Difícil entender como a Disney pode ter amadurecido tanto em filmes de animação (vide Big Hero 6) e ainda tenha a caraça de produzir um filme de roteiro genérico que está condenado a virar uma sessão da tarde "legalzinha". Previsível, clichê e nada criativo, teria passado completamente despercebido, caso não tivesse nomes relevantes (e que, no fim das contas, não acrescentam nada) envolvidos.
O texto a seguir contém spoilers leves que não revelam nada sobre o enredo do filme:
É estranho dizer isso, mas a falta de diálogos memoráveis em Boyhood é um grande mérito. Não que não haja exceções, é claro. Quando a mãe de Mason resolve desabafar sobre como a vida passa rápido e logo, logo vai ser o seu funeral, o texto todo é excelente, e existem muitos outros momentos bons de reflexão no filme.
Mas grande parte dos diálogos do filme são, literalmente, sobre nada. E isso não é um problema. Boyhood, é claro, é sobre a vida e como ela passa diante dos nossos olhos sem nunca parar devido a problemas de um indivíduo.
Acompanhar o crescimento físico ou psicológico de um personagem nas telas é sempre uma experiência interessante. Os fãs de Harry Potter assistiram a isso ao longo de dez anos e oito filmes - e quem assistiu a Boyhood sabem que não menciono as aventuras do bruxo por acaso - e agora vemos o jovem Mason viver sua vida dos 5 aos 18 anos de idade, passando por experiências que a maioria de nós também passou e tentando entender qual o propósito da vida.
O legal de se acompanhar um projeto como esse é que alguns acontecimentos ganham muito mais força porque o contexto do tempo fica impresso de forma muito mais eficaz que em longas normais. Observe, por exemplo, a incrível trajetória da mãe de Mason, que vive boa parte dos 12 anos do filme tomando decisões complicadas certas e erradas que afetam todo o rumo de sua vida. E assisti-la em seu novo apartamento despachando seu filho para a faculdade tem o peso emocional que Richard Linklater queria porque nós sabemos exatamente de sua luta para chegar até ali.
O menino Ellar Coltrane consegue segurar bem o fardo de ser o protagonista de uma produção desta magnitude. Sua atuação é majoritariamente boa, com algumas exceções comuns a crianças que estão aprendendo a atuar - a diferença é que outras crianças tiveram a chance e cometer esses erros longe das câmeras -, mais nenhum desses probleminhas atrapalha o andamento do longa.
Os personagens têm igual importância, e é ótimo vislumbrá-los em diferentes momentos de suas vidas - mais notadamente a irmã de Mason, Samantha, que passa por várias fases e evidencia que existem vários filmes acontecendo ao mesmo tempo durante Boyhood.
Finalmente, a trilha sonora é muito bem escolhida e, junto com a montagem e o roteiro, ajudam o espectador a situar mais ou menos em que ano os eventos aconteceram, escolhendo momentos-chave mas sutis da história, como a campanha presidencial de Obama, o show da cantora Lady Gaga no ápice da fama, entre outros.
No fim, se um filme comum tem o poder de nos fazer sentir que acompanhamos a vida toda de um determinado personagem, Boyhood é a epítome desse poder, pois expõe a vida como ela é, nos faz refletir e olhar nostalgicamente sobre nossos próprios momentos similares aos vividos por Mason e só deixa claro, como o pai de Mason diz em certo momento, que "ninguém sabe sobre o que é a vida. Estamos todos só improvisando."
Existe um momento em Gone Girl onde Amy se senta ao lado de seu marido na cama, claramente querendo indicar que tudo está em paz porque ela está ali ao seu lado. A cena seria igual a muitas outras já feitas, exceto pelo fato de que o quarto está parcialmente escuro e Amy fica completamente na penumbra, de modo que apenas sua silhueta é visível. A cena simples mas engenhosa traduz bem o tom de Garota Exemplar, assim como a eficiente direção de David Fincher.
Nunca fui muito fã de Rosamund Pike. Sempre a achei bem sem sal e com performances nada marcantes, mas aqui ela parece finalmente ter encontrado seu lugar. Primeiro porque esse é justamente o que move a personagem: passar despercebida e ser aquela em quem você não pensa muito depois de ter conversado. Depois, porque esse tipo de personalidade oferece um contraponto perfeito para algumas outras atitudes de Amy.
As escolhas de elenco são tão bizarras quanto o rumo que o filme toma, mas, assim como a trama, elas funcionam de forma estranha e surpreendente. Tyler Perry surge convincente como o "advogado de causas perdidas" e é um alívio cômico bem vindo no meio de todo o suspense. Ben Affleck, que já melhorou muito com o passar dos anos, está confortável na pele de Nick Dunne, um babaca - não há outra palavra - que é forçado a pensar rápida e logicamente de forma cada vez mais urgente. Não ficaria surpreso se Neil Patrick Harris começasse a dançar e cantar ou fizesse alguma piada, mas sua composição é bem calculada e deixa transparecer a natureza obsessiva e lunática de Desi Collings sem nenhum tom cômico.
A trilha de Trent Reznor e Atticus Ross é outro ponto alto do filme. Assim como os personagens, ela surge calma e contida durante a maior parte do tempo, mas também acaba se entregando a momentos de descontrole e histeria que pontuam muito bem o desespero silencioso vivido pela maioria dos personagens.
a fuga de Amy da mansão de Desi. Comprei que havia pontos cegos no sistema de vigilância da casa, mas as coisas que ela faz para simular ter sido violentada por ele certamente foram capturadas por algumas câmeras. Qualquer investigador que decidisse examinar a história de Amy um pouco mais a fundo encontraria inconsistências mais que imediatamente. É claro que o roteiro indica isso quando ela é interrogada no hospital, mas acho que faltou um avanço nessa parte da trama, por mais que o final indique que aquilo tudo seja só o começo de mais uma série de eventos.
Filmão. Mas é preciso ter estômago e aceitar que você nunca mais vai ver coxa de frango frita da mesma maneira. A trama não é nada complicada e bem fácil de acompanhar e comprar: você não precisa passar muito tempo com aquelas pessoas pra acreditar que encomendariam o assassinato de alguém para ficar com o dinheiro. Da mesma forma, não é difícil se colocar no lugar deles em determinadas situações:
Chris estava totalmente desesperado e afundado em dívidas, com a própria vida em risco, com poucas opções de saída. Eu obviamente não estou dizendo que a solução que ele encontrou é adequada, mas condiz perfeitamente com o caráter da personagem. Da mesma forma, Ansel não reage ao ver sua esposa ser brutalmente espancada e humilhada, não só porque acabou de descobrir que foi traído das duas piores formas, mas também porque ao longo do filme o roteiro deixou bastante claro de que ele é incapaz de tomar as rédeas de qualquer situação, principalmente uma que possa trazer consequências pra si mesmo. Dottie atira e mata todas(?) as pessoas na sua vida. Pessoas que abusaram dela desde o seu nascimento e que tomam decisões acerca do que fazer com o seu corpo por ela. Para nós que passamos quase 2h acompanhando o sofrimento da menina, não é nada difícil entender as motivações e reações dela.
E, por mais que haja violência (mal coreografada), sangue e hematomas (mal feitos) e cenas bizarras de felação em frituras, nada é mais chocante que a verdade: a história soa totalmente plausível para o mundo em que vivemos hoje. Basta assistir/ler qualquer jornal diário.
Design de produção muito além do que se vê normalmente em animações (ou em filmes live-action, a propósito). Cada quadro é uma obra de arte a ser examinada, e fiquei realmente encantado com o visual dos personagens, principalmente o Sandman. Contudo, o roteiro é bem capenguinha, principalmente porque falha em estabelecer: eles são guardiões do quê? Da inocência infantil? Das datas comemorativas? Da infância? Dos medos de crianças? Todos os anteriores é uma resposta válida, mas isso só evidencia o maior problema do longa: falta de foco. O vilão é super genérico e sem nenhum tipo de história para que suas motivações e propósitos fiquem mais claras. As "regras" de seus poderes também são uma grande bagunça: ás vezes ele pode aparecer em qualquer lugar a qualquer hora e ás vezes precisa fugir a pé ou se deslocar para chegar a determinado ponto. A falta de foco dos roteiristas só fica mais evidente à medida que o filme progride. A certa altura, enquanto tenta manipular Jack Frost, Pitch diz que os Guardiões "nunca vão aceitá-lo." Oi? Há alguns minutos atrás os próprios Guardiões estavam correndo desesperadamente atrás de Jack para que ele fizesse parte da equipe e ELE é que não queria participar! Contudo, a manipulação de alguma forma funciona e o joga numa espiral de dúvidas e questionamentos-padrão em filmes do gênero. É triste se dar conta, ao final da projeção, que o argumento do filme é uma grande metáfora para o seu visual: enche os olhos, mas falta conteúdo. Representar figuras folclóricas de forma inusitada já perdeu a novidade e virou tão lugar-comum que figuras como o Coelho agindo como um agente relutante soam mais aborrecidas que divertidas em diversos momentos. Isso não significa que odiei o filme. Achei bastante divertido, até. Mas, por mais que eu tenha amado o visual e definitivamente vá voltar para conferi-lo outras vezes, vou escolher conteúdo sempre que algo melhor estiver disponível.
Alívio cômico forçadíssimo, atuações que variam do mediano ao vergonhoso, um vilão que nem finge que não é uma mistura de Darth Vader com Sauron e máscara de stormtrooper.
O filme parece ter sido feito por dois adolescentes perdidamente apaixonados que preferem cenas de beijo e abraço a diálogos. Nenhum problema com isso, desde que não tomasse mais ou menos 40 minutos de filme. Precisava disso tudo mesmo? Sem falar que os dois adolescentes apaixonados que fizeram o filme não são essas duas figuras extremamente egoístas que não gostam de encarar as consequências das atitudes que tomam, agem por impulso e, ao primeiro sinal de que as coisas podem não dar certo, desistem um do outro e decidem seguir outro caminho. Isso não é ser loucamente apaixonado. Pelo menos eu não acredito. Achava que o filme seria uma história sobre como um casal que passa por um milhão de dificuldades não desiste de ficar junto jamais, mas, depois de aguentar horas de cenas ultrarromânticas que só servem pra mostrar como os dois sentiam paixão e não amor, fica difícil torcer por eles quando eles não têm a mínima boa vontade de manter o relacionamento a distância, mudar de país para ficar um com o outro ou fazer qualquer coisa que pessoas loucamente apaixonadas fazem.
Achei comum. Durante boa parte da duração, não tem nada que realmente o diferencie de outros filmes com temáticas parecidas e a relação entre os personagens não é nem de longe tão boa quanto visto no recente On the Road, por exemplo. Emma Watson tem muitos probleminhas de atuação e precisa de um diretor de mão firme para controlar alguns de seus exageros. Não estou dizendo, contudo, que é um filme ruim. Eu não sabia que Logan Lerman (que era tão sem sal em 'Percy Jackson') era capaz de uma atuação tão boa e muitíssimo bem dosada. Eu fiquei o filme todo hipnotizado com o vigor do garoto, e feliz de verdade de constatar que não é mais um menininho qualquer de Hollywood. E isso é dizer muita coisa, já que o filme e sobre ele e mais ninguém, portanto, se ele fosse o elo fraco, muitas coisas não funcionariam (além das que já não funcionam). Não gostei de ver temas que podiam render ótimas discussões serem deixados em último plano, como a relação da personagem de Nina Dobrev com o namorado ou quando Sam revela que seu primeiro beijo foi aos 11 anos com uma pessoa extremamente inesperada. Contudo, é nos minutos finais que o filme mostra a que veio, com uma informação bombástica que muda toda a forma com que se enxergava o filme até ali. A sequência é confusa e faltou competência na montagem por parte do diretor Stephen Chbosky, mas a força da revelação é tanta que nem isso diminui seu impacto para a plateia completamente despreparada. Ali, sim, foi um momento extremamente emocional e sincero que, infelizmente, não está presente no filme inteiro.
Não tenho exatamente uma nota para esse filme. Talvez tenha que digerir um pouco. Ao mesmo tempo em que entendo todas as situações por quais aqueles profissionais passam e por que isso mexe com suas cabeças dentro e fora do trabalho, achei extremamente improvável que um grupo extremamente não profissional e desequilibrado pudesse ficar tanto tempo em seus cargos. É uma coisa horrível, o que aqueles criminosos fazem? Sem dúvida. Mas existe uma forma de se lidar com as coisas e, a meu ver, qualquer advogado de defesa poderia usar a falta de autocontrole daquele povo para reduzir a pena de seus clientes. E o que dizer de quando o grupo ri descontroladamente de uma menina que chupou uns garotos pra pegar seu celular de volta. Tão bizarro que chega a ser engraçado? Sim, mas acredito que o comportamento infantil deles naquele momento só os distanciou da menina e não passou a mensagem que deveria ser passada. Se eu tivesse que adivinhar, diria que a menina simplesmente voltou a fazer a mesma coisa só porque foi chamada até a delegacia para rirem da cara dela.
Não entendo a necessidade das comédias atuais de exagerar em todo tipo de situação e que os personagens se encontram.
O texto a seguir tem spoilers leves, não sinalizei porque não atrapalham a "trama", mas se não quiser saber de nada não leia.
No começo, o filme engana e te faz acreditar que vai ser bastante bom, mostrando de forma competente os "territórios" de cada uma das crianças e o que cada uma delas representa sem parecer forçado ou exagerado. Não é difícil crer, por exemplo, que Rodrigo tem fogos de artifício escondidos no quarto, ou quando ele decide quebrar vasos entende-se a natureza atentada do personagem e é até interessante notar que mais tarde seu comportamento é explicado quando ele finalmente diz o que sente.
Contudo, os roteiristas incompetentes não percebem o potencial das crianças e não reparam que o filme todo podia se passar ali na casa, com os três. Uma vez que todos saem da casa, as falhas na direção e roteiro ficam óbvias: a pirotecnia de Rodrigo atinge níveis irracionalmente previsíveis (todo mundo sabe o que vai acontecer mas ninguém parece querer explicar como ele tem acesso ao material para fazer suas bombas) e como não são capazes de extrair situações extremas de crianças relativamente normais, os outros dois são basicamente esquecidos à medida que o longa prossegue.
Jonah Hill faz o que pode para salvar o seu personagem que, numa manobra inédita, se encaixa perfeitamente no título nacional do filme: é um babaca que se mete nas piores situações e não se importa em levar crianças para boates e locais de venda de drogas desde que isso signifique agradar a mulher que claramente não dá a mínima para ele.
A direção de atores é pífia. Cada um do elenco faz o que bem entente, o que resulta numa absoluta falta de tom e os personagens variam do exagerado ao caricato sem nenhuma nuance visível. O roteiro, como já mencionado, é uma piada. Abandona a lógica em prol de algumas situações absurdas. Não basta todo lugar por qual os personagens passam ter que acabar destruído de alguma forma (loja de roupas, restaurante, loja de joias, apartamento da festa), os personagens secundários também não fazem sentido algum. A menina que estudou com Noah, além de onipresente, decide roubar a minivan sem motivo algum e depois a devolve porque eles "estavam quites" e depois vira a melhor amiga dele. O próprio Noah desabafa numa boate dizendo que sabe que era usado e que Marisa nem era sua namorada de verdade, só pra depois interromper um óbvio clima com a outra menina dizendo que "sua namorada" estava ligando numa tentativa ridícula de criar algum tipo de conflito entre os dois e deixar o espectador apreensivo com relação ao futuro dos dois (pfff).
Mas a coisa toda atinge proporções épicas quando Noah invade uma joalheria e a polícia não aparece, mesmo que ele erre a senha do alarme várias vezes e depois convenientemente se lembre da data de nascimento do garoto que é filho do adultério do pai e ele claramente não conhece. Depois, ele é parado pela polícia e descobre que está sendo procurado por ter explodido um vaso sanitário (???), mas não importa, porque os policiais são claramente stand-up comedians disfarçados que preferem tentar roubar a cena (sem sucesso). É alarmante constatar que as crianças são as personagens mais constantes e com alguma profundidade no filme todo, e são alguns momentos isolados com cada uma delas (Slater aprendendo sobre sexualidade, Rodrigo falando sobre adoção e todas as tentativas de Blithe parecer adulta), e esses momentos quase fazem o filme valer a pena. Mas aí surge uma cena como JB Smoove com a genitália em chamas (que não se apagam) e só me restou fechar os olhos e suspirar exasperado.
Eu não lembro de nenhum dos outros Velozes e Furiosos. Lembro de fragmentos: um carro rosa, neón sob vários veículos, uma tentativa de filme desastrosa no Japão e carros, muitos carros. Então confesso que foi com um certo orgulho que eu percebi que lembrar das tramas dos filmes 1 e 2 não era absolutamente necessário e que os roteiristas Chris Morgan e Gary Scott Thompson preferiram fingir, como eu, que Desafio em Tóquio não existe. Tudo que você precisa saber é resumido em alguns poucos diálogos breves e esclarecedores. Outro grande feito do roteiro é parar de fingir que as pessoas vão para o filme esperando ver qualquer coisa além dos carros, então o ponto de partida foi "o que podemos fazer para que tudo isso acabe em uma corrida de carros?" ao invés do "vamos resolver isso numa corrida de carros." Percebeu a diferença? Já sabemos que Dom rouba mercadorias em movimento, então, caminhão quicando na rodovia à parte, a sequência não é gratuita e já mostra exatamente o que o filme será dali para a frente, se você conseguir relevar O'Conner quebrando o nariz de um colega de trabalho e ainda assim conseguir pegar o caso que tanto queria, a inutilidade de Jordana Brewster e alguns diálogos meio cafonas ("Você já se perguntou se você não é um cara ruim se fingindo de bom ao invés de um cara bom se fingindo de ruim?" "Todos os dias."), poderá observar que Justin Lin faz um trabalho e tanto de direção, conseguindo capturar cada momento das corridas, performances e peripécias dos carros e personagens em cenas de ação difíceis de se desviar o olho. A diversão vale muito a pena. E o final é ótimo.
Um ótimo filme sabotado pelo diretor. O clima é muitíssimo bem construído. Apesar do clichê de "ele vai para uma cidadezinha só passar o fim de semana e depois volta" e "ninguém na cidade pode falar sobre o que está acontecendo", a forma com que as coisas vão se desenrolando e como elas se relacionam com a cena inicial do longa são eficientes em despertar a curiosidade do espectador, e o protagonista (Dan Radcliffe, sem nenhum maneirismo ou trejeito de Harry Potter, vale ressaltar) é único no sentido de que ele não é amedrontado e se tem algo estranho acontecendo ele vai mesmo ver o que é, ao contrário da maioria dos protagonistas de filmes de terror, cuja índole amedrontada deveria guiá-los para o mais longe do terror possível.
No entanto, o filme é calmo e dá mais valor à trama do que aos sustos. Nenhum problema com isso, mas numa decisão que me soa mais como de estúdio ou de diretor do que de roteiro, sustos desnecessários acompanhados daquela irritante nota ridiculamente alta só fazem tirar a tensão do clima tão bem construído, pois James Watkins (e vários outros diretores) não parece entender que, no terror, menos é mais. Quanto menos sustos houver, mais tenso o espectador vai ficar. Se um susto desnecessário surge sem propósito nenhum a não ser pegar o espectador de surpresa, toda a tensão construída é descarregada. E, infelizmente, isso acontece muito aqui, tanto que tira o filme de "muito bom" para apenas "razoável".
Contudo, o final é um dos melhores dos filmes do gênero dos últimos anos. Acho fantástica a ideia de que Arthur descobriu qual era a da assombração da casa e qual seria um meio de se livrar dela, mas descobrir que estava errado e que sua tentativa fracassou é corajoso e imprevisível, ao contrário de todos os sustos do longa.
Direção de arte, figurino e fotografia. São as três coisas que se salvam neste filme, que parece não se decidir sobre o que será. Antes de tudo, é sobre a Rainha Má ou sobre Branca de Neve? A narração da rainha deixa bem claro no começo que a história é sobre ela, por mais que os eventos que seguem provem o contrário.
Alguém poderia argumentar que o fato da controvérsia acima apontada faz parte da natureza irônica e satírica do longa, mas esse é outro fator que se perde ao longo da narrativa extremamente desfocada: é um filme que visa satirizar a história de Branca de Neve? É uma tentativa de contar a história do ponto de vista da Rainha? Uma reimaginação mais obscura seguindo a linha dos recentes A Garota da Capa Vermelha e Branca de Neve e o Caçador? Ou uma comédia leve e cartunesca? O diretor Tarsem Singh e os roteiristas tentam fazer com que o filme seja tudo ao mesmo tempo, falhando miseravelmente.
Como já mencionado, a direção de arte e figurino não falham. A forma como a Rainha usa o amarelo 100% do tempo, para ressaltar para os outros personagens uma abundante riqueza (que ela não tem mais) e também como o castelo e alguns asseclas usam a mesma cor deixa evidente a forma da Rainha mostrar o que pertence a ela. A direção de arte também não economiza na grandeza do castelo e as luxúrias por ele espalhados, como tapeçarias e muitos guardas com armaduras. Em contrapartida, a casa dos sete anões não é nada além de pequena, mas com cores quentes e aconchegantes
Por outro lado, as qualidades empalidecem diante dos diversos problemas já mencionados. Quando o Príncipe e seus amigos são saqueados, a gag que corta direto para o castelo com todos eles de cuecas, indicando que levaram tudo já não funciona na primeira vez, e ainda assim é repetida mais duas ou três vezes, e se torna cada vez mais previsível e cansativa a cada nova tentativa. De forma similar, a direção extremamente equivocada erra amadoramente em cenas como a montagem que mostra o treinamento de Branca de Neve com os anões: são várias cenas onde ela não sabe nada, mas ao contrário do que espera o espectador, ela não vai aprendendo à medida em que a montagem progride. Singh parece preferir mostrar as trapalhadas de Branca de Neve cometendo erros e só no fim deixar claro que ela aprendeu tudo que devia, mesmo que o filme não tenha mostrado.
A indecisão entre um filme sério mas divertido ou caricato e bobo também irrita: afinal qual o sentido de mudar os nomes dos sete anões para parecerem mais críveis se cenas cartunescas como o brilho no sorriso do Príncipe ocorrem o tempo todo no longa?
Mas a brincadeira toda chega a outro nível quando, num clímax abrupto e risível, Branca de Neve simplesmente olha para todos e começa a cantar uma canção com batidas que remetem ao cinema indiano de Bollywood. Singh mandando um alô pra seu país?
Se o tom do filme permaneceu indefinido até aqui, porque não inserir mais um elemento absurdo? Eu teria parado de assistir, mas já era o fim mesmo e toda a vergonha alheia já tinha sido sentida.
As comédias sobre festas em casa na ausência dos pais agora vão ter que suar a camisa se quiserem ser diferentes.
A trama não é nova e bem simples. Admito que no começo estava bastante cético, pois muitos elementos do filme eram grandes hypes que já pareciam ter dado tudo o que tinham que dar: além da óbvia festa sem autorização, toda a hierarquia da escola e a incansável busca pela popularidade dos losers, ainda tinham adicionado à mistura o famigerado mockumentary e o bromance popularizado com Hangover. Mas funciona. Por três fatores muito simples: a) o diretor Nima Nourizadeh consegue capturar o espírito de festa de forma muito bem-sucedida. A câmera em primeira pessoa aproxima o espectador da situação e a mudança durante a festa para as câmeras de outras pessoas e celulares passam a clara impressão de que todos estão se divertindo e querem guardar um pouco daquilo tudo na lembrança. b) o protagonista é relutante e responsável por cuidar de coisas que todos nós já tivemos de manter inteiras, como o cão e o carro do pai, sem falar na própria casa. c) o espectador nunca - NUNCA - está preparado para os níveis de loucura que os roteiristas estão dispostos a chegar. Essa é uma das grandes vantagens de se ver um filme sem ter visto o trailer: eu sinceramente achava que ia ser um Superbad com câmera de mão, e como fiquei feliz em constatar que estava errado. Meus olhos só se arregalavam mais e mais à medida em que as coisas saíam do controle e eu ia ficando tão desesperado quanto Thomas. Você espera que uma coisa ou outra se quebre numa festa private, mas Matt Drake e Michael Bacall levaram as maluquices até onde nenhum homem jamais ousou levar. Quanto mais as coisas saem de controle, mais dfivertido tudo fica.
A parte triste foi ver que os roteiristas perderam uma oportunidade de ouro em mostrar a roupa de incineração e o maçarico na casa do louco quando os meninos vão pegar os fogos, sem falar que, já que o plano era trazê-lo de volta mais tarde no filme, podiam ter explorado mais sua loucura. O resultado é que quando ele aparece disparando chamas em cima do teto de um carro, você entende que a coisa está toda muito além do controle de qualquer um ali, mas não deixa de pensar que aquilo foi forçado demais até para os padrões de Projeto X. Também é desnecessária a mistificação em torno do personagem Dax, que segura a câmera. Já que aparece raramente e o espectador não sabe quase nada sobre ele, quando contam o que aconteceu com cada um depois, sugere-se que ele é algum tipo de psicopata que não tem nada a ver com o tom do filme.
Gostei da ousadia da história. Na verdade, gosto de como a história tem progredido. Geralmente, filmes de vampiros se passam no presente com flashbacks de quando as criaturas eram humanas, décadas, séculos ou milênios atrás. Raramente vemos filmes do gênero no futuro, ou melhor ainda, que começam no presente e tem um salto temporal sem se tratar de um flashforward, visão ou algo do tipo. Também gosto do fato de que, na época do primeiro filme, ele era definido como um Matrix com vampiros, mas ainda assim o estilo e a visão permaneceram, e agora que a trilogia Matrix não passa de uma lembrança, sobrou espaço para que o filme seja uma ótima ação com roupas de vinil e algumas câmeras lentas ocasionais. Kate Backinsale está mais confortável do que nunca no papel, e a decisão dos roteiristas de fazer a história sobre Selene e nada mais é muito acertada. O filme é dinâmico, as tramas se amarram bem (se você analisar todas as histórias, todas têm a ver com ela no fim das contas) e é tudo bem rapidinho. Os roteiristas sabem que, a essa altura, não precisam tirar leite de pedra e enrolar com tramas desnecessárias. Não gostei, no entanto,
do fato de que Selena tem mais poderes que dessa vez a permitem andar na luz do sol mas não fica muito claro o porquê. Sem dizer que ela vai de zero a grávida quando a congelam e ninguém tem muito a dizer sobre o assunto, o que me faz crer que talvez a filha não seja dela e por isso que essa ponta foi deixada solta. Maurice também não foi visto após ter sido descongelado e isso também pode ter algo a ver,
Um insulto à minha inteligência em forma de comédia. São tantas coisas que tenho dificuldade de organizar minhas ideias, mas vou tentar. A maioria das piadas são previsíveis muito antes de acontecerem, tipo quando Dennis é informado de que tem que correr representando algum tipo de instituição de caridade, você simplesmente sabe que ele vai correr pela Disfunção Erétil. E quando você acha que não dá pra piorar, a coisa descamba para a escatologia generalizada, com uma piada de bolha nos pés que surge do nada e some do nada com o único propósito de fazer a bolha estourar na cara de alguém, coisa que também se prevê desde o momento em que a bolha irracionalmente grande surge na tela.
E o que dizer sobre a péssima construção de personagens? Primeiro, Michael Ian Black e Simon Pegg querem que você se identifique com um cara que é extremamente infantil e que não aparenta sentir nenhum remorso pelo que fez, tanto que só se move para conseguir a ex-noiva de volta ao primeiro sinal de que há outro homem na vida dela, uma versão do clássico "só quero o meu brinquedo porque você está brincando com ele." Outros indícios do comportamento infantil e irritante de Dennis se mostram durante o filme, quando mostra o dedo médio para Whit quando este não está olhando, vai até o trabalho de Libby e exige a atenção dela, mesmo que ela esteja visivelmente ocupada, entre outras.
O filme faz questão de frisar que, como o espectador está pensando, uma corrida de alguns quilômetros não é razão para se perdoar o que Dennis fez com a noiva no início do filme, e qual o artifício imbecil e maniqueísta que usa para justificar a mudança de opinião de Libby? Transformar Whit que, no começo do filme é um cara legal, numa figura impaciente e trapaceira que só nos faz pensar que o problema e com Libby, que tem um péssimo gosto para homens.
A "estrutura", no entanto, é a parte mais canalha de todo o longa. Incapazes de criarem situações que façam o espectador comprar toda a mudança de Libby, os roteiristas inserem diversos acontecimentos e falas que eles acreditam serem justificativas aceitáveis, a começar por quando o garoto tem o coração partido pela menina da escola e foge de casa (?). Nem vou discutir por que o menino fugiria de um lugar onde se sente seguro por motivos alheios àquele lugar, chega a ser revoltante perceber que toda a situação só foi criada para que Dennis dissesse para o filho que quando as coisas difíceis acontecem, não se deve fugir de tudo, só pro garoto rebater com o clichê "Não é isso que você faz?"
Depois, incapazes de ilustrar a indecisão de Libby diante dos homens de forma eficiente, quando os dois se acidentam durante a corrida, ela vê pela televisão e grita "Dennis! Quer dizer, Whit!" Sério?
E, finalmente, a direção óbvia de David Schwimmer. Ele tenta fazer o público se identificar com Dennis colocando-o como underdog de toda a situação: como se não bastasse o emprego e casa inferiores ao rival, ele põe de forma nada sutil no início da corrida uma lebre e uma tartaruga atrás dos dois (nem preciso dizer quem atrás de quem) e depois o roteiro ainda bebe na fonte do conto de fadas, deixando os dois incapacitados, mas só a "tartaruga" tem a força de vontade para prosseguir, apesar da "lebre" ter condições de continuar mas preferir fingir que está impossiblitada de continuar. Importante notar que, mesmo sabendo que o evento estava sendo televisionado e que os dois tinham caído diante de uma câmera, Whit ainda escolhe mentir, adicionando "imbecilidade de último minuto" à lista de artifícios usados para vilanizar o personagem.
Depois, Schwimmer subestima a inteligência do espectador como nunca antes. Desde o começo do longa, e mesmo com todas as incompetências acima mencionadas e tantas outras não mencionadas, o espectador sabe que a corrida representa a transformação do caráter(?) de Dennis Doyle e que obviamente terminar o percurso significa um novo começo para ele e sua família. Mas não. Schwimmer sai do seu caminho para colocar Libby e Jake na linha de chegada, e ainda os enquadra de forma a ficarem no local onde deveria ficar a fita que os atletas arrebentam. Quando Dennis cai, todos gritam para que ele se levante e siga em frente, mas alguns que estão a seu lado esquerdo (os jogadores de pôquer que de repente viram membros da máfia de forma tão absurda que prefiro nem comentar) tentam desestimulá-lo. Enquanto isso, Libby e Jake veem seu ex-noivo e pai caído no chão e nada fazem, porque de repente o simbolismo que indica que ele tem que terminar a corrida para conseguir a reconquistá-los é mais importante do que a coerência dos personagens. Ou da história, porque o longa prefere concluir toda a confusão de forma "adulta" e fazer parecer que, apesar de tudo, Libby não ficou com Dennis imediatamente após o fim da corrida. E é dessa forma muito adulta que a última cena do longa é uma bunda grande e branca olhando para a tela depois de uma piadinha dispensável. O que vale nisso tudo? Simon Pegg algumas vezes consegue fazer algumas piadas funcionarem e algumo vestígio de direção se vê quando ele acerta a Parede e cada batida que ele dá leva a um flashback de suas falhas no passado.
Quando vi o original, ficou muito evidente pra mim que Tron era um filme pra ser feito no século 21. Mais ainda, um filme que deveria ser feito mais ou menos de duas em duas décadas, tempo suficiente pra tecnologia evoluir de forma que o deixasse visualmente arrebatador. Portanto, quando fui conferir Tron: Legacy, eu só esperava duas coisas dele - um visual de tirar o fôlego e ótimas cenas de ação pontuadas por Daft Punk martelando os alto-falantes a todo volume. O visual fez tudo que eu esperava que fizesse. As muitas cores e luzes deixam a fotografia com uma aparência clean e futurística, além de fazer o espectador acreditar que não há nada que os computadores e videogames de hoje em dia não possam fazer, ao contrário da versão "quadrada" (mas obviamente apropriada) de 1981. A corrida com as motos é visualmente animadora e consegue passar a impressão de alta velocidade, algo jamais alcançado no original. E, ao mesmo tempo, a direção de arte mostra um claro respeito pelo predecessor, deixando o "esqueleto" do jogo parecido com o original e as naves e jogadores com o mesmo design, só um pouco mais evoluído. A escolha de usar a captura de performance ao invés do programa que rejuvenesce os atores para fazer um jovem Jeff Bridges incomoda um pouco mas faz sentido, uma vez que os atos de sua versão jovem não se resumem a close-ups e poucas cenas. Contudo, é definitivamente estranho ver um personagem quase inteiramente digital transitando e interagindo com outros claramente de carne e osso, e isso tira um pouco da atenção das cenas com Clu (e não são poucas). O fiapo de trama no mundo real não sustenta toda a brincadeira no video game, mas no filme original a situação toda era bem mais inverossímil. Aqui, ao menos, existe uma tentativa de dar mais dimensão tanto a Kevin Flynn quanto a seu filho, numa sequência inicial nos anos 80 que, apesar de clichê, estabelece bastante o cenário para o que virá a seguir e responde logo de cara o que aconteceu no intervalo de tempo entre os filmes. O mais frustrante, porém, é a trilha sonora. Daft Punk é uma banda conhecida por construir músicas com letras repetitivas e divertidas que grudam imediatamente no cérebro de quem escuta, além de instrumentais dançantes e inesquecíveis. Aqui, no entanto, tudo que ouvimos são alguns samples bem básicos que, ao contrário de aumentarem a emoção das cenas de ação, só as deixam mais vazias e menos divertidas. E fica claro que a banda foi muito mal aproveitada (ou fez um trabalho ruim) quando, numa cena que se passa numa boate - ou seja, o melhor momento para se ter música alta e dançante - e, mais uma vez, o que temos são samples rapidamente cortados. A intenção do diretor Joseph Kosinski é clara: deixar o Daft Punk um pouco de lado para dar mais espaço à tensão das cenas que criou. O problema é que nunca realmente se teme pelo destino dos personagens, uma vez que o mundo em que estão vivendo não é real e o filme nem se importa em flertar com o que poderia acontecer se um deles morresse dentro do jogo. Contudo, a diversão vale e o visual quase - quase - consegue deixar as duas horas passarem despercebidas.
Uma das coisas mais interessantes do longa foi a oportunidade de se ter uma ideia de como funciona o sistema jurídico do Irã e nossa! Que surpresa! Quando se pensa num país onde a tradição manda as mulheres se cobrirem na presença de homens, jamais se imaginaria (pelo menos EU não imaginava) que os processos eram tão abertos a discussão e interpretação por parte dos envolvidos. Então o filme já seria bom só por isso. Contudo, ele vai obviamente mais além e discute vários ótimos temas, um deles ainda na questão da religião - Razieh não sabia que cuidar do pai de Nader iria entrar em conflito com a religião, tanto que liga para o callcenter para tirar dúvidas e aí surge a pergunta mais importante do filme: de quem é a culpa?
Razieh se sentia claramente culpada por ter implorado pelo emprego e depois ter de lidar com a falta de compromisso do marido, ao mesmo tempo está grávida e o serviço exige muito esforço de sua parte. Nader, nós descobrimos, sabia que ela estava grávida e a própria Razieh não tem certeza se foi o empurrão que causou o aborto.
. O filme não se importa em tomar partidos - apresenta os fatos e deixa claro que os personagens são todos vítimas - seja de suas próprias irritações, hesitações ou distrações - jogadas numa situação francamente impossível de se resolver. As atuações são formidáveis e o roteiro dá espaço para todos, até as filhas dos protagonistas (e também como acabam sendo vítimas dos desentendimentos entre os adultos). Vi muitas pessoas aqui reclamando do final, que não respondem
se Termeh escolhe ficar com o pai ou com a mãe, mas... importa? O foco aqui, em minha opinião, é a confusão da menina, que ama os dois e que no começo do filme, tinha certeza de que estava sendo abandonada pela mãe e que o pai a amava mais, mas então ela descobre que o pai mentiu e pode ter causado uma coisa horrível, e ainda a fez se sentir obrigada a mentir diante da justiça por ele. Além de tudo ela tem de lidar com o fato de que seus pais estão se separando! A expressão de clara dor e conflito no rosto da ótima atriz no final não tornam irrelevante saber quem ela escolheu? Para mim, sim.
É fácil entender porque as pessoas da época podem ter gostado desse filme, mas, verdade seja dita, ele é um reflexo dos video games da época: pouco imaginativo, com direção de arte quase zero e uma trilha bastante irregular que falha em todos os momentos de suspense do longa. Se levarmos em consideração De Volta Para o Futuro, que saiu apenas 3 anos depois, esse filme parece não se arriscar muito e nem se preocupar em ficar permanentemente marcado na memória dos cinéfilos. Em contrapartida, temos aqui algumas sequências de corrida de moto e "naves" que jamais passam a ilusão de velocidade devido a falta de elementos no cenário que passem a impressão. Contudo, acho também que é um bom filme-pipoca, quando se consegue relevar a trilha em seus piores momentos e os motivos já citados, realmente dá pra se importar com alguns personagens (mas não temer pelo destino deles
já que perto do fim um deles "morre" de uma forma tão desconsiderada que o roteiro se esquece menos de cinco segundos depois
) e o carisma de Jeff Bridges sempre ajuda. Ainda não vi a continuação(?), mas acho que definitivamente 2010 foi um ótimo ano para se fazer um filme desse tipo, e Daft Punk na trilha mostra que aprenderam qual o caminho a se seguir.
Gosto do fato de que não se prende às questões que ficam pipocando na cabeça de quem assiste: como eles chegaram ali? O que aquilo representa? Por que aquelas pessoas foram escolhidas? O filme não cria expectativas sobre si mesmo por não "martelar" nessas questões repetidamente, e consegue convencer ao espectador a simplesmente acompanhar e ver no que vai dar, e depois tirar suas próprias conclusões. As atuações variam do horrível ao exagerado, com raríssimas exceções, mas é suficientemente intrigante e imaginativo para que esse tipo de detalhe não comprometa a obra.
Um amontoado de clichês, humor pastelão e atuações caricatas ainda mais irritantes que do primeiro filme. É como se soubessem que não tem como traduzir a graça dos livros pro cinema então nem tentam e preferem só usar o nome pra fazer algum dinheiro. Só se salva desse desastre o Fragley, exatamente no tom que deveria ser, enquanto todo o resto só soa exagerado e despropositado. Façam um favor a vocês mesmos e LEIAM OS LIVROS. São engraçados onde você ri, e não "engraçado" como na sessão da tarde.
A primeira hora é ótima, mostrando o dia-a-dia no cassino e quem faz o quê, além de uma ótima apresentação de personagens com voice-over duplo, coisa rara no cinema. Atuações ótimas de Joe Pesci e Robert DeNiro, como sempre, e é interessantíssimo ver as personalidades conflitantes dos dois e nada difícil presumir como aquilo tudo vai terminar. Sharon Stone está no melhor papel de sua carreira, seduz e irrita quando quer sem parecer fazer muito esforço (a cena em que ela fica batendo seu carro no carro de Ace pra chamar sua atenção é uma das melhores). Como disse, é muito bom aprender sobre como funciona em determinado local, o que fica por baixo dos panos e a forma como o roteiro prova a máxima de "a casa NUNCA perde", e por duas horas isso funciona muito bem. O que me incomodou foi que, na hora final
quando tudo começa a ir por água abaixo, Scorsese parece se dar conta de que não vai haver tempo suficiente pra concluir a história e tudo fica tão absurdamente corrido que destoa o ritmo do filme. Eu sei que a ideia é que tudo fique mais agitado devido às circunstâncias, mas daí a não ter NENHUMA cena de transição? Os personagens decidem ir do ponto A pro ponto B e o corte de um lugar para o outro leva 1 segundo, e isso se repete várias vezes. Além disso, Scorsese e Pileggi parecem de repente não ter critério sobre quem tem direito a fazer narração, e deixam qualquer personagem de repente se comunicar com o espectador numa estratégia preguiçosa de explicar as atitudes sem ter que mostrar suas razões por meio de ações ou mesmo por diálogos expositivos. Mas me senti verdadeiramente traído quando o carro de Ace finalmente explode e você descobre que Scorsese usou um artifício digno de Heroes: nos mostrou o protagonista no carro quando explode e fez a narração nos lembrar ao longo do filme que ele explodiu junto pelo menos umas duas vezes para, mais de duas horas depois dizer que não foi bem assim, ele saiu com o braço em chamas ANTES do carro explodir, ou seja, aquele início impactante foi total bullshit. Aí não dá.
Apesar disso, é um bom filme, Scorsese consegue uns ótimos movimentos de câmera (como quando Ace se abaixa e finge mexer no carpete para descobrir qual era a técnica de um cara excessivamente vitorioso no cassino) e enquadramentos (a cena em que Ginger fala com Ace ao telefone e, no canto mostra a relação entre a filha dos dois e um outro personagem é ótima) e os personagens são muito bem desenvolvidos antes de tudo aquilo que já falei. E, por causa disso, as duas primeiras horas passam voando, a terceira é que dá pra sentir, mas também não é difícil de aturar.
Risível. O diretor Rodrigo Garcia e a própria Glenn Close, junto com o roteirista John Banville, tentam constantemente sabotar as atuações da própria Close e Janet McTeer (que, francamente, imagino que NINGUÉM tenha desconfiado que não era homem exceto por Albert Nobbs). O filme traz Nobbs repetidas vezes falando em voz alta quanto ganhou de gorjeta por quem e quanto falta para o quê num exercício de exposição mais irritante do que as das novelas. O que dizer, por exemplo, da cena em que dois personagens se abraçam, começa a nevar, a câmera pega a reação dos dois e um deles diz, desnecessariamente: "Está nevando"? O que mais incomoda é que em cenas como essa da neve, TUDO está diante do espectador na enorme tela do cinema, e não existe a mínima necessidade de diálogo expositivo, sem falar que descaracteriza o personagem: Albert Nobbs é justificadamente reservado, contido e tímido, e seria mais íntegro se ficasse mais tempo calado, apesar da ótima construção feita por Glenn Close. No começo, o filme parece se contentar em reduzir seus personagens a meras caricaturas - o médico safado, a dona do hotel cheia de tiradinhas engraçadas, o bon vivant (num desperdício total de Jonathan Rhys-Meyers). Depois, Garcia e os roteiristas parecem tão inseguros acerca da habilidade de Close em se passar por homem que inserem no longa diálogos do tipo "Você é um homem estranho, Albert Nobbs" e "Por que você não veio fantasiado para a festa?" - e isso se repete INÚMERAS vezes. Como se não bastasse, em dado momento o longa simplesmente se esquece de seu protagonista (que dá nome ao filme, for fuck's sake) e passa um bom tempo
mostrando as tramóias (de novo, novelescas) de Joe e Helen para conseguirem presentes e dinheiro de Nobbs. Depois ele fica doente e aí mesmo que o filme perde o foco, transformando a dona do hotel numa pessoa cruel e sem valores, reforçando a inutilidade do médico e vitimizando Helen (Mia Wasikowska em péssima atuação, diga-se, principalmente no momento em que dá pequenos socos em Nobbs), dando a personagens inúteis tanta importância que o filme continua por mais de dez minutos após a morte de Nobbs para dar 'closure' a todos eles. Inútil.
O que salva o filme é evidentemente a atuação de Close e McTeer, além da óbvia ótima maquiagem e direção de arte competente, mas nada disso salva os erros irreparáveis do longa.
Alexandre e o Dia Terrível, Horrível, Espantoso e Horroroso
3.2 344 Assista AgoraDifícil entender como a Disney pode ter amadurecido tanto em filmes de animação (vide Big Hero 6) e ainda tenha a caraça de produzir um filme de roteiro genérico que está condenado a virar uma sessão da tarde "legalzinha". Previsível, clichê e nada criativo, teria passado completamente despercebido, caso não tivesse nomes relevantes (e que, no fim das contas, não acrescentam nada) envolvidos.
Boyhood: Da Infância à Juventude
4.0 3,7K Assista AgoraO texto a seguir contém spoilers leves que não revelam nada sobre o enredo do filme:
É estranho dizer isso, mas a falta de diálogos memoráveis em Boyhood é um grande mérito. Não que não haja exceções, é claro. Quando a mãe de Mason resolve desabafar sobre como a vida passa rápido e logo, logo vai ser o seu funeral, o texto todo é excelente, e existem muitos outros momentos bons de reflexão no filme.
Mas grande parte dos diálogos do filme são, literalmente, sobre nada. E isso não é um problema. Boyhood, é claro, é sobre a vida e como ela passa diante dos nossos olhos sem nunca parar devido a problemas de um indivíduo.
Acompanhar o crescimento físico ou psicológico de um personagem nas telas é sempre uma experiência interessante. Os fãs de Harry Potter assistiram a isso ao longo de dez anos e oito filmes - e quem assistiu a Boyhood sabem que não menciono as aventuras do bruxo por acaso - e agora vemos o jovem Mason viver sua vida dos 5 aos 18 anos de idade, passando por experiências que a maioria de nós também passou e tentando entender qual o propósito da vida.
O legal de se acompanhar um projeto como esse é que alguns acontecimentos ganham muito mais força porque o contexto do tempo fica impresso de forma muito mais eficaz que em longas normais. Observe, por exemplo, a incrível trajetória da mãe de Mason, que vive boa parte dos 12 anos do filme tomando decisões complicadas certas e erradas que afetam todo o rumo de sua vida. E assisti-la em seu novo apartamento despachando seu filho para a faculdade tem o peso emocional que Richard Linklater queria porque nós sabemos exatamente de sua luta para chegar até ali.
O menino Ellar Coltrane consegue segurar bem o fardo de ser o protagonista de uma produção desta magnitude. Sua atuação é majoritariamente boa, com algumas exceções comuns a crianças que estão aprendendo a atuar - a diferença é que outras crianças tiveram a chance e cometer esses erros longe das câmeras -, mais nenhum desses probleminhas atrapalha o andamento do longa.
Os personagens têm igual importância, e é ótimo vislumbrá-los em diferentes momentos de suas vidas - mais notadamente a irmã de Mason, Samantha, que passa por várias fases e evidencia que existem vários filmes acontecendo ao mesmo tempo durante Boyhood.
Finalmente, a trilha sonora é muito bem escolhida e, junto com a montagem e o roteiro, ajudam o espectador a situar mais ou menos em que ano os eventos aconteceram, escolhendo momentos-chave mas sutis da história, como a campanha presidencial de Obama, o show da cantora Lady Gaga no ápice da fama, entre outros.
No fim, se um filme comum tem o poder de nos fazer sentir que acompanhamos a vida toda de um determinado personagem, Boyhood é a epítome desse poder, pois expõe a vida como ela é, nos faz refletir e olhar nostalgicamente sobre nossos próprios momentos similares aos vividos por Mason e só deixa claro, como o pai de Mason diz em certo momento, que "ninguém sabe sobre o que é a vida. Estamos todos só improvisando."
Garota Exemplar
4.2 5,0K Assista AgoraExiste um momento em Gone Girl onde Amy se senta ao lado de seu marido na cama, claramente querendo indicar que tudo está em paz porque ela está ali ao seu lado. A cena seria igual a muitas outras já feitas, exceto pelo fato de que o quarto está parcialmente escuro e Amy fica completamente na penumbra, de modo que apenas sua silhueta é visível. A cena simples mas engenhosa traduz bem o tom de Garota Exemplar, assim como a eficiente direção de David Fincher.
Nunca fui muito fã de Rosamund Pike. Sempre a achei bem sem sal e com performances nada marcantes, mas aqui ela parece finalmente ter encontrado seu lugar. Primeiro porque esse é justamente o que move a personagem: passar despercebida e ser aquela em quem você não pensa muito depois de ter conversado. Depois, porque esse tipo de personalidade oferece um contraponto perfeito para algumas outras atitudes de Amy.
As escolhas de elenco são tão bizarras quanto o rumo que o filme toma, mas, assim como a trama, elas funcionam de forma estranha e surpreendente. Tyler Perry surge convincente como o "advogado de causas perdidas" e é um alívio cômico bem vindo no meio de todo o suspense. Ben Affleck, que já melhorou muito com o passar dos anos, está confortável na pele de Nick Dunne, um babaca - não há outra palavra - que é forçado a pensar rápida e logicamente de forma cada vez mais urgente. Não ficaria surpreso se Neil Patrick Harris começasse a dançar e cantar ou fizesse alguma piada, mas sua composição é bem calculada e deixa transparecer a natureza obsessiva e lunática de Desi Collings sem nenhum tom cômico.
A trilha de Trent Reznor e Atticus Ross é outro ponto alto do filme. Assim como os personagens, ela surge calma e contida durante a maior parte do tempo, mas também acaba se entregando a momentos de descontrole e histeria que pontuam muito bem o desespero silencioso vivido pela maioria dos personagens.
Por fim, só me incomodou um pouco
a fuga de Amy da mansão de Desi. Comprei que havia pontos cegos no sistema de vigilância da casa, mas as coisas que ela faz para simular ter sido violentada por ele certamente foram capturadas por algumas câmeras. Qualquer investigador que decidisse examinar a história de Amy um pouco mais a fundo encontraria inconsistências mais que imediatamente. É claro que o roteiro indica isso quando ela é interrogada no hospital, mas acho que faltou um avanço nessa parte da trama, por mais que o final indique que aquilo tudo seja só o começo de mais uma série de eventos.
Na Mira da Morte
2.4 169Só faltou o barulho do peão do baú tocar quando ela lutava.
Killer Joe: Matador de Aluguel
3.6 880 Assista AgoraFilmão. Mas é preciso ter estômago e aceitar que você nunca mais vai ver coxa de frango frita da mesma maneira.
A trama não é nada complicada e bem fácil de acompanhar e comprar: você não precisa passar muito tempo com aquelas pessoas pra acreditar que encomendariam o assassinato de alguém para ficar com o dinheiro. Da mesma forma, não é difícil se colocar no lugar deles em determinadas situações:
Chris estava totalmente desesperado e afundado em dívidas, com a própria vida em risco, com poucas opções de saída. Eu obviamente não estou dizendo que a solução que ele encontrou é adequada, mas condiz perfeitamente com o caráter da personagem. Da mesma forma, Ansel não reage ao ver sua esposa ser brutalmente espancada e humilhada, não só porque acabou de descobrir que foi traído das duas piores formas, mas também porque ao longo do filme o roteiro deixou bastante claro de que ele é incapaz de tomar as rédeas de qualquer situação, principalmente uma que possa trazer consequências pra si mesmo. Dottie atira e mata todas(?) as pessoas na sua vida. Pessoas que abusaram dela desde o seu nascimento e que tomam decisões acerca do que fazer com o seu corpo por ela. Para nós que passamos quase 2h acompanhando o sofrimento da menina, não é nada difícil entender as motivações e reações dela.
E, por mais que haja violência (mal coreografada), sangue e hematomas (mal feitos) e cenas bizarras de felação em frituras, nada é mais chocante que a verdade: a história soa totalmente plausível para o mundo em que vivemos hoje. Basta assistir/ler qualquer jornal diário.
A Origem dos Guardiões
4.0 1,5K Assista AgoraDesign de produção muito além do que se vê normalmente em animações (ou em filmes live-action, a propósito). Cada quadro é uma obra de arte a ser examinada, e fiquei realmente encantado com o visual dos personagens, principalmente o Sandman. Contudo, o roteiro é bem capenguinha, principalmente porque falha em estabelecer: eles são guardiões do quê? Da inocência infantil? Das datas comemorativas? Da infância? Dos medos de crianças? Todos os anteriores é uma resposta válida, mas isso só evidencia o maior problema do longa: falta de foco.
O vilão é super genérico e sem nenhum tipo de história para que suas motivações e propósitos fiquem mais claras. As "regras" de seus poderes também são uma grande bagunça: ás vezes ele pode aparecer em qualquer lugar a qualquer hora e ás vezes precisa fugir a pé ou se deslocar para chegar a determinado ponto.
A falta de foco dos roteiristas só fica mais evidente à medida que o filme progride. A certa altura, enquanto tenta manipular Jack Frost, Pitch diz que os Guardiões "nunca vão aceitá-lo." Oi? Há alguns minutos atrás os próprios Guardiões estavam correndo desesperadamente atrás de Jack para que ele fizesse parte da equipe e ELE é que não queria participar! Contudo, a manipulação de alguma forma funciona e o joga numa espiral de dúvidas e questionamentos-padrão em filmes do gênero.
É triste se dar conta, ao final da projeção, que o argumento do filme é uma grande metáfora para o seu visual: enche os olhos, mas falta conteúdo. Representar figuras folclóricas de forma inusitada já perdeu a novidade e virou tão lugar-comum que figuras como o Coelho agindo como um agente relutante soam mais aborrecidas que divertidas em diversos momentos.
Isso não significa que odiei o filme. Achei bastante divertido, até. Mas, por mais que eu tenha amado o visual e definitivamente vá voltar para conferi-lo outras vezes, vou escolher conteúdo sempre que algo melhor estiver disponível.
Último Samurai
1.6 48 Assista AgoraAlívio cômico forçadíssimo, atuações que variam do mediano ao vergonhoso, um vilão que nem finge que não é uma mistura de Darth Vader com Sauron e máscara de stormtrooper.
A esposa de Hirokin é "assassinada" da forma mais cretina já vista numa tentativa de enganar o espectador
no fim o vilão deixa as portas da cidade abertas pra ser invadido e massacrado pelos gigs que não têm nenhuma dificuldade em invadir...
Loucamente Apaixonados
3.5 1,2K Assista AgoraLoucamente Apaixonados porcaria nenhuma.
O filme parece ter sido feito por dois adolescentes perdidamente apaixonados que preferem cenas de beijo e abraço a diálogos. Nenhum problema com isso, desde que não tomasse mais ou menos 40 minutos de filme. Precisava disso tudo mesmo?
Sem falar que os dois adolescentes apaixonados que fizeram o filme não são essas duas figuras extremamente egoístas que não gostam de encarar as consequências das atitudes que tomam, agem por impulso e, ao primeiro sinal de que as coisas podem não dar certo, desistem um do outro e decidem seguir outro caminho. Isso não é ser loucamente apaixonado. Pelo menos eu não acredito. Achava que o filme seria uma história sobre como um casal que passa por um milhão de dificuldades não desiste de ficar junto jamais, mas, depois de aguentar horas de cenas ultrarromânticas que só servem pra mostrar como os dois sentiam paixão e não amor, fica difícil torcer por eles quando eles não têm a mínima boa vontade de manter o relacionamento a distância, mudar de país para ficar um com o outro ou fazer qualquer coisa que pessoas loucamente apaixonadas fazem.
As Vantagens de Ser Invisível
4.2 6,9K Assista AgoraAchei comum. Durante boa parte da duração, não tem nada que realmente o diferencie de outros filmes com temáticas parecidas e a relação entre os personagens não é nem de longe tão boa quanto visto no recente On the Road, por exemplo. Emma Watson tem muitos probleminhas de atuação e precisa de um diretor de mão firme para controlar alguns de seus exageros. Não estou dizendo, contudo, que é um filme ruim. Eu não sabia que Logan Lerman (que era tão sem sal em 'Percy Jackson') era capaz de uma atuação tão boa e muitíssimo bem dosada. Eu fiquei o filme todo hipnotizado com o vigor do garoto, e feliz de verdade de constatar que não é mais um menininho qualquer de Hollywood. E isso é dizer muita coisa, já que o filme e sobre ele e mais ninguém, portanto, se ele fosse o elo fraco, muitas coisas não funcionariam (além das que já não funcionam).
Não gostei de ver temas que podiam render ótimas discussões serem deixados em último plano, como a relação da personagem de Nina Dobrev com o namorado ou quando Sam revela que seu primeiro beijo foi aos 11 anos com uma pessoa extremamente inesperada.
Contudo, é nos minutos finais que o filme mostra a que veio, com uma informação bombástica que muda toda a forma com que se enxergava o filme até ali. A sequência é confusa e faltou competência na montagem por parte do diretor Stephen Chbosky, mas a força da revelação é tanta que nem isso diminui seu impacto para a plateia completamente despreparada. Ali, sim, foi um momento extremamente emocional e sincero que, infelizmente, não está presente no filme inteiro.
Políssia
4.0 273Não tenho exatamente uma nota para esse filme. Talvez tenha que digerir um pouco. Ao mesmo tempo em que entendo todas as situações por quais aqueles profissionais passam e por que isso mexe com suas cabeças dentro e fora do trabalho, achei extremamente improvável que um grupo extremamente não profissional e desequilibrado pudesse ficar tanto tempo em seus cargos. É uma coisa horrível, o que aqueles criminosos fazem? Sem dúvida. Mas existe uma forma de se lidar com as coisas e, a meu ver, qualquer advogado de defesa poderia usar a falta de autocontrole daquele povo para reduzir a pena de seus clientes.
E o que dizer de quando o grupo ri descontroladamente de uma menina que chupou uns garotos pra pegar seu celular de volta. Tão bizarro que chega a ser engraçado? Sim, mas acredito que o comportamento infantil deles naquele momento só os distanciou da menina e não passou a mensagem que deveria ser passada. Se eu tivesse que adivinhar, diria que a menina simplesmente voltou a fazer a mesma coisa só porque foi chamada até a delegacia para rirem da cara dela.
O Babá(Ca)
2.8 280 Assista AgoraNão entendo a necessidade das comédias atuais de exagerar em todo tipo de situação e que os personagens se encontram.
O texto a seguir tem spoilers leves, não sinalizei porque não atrapalham a "trama", mas se não quiser saber de nada não leia.
No começo, o filme engana e te faz acreditar que vai ser bastante bom, mostrando de forma competente os "territórios" de cada uma das crianças e o que cada uma delas representa sem parecer forçado ou exagerado. Não é difícil crer, por exemplo, que Rodrigo tem fogos de artifício escondidos no quarto, ou quando ele decide quebrar vasos entende-se a natureza atentada do personagem e é até interessante notar que mais tarde seu comportamento é explicado quando ele finalmente diz o que sente.
Contudo, os roteiristas incompetentes não percebem o potencial das crianças e não reparam que o filme todo podia se passar ali na casa, com os três. Uma vez que todos saem da casa, as falhas na direção e roteiro ficam óbvias: a pirotecnia de Rodrigo atinge níveis irracionalmente previsíveis (todo mundo sabe o que vai acontecer mas ninguém parece querer explicar como ele tem acesso ao material para fazer suas bombas) e como não são capazes de extrair situações extremas de crianças relativamente normais, os outros dois são basicamente esquecidos à medida que o longa prossegue.
Jonah Hill faz o que pode para salvar o seu personagem que, numa manobra inédita, se encaixa perfeitamente no título nacional do filme: é um babaca que se mete nas piores situações e não se importa em levar crianças para boates e locais de venda de drogas desde que isso signifique agradar a mulher que claramente não dá a mínima para ele.
A direção de atores é pífia. Cada um do elenco faz o que bem entente, o que resulta numa absoluta falta de tom e os personagens variam do exagerado ao caricato sem nenhuma nuance visível.
O roteiro, como já mencionado, é uma piada. Abandona a lógica em prol de algumas situações absurdas. Não basta todo lugar por qual os personagens passam ter que acabar destruído de alguma forma (loja de roupas, restaurante, loja de joias, apartamento da festa), os personagens secundários também não fazem sentido algum. A menina que estudou com Noah, além de onipresente, decide roubar a minivan sem motivo algum e depois a devolve porque eles "estavam quites" e depois vira a melhor amiga dele. O próprio Noah desabafa numa boate dizendo que sabe que era usado e que Marisa nem era sua namorada de verdade, só pra depois interromper um óbvio clima com a outra menina dizendo que "sua namorada" estava ligando numa tentativa ridícula de criar algum tipo de conflito entre os dois e deixar o espectador apreensivo com relação ao futuro dos dois (pfff).
Mas a coisa toda atinge proporções épicas quando Noah invade uma joalheria e a polícia não aparece, mesmo que ele erre a senha do alarme várias vezes e depois convenientemente se lembre da data de nascimento do garoto que é filho do adultério do pai e ele claramente não conhece.
Depois, ele é parado pela polícia e descobre que está sendo procurado por ter explodido um vaso sanitário (???), mas não importa, porque os policiais são claramente stand-up comedians disfarçados que preferem tentar roubar a cena (sem sucesso).
É alarmante constatar que as crianças são as personagens mais constantes e com alguma profundidade no filme todo, e são alguns momentos isolados com cada uma delas (Slater aprendendo sobre sexualidade, Rodrigo falando sobre adoção e todas as tentativas de Blithe parecer adulta), e esses momentos quase fazem o filme valer a pena. Mas aí surge uma cena como JB Smoove com a genitália em chamas (que não se apagam) e só me restou fechar os olhos e suspirar exasperado.
Velozes e Furiosos 4
3.4 572 Assista AgoraEu não lembro de nenhum dos outros Velozes e Furiosos. Lembro de fragmentos: um carro rosa, neón sob vários veículos, uma tentativa de filme desastrosa no Japão e carros, muitos carros. Então confesso que foi com um certo orgulho que eu percebi que lembrar das tramas dos filmes 1 e 2 não era absolutamente necessário e que os roteiristas Chris Morgan e Gary Scott Thompson preferiram fingir, como eu, que Desafio em Tóquio não existe. Tudo que você precisa saber é resumido em alguns poucos diálogos breves e esclarecedores. Outro grande feito do roteiro é parar de fingir que as pessoas vão para o filme esperando ver qualquer coisa além dos carros, então o ponto de partida foi "o que podemos fazer para que tudo isso acabe em uma corrida de carros?" ao invés do "vamos resolver isso numa corrida de carros." Percebeu a diferença? Já sabemos que Dom rouba mercadorias em movimento, então, caminhão quicando na rodovia à parte, a sequência não é gratuita e já mostra exatamente o que o filme será dali para a frente, se você conseguir relevar O'Conner quebrando o nariz de um colega de trabalho e ainda assim conseguir pegar o caso que tanto queria, a inutilidade de Jordana Brewster e alguns diálogos meio cafonas ("Você já se perguntou se você não é um cara ruim se fingindo de bom ao invés de um cara bom se fingindo de ruim?" "Todos os dias."), poderá observar que Justin Lin faz um trabalho e tanto de direção, conseguindo capturar cada momento das corridas, performances e peripécias dos carros e personagens em cenas de ação difíceis de se desviar o olho. A diversão vale muito a pena. E o final é ótimo.
A Mulher de Preto
3.0 2,9KUm ótimo filme sabotado pelo diretor. O clima é muitíssimo bem construído. Apesar do clichê de "ele vai para uma cidadezinha só passar o fim de semana e depois volta" e "ninguém na cidade pode falar sobre o que está acontecendo", a forma com que as coisas vão se desenrolando e como elas se relacionam com a cena inicial do longa são eficientes em despertar a curiosidade do espectador, e o protagonista (Dan Radcliffe, sem nenhum maneirismo ou trejeito de Harry Potter, vale ressaltar) é único no sentido de que ele não é amedrontado e se tem algo estranho acontecendo ele vai mesmo ver o que é, ao contrário da maioria dos protagonistas de filmes de terror, cuja índole amedrontada deveria guiá-los para o mais longe do terror possível.
No entanto, o filme é calmo e dá mais valor à trama do que aos sustos. Nenhum problema com isso, mas numa decisão que me soa mais como de estúdio ou de diretor do que de roteiro, sustos desnecessários acompanhados daquela irritante nota ridiculamente alta só fazem tirar a tensão do clima tão bem construído, pois James Watkins (e vários outros diretores) não parece entender que, no terror, menos é mais. Quanto menos sustos houver, mais tenso o espectador vai ficar. Se um susto desnecessário surge sem propósito nenhum a não ser pegar o espectador de surpresa, toda a tensão construída é descarregada. E, infelizmente, isso acontece muito aqui, tanto que tira o filme de "muito bom" para apenas "razoável".
Contudo, o final é um dos melhores dos filmes do gênero dos últimos anos. Acho fantástica a ideia de que Arthur descobriu qual era a da assombração da casa e qual seria um meio de se livrar dela, mas descobrir que estava errado e que sua tentativa fracassou é corajoso e imprevisível, ao contrário de todos os sustos do longa.
Espelho, Espelho Meu
2.8 1,8K Assista AgoraDireção de arte, figurino e fotografia. São as três coisas que se salvam neste filme, que parece não se decidir sobre o que será. Antes de tudo, é sobre a Rainha Má ou sobre Branca de Neve? A narração da rainha deixa bem claro no começo que a história é sobre ela, por mais que os eventos que seguem provem o contrário.
Alguém poderia argumentar que o fato da controvérsia acima apontada faz parte da natureza irônica e satírica do longa, mas esse é outro fator que se perde ao longo da narrativa extremamente desfocada: é um filme que visa satirizar a história de Branca de Neve? É uma tentativa de contar a história do ponto de vista da Rainha? Uma reimaginação mais obscura seguindo a linha dos recentes A Garota da Capa Vermelha e Branca de Neve e o Caçador? Ou uma comédia leve e cartunesca? O diretor Tarsem Singh e os roteiristas tentam fazer com que o filme seja tudo ao mesmo tempo, falhando miseravelmente.
Como já mencionado, a direção de arte e figurino não falham. A forma como a Rainha usa o amarelo 100% do tempo, para ressaltar para os outros personagens uma abundante riqueza (que ela não tem mais) e também como o castelo e alguns asseclas usam a mesma cor deixa evidente a forma da Rainha mostrar o que pertence a ela. A direção de arte também não economiza na grandeza do castelo e as luxúrias por ele espalhados, como tapeçarias e muitos guardas com armaduras. Em contrapartida, a casa dos sete anões não é nada além de pequena, mas com cores quentes e aconchegantes
Por outro lado, as qualidades empalidecem diante dos diversos problemas já mencionados. Quando o Príncipe e seus amigos são saqueados, a gag que corta direto para o castelo com todos eles de cuecas, indicando que levaram tudo já não funciona na primeira vez, e ainda assim é repetida mais duas ou três vezes, e se torna cada vez mais previsível e cansativa a cada nova tentativa. De forma similar, a direção extremamente equivocada erra amadoramente em cenas como a montagem que mostra o treinamento de Branca de Neve com os anões: são várias cenas onde ela não sabe nada, mas ao contrário do que espera o espectador, ela não vai aprendendo à medida em que a montagem progride. Singh parece preferir mostrar as trapalhadas de Branca de Neve cometendo erros e só no fim deixar claro que ela aprendeu tudo que devia, mesmo que o filme não tenha mostrado.
A indecisão entre um filme sério mas divertido ou caricato e bobo também irrita: afinal qual o sentido de mudar os nomes dos sete anões para parecerem mais críveis se cenas cartunescas como o brilho no sorriso do Príncipe ocorrem o tempo todo no longa?
Mas a brincadeira toda chega a outro nível quando, num clímax abrupto e risível, Branca de Neve simplesmente olha para todos e começa a cantar uma canção com batidas que remetem ao cinema indiano de Bollywood. Singh mandando um alô pra seu país?
Projeto X: Uma Festa Fora de Controle
3.5 2,2K Assista AgoraAs comédias sobre festas em casa na ausência dos pais agora vão ter que suar a camisa se quiserem ser diferentes.
A trama não é nova e bem simples. Admito que no começo estava bastante cético, pois muitos elementos do filme eram grandes hypes que já pareciam ter dado tudo o que tinham que dar: além da óbvia festa sem autorização, toda a hierarquia da escola e a incansável busca pela popularidade dos losers, ainda tinham adicionado à mistura o famigerado mockumentary e o bromance popularizado com Hangover. Mas funciona. Por três fatores muito simples: a) o diretor Nima Nourizadeh consegue capturar o espírito de festa de forma muito bem-sucedida. A câmera em primeira pessoa aproxima o espectador da situação e a mudança durante a festa para as câmeras de outras pessoas e celulares passam a clara impressão de que todos estão se divertindo e querem guardar um pouco daquilo tudo na lembrança. b) o protagonista é relutante e responsável por cuidar de coisas que todos nós já tivemos de manter inteiras, como o cão e o carro do pai, sem falar na própria casa. c) o espectador nunca - NUNCA - está preparado para os níveis de loucura que os roteiristas estão dispostos a chegar. Essa é uma das grandes vantagens de se ver um filme sem ter visto o trailer: eu sinceramente achava que ia ser um Superbad com câmera de mão, e como fiquei feliz em constatar que estava errado. Meus olhos só se arregalavam mais e mais à medida em que as coisas saíam do controle e eu ia ficando tão desesperado quanto Thomas. Você espera que uma coisa ou outra se quebre numa festa private, mas Matt Drake e Michael Bacall levaram as maluquices até onde nenhum homem jamais ousou levar. Quanto mais as coisas saem de controle, mais dfivertido tudo fica.
A parte triste foi ver que os roteiristas perderam uma oportunidade de ouro em mostrar a roupa de incineração e o maçarico na casa do louco quando os meninos vão pegar os fogos, sem falar que, já que o plano era trazê-lo de volta mais tarde no filme, podiam ter explorado mais sua loucura. O resultado é que quando ele aparece disparando chamas em cima do teto de um carro, você entende que a coisa está toda muito além do controle de qualquer um ali, mas não deixa de pensar que aquilo foi forçado demais até para os padrões de Projeto X. Também é desnecessária a mistificação em torno do personagem Dax, que segura a câmera. Já que aparece raramente e o espectador não sabe quase nada sobre ele, quando contam o que aconteceu com cada um depois, sugere-se que ele é algum tipo de psicopata que não tem nada a ver com o tom do filme.
Anjos da Noite: O Despertar
3.3 1,3K Assista AgoraGostei da ousadia da história. Na verdade, gosto de como a história tem progredido. Geralmente, filmes de vampiros se passam no presente com flashbacks de quando as criaturas eram humanas, décadas, séculos ou milênios atrás. Raramente vemos filmes do gênero no futuro, ou melhor ainda, que começam no presente e tem um salto temporal sem se tratar de um flashforward, visão ou algo do tipo. Também gosto do fato de que, na época do primeiro filme, ele era definido como um Matrix com vampiros, mas ainda assim o estilo e a visão permaneceram, e agora que a trilogia Matrix não passa de uma lembrança, sobrou espaço para que o filme seja uma ótima ação com roupas de vinil e algumas câmeras lentas ocasionais. Kate Backinsale está mais confortável do que nunca no papel, e a decisão dos roteiristas de fazer a história sobre Selene e nada mais é muito acertada. O filme é dinâmico, as tramas se amarram bem (se você analisar todas as histórias, todas têm a ver com ela no fim das contas) e é tudo bem rapidinho. Os roteiristas sabem que, a essa altura, não precisam tirar leite de pedra e enrolar com tramas desnecessárias. Não gostei, no entanto,
do fato de que Selena tem mais poderes que dessa vez a permitem andar na luz do sol mas não fica muito claro o porquê. Sem dizer que ela vai de zero a grávida quando a congelam e ninguém tem muito a dizer sobre o assunto, o que me faz crer que talvez a filha não seja dela e por isso que essa ponta foi deixada solta. Maurice também não foi visto após ter sido descongelado e isso também pode ter algo a ver,
Maratona do Amor
3.0 79Um insulto à minha inteligência em forma de comédia. São tantas coisas que tenho dificuldade de organizar minhas ideias, mas vou tentar.
A maioria das piadas são previsíveis muito antes de acontecerem, tipo quando Dennis é informado de que tem que correr representando algum tipo de instituição de caridade, você simplesmente sabe que ele vai correr pela Disfunção Erétil. E quando você acha que não dá pra piorar, a coisa descamba para a escatologia generalizada, com uma piada de bolha nos pés que surge do nada e some do nada com o único propósito de fazer a bolha estourar na cara de alguém, coisa que também se prevê desde o momento em que a bolha irracionalmente grande surge na tela.
E o que dizer sobre a péssima construção de personagens?
Primeiro, Michael Ian Black e Simon Pegg querem que você se identifique com um cara que é extremamente infantil e que não aparenta sentir nenhum remorso pelo que fez, tanto que só se move para conseguir a ex-noiva de volta ao primeiro sinal de que há outro homem na vida dela, uma versão do clássico "só quero o meu brinquedo porque você está brincando com ele." Outros indícios do comportamento infantil e irritante de Dennis se mostram durante o filme, quando mostra o dedo médio para Whit quando este não está olhando, vai até o trabalho de Libby e exige a atenção dela, mesmo que ela esteja visivelmente ocupada, entre outras.
O filme faz questão de frisar que, como o espectador está pensando, uma corrida de alguns quilômetros não é razão para se perdoar o que Dennis fez com a noiva no início do filme, e qual o artifício imbecil e maniqueísta que usa para justificar a mudança de opinião de Libby? Transformar Whit que, no começo do filme é um cara legal, numa figura impaciente e trapaceira que só nos faz pensar que o problema e com Libby, que tem um péssimo gosto para homens.
A "estrutura", no entanto, é a parte mais canalha de todo o longa. Incapazes de criarem situações que façam o espectador comprar toda a mudança de Libby, os roteiristas inserem diversos acontecimentos e falas que eles acreditam serem justificativas aceitáveis, a começar por quando o garoto tem o coração partido pela menina da escola e foge de casa (?). Nem vou discutir por que o menino fugiria de um lugar onde se sente seguro por motivos alheios àquele lugar, chega a ser revoltante perceber que toda a situação só foi criada para que Dennis dissesse para o filho que quando as coisas difíceis acontecem, não se deve fugir de tudo, só pro garoto rebater com o clichê "Não é isso que você faz?"
Depois, incapazes de ilustrar a indecisão de Libby diante dos homens de forma eficiente, quando os dois se acidentam durante a corrida, ela vê pela televisão e grita "Dennis! Quer dizer, Whit!" Sério?
E, finalmente, a direção óbvia de David Schwimmer. Ele tenta fazer o público se identificar com Dennis colocando-o como underdog de toda a situação: como se não bastasse o emprego e casa inferiores ao rival, ele põe de forma nada sutil no início da corrida uma lebre e uma tartaruga atrás dos dois (nem preciso dizer quem atrás de quem) e depois o roteiro ainda bebe na fonte do conto de fadas, deixando os dois incapacitados, mas só a "tartaruga" tem a força de vontade para prosseguir, apesar da "lebre" ter condições de continuar mas preferir fingir que está impossiblitada de continuar. Importante notar que, mesmo sabendo que o evento estava sendo televisionado e que os dois tinham caído diante de uma câmera, Whit ainda escolhe mentir, adicionando "imbecilidade de último minuto" à lista de artifícios usados para vilanizar o personagem.
Depois, Schwimmer subestima a inteligência do espectador como nunca antes. Desde o começo do longa, e mesmo com todas as incompetências acima mencionadas e tantas outras não mencionadas, o espectador sabe que a corrida representa a transformação do caráter(?) de Dennis Doyle e que obviamente terminar o percurso significa um novo começo para ele e sua família. Mas não. Schwimmer sai do seu caminho para colocar Libby e Jake na linha de chegada, e ainda os enquadra de forma a ficarem no local onde deveria ficar a fita que os atletas arrebentam. Quando Dennis cai, todos gritam para que ele se levante e siga em frente, mas alguns que estão a seu lado esquerdo (os jogadores de pôquer que de repente viram membros da máfia de forma tão absurda que prefiro nem comentar) tentam desestimulá-lo. Enquanto isso, Libby e Jake veem seu ex-noivo e pai caído no chão e nada fazem, porque de repente o simbolismo que indica que ele tem que terminar a corrida para conseguir a reconquistá-los é mais importante do que a coerência dos personagens. Ou da história, porque o longa prefere concluir toda a confusão de forma "adulta" e fazer parecer que, apesar de tudo, Libby não ficou com Dennis imediatamente após o fim da corrida. E é dessa forma muito adulta que a última cena do longa é uma bunda grande e branca olhando para a tela depois de uma piadinha dispensável.
O que vale nisso tudo? Simon Pegg algumas vezes consegue fazer algumas piadas funcionarem e algumo vestígio de direção se vê quando ele acerta a Parede e cada batida que ele dá leva a um flashback de suas falhas no passado.
E é isso. tem alguém aqui ainda?
Tron: O Legado
3.2 1,8K Assista AgoraQuando vi o original, ficou muito evidente pra mim que Tron era um filme pra ser feito no século 21. Mais ainda, um filme que deveria ser feito mais ou menos de duas em duas décadas, tempo suficiente pra tecnologia evoluir de forma que o deixasse visualmente arrebatador. Portanto, quando fui conferir Tron: Legacy, eu só esperava duas coisas dele - um visual de tirar o fôlego e ótimas cenas de ação pontuadas por Daft Punk martelando os alto-falantes a todo volume.
O visual fez tudo que eu esperava que fizesse. As muitas cores e luzes deixam a fotografia com uma aparência clean e futurística, além de fazer o espectador acreditar que não há nada que os computadores e videogames de hoje em dia não possam fazer, ao contrário da versão "quadrada" (mas obviamente apropriada) de 1981. A corrida com as motos é visualmente animadora e consegue passar a impressão de alta velocidade, algo jamais alcançado no original. E, ao mesmo tempo, a direção de arte mostra um claro respeito pelo predecessor, deixando o "esqueleto" do jogo parecido com o original e as naves e jogadores com o mesmo design, só um pouco mais evoluído.
A escolha de usar a captura de performance ao invés do programa que rejuvenesce os atores para fazer um jovem Jeff Bridges incomoda um pouco mas faz sentido, uma vez que os atos de sua versão jovem não se resumem a close-ups e poucas cenas. Contudo, é definitivamente estranho ver um personagem quase inteiramente digital transitando e interagindo com outros claramente de carne e osso, e isso tira um pouco da atenção das cenas com Clu (e não são poucas).
O fiapo de trama no mundo real não sustenta toda a brincadeira no video game, mas no filme original a situação toda era bem mais inverossímil. Aqui, ao menos, existe uma tentativa de dar mais dimensão tanto a Kevin Flynn quanto a seu filho, numa sequência inicial nos anos 80 que, apesar de clichê, estabelece bastante o cenário para o que virá a seguir e responde logo de cara o que aconteceu no intervalo de tempo entre os filmes.
O mais frustrante, porém, é a trilha sonora. Daft Punk é uma banda conhecida por construir músicas com letras repetitivas e divertidas que grudam imediatamente no cérebro de quem escuta, além de instrumentais dançantes e inesquecíveis. Aqui, no entanto, tudo que ouvimos são alguns samples bem básicos que, ao contrário de aumentarem a emoção das cenas de ação, só as deixam mais vazias e menos divertidas. E fica claro que a banda foi muito mal aproveitada (ou fez um trabalho ruim) quando, numa cena que se passa numa boate - ou seja, o melhor momento para se ter música alta e dançante - e, mais uma vez, o que temos são samples rapidamente cortados.
A intenção do diretor Joseph Kosinski é clara: deixar o Daft Punk um pouco de lado para dar mais espaço à tensão das cenas que criou. O problema é que nunca realmente se teme pelo destino dos personagens, uma vez que o mundo em que estão vivendo não é real e o filme nem se importa em flertar com o que poderia acontecer se um deles morresse dentro do jogo. Contudo, a diversão vale e o visual quase - quase - consegue deixar as duas horas passarem despercebidas.
A Separação
4.2 725 Assista AgoraUma das coisas mais interessantes do longa foi a oportunidade de se ter uma ideia de como funciona o sistema jurídico do Irã e nossa! Que surpresa! Quando se pensa num país onde a tradição manda as mulheres se cobrirem na presença de homens, jamais se imaginaria (pelo menos EU não imaginava) que os processos eram tão abertos a discussão e interpretação por parte dos envolvidos. Então o filme já seria bom só por isso. Contudo, ele vai obviamente mais além e discute vários ótimos temas, um deles ainda na questão da religião - Razieh não sabia que cuidar do pai de Nader iria entrar em conflito com a religião, tanto que liga para o callcenter para tirar dúvidas e aí surge a pergunta mais importante do filme: de quem é a culpa?
Razieh se sentia claramente culpada por ter implorado pelo emprego e depois ter de lidar com a falta de compromisso do marido, ao mesmo tempo está grávida e o serviço exige muito esforço de sua parte. Nader, nós descobrimos, sabia que ela estava grávida e a própria Razieh não tem certeza se foi o empurrão que causou o aborto.
O filme não se importa em tomar partidos - apresenta os fatos e deixa claro que os personagens são todos vítimas - seja de suas próprias irritações, hesitações ou distrações - jogadas numa situação francamente impossível de se resolver. As atuações são formidáveis e o roteiro dá espaço para todos, até as filhas dos protagonistas (e também como acabam sendo vítimas dos desentendimentos entre os adultos). Vi muitas pessoas aqui reclamando do final, que não respondem
se Termeh escolhe ficar com o pai ou com a mãe, mas... importa? O foco aqui, em minha opinião, é a confusão da menina, que ama os dois e que no começo do filme, tinha certeza de que estava sendo abandonada pela mãe e que o pai a amava mais, mas então ela descobre que o pai mentiu e pode ter causado uma coisa horrível, e ainda a fez se sentir obrigada a mentir diante da justiça por ele. Além de tudo ela tem de lidar com o fato de que seus pais estão se separando! A expressão de clara dor e conflito no rosto da ótima atriz no final não tornam irrelevante saber quem ela escolheu? Para mim, sim.
Tron: Uma Odisséia Eletrônica
3.4 325 Assista AgoraÉ fácil entender porque as pessoas da época podem ter gostado desse filme, mas, verdade seja dita, ele é um reflexo dos video games da época: pouco imaginativo, com direção de arte quase zero e uma trilha bastante irregular que falha em todos os momentos de suspense do longa. Se levarmos em consideração De Volta Para o Futuro, que saiu apenas 3 anos depois, esse filme parece não se arriscar muito e nem se preocupar em ficar permanentemente marcado na memória dos cinéfilos. Em contrapartida, temos aqui algumas sequências de corrida de moto e "naves" que jamais passam a ilusão de velocidade devido a falta de elementos no cenário que passem a impressão. Contudo, acho também que é um bom filme-pipoca, quando se consegue relevar a trilha em seus piores momentos e os motivos já citados, realmente dá pra se importar com alguns personagens (mas não temer pelo destino deles
já que perto do fim um deles "morre" de uma forma tão desconsiderada que o roteiro se esquece menos de cinco segundos depois
Cubo
3.3 879 Assista AgoraGosto do fato de que não se prende às questões que ficam pipocando na cabeça de quem assiste: como eles chegaram ali? O que aquilo representa? Por que aquelas pessoas foram escolhidas? O filme não cria expectativas sobre si mesmo por não "martelar" nessas questões repetidamente, e consegue convencer ao espectador a simplesmente acompanhar e ver no que vai dar, e depois tirar suas próprias conclusões. As atuações variam do horrível ao exagerado, com raríssimas exceções, mas é suficientemente intrigante e imaginativo para que esse tipo de detalhe não comprometa a obra.
Diário de um Banana 2: Rodrick é o Cara
3.6 410 Assista AgoraUm amontoado de clichês, humor pastelão e atuações caricatas ainda mais irritantes que do primeiro filme. É como se soubessem que não tem como traduzir a graça dos livros pro cinema então nem tentam e preferem só usar o nome pra fazer algum dinheiro. Só se salva desse desastre o Fragley, exatamente no tom que deveria ser, enquanto todo o resto só soa exagerado e despropositado. Façam um favor a vocês mesmos e LEIAM OS LIVROS. São engraçados onde você ri, e não "engraçado" como na sessão da tarde.
Cassino
4.2 649 Assista AgoraA primeira hora é ótima, mostrando o dia-a-dia no cassino e quem faz o quê, além de uma ótima apresentação de personagens com voice-over duplo, coisa rara no cinema. Atuações ótimas de Joe Pesci e Robert DeNiro, como sempre, e é interessantíssimo ver as personalidades conflitantes dos dois e nada difícil presumir como aquilo tudo vai terminar. Sharon Stone está no melhor papel de sua carreira, seduz e irrita quando quer sem parecer fazer muito esforço (a cena em que ela fica batendo seu carro no carro de Ace pra chamar sua atenção é uma das melhores).
Como disse, é muito bom aprender sobre como funciona em determinado local, o que fica por baixo dos panos e a forma como o roteiro prova a máxima de "a casa NUNCA perde", e por duas horas isso funciona muito bem.
O que me incomodou foi que, na hora final
quando tudo começa a ir por água abaixo, Scorsese parece se dar conta de que não vai haver tempo suficiente pra concluir a história e tudo fica tão absurdamente corrido que destoa o ritmo do filme. Eu sei que a ideia é que tudo fique mais agitado devido às circunstâncias, mas daí a não ter NENHUMA cena de transição? Os personagens decidem ir do ponto A pro ponto B e o corte de um lugar para o outro leva 1 segundo, e isso se repete várias vezes. Além disso, Scorsese e Pileggi parecem de repente não ter critério sobre quem tem direito a fazer narração, e deixam qualquer personagem de repente se comunicar com o espectador numa estratégia preguiçosa de explicar as atitudes sem ter que mostrar suas razões por meio de ações ou mesmo por diálogos expositivos. Mas me senti verdadeiramente traído quando o carro de Ace finalmente explode e você descobre que Scorsese usou um artifício digno de Heroes: nos mostrou o protagonista no carro quando explode e fez a narração nos lembrar ao longo do filme que ele explodiu junto pelo menos umas duas vezes para, mais de duas horas depois dizer que não foi bem assim, ele saiu com o braço em chamas ANTES do carro explodir, ou seja, aquele início impactante foi total bullshit. Aí não dá.
Apesar disso, é um bom filme, Scorsese consegue uns ótimos movimentos de câmera (como quando Ace se abaixa e finge mexer no carpete para descobrir qual era a técnica de um cara excessivamente vitorioso no cassino) e enquadramentos (a cena em que Ginger fala com Ace ao telefone e, no canto mostra a relação entre a filha dos dois e um outro personagem é ótima) e os personagens são muito bem desenvolvidos antes de tudo aquilo que já falei. E, por causa disso, as duas primeiras horas passam voando, a terceira é que dá pra sentir, mas também não é difícil de aturar.
Albert Nobbs
3.6 576 Assista AgoraRisível. O diretor Rodrigo Garcia e a própria Glenn Close, junto com o roteirista John Banville, tentam constantemente sabotar as atuações da própria Close e Janet McTeer (que, francamente, imagino que NINGUÉM tenha desconfiado que não era homem exceto por Albert Nobbs). O filme traz Nobbs repetidas vezes falando em voz alta quanto ganhou de gorjeta por quem e quanto falta para o quê num exercício de exposição mais irritante do que as das novelas. O que dizer, por exemplo, da cena em que dois personagens se abraçam, começa a nevar, a câmera pega a reação dos dois e um deles diz, desnecessariamente: "Está nevando"?
O que mais incomoda é que em cenas como essa da neve, TUDO está diante do espectador na enorme tela do cinema, e não existe a mínima necessidade de diálogo expositivo, sem falar que descaracteriza o personagem: Albert Nobbs é justificadamente reservado, contido e tímido, e seria mais íntegro se ficasse mais tempo calado, apesar da ótima construção feita por Glenn Close.
No começo, o filme parece se contentar em reduzir seus personagens a meras caricaturas - o médico safado, a dona do hotel cheia de tiradinhas engraçadas, o bon vivant (num desperdício total de Jonathan Rhys-Meyers). Depois, Garcia e os roteiristas parecem tão inseguros acerca da habilidade de Close em se passar por homem que inserem no longa diálogos do tipo "Você é um homem estranho, Albert Nobbs" e "Por que você não veio fantasiado para a festa?" - e isso se repete INÚMERAS vezes.
Como se não bastasse, em dado momento o longa simplesmente se esquece de seu protagonista (que dá nome ao filme, for fuck's sake) e passa um bom tempo
mostrando as tramóias (de novo, novelescas) de Joe e Helen para conseguirem presentes e dinheiro de Nobbs. Depois ele fica doente e aí mesmo que o filme perde o foco, transformando a dona do hotel numa pessoa cruel e sem valores, reforçando a inutilidade do médico e vitimizando Helen (Mia Wasikowska em péssima atuação, diga-se, principalmente no momento em que dá pequenos socos em Nobbs), dando a personagens inúteis tanta importância que o filme continua por mais de dez minutos após a morte de Nobbs para dar 'closure' a todos eles. Inútil.
O que salva o filme é evidentemente a atuação de Close e McTeer, além da óbvia ótima maquiagem e direção de arte competente, mas nada disso salva os erros irreparáveis do longa.