o vilão deixa muito claro que não visa eliminar ricos ou pobres, deixando eles à própria sorte. Assim, fortalecendo a máxima de que “cada vilão é o herói dentro de sua própria história” o Titã acredita ser um messias e, para isso, não poupa esforços, inclusive assumindo certos sacrifícios e se ressentindo por eles.
Da mesma forma que o vilão, Downey Jr., o Homem de Ferro, entrega sua melhor atuação no manto do gênio, bilionário, playboy e filantropo. Sendo muito claro de que a invasão o assombra desde os eventos em Nova York, o ator é muito eficiente em tomar para si a responsabilidade de salvar o planeta.
Com menos destaque que a equipe que luta em Titan, a equipe da Terra também tem seus bons momentos. Por mais blazé que seja o relacionamento de Wanda com Visão, isso acaba sendo uma importante engrenagem na obra, até mesmo porque o andróide é um MacGuffin* ambulante. Com menos destaque, Capitão América, Pantera Negra, Viúva Negra e outros têm muitas cenas de ação e poucos diálogos, algo que os diretores já mencionaram que não se repetirá na sequência.
Claro, nem todas as escolhas do texto foram acertadas. Se por um lado a união dos heróis é muito natural, por outro, a Ordem Negra de Thanos (com exceção do Fauce de Ébano) é apresentada de forma displicente e descartados negligentemente. Sem impacto ou urgência, os generais de Thanos vão sendo eliminados de modo que Corvus Glaive e Estrela Negra mal falam.
Da mesma forma, a escolha do cliffhanger nos últimos dez minutos, da forma que foi tomada, tira o impacto almejado. É admirável a coragem do roteiro em matar Loki, Heimdall, Gamora e Visão. Contudo, a força do estalar dos dedos do Thanos é subtraída quando vemos que personagens como Homem-Aranha, Dr. Estranho e Pantera Negra estão entre as baixas, por exemplo;, pois são personagens que possuem seus contratos renovados para mais um filme. Portanto, da mesma forma que toma-se um salto de coragem ao eliminar alguns heróis, usa-se de outros para que o espectador se console ao começarem os créditos.
Vingadores: Guerra Infinita é um dos filmes mais emblemáticos do nicho que representa. Como muitos definem, trata-se de um filme-evento. Uma homenagem a todos aqueles que acompanham a saga desde sua fase embrionária, mas sem esquecer do espectador médio. Uma obra comprometida que tem o grande atributo de renovar uma categoria que estava começando a dar os primeiros traços de cansaço. E o melhor de tudo é a incerteza do futuro, já que a última frase dos créditos garante apenas que um nome vai voltar.
Thanos.
Nota: 6/6 (Ótimo)
*Na ficção, MacGuffin (às vezes McGuffin ou Maguffin) é um dispositivo do enredo, na forma de algum objetivo, objeto desejado, ou outro motivador que o protagonista persegue, muitas vezes com pouca ou nenhuma explicação narrativa."
Dirigido por Sean Baker. Escrito por Sean Baker e Chris Bergoch. Com Brooklyn Prince, Christopher Rivera, Aiden Malik, Valeria Cotto, Bria Vinaite, Willem Dafoe, Mela Murder.
Existem certas personalidades que caem nos mimos dos públicos que, por mais que se tente ver algum diferencial, não se vê nada além de uma personalidade pretensiosa. Esse é o caso de Sean Baker. Apaixonado por retratar o lado que a sociedade prefere não ver, o diretor – aclamado após Tangerina, que todos repetem incansavelmente que foi filmado integralmente em iPhones, um marketing proposital, desconfio –, volta a ser reverenciado em Projeto Florida, que mostra a periferia dos parques de Walt Disney World.
Seria muito legal falar sobre a trama do filme, isto é, se ele tivesse alguma. Na verdade, o filme se arrasta ao longo de sua duração sem nenhum enredo aparente. Apenas o dia após dia de crianças arteiras, mães negligentes e funcionários entediados. É frustrante ver a rotina sofrível dos personagens, sem objetivos, apenas vivendo um dia após o outro.
Assim, somos expostos a uma série de situações em que crianças, com atuações bem medíocres, ficam saçaricando de um lado para o outro, sem saber que o nome daquilo é tédio. Nos poucos momentos de lucidez, vemos uma parte da vida de Halley (Vinaite), mãe de Moonee (Prince), que precisa matar um leão por dia para poder garantir um teto para si e sua filha. Aliás, o diretor e roteirista tenta trazer de forma desastrosa certa humanidade aos personagens, o que acaba ficando forçado e desonesto. Com isso, vemos os diabretes rebolando, fazendo sinais obscenos, falando palavrões, na falha tentativa de mostrar que isso é natural a eles, mas apenas vira um fiasco.
Com atuações ruins e regulares, não era de se espantar que Willem Dafoe fosse indicado a melhor ator coadjuvante. Com o filme nivelado por baixo, quase no chão, o experiente ator surge como um farol em meio às sombras.
O roteiro, absolutamente vazio de engrenagens motoras, é maçante e moroso. Eivado de repetições, somos massacrados com as mesmas cenas dia após dia: é banho de banheira aqui, a mãe vendendo perfume ali, um sorvetinho lambido a mil línguas, e mais arte.
Se por um lado grande parte do filme não funciona de forma alguma, o mesmo não pode se dizer da fotografia. Abusando de cores vibrantes e muitos contrastes, conseguimos perceber o mundo através do olhar dos diabinhos, onde qualquer banalidade pode se transformar em algo fantástico.
Mostrando mais uma vez toda sua pretensão, Sean Baker tenta impressionar o público com a ordinariedade. Mais uma vez, não convence. Na verdade, a melhor notícia, após os longos 111 minutos de película é apenas uma: não teremos mais aquele maldito aposto “todo filmado em câmeras de iPhone”.
Confira a crítica do Catacrese com alguns pequenos spoilers!
"The Post – A Guerra Secreta | Crítica
Traçando um paralelo com a atual política norte-americana, Spielberg é claro: a imprensa serve aos governados, não aos governantes
Dirigido por Steven Spielberg. Roteiro por Liz Hannah e Josh Singer. Com Meryl Streep, Tom Hanks, Sarah Paulson, Bob Odenkirk, Tracy Letts, Bradley Whitford, Bruce Greenwood, Matthew Rhys, Alison Brie, Carrie Coon.
Não é novidade a ninguém que Steven Spielberg é abertamente contra Donald Trump. Na verdade, seu ímpeto para criticá-lo é teu forte que, há apenas onze meses, o diretor lia o roteiro pela primeira vez. Assim, em toque de caixa, nasce The Post – A Guerra Secreta.
A trama do filme, baseada em fatos, narra a ascensão do jornal The Washington Post ao posto de um dos veículos midiáticos mais importantes do mundo. Nesse caso, trata-se de uma divulgação de documentos sigilosos do Pentágono que asseveravam que o governo sabia que a Guerra do Vietnã era uma batalha perdida. Com isso, precisaram lidar com a censura e a pressão do governo, inclusive através de ameaças de fechar o jornal e serem presos por traição.
O roteiro, por conta da iniciante Liz Hannah e de Josh Singer (Spotlight: Segredos Revelados, quando percebemos muita afinidade do roteirista com o mundo jornalístico), é muito coerente quando exibe elementos muitos distintos que caracterizam cada um dos personagens. Bradlee (Hanks), Graham (Streep) e McNamara (Greenwood) são representantes claros das forças que representam, quais sejam, a imprensa, a família e o Estado, respectivamente. Assim, Graham vê-se em um jogo constante em meio à queda de braço das instituições, de modo que precisa de coragem escolher lados e ignorar laços de amizade.
Com atuações excelentes, o filme não só se destaca por conteúdo, como também se firma pelos destaques individuais. Contudo, os verdadeiros destaques ficam por conta de Streep e Odenkirk, ambos perfeitamente transparentes apenas com o olhar – a cena de Graham ao telefone, quando decide publicar o material, é emblemática, pois vemos claramente suas preocupações e seus pensamentos.
A direção de Steven Spielberg, um dos maiores e mais versáteis diretores vivos, é excelente no momento em que consegue aliar à trama política, a importância social do empoderamento feminino. No início, Graham era apenas a herdeira de um jornal de bairro – basta ver nas primeiras cenas que Bradlee mal a olha nos olhos –, todavia, na medida em que os fatos vão ocorrendo, a personagem não só ganha seu respeito, mas também da bancada executiva do jornal (o momento em que Graham desse as escadas do Tribunal apenas sob os olhares admirados de mulheres é o firmamento do ideal feminista).
Claro, a obra não escapa dos clichês que Spielberg muitas vezes cai propositalmente para criar o laço com o espectador. As cenas da impressão do jornal com a música de triunfo de fundo, por mais belas que sejam, são o ápice do didatismo do diretor, quase uma autorização no sentido de “pronto, agora podemos comemorar”.
Em uma entrevista ao Express, Spielberg relata que “o filme foi feito com urgência por causa da atual administração do governo, atacando a imprensa e rotulando a verdade a seu bel-prazer”. Após encerrar a película, fica muito claro que sua intenção, de fato, não é ganhar o prêmio de melhor filme da Academia. Ele apenas quer deixar o protesto reverberar nas paredes do Teatro Dolby; e ninguém vai calar ele.
- Elio, Elio, Elio, Elio, Elio, Elio, Elio, Elio, Elio. - Oliver. Eu lembro de tudo.
Dirigido por Luca Guadagnino. Roteiro por James Ivory. Com Armie Hammer, Timothée Chalamet, Michael Stuhlbarg, Amira Casar, Esther Garrel, Victoire Du Bois, Vanda Capriolo, Antonio Rimoldi, André Aciman, Peter Spears.
O primeiro amor é sempre algo de difícil absorção. A vontade de estar junto, o nervosismo ao ver a pessoa, a insegurança de falar algo que não devia. Cada uma dessas etapas podemos ver em Eliot (Chalamet), seja em seus olhos trêmulos, nas suas costas curvadas, ou até mesmo em seus atos involuntários, como colocar um óculos para impressionar seu novo amor, Oliver (Hammer).
Com a trama lenta, feita para ser apreciada de forma contemplativa, o filme narra a história vista na perspectiva de Eliot, um adolescente de dezessete anos, que descobre o amor com Oliver, um aluno de seu pai (Stuhlbarg, parecidíssimo com o Robin Williams de Gênio Indomável) que vai passar um tempo em sua casa, no interior da Itália. Já nos primeiros minutos, podemos perceber que, por vermos o amor da perspectiva do jovem, a obra abunda de fotografias ensolaradas e bucólicas (por conta de Sayombhu Mukdeeprom) e figurino leve (de Giulia Piersanti), expondo muito a pele, deixando a atmosfera muito sensual. Por fim, a aura romântica se completa com a trilha sonora clássica e com a sutilidade com que os fatos vão se sucedendo.
Na verdade o erotismo é algo muito presente a todo momento. Sem nudez apelativa ou imagens explícitas, o trabalho faz questão de manter a pureza do primeiro amor. O início vagaroso (uma das maiores críticas da obra é o enredo arrastado nos primeiros dois atos) traça um paralelo perfeito com seu próprio argumento, como se fossem as preliminares do próprio ato sexual. A atração intelectual inicial, a confusão e a tensão física sedimentam um clímax de autoconhecimento que somente aflora no terceiro ato, que vai, sim, desmontar o mais duro dos corações.
Com um roteiro muito inteligente, a obra consegue escapar das armadilhas tradicionais que textos similares acabam cedendo. Ao retratar o filme por um coming of age, deixa-se de lado a questão da homofobia (uma vez que a família de Oliver é quase que integralmente ignorada). Não há preocupação com a sexualidade de ambos senão a entrega de um para o outro.
A atuação de Chalamet, como Eliot, é feita de forma muito sincera. O espectador realmente acredita nos sentimentos experimentados. Na verdade, sua forma de encarar suas experiências de peito aberto – Eliot em nenhum momento sente vergonha de se apaixonar por alguém do mesmo sexo – faz um contraste perfeito com a postura de Oliver, que claramente mostra-se afetado pelos pudores injustamente impostos por sua família.
O início paulatino talvez incomode a plateia mais imediatista, que pode considerar o filme um drama enfadonho. Entretanto, muito mais do que isso, Me Chame pelo Seu Nome é um filme sobre o amor. Como o próprio título faz questão de evidenciar, mais do que encontrarem um ao outro, eles encontraram a si mesmos. Ao chamarem ao outro pelo seu próprio nome, é evidente que não se trata de um simples casal, mas sim de reconhecer sua parte que falta.
Dirigido por Craig Gillespie. Escrito por Steven Rogers. Com Margot Robbie, Sebastian Stan, Allison Janney, Julianne Nicholson, Paul Walter Hauser, Caitlin Carver, Mckenna Grace, Cara Mantella, Bobby Cannavale.
Presença constante em nossas vidas, a mídia volta e meia escolhe casos até exaurir o assunto e massacrar todos os envolvidos; aqui, aconteceu com o goleiro Bruno, Suzane Von Richthofen, casal Nardoni. Nos Estados Unidos não é diferente, antes do julgamento de O.J. Simpson, o país estava atônito com o caso de Tonya Harding, a patinadora que supostamente conspirou com um ataque a sua concorrente, Nancy Kerrigan.
Desde o início, a obra é bem sincera sobre que viés irá adotar. Na forma de mockumentary (falso documentário), o filme simula entrevistas com os envolvidos no caso. Em tom irônico, cenas das entrevistas são intercaladas com os fatos narrados. Assim, utilizando da ironia como novidade na narrativa, o trabalho se diferencia das demais biografias costumeiras. A bem da verdade, embora adote a versão de Tonya para os fatos, o roteiro tenta ao máximo ser empático com a vida da patinadora, mas nunca exculpante.
Graças a entoação escolhida, a obra consegue extrair o que há de melhor na performance de Margot Robbie. Na ironia a atriz cresce com todas suas viradas de olhos e acidez humorística. Interpretando Tonya desde os quinze anos da patinadora, até mesmo os bráquetes eram desnecessários, tamanha a eficiência de Robbie.
Tonya teve uma vida difícil. Moral, psicológica e fisicamente abusada por sua mãe e, mais tarde, por seu marido, a atleta constantemente tinha que viver com os hematomas e as humilhações provindas de ambos. Assim, desde a adolescência vê-se que, embora extremamente talentosa, Tonya não se identificava com as demais colegas – e nesse ponto o contraste é muito evidente, considerando a imagem angelical que o espectador tem de patinadoras. Nesse ponto, LaVona (interpretada por Janney) é o maior destaque do filme, já que, vinda da comédia, a atriz traz à tona o humor negro e, até mesmo, certa maldade como mãe da patinadora.
Curiosamente, Janney, considerada uma das favoritas ao prêmio de melhor atriz coadjuvante, divide o posto com Laurie Metcalf (Lady Bird), esta com mais destaque dramático que irônico. Ambas conhecidas pela veia humorística, mas que se transformaram em seus papeis paralelos de mães imperfeitas.
A cenas de patinação, considerando sua dificuldade óbvia em utilizar o CGI, são feitas de forma pouco comprometida. Em todos as sequências, o espectador percebe que a face de Robbie foi inserida digitalmente no corpo de uma dublê, tirando muito de seu impacto.
Com uma trilha sonora bem escolhida, Eu, Tonya é pautada por autos e baixos. Muito mais que um filme sobre a patinadora, a obra mostra que o que há por dentro de cada um. No gelo, não era apenas Tonya que esquecia de seus milhares de problemas; o marido redescobria o amor e a mãe se humanizava. Contudo, no último acorde, todos precisavam retornar à realidade, assim como em um sonho. Quem dera pudéssemos todos deslizar para sempre e deixar os problemas para trás.
Dirigido e escrito por Dan Gilroy. Com Denzel Washington, Colin Farrel, Carmen Ejogo, Lynda Gravatt, Amanda Warren, Hugo Armstrong, Sam Gilroy, Tony Plana, DeRon Horton, Amari Cheatom.
Quando Friedrich Nietzche lançou, em 1883, seu livro Assim Falou Zaratustra, o filósofo definiu o que, para ele, seria um Super Homem (Übermensch). Simploriamente falando, o pensador define o homo superior como aquele modelo a ser seguido pela humanidade. Aquele que mira estritamente a grandeza humana e renuncia seu próprio lazer para alcançá-la, isto é, partindo de sua própria individualidade, o coletivo se contaminaria por seus atos. Volta e meia, descobrimos super homens que muitas vezes nem sabem que o são. Esse é o caso de Roman J. Israel.
A trama do filme mostra a história de Roman J. Israel, um advogado inadequado socialmente – quase um autismo – e que é um verdadeiro gênio em matérias jurídicas. Entretanto, vive em meio as sombras, apenas trabalhando em seu escritório, enquanto seu único amigo é o sócio que vai ao tribunal e conversa com os clientes. Após uma fatalidade com seu sócio, Roman se vê sozinho e precisa enfrentar o mundo que sempre preferiu ignorar.
Roman é um advogado idealista; anseia em reformar o processo penal e se indigna com a indiferença de promotores alienados e robotizados pelo sistema. Contudo, é uma ilha em meio ao oceano. E a metáfora é perfeita quando se pode definir Pierce (Farrel) como shark, expressão norte-americana para advogados impiedosos e com muitos recursos. Visto em meio à necessidade de precisar interagir com o mundo, Roman (nosso super homem) se reduz em ordinariedade, afinal o homo superior, de acordo com Nietzche, não deve se misturar com outro ser que não seja superior também. Assim, o advogado não só instrumento de elevação a todos em sua volta, mas também se diminui ao experimentar sentimentos como amor e ganância.
Estreando na cadeira de direção em 2014, com O Abutre (estrelado por Jake Gyllenhaal), Dan Gilroy chocou o espectador com um retrato frio do jornalismo sensacionalista, mas que na verdade se justifica agora com este filme. Com muita sutilidade, o diretor traça um paralelo com outra definição nietzchiana (e somente agora se percebe isso): o último homem, símbolo da mediocridade e do apequenamento humano em meio a sociedade. Portanto, em dois filmes, o diretor lança mão de uma narrativa extremista para mostrar seu raciocínio: enquanto o abutre é um sociopata (o último homem), Roman é um advogado idealista com autismo leve não diagnosticado.
Partindo para a análise técnica, Denzel Washington faz um trabalho de excelência. Da mesma forma que Tom Hanks fez em Forrest Gump, ou Dustin Hoffman em Rain Man, Denzel se destaca pelo carisma. Merecedor de todo seu reconhecimento, o ator se mostra um dos mais talentosos em sempre trazer diferentes facetas a seus personagens. Enquanto em outros momentos o vimos interpretar personagens autossuficientes, muitas vezes autoritários, aqui temos uma pessoa frágil, confusa e insegura, porém determinada. Colin Farrel e Carmen Ejogo são muito eficientes nas vezes que contracenam com o ator.
Muito embora o roteiro seja bom a partir da análise filosófica, o texto começa a se perder um pouco a partir da metade, visto que toma ares de suspense em um afã de encerrar a trama tornando o clímax repentino e inesperado.
A despeito da atuação primorosa de Denzel Washington e do poder de nos proporcionar um debate rico, Roman J. Israel, Esq. é um filme tecnicamente fraco em um roteiro pouco convicto. Nada mais que uma ilustração do que ele mesmo quis nos passar. A atuação majestosa está para o filme, tal qual Roman está para o mundo. Uma ilha.
Filme da Marvel mais importante em termos de representatividade impressiona por ser um eco das lutas do passado
Dirigido por Ryan Coogler. Roteiro por Ryan Coogler e Joe Robert Cole. Com Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong’o, Danai Gurira, Martin Freeman, Daniel Kaluuya, Letitia Wright, Winston Duke, Sterling K. Brown, Angela Basset, Forest Whitaker, Andy Serkis, John Kani.
Quando foi anunciado o filme do Pantera Negra, parte dos fãs ficou receosa de como seria tratada a representação da comunidade negra nos cinemas. Outros super-heróis negros já tinham existido, é verdade, Hancock, Spawn e Steel, para apenas mencionar esses três; entretanto, nenhum teve a ambição de abraçar sua importância e fazer uma obra com um elenco quase exclusivamente negro. Eis que surge T’Challa.
Em uma história de origem clássica, Ryan Coogler, o diretor, nos leva a conhecer Wakanda nas semanas que se sucederam ao término do filme Capitão América: Guerra Civil. Após a morte de seu pai (T’Chaka, com John Kani reprisando o papel), T’Challa passa pela cerimônia de ser coroado rei. É difícil falar mais sobre a trama sem entregar spoilers da história, de sorte que esse é apenas o pano de fundo.
De forma muito interessante, a produção de design surpreende na hora de mostrar Wakanda. Quando somos apresentados ao avançado país pela primeira vez, nos deparamos com uma mistura orgânica de alta tecnologia com elementos tribais. As construções com as pinturas coloridas e as estacas de equilíbrio salientes nas extremidades, bem como as vestimentas dos personagens e a vegetação de savana nos arredores da cidade servem para criar a identidade do país fictício que funciona quase como um personagem do filme, tamanha sua riqueza em detalhes. Além disso, o belo jogo de cores – fazendo um contraste contínuo entre o púrpura, azul e o dourado – dá à obra um tom próprio e caracteriza o embate entre o herói e o vilão.
O roteiro do filme, também assinado por Coogler, se diferencia dos demais filmes da Marvel ao estabelecer um tom mais sério e discussões mais densas. Com isso, a importância de Erik Killmonger (Jordan) se acentua como um dos vilões mais profundos da franquia inteira. Amparado na premissa de que os fins justificam os meios, Killmonger é verossímil e resgata um debate muito vivo na década de sessenta: enquanto T’Challa é uma mistura de ideais de Martin Luther King Jr. e Malcolm X, Killmonger é o grito dos próprio Panteras Negras – quase uma provocação do diretor com o nome histórico “Pantera Negra”.
Da mesma forma que se vê a importância da representatividade racial, ao mesmo tempo, vê-se uma valorização de gênero essencial nas telas. As Dora Milaje (lideradas por Danai Gurira) são guerreiras vigorosas e imbatíveis, fiéis à nação que pertencem, Shuri (Wright) é a líder de tecnologia de uma nação inteira, enquanto Nakia (Nyong’o) é uma lutadora hábil e a principal espiã de Wakanda que viaja o mundo.
Infelizmente, um dos pontos que ficou aquém do esperado são as poucas cenas de ação ao longo dos 134 minutos. Com exceção da luta dentro do cassino na Coreia do Sul, que é feita em um plano-sequência honesto, as outras coreografias são truncadas e cheias de cortes rápidos, que dificultam a própria localização do espectador. Aliado a isso, a obra parece sofrer para encontrar o caminho a ser percorrido, isto é, nos primeiros quarenta minutos o filme parece estar acontecendo sem trama alguma, apenas acompanhando a rotina do super-herói.
Estreando com toda imponência que esperada de um rei, Pantera Negra chega definitivamente ao MCU e trava suas garras (com o perdão do trocadilho) para ficar por um bom tempo. Da mesma forma que Doutor Estranho promete assumir a liderança de um futuro time, Pantera Negra pode tomar o manto da tecnologia do time. Aos poucos, os primeiros heróis vão ficando no passado, enquanto os novos mostram o potencial de seguir a estrada. Se eles serão igualmente capazes de fazer isso, apenas o futuro dirá.
Jojo Rabbit
4.2 1,6K Assista AgoraTaika Waititi conseguiu trazer uma leveza proporcional à sua genialidade a um filme extremamente denso, cheio de amadurecimento e reflexão.
com um pano de fundo extremamente pesado, através da acidez, marca sua que já pode ser registrada e patenteada, o diretor consegue fazer um filme sobre autoquestionamento e amadurecimento. Usando o nazismo de forma caricata, sem abandonar a crueldade da ideologia, Taika utiliza as premissas infundadas do partido para perpassar por diversas etapas na vida de uma pessoa: idolatria, amizade, amor, rancor, tristeza e superação.
Com o charme do rosto extremamente expressivo de Roman Griffin Davis e um roteiro muito bem aparado pelo também diretor, o filme alcança complexidade o suficiente para alcançar diversas camadas, de acordo com sua audiência.
O elenco extremamente alinhado com o pensamento "fazer o filme mais raso do que de fato é" deixam a obra orgânica e leve, como se fosse um filme infantil; afina, vemos tudo através do imaginário de Jojo, nosso herói autocrítico. Sam Rockwell e Rebel Wilson são alívios cômicos estrategicamente inseridos para dar um quê de humor negro (a cena em que Fraulein Rahm arranca o pino de uma granada, encaixa nas costas de uma criança, e manda ela abraçar um soldado americano é genial pelo fato de desenhar uma filosofia inteira dentro de uma piada).
eivado de alma e nos inundando de questionamento póstumos, jojo rabbit é uma das grandes obras que fecharam a década. as obras de taika waititi definitivamente devem ser apreciadas com zelo, com o olhar que vai muito além da piada, sob pena de se perder um material lindo e rico.
Judy: Muito Além do Arco-Íris
3.4 356é engraçado como diferentes olhares têm percepções tão diferentes.
vi esse filme ontem com minha mãe. enquanto ela fazia uma análise (que eu considero) simplista, argumentando coisas (que eu considero também) lineares como: "mas é só ir e cantar", "que mulher problemática", "merecia estar falida porque não dava o valor pro dom da voz que ela tinha" - entre outros comentários menos empáticos -, eu só via uma vítima.
quando via o filme, vi uma pessoa que, desde o início, fora tratada como produto: um produto de sua mãe, um produto de sua produtora e um produto de mercado. quando o público não via mais sua necessidade, foi descartada para, literalmente, ficar sem ter onde dormir.
enquanto muitos criticavam seus diversos casamentos, eu via na verdade um apelo por atenção ("se eu precisar ouvir 'eu te amo' dez vezes, fale, por favor") de alguém que nunca recebeu afeto ou um olhar mais empático.
para mim, a direção do filme peca no excesso de sugestividade, sempre deixando uma informação faltante, que poderia ter sido vista no filme. eu sei que o filme, muito mais do que aquilo que se vê, é o que não se vê, mas Rupert Goold levou essa máxima um pouco a sério demais.
os festivais deste ano estão extremamente bem servidos na disputa de oscar de melhor atriz. impossível não se comover com a atuação da renée zellweger, especialmente nos minutos finais, quando a voz falha, mas fica cheia de poesia com seu olhar emocionado.
Judy é um filme regular com uma atuação deslumbrante. ao fim, meu único desejo é que mais pessoas compartilhei a minha visão ao invés de minha mãe, e vejam, como o próprio título diz, muito além do arco-íris.
Dois Papas
4.1 962 Assista AgoraFilme bacana. Sempre gostei das obras do Fernando Meirelles, mas aqui acho que ele pecou um pouco no excesso de didatismo na película e, algumas vezes, até certo desleixo.
Veja que a dublagem em espanhol do Pryce é evidente (o timbre da voz do dublador sequer encaixa na do ator); da mesma forma, nos primeiros flashbacks, o filme fica em preto e branco, contudo, inexplicavelmente nos demais, a paleta de cores apenas fica desbotada levemente. Tentei inclusive achar um significado para isso, mas é justamente na memória mais dolorosa do Papa Francisco, quando o filme poderia perder a cor, é quando o flashback fica colorido.
Anthony Hopkins, embora seja um grande ator, fez um trabalho em nível ordinário; com um andar lento e aquela mistura de olhar sagaz com surtos episódicos em sua voz já é uma assinatura batida em muitos de seus trabalhos.
Em uma análise mais abrangente, acho um bom filme para se ver e quebrar o paradigma de antagonismo que se criou entre os dois papas. O filme mostra para desmistificar e humanizar o representante de Deus na Terra. No mesmo momento em que faz isso, automaticamente, nos faz desenvolver empatia por ambos, principalmente nos instantes finais, quando mostra que ambos fica evidente a amizade e a humanidade de ambos.
O Irlandês
4.0 1,5K Assista Agorafilme muito interessante. scorsese conseguiu aplicar em uma película toda a descritibilidade que encontramos nas páginas dos livros. o resultado por vezes é controverso: o que para muitos transforma o filme em uma experiência audiovisual rica, para outros pode deixar a obra maçante e tediosa.
varia de acordo com o gosto. discordo que seja a masterpiece do diretor, que é um dos que eu mais admiro, diga-se de passagem, mas sem dúvida é um grande trabalho, com grandes atores e um roteiro espetacular.
dou 3,5 estrelas porque, comparando com outras produções do scorsese, acho que peca um pouco na edição e no polimento do trabalho como um todo. além disso, queria que fosse mais aprofundado o conflito entre o de niro e a anna paquin.
Adoráveis Mulheres
4.0 975 Assista Agorafilme muito singelo. a gente ri e chora, mas sai do cinema se sentindo leve. elenco maravilhoso. só não dou cinco estrelas porque achei a trama da emma watson subaproveitada. se tivesse explorado as dificuldades dela também, teria sido um filme completo.
História de um Casamento
4.0 1,9K Assista AgoraQuando ainda estava cursando Direito, uma das perguntas mais recorrentes que me faziam sempre era "em que área tu pretende atuar?". Com apenas dezessete anos, ficava meio difícil saber o que responder, de modo que sempre respondi da mesma forma: qualquer uma que não seja Direito de Família.
Esses rompimentos de núcleo familiar sempre me foram doídos. Não por experiência própria, ainda bem. Mas, de alguma forma, sempre me atingiam de forma lacerante.
Com História de um Casamento não foi diferente; o roteiro sofisticado e as atuações impecáveis do casal protagonista me proporcionaram uma das mais doloridas e profundas viagens à ruptura de uma família.
É com muita dor que se vê um casal, que ainda se ama (e isso fica muito claro), mas não enxerga futuro por uma incompatibilidade de projetos. Ambos falhos, mas ao mesmo tempo, ambos perfeitos em tentar buscar a harmonia da vida em meio ao caos.
O filme é uma poesia chorada em meio ao mundo contemporâneo. Dói de saber que é a realidade de muitos. Dói ainda mais saber que pode ser a realidade de outros tantos.
No fim dessa obra eu pude apenas, em meio a soluços e voz embargada, ligar para minha namorada e dizer de peito cheio: eu te amo. Mesmo longe, eu te amo muito.
O Farol
3.8 1,6K Assista AgoraQuando Lynch encontra Lovecraft
Esquadrão 6
3.0 431 Assista Agorafraco. cenas de ação confusas, roteiro confuso, cronologia confusa. michael bay cada vez pior.
duas estrelas: uma pelo carisma do ryan reynolds e outra pela beleza inigualável da adria arjona.
Contato Visceral
1.6 450 Assista Agoraas definições de bosta foram atualizadas
Medo Profundo: O Segundo Ataque
2.6 336Não consegui parar de rir da sequência final
Midsommar: O Mal Não Espera a Noite
3.6 2,8K Assista AgoraAri Aster acha que só mantendo uma nota constante vai deixar a trilha sonora perturbadora. Hans Zimmer deu aula disso em The Dark Knight, mas acho que ele não prestou muito atenção.
Dor e Glória
4.2 619 Assista AgoraO jogo de cores é lindíssimo. Não achei dos melhores filmes do Almodóvar, embora tenha ficado muito claro pra mim que ele não fez esse filme para ninguém senão ele mesmo. É um diálogo com as próprias memórias e aprendizados dele. Usa e abusa da metalinguagem.
(o filme faz referência à biografia dele, e o filme dentro do filme faz referência também)
É um típico filme de alguém orgulhoso - e com razão - da jornada traçada até agora. Tão orgulhoso que não precisa esconder sua intimidade de ninguém. Cria um alter-ego quase perfeito vivido pelo Antonio Banderas.
Certo momento, em um de seus ensaios, Salvador escreve que "o amor pode mover montanhas, mas não salvar quem você ama"; é talvez não salve naquele momento, mas a única certeza que eu tive ao terminar o filme foi que todos ali, sem exceção, encontraram no amor (seja próprio, seja alheio) paz e redenção.
A Maldição da Chorona
2.3 525 Assista Agoragostei bastante do lance em que o fantasma apareceu no momento da menina abrir o guarda-chuva transparente. são essas pequenas sacadinhas que salvam o filme de terror contemporâneo.
a invocação do mal teve as palmas.
anabelle teve o monstro subindo as escadas.
quando as luzes se apagam tem o lance dos tiros da arma fazerem o monstro sumir.
por ser um gênero desgastado, a gente precisa se apegar nessas pequenas ideias pra sair do lugar comum e dizer que o filme vale alguma coisa na fila do pão.
Capitã Marvel
3.7 1,9K Assista Agoraas primeiras reações que estão saindo na internet estão dando a entender que o filme está surpreendente! e falam, principalmente, que o ben mendelsohn está roubando a cena! acho que vai ser mais um sucesso da marvel!
A Favorita
3.9 1,2K Assista Agoranunca vi um chiaroscuro usado de forma tão provocativa.
a cena que a sarah vai com a vela e acha a abigal dormindo com a rainha: chiaroscuro + trilha sonora é de arrepiar
emma stone cada vez mais magnífica
O Predador
2.5 649finalmente conseguiram faze rum filme trash do predador. humor previsível e risível. enredo deplorável. me impressionei de ver sterling k brown e olivia munn em um filme como esse
Vingadores: Guerra Infinita
4.3 2,6K Assista AgoraConfira a crítica COM SPOILERS do Catacrese:
"Vingadores: Guerra Infinita | Crítica
O Império Contra-Ataca do século 21
Dirigido por Anthony Russo e Joe Russo. Escrito por Christopher Markus e Stephen McFeely. Com Josh Brolin, Robert Downey Jr., Chris Hemsworth, Mark Ruffalo, Chris Evans, Scarlett Johansson, Don Cheadle, Benedict Cumberbatch, Tom Holland, Chadwick Boseman, Zoe Saldana, Karen Gillan, Tom Hiddleston, Paul Bettany, Elizabeth Olsen, Anthony Mackie, Sebastian Stan, Peter Dinklage, Idris Elba, Danai Gurira, Benedict Wong, Pom Klementieff, Dave Bautista, Vin Diesel, Bradley Cooper, Chris Pratt.
Em 1980, com o lançamento da sequência de Star Wars: Uma Nova Esperança (que ainda não tinha esse título), as pessoas foram pegas de surpresa saindo do cinema após um filme em que, por incrível que pareça, os mocinhos não venciam. Como pode, no fim do filme, um dos mocinhos ter o braço amputado, o outro ser congelado e a outra sequestrada? Esse sentimento de derrotismo foi essencial para que em O Retorno de Jedi o espírito de superação pudesse compensar a perda de anos atrás.
Agora, em 2018, a história se repete em Vingadores: Guerra Infinita. O filme, prometido há mais de seis anos, é a culminação de um universo construído com zelo e planejamento desde o Homem de Ferro. Inclusive, não é exagero algum suspeitar que o filme estreou em 26 de abril, enquanto o primeiro filme de Tony Stark chegou às telonas no dia 30, há mais de dez anos.
A trama, facilitada ao longo das dezoito películas, é muito linear: Thanos, último sobrevivente de sua raça, anseia por encontrar o equilíbrio do universo. Para isso, ele vai em busca das Joias do Infinito, não poupando esforços para encontrá-la. Para quem acompanha o universo cinematográfico da Marvel, o enredo não tem novidade alguma. Partindo do ponto em que Thor: Ragnarok terminou, o filme consegue unir os super-heróis todos de forma muito fluida e natural.
De maneira muito inteligente, para não estragar o clímax que virá no próximo Vingadores (ainda sem título definido), os irmãos Russo optaram por dividi-los em duas equipes, com características semelhantes, a fim de deixar mais orgânico esse encontro dos Guardiões da Galáxia com os Vingadores, facilitando a troca de diálogos entre Homem de Ferro e o Senhor das Estrelas, por exemplo.
Além disso, agora fica mais evidente ainda a importância que Taika Watiti tem para Thor. Após usar de um humor ácido e autodepreciativo em Ragnarok, a jornada do Deus do Trovão com o Rocket e o Groot é um dos pontos mais altos do filme. É muito clara a crescente que o asgardiano vem tendo desde A Era de Ultron, onde é o primeiro a mensurar o impacto das Joias do Infinito na vida de todos. Não seria de se espantar que ele fosse um dos remanescentes da equipe antiga na fatídica transição para a nova geração.
Em termos de atuação, o blockbuster não fica com menos destaque. Em um filme em que o vilão é o protagonista, Brolin entrega uma atuação memorável no mesmo nível que Heath Ledger fez com o Coringa anos atrás. Parece que a Marvel repete o que fez com Killmonger (Pantera Negra) e constrói um vilão não-linear. Assim, ao mesmo tempo que abominamos as ações de Thanos, compreendemos seus ideais e por que ele faz o que faz.
A superpopulação, trabalhada por Thomas Maltus (progressão aritmética dos alimentos x progressão geométrica da população) até os pensadores contemporâneos, é um dos problemas mais iminentes que estamos por enfrentar. No caso do filme, essa questão se projeta da Terra ao universo, de sorte que o vilão acha que precisa eliminar metade de suas pessoas para atingir o equilíbrio perfeito. Sem teorias de higienização ou supremacia de alguma raça, o vilão deixa muito claro que não visa eliminar ricos ou pobres, deixando eles à própria sorte. Assim, fortalecendo a máxima de que “cada vilão é o herói dentro de sua própria história” o Titã acredita ser um messias e, para isso, não poupa esforços, inclusive assumindo certos sacrifícios e se ressentindo por eles.
Da mesma forma que o vilão, Downey Jr., o Homem de Ferro, entrega sua melhor atuação no manto do gênio, bilionário, playboy e filantropo. Sendo muito claro de que a invasão o assombra desde os eventos em Nova York, o ator é muito eficiente em tomar para si a responsabilidade de salvar o planeta.
Com menos destaque que a equipe que luta em Titan, a equipe da Terra também tem seus bons momentos. Por mais blazé que seja o relacionamento de Wanda com Visão, isso acaba sendo uma importante engrenagem na obra, até mesmo porque o andróide é um MacGuffin* ambulante. Com menos destaque, Capitão América, Pantera Negra, Viúva Negra e outros têm muitas cenas de ação e poucos diálogos, algo que os diretores já mencionaram que não se repetirá na sequência.
Claro, nem todas as escolhas do texto foram acertadas. Se por um lado a união dos heróis é muito natural, por outro, a Ordem Negra de Thanos (com exceção do Fauce de Ébano) é apresentada de forma displicente e descartados negligentemente. Sem impacto ou urgência, os generais de Thanos vão sendo eliminados de modo que Corvus Glaive e Estrela Negra mal falam.
Da mesma forma, a escolha do cliffhanger nos últimos dez minutos, da forma que foi tomada, tira o impacto almejado. É admirável a coragem do roteiro em matar Loki, Heimdall, Gamora e Visão. Contudo, a força do estalar dos dedos do Thanos é subtraída quando vemos que personagens como Homem-Aranha, Dr. Estranho e Pantera Negra estão entre as baixas, por exemplo;, pois são personagens que possuem seus contratos renovados para mais um filme. Portanto, da mesma forma que toma-se um salto de coragem ao eliminar alguns heróis, usa-se de outros para que o espectador se console ao começarem os créditos.
Vingadores: Guerra Infinita é um dos filmes mais emblemáticos do nicho que representa. Como muitos definem, trata-se de um filme-evento. Uma homenagem a todos aqueles que acompanham a saga desde sua fase embrionária, mas sem esquecer do espectador médio. Uma obra comprometida que tem o grande atributo de renovar uma categoria que estava começando a dar os primeiros traços de cansaço. E o melhor de tudo é a incerteza do futuro, já que a última frase dos créditos garante apenas que um nome vai voltar.
Thanos.
Nota: 6/6 (Ótimo)
*Na ficção, MacGuffin (às vezes McGuffin ou Maguffin) é um dispositivo do enredo, na forma de algum objetivo, objeto desejado, ou outro motivador que o protagonista persegue, muitas vezes com pouca ou nenhuma explicação narrativa."
Projeto Flórida
4.1 1,0KConfira a crítica do Catacrese!
"Projeto Florida | Crítica
Banho. Perfume. Traquinice. Repetição.
Dirigido por Sean Baker. Escrito por Sean Baker e Chris Bergoch. Com Brooklyn Prince, Christopher Rivera, Aiden Malik, Valeria Cotto, Bria Vinaite, Willem Dafoe, Mela Murder.
Existem certas personalidades que caem nos mimos dos públicos que, por mais que se tente ver algum diferencial, não se vê nada além de uma personalidade pretensiosa. Esse é o caso de Sean Baker. Apaixonado por retratar o lado que a sociedade prefere não ver, o diretor – aclamado após Tangerina, que todos repetem incansavelmente que foi filmado integralmente em iPhones, um marketing proposital, desconfio –, volta a ser reverenciado em Projeto Florida, que mostra a periferia dos parques de Walt Disney World.
Seria muito legal falar sobre a trama do filme, isto é, se ele tivesse alguma. Na verdade, o filme se arrasta ao longo de sua duração sem nenhum enredo aparente. Apenas o dia após dia de crianças arteiras, mães negligentes e funcionários entediados. É frustrante ver a rotina sofrível dos personagens, sem objetivos, apenas vivendo um dia após o outro.
Assim, somos expostos a uma série de situações em que crianças, com atuações bem medíocres, ficam saçaricando de um lado para o outro, sem saber que o nome daquilo é tédio. Nos poucos momentos de lucidez, vemos uma parte da vida de Halley (Vinaite), mãe de Moonee (Prince), que precisa matar um leão por dia para poder garantir um teto para si e sua filha. Aliás, o diretor e roteirista tenta trazer de forma desastrosa certa humanidade aos personagens, o que acaba ficando forçado e desonesto. Com isso, vemos os diabretes rebolando, fazendo sinais obscenos, falando palavrões, na falha tentativa de mostrar que isso é natural a eles, mas apenas vira um fiasco.
Com atuações ruins e regulares, não era de se espantar que Willem Dafoe fosse indicado a melhor ator coadjuvante. Com o filme nivelado por baixo, quase no chão, o experiente ator surge como um farol em meio às sombras.
O roteiro, absolutamente vazio de engrenagens motoras, é maçante e moroso. Eivado de repetições, somos massacrados com as mesmas cenas dia após dia: é banho de banheira aqui, a mãe vendendo perfume ali, um sorvetinho lambido a mil línguas, e mais arte.
Se por um lado grande parte do filme não funciona de forma alguma, o mesmo não pode se dizer da fotografia. Abusando de cores vibrantes e muitos contrastes, conseguimos perceber o mundo através do olhar dos diabinhos, onde qualquer banalidade pode se transformar em algo fantástico.
Mostrando mais uma vez toda sua pretensão, Sean Baker tenta impressionar o público com a ordinariedade. Mais uma vez, não convence. Na verdade, a melhor notícia, após os longos 111 minutos de película é apenas uma: não teremos mais aquele maldito aposto “todo filmado em câmeras de iPhone”.
Nota: 2/6 (Ruim)"
Aladdin
4.0 725 Assista Agoraas noites da aráááááábiaaaaaaaaaaaaa e os dias tambééééééémmmmm...
The Post: A Guerra Secreta
3.5 607 Assista AgoraConfira a crítica do Catacrese com alguns pequenos spoilers!
"The Post – A Guerra Secreta | Crítica
Traçando um paralelo com a atual política norte-americana, Spielberg é claro: a imprensa serve aos governados, não aos governantes
Dirigido por Steven Spielberg. Roteiro por Liz Hannah e Josh Singer. Com Meryl Streep, Tom Hanks, Sarah Paulson, Bob Odenkirk, Tracy Letts, Bradley Whitford, Bruce Greenwood, Matthew Rhys, Alison Brie, Carrie Coon.
Não é novidade a ninguém que Steven Spielberg é abertamente contra Donald Trump. Na verdade, seu ímpeto para criticá-lo é teu forte que, há apenas onze meses, o diretor lia o roteiro pela primeira vez. Assim, em toque de caixa, nasce The Post – A Guerra Secreta.
A trama do filme, baseada em fatos, narra a ascensão do jornal The Washington Post ao posto de um dos veículos midiáticos mais importantes do mundo. Nesse caso, trata-se de uma divulgação de documentos sigilosos do Pentágono que asseveravam que o governo sabia que a Guerra do Vietnã era uma batalha perdida. Com isso, precisaram lidar com a censura e a pressão do governo, inclusive através de ameaças de fechar o jornal e serem presos por traição.
O roteiro, por conta da iniciante Liz Hannah e de Josh Singer (Spotlight: Segredos Revelados, quando percebemos muita afinidade do roteirista com o mundo jornalístico), é muito coerente quando exibe elementos muitos distintos que caracterizam cada um dos personagens. Bradlee (Hanks), Graham (Streep) e McNamara (Greenwood) são representantes claros das forças que representam, quais sejam, a imprensa, a família e o Estado, respectivamente. Assim, Graham vê-se em um jogo constante em meio à queda de braço das instituições, de modo que precisa de coragem escolher lados e ignorar laços de amizade.
Com atuações excelentes, o filme não só se destaca por conteúdo, como também se firma pelos destaques individuais. Contudo, os verdadeiros destaques ficam por conta de Streep e Odenkirk, ambos perfeitamente transparentes apenas com o olhar – a cena de Graham ao telefone, quando decide publicar o material, é emblemática, pois vemos claramente suas preocupações e seus pensamentos.
A direção de Steven Spielberg, um dos maiores e mais versáteis diretores vivos, é excelente no momento em que consegue aliar à trama política, a importância social do empoderamento feminino. No início, Graham era apenas a herdeira de um jornal de bairro – basta ver nas primeiras cenas que Bradlee mal a olha nos olhos –, todavia, na medida em que os fatos vão ocorrendo, a personagem não só ganha seu respeito, mas também da bancada executiva do jornal (o momento em que Graham desse as escadas do Tribunal apenas sob os olhares admirados de mulheres é o firmamento do ideal feminista).
Claro, a obra não escapa dos clichês que Spielberg muitas vezes cai propositalmente para criar o laço com o espectador. As cenas da impressão do jornal com a música de triunfo de fundo, por mais belas que sejam, são o ápice do didatismo do diretor, quase uma autorização no sentido de “pronto, agora podemos comemorar”.
Em uma entrevista ao Express, Spielberg relata que “o filme foi feito com urgência por causa da atual administração do governo, atacando a imprensa e rotulando a verdade a seu bel-prazer”. Após encerrar a película, fica muito claro que sua intenção, de fato, não é ganhar o prêmio de melhor filme da Academia. Ele apenas quer deixar o protesto reverberar nas paredes do Teatro Dolby; e ninguém vai calar ele.
Nota: 5/6 (Muito Bom)"
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista AgoraConfira a crítica do Catacrese!
"Me Chame pelo Seu Nome | Crítica
- Elio, Elio, Elio, Elio, Elio, Elio, Elio, Elio, Elio.
- Oliver. Eu lembro de tudo.
Dirigido por Luca Guadagnino. Roteiro por James Ivory. Com Armie Hammer, Timothée Chalamet, Michael Stuhlbarg, Amira Casar, Esther Garrel, Victoire Du Bois, Vanda Capriolo, Antonio Rimoldi, André Aciman, Peter Spears.
O primeiro amor é sempre algo de difícil absorção. A vontade de estar junto, o nervosismo ao ver a pessoa, a insegurança de falar algo que não devia. Cada uma dessas etapas podemos ver em Eliot (Chalamet), seja em seus olhos trêmulos, nas suas costas curvadas, ou até mesmo em seus atos involuntários, como colocar um óculos para impressionar seu novo amor, Oliver (Hammer).
Com a trama lenta, feita para ser apreciada de forma contemplativa, o filme narra a história vista na perspectiva de Eliot, um adolescente de dezessete anos, que descobre o amor com Oliver, um aluno de seu pai (Stuhlbarg, parecidíssimo com o Robin Williams de Gênio Indomável) que vai passar um tempo em sua casa, no interior da Itália. Já nos primeiros minutos, podemos perceber que, por vermos o amor da perspectiva do jovem, a obra abunda de fotografias ensolaradas e bucólicas (por conta de Sayombhu Mukdeeprom) e figurino leve (de Giulia Piersanti), expondo muito a pele, deixando a atmosfera muito sensual. Por fim, a aura romântica se completa com a trilha sonora clássica e com a sutilidade com que os fatos vão se sucedendo.
Na verdade o erotismo é algo muito presente a todo momento. Sem nudez apelativa ou imagens explícitas, o trabalho faz questão de manter a pureza do primeiro amor. O início vagaroso (uma das maiores críticas da obra é o enredo arrastado nos primeiros dois atos) traça um paralelo perfeito com seu próprio argumento, como se fossem as preliminares do próprio ato sexual. A atração intelectual inicial, a confusão e a tensão física sedimentam um clímax de autoconhecimento que somente aflora no terceiro ato, que vai, sim, desmontar o mais duro dos corações.
Com um roteiro muito inteligente, a obra consegue escapar das armadilhas tradicionais que textos similares acabam cedendo. Ao retratar o filme por um coming of age, deixa-se de lado a questão da homofobia (uma vez que a família de Oliver é quase que integralmente ignorada). Não há preocupação com a sexualidade de ambos senão a entrega de um para o outro.
A atuação de Chalamet, como Eliot, é feita de forma muito sincera. O espectador realmente acredita nos sentimentos experimentados. Na verdade, sua forma de encarar suas experiências de peito aberto – Eliot em nenhum momento sente vergonha de se apaixonar por alguém do mesmo sexo – faz um contraste perfeito com a postura de Oliver, que claramente mostra-se afetado pelos pudores injustamente impostos por sua família.
O início paulatino talvez incomode a plateia mais imediatista, que pode considerar o filme um drama enfadonho. Entretanto, muito mais do que isso, Me Chame pelo Seu Nome é um filme sobre o amor. Como o próprio título faz questão de evidenciar, mais do que encontrarem um ao outro, eles encontraram a si mesmos. Ao chamarem ao outro pelo seu próprio nome, é evidente que não se trata de um simples casal, mas sim de reconhecer sua parte que falta.
Nota: 4/6 (Bom)"
Eu, Tonya
4.1 1,4K Assista AgoraConfira a crítica do Catacrese SEM SPOILERS!
"Eu, Tonya | Crítica
Um mockumentary irônico sobre a verdade subjetiva
Dirigido por Craig Gillespie. Escrito por Steven Rogers. Com Margot Robbie, Sebastian Stan, Allison Janney, Julianne Nicholson, Paul Walter Hauser, Caitlin Carver, Mckenna Grace, Cara Mantella, Bobby Cannavale.
Presença constante em nossas vidas, a mídia volta e meia escolhe casos até exaurir o assunto e massacrar todos os envolvidos; aqui, aconteceu com o goleiro Bruno, Suzane Von Richthofen, casal Nardoni. Nos Estados Unidos não é diferente, antes do julgamento de O.J. Simpson, o país estava atônito com o caso de Tonya Harding, a patinadora que supostamente conspirou com um ataque a sua concorrente, Nancy Kerrigan.
Desde o início, a obra é bem sincera sobre que viés irá adotar. Na forma de mockumentary (falso documentário), o filme simula entrevistas com os envolvidos no caso. Em tom irônico, cenas das entrevistas são intercaladas com os fatos narrados. Assim, utilizando da ironia como novidade na narrativa, o trabalho se diferencia das demais biografias costumeiras. A bem da verdade, embora adote a versão de Tonya para os fatos, o roteiro tenta ao máximo ser empático com a vida da patinadora, mas nunca exculpante.
Graças a entoação escolhida, a obra consegue extrair o que há de melhor na performance de Margot Robbie. Na ironia a atriz cresce com todas suas viradas de olhos e acidez humorística. Interpretando Tonya desde os quinze anos da patinadora, até mesmo os bráquetes eram desnecessários, tamanha a eficiência de Robbie.
Tonya teve uma vida difícil. Moral, psicológica e fisicamente abusada por sua mãe e, mais tarde, por seu marido, a atleta constantemente tinha que viver com os hematomas e as humilhações provindas de ambos. Assim, desde a adolescência vê-se que, embora extremamente talentosa, Tonya não se identificava com as demais colegas – e nesse ponto o contraste é muito evidente, considerando a imagem angelical que o espectador tem de patinadoras. Nesse ponto, LaVona (interpretada por Janney) é o maior destaque do filme, já que, vinda da comédia, a atriz traz à tona o humor negro e, até mesmo, certa maldade como mãe da patinadora.
Curiosamente, Janney, considerada uma das favoritas ao prêmio de melhor atriz coadjuvante, divide o posto com Laurie Metcalf (Lady Bird), esta com mais destaque dramático que irônico. Ambas conhecidas pela veia humorística, mas que se transformaram em seus papeis paralelos de mães imperfeitas.
A cenas de patinação, considerando sua dificuldade óbvia em utilizar o CGI, são feitas de forma pouco comprometida. Em todos as sequências, o espectador percebe que a face de Robbie foi inserida digitalmente no corpo de uma dublê, tirando muito de seu impacto.
Com uma trilha sonora bem escolhida, Eu, Tonya é pautada por autos e baixos. Muito mais que um filme sobre a patinadora, a obra mostra que o que há por dentro de cada um. No gelo, não era apenas Tonya que esquecia de seus milhares de problemas; o marido redescobria o amor e a mãe se humanizava. Contudo, no último acorde, todos precisavam retornar à realidade, assim como em um sonho. Quem dera pudéssemos todos deslizar para sempre e deixar os problemas para trás.
Nota: 4/6 (Bom)"
Roman J. Israel
3.2 209 Assista AgoraConfira a crítica do Catacrese sobre o filme!
"Roman J. Israel, Esq. | Crítica
O verdadeiro super homem
Dirigido e escrito por Dan Gilroy. Com Denzel Washington, Colin Farrel, Carmen Ejogo, Lynda Gravatt, Amanda Warren, Hugo Armstrong, Sam Gilroy, Tony Plana, DeRon Horton, Amari Cheatom.
Quando Friedrich Nietzche lançou, em 1883, seu livro Assim Falou Zaratustra, o filósofo definiu o que, para ele, seria um Super Homem (Übermensch). Simploriamente falando, o pensador define o homo superior como aquele modelo a ser seguido pela humanidade. Aquele que mira estritamente a grandeza humana e renuncia seu próprio lazer para alcançá-la, isto é, partindo de sua própria individualidade, o coletivo se contaminaria por seus atos. Volta e meia, descobrimos super homens que muitas vezes nem sabem que o são. Esse é o caso de Roman J. Israel.
A trama do filme mostra a história de Roman J. Israel, um advogado inadequado socialmente – quase um autismo – e que é um verdadeiro gênio em matérias jurídicas. Entretanto, vive em meio as sombras, apenas trabalhando em seu escritório, enquanto seu único amigo é o sócio que vai ao tribunal e conversa com os clientes. Após uma fatalidade com seu sócio, Roman se vê sozinho e precisa enfrentar o mundo que sempre preferiu ignorar.
Roman é um advogado idealista; anseia em reformar o processo penal e se indigna com a indiferença de promotores alienados e robotizados pelo sistema. Contudo, é uma ilha em meio ao oceano. E a metáfora é perfeita quando se pode definir Pierce (Farrel) como shark, expressão norte-americana para advogados impiedosos e com muitos recursos. Visto em meio à necessidade de precisar interagir com o mundo, Roman (nosso super homem) se reduz em ordinariedade, afinal o homo superior, de acordo com Nietzche, não deve se misturar com outro ser que não seja superior também. Assim, o advogado não só instrumento de elevação a todos em sua volta, mas também se diminui ao experimentar sentimentos como amor e ganância.
Estreando na cadeira de direção em 2014, com O Abutre (estrelado por Jake Gyllenhaal), Dan Gilroy chocou o espectador com um retrato frio do jornalismo sensacionalista, mas que na verdade se justifica agora com este filme. Com muita sutilidade, o diretor traça um paralelo com outra definição nietzchiana (e somente agora se percebe isso): o último homem, símbolo da mediocridade e do apequenamento humano em meio a sociedade. Portanto, em dois filmes, o diretor lança mão de uma narrativa extremista para mostrar seu raciocínio: enquanto o abutre é um sociopata (o último homem), Roman é um advogado idealista com autismo leve não diagnosticado.
Partindo para a análise técnica, Denzel Washington faz um trabalho de excelência. Da mesma forma que Tom Hanks fez em Forrest Gump, ou Dustin Hoffman em Rain Man, Denzel se destaca pelo carisma. Merecedor de todo seu reconhecimento, o ator se mostra um dos mais talentosos em sempre trazer diferentes facetas a seus personagens. Enquanto em outros momentos o vimos interpretar personagens autossuficientes, muitas vezes autoritários, aqui temos uma pessoa frágil, confusa e insegura, porém determinada. Colin Farrel e Carmen Ejogo são muito eficientes nas vezes que contracenam com o ator.
Muito embora o roteiro seja bom a partir da análise filosófica, o texto começa a se perder um pouco a partir da metade, visto que toma ares de suspense em um afã de encerrar a trama tornando o clímax repentino e inesperado.
A despeito da atuação primorosa de Denzel Washington e do poder de nos proporcionar um debate rico, Roman J. Israel, Esq. é um filme tecnicamente fraco em um roteiro pouco convicto. Nada mais que uma ilustração do que ele mesmo quis nos passar. A atuação majestosa está para o filme, tal qual Roman está para o mundo. Uma ilha.
Nota: 3/6 (Regular)"
Pantera Negra
4.2 2,3K Assista AgoraConfira a crítica SEM SPOILERS do Catacrese:
"Pantera Negra | Crítica
Filme da Marvel mais importante em termos de representatividade impressiona por ser um eco das lutas do passado
Dirigido por Ryan Coogler. Roteiro por Ryan Coogler e Joe Robert Cole. Com Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong’o, Danai Gurira, Martin Freeman, Daniel Kaluuya, Letitia Wright, Winston Duke, Sterling K. Brown, Angela Basset, Forest Whitaker, Andy Serkis, John Kani.
Quando foi anunciado o filme do Pantera Negra, parte dos fãs ficou receosa de como seria tratada a representação da comunidade negra nos cinemas. Outros super-heróis negros já tinham existido, é verdade, Hancock, Spawn e Steel, para apenas mencionar esses três; entretanto, nenhum teve a ambição de abraçar sua importância e fazer uma obra com um elenco quase exclusivamente negro. Eis que surge T’Challa.
Em uma história de origem clássica, Ryan Coogler, o diretor, nos leva a conhecer Wakanda nas semanas que se sucederam ao término do filme Capitão América: Guerra Civil. Após a morte de seu pai (T’Chaka, com John Kani reprisando o papel), T’Challa passa pela cerimônia de ser coroado rei. É difícil falar mais sobre a trama sem entregar spoilers da história, de sorte que esse é apenas o pano de fundo.
De forma muito interessante, a produção de design surpreende na hora de mostrar Wakanda. Quando somos apresentados ao avançado país pela primeira vez, nos deparamos com uma mistura orgânica de alta tecnologia com elementos tribais. As construções com as pinturas coloridas e as estacas de equilíbrio salientes nas extremidades, bem como as vestimentas dos personagens e a vegetação de savana nos arredores da cidade servem para criar a identidade do país fictício que funciona quase como um personagem do filme, tamanha sua riqueza em detalhes. Além disso, o belo jogo de cores – fazendo um contraste contínuo entre o púrpura, azul e o dourado – dá à obra um tom próprio e caracteriza o embate entre o herói e o vilão.
O roteiro do filme, também assinado por Coogler, se diferencia dos demais filmes da Marvel ao estabelecer um tom mais sério e discussões mais densas. Com isso, a importância de Erik Killmonger (Jordan) se acentua como um dos vilões mais profundos da franquia inteira. Amparado na premissa de que os fins justificam os meios, Killmonger é verossímil e resgata um debate muito vivo na década de sessenta: enquanto T’Challa é uma mistura de ideais de Martin Luther King Jr. e Malcolm X, Killmonger é o grito dos próprio Panteras Negras – quase uma provocação do diretor com o nome histórico “Pantera Negra”.
Da mesma forma que se vê a importância da representatividade racial, ao mesmo tempo, vê-se uma valorização de gênero essencial nas telas. As Dora Milaje (lideradas por Danai Gurira) são guerreiras vigorosas e imbatíveis, fiéis à nação que pertencem, Shuri (Wright) é a líder de tecnologia de uma nação inteira, enquanto Nakia (Nyong’o) é uma lutadora hábil e a principal espiã de Wakanda que viaja o mundo.
Infelizmente, um dos pontos que ficou aquém do esperado são as poucas cenas de ação ao longo dos 134 minutos. Com exceção da luta dentro do cassino na Coreia do Sul, que é feita em um plano-sequência honesto, as outras coreografias são truncadas e cheias de cortes rápidos, que dificultam a própria localização do espectador. Aliado a isso, a obra parece sofrer para encontrar o caminho a ser percorrido, isto é, nos primeiros quarenta minutos o filme parece estar acontecendo sem trama alguma, apenas acompanhando a rotina do super-herói.
Estreando com toda imponência que esperada de um rei, Pantera Negra chega definitivamente ao MCU e trava suas garras (com o perdão do trocadilho) para ficar por um bom tempo. Da mesma forma que Doutor Estranho promete assumir a liderança de um futuro time, Pantera Negra pode tomar o manto da tecnologia do time. Aos poucos, os primeiros heróis vão ficando no passado, enquanto os novos mostram o potencial de seguir a estrada. Se eles serão igualmente capazes de fazer isso, apenas o futuro dirá.
Nota: 5/6 (Muito Bom)"
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