Muito subestimada aqui na plataforma. A premissa de "adolescente descolado dos anos 90 será o legado de um personagem icônico clássico" têm absolutamente tudo contra ela, e essa série não só faz ela funcionar perfeitamente, criando um protagonista que tornou-se icônico em Terry McGuiness, como o faz sendo sequência da até hoje melhor adaptação/interpretação do Batman. Um feito inigualável.
Série de Mistery Box em 2023 é complicado, a única coisa que realmente prende o expectador é o mistério atrás do mistério, e quando termina, óbvio, mais mistério. Não sei se volto para a segunda, medo de cair em golpe de novo, como em outros casos.
Lost pelo menos focava em personagens direito, com os flashbacks e não exposições intermináveis das motivações e estados emocionais dos personagens. Aqui tudo é diálogo expositivo, seja de lore, mistério ou personagens, e conveniências absurdas (pessoa sai da sala para tomar um café na hora que outra acorda para ter um diálogo com a outra pessoa na sala e fazer revelações sobre a primeira). Mesmo o lore do Silo não é visto, é falado (o "feriado", por exemplo). Metade da série some com metade dos núcleos, para eles voltarem no final e o expectador ter a mesma conexão com eles que tinha no começo, ou acreditar na conexão deles com os protagonistas. Série de Mistery Box é perigosamente perto de golpe a essa altura.
Após a sua temporada mais irregular, oscilando entre o auge de seu brilhantismo - na representação fiel do TPB usando a linguagem televisiva e múltiplos gêneros - e um vale de convencionalismos de sitcom, - finais felizes, filhinhos e casamentos - CXG entrega a melhor temporada final que poderia oferecer. Em termos narrativos, a promessa de uma série satírica das convenções das rom coms através do exame de transtornos mentais é cumprida com louvor, especialmente nos episódios finais. Em termos formais, a experimentação e exploração da linguagem da televisão e dos musicais é levada ao paroxismo quando é explicitamente fundida com a conclusão narrativa. Erros e percalços ao longo do caminho das 4 temporadas, como excessiva flanderização e mudanças de elenco são revistados e corrigidos de maneira a representar da melhor maneira a visão das showrunners desses personagens e desse mundo - muito provavelmente boa parte dos episódios finais estava esboçada desde o início. CXG deve - eu espero - ser elevado ao longo do tempo às alturas de um clássico, e prova que televisão de qualidade - e a exploração madura de temas tabu e necessários - não é propriedade exclusiva do drama de tom solene. Outros gêneros, como a comédia, merecem o reconhecimento pelo trabalho de altíssimo nível, que várias supera aquele encontrado naquele gênero superestimado, especialmente na televisão.
O grande destaque dessa temporada, além do belo finale, e da conclusão da história dos personagens do elenco principal, é a representação das idas e vindas em um tratamento de transtorno mental, e a maneira mais saudável de lidar com estas em um relacionamento, sem que um parceiro se auto-sacrifique. Por isso, trazer o personagem do Greg de volta em uma versão já desenvolvida foi um acerto fundamental da segunda metade da temporada.
A temporada de virada, onde as showrunners mostram as suas cartas ao público: a série que, até então, se colocava mais explicitamente apenas como paródia de comédias românticas e musicais, revela-se ser sobre saúde mental. A sua primeira metade lida com os eventos desastrosos do season finale anterior rompendo com tropos de rom com e sugerindo mais do que nunca o diagnóstico da protagonista de Transtorno de Personalidade Borderline ao apresentar sua desesperadora desestabilização, simbolizando-a pela troca da linguagem da rom com pela do thriller sexual (a paródia definitiva de 50 tons de cinza e Atração Fatal acontece aqui) e depois pela do slasher, chegando ao ápice com uma tentativa de suicídio, o diagnóstico explícito de TPB e a promessa de recomeço e redenção. A segunda metade da temporada, menos brilhante, encontra dificuldade em equilibrar o humor negro com o pastelão que as primeiras duas tão bem fizeram, em parte porque os episódios anteriores explicitaram os temas que ficavam no subtexto nessas temporadas. Tramas mais "fofinhas" e tradicionais de sitcom, como um casamento e um nascimento, também soam meio perdidas e fora de tom com o resto da temporada. Ainda assim, a série merece a "passada de pano" pela representação impressionante do TPB, por sustentar empatia com uma protagonista nos piores momentos que o transtorno pode promover e pela promessa de lidar com as consequências dos seus atos de maneira humanizada. Ponto imperdoável: personagem da Valência completamente desperdiçada, de tão flanderizada.
A equipe de CXG enfrenta percalços nessa temporada com a saída de um membro essencial do elenco e um número reduzido de episódios. Assim, é assombroso o quão positivo fica o saldo, quase tão brilhante quanto a primeira. Um personagem essencial tem uma resolução relâmpago do seu arco, mas bem executada, sendo responsável por um dos melhores momentos da temporada. Acaba funcionando inadvertidamente como um bom presságio do quão mais explícita torna-se a abordagem de CXG dos seus temas ao longo dessa temporada. Depois desse baque, alguns episódios são usados pra reestabelecer o status quo, inclusive através da inserção - com direito a humor auto-referente - de um novo personagem, e a partir daí a série retoma a história que se propôs a contar desde o primeiro episódio da primeira temporada com maestria.
Único ponto negativo mais injustificado dessa temporada é a flanderização do Josh. Sim, é uma sitcom, flanderização acontece, mas me pareceu uma solução muito simples pra explicitar a incompatibilidade que sempre existiu entre ele e a Rebecca, e acho que um efeito inadvertido disso foi virar o público contra um personagem tão interessante quanto os demais.
Uma das mais hilárias e sensíveis representações de (inúmeros) transtornos mentais na mídia. Quem enfrenta algum ou é familiar/amigo/companheiro de alguém que enfrenta vai se identificar. Há o equilíbrio certo - e quase impossível - entre a leveza de saber rir da nossa frágil humanidade e a exposição crua e honesta de alguns dos mais abjetos comportamentos a que podemos ser levados por nossas questões pessoais. Todos os personagens, aparentemente cartunescos, tem toneladas de bagagem, que longe de serem explicitamente apontadas, são sugeridas por comportamentos, olhares, falas, etc. E por mais perto do fundo do poço que cheguem esses personagens, a série nunca se rende ao moralismo simplório de simplesmente julgá-los - ele procura desenvolver no expectador uma empatia genuína, que enxerga a dor humana por trás de cada engodo, comportamento auto-destrutivo e auto-engano. E sim, as músicas de Rachel Bloom são hilárias desde F**k Me, Ray Bradbury, do distante ano de 2010.
Uma surpreendente e ótima entrada audiovisual no gênero de Horror Cósmico, criado pelo H.P. Lovecraft, onde os elementos da narrativa servem à construção de uma atmosfera opressiva, sugerindo forças além da compreensão humana. Acho que a série se perde um pouco no final por tentar encaixar todos os elementos de uma forma muito "redondinha" e ceder um pouco aos manuais de roteiro, mas isso não tira seu mérito. Netflix desceu o machado nela, é claro, porque ela é incapaz de deixar umas obras de nicho bem produzidas no catálogo, e isso ainda será sua ruína
Assim queira Kaleego Para quem quiser conhecer mais o gênero, as histórias de Lovecraft "A música de Erich Zann", "Os sonhos na casa da bruxa" e "a cor que veio do espaço" remetem à série de uma maneira bem bacana. Acho que podem ter sido referências.
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Batman do Futuro (1ª Temporada)
3.7 17 Assista AgoraMuito subestimada aqui na plataforma. A premissa de "adolescente descolado dos anos 90 será o legado de um personagem icônico clássico" têm absolutamente tudo contra ela, e essa série não só faz ela funcionar perfeitamente, criando um protagonista que tornou-se icônico em Terry McGuiness, como o faz sendo sequência da até hoje melhor adaptação/interpretação do Batman. Um feito inigualável.
Silo (1ª Temporada)
4.0 144 Assista AgoraSérie de Mistery Box em 2023 é complicado, a única coisa que realmente prende o expectador é o mistério atrás do mistério, e quando termina, óbvio, mais mistério.
Não sei se volto para a segunda, medo de cair em golpe de novo, como em outros casos.
Lost pelo menos focava em personagens direito, com os flashbacks e não exposições intermináveis das motivações e estados emocionais dos personagens.
Aqui tudo é diálogo expositivo, seja de lore, mistério ou personagens, e conveniências absurdas (pessoa sai da sala para tomar um café na hora que outra acorda para ter um diálogo com a outra pessoa na sala e fazer revelações sobre a primeira).
Mesmo o lore do Silo não é visto, é falado (o "feriado", por exemplo). Metade da série some com metade dos núcleos, para eles voltarem no final e o expectador ter a mesma conexão com eles que tinha no começo, ou acreditar na conexão deles com os protagonistas.
Série de Mistery Box é perigosamente perto de golpe a essa altura.
Crazy Ex-Girlfriend (4ª Temporada)
4.2 56 Assista AgoraApós a sua temporada mais irregular, oscilando entre o auge de seu brilhantismo - na representação fiel do TPB usando a linguagem televisiva e múltiplos gêneros - e um vale de convencionalismos de sitcom, - finais felizes, filhinhos e casamentos - CXG entrega a melhor temporada final que poderia oferecer.
Em termos narrativos, a promessa de uma série satírica das convenções das rom coms através do exame de transtornos mentais é cumprida com louvor, especialmente nos episódios finais.
Em termos formais, a experimentação e exploração da linguagem da televisão e dos musicais é levada ao paroxismo quando é explicitamente fundida com a conclusão narrativa.
Erros e percalços ao longo do caminho das 4 temporadas, como excessiva flanderização e mudanças de elenco são revistados e corrigidos de maneira a representar da melhor maneira a visão das showrunners desses personagens e desse mundo - muito provavelmente boa parte dos episódios finais estava esboçada desde o início.
CXG deve - eu espero - ser elevado ao longo do tempo às alturas de um clássico, e prova que televisão de qualidade - e a exploração madura de temas tabu e necessários - não é propriedade exclusiva do drama de tom solene.
Outros gêneros, como a comédia, merecem o reconhecimento pelo trabalho de altíssimo nível, que várias supera aquele encontrado naquele gênero superestimado, especialmente na televisão.
O grande destaque dessa temporada, além do belo finale, e da conclusão da história dos personagens do elenco principal, é a representação das idas e vindas em um tratamento de transtorno mental, e a maneira mais saudável de lidar com estas em um relacionamento, sem que um parceiro se auto-sacrifique. Por isso, trazer o personagem do Greg de volta em uma versão já desenvolvida foi um acerto fundamental da segunda metade da temporada.
Crazy Ex-Girlfriend (3ª Temporada)
4.2 48 Assista AgoraA temporada de virada, onde as showrunners mostram as suas cartas ao público: a série que, até então, se colocava mais explicitamente apenas como paródia de comédias românticas e musicais, revela-se ser sobre saúde mental.
A sua primeira metade lida com os eventos desastrosos do season finale anterior rompendo com tropos de rom com e sugerindo mais do que nunca o diagnóstico da protagonista de Transtorno de Personalidade Borderline ao apresentar sua desesperadora desestabilização, simbolizando-a pela troca da linguagem da rom com pela do thriller sexual (a paródia definitiva de 50 tons de cinza e Atração Fatal acontece aqui) e depois pela do slasher, chegando ao ápice com uma tentativa de suicídio, o diagnóstico explícito de TPB e a promessa de recomeço e redenção.
A segunda metade da temporada, menos brilhante, encontra dificuldade em equilibrar o humor negro com o pastelão que as primeiras duas tão bem fizeram, em parte porque os episódios anteriores explicitaram os temas que ficavam no subtexto nessas temporadas.
Tramas mais "fofinhas" e tradicionais de sitcom, como um casamento e um nascimento, também soam meio perdidas e fora de tom com o resto da temporada.
Ainda assim, a série merece a "passada de pano" pela representação impressionante do TPB, por sustentar empatia com uma protagonista nos piores momentos que o transtorno pode promover e pela promessa de lidar com as consequências dos seus atos de maneira humanizada. Ponto imperdoável: personagem da Valência completamente desperdiçada, de tão flanderizada.
Crazy Ex-Girlfriend (2ª Temporada)
4.2 53 Assista AgoraA equipe de CXG enfrenta percalços nessa temporada com a saída de um membro essencial do elenco e um número reduzido de episódios.
Assim, é assombroso o quão positivo fica o saldo, quase tão brilhante quanto a primeira.
Um personagem essencial tem uma resolução relâmpago do seu arco, mas bem executada, sendo responsável por um dos melhores momentos da temporada. Acaba funcionando inadvertidamente como um bom presságio do quão mais explícita torna-se a abordagem de CXG dos seus temas ao longo dessa temporada.
Depois desse baque, alguns episódios são usados pra reestabelecer o status quo, inclusive através da inserção - com direito a humor auto-referente - de um novo personagem, e a partir daí a série retoma a história que se propôs a contar desde o primeiro episódio da primeira temporada com maestria.
Único ponto negativo mais injustificado dessa temporada é a flanderização do Josh. Sim, é uma sitcom, flanderização acontece, mas me pareceu uma solução muito simples pra explicitar a incompatibilidade que sempre existiu entre ele e a Rebecca, e acho que um efeito inadvertido disso foi virar o público contra um personagem tão interessante quanto os demais.
Crazy Ex-Girlfriend (1ª Temporada)
4.1 98 Assista AgoraUma das mais hilárias e sensíveis representações de (inúmeros) transtornos mentais na mídia. Quem enfrenta algum ou é familiar/amigo/companheiro de alguém que enfrenta vai se identificar. Há o equilíbrio certo - e quase impossível - entre a leveza de saber rir da nossa frágil humanidade e a exposição crua e honesta de alguns dos mais abjetos comportamentos a que podemos ser levados por nossas questões pessoais.
Todos os personagens, aparentemente cartunescos, tem toneladas de bagagem, que longe de serem explicitamente apontadas, são sugeridas por comportamentos, olhares, falas, etc. E por mais perto do fundo do poço que cheguem esses personagens, a série nunca se rende ao moralismo simplório de simplesmente julgá-los - ele procura desenvolver no expectador uma empatia genuína, que enxerga a dor humana por trás de cada engodo, comportamento auto-destrutivo e auto-engano.
E sim, as músicas de Rachel Bloom são hilárias desde F**k Me, Ray Bradbury, do distante ano de 2010.
Arquivo 81 (1ª Temporada)
3.6 218 Assista AgoraUma surpreendente e ótima entrada audiovisual no gênero de Horror Cósmico, criado pelo H.P. Lovecraft, onde os elementos da narrativa servem à construção de uma atmosfera opressiva, sugerindo forças além da compreensão humana.
Acho que a série se perde um pouco no final por tentar encaixar todos os elementos de uma forma muito "redondinha" e ceder um pouco aos manuais de roteiro, mas isso não tira seu mérito.
Netflix desceu o machado nela, é claro, porque ela é incapaz de deixar umas obras de nicho bem produzidas no catálogo, e isso ainda será sua ruína
Assim queira Kaleego
Para quem quiser conhecer mais o gênero, as histórias de Lovecraft "A música de Erich Zann", "Os sonhos na casa da bruxa" e "a cor que veio do espaço" remetem à série de uma maneira bem bacana.
Acho que podem ter sido referências.