“Os oito odiados” se passa no velho oeste americano (mas mostrando uma região tomada por uma nevasca) e narra o casual encontro do caçador de recompensas Marquis Warren (Samuel L. Jackson) e do companheiro de profissão John Ruth (Kurt Russell), este último escoltando uma debochada prisioneira (Jennifer Jason Leigh). Além deles se junta na jornada o caricato Chris Mannix (Walton Goggins). Ao chegarem em uma cabana encontram mais algumas figuras com personalidades fortes, compondo o cenário para justificar parte do título. Basicamente 85% do filme (de 3 horas de duração) se passa neste local e tem como mote as motivações misteriosas dos envolvidos. A direção do Tarantino é muito peculiar e temos várias características dele aqui. Violência explícita (não à toa a censura é 18 anos), roteiro excelente (principalmente nos diálogos), elenco de peso (com alguns nomes que já trabalharam anteriormente com ele), aos western clássicos, entre outras. Contudo comparado às obras do diretor, perde-se um tanto de força e não será tão marcante quanto boa parte dos demais filmes. Recomendo ver outros dele antes de ver este aqui (especialmente Pulp Fiction - pela genialidade como um todo e Django – pela temática do racismo, também presente). Apesar de longo e de focar em um único local a obra não é cansativa, mesmo tendo uma certa barriga no meio (o filme é dividido em capítulos e o mais longo é longo demais). O tom é perceptível desde o começo: foco nos diálogos e nos personagens. Há mescla de vários gêneros e todos muito bem realizados. O humor do filme é qualquer coisa de sensacional. Quase toda passagem tem algo que te faz rir e até gargalhar. Muito mais que vários filmes que tem comédia como gênero principal (se “Perdido em Marte”, que também explora muito bem esse recurso, foi indicado ao Globo de Ouro em comédia, não veria nenhum absurdo de classificá-lo assim também). Pela duração do filme e pelo título achei que os 8 personagens principais poderiam ter uma maior desenvolvimento (imaginei que teríamos a perspectiva de todos eles sobre os acontecimentos). Os 4 que têm mais destaque coincidem com as melhores atuações. Há muita empatia aqui, acreditamos na verdade e na motivação daqueles personagens (mesmo eles tendo a dubiedade como marca). Já aproveito para falar de outro pequeno problema: achei algumas resoluções, desde o começo, óbvias demais. E tem algumas conveniências que podem incomodar. A trilha é algo digno de destaque: a obra toda é empurrada por momentos que despertam diversas sensações: empolga, reforça a tensão, diverte... Quanto à fotografia, temos uma boa composição visual aqui. As cenas fora da cabana trazem uma amplitude que confronta bem com o aperto do referido local. E a composição visual dos elementos em tela bem construída (contudo não acho que mereça premiação). “Os oito odiados” tem uma história muito boa, ficamos até o final querendo saber o que vai acontecer com os personagens. Belas atuações. Direção bem tarantinesca (apesar de não estar entre os top 3 dele, talvez nem top 5). Não sei se vale a comparação com “12 homens e uma sentença”, como tenho visto por aí. Não agradará a todos os públicos, mas é um filme com um bom nível de entretenimento. E uma ode ao bom roteiro. Tiro alguns pontos pelo mau desenvolvimento de alguns personagens, pelo desfecho ruim em alguns momentos e por ser mais fraco que outros filmes do diretor (temos que analisar cada obra separadamente, mas quando se trata de Tarantino, faço uma exceção). Tem que ser indicado ao Oscar pelo roteiro. Premiação de atriz coadjuvante para a Jennifer Jason Leigh é bem real também (até agora não vi melhor). Acho que corre por fora em ator coadjuvante, com o Walton Goggins, mas pode pintar, entre os top 10 na categoria eu cravaria – top 5 é um pouco demais. Trilha também pode concorrer (como já o faz no Globo de Ouro, tal como as de ator e atriz coadjuvantes já citados). Nota 8
“Jogos Vorazes: a esperança - parte 2”: termina a saga da franquia. A sensação de que fica é que dava para ter feito um filme apenas na parte final. Mas como ainda dava para espremer mais alguns dólares a opção é comercialmente justificável, mas artisticamente ruim. A história do filme (dessa segunda parte) é previsível e com alguns diálogos horrendos, dignos de “Crepúsculo”. Tem um entre o Peeta e o Gale que dá náuseas. Um discurso da Katniss, no começo do filme é um dos poucos que salva. A resolução da trama é muito mal realizada. Alguns pontos poderiam ser cinematograficamente melhor trabalhados para ter um peso maior na tela. A crítica aqui neste ponto é um resumo do que representa Jogo Vorazes pra mim: uma ideia sensacional, mas que não foi bem explorada. Os ótimos personagens secundários são jogados de lado aqui, cito principalmente o Haymitch, o Presidente Snow, a Presidente Coin e a Effie. Enquanto o trio principal tem uma atuação muito sem sal, o ator que faz o Peeta tem um personagem um pouco melhor nas mãos e consegue em alguns raros momentos mostrar alguma complexidade. Uma das cenas mais dramáticas funciona como cópia do livro, representando fielmente o quê está lá, mas na telona poderia ser feito de outra maneira: privilegiando os aspectos visuais. Há um detalhe no final do livro, que ajuda a dar um novo significado para toda a obra que, com as devidas adaptações, poderia estar presente aqui e foi ignorado. É o filme da saga com maior variedade de cenários, tendo algumas tomadas interessantes. Há bons elementos misturando terror psicológico com uma ação desenfreada. Tendo bom nível de entretenimento em algumas partes. Agora algo que soa até amador são alguns erros de continuidade/edição, em especial em dois momentos: uma passagem de tempo e na entrada da Katniss em uma casa, isso nos tira bastante da imersão. Jogos Vorazes: a esperança – parte 2: está mais no tom do resto da franquia que o antecessor, mas está longe da qualidade do 2 filme, o “Em Chamas”. A saga será lembrada pelos fã e principalmente pela Jennifer, por ter ajudado um tanto na carreira dela, mas o ar para mim será de uma ideia que colocada em um outro prisma e dirigida de outra maneira poderia ter sido antológica. Aqui é apenas uma história teen sem profundidade e com alguns problemas bem incômodos. Filme engolido nos cinemas por Star Wars (chegaram a cogitar que poderia rivalizar....) e será solenemente ignorado nas premiações mais importantes. Nota: 4,5 de 10
“Mad Max: estrada da fúria” é o 4º filme da franquia. Temos aqui um reboot, uma ruptura, da saga original. Não sendo necessário ver os anteriores (o primeiro é sofrível diga-se de passagem), mas creio que vê-los ajuda a compor alguns elementos. Temos aqui uma distopia pós-apocalíptica, onde os recursos naturais estão escassos e a luta pela sobrevivência é constante. A obra é co-protagonizada por Max (Tom Hardy) e pela Imperatriz Furiosa (Charlize Theron). Ambos se unem para sobreviver à perseguição de Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne). Ela buscando um lugar mais acolhedor que as garras do vilão e ele, Max, meio que sem rumo, e em conflito com perturbações internas buscando o próprio caminho. O filme honra os dois primeiros da trilogia clássica (todos os 4 do mesmo Diretor) ao se passar basicamente o tempo todo na estrada (algo que se perde no terceiro filme da sequência) e com vilões insanos e cenas de ação bem intensas. Há muitos elementos a serem exaltados, vou começar pelo começo: a primeira meia hora é qualquer coisa de sensacional. O universo é ambientado rapidamente para o público. A ação inicial já te coloca no tom do filme. Os personagens são apresentados visualmente de forma que se compreende muito deles, com breve pinceladas sem a necessidade de grandes exposições. Aos poucos o ar de religião/ditadura vai sendo colocado em tela corroborando o viés de absurdo. Impressiona o império construído e o ar de veneração que recebe o Immortan Joe. O roteiro é um tanto óbvio e com poucos diálogos, o que faz perder pontos. Mas revela uma grande história nas entrelinhas, dizendo muito em cenas rápidas e sem tornar a coisa toda explícita e mastigada. Os personagens valem o destaque. O meu favorito é o Nux, o mais complexo do filme: personagem e ator transparecem viver cada emoção proposta. A Furiosa tem bastante presença e se mostra forte como figura feminina, conduzindo o filme – não sendo exagero colocá-la como protagonista única. O Max está condizente com o personagem dos outros filmes, sendo um cara marcado por problemas que antecedem a história. Fazendo lembrar quase o Wolverine: se faz de durão (e é), mas no fundo tem um bom coração e se preocupa com os outros. O vilão tem uma das melhores composições físicas que eu já vi. Esse fator aliado a um terror psicológico o torna bastante ameaçador. E entendemos a motivação dele, algo imprescindível para tornar um antagonista mais crível. Basicamente a única fraqueza aqui é a supracitada (roteiro, mas com a ressalva feita). Já que os elementos técnicos são trabalhados de forma perfeita. A trilha ajuda a empurrar a história, os som está afinadíssimo com o resto da experiência, os efeitos práticos tornam verossímeis as ações, direção com tomadas que percorrem todo o circuito de batalha de forma macro e sabendo explorar o que é necessário nas cenas mais fechadas e uma edição (montagem) que torna o filme bastante ágil e sem pausas para respirar, recurso que, incrivelmente, funciona muito bem. Todavia, o quê mais me impressionou foi a fotografia. Difícil lembrar de filme recente melhor nesse quesito. Há uma cena de tempestade de areia que ao terminá-la deveria parar o filme e entregar o Oscar para o John Seale. Além desse cena, há uma em um pântano que a luz desce e temos um ar mais sombrio... e outras tantas dignas de aplausos. “Mad Max: estrada da fúria” não é um filme que agradará a todos - eu mesmo não curto tanto esse tipo de filme, pessoalmente prefiro obras mais intimistas – mas é inegável a preciosidade artística que temos aqui. Acho que é o melhor filme de ação que eu já vi. Realiza muito bem o quê se propõe. Virá muito forte no Oscar: deve ser indicado para melhor filme e diretor, além das categorias mais técnicas. Muitos estão colocando como melhor filme do ano. Não acho que seja pra tanto. Nota 9,5
(comentário sem spoiler) O filme é uma homenagem à trilogia clássica. Sendo, portanto, indispensável ver o IV, V e VI. O objetivo é mais agradar aos fãs antigos do que trazer novos. E se puder, caso alguém não tenha visto, não veja o trailer. Há cenas que deixam de causar um impacto no público devido a esse fator. J.J. Abrams, como fã da série, sabe o que faz e tem controle do que aparece em cena e da harmonia entre os atores. Tudo muito encaixadinho, poucas cenas desnecessárias. Há a predominância de muitas rimas visuais, ou seja, cenas análogas às que já vimos nos outros filmes da série (e até no Star Trek, dirigido pelo mesmo J.J.). Essas cenas, algumas menos óbvias que outras, servem não só como fator nostálgico, mas como elemento narrativo, e permeiam o filme inteiro: personagens, movimentação de câmera, cenários. Sem muito detalhes há coisas simples como a passagem de cenas à la Power Point, mas em menor intensidade que em filmes anteriores. E, claro, a frase: “tenho um mau pressentimento sobre isso” também é dita aqui (pra quem não sabe ela é dita nos 6 filmes, pelo menos uma vez em cada). Além de elementos mais complexos que não irei falar aqui para não estragar a experiência. Mas isso tudo sem acomodação. Há a inserção de elementos novos que não devem desagradar os fãs antigos e fazem a história ir para frente, mostrando a presença do diretor. A trilha faz menção ao que estamos acostumados, mas inserindo algo novo. As atuações estão fazendo jus a tudo que a gente cobraria de uma obra deste porte e dão um frescor peculiar. Alguns pontos do roteiro são clichês ou poderiam ser trabalhados de forma a causar um impacto maior e o filme como obra única perde um pouco de ponto. Falta a explicação de algumas coisas e essas lacunas, imagino, devem ser preenchidas apenas nos próximos filmes. Temos muito humor, emoção, aventura, ação, enfim Star Wars sendo Star Wars. Finalmente uma (ou duas) geração podendo ver um filme decente da franquia nos cinemas. Tecnologia usada como tem que ser, sem ser uma bengala e sem colocar os atores em uma posição desconfortável. Narrativa muito digna. Duvido que alguém deixe de ir ou decida ir pelo meu comentário aqui, mas digo que fui hoje, irei novamente e novamente e novamente....Espero que seja indicado à melhor efeitos visuais, direção de arte, trilha, direção e melhor filme... mas acho difícil ir pra isso. Acho que é o 2 melhor filme da saga, só perdendo para o episódio V. Nota 9,5 de 10
Temos aqui uma adaptação de um livro homônimo (que se inspirou no clássico: “Moby Dick”). O filme se passa em meados do século XIX e narra a história de um grupo marinheiros que tem a missão de caçar baleias para extrair o óleo delas, algo comum à época. Contudo, em um dado ponto da empreitada, uma baleia gigante ataca o navio tornando a vida daqueles homens bem dificultosa. O roteirista Charles Leavitt (filmes como “Diamante de sangue”, de 2006) e o diretor Ron Howard de filmes como: “O Grinch”, de 2000 e “uma mente brilhante” , de 2001) fazem um trabalho praticamente impecável aqui. Quase todos os aspectos cinematográficos são dignos de nota: o roteiro achou uma saída muito inteligente para contar a história e com diálogos muito firmes, além de um senso de humor bem encaixado. A montagem está no tom certo. O ritmo do filme é muito bom. Por exemplo, as passagens da história em si e a contada narrada é feita de forma bem pertinente ao longo de toda a obra. Nada fica gratuito. É um filme sem barrigas, só a da Moby Dick (eu precisava deste trocadilho). As mortes não são exploradas de forma sensacionalista. Elas ocorrem porque tem de ocorrer (recurso parecido com o que vimos em “Everest”). Até o romance está sem excessos. Alguns posicionamentos da câmera trazem ângulos poucos comuns e brincam também com a questão do foco vez ou outra. A trilha sonora, por vezes simulando sons de baleia – mesmo sem o mostro estar presente- e carregada com batidas forte de tambor dão um ar eletrizante nos momentos certos. O silêncio, nos trechos em que é necessário, também é perceptível aqui, o que corrobora a questão do ritmo que falei anteriormente. A fotografia merece um capítulo à parte. Desde a escolha dos tons, com filtros lindíssimos até a boa utilização da computação gráfica. Temos, portanto, uma composição visual estupenda. A uma cena que mistura fogo e água que é quase poética (apesar da CGI soar um pouco artificial nesta cena - mas nas outras ele está muito bem aplicado). Para quem viu “Thor” e “Os Vingadores”, não acredita no que o Chris Hemsworth fez aqui. Bela atuação dando vida a um personagem com uma baita presença. Os demais também não decepcionam e acompanham o ritmo do protagonista. As transformações físicas e mentais dos atores e personagens impressiona. Alguns secundários poderiam ser mais explorados. “No Coração do Mar” é um filme obrigatório para ver no cinema. A imagem na telona faz muita diferença na experiência. O 3D está bem utilizado (não chega no nível de “Avatar”, “Hugo” e “A travessia”, mas é muito bom). Primor técnico e com alto nível de entretenimento. Acho que vale indicação ao Oscar nas categorias mais técnicas. Superou, e muito, as minhas expectativas. Nota 9
O filme “Ponte dos Espiões” (finalmente uma tradução honesta no título – e um título que traduz bem a trama) conta a história, baseada em fatos reais, de como o advogado americano James B. Donovan (Tom Hanks) intermediou um impasse diplomático na época da Guerra Fria. Notadamente com o foco na relação com o espião russo Rudolf Abel (Mark Rylance), que foi capturado pelos americanos. Donovan acaba tendo que defender o Espião, de forma a mostrar que ele teve um julgamento “honesto”, mas acaba se envolvendo pra valer com o caso. Paralelamente há uma captura, pelos russos, de um soldado americano. Temos aqui a direção do Spielberg (dispensa apresentações) e parte do roteiro dos irmãos Coen (Bravura Indômita e Fargo, por exemplo). O resultado é uma história um pouco pesada contada com um certo tom de leveza e bem fluida. Aqui o grande mérito é o roteiro (como é bom ver um filme assim...): história envolvente, diálogos fortes e personagens apresentados no tempo certo e muito carismáticos (ok que, de certa forma, meio sem profundidade). O humor, às vezes um pouco absurdo, dos Coen é usado mais uma vez aqui com maestria. A direção também está muito boa: há cenas análogas (algumas bem explícitas, outras nem tanto) em diversos momentos e essa autorreferência é uma bela cereja no bolo. Fotografia simples, mas bem adequada também. As atuações são um caso à parte: o Mark Rylance dá um show, apesar de não ter tanto tempo em tela ele nos brinda com um personagem com uma personalidade marcante e rara. Tom Hanks sendo Tom Hanks, muito seguro e convincente nos muitos momentos em que assume o protagonismo e servindo de boa escada (sim, ele fica secundário) nas cenas com o Mark (mérito deste). Há uma leve queda no meio do filme, mas que não compromete no todo. A construção do personagem do Tom Hanks às vezes é pautada em elementos repetidos (aqui no mau sentido) para nos mostrar o quão íntegro ele é, isso é também um leve defeito. Ponte dos Espiões é um retrato pouco conhecido, para nós brasileiros, de um momento da Guerra Fria. Filmaço, vale muito ver no cinema. Um show de talentos. Mas, como eu já disse, é um filme muito focado no roteiro, então pode ser um pouco cansativo pra alguns. Há uma certa tendência para o lado americano, como não poderia deixar de ser, mas menos que em outros filmes. Forte candidato ao Oscar de ator coadjuvante e roteiro. Acho que pode pintar também indicação para ator, direção e montagem (edição). Nota 9.
O filme “os 33” mostra a história real dos 33 mineiros que ficaram soterrados em uma mina no Chile, em 2010. Apresenta aqui tanto a visão dos trabalhadores que ficaram presos, quanto às questões envolvendo o resgate, principalmente a relação do Ministro das Minas, personagem do Rodrigo Santoro, com as famílias, políticos e engenheiros. Achei o filme problemático em diversos aspectos: o acidente ocorre muito rápido. Poderia ter algum desenvolvimento anterior dos personagens. Até tem uma cena, mas é muito rápida. Além disso não vemos como é um dia de trabalho normal na mina. E durante o ocorrido em nenhum momento eu sinto uma sensação de sufocamento, ou seja, o filme não nos transporta para o drama vivido (as cenas deles racionando comida são uma rara exceção). Os momentos fora da mina, mostrando as famílias, tentam fazer com que a gente sinta empatia pelo personagens, mas quebra o clima da situação de dentro. Contudo, mais ou menos no meio do filme, há uma cena que mistura esses dois mundos e que quase faz valer o ingresso: ela possui humor, fantasia e se encerra de um jeito brilhante. As atuações são um pouco forçadas às vezes: o tom é de um certo sensacionalismo. Alguns diálogos ficaram meio tortos. E um dos principais problemas aqui: o idioma. Como a história se passa no Chile era de se esperar o idioma original e a maior parte do tempo os atores falam em inglês (ok, é uma produção americana para um público americano, mas Sicario não teve receio neste ponto, por exemplo). E o pior em alguns momentos há falas em espanhol sem motivo aparente para tal. A experiência no cinema não acrescenta em nada na obra. Não deve concorrer a nada no Oscar. Filme esquecível, de uma baita história recente, uma pena. Nota 4
Perdido em Marte (2015) conta a história do astronauta Mark Watney (Matt Damon, “Gênio Indomável”, “Interestrelar”, etc) que após uma tempestade de areia no Planeta Vermelho é dado como morto pelos colegas da tripulação. Mas ele sobrevive, óbvio – caso contrário não teríamos filme. A obra mostra, então, a saga de sobrevivência de Mark enquanto a NASA tenta mandar uma missão de resgate. Há uma celebração da ciência: diversos campos representados, mas eles não são colocados em cena de uma forma maçante ou professoral. É criado um recurso narrativo aqui que explica o que ocorre em tela de uma forma bem didática (no melhor sentido da coisa – o filme “Travessia” deveria aprender aqui). Além disso, a sacada, falar para uma câmera (em uma espécie de vlog), nos premia com um “Wilson” dos tempos modernos. Matt Damon está muito bem. Passa uma empatia muito forte. Tem um senso de humor muito peculiar (aliás, o filme inteiro tem isso), o texto ajuda muito o desempenho dele. Sobre as saídas encontradas pelo personagem, os mais antigos lembrarão do Macgyver... é muito aquilo: pegar um chiclete, um grampo e fezes e construir uma engenhoca que o vai tirar de uma enrascada. Em geral, compramos essa ideia, já em alguns momentos eles extrapolam um pouco. A trilha sonora está muito divertida (seguindo o tom do filme). Com brincadeiras usando bem a diegese. A fotografia está boa, mas sem aquela exaltação de outros filmes com essa temática. E a direção do Ridley Scott (que já fez filmes clássicos do gênero) está no tom certo. O mais forte aqui é o texto. Não li o livro que dá origem a este filme, mas penso que é uma boa adaptação. O fato de ter 25448 personagens é um problema. Temos aqui vários secundários sem desenvolvimento (o elenco em si é muito bom, volta e meia nos pegamos perguntando: “de onde conheço este ator?”). Basicamente o vilão era o tempo e as intempéries de Marte. Faltou um opositor humano na trama: estava todo mundo – literalmente, quase –torcendo pelo Mark. Algumas conveniências incomodam um pouco. Apesar de terem pegadas completamente diferentes é inevitável a comparação com os dois filmes de espaço dos anos anteriores: Gravidade e Interestrelar. Gravidade usa dos recursos técnicos de forma mais impactante e o subtexto é brilhante, porém o filme perde um pouco para o grande público, mas considero o melhor dentre os três. Interestrelar tem uma proposta grandiosa e em alguns pontos não dá conta de sintetizar tudo, o que torna a coisa toda meio maçante e excessivamente didática, mas ainda assim é um baita espetáculo e deve ser reverenciado pela ousadia (afinal é filme do Nolan). Perdido em marte fica entre os dois anteriores. Perdido em Marte agrada vários públicos com piadas fáceis, e outras nem tanto. Mostra a ciência de uma forma simples e ao mesmo tempo usa tudo o que ela pode oferecer. Monotonia passa longe aqui. Além de exaltar a ciência o filme é uma clara propaganda da NASA, não vejo exatamente um problema nisso. Como é um ano muito concorrido acho que o Matt Damon corre por fora na indicação ao Oscar. Trilha, direção, roteiro e direção de arte são categorias que deve figurar. Recomendo ver no cinema. Nota 8
Para os desavisados o "Birdman, ou a inesperada virtude da ignorância" não é um filme sobre o "Homeeeeem Pássaro". A obra trata de vários assuntos mas um dos principais é a crítica. A crítica aos filmes blockbuster (aqueles só voltados ao entretenimento), mas também aos críticos cabeça pseudo cults (que muitas vezes falam sem ver). Além disso tem uma crítica sobre a utilização das redes sociais x tradicionalismo, cinema x teatro, modos de atuação... enfim é um filme brilhante. Obrigatório para quem gosta de cinema e teatro. Ele trabalha com uma metalinguagem bem peculiar. Os planos sequência são feito de forma que você se sinta absorvido pelo teatro, não são utilizados aqui apenas como um recurso estético. E a técnica de usá-los como lapsos temporais, por exemplo, é muito bem feita. As atuações do Edward Norton e do Michael Keaton, meio que fazendo o papel de caricaturas deles mesmo, foram uma aula de teatro (em alguns momentos literalmente). A repetição das cenas, a hora que ele mostra "o que o público quer ver" e toda a mente distorcida do Michael Keaton são pontos altos do filme. Todos os atores estão muito bem, aliás. A cena na time square é sensacional. E a utilização do som, algumas vezes diegéticos também está brilhante. Ah, mas é um filme que pode não agradar uma parcela grande, de certo modo causa um certo incomodo (devido aos planos sequências e a um certo arrastamento proposital da trama), mas mesmo isso é atenuado pelos alívios cômicos. A primeira cena já causa uma estranheza. A última cena é uma daquelas que dará discussão por muito tempo. Oscares merecidos (acho que o de roteiro nem tanto). Recomendo muito. Nota 9
Esta comédia dramática conta a história de Juno, uma adolescente de 16 anos que engravida de um colega também adolescente. Ela chega a cogitar o aborto, mas, ainda grávida, decide encontrar pais adotivos para o filho. É uma história contada de forma leve (aliás, mérito ao abordar esses temas de uma forma tão simples). O mérito aqui está muito nas atuações e nos diálogos. A história em si beira um pouco o clichê, mas não prejudica. O filme tende mais para a comédia, apesar da situação dramática. E ele funciona bem nesse tom mais cômico. O interessante aqui são alguns elementos inseridos para ressaltar algumas dualidades: o quarto da Juno refletindo bem que ela ainda é uma adolescente (o telefone dela é em formato de hambúrguer que ela usa para ligar para a clínica de aborto). A própria Juno em si é bastante dual, o quarto é só um dos elementos. Ou então o próprio local em si da clínica (uma militante solitária gritando contra essa prática e uma atendente jogando um videogame portátil e oferecendo camisinhas com sabores de frutas) ou ainda a reação dos pais da Juno, o casal que pretende adotar a criança (dualidade entre o marido e a mulher). Apesar de ter uma toada meio teen, o diretor não subestima o telespectador. É uma lição para seriados como Malhação, por exemplo. Diálogos recheados com inúmeras referências cinematográficas e musicais, tem-se aqui um ritmo rápido e eficaz. A protagonista Ellen Page está muito bem e quando ela está em cena o filme ganha muito. J.K. Simmons infelizmente está discreto (nem de longe é a figura marcante que foi em Whiplash). O roteiro poderia ter ousado um pouco mais, mas poderia ter perdido a mão. Sendo, portanto, a opção escolhida muito bem realizada. Foi indicado para 4 categorias do Oscar em 2008: melhor filme (perdeu, de modo justo para “Onde os Fracos não tem vez”), diretor, atriz e melhor roteiro original (ganhou). A trilha está ótima também, acho que poderia ter sido indicada. Bom filme para ver despretensiosamente: une um bom grau de entretenimento com uma certa qualidade cinematográfica. Nota 8
o filme “A Travessia” do diretor Robert Zemeckis (o mesmo de “De volta para o Futuro”, “Náufrago”, “Forrest Gump” e tantos outros). É uma cinebiografia do Philippe Petit, equilibrista francês, que na década de 70 almejou cruzar as torres gêmeas em cima de uma corda bamba. O filme é baseado em na história real. Para quem não conhece o que ocorreu recomendo não procurar saber da história antes (mas pode continuar a ler aqui tranquilamente). Eu fui sem saber nada e a experiência é bem agradável. Tem um documentário de 2008, que deve valer a pena ver depois de ir ao cinema. O filme tem uma narração feita pelo próprio protagonista. Esse artifício em geral estraga bastante as cenas, já que em alguns casos ele narra o que está acontecendo ou o que vai acontecer. Meio que duvidando da inteligência do espectador (não abrindo espaço para quem está vendo sentir as cenas). Em alguns raros momentos, um mais no começo e outro mais no final, funciona até razoavelmente bem. A história é muito centrada no Philippe, então os personagens secundários perdem força. A relação com a Annie (par romântico na trama) é ok. No começo tem uma cena simples, porém bem feita de como ele aprendeu a usar a corda bamba. Mas em geral o começo do filme é meio atrapalhado com alguns problemas que poderiam ser trabalhados de forma simples. O humor não é prioridade aqui, mas tem alguns alívios cômicos bem inseridos. Contudo, em muitos outros é fácil adivinhar a piada, soando forçado o texto e as cenas. Os personagens são jogados na trama e mal trabalhados, são lineares e sem desenvolvimento. A virada ocorre mesmo no arco final. O suspense aqui é qualquer coisa de sensacional, dá vontade de gritar: “saia daí de cima, menino”. A escolha dos movimentos das câmeras foi bem acertada. O visual e a trilha também impressionam em diversos momentos. A vertigem causada faz com que os mais sensíveis possam se sentir mal com a altura (eu fui um deles). Destaque para a computação gráfica, belo exemplo de tecnologia usada a favor. Se a primeira parte tivesse mais fôlego o filme seria uma obra-prima. A Travessia é um filme médio para bom, com um índice elevado de entretenimento. Você compra fácil a ideia e há uma grande imersão. O 3D vale demais (tem duas cenas que você dá um pulo pra trás na cadeira. Além do efeito de profundidade estar muito presente no segundo arco): é um dos melhores, talvez o melhor, que eu já vi (não vi avatar em 3D). Obrigatório ver legendado (o filme brinca com os sotaques e no dublado pode ficar artificial). Há uma referência ao 11 de setembro extremamente sutil e bela. Imagino que não seja filme para muitos oscares (talvez efeitos visuais seja indicado e até ganhe), mas, ainda assim, é uma boa pedida . Nota 7,5
“Everest” é baseado na história real de um grupo que almeja o cume da montanha mais alta do mundo (piadocas com “só o cume interessa” estão liberadas). Narra, especificamente, a época em que a subida virou um negócio, onde quem pagava uma quantia X era guiado por alpinistas experientes e tinha toda uma estrutura à disposição. Como mais de uma empresa teve essa sacada – superlotando as trilhas - e aliado às condições ambientais inerentes ao local, o resultado só poderia ser trágico. Eis, então, a linear trama do filme. Fotografia e direção estão oks: algumas passagens são muito bonitas e impressionantes. Mas o excesso de personagens – sem um grande aprofundamento deles – enfraquece muito a empatia na relação personagens-público. Drama e ação em alguns momentos convencem e em outros deixam bastante a desejar. O começo tem um certo didatismo que pode ser cansativo para alguns, mas que julgo necessário aqui. Não vi em 3D, mas pelo que comentaram está dispensável. Infelizmente tive que ver dublado. Algumas vozes ficam meio tortas e isso prejudicou na imersão. Em suma: é um filme que trata mais do mesmo. Obra tecnicamente digna, mas sem muita relevância para a história do cinema. Vale para quem estiver sem nada para assistir ou para quem gosta muito de filmes com essa temática. Não chega a ser dinheiro jogado fora (ver na telona faz diferença), mas imagino que uma semana depois de assistido não fará parte de rodas de conversa. Talvez leve indicação para o Oscar em fotografia e direção de arte, mas creio que isso tem chances remotas de ocorrer. Nota 5,5
Eu não esperava que o filme fizesse uma interpretação madura do livro (já que poucos percebem o real sentido da história). Pra quem viu o trailer percebe que o filme vai além do livro. Existe aqui uma história paralela entre essa menina e o aviador vizinho dela. O aviador, aí sim, conta o enredo do livro. Esses dois momentos têm animações diferentes (o que foi um mérito). O filme não me agradou. Acho que não encanta nem os adultos e nem as crianças. Não chorei e nem ri em momento algum (e poucas, ou nenhuma, risada das crianças). A parte final do final é meio loucura e não convence muito (aqui a extrapolação é muito grande). Por incrível que pareça o elogio fica por conta da dublagem. As vozes estão bem condizentes e o próprio texto parece estar ok. O 3D não influencia (positivamente). A parte do pequeno príncipe visitando os planetas não ficou tão boa (faltaram alguns). A desculpa do tempo não cabe aqui já que tem alguns pontos que são longos demais. A obra cinematográfica é visualmente bonita e de certo modo ousada - já que vai além do livro. Mas não emociona e perde, e muito, para os filmes da Pixar, por exemplo. Nota 5 de 10
Onde o Mar Descansa
3.2 5Filme difícil e não será palatável para qualquer um. Mas tecnicamente beira a perfeição. No ste do cinem(ação) escrevi uma crítica completa sobre.
Os Oito Odiados
4.1 2,4K Assista Agora“Os oito odiados” se passa no velho oeste americano (mas mostrando uma região tomada por uma nevasca) e narra o casual encontro do caçador de recompensas Marquis Warren (Samuel L. Jackson) e do companheiro de profissão John Ruth (Kurt Russell), este último escoltando uma debochada prisioneira (Jennifer Jason Leigh). Além deles se junta na jornada o caricato Chris Mannix (Walton Goggins). Ao chegarem em uma cabana encontram mais algumas figuras com personalidades fortes, compondo o cenário para justificar parte do título. Basicamente 85% do filme (de 3 horas de duração) se passa neste local e tem como mote as motivações misteriosas dos envolvidos.
A direção do Tarantino é muito peculiar e temos várias características dele aqui. Violência explícita (não à toa a censura é 18 anos), roteiro excelente (principalmente nos diálogos), elenco de peso (com alguns nomes que já trabalharam anteriormente com ele), aos western clássicos, entre outras. Contudo comparado às obras do diretor, perde-se um tanto de força e não será tão marcante quanto boa parte dos demais filmes. Recomendo ver outros dele antes de ver este aqui (especialmente Pulp Fiction - pela genialidade como um todo e Django – pela temática do racismo, também presente).
Apesar de longo e de focar em um único local a obra não é cansativa, mesmo tendo uma certa barriga no meio (o filme é dividido em capítulos e o mais longo é longo demais). O tom é perceptível desde o começo: foco nos diálogos e nos personagens. Há mescla de vários gêneros e todos muito bem realizados. O humor do filme é qualquer coisa de sensacional. Quase toda passagem tem algo que te faz rir e até gargalhar. Muito mais que vários filmes que tem comédia como gênero principal (se “Perdido em Marte”, que também explora muito bem esse recurso, foi indicado ao Globo de Ouro em comédia, não veria nenhum absurdo de classificá-lo assim também).
Pela duração do filme e pelo título achei que os 8 personagens principais poderiam ter uma maior desenvolvimento (imaginei que teríamos a perspectiva de todos eles sobre os acontecimentos). Os 4 que têm mais destaque coincidem com as melhores atuações. Há muita empatia aqui, acreditamos na verdade e na motivação daqueles personagens (mesmo eles tendo a dubiedade como marca). Já aproveito para falar de outro pequeno problema: achei algumas resoluções, desde o começo, óbvias demais. E tem algumas conveniências que podem incomodar.
A trilha é algo digno de destaque: a obra toda é empurrada por momentos que despertam diversas sensações: empolga, reforça a tensão, diverte... Quanto à fotografia, temos uma boa composição visual aqui. As cenas fora da cabana trazem uma amplitude que confronta bem com o aperto do referido local. E a composição visual dos elementos em tela bem construída (contudo não acho que mereça premiação).
“Os oito odiados” tem uma história muito boa, ficamos até o final querendo saber o que vai acontecer com os personagens. Belas atuações. Direção bem tarantinesca (apesar de não estar entre os top 3 dele, talvez nem top 5). Não sei se vale a comparação com “12 homens e uma sentença”, como tenho visto por aí. Não agradará a todos os públicos, mas é um filme com um bom nível de entretenimento. E uma ode ao bom roteiro. Tiro alguns pontos pelo mau desenvolvimento de alguns personagens, pelo desfecho ruim em alguns momentos e por ser mais fraco que outros filmes do diretor (temos que analisar cada obra separadamente, mas quando se trata de Tarantino, faço uma exceção). Tem que ser indicado ao Oscar pelo roteiro. Premiação de atriz coadjuvante para a Jennifer Jason Leigh é bem real também (até agora não vi melhor). Acho que corre por fora em ator coadjuvante, com o Walton Goggins, mas pode pintar, entre os top 10 na categoria eu cravaria – top 5 é um pouco demais. Trilha também pode concorrer (como já o faz no Globo de Ouro, tal como as de ator e atriz coadjuvantes já citados). Nota 8
Jogos Vorazes: A Esperança - O Final
3.6 1,9K Assista Agora“Jogos Vorazes: a esperança - parte 2”: termina a saga da franquia. A sensação de que fica é que dava para ter feito um filme apenas na parte final. Mas como ainda dava para espremer mais alguns dólares a opção é comercialmente justificável, mas artisticamente ruim.
A história do filme (dessa segunda parte) é previsível e com alguns diálogos horrendos, dignos de “Crepúsculo”. Tem um entre o Peeta e o Gale que dá náuseas. Um discurso da Katniss, no começo do filme é um dos poucos que salva. A resolução da trama é muito mal realizada. Alguns pontos poderiam ser cinematograficamente melhor trabalhados para ter um peso maior na tela. A crítica aqui neste ponto é um resumo do que representa Jogo Vorazes pra mim: uma ideia sensacional, mas que não foi bem explorada.
Os ótimos personagens secundários são jogados de lado aqui, cito principalmente o Haymitch, o Presidente Snow, a Presidente Coin e a Effie. Enquanto o trio principal tem uma atuação muito sem sal, o ator que faz o Peeta tem um personagem um pouco melhor nas mãos e consegue em alguns raros momentos mostrar alguma complexidade.
Uma das cenas mais dramáticas funciona como cópia do livro, representando fielmente o quê está lá, mas na telona poderia ser feito de outra maneira: privilegiando os aspectos visuais. Há um detalhe no final do livro, que ajuda a dar um novo significado para toda a obra que, com as devidas adaptações, poderia estar presente aqui e foi ignorado.
É o filme da saga com maior variedade de cenários, tendo algumas tomadas interessantes. Há bons elementos misturando terror psicológico com uma ação desenfreada. Tendo bom nível de entretenimento em algumas partes. Agora algo que soa até amador são alguns erros de continuidade/edição, em especial em dois momentos: uma passagem de tempo e na entrada da Katniss em uma casa, isso nos tira bastante da imersão.
Jogos Vorazes: a esperança – parte 2: está mais no tom do resto da franquia que o antecessor, mas está longe da qualidade do 2 filme, o “Em Chamas”. A saga será lembrada pelos fã e principalmente pela Jennifer, por ter ajudado um tanto na carreira dela, mas o ar para mim será de uma ideia que colocada em um outro prisma e dirigida de outra maneira poderia ter sido antológica. Aqui é apenas uma história teen sem profundidade e com alguns problemas bem incômodos. Filme engolido nos cinemas por Star Wars (chegaram a cogitar que poderia rivalizar....) e será solenemente ignorado nas premiações mais importantes. Nota: 4,5 de 10
Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7K Assista Agora“Mad Max: estrada da fúria” é o 4º filme da franquia. Temos aqui um reboot, uma ruptura, da saga original. Não sendo necessário ver os anteriores (o primeiro é sofrível diga-se de passagem), mas creio que vê-los ajuda a compor alguns elementos.
Temos aqui uma distopia pós-apocalíptica, onde os recursos naturais estão escassos e a luta pela sobrevivência é constante. A obra é co-protagonizada por Max (Tom Hardy) e pela Imperatriz Furiosa (Charlize Theron). Ambos se
unem para sobreviver à perseguição de Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne). Ela buscando um lugar mais acolhedor que as garras do vilão e ele, Max, meio que sem rumo, e em conflito com perturbações internas buscando o próprio caminho. O filme honra os dois primeiros da trilogia clássica (todos os 4 do mesmo Diretor) ao se passar basicamente o tempo todo na estrada (algo que se perde no terceiro filme da sequência) e com vilões insanos e cenas de ação bem intensas.
Há muitos elementos a serem exaltados, vou começar pelo começo: a primeira meia hora é qualquer coisa de sensacional. O universo é ambientado rapidamente para o público. A ação inicial já te coloca no tom do filme. Os personagens são apresentados visualmente de forma que se compreende muito deles, com breve pinceladas sem a necessidade de grandes exposições. Aos poucos o ar de religião/ditadura vai sendo colocado em tela corroborando o viés de absurdo. Impressiona o império construído e o ar de veneração que recebe o Immortan Joe.
O roteiro é um tanto óbvio e com poucos diálogos, o que faz perder pontos. Mas revela uma grande história nas entrelinhas, dizendo muito em cenas rápidas e sem tornar a coisa toda explícita e mastigada.
Os personagens valem o destaque. O meu favorito é o Nux, o mais complexo do filme: personagem e ator transparecem viver cada emoção proposta. A Furiosa tem bastante presença e se mostra forte como figura feminina, conduzindo o filme – não sendo exagero colocá-la como protagonista única. O Max está condizente com o personagem dos outros filmes, sendo um cara marcado por problemas que antecedem a história. Fazendo lembrar quase o Wolverine: se faz de durão (e é), mas no fundo tem um bom coração e se preocupa com os outros. O vilão tem uma das melhores composições físicas que eu já vi. Esse fator aliado a um terror psicológico o torna bastante ameaçador. E entendemos a motivação dele, algo imprescindível para tornar um antagonista mais crível.
Basicamente a única fraqueza aqui é a supracitada (roteiro, mas com a ressalva feita). Já que os elementos técnicos são trabalhados de forma perfeita. A trilha ajuda a empurrar a história, os som está afinadíssimo com o resto da experiência, os efeitos práticos tornam verossímeis as ações, direção com tomadas que percorrem todo o circuito de batalha de forma macro e sabendo explorar o que é necessário nas cenas mais fechadas e uma edição (montagem) que torna o filme bastante ágil e sem pausas para respirar, recurso que, incrivelmente, funciona muito bem. Todavia, o quê mais me impressionou foi a fotografia. Difícil lembrar de filme recente melhor nesse quesito. Há uma cena de tempestade de areia que ao terminá-la deveria parar o filme e entregar o Oscar para o John Seale. Além desse cena, há uma em um pântano que a luz desce e temos um ar mais sombrio... e outras tantas dignas de aplausos.
“Mad Max: estrada da fúria” não é um filme que agradará a todos - eu mesmo não curto tanto esse tipo de filme, pessoalmente prefiro obras mais intimistas – mas é inegável a preciosidade artística que temos aqui. Acho que é o
melhor filme de ação que eu já vi. Realiza muito bem o quê se propõe. Virá muito forte no Oscar: deve ser indicado para melhor filme e diretor, além das categorias mais técnicas. Muitos estão colocando como melhor filme do ano. Não acho que seja pra tanto. Nota 9,5
Star Wars, Episódio VII: O Despertar da Força
4.3 3,1K Assista Agora(comentário sem spoiler) O filme é uma homenagem à trilogia clássica. Sendo, portanto, indispensável ver o IV, V e VI. O objetivo é mais agradar aos fãs antigos do que trazer novos. E se puder, caso alguém não tenha visto, não veja o trailer. Há cenas que deixam de causar um impacto no público devido a esse fator.
J.J. Abrams, como fã da série, sabe o que faz e tem controle do que aparece em cena e da harmonia entre os atores. Tudo muito encaixadinho, poucas cenas desnecessárias. Há a predominância de muitas rimas visuais, ou seja, cenas análogas às que já vimos nos outros filmes da série (e até no Star Trek, dirigido pelo mesmo J.J.). Essas cenas, algumas menos óbvias que outras, servem não só como fator nostálgico, mas como elemento narrativo, e permeiam o filme inteiro: personagens, movimentação de câmera, cenários. Sem muito detalhes há coisas simples como a passagem de cenas à la Power Point, mas em menor intensidade que em filmes anteriores. E, claro, a frase: “tenho um mau pressentimento sobre isso” também é dita aqui (pra quem não sabe ela é dita nos 6 filmes, pelo menos uma vez em cada). Além de elementos mais complexos que não irei falar aqui para não estragar a experiência.
Mas isso tudo sem acomodação. Há a inserção de elementos novos que não devem desagradar os fãs antigos e fazem a história ir para frente, mostrando a presença do diretor. A trilha faz menção ao que estamos acostumados, mas inserindo algo novo. As atuações estão fazendo jus a tudo que a gente cobraria de uma obra deste porte e dão um frescor peculiar.
Alguns pontos do roteiro são clichês ou poderiam ser trabalhados de forma a causar um impacto maior e o filme como obra única perde um pouco de ponto. Falta a explicação de algumas coisas e essas lacunas, imagino, devem ser preenchidas apenas nos próximos filmes.
Temos muito humor, emoção, aventura, ação, enfim Star Wars sendo Star Wars. Finalmente uma (ou duas) geração podendo ver um filme decente da franquia nos cinemas. Tecnologia usada como tem que ser, sem ser uma bengala e sem colocar os atores em uma posição desconfortável. Narrativa muito digna. Duvido que alguém deixe de ir ou decida ir pelo meu comentário aqui, mas digo que fui hoje, irei novamente e novamente e novamente....Espero que seja indicado à melhor efeitos visuais, direção de arte, trilha, direção e melhor filme... mas acho difícil ir pra isso. Acho que é o 2 melhor filme da saga, só perdendo para o episódio V. Nota 9,5 de 10
No Coração do Mar
3.6 776 Assista AgoraTemos aqui uma adaptação de um livro homônimo (que se inspirou no clássico: “Moby Dick”). O filme se passa em meados do século XIX e narra a história de um grupo marinheiros que tem a missão de caçar baleias para extrair o óleo delas, algo comum à época. Contudo, em um dado ponto da empreitada, uma baleia gigante ataca o navio tornando a vida daqueles homens bem dificultosa.
O roteirista Charles Leavitt (filmes como “Diamante de sangue”, de 2006) e o diretor Ron Howard de filmes como: “O Grinch”, de 2000 e “uma mente brilhante” , de 2001) fazem um trabalho praticamente impecável aqui.
Quase todos os aspectos cinematográficos são dignos de nota: o roteiro achou uma saída muito inteligente para contar a história e com diálogos muito firmes, além de um senso de humor bem encaixado. A montagem está no tom certo. O ritmo do filme é muito bom. Por exemplo, as passagens da história em si e a contada narrada é feita de forma bem pertinente ao longo de toda a obra. Nada fica gratuito. É um filme sem barrigas, só a da Moby Dick (eu precisava deste trocadilho). As mortes não são exploradas de forma sensacionalista. Elas ocorrem porque tem de ocorrer (recurso parecido com o que vimos em “Everest”). Até o romance está sem excessos. Alguns posicionamentos da câmera trazem ângulos poucos comuns e brincam também com a questão do foco vez ou outra.
A trilha sonora, por vezes simulando sons de baleia – mesmo sem o mostro estar presente- e carregada com batidas forte de tambor dão um ar eletrizante nos momentos certos. O silêncio, nos trechos em que é necessário, também é perceptível aqui, o que corrobora a questão do ritmo que falei anteriormente. A fotografia merece um capítulo à parte. Desde a escolha dos tons, com filtros lindíssimos até a boa utilização da computação gráfica. Temos, portanto, uma composição visual estupenda. A uma cena que mistura fogo e água que é quase poética (apesar da CGI soar um pouco artificial nesta cena - mas nas outras ele está muito bem aplicado).
Para quem viu “Thor” e “Os Vingadores”, não acredita no que o Chris Hemsworth fez aqui. Bela atuação dando vida a um personagem com uma baita presença. Os demais também não decepcionam e acompanham o ritmo do protagonista. As transformações físicas e mentais dos atores e personagens impressiona. Alguns secundários poderiam ser mais explorados.
“No Coração do Mar” é um filme obrigatório para ver no cinema. A imagem na telona faz muita diferença na experiência. O 3D está bem utilizado (não chega no nível de “Avatar”, “Hugo” e “A travessia”, mas é muito bom). Primor técnico e com alto nível de entretenimento. Acho que vale indicação ao Oscar nas categorias mais técnicas. Superou, e muito, as minhas expectativas. Nota 9
Ponte dos Espiões
3.7 694O filme “Ponte dos Espiões” (finalmente uma tradução honesta no título – e um título que traduz bem a trama) conta a história, baseada em fatos reais, de como o advogado americano James B. Donovan (Tom Hanks) intermediou um impasse diplomático na época da Guerra Fria. Notadamente com o foco na relação com o espião russo Rudolf Abel (Mark Rylance), que foi capturado pelos americanos. Donovan acaba tendo que defender o Espião, de forma a mostrar que ele teve um julgamento “honesto”, mas acaba se envolvendo pra valer com o caso. Paralelamente há uma captura, pelos russos, de um soldado americano.
Temos aqui a direção do Spielberg (dispensa apresentações) e parte do roteiro dos irmãos Coen (Bravura Indômita e Fargo, por exemplo). O resultado é uma história um pouco pesada contada com um certo tom de leveza e bem fluida.
Aqui o grande mérito é o roteiro (como é bom ver um filme assim...): história envolvente, diálogos fortes e personagens apresentados no tempo certo e muito carismáticos (ok que, de certa forma, meio sem profundidade). O humor, às vezes um pouco absurdo, dos Coen é usado mais uma vez aqui com maestria. A direção também está muito boa: há cenas análogas (algumas bem explícitas, outras nem tanto) em diversos momentos e essa autorreferência é uma bela cereja no bolo. Fotografia simples, mas bem adequada também.
As atuações são um caso à parte: o Mark Rylance dá um show, apesar de não ter tanto tempo em tela ele nos brinda com um personagem com uma personalidade marcante e rara. Tom Hanks sendo Tom Hanks, muito seguro e convincente nos muitos momentos em que assume o protagonismo e servindo de boa escada (sim, ele fica secundário) nas cenas com o Mark (mérito deste).
Há uma leve queda no meio do filme, mas que não compromete no todo. A construção do personagem do Tom Hanks às vezes é pautada em elementos repetidos (aqui no mau sentido) para nos mostrar o quão íntegro ele é, isso é também um leve defeito.
Ponte dos Espiões é um retrato pouco conhecido, para nós brasileiros, de um momento da Guerra Fria. Filmaço, vale muito ver no cinema. Um show de talentos. Mas, como eu já disse, é um filme muito focado no roteiro, então pode ser um pouco cansativo pra alguns. Há uma certa tendência para o lado americano, como não poderia deixar de ser, mas menos que em outros filmes. Forte candidato ao Oscar de ator coadjuvante e roteiro. Acho que pode pintar também indicação para ator, direção e montagem (edição). Nota 9.
Os 33
3.5 224O filme “os 33” mostra a história real dos 33 mineiros que ficaram soterrados em uma mina no Chile, em 2010. Apresenta aqui tanto a visão dos trabalhadores que ficaram presos, quanto às questões envolvendo o resgate, principalmente a relação do Ministro das Minas, personagem do Rodrigo Santoro, com as famílias, políticos e engenheiros.
Achei o filme problemático em diversos aspectos: o acidente ocorre muito rápido. Poderia ter algum desenvolvimento anterior dos personagens. Até tem uma cena, mas é muito rápida. Além disso não vemos como é um dia de trabalho normal na mina. E durante o ocorrido em nenhum momento eu sinto uma sensação de sufocamento, ou seja, o filme não nos transporta para o drama vivido (as cenas deles racionando comida são uma rara exceção).
Os momentos fora da mina, mostrando as famílias, tentam fazer com que a gente sinta empatia pelo personagens, mas quebra o clima da situação de dentro. Contudo, mais ou menos no meio do filme, há uma cena que mistura esses dois mundos e que quase faz valer o ingresso: ela possui humor, fantasia e se encerra de um jeito brilhante.
As atuações são um pouco forçadas às vezes: o tom é de um certo sensacionalismo. Alguns diálogos ficaram meio tortos. E um dos principais problemas aqui: o idioma. Como a história se passa no Chile era de se esperar o idioma original e a maior parte do tempo os atores falam em inglês (ok, é uma produção americana para um público americano, mas Sicario não teve receio neste ponto, por exemplo). E o pior em alguns momentos há falas em espanhol sem motivo aparente para tal.
A experiência no cinema não acrescenta em nada na obra. Não deve concorrer a nada no Oscar. Filme esquecível, de uma baita história recente, uma pena. Nota 4
Perdido em Marte
4.0 2,3K Assista AgoraPerdido em Marte (2015) conta a história do astronauta Mark Watney (Matt Damon, “Gênio Indomável”, “Interestrelar”, etc) que após uma tempestade de areia no Planeta Vermelho é dado como morto pelos colegas da tripulação. Mas ele sobrevive, óbvio – caso contrário não teríamos filme. A obra mostra, então, a saga de sobrevivência de Mark enquanto a NASA tenta mandar uma missão de resgate.
Há uma celebração da ciência: diversos campos representados, mas eles não são colocados em cena de uma forma maçante ou professoral. É criado um recurso narrativo aqui que explica o que ocorre em tela de uma forma bem didática (no melhor sentido da coisa – o filme “Travessia” deveria aprender aqui). Além disso, a sacada, falar para uma câmera (em uma espécie de vlog), nos premia com um “Wilson” dos tempos modernos.
Matt Damon está muito bem. Passa uma empatia muito forte. Tem um senso de humor muito peculiar (aliás, o filme inteiro tem isso), o texto ajuda muito o desempenho dele. Sobre as saídas encontradas pelo personagem, os mais antigos lembrarão do Macgyver... é muito aquilo: pegar um chiclete, um grampo e fezes e construir uma engenhoca que o vai tirar de uma enrascada. Em geral, compramos essa ideia, já em alguns momentos eles extrapolam um pouco.
A trilha sonora está muito divertida (seguindo o tom do filme). Com brincadeiras usando bem a diegese. A fotografia está boa, mas sem aquela exaltação de outros filmes com essa temática. E a direção do Ridley Scott (que já fez filmes clássicos do gênero) está no tom certo. O mais forte aqui é o texto. Não li o livro que dá origem a este filme, mas penso que é uma boa adaptação.
O fato de ter 25448 personagens é um problema. Temos aqui vários secundários sem desenvolvimento (o elenco em si é muito bom, volta e meia nos pegamos perguntando: “de onde conheço este ator?”). Basicamente o vilão era o tempo e as intempéries de Marte. Faltou um opositor humano na trama: estava todo mundo – literalmente, quase –torcendo pelo Mark. Algumas conveniências incomodam um pouco.
Apesar de terem pegadas completamente diferentes é inevitável a comparação com os dois filmes de espaço dos anos anteriores: Gravidade e Interestrelar. Gravidade usa dos recursos técnicos de forma mais impactante e o subtexto é brilhante, porém o filme perde um pouco para o grande público, mas considero o melhor dentre os três. Interestrelar tem uma proposta grandiosa e em alguns pontos não dá conta de sintetizar tudo, o que torna a coisa toda meio maçante e excessivamente didática, mas ainda assim é um baita espetáculo e deve ser reverenciado pela ousadia (afinal é filme do Nolan). Perdido em marte fica entre os dois anteriores.
Perdido em Marte agrada vários públicos com piadas fáceis, e outras nem tanto. Mostra a ciência de uma forma simples e ao mesmo tempo usa tudo o que ela pode oferecer. Monotonia passa longe aqui. Além de exaltar a ciência o filme é uma clara propaganda da NASA, não vejo exatamente um problema nisso. Como é um ano muito concorrido acho que o Matt Damon corre por fora na indicação ao Oscar. Trilha, direção, roteiro e direção de arte são categorias que deve figurar. Recomendo ver no cinema. Nota 8
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
3.8 3,4K Assista AgoraPara os desavisados o "Birdman, ou a inesperada virtude da ignorância" não é um filme sobre o "Homeeeeem Pássaro". A obra trata de vários assuntos mas um dos principais é a crítica. A crítica aos filmes blockbuster (aqueles só voltados ao entretenimento), mas também aos críticos cabeça pseudo cults (que muitas vezes falam sem ver). Além disso tem uma crítica sobre a utilização das redes sociais x tradicionalismo, cinema x teatro, modos de atuação... enfim é um filme brilhante. Obrigatório para quem gosta de cinema e teatro. Ele trabalha com uma metalinguagem bem peculiar. Os planos sequência são feito de forma que você se sinta absorvido pelo teatro, não são utilizados aqui apenas como um recurso estético. E a técnica de usá-los como lapsos temporais, por exemplo, é muito bem feita. As atuações do Edward Norton e do Michael Keaton, meio que fazendo o papel de caricaturas deles mesmo, foram uma aula de teatro (em alguns momentos literalmente). A repetição das cenas, a hora que ele mostra "o que o público quer ver" e toda a mente distorcida do Michael Keaton são pontos altos do filme. Todos os atores estão muito bem, aliás. A cena na time square é sensacional. E a utilização do som, algumas vezes diegéticos também está brilhante. Ah, mas é um filme que pode não agradar uma parcela grande, de certo modo causa um certo incomodo (devido aos planos sequências e a um certo arrastamento proposital da trama), mas mesmo isso é atenuado pelos alívios cômicos. A primeira cena já causa uma estranheza. A última cena é uma daquelas que dará discussão por muito tempo.
Oscares merecidos (acho que o de roteiro nem tanto). Recomendo muito.
Nota 9
Juno
3.7 2,3K Assista AgoraEsta comédia dramática conta a história de Juno, uma adolescente de 16 anos que engravida de um colega também adolescente. Ela chega a cogitar o aborto, mas, ainda grávida, decide encontrar pais adotivos para o filho. É uma história contada de forma leve (aliás, mérito ao abordar esses temas de uma forma tão simples). O mérito aqui está muito nas atuações e nos diálogos. A história em si beira um pouco o clichê, mas não prejudica. O filme tende mais para a comédia, apesar da situação dramática. E ele funciona bem nesse tom mais cômico.
O interessante aqui são alguns elementos inseridos para ressaltar algumas dualidades: o quarto da Juno refletindo bem que ela ainda é uma adolescente (o telefone dela é em formato de hambúrguer que ela usa para ligar para a clínica de aborto). A própria Juno em si é bastante dual, o quarto é só um dos elementos. Ou então o próprio local em si da clínica (uma militante solitária gritando contra essa prática e uma atendente jogando um videogame portátil e oferecendo camisinhas com sabores de frutas) ou ainda a reação dos pais da Juno, o casal que pretende adotar a criança (dualidade entre o marido e a mulher).
Apesar de ter uma toada meio teen, o diretor não subestima o telespectador. É uma lição para seriados como Malhação, por exemplo. Diálogos recheados com inúmeras referências cinematográficas e musicais, tem-se aqui um ritmo rápido e eficaz. A protagonista Ellen Page está muito bem e quando ela está em cena o filme ganha muito. J.K. Simmons infelizmente está discreto (nem de longe é a figura marcante que foi em Whiplash). O roteiro poderia ter ousado um pouco mais, mas poderia ter perdido a mão. Sendo, portanto, a opção escolhida muito bem realizada.
Foi indicado para 4 categorias do Oscar em 2008: melhor filme (perdeu, de modo justo para “Onde os Fracos não tem vez”), diretor, atriz e melhor roteiro original (ganhou). A trilha está ótima também, acho que poderia ter sido indicada. Bom filme para ver despretensiosamente: une um bom grau de entretenimento com uma certa qualidade cinematográfica. Nota 8
A Travessia
3.6 613 Assista Agorao filme “A Travessia” do diretor Robert Zemeckis (o mesmo de “De volta para o Futuro”, “Náufrago”, “Forrest Gump” e tantos outros). É uma cinebiografia do Philippe Petit, equilibrista francês, que na década de 70 almejou cruzar as torres gêmeas em cima de uma corda bamba. O filme é baseado em na história real. Para quem não conhece o que ocorreu recomendo não procurar saber da história antes (mas pode continuar a ler aqui tranquilamente). Eu fui sem saber nada e a experiência é bem agradável. Tem um documentário de 2008, que deve valer a pena ver depois de ir ao cinema.
O filme tem uma narração feita pelo próprio protagonista. Esse artifício em geral estraga bastante as cenas, já que em alguns casos ele narra o que está acontecendo ou o que vai acontecer. Meio que duvidando da inteligência do espectador (não abrindo espaço para quem está vendo sentir as cenas). Em alguns raros momentos, um mais no começo e outro mais no final, funciona até razoavelmente bem. A história é muito centrada no Philippe, então os personagens secundários perdem força. A relação com a Annie (par romântico na trama) é ok. No começo tem uma cena simples, porém bem feita de como ele aprendeu a usar a corda bamba. Mas em geral o começo do filme é meio atrapalhado com alguns problemas que poderiam ser trabalhados de forma simples. O humor não é prioridade aqui, mas tem alguns alívios cômicos bem inseridos. Contudo, em muitos outros é fácil adivinhar a piada, soando forçado o texto e as cenas. Os personagens são jogados na trama e mal trabalhados, são lineares e sem desenvolvimento.
A virada ocorre mesmo no arco final. O suspense aqui é qualquer coisa de sensacional, dá vontade de gritar: “saia daí de cima, menino”. A escolha dos movimentos das câmeras foi bem acertada. O visual e a trilha também impressionam em diversos momentos. A vertigem causada faz com que os mais sensíveis possam se sentir mal com a altura (eu fui um deles). Destaque para a computação gráfica, belo exemplo de tecnologia usada a favor. Se a primeira parte tivesse mais fôlego o filme seria uma obra-prima.
A Travessia é um filme médio para bom, com um índice elevado de entretenimento. Você compra fácil a ideia e há uma grande imersão. O 3D vale demais (tem duas cenas que você dá um pulo pra trás na cadeira. Além do efeito de profundidade estar muito presente no segundo arco): é um dos melhores, talvez o melhor, que eu já vi (não vi avatar em 3D). Obrigatório ver legendado (o filme brinca com os sotaques e no dublado pode ficar artificial). Há uma referência ao 11 de setembro extremamente sutil e bela. Imagino que não seja filme para muitos oscares (talvez efeitos visuais seja indicado e até ganhe), mas, ainda assim, é uma boa pedida . Nota 7,5
Evereste
3.3 550 Assista Agora“Everest” é baseado na história real de um grupo que almeja o cume da montanha mais alta do mundo (piadocas com “só o cume interessa” estão liberadas). Narra, especificamente, a época em que a subida virou um negócio, onde quem pagava uma quantia X era guiado por alpinistas experientes e tinha toda uma estrutura à disposição. Como mais de uma empresa teve essa sacada – superlotando as trilhas - e aliado às condições ambientais inerentes ao local, o resultado só poderia ser trágico. Eis, então, a linear trama do filme.
Fotografia e direção estão oks: algumas passagens são muito bonitas e impressionantes. Mas o excesso de personagens – sem um grande aprofundamento deles – enfraquece muito a empatia na relação personagens-público. Drama e ação em alguns momentos convencem e em outros deixam bastante a desejar. O começo tem um certo didatismo que pode ser cansativo para alguns, mas que julgo necessário aqui.
Não vi em 3D, mas pelo que comentaram está dispensável. Infelizmente tive que ver dublado. Algumas vozes ficam meio tortas e isso prejudicou na imersão. Em suma: é um filme que trata mais do mesmo. Obra tecnicamente digna, mas sem muita relevância para a história do cinema. Vale para quem estiver sem nada para assistir ou para quem gosta muito de filmes com essa temática. Não chega a ser dinheiro jogado fora (ver na telona faz diferença), mas imagino que uma semana depois de assistido não fará parte de rodas de conversa. Talvez leve indicação para o Oscar em fotografia e direção de arte, mas creio que isso tem chances remotas de ocorrer. Nota 5,5
O Pequeno Príncipe
4.2 1,1K Assista AgoraEu não esperava que o filme fizesse uma interpretação madura do livro (já que poucos percebem o real sentido da história). Pra quem viu o trailer percebe que o filme vai além do livro. Existe aqui uma história paralela entre essa menina e o aviador vizinho dela. O aviador, aí sim, conta o enredo do livro. Esses dois momentos têm animações diferentes (o que foi um mérito). O filme não me agradou. Acho que não encanta nem os adultos e nem as crianças. Não chorei e nem ri em momento algum (e poucas, ou nenhuma, risada das crianças). A parte final do final é meio loucura e não convence muito (aqui a extrapolação é muito grande). Por incrível que pareça o elogio fica por conta da dublagem. As vozes estão bem condizentes e o próprio texto parece estar ok. O 3D não influencia (positivamente). A parte do pequeno príncipe visitando os planetas não ficou tão boa (faltaram alguns). A desculpa do tempo não cabe aqui já que tem alguns pontos que são longos demais. A obra cinematográfica é visualmente bonita e de certo modo ousada - já que vai além do livro. Mas não emociona e perde, e muito, para os filmes da Pixar, por exemplo. Nota 5 de 10