Já vale um crédito só pelo fato de ser um daqueles filmes feito quase inteiro em um ambiente apenas e não cair na monotonia, mas no fim das contas o resultado ser realmente um filme interessante.
Claramente de baixo orçamento, com apenas um ator mais conhecido no elenco, e de produção muito, muito simples, ainda assim, consegue fazer render bem com os poucos recursos utilizados. Bem dirigido, produção adequada de imagem e atmosfera, também entrega uma história com razoável nível de complexidade e que permite leituras variadas: pode ser visto como uma diversão rápida, só um trhiller de terror e mistério, ou como um estudo mais aprofundado sobre temas como o valor da vida e o papel da família, religiosidade, culpa e arrependimento, expiação de erros, e responsabilidade. E isso sem que nenhuma das formas de assistir saia muito prejudicada pela outra. Só por isso já vale uma notinha a mais.
Ainda não deu pra fazer cócegas na luta DC x Marvel, mas aparentemente nesse filme a DC parece ter encontrado um equilíbrio mínimo. Assumiu de vez a natureza simbolicamente mitológica de seus heróis e conseguiu fazer um filme mais próximo do da Mulher Maravilha, que tem um ótimo conceito com os fãs.
Jason Momoa conseguiu emplacar um Aquaman que conquistou a simpatia do público em geral, e o bom trabalho com os efeitos especiais, notadamente nas sequências de Atlantis, conseguiu impactar a ponto de fazer o público esquecer (ou ao menos relevar) os problemas pontuais aqui e acolá.
Junte-se a isso algumas sequências realmente inspiradas e um clima light-hearted que contagia a maior parte do filme, dá pra sair satisfeito do filme. Bom, pelo menos bem mais satisfeito do que com aquele Lex Luthor horroroso do Jesse Eisenberg no Batman vs Superman.
Infelizmente, o mais fraco da trilogia. Tinha potencial, mas alguma coisa se perdeu no caminho. O personagem péssimo, interpretado com muita má vontade pela muito pouco suportável Sarah Paulson não ajudou. Aliado a isso, algumas escolhas narrativas do roteiro diminuíram muito o impacto positivo alcançado pela atmosfera sombria no imediatamente anterior Fragmentado. Uma pena.
Filme dos irmãos Coen é isso mesmo, tem-se que estar em um certo estado de espírito específico e estar com a antena calibrada pra um certo tom estético/estilístico que existe na obra deles. Não chega a ser um caso de "ame ou odeie", mas passa perto. Não sou fã incondicional da obra deles, mas também não sou maluco. Sempre é bom prestar atenção em tudo deles, pois os caras são muito competentes no que fazem, gostando-se do estilo ou não.
O interessante em Buster Scruggs é o fato (vantajoso na minha experiência ao assistir) de o filme ser dividido em várias histórias permitir a chance de um mesmo espectador gostar muito de algumas histórias mesmo que não goste de outras. Achei ótimos os episódios "All Gold Canyon", "The Mortal Remains" e "The Gal Who Got Rattled" e medianos "The Ballad of Buster Scruggs" (justo a faixa-título), "Near Algodones" e "Meal Ticket" (que embora muito bem realizado pegou pesado demais no melodrama a meu ver).
Mas na média, a qualidade técnica, as atuações, a direção de arte e a produção em si já valem. Quem é fã de carteirinha do Coen vai assistir e tirar proveito de qualquer maneira. Já quem não é habituado, ainda assim tem material bom ali pra se aproveitar. Só não recomendo mesmo pra quem já não é fã de western, visto que mesmo não sendo um filme típico do estilo, quase todas as temáticas ligadas ao tema são tratadas no filme. E o mais interessante, de maneira pouco usual do que a permitida nos westerns mais tradicionais.
Fraco. Uma tentativa de ficção/viagem no tempo com uma vibe realidade do tipo Alta Frequência (2000), até bem intencionado na premissa, mas péssimo na execução. Boyd Holbrook não segura bem o papel principal, talvez muito atrapalhado pelo seu "envelhecimento" no decorrer da trama, que se resumiu a colocar mais barba e embranquecer cabelos, com o ator interpretando exatamente igual em toda as instâncias de tempo. Quem viu o excelente trabalho de interpretação com passagens de tempo feito pelo Mahershala Ali na S3 de True Detective não vai conseguir engolir o que acontece nesse filme.
O roteiro também é desgracento. Coloca o excelente ator Michael C. Hall (Dexter) num papel horroroso de mal escrito, cria um pano de fundo para a vida do protagonista Lockhart muito pouco verossímil e enfia uma cena de perseguição absolutamente dispensável, pobre e que nada acrescenta à história. Sem contar que o filme praticamente todo é baseado em situações-chave que poderiam ser explicadas com um café e 10 minutinhos de conversa, no mundo real.
No fim, é mais fácil aceitar a possibilidade de viagem no tempo esquisitinha (possível através da água em uma fase específica da lua) oferecida pelo filme do que entender como pegaram uma ideia até simpática de filme e estragaram tanto com uma roteirização tão mequetrefe.
Representante honroso de uma rara categoria de filmes que tentam burlar a hegemonia esquerdista no audiovisual brasileiro. Desperta ódio e preconceito automático nos soças, obviamente. Por esse motivo apenas, já vale dar uma olhada.
Uma daquelas pequenas joias perdidas, que muito facilmente a gente deixa passar e só acaba descobrindo muito depois de lançado. Embora não acrescente nada de novo a um estilo tão rico de cinema, é um filme redondo, bem-feito, com todos os ingredientes para agradar quem e fã de westerns. No caso desse em específico, quando assisti acabou por agradar até quem não é necessariamente fã, por apresentar uma história com camadas narrativas que vão além dos temas de superfície do gênero.
Por baixo de uma história clássica de crime e castigo, desenrola-se uma tapeçaria complexa de assuntos: desde conflitos de consciência, às reflexões ao se aproximar do fim da vida, passando pela possibilidade de redenção, a expiação por pecados do passado, a defesa do direito à vida e à propriedade frente à opressão do mais forte, o estado como agente da injustiça versus o indivíduo oprimido que decide fazer por si mesmo, o preconceito, a busca por segundas chances, a consciência de comunidade, entre outros.
Com uma trilha sonora correta e atuações que variam do correto ao excelente, tudo embalado por uma fotografia de primeira linha, é um filme imperdível para quem é fã do estilo, e bastante recomendável até para quem não é, mas se interessa por algum dos assuntos tocados na trama.
Revi recentemente, depois de tantas sessões do SuperCine nos anos 80 e 90, e foi um prazer poder revisitar a trama sem os inúmeros cortes que as televisões faziam. Um clássico absoluto dos anos 80. Por mais que pareça um tanto datado no sentido técnico, notadamente na questão dos efeitos especiais em geral, dá um banho de narrativa, de roteiro, e de construção da tensão na trama em comparação a muito que se faz hoje.
Tanto que rendeu um remake irrelevante, que focou muito mais na tentativa descarada de fazer "womanwashing" com a antipática M.E.Winstead no lugar do Kurt Russel e menos em fazer um remake digno. Mesmo com toda a tecnologia de efeitos especiais e a técnica aprimorada de três décadas depois, o original segue sendo the real deal.
Não assisti ao original, mas do tanto que pude pesquisar a respeito dele, louvável a decisão criativa dos responsáveis por essa nova versão de fazer uma releitura que ao mesmo tempo bebe do original, mas propõe uma abordagem diferente.
A parte técnica é irretocável. Câmera, ambientação, fotografia, mise en scéne, direção artística, tudo de primeiríssima e 100% a serviço da obra. Até aí nada a reclamar. A relação da dança com o ritual e com o segredo por trás da escola também me pareceu um grande acerto.
Como ponto negativo, eu apenas destacaria algumas decisões de estilo de narrativa que flertam perigosamente na fronteira do nonsense por si só, sem prestar serviço à história, aparentando meros exercícios de esquisitice pura e simples. Em certos momentos, a trama segue bem, absorvente e macabra, pra ser quebrada por momentos de puro anticlímax, bem corta-tesão mesmo. Por sorte, apesar desses momentos serem bastante frequentes, não chegam a destruir a experiência de assistir ao filme, apenas diminuem um pouco a potência do que poderia ter sido uma verdadeira obra-prima, mas acabou se tornando apenas um bom filme, com excelentes momentos. Exatamente esses momentos, pontos catárticos, macabros ou de conclusão de linhas narrativas, que compensam as pequenas imperfeições. Cenas como a da primeira dança de Susie (e os efeitos que ela causa) e a do ritual final em todo seu esplendor tornam esse filme digno de ser assistido, e dono de mérito próprio, mesmo sendo um remake de uma obra já célebre.
A cena final por si só, já renderia uma puta, enorme, colossal autocrítica a uma série de questões que estão super em voga hoje e que (infelizmente) parecem absolutamente incapazes de se autocriticarem. A simbologia está toda, todinha ali. Sorte de quem percebeu, sorte de quem perceber.
Conseguiu ao mesmo tempo criar uma boa unidade com o primeiro filme e ser até um pouco melhor que ele. Desenvolveu bem os personagens e tratou com maestria a ligação das tramas e questões entre a fase dos adolescentes até a fase dos adultos e também a forma como essa passagem influenciou a vida de cada um.
Em certos momentos parece que se trata apenas de um só filmão, e não de um esquema de parte 1 e parte 2. E a maestria técnica necessária pra fazer isso ficar tão natural na tela não é pouca nem fácil de se conseguir. No mais, teve uma profusão de referências de época, pra fã de Stranger Things nenhum botar defeito, excelentes easter eggs (a questão dos finais nos roteiros do Bill mais a cena dele na loja de antiguidades é um fan service delicioso, de primeiríssima categoria) e ótimos desempenhos do elenco adulto, coroando de êxito a graça e a competência da molecada da primeira parte.
Qualquer pessoa que tenha um mínimo de empatia para com o subtexto da coisa toda, vai achar difícil entender tanta má-vontade para com o "pequeno Superman do mal". Pra começar, o filme pega um conceito da cultura pop (que por mais amado que seja, já é uma alegoria por si só) e simplesmente o subverte pra explorar o que poderia ter dado errado ali. Em vez de fazer um remake ou uma das mais de mil releituras ou pastiches que se costuma fazer do gênero de super-herói, o filme escolhe trabalhar um roteiro de uma forma mais adulta, mais dura e violenta. E o que acontece? Mimimi de gente que esperava ser atendido nos seus desejos e não em entender um produto pronto que vem entregue de forma muito honesta.
O filme tem camadas que exploram com extrema competência o egoísmo, a obsessão por ter filhos a qualquer custo, a vida interiorana versus uma visão de mundo mais ampla, a diferença da inocência dos tempos em que o mito original foi criado e os tempos cínicos em que vivemos hoje, como o excesso de permissividade de de incompreensão pode contribuir para gerar comportamentos psicóticos, uma geração que praticamente grita por uma forma diferente da atual de ser educada para não ficar à mercê de seu próprio potencial para o caos e a violência, enfim... Tem muito material.
E como pequenos ajustes de conceito numa história muito conhecida podem gerar um filme ruim se for feito em um estilo, mas uma experiência cinematográfica muito mais compensadora se for trabalhada em outro estilo. Não acredite no anti-hype. Trata-se de um filme que pode surpreender, principalmente aos fãs de cultura pop mais raiz. Quem for Nutella basta aceitar, que dói menos.
Trata-se de um exótico e extremamente bem-intencionado filme espanhol, falado no idioma basco. Conta uma história baseada em folclore local, mas com um cuidado e com uma inventividade poucas vezes vista em filmes de baixo orçamento até mesmo se comparado a certas produções americanas (é, canal Sci-Fi, estou falando com vocês mesmo, seus vacilões).
A história da menina que encontra um ferreiro que mantém preso um demônio em sua oficina certamente despertará uma boa dose identificação no brasileiro, por conta da nossa proximidade com as origens dos folclores de tradição ibérica. Em vários minutos é fácil perceber de onde vieram vários elementos de nosso cordel e de nossas lendas e crendices populares a respeito de histórias de assustar crianças, de seres mágicos, da religiosidade das pequenas cidades, das artimanhas e dos subterfúgios para enganar até o diabo.
Em alguns momentos é perceptível que não se trata de uma produção rica, mas é difícil não sentir uma certa simpatia por um filme feito de forma a render tanto com tão pouco. O bom trabalho do ator Eneko Sagardoy no papel de Sartael é algo a se destacar, pois o ator e a produção+maquiagem conseguiram fazer seu personagem crível e encantadoramente tridimensional com muito mais suporte na arte cinematográfica tradicional do que em efeitos milionários de CGI. Algo a se aplaudir hoje em dia.
Não achei ruim, mas também não foi essa Coca-Cola toda que o pessoal tem falado não.
Diferente da levada mais "épica" que a DC tem colocado em seus outros filmes, (numa honesta, embora nem sempre tão bem-sucedida tentativa de se diferenciar do "estilo Marvel") nesse aqui, a tentativa de fazer um filme mais leve e mais família pareceu até bem-intencionada, mas bastante irregular. Diferente dos momentos sarcásticos e de humor mais adulto que acabaram rendendo os melhores momentos no filme do Esquadrão Suicida, aqui tentou-se (por necessidade óbvia do contexto do filme) usar um humor mais infanto-juvenil, que nem sempre funciona bem.
O roteiro, embora tenha conseguido fazer uma boa costura de elementos da (longa) tradição do personagem para criar uma história de origem coerente, patinou feio no ritmo e na péssima alternância entre momentos sérios e piadas. No fim, o filme ainda é simpático o suficiente para alegrar muitas Sessões da Tarde daqui a um tempinho.
Injusta a nota. Levando em conta que é bem difícil adaptar os livros do Stephen King pro cinema, esse filme consegue passar bem no teste do péssimo ou ótimo. Não fica no topo da lista dos ótimos, mas certamente conseguiu cumprir a missão com honra.
As atuações são ótimas, tanto do elenco adulto quanto das crianças, e a estrutura narrativa é melhor que a da primeira adaptação da década de 80. Pet Sematary é um livro longo, que se fosse adaptado ao pé da letra renderia um filme chato pra cacete. Embora para quem conheça o livro algumas partes do roteiro pareçam um tanto corridas ou com uma resolução rápida demais, esse defeito é perdoado pela necessidade de adaptar tudo em uma janela de tempo cinematográfica. E quem não conhece o livro percebe muito menos esse contratempo.
A adição de detalhes que faltaram na adaptação dos anos 80 também ajuda a criar uma conexão maior com a trama para quem conhece o livro. E para quem não conhece, acaba enriquecendo mais o roteiro, de qualquer forma. Outra questão que ajuda bastante é a tecnologia de efeitos especiais, que ajuda bastante a melhorar o filme em face à versão cinematográfica anterior.
Vale a pena assistir e tirar suas conclusões. Ou o algoritmo que calcula a nota do Filmow está doido ou os votos foram dados por gente que foi enterrada num cemitério de animais de estimação e acabou voltando de lá no meio da noite.
Funciona muito melhor se visto como uma comédia ácida,onde as idiossincrasias das gerações y e z são impiedosamente zoadas. Vale muito mais como um filmão pipoca, de reunião de família e meio que uma homenagem a toda a tradição "bad ass mothafucka" dos Shaft,do que se visto como um mero filme de ação/policial. Nesse quesito aliás tem coisa bem melhor por aí. Se visto com o espírito correto, esse aqui acaba rendendo mais do que promete até. Só vai decepcionar mesmo quem chegar esperando outra coisa.
McCounaughey faz muito bem o papel de cara machucado por um passado misterioso, e também encarna o cliché do " aparentemente canalha mas com coração de ouro". Só que nesse filme a sensação de que ele está fazendo mais uma vez um papel tão costumeiro já tira um pouco a novidade do filme.
Por outro lado, Anne Hathaway definitivamente mostra que é uma atriz muito boa para certos tipos de papéis, mas para o de "loira fatal" misturado com "dama em perigo" deste filme, definitivamente não serve. Por mais que sua atuação não seja ruim, o desconforto de um papel que nada tem a ver seu estilo fica aparente.
O resto do elenco principal (Diane Lane, Djimon Hounsou e Jason Clarke) tem bons desempenhos mas ficam limitados por questões de roteiro. Fator aliás, que consegue transformar um filme promissor, bem produzido e com uma boa premissa em uma alegoria sobre abuso, violência, e fuga da realidade que vai ficando cada vez mais sombrio e triste à medida que a trama evolui para sua conclusão. Você sente que chega-se ao fim da jornada sentido uma tristeza que não devia estar lá.
Embora tenha envelhecido um pouco mal (assistindo em 2019) no quesito visual, com uma vibe mais early 90's do que da virada dos anos 2000, isso não desmerece o filme.
Pouco pretensioso, justamente por isso acaba dando a sensação de que saímos com mais do que pagamos pra assistir. Conta com alguns atores ruins cuja carreira floparia mais à frente entregando desempenhos bem razoáveis; e alguns atores bons fazendo sua parte de maneira competente. Traz uma história esperta e um roteiro bem amarrado, que mantém o interesse. Tirando o fato da direção ser um pouco seca e cintura dura demais em alguns momentos, mesmo isso acaba não sendo relevante o suficiente para estragar a experiência.
Trata-se daquele tipo de história que merecia um remake. Com uma direção de arte à altura e efeitos especiais atuais, renderia um filmaço.
Se os responsáveis por este filme tivessem se preocupado mais em contar uma história e menos em fazer um panfleto de proselitismo revolucionário descarado disfarçado de filme de invasão alienígena, talvez o resultado fosse um produto melhor de se assistir.
Uma pena, pois bons atores como John Goodman, Vera Farmiga e Alan Ruck poderiam contribuir bem mais para um filme com um roteiro mais bem trabalhado e menos mão pesada. As alegorias, referências e "indiretas" são tão grosseiras e sem sutileza que chegam a doer. A trama do irmão mais jovem, interpretado de maneira sofrível por um inexpressivo Ashton Sanders também tenta de toda maneira impor um tom "hollywood lacradora" para a história, sem em momento nenhum acompanhar o resto da trama, nem em ritmo nem em qualidade.
Resumo da ópera, alguns bons atores fazendo o que podem no meio de um roteiro fraco e previsível, baseado em um sentimento de rant puramente ideológico.
Um bom filme de perrengue. Só não ganha uma nota mais alta por conta de ser um tanto parecido, e compartilhar tantos pontos em comum (no geral) com tantos outros filmes do estilo. Este fato atrapalha um pouco, pois facilita que passe batido a real grande qualidade do filme, que é a sutileza e a competência da interpretação do (dispensa apresentações) Mads Mikkelsen. Uma verdadeira tour de force, onde ele carrega (em muito mais de um sentido apenas) o filme nas costas.
A sutileza também se manifesta no roteiro, que embora simples ao máximo, permite que uma gama de sentimentos, princípios, e profundas questões humanas se manifestem no silêncio inóspito do ártico gelado. Vale muito a pena assistir com o espírito preparado, de maneira a não deixar de aproveitar as oportunidades de reflexão que se apresentam: perseverança, nobreza, respeito ao próximo, humanidade, valor da vida, capacidade de enfrentar as dificuldades da vida, todos esses valores tão desprezados ou esquecidos nesses tempos esquizofrênicos.
Juro que tentei olhar esse filme com boa vontade, sem embarcar no hype train, tentando deixar de lado um pouco a grife de "filme da Marvel" e olhar a obra pelo que é. Até porque, por mais que faça parte de um mesmo universo cinematográfico que os outros filmes ele é também o lançamento de uma nova personagem nesse universo, o que precisa ser levado em conta como um "filme de origem" por si só.
Aí, você chega cheio de boas intenções pra assistir e é afrontado com uma personagem principal com um desenvolvimento indigente de tão ruim. Nada com que você possa se identificar, como é possível em dezenas de outros super-heróis em dezenas de outros filmes. Uma personagem mamateira, super-hiper poderosa, mas ao mesmo tempo unidimensional, interpretada com uma falta de inspiração abissal (a ponto da atriz simplesmente se limitar afazer cara de fodona o máximo de vezes possível) e que precisa usar os poderes cósmicos como substituto para qualquer simpatia e carisma. A ponto de se esperar que a pequena Monica Rambeau virasse logo a segunda Capitã Marvel, como foi nas HQs, já que a atriz mirim é infinitamente mais simpática que a Chatol Danvers. Até a mãe da Monica se mostrou uma personagem mais simpática e humana do que a quando não robótica, totalmente sem graça "Vers".
De resto, a dumbificação forçada do Nick Fury em total desacordo com o histórico do personagem no próprio MCU e a transformação dos skrulls, um dos maiores antagonistas do universo marvel em "pobres refugiados" foram forçações de barra claramente impostas... aposta alta da lacrosfera hollywoodiana que acharam que passaria batida, mas foi percebida pelo público.
No final, nem o coitado do gato salva como novidade, principalmente por ser baseado em uma piada que a série MIB já tinha explorado muito em seus filmes pra funcionar tão bem assim dessa vez. Por mais que tenha sido bem produzido e tenha o padrão Marvel de apuro visual, esse filme perdeu a chance de estabelecer uma heroína de verdade, e não projetar uma versão na tela das próprias chatices da atriz que a interpreta.
Hypado, hypado, três vezes hypado. Incensado demais. Overrated até o talo.
Não que se trate de um filme ruim, não que Jordan Peele seja um mau diretor. Não e não. O que acontece aqui é aquilo que acontece quando um artista é alçado a uma condição de "queridinho do momento" e acredita no ruído da máquina.
Tirando todo o hype ideologicamente motivado da Hollywood atual, o que sobra aqui é um filme com uma premissa bastante interessante, com um ritmo, apelo visual e direção de arte bastante promissores, mas que fracassa ao tentar parecer mais do que é. Em certos momentos a dissonância entre cena e trilha sonora chega a irritar. Em outros, cenas que tinham potencial para serem bem melhores são frustradas por uma necessidade de lacrar (a cena do Fuck the Police é um bom exemplo).
No fim, o filme todo parece um episódio mais comprido da série Channel Zero. Série que tem episódios (dependendo da temporada) que dão de 10 nesse filme.
Um filme que cresce sem que se perceba. A fotografia, as atuações, e até mesmo as questões morais por trás do tema central, são todas conduzidas de uma forma extremamente correta. Todos esses elementos seguem de maneira elegante e econômica à medida que o filme se desenrola, sempre servindo à trama e nunca o contrário. Um exemplo disso é a cena da conversa entre o Ranger Hamer e o pai de Clyde Barrow, talvez o maior ponto de inflexão da trama, uma daquelas cenas ao mesmo tempo grandiosas e discretas, que são capazes de levantar uma questão seríssima e ao mesmo tempo funcionar perfeitamente dentro do roteiro sem parecer que foi jogada ou forçada para vender uma ideia específica.
A genial mudança de foco dos bandidos-celebridades para o trabalho policial necessário para encerrar a carreira de crimes da famosa quadrilha é algo que cria uma inevitável nova dimensão humana a uma história já tão conhecida. A América empobrecida do pós-1929, a chegada de novos (e mais violentos) tempos, o conflito entre a simplicidade dos rangers aposentados e as novas tecnologias que então começavam a ser utilizadas no combate ao crime, a influência perniciosa da imprensa, tudo isso contribuindo para criar uma história que funciona, faz refletir e que se apresenta muito bem-contada.
Campo do Medo
2.7 733 Assista AgoraJá vale um crédito só pelo fato de ser um daqueles filmes feito quase inteiro em um ambiente apenas e não cair na monotonia, mas no fim das contas o resultado ser realmente um filme interessante.
Claramente de baixo orçamento, com apenas um ator mais conhecido no elenco, e de produção muito, muito simples, ainda assim, consegue fazer render bem com os poucos recursos utilizados. Bem dirigido, produção adequada de imagem e atmosfera, também entrega uma história com razoável nível de complexidade e que permite leituras variadas: pode ser visto como uma diversão rápida, só um trhiller de terror e mistério, ou como um estudo mais aprofundado sobre temas como o valor da vida e o papel da família, religiosidade, culpa e arrependimento, expiação de erros, e responsabilidade. E isso sem que nenhuma das formas de assistir saia muito prejudicada pela outra. Só por isso já vale uma notinha a mais.
Aquaman
3.7 1,7K Assista AgoraAinda não deu pra fazer cócegas na luta DC x Marvel, mas aparentemente nesse filme a DC parece ter encontrado um equilíbrio mínimo. Assumiu de vez a natureza simbolicamente mitológica de seus heróis e conseguiu fazer um filme mais próximo do da Mulher Maravilha, que tem um ótimo conceito com os fãs.
Jason Momoa conseguiu emplacar um Aquaman que conquistou a simpatia do público em geral, e o bom trabalho com os efeitos especiais, notadamente nas sequências de Atlantis, conseguiu impactar a ponto de fazer o público esquecer (ou ao menos relevar) os problemas pontuais aqui e acolá.
Junte-se a isso algumas sequências realmente inspiradas e um clima light-hearted que contagia a maior parte do filme, dá pra sair satisfeito do filme. Bom, pelo menos bem mais satisfeito do que com aquele Lex Luthor horroroso do Jesse Eisenberg no Batman vs Superman.
Vidro
3.5 1,3K Assista AgoraInfelizmente, o mais fraco da trilogia. Tinha potencial, mas alguma coisa se perdeu no caminho. O personagem péssimo, interpretado com muita má vontade pela muito pouco suportável Sarah Paulson não ajudou. Aliado a isso, algumas escolhas narrativas do roteiro diminuíram muito o impacto positivo alcançado pela atmosfera sombria no imediatamente anterior Fragmentado. Uma pena.
A Balada de Buster Scruggs
3.7 536 Assista AgoraFilme dos irmãos Coen é isso mesmo, tem-se que estar em um certo estado de espírito específico e estar com a antena calibrada pra um certo tom estético/estilístico que existe na obra deles. Não chega a ser um caso de "ame ou odeie", mas passa perto. Não sou fã incondicional da obra deles, mas também não sou maluco. Sempre é bom prestar atenção em tudo deles, pois os caras são muito competentes no que fazem, gostando-se do estilo ou não.
O interessante em Buster Scruggs é o fato (vantajoso na minha experiência ao assistir) de o filme ser dividido em várias histórias permitir a chance de um mesmo espectador gostar muito de algumas histórias mesmo que não goste de outras. Achei ótimos os episódios "All Gold Canyon", "The Mortal Remains" e "The Gal Who Got Rattled" e medianos "The Ballad of Buster Scruggs" (justo a faixa-título), "Near Algodones" e "Meal Ticket" (que embora muito bem realizado pegou pesado demais no melodrama a meu ver).
Mas na média, a qualidade técnica, as atuações, a direção de arte e a produção em si já valem. Quem é fã de carteirinha do Coen vai assistir e tirar proveito de qualquer maneira. Já quem não é habituado, ainda assim tem material bom ali pra se aproveitar. Só não recomendo mesmo pra quem já não é fã de western, visto que mesmo não sendo um filme típico do estilo, quase todas as temáticas ligadas ao tema são tratadas no filme. E o mais interessante, de maneira pouco usual do que a permitida nos westerns mais tradicionais.
Star Wars, Episódio IX: A Ascensão Skywalker
3.2 1,3K Assista AgoraVagabundo conseguiu a façanha de cagar tanto a série a ponto de me fazer não querer ir ver no cinema. Locadora do Paulo Coelho, aí vou eu.
Sombra Lunar
3.0 281 Assista AgoraFraco. Uma tentativa de ficção/viagem no tempo com uma vibe realidade do tipo Alta Frequência (2000), até bem intencionado na premissa, mas péssimo na execução. Boyd Holbrook não segura bem o papel principal, talvez muito atrapalhado pelo seu "envelhecimento" no decorrer da trama, que se resumiu a colocar mais barba e embranquecer cabelos, com o ator interpretando exatamente igual em toda as instâncias de tempo. Quem viu o excelente trabalho de interpretação com passagens de tempo feito pelo Mahershala Ali na S3 de True Detective não vai conseguir engolir o que acontece nesse filme.
O roteiro também é desgracento. Coloca o excelente ator Michael C. Hall (Dexter) num papel horroroso de mal escrito, cria um pano de fundo para a vida do protagonista Lockhart muito pouco verossímil e enfia uma cena de perseguição absolutamente dispensável, pobre e que nada acrescenta à história. Sem contar que o filme praticamente todo é baseado em situações-chave que poderiam ser explicadas com um café e 10 minutinhos de conversa, no mundo real.
No fim, é mais fácil aceitar a possibilidade de viagem no tempo esquisitinha (possível através da água em uma fase específica da lua) oferecida pelo filme do que entender como pegaram uma ideia até simpática de filme e estragaram tanto com uma roteirização tão mequetrefe.
Bonifácio - O Fundador do Brasil
4.5 17Representante honroso de uma rara categoria de filmes que tentam burlar a hegemonia esquerdista no audiovisual brasileiro. Desperta ódio e preconceito automático nos soças, obviamente. Por esse motivo apenas, já vale dar uma olhada.
Pacto de Justiça
3.7 85Uma daquelas pequenas joias perdidas, que muito facilmente a gente deixa passar e só acaba descobrindo muito depois de lançado. Embora não acrescente nada de novo a um estilo tão rico de cinema, é um filme redondo, bem-feito, com todos os ingredientes para agradar quem e fã de westerns. No caso desse em específico, quando assisti acabou por agradar até quem não é necessariamente fã, por apresentar uma história com camadas narrativas que vão além dos temas de superfície do gênero.
Por baixo de uma história clássica de crime e castigo, desenrola-se uma tapeçaria complexa de assuntos: desde conflitos de consciência, às reflexões ao se aproximar do fim da vida, passando pela possibilidade de redenção, a expiação por pecados do passado, a defesa do direito à vida e à propriedade frente à opressão do mais forte, o estado como agente da injustiça versus o indivíduo oprimido que decide fazer por si mesmo, o preconceito, a busca por segundas chances, a consciência de comunidade, entre outros.
Com uma trilha sonora correta e atuações que variam do correto ao excelente, tudo embalado por uma fotografia de primeira linha, é um filme imperdível para quem é fã do estilo, e bastante recomendável até para quem não é, mas se interessa por algum dos assuntos tocados na trama.
O Enigma de Outro Mundo
4.0 983 Assista AgoraRevi recentemente, depois de tantas sessões do SuperCine nos anos 80 e 90, e foi um prazer poder revisitar a trama sem os inúmeros cortes que as televisões faziam. Um clássico absoluto dos anos 80. Por mais que pareça um tanto datado no sentido técnico, notadamente na questão dos efeitos especiais em geral, dá um banho de narrativa, de roteiro, e de construção da tensão na trama em comparação a muito que se faz hoje.
Tanto que rendeu um remake irrelevante, que focou muito mais na tentativa descarada de fazer "womanwashing" com a antipática M.E.Winstead no lugar do Kurt Russel e menos em fazer um remake digno. Mesmo com toda a tecnologia de efeitos especiais e a técnica aprimorada de três décadas depois, o original segue sendo the real deal.
Suspíria: A Dança do Medo
3.7 1,2K Assista AgoraNão assisti ao original, mas do tanto que pude pesquisar a respeito dele, louvável a decisão criativa dos responsáveis por essa nova versão de fazer uma releitura que ao mesmo tempo bebe do original, mas propõe uma abordagem diferente.
A parte técnica é irretocável. Câmera, ambientação, fotografia, mise en scéne, direção artística, tudo de primeiríssima e 100% a serviço da obra. Até aí nada a reclamar. A relação da dança com o ritual e com o segredo por trás da escola também me pareceu um grande acerto.
Como ponto negativo, eu apenas destacaria algumas decisões de estilo de narrativa que flertam perigosamente na fronteira do nonsense por si só, sem prestar serviço à história, aparentando meros exercícios de esquisitice pura e simples. Em certos momentos, a trama segue bem, absorvente e macabra, pra ser quebrada por momentos de puro anticlímax, bem corta-tesão mesmo. Por sorte, apesar desses momentos serem bastante frequentes, não chegam a destruir a experiência de assistir ao filme, apenas diminuem um pouco a potência do que poderia ter sido uma verdadeira obra-prima, mas acabou se tornando apenas um bom filme, com excelentes momentos. Exatamente esses momentos, pontos catárticos, macabros ou de conclusão de linhas narrativas, que compensam as pequenas imperfeições. Cenas como a da primeira dança de Susie (e os efeitos que ela causa) e a do ritual final em todo seu esplendor tornam esse filme digno de ser assistido, e dono de mérito próprio, mesmo sendo um remake de uma obra já célebre.
A cena final por si só, já renderia uma puta, enorme, colossal autocrítica a uma série de questões que estão super em voga hoje e que (infelizmente) parecem absolutamente incapazes de se autocriticarem. A simbologia está toda, todinha ali. Sorte de quem percebeu, sorte de quem perceber.
It: Capítulo Dois
3.4 1,5K Assista AgoraConseguiu ao mesmo tempo criar uma boa unidade com o primeiro filme e ser até um pouco melhor que ele. Desenvolveu bem os personagens e tratou com maestria a ligação das tramas e questões entre a fase dos adolescentes até a fase dos adultos e também a forma como essa passagem influenciou a vida de cada um.
Em certos momentos parece que se trata apenas de um só filmão, e não de um esquema de parte 1 e parte 2. E a maestria técnica necessária pra fazer isso ficar tão natural na tela não é pouca nem fácil de se conseguir. No mais, teve uma profusão de referências de época, pra fã de Stranger Things nenhum botar defeito, excelentes easter eggs (a questão dos finais nos roteiros do Bill mais a cena dele na loja de antiguidades é um fan service delicioso, de primeiríssima categoria) e ótimos desempenhos do elenco adulto, coroando de êxito a graça e a competência da molecada da primeira parte.
Brightburn: Filho das Trevas
2.7 607 Assista AgoraTalvez o filme mais mal-compreendido do ano.
Qualquer pessoa que tenha um mínimo de empatia para com o subtexto da coisa toda, vai achar difícil entender tanta má-vontade para com o "pequeno Superman do mal". Pra começar, o filme pega um conceito da cultura pop (que por mais amado que seja, já é uma alegoria por si só) e simplesmente o subverte pra explorar o que poderia ter dado errado ali. Em vez de fazer um remake ou uma das mais de mil releituras ou pastiches que se costuma fazer do gênero de super-herói, o filme escolhe trabalhar um roteiro de uma forma mais adulta, mais dura e violenta. E o que acontece? Mimimi de gente que esperava ser atendido nos seus desejos e não em entender um produto pronto que vem entregue de forma muito honesta.
O filme tem camadas que exploram com extrema competência o egoísmo, a obsessão por ter filhos a qualquer custo, a vida interiorana versus uma visão de mundo mais ampla, a diferença da inocência dos tempos em que o mito original foi criado e os tempos cínicos em que vivemos hoje, como o excesso de permissividade de de incompreensão pode contribuir para gerar comportamentos psicóticos, uma geração que praticamente grita por uma forma diferente da atual de ser educada para não ficar à mercê de seu próprio potencial para o caos e a violência, enfim... Tem muito material.
E como pequenos ajustes de conceito numa história muito conhecida podem gerar um filme ruim se for feito em um estilo, mas uma experiência cinematográfica muito mais compensadora se for trabalhada em outro estilo. Não acredite no anti-hype. Trata-se de um filme que pode surpreender, principalmente aos fãs de cultura pop mais raiz. Quem for Nutella basta aceitar, que dói menos.
Errementari: O Ferreiro e o Diabo
3.2 175 Assista AgoraTrata-se de um exótico e extremamente bem-intencionado filme espanhol, falado no idioma basco. Conta uma história baseada em folclore local, mas com um cuidado e com uma inventividade poucas vezes vista em filmes de baixo orçamento até mesmo se comparado a certas produções americanas (é, canal Sci-Fi, estou falando com vocês mesmo, seus vacilões).
A história da menina que encontra um ferreiro que mantém preso um demônio em sua oficina certamente despertará uma boa dose identificação no brasileiro, por conta da nossa proximidade com as origens dos folclores de tradição ibérica. Em vários minutos é fácil perceber de onde vieram vários elementos de nosso cordel e de nossas lendas e crendices populares a respeito de histórias de assustar crianças, de seres mágicos, da religiosidade das pequenas cidades, das artimanhas e dos subterfúgios para enganar até o diabo.
Em alguns momentos é perceptível que não se trata de uma produção rica, mas é difícil não sentir uma certa simpatia por um filme feito de forma a render tanto com tão pouco. O bom trabalho do ator Eneko Sagardoy no papel de Sartael é algo a se destacar, pois o ator e a produção+maquiagem conseguiram fazer seu personagem crível e encantadoramente tridimensional com muito mais suporte na arte cinematográfica tradicional do que em efeitos milionários de CGI. Algo a se aplaudir hoje em dia.
Shazam!
3.5 1,2K Assista AgoraNão achei ruim, mas também não foi essa Coca-Cola toda que o pessoal tem falado não.
Diferente da levada mais "épica" que a DC tem colocado em seus outros filmes, (numa honesta, embora nem sempre tão bem-sucedida tentativa de se diferenciar do "estilo Marvel") nesse aqui, a tentativa de fazer um filme mais leve e mais família pareceu até bem-intencionada, mas bastante irregular. Diferente dos momentos sarcásticos e de humor mais adulto que acabaram rendendo os melhores momentos no filme do Esquadrão Suicida, aqui tentou-se (por necessidade óbvia do contexto do filme) usar um humor mais infanto-juvenil, que nem sempre funciona bem.
O roteiro, embora tenha conseguido fazer uma boa costura de elementos da (longa) tradição do personagem para criar uma história de origem coerente, patinou feio no ritmo e na péssima alternância entre momentos sérios e piadas. No fim, o filme ainda é simpático o suficiente para alegrar muitas Sessões da Tarde daqui a um tempinho.
Cemitério Maldito
2.7 891Injusta a nota. Levando em conta que é bem difícil adaptar os livros do Stephen King pro cinema, esse filme consegue passar bem no teste do péssimo ou ótimo. Não fica no topo da lista dos ótimos, mas certamente conseguiu cumprir a missão com honra.
As atuações são ótimas, tanto do elenco adulto quanto das crianças, e a estrutura narrativa é melhor que a da primeira adaptação da década de 80. Pet Sematary é um livro longo, que se fosse adaptado ao pé da letra renderia um filme chato pra cacete. Embora para quem conheça o livro algumas partes do roteiro pareçam um tanto corridas ou com uma resolução rápida demais, esse defeito é perdoado pela necessidade de adaptar tudo em uma janela de tempo cinematográfica. E quem não conhece o livro percebe muito menos esse contratempo.
A adição de detalhes que faltaram na adaptação dos anos 80 também ajuda a criar uma conexão maior com a trama para quem conhece o livro. E para quem não conhece, acaba enriquecendo mais o roteiro, de qualquer forma. Outra questão que ajuda bastante é a tecnologia de efeitos especiais, que ajuda bastante a melhorar o filme em face à versão cinematográfica anterior.
Vale a pena assistir e tirar suas conclusões. Ou o algoritmo que calcula a nota do Filmow está doido ou os votos foram dados por gente que foi enterrada num cemitério de animais de estimação e acabou voltando de lá no meio da noite.
Democracia em Vertigem
4.1 1,3Khttps://cultura.estadao.com.br/blogs/estado-da-arte/o-fantastico-mundo-de-petra-como-a-cineasta-inventou-um-passado-clandestino-para-seus-pais/
Shaft
3.4 164 Assista AgoraFunciona muito melhor se visto como uma comédia ácida,onde as idiossincrasias das gerações y e z são impiedosamente zoadas. Vale muito mais como um filmão pipoca, de reunião de família e meio que uma homenagem a toda a tradição "bad ass mothafucka" dos Shaft,do que se visto como um mero filme de ação/policial. Nesse quesito aliás tem coisa bem melhor por aí. Se visto com o espírito correto, esse aqui acaba rendendo mais do que promete até. Só vai decepcionar mesmo quem chegar esperando outra coisa.
Calmaria
2.5 242 Assista AgoraMcCounaughey faz muito bem o papel de cara machucado por um passado misterioso, e também encarna o cliché do " aparentemente canalha mas com coração de ouro". Só que nesse filme a sensação de que ele está fazendo mais uma vez um papel tão costumeiro já tira um pouco a novidade do filme.
Por outro lado, Anne Hathaway definitivamente mostra que é uma atriz muito boa para certos tipos de papéis, mas para o de "loira fatal" misturado com "dama em perigo" deste filme, definitivamente não serve. Por mais que sua atuação não seja ruim, o desconforto de um papel que nada tem a ver seu estilo fica aparente.
O resto do elenco principal (Diane Lane, Djimon Hounsou e Jason Clarke) tem bons desempenhos mas ficam limitados por questões de roteiro. Fator aliás, que consegue transformar um filme promissor, bem produzido e com uma boa premissa em uma alegoria sobre abuso, violência, e fuga da realidade que vai ficando cada vez mais sombrio e triste à medida que a trama evolui para sua conclusão. Você sente que chega-se ao fim da jornada sentido uma tristeza que não devia estar lá.
O Purgatório
3.4 15Embora tenha envelhecido um pouco mal (assistindo em 2019) no quesito visual, com uma vibe mais early 90's do que da virada dos anos 2000, isso não desmerece o filme.
Pouco pretensioso, justamente por isso acaba dando a sensação de que saímos com mais do que pagamos pra assistir. Conta com alguns atores ruins cuja carreira floparia mais à frente entregando desempenhos bem razoáveis; e alguns atores bons fazendo sua parte de maneira competente. Traz uma história esperta e um roteiro bem amarrado, que mantém o interesse. Tirando o fato da direção ser um pouco seca e cintura dura demais em alguns momentos, mesmo isso acaba não sendo relevante o suficiente para estragar a experiência.
Trata-se daquele tipo de história que merecia um remake. Com uma direção de arte à altura e efeitos especiais atuais, renderia um filmaço.
A Rebelião
2.6 126 Assista AgoraSe os responsáveis por este filme tivessem se preocupado mais em contar uma história e menos em fazer um panfleto de proselitismo revolucionário descarado disfarçado de filme de invasão alienígena, talvez o resultado fosse um produto melhor de se assistir.
Uma pena, pois bons atores como John Goodman, Vera Farmiga e Alan Ruck poderiam contribuir bem mais para um filme com um roteiro mais bem trabalhado e menos mão pesada. As alegorias, referências e "indiretas" são tão grosseiras e sem sutileza que chegam a doer. A trama do irmão mais jovem, interpretado de maneira sofrível por um inexpressivo Ashton Sanders também tenta de toda maneira impor um tom "hollywood lacradora" para a história, sem em momento nenhum acompanhar o resto da trama, nem em ritmo nem em qualidade.
Resumo da ópera, alguns bons atores fazendo o que podem no meio de um roteiro fraco e previsível, baseado em um sentimento de rant puramente ideológico.
Ártico
3.4 126Um bom filme de perrengue. Só não ganha uma nota mais alta por conta de ser um tanto parecido, e compartilhar tantos pontos em comum (no geral) com tantos outros filmes do estilo. Este fato atrapalha um pouco, pois facilita que passe batido a real grande qualidade do filme, que é a sutileza e a competência da interpretação do (dispensa apresentações) Mads Mikkelsen. Uma verdadeira tour de force, onde ele carrega (em muito mais de um sentido apenas) o filme nas costas.
A sutileza também se manifesta no roteiro, que embora simples ao máximo, permite que uma gama de sentimentos, princípios, e profundas questões humanas se manifestem no silêncio inóspito do ártico gelado. Vale muito a pena assistir com o espírito preparado, de maneira a não deixar de aproveitar as oportunidades de reflexão que se apresentam: perseverança, nobreza, respeito ao próximo, humanidade, valor da vida, capacidade de enfrentar as dificuldades da vida, todos esses valores tão desprezados ou esquecidos nesses tempos esquizofrênicos.
Um filme precioso, nesse sentido.
Capitã Marvel
3.7 1,9K Assista AgoraJuro que tentei olhar esse filme com boa vontade, sem embarcar no hype train, tentando deixar de lado um pouco a grife de "filme da Marvel" e olhar a obra pelo que é. Até porque, por mais que faça parte de um mesmo universo cinematográfico que os outros filmes ele é também o lançamento de uma nova personagem nesse universo, o que precisa ser levado em conta como um "filme de origem" por si só.
Aí, você chega cheio de boas intenções pra assistir e é afrontado com uma personagem principal com um desenvolvimento indigente de tão ruim. Nada com que você possa se identificar, como é possível em dezenas de outros super-heróis em dezenas de outros filmes. Uma personagem mamateira, super-hiper poderosa, mas ao mesmo tempo unidimensional, interpretada com uma falta de inspiração abissal (a ponto da atriz simplesmente se limitar afazer cara de fodona o máximo de vezes possível) e que precisa usar os poderes cósmicos como substituto para qualquer simpatia e carisma. A ponto de se esperar que a pequena Monica Rambeau virasse logo a segunda Capitã Marvel, como foi nas HQs, já que a atriz mirim é infinitamente mais simpática que a Chatol Danvers. Até a mãe da Monica se mostrou uma personagem mais simpática e humana do que a quando não robótica, totalmente sem graça "Vers".
De resto, a dumbificação forçada do Nick Fury em total desacordo com o histórico do personagem no próprio MCU e a transformação dos skrulls, um dos maiores antagonistas do universo marvel em "pobres refugiados" foram forçações de barra claramente impostas... aposta alta da lacrosfera hollywoodiana que acharam que passaria batida, mas foi percebida pelo público.
No final, nem o coitado do gato salva como novidade, principalmente por ser baseado em uma piada que a série MIB já tinha explorado muito em seus filmes pra funcionar tão bem assim dessa vez. Por mais que tenha sido bem produzido e tenha o padrão Marvel de apuro visual, esse filme perdeu a chance de estabelecer uma heroína de verdade, e não projetar uma versão na tela das próprias chatices da atriz que a interpreta.
Nós
3.8 2,3K Assista AgoraHypado, hypado, três vezes hypado. Incensado demais. Overrated até o talo.
Não que se trate de um filme ruim, não que Jordan Peele seja um mau diretor. Não e não. O que acontece aqui é aquilo que acontece quando um artista é alçado a uma condição de "queridinho do momento" e acredita no ruído da máquina.
Tirando todo o hype ideologicamente motivado da Hollywood atual, o que sobra aqui é um filme com uma premissa bastante interessante, com um ritmo, apelo visual e direção de arte bastante promissores, mas que fracassa ao tentar parecer mais do que é. Em certos momentos a dissonância entre cena e trilha sonora chega a irritar. Em outros, cenas que tinham potencial para serem bem melhores são frustradas por uma necessidade de lacrar (a cena do Fuck the Police é um bom exemplo).
No fim, o filme todo parece um episódio mais comprido da série Channel Zero. Série que tem episódios (dependendo da temporada) que dão de 10 nesse filme.
Estrada Sem Lei
3.6 242 Assista AgoraUm filme que cresce sem que se perceba. A fotografia, as atuações, e até mesmo as questões morais por trás do tema central, são todas conduzidas de uma forma extremamente correta. Todos esses elementos seguem de maneira elegante e econômica à medida que o filme se desenrola, sempre servindo à trama e nunca o contrário. Um exemplo disso é a cena da conversa entre o Ranger Hamer e o pai de Clyde Barrow, talvez o maior ponto de inflexão da trama, uma daquelas cenas ao mesmo tempo grandiosas e discretas, que são capazes de levantar uma questão seríssima e ao mesmo tempo funcionar perfeitamente dentro do roteiro sem parecer que foi jogada ou forçada para vender uma ideia específica.
A genial mudança de foco dos bandidos-celebridades para o trabalho policial necessário para encerrar a carreira de crimes da famosa quadrilha é algo que cria uma inevitável nova dimensão humana a uma história já tão conhecida. A América empobrecida do pós-1929, a chegada de novos (e mais violentos) tempos, o conflito entre a simplicidade dos rangers aposentados e as novas tecnologias que então começavam a ser utilizadas no combate ao crime, a influência perniciosa da imprensa, tudo isso contribuindo para criar uma história que funciona, faz refletir e que se apresenta muito bem-contada.