Sensível, poético, simples. O tipo de filme que exibe toda a particularidade/sentimento do diretor em cada ângulo, enquadramento, movimento de câmera. Grande obra do Koreeda!
Café Society (como o próprio nome já diz) é altamente charmoso ao tratar de relações especificamente (além de ser o principal tema que Allen traz em todos os seus filmes), desde os lamentos da primeira noite de uma garota de programa, até a inesperada relação de Bobby com Vonnie. O filme é uma obra incrivelmente bela (não Bella, por favor!) e ao mesmo tempo urgente em tempos de contemporaneidade onde as relações (amorosas e também familiares) são tão banalizadas, desvalorizadas e facilmente esquecidas. Allen consegue traduzir e questionar as tamanhas proporcionalidades que vão crescendo a todo o instante durante a trama, sendo conduzidas por parte dos três personagens principais (Bobby, Vonnie e Phil) de uma forma completamente natural, e que assim, caracteriza uma compreensão afetiva dentre eles.
Em nenhum momento do filme, há uma partição para um ato mais grosseiro além da fala, fator este, que do nosso ponto de vista, geralmente partimos para um ato mais agressivo ou até mesmo violento, pela "necessidade" inenarrável de querer estar com os nossos amores em todos os momentos. O tempo todo, tais personagens mantém algo bem difícil de se encontrar hoje em dia: a sinceridade e a verdade. Verdade esta que poderia se dissipar em certas situações, mas, a partir do "ser sincero" de tais personagens, ambos conseguem de uma maneira ou de outra, manter suas verdades, assumem a todo instante, as divagações e mudanças repentinas que vão acontecendo ao longo de suas vidas, assumem a todo instante, quem eles são, porém, o que realmente querem, é apenas uma singela xícara de "cappuccino", e que para se tornar um verdadeiro "café expresso", é ainda necessário, várias e várias xícaras de capuccino.
Aquarius é uma imperdível e poética aula de construção de sociedade, montada num grandioso e puro choque afetivo temporal, e que consegue ao mesmo tempo, unir velho, novo, antigo, moderno, colocando em xeque o nosso papel como cidadão e ser humano, a luta por nossos valores, pelo que a gente verdadeiramente quer e acredita para o mundo, para as pessoas, para a cidade, para os nossos filhos, uma visão além da imposição dos outros, indo de encontro com a nossa real natureza, consequentemente, nasce em nós, uma certa sensação de esperança para que novas Claras reinem em gerações futuras, e para isso, uma musiquinha boa, numa vitrolinha com amigos queridos, pode ser a grande solução.
O filme pode ser dividido simbolicamente em quatro atos, uma divisão pessoal, não explicita, mas que pode ser facilmente percebida ao longo da película.
Um homem, sua sutileza, seu despreparo. Adaptado do livro “Era El Cielo” (Era o Paraíso), de Sergio Bizzio (que também assina o roteiro), O Silêncio do Céu, novo trabalho do cineasta paulistano Marco Dutra, é um sombrio estudo cinematográfico sobre o universo dos homens, que surpreende ao mostrar a origem de um estupro, em sua maior parte, do ponto de vista de um homem. Homem este, que nega a sua natureza. Nega o seu céu.
O Silêncio do Céu - A Jornada de um "não-herói"
1 – A Inocência de um Porco-Espinho
Mário (Leonardo Sbaraglia), é pai, tem dois filhos (Nina e Julián), e uma esposa chamada Diana (Carolina Dieckmann). Ao chegar em casa no meio da tarde, depara-se com sua esposa sendo estuprada por dois homens desconhecidos. Abalado, ele não toma nenhuma atitude.
Impossível não mencionar o filme “Force Majeure” do diretor sueco Ruben Ostlund, em conta da fragilidade de Mário. Respectivamente, sua identidade heroica de ser o pai e o marido protetor desmorona. Diante disso, todos seus medos e sombras vem à tona, visto que consequentemente apaga sua identidade ilusória. Diana não o conta do ocorrido, tampouco ele, que observou todo o ato.
Dotado de uma bela crítica aos parâmetros de uma família tradicional e a obsessão de se manter como uma, o roteiro de O Silêncio do Céu acertadamente constrói um casal que se encaixa nos moldes tradicionais e convencionais de um modelo familiar contemporâneo, e que com argumentos consistentes, consegue no decorrer da trama, quebrar por completo tal modelo, principalmente o personagem do Mário que já faz a princípio, o espectador refletir sobre o papel de um pai e um marido na família.
Inegavelmente, um dos pontos fortes do filme e que dá consistência a própria narrativa em si, é a subjetividade do casal. Abusando fortemente do “Big close-up” (primeiríssimo plano), que ao mesmo tempo dialoga com sua densa trilha sonora composta pelos irmãos Garbato, e uma fotografia precisamente escura, Marco Dutra em O Silêncio do Céu consolida seu traço cinematográfico (depois do assombroso “Quando eu era vivo”), formando um cinema de fato sombrio e misterioso.
Diante do subjetivo, Diana age como se nada estivesse acontecendo, e por mais que os dois permaneçam calados, ambos conseguem se comunicar através de seus silêncios, porém o silêncio de Diana incomoda Mário, que se sente culpado, e ela parece saber disso; e assim, provocativamente, revela-se a jornada de um “não-herói” que de maneira ou de outra, decide fazer algo para aliviar seu sentimento de culpa, e consequentemente, voltar a ser o “herói” de Diana.
O primeiro plano que o filme mostra é o céu. Logo em seguida, Diana está sendo abusada sexualmente. Este céu, pode-se afirmar que seja Mário. Mário não reconhece seu céu. Nele não há para onde fugir, não há o que esconder, não há limites, a vezes o consome. Respectivamente, como já foi dito, anterior ao estupro, Mário preenche seu vazio, sua inenarrável obsessão de ser o pai e o marido perfeito, num personagem heroico-ilusório criado por ele mesmo. Diana alimenta tal personagem vestindo-se num outro completamente bondoso e cuidador, “a mocinha”. Temos então, o casal contemporâneo de uma família perfeita, não?!
Em conta disso, é perceptível o fracasso de Mário como um pai e um marido presente. Os diálogos que Mário tem com sua família, posterior ao estupro, confirmam tal afirmação. Numa conversa dentro de um parque de diversões, por exemplo, seu filho questiona que deveriam fazer isso mais vezes. Posteriormente em outra cena (quando por sinal acaba o ponto de vista de Mário que percorre por quase toda a trama e segue com o ponto de vista de Diana), Diana e Mário encontram-se sentados na cama de seu quarto, um numa ponta e o outro noutra, ambos cantando Corcovado do mestre Tom Jobim, não conseguindo de forma alguma manter um contato olho a olho, fortificando assim, a ideia de que o relacionamento entre eles estava por um fio. Temos ainda, algumas cenas de Diana no chuveiro, e Mário na parte de fora, percebemos que o vidro é transparente e fosco, embaçando por completo o corpo dela. Diana, muitas vezes está virada para o lado oposto de seu marido, ou seja, há uma alusão de que Mário esteja perdendo a notoriedade de sua
esposa, consequentemente ele se sente na obrigação de reverter a situação de alguma forma, para que assim, possa reconquistar Diana.
2 – A Sabedoria de uma Cegonha
Interpretativamente, Diana, procura não apenas entender o conturbado mundo de Mário, como de certa forma, guia-lo a reencontrar o seu personagem heroico-ilusório que antes a fazia se sentir segura e confortável, num ato imperdoável de um profundo silêncio resultante no pós-estupro, silêncio este que nos faz relembrar a personagem Rosa, interpretada por Leandra Leal em “O Lobo Atrás da Porta” de Fernando Coimbra. Sem o seu “herói” o personagem da “mocinha” ficaria invalidado. Seria então, correto afirmar que Diana necessita dos fracassos e medos de Mário para se sobressair em sua relação familiar? Consequentemente, no pós-estupro temos um choque de identidade entre Diana e Mário, seus personagens perfeitos desaparecem, o que afirma os diálogos passivos entre eles, porém instintivamente Diana ainda consegue interpretar um personagem que manipula as ações de Mário, como já dito, através de seu silêncio. Revela-se assim, a “não-mocinha”.
3 – A perdição dos heróis
Não é à toa, que o Silêncio do Céu visa dar um profundo destaque para os homens. Homens estes, que se encontram totalmente perdidos em suas projeções e estereótipos de ser Homem. Um homem que protege, um homem que não demonstra fraqueza, um homem que não é rejeitado.
O filme revela-se indiscretamente ousado ao desconstruir o estereótipo de um estuprador, visto que os agressores levam uma vida completamente comum, Andrés, por exemplo, trabalha numa agência de publicidade, e Néstor (seu irmão), é um vendedor e amante de plantas. Néstor, interpretado muito bem por Chino Darín (filho do grande ator Ricardo Darín, referência do cinema argentino e espanhol) e pouco aproveitado pelo roteiro, é um jovem completamente ingênuo ao tempo em que se encontra. Tanto Néstor como Andrés mantinham um caso amoroso com Diana, porém, depois de um tempo, foram rejeitados por ela, fato este, que consolida a decadência da relação entre Diana e Mário (comentado em “A Inocência de um porco-espinho”). Completamente desolado, Andrés não aceitou
de modo algum ser rejeitado por uma mulher, e assim, comete o estupro junto ao seu irmão que concorda em ajuda-lo. Não, o filme não diz que o estupro está na rejeição de uma mulher e o problema é originado por ela, ou muito menos inocenta o estuprador ou o machismo em si, mas, sim, tenta problematizar ao mostrar a sua origem, ao mostrar que ele pode estar presente no fato dos homens não saber lidar e assumir os seus fracassos, medos e rejeições, em conta de que é o oposto das características de um herói que é tanto almejado por eles.
4 – Lar doce lar
Um ato de extrema violência é o que dá início ao filme. Mário tenta, mas não reage, apenas observa sua esposa sendo violada. Um ato de extrema violência iniciado por Mário ocorre nas últimas cenas da trama. Mário mata um homem, Diana apenas observa, e despista evidências que incriminariam seu marido. Diante disso, Mário consegue reconstruir seu personagem heroico, protetor, escondedor de seus medos, que tanto havia se dedicado por grande parte da sua relação com Diana. A “não-mocinha”, agora de volta ao seu personagem principal “mocinha” Diana, encontra-se aliviada por poder novamente cuidar dos medos dele. Ambos retornam aos seus personagens anteriores. O herói e a mocinha, o porco-espinho e a cegonha. O casal retorna ao seu lar. O “não-herói” Mário encontra-se descansando silenciosamente em seu céu, e nosso agora de volta ao seu personagem principal “herói” Mário, consegue enxergar muito bem este céu, mesmo que não queira vê-lo. Será então que o “não-herói” Mário poderá despertar? Uma coisa é certa: Não há cura para quem tem medo do céu.
Ao meu ver, Capitão Fantástico tem uma ideia inicial bacana apenas. A direção é bem limitada e pretensiosa o que faz com que uma crítica ao sistema, contemporaneidade, supervalorização do digital, etc, acabe se tornando um oportunismo extremo, junto com um roteiro que se perde por completo no decorrer do filme. Falta consistência. Poderia ser sem dúvidas um "Moonrise Kingdom" da vida, mas o jeito "arrumadinho" e padronizado de filmar/construir uma história (o que o filme maqueia o tempo todo com suas desconstuções sociais) acabam passando longe disso. Assim como "Eu Daniel Blake", Capitão Fantástico é mais um filme estratégico que no final de tudo só visa ganhar festival. Entendo os que gostam.
Onde começa um rio
4.1 1Tímido, porém necessário.
Dor e Glória
4.2 619 Assista AgoraAlmodóvar num outro lugar de seu cinema, e que lugar.
Divino Amor
3.3 240Uma esquete vazia.
Longa Jornada Noite Adentro
3.6 63 Assista AgoraFantástico! Sem palavras!!
Columbus
3.8 129Um pisão daqueles!
Depois da Tempestade
3.9 52Sensível, poético, simples. O tipo de filme que exibe toda a particularidade/sentimento do diretor em cada ângulo, enquadramento, movimento de câmera. Grande obra do Koreeda!
Café Society
3.3 530 Assista AgoraCafé Society (como o próprio nome já diz) é altamente charmoso ao tratar de relações especificamente (além de ser o principal tema que Allen traz em todos os seus filmes), desde os lamentos da primeira noite de uma garota de programa, até a inesperada relação de Bobby com Vonnie. O filme é uma obra incrivelmente bela (não Bella, por favor!) e ao mesmo tempo urgente em tempos de contemporaneidade onde as relações (amorosas e também familiares) são tão banalizadas, desvalorizadas e facilmente esquecidas. Allen consegue traduzir e questionar as tamanhas proporcionalidades que vão crescendo a todo o instante durante a trama, sendo conduzidas por parte dos três personagens principais (Bobby, Vonnie e Phil) de uma forma completamente natural, e que assim, caracteriza uma compreensão afetiva dentre eles.
Em nenhum momento do filme, há uma partição para um ato mais grosseiro além da fala, fator este, que do nosso ponto de vista, geralmente partimos para um ato mais agressivo ou até mesmo violento, pela "necessidade" inenarrável de querer estar com os nossos amores em todos os momentos. O tempo todo, tais personagens mantém algo bem difícil de se encontrar hoje em dia: a sinceridade e a verdade. Verdade esta que poderia se dissipar em certas situações, mas, a partir do "ser sincero" de tais personagens, ambos conseguem de uma maneira ou de outra, manter suas verdades, assumem a todo instante, as divagações e mudanças repentinas que vão acontecendo ao longo de suas vidas, assumem a todo instante, quem eles são, porém, o que realmente querem, é apenas uma singela xícara de "cappuccino", e que para se tornar um verdadeiro "café expresso", é ainda necessário, várias e várias xícaras de capuccino.
Fome de Viver
3.8 348 Assista AgoraSusan Sarandon e Catherine Deneuve numa das atuações mais marcantes de suas carreiras! <3
Estranhos no Paraíso
3.9 113 Assista AgoraSobre as diferentes formas de amar e nada mais <3
Estranhos no Paraíso
3.9 113 Assista AgoraO que falar desses planos sequência e granulação?!! Uma baita aula cinematográfica <3
Daunbailó
4.1 133 Assista Agoraai ai <3 <3 <3
Aquarius
4.2 1,9K Assista AgoraAquarius é uma imperdível e poética aula de construção de sociedade, montada num grandioso e puro choque afetivo temporal, e que consegue ao mesmo tempo, unir velho, novo, antigo, moderno, colocando em xeque o nosso papel como cidadão e ser humano, a luta por nossos valores, pelo que a gente verdadeiramente quer e acredita para o mundo, para as pessoas, para a cidade, para os nossos filhos, uma visão além da imposição dos outros, indo de encontro com a nossa real natureza, consequentemente, nasce em nós, uma certa sensação de esperança para que novas Claras reinem em gerações futuras, e para isso, uma musiquinha boa, numa vitrolinha com amigos queridos, pode ser a grande solução.
A Cidade Onde Envelheço
3.6 130 Assista Agoragrande estudo sobre a beleza dos gestos <3
Moana: Um Mar de Aventuras
4.1 1,5Kmaravilhosa!! <3
O Silêncio do Céu
3.5 225 Assista Agora*Contém spoilers!
O filme pode ser dividido simbolicamente em quatro atos, uma divisão pessoal, não explicita, mas que pode ser facilmente percebida ao longo da película.
Um homem, sua sutileza, seu despreparo. Adaptado do livro “Era El Cielo” (Era o Paraíso), de Sergio Bizzio (que também assina o roteiro), O Silêncio do Céu, novo trabalho do cineasta paulistano Marco Dutra, é um sombrio estudo cinematográfico sobre o universo dos homens, que surpreende ao mostrar a origem de um estupro, em sua maior parte, do ponto de vista de um homem. Homem este, que nega a sua natureza. Nega o seu céu.
O Silêncio do Céu - A Jornada de um "não-herói"
1 – A Inocência de um Porco-Espinho
Mário (Leonardo Sbaraglia), é pai, tem dois filhos (Nina e Julián), e uma esposa chamada Diana (Carolina Dieckmann). Ao chegar em casa no meio da tarde, depara-se com sua esposa sendo estuprada por dois homens desconhecidos. Abalado, ele não toma nenhuma atitude.
Impossível não mencionar o filme “Force Majeure” do diretor sueco Ruben Ostlund, em conta da fragilidade de Mário. Respectivamente, sua identidade heroica de ser o pai e o marido protetor desmorona. Diante disso, todos seus medos e sombras vem à tona, visto que consequentemente apaga sua identidade ilusória. Diana não o conta do ocorrido, tampouco ele, que observou todo o ato.
Dotado de uma bela crítica aos parâmetros de uma família tradicional e a obsessão de se manter como uma, o roteiro de O Silêncio do Céu acertadamente constrói um casal que se encaixa nos moldes tradicionais e convencionais de um modelo familiar contemporâneo, e que com argumentos consistentes, consegue no decorrer da trama, quebrar por completo tal modelo, principalmente o personagem do Mário que já faz a princípio, o espectador refletir sobre o papel de um pai e um marido na família.
Inegavelmente, um dos pontos fortes do filme e que dá consistência a própria narrativa em si, é a subjetividade do casal. Abusando fortemente do “Big close-up” (primeiríssimo plano), que ao mesmo tempo dialoga com sua densa trilha sonora composta pelos irmãos Garbato, e uma fotografia precisamente escura, Marco Dutra em O Silêncio do Céu consolida seu traço cinematográfico (depois do assombroso “Quando eu era vivo”), formando um cinema de fato sombrio e misterioso.
Diante do subjetivo, Diana age como se nada estivesse acontecendo, e por mais que os dois permaneçam calados, ambos conseguem se comunicar através de seus silêncios, porém o silêncio de Diana incomoda Mário, que se sente culpado, e ela parece saber disso; e assim, provocativamente, revela-se a jornada de um “não-herói” que de maneira ou de outra, decide fazer algo para aliviar seu sentimento de culpa, e consequentemente, voltar a ser o “herói” de Diana.
O primeiro plano que o filme mostra é o céu. Logo em seguida, Diana está sendo abusada sexualmente. Este céu, pode-se afirmar que seja Mário. Mário não reconhece seu céu. Nele não há para onde fugir, não há o que esconder, não há limites, a vezes o consome. Respectivamente, como já foi dito, anterior ao estupro, Mário preenche seu vazio, sua inenarrável obsessão de ser o pai e o marido perfeito, num personagem heroico-ilusório criado por ele mesmo. Diana alimenta tal personagem vestindo-se num outro completamente bondoso e cuidador, “a mocinha”. Temos então, o casal contemporâneo de uma família perfeita, não?!
Em conta disso, é perceptível o fracasso de Mário como um pai e um marido presente. Os diálogos que Mário tem com sua família, posterior ao estupro, confirmam tal afirmação. Numa conversa dentro de um parque de diversões, por exemplo, seu filho questiona que deveriam fazer isso mais vezes. Posteriormente em outra cena (quando por sinal acaba o ponto de vista de Mário que percorre por quase toda a trama e segue com o ponto de vista de Diana), Diana e Mário encontram-se sentados na cama de seu quarto, um numa ponta e o outro noutra, ambos cantando Corcovado do mestre Tom Jobim, não conseguindo de forma alguma manter um contato olho a olho, fortificando assim, a ideia de que o relacionamento entre eles estava por um fio. Temos ainda, algumas cenas de Diana no chuveiro, e Mário na parte de fora, percebemos que o vidro é transparente e fosco, embaçando por completo o corpo dela. Diana, muitas vezes está virada para o lado oposto de seu marido, ou seja, há uma alusão de que Mário esteja perdendo a notoriedade de sua
esposa, consequentemente ele se sente na obrigação de reverter a situação de alguma forma, para que assim, possa reconquistar Diana.
2 – A Sabedoria de uma Cegonha
Interpretativamente, Diana, procura não apenas entender o conturbado mundo de Mário, como de certa forma, guia-lo a reencontrar o seu personagem heroico-ilusório que antes a fazia se sentir segura e confortável, num ato imperdoável de um profundo silêncio resultante no pós-estupro, silêncio este que nos faz relembrar a personagem Rosa, interpretada por Leandra Leal em “O Lobo Atrás da Porta” de Fernando Coimbra. Sem o seu “herói” o personagem da “mocinha” ficaria invalidado. Seria então, correto afirmar que Diana necessita dos fracassos e medos de Mário para se sobressair em sua relação familiar? Consequentemente, no pós-estupro temos um choque de identidade entre Diana e Mário, seus personagens perfeitos desaparecem, o que afirma os diálogos passivos entre eles, porém instintivamente Diana ainda consegue interpretar um personagem que manipula as ações de Mário, como já dito, através de seu silêncio. Revela-se assim, a “não-mocinha”.
3 – A perdição dos heróis
Não é à toa, que o Silêncio do Céu visa dar um profundo destaque para os homens. Homens estes, que se encontram totalmente perdidos em suas projeções e estereótipos de ser Homem. Um homem que protege, um homem que não demonstra fraqueza, um homem que não é rejeitado.
O filme revela-se indiscretamente ousado ao desconstruir o estereótipo de um estuprador, visto que os agressores levam uma vida completamente comum, Andrés, por exemplo, trabalha numa agência de publicidade, e Néstor (seu irmão), é um vendedor e amante de plantas. Néstor, interpretado muito bem por Chino Darín (filho do grande ator Ricardo Darín, referência do cinema argentino e espanhol) e pouco aproveitado pelo roteiro, é um jovem completamente ingênuo ao tempo em que se encontra. Tanto Néstor como Andrés mantinham um caso amoroso com Diana, porém, depois de um tempo, foram rejeitados por ela, fato este, que consolida a decadência da relação entre Diana e Mário (comentado em “A Inocência de um porco-espinho”). Completamente desolado, Andrés não aceitou
de modo algum ser rejeitado por uma mulher, e assim, comete o estupro junto ao seu irmão que concorda em ajuda-lo. Não, o filme não diz que o estupro está na rejeição de uma mulher e o problema é originado por ela, ou muito menos inocenta o estuprador ou o machismo em si, mas, sim, tenta problematizar ao mostrar a sua origem, ao mostrar que ele pode estar presente no fato dos homens não saber lidar e assumir os seus fracassos, medos e rejeições, em conta de que é o oposto das características de um herói que é tanto almejado por eles.
4 – Lar doce lar
Um ato de extrema violência é o que dá início ao filme. Mário tenta, mas não reage, apenas observa sua esposa sendo violada. Um ato de extrema violência iniciado por Mário ocorre nas últimas cenas da trama. Mário mata um homem, Diana apenas observa, e despista evidências que incriminariam seu marido. Diante disso, Mário consegue reconstruir seu personagem heroico, protetor, escondedor de seus medos, que tanto havia se dedicado por grande parte da sua relação com Diana. A “não-mocinha”, agora de volta ao seu personagem principal “mocinha” Diana, encontra-se aliviada por poder novamente cuidar dos medos dele. Ambos retornam aos seus personagens anteriores. O herói e a mocinha, o porco-espinho e a cegonha. O casal retorna ao seu lar. O “não-herói” Mário encontra-se descansando silenciosamente em seu céu, e nosso agora de volta ao seu personagem principal “herói” Mário, consegue enxergar muito bem este céu, mesmo que não queira vê-lo. Será então que o “não-herói” Mário poderá despertar? Uma coisa é certa: Não há cura para quem tem medo do céu.
Capitão Fantástico
4.4 2,7K Assista AgoraAo meu ver, Capitão Fantástico tem uma ideia inicial bacana apenas. A direção é bem limitada e pretensiosa o que faz com que uma crítica ao sistema, contemporaneidade, supervalorização do digital, etc, acabe se tornando um oportunismo extremo, junto com um roteiro que se perde por completo no decorrer do filme. Falta consistência. Poderia ser sem dúvidas um "Moonrise Kingdom" da vida, mas o jeito "arrumadinho" e padronizado de filmar/construir uma história (o que o filme maqueia o tempo todo com suas desconstuções sociais) acabam passando longe disso. Assim como "Eu Daniel Blake", Capitão Fantástico é mais um filme estratégico que no final de tudo só visa ganhar festival. Entendo os que gostam.
Betty Blue
4.1 81bem bonito!