Giovanna Cardamone

O filme é praticamente uma versão moderna do mito grego de Efigênia. No mito, a personagem título terá de ser sacrificada pelo seu próprio pai Agamenon para que o mesmo possa enviar suas tropas em navios para Tróia. Os navios não podem zarpar por falta de vento, e a culpa é atribuida a deusa Artemis. No final, Agamenon tem que escolher entre sacrificar sua filha ou enfrentar a revolta de suas tropas e o assassinato de toda sua família.
Em o Sacrifício do Cervo Sagrado, o cardiologista Steven é colocado no papel de Agamenon, que é pressionado a fazer uma escolha impossível: sacrificar apenas um de seus entes queridos ou ver toda sua família morrer pela força de uma entidade superior, Artemis, que clama por vingança (nesse caso, Martin). A tragédia grega possui a característica de submeter seus personagens a destinos já traçados e que não podem ser mudados, independente de suas escolhas (como Édipo que tinha como destino matar seu próprio pai).
Confesso que me peguei pensando nos aspectos mais realistas da história (como ninguém chamou a polícia? Nenhum vizinho escutou os tiros? Como Martin fez com que as crianças perdessem o movimentos das pernas?) Mas no final das contas o filme não tenta ser realista, e esses detalhes não importam para a trama, e nem sequer são necessários. O importante para Yorgos foi recontar o mito de Efigênia, e criar uma grande metáfora sobre o sacrifício, o destino inflexível e o protagonista trágico que é forçado a fazer uma escolha dolorosa por conta da vontade dos deuses.
O filme tem suas falhas, claro. Como uma reconstrução de uma peça de tragédia grega, eu achei que poderiam ter alguns momentos mais dramáticos, e até penso que o filme se beneficiaria do coro em alguns momentos (algo que o filme Mamma Mia usa de forma incrível). Senti também que o filme é um tanto impessoal demais, muito esterelizado, e claro, muito longo. Mas gostei da história porque gosto muito de mitologia e obras de literatura grega.