O grande problema do filme é justamente o fato de ser uma antologia. Tem uns três contos ali que até funcionam na base do humor negro cartunesco, mas sem o mesmo brilho de outros trabalhos dos Coen. A segunda metade é mais problemática, as histórias são desinteressantes e não chegam a nenhuma conclusão animadora. Parece um trabalho dos irmãos mais no piloto automático.
É impressionante como esse filme nem mesmo se propõe em renovar alguma coisa dentro da franquia. Ainda mais bizarro é o fato de apagar todos os filmes com exceção do primeiro mas fazer exatamente a mesma coisa que o H20 fez em 1998. Não que isso seja exatamente um problema, já que o Gordon Green acerta em cheio no terror progressivo e no bom senso de humor na maior parte do tempo. Pena que o terceiro ato seja tão frouxo, resolvendo tudo da forma mais simplista e sem graça possível. Gosto muito do senso de diversão e do filme se assumir como um slasher basicamente derivado do original, em grande parte é um filme empolgante pela eficiência da direção e da dinâmica dos personagens, mas em sua conclusão pelo menos o H20 ia até o final com as coisas.
O interesse de Chazelle em seu novo filme é sem dúvidas o intimo do personagem vivido por Ryan Gosling. Toda a execução está voltada para a expressão da melancolia e busca por propósito de Armstrong e a adoção de um estilo quase documental parece tentar concretizar alguma realidade na história. Mas ao mesmo tempo em que esse parece ser objetivo, também acontece da direção de Chazelle se manter muito distante das verdadeiras emoções do protagonista. Se o filme almeja alcançar uma empatia pelos dramas do personagem, ele certamente falhou nisso. Desde a relação com a esposa até a tensão da viagem à lua, é tudo excessivamente controlado e artificial, passando longe de envolver de verdade. Chazelle usa apenas de artifícios para simular esse envolvimento, mas nunca concretiza ou desenvolve profundamente nenhuma das relações dramáticas. As performances apáticas e de um só tom colaboram para que esse distanciamento corrompa o arco de Armstrong, em que só podemos imaginar ou forçar uma extração de algum sentimento mais autêntico. Se Chazelle ao menos ainda preserva alguma habilidade como diretor, ela é vista mais diretamente no excepcional terceiro ato, onde toda a força e impacto da situação chave da narrativa são o suficiente para que a execução técnica atinja o brilhantismo. A harmonia entre a trilha sonora e as imagens encontram um ritmo calculado para potencializar a catarse, com pausas entre as construções operísticas que elevam a tensão do momento. Somente ali Chazelle atinge todo o potencial dessa história tão cheia de expectativas míticas.
Ao ver o trailer principal de "Venom", exaustivamente divulgado antes de absolutamente toda e qualquer sessão de cinema no Brasil, um medo surge imediatamente: será que o filme do vilão do homem-aranha vai pagar mico pelo seu humor aparentemente involuntário e estúpido? Após completa a experiência de se assistir a essa obra, surge ao menos uma boa notícia. A respeito do humor involuntário, "Venom" se mostra muito consciente e irreverente, abrindo espaço para que o público se divirta junto com o filme sem que isso se torne necessariamente uma forma de tirar sarro do que está sendo visto. Por outro lado, eu diria que as chances de que a estupidez da sua comédia seja interpretada como um equívoco são bem maiores do que o contrário.
E o problema é exatamente essa falta de timing vista no trailer. Tudo em "Venom" parece muito abrupto, como se o filme estivesse com toda a pressa do mundo para partir para a próxima cena seguidamente até que ele finalmente se esgote e chegue ao fim. As piadas sofrem com isso na medida em que não existe muita preparação ou expectativa para seu desenrolar, enquanto toda a trama da luta do bem contra o mal vai se construindo de forma atropelada até uma conclusão que, de tão repentina, torna-se chocante.
Tom Hardy, por sua vez, representa um prazer indescritível de se ver em ação. Ao adotar uma personalidade completamente surtada antes mesmo de ser "possuído" pelo simbionte, o ator acaba já nos familiarizando com o tom apalermado da narrativa. E isso acaba facilitando a assimilação dos diálogos simplistas e expositivos do roteiro, que parece ter sido escrito por uma criança ainda em sua primeira década de vida. Essa falta de cuidado passa justamente a sensação de que toda a história é uma grande brincadeira que vai sendo criada na medida em que as coisas vão acontecendo, sem nenhum planejamento prévio. O que, mais uma vez, representa um dos maiores prazeres de um filme que se assume como uma completa besteira.
As cenas de ação também são coerentes ao seguir essa lógica da brincadeira amalucada. Com uma montagem frenética e desconexa, elas até funcionam ao passar a energia vibrante e caricatural dos quadrinhos, mas sofrem pelo caos visual mal controlado. Mesmo assim, é surpreendente constatar que o diretor Ruben Fleicher possui uma noção de coreografia mais interessante do que grande parte dos filmes da Marvel, o que pode ser confirmado na perseguição que acontece no meio do filme em que o uso da câmera lenta em momentos específicos são o suficiente para criar um impacto visualmente estimulante.
Ao atingir seus minutos finais, "Venom" dá a impressão de que está apenas começando. A falta de personalidade do conflito principal é responsável pela impressão de que nada valeu muito a pena. A sensação não chega exatamente a ser de decepção, mas sim de que não há muita coisa nesse filme com potencial de ficar na memória. No final de contas, "Venom" ao menos representa um breve retorno ao início dos anos 2000, uma época em que os filmes de super-heróis ainda possuíam a inocência necessária para tomar alguns grandes riscos.
O filme tenta ir nessa vibe meio contemplativa e contida, mas faz isso da forma mais genérica possível e acaba não entregando nada de verdade. O pior tipo de filme é aquele que quer dizer algo super importante e ir contra os limites do cinema de gênero mas que faz isso usando apenas de artifícios que querem dar a impressão que você esta vendo um "filme de arte". Porcaria.
"Eighth Grade" é, acima de tudo, um filme de sensações. Não é de se surpreender que Bo Burnham tenha escolhido seguir este caminho em seu primeiro longa, qualquer um que já tenha visto seus especiais de comédia pôde verificar a predileção do artista pela força única e impactante da imagem e do som. O que em um stand-up já era bastante original, pela recusa da estrutura convencional, acaba também funcionando como um sopro de autenticidade dentro da velha dinâmica dos contratempos da vida adolescente.
Nada na história de "Eighth Grade" foge do que já foi visto muito recentemente em filmes como "Lady Bird" ou "Quase 18". Ambos ótimos, mas que organizavam toda a encenação em torno de uma sucessão de acontecimentos bem definida que dava origem a uma "representação muito fiel dos dramas da juventude". Tudo isso está presente na obra de "Bo Burnham", sem exceções. Até mesmo o clichê da catarse entre pai e filho (vista a pouco tempo em "Me Chame Pelo Seu Nome") marca presença na trilha emocional percorrida pela jovem Kayla. A garota precisa lidar com a típica sensação de não pertencimento, precisando descobrir formas de se aceitar do jeito que é (elemento muito bem construído pela genuinidade dos vídeos gravados por ela).
Até aí, nada que se destaque em "Eight Grade". Mas como eu disse logo acima, Burnham é um artista de sensações, e parece sempre interessado em transmiti-las da forma mais viva e potente possível. Sua habilidade em criar uma atmosfera particular para cada tema que está retratando pode ser constatada principalmente no espetáculo "Make Happy", de 2016 e disponível na Netflix. Mais precisamente as passagens (ou "esquetes") envolvendo uma revisão das convenções da música country e a canção final intitulada "Can't Handle This" são exemplos da construção de ritmo, tom e emoção a partir da música e da iluminação, principalmente. Todos os aspectos técnicos envolvidos servem para potencializar as emoções, e os dois exemplos citados tornam-se ainda mais fascinantes ao se perceber o quão diferentes são em seus objetivos. Do humor à catarse emocional, Burnham é um mestre ao orquestrar os sentimentos do público.
E é isso que torna "Eight Garde" tão especial. Ao apostar primeiramente na construção de um clima sufocante, mesmo em momentos mais divertidos, o diretor nos transporta imediatamente não só aos sentimentos aflitivos da protagonista, mas aos da nossa própria adolescência. Pois que os temas que o filme retrata são universais todo mundo sabe, mas se isso é transmitido de um jeito especial, tudo se torna mais autentico. E "Eight Grade" é um filme autêntico ao potencializar as emoções da mesma forma que seu diretor fazia nos stand-ups. Quando Kayla navega pelo infinito mundo da internet, a imersão naquilo se intensifica com o uso da potente trilha sonora e a sobreposição das imagens. Enquanto a cena em que a protagonista vai até uma festa de aniversário numa piscina é orquestrada dentro de uma percepção de tempo muito mais lenta (que deve ser a percepção da própria Kayla naquele momento) e praticamente flertando com o terror, na música exagerada e nas acrobacias horripilantes dos colegas de turma da garota.
Tudo é muito intenso no filme de Bo Burnham , e é por isso que ele funciona tão bem dentro de um exercício de empatia e imersão. Não que Burnham não esteja interessado em sutilezas (é curioso que o primeiro dos jovens a "enxergar" Kayla de um jeito diferente esteja usando justamente um óculos de nadador), mas o que realmente faz a diferença em "Eight Grade" é a sensação final de que você não só viveu tudo aquilo pelos olhos de Kayla, mas também reviveu suas piores ansiedades dessa fase da vida já tão desgastada pela cultura cinematográfica.
Parece que ultimamente se criou uma ideia de que o cinema como arte de verdade não pode entregar o que o público quer ver na tela. Precisa, primeiramente, dificultar a forma como as coisas são apresentadas, para alcançar o resultado menos óbvio possível. "Mandy" é um filme que parece buscar uma legitimação como arte de verdade, pois nunca se assume de verdade como um filme trash.
Não que toda essa tendência seja uma coisa nova, mas talvez mais do que nunca certos filmes estão se garantindo como sucesso de critica apenas pela pose adotada. Filmes como "Você Nunca Esteve Realmente Aqui" ou até mesmo "Blade Runner 2049" apostam no visual e no ritmo lento como uma máscara para a falta de conteúdo ou de coragem em assumir algum risco maior. São filmes que se fecham no mundo seguro do "cinema de arte" e parecem a prova de críticas, pois afinal, seriam filmes difíceis que fogem do lugar comum.
Mas como geralmente acontece, uma hora a máscara acaba caindo. E no caso desse novo filme do diretor Panos Cosmatos, a pose adotada não segura por muito tempo uma narrativa que o tempo todo parece ter vergonha de se divertir. Afinal, todo momento mais gore ou catártico é sempre coberto por algum artifício: câmera lenta, trilha de rock ou fotografia evocativa. "Mandy" nunca entrega absolutamente nada do que promete, preferindo ficar enfeitando tudo com exibicionismos técnicos sem propósito.
Em alguns instantes, é possível ver faíscas do grande filme que poderia ter sido feito aqui. Isoladamente, os planos cobertos por névoa vermelha e o contraste com a escuridão das árvores da floresta criam uma sensação de imersão em um mundo próprio, com uma atmosfera particular e cheio de perigos. São promessas que nunca se concretizam, já que o filme nunca sai da criação de atmosfera para algo realmente impactante. Mesmo o uso da violência nos é dado sem muita cerimônia, e conceitos como a luta de moto-serras permanecem no plano das ideias. Enxergar a catarse acontecendo é uma grande dificuldade em um filme que parece querer nos privar dela o tempo todo, com o uso de um visual caótico em momentos em que as coisas deveriam ficar mais claras. Enfim, são todas máscaras.
De forma sucinta, quando o exibicionismo e a entrega são organizadas em harmonia, ganhamos filmes como "Cisne Negro" ou "Melancolia". A partir do momento em que nem o entretenimento e nem a imersão parecem funcionar de forma coesa, somos presenteados com "Mandy".
"Um Pequeno Favor" é um filme que praticamente não existe mais hoje em dia. Por mais que o diretor Paul Feig já tenha se mostrado competente o suficiente para trabalhar na dinâmica básica da comédia pop atual com “Missão Madrinha de Casamento” ou “A Espiã que Sabia de Menos”, aqui um novo passo é dado em direção a uma concepção um pouco mais arriscada de cinema. Ao se assumir como uma novela, o filme descarta qualquer medo de soar cafona ou absurdo, porque no fundo conhece muito bem as regras do jogo em que está inserido.
O humor da base do diretor continua todo aqui, sendo a personagem de Anna Kendrick a personificação da mãe solteira profissional e irritantemente alegre com as tarefas do dia a dia, tão comum no gênero. A própria dinâmica da protagonista com a Emily de Blake Lively cimenta o conflito básico do choque de realidades e a atração por personalidades opostas. Mas o interesse de “Um Pequeno Favor” está em usar isso dentro da lógica dos desejos selvagens reprimidos do thriller erótico. E ao escolher articular essa proposta dentro de um tom mais novelesco, o filme acaba encontrando uma liberdade de escolhas praticamente infinita.
E é isso o que importa no jogo de segredos e mentiras que o enredo propõe. Se o choque entre a comédia de Feig e o suspense fatal podem soar como uma escolha estranha de início, ele acaba servindo como pavimento para toda essa dinâmica de imprevisibilidade que o filme assume. E assim como em uma novela que já dura por muito tempo e não sabe mais quais escolhas fazer para manter o interesse nos personagens, o filme não se acovarda diante de revelações exageradas e convenientes que vão engrandecendo e desconstruindo a lógica desse jogo.
Desde a trilha sonora picante com temas mais sombrios e canções francesas, já existe uma construção do fatalismo feminino frequentemente presente nas novelas. Os planos mirabolantes e personagens que sempre são mais do que aparentam são regras básicas usadas aqui como base para a manifestação do lado mais diabólico de cada um. E como solidificação desses elementos, o sexo funciona para expurgar e a violência é catarse e punição.
Ao se aproximar de sua conclusão, “Um Pequeno Favor” pode parecer se prolongar demais e não saber direito que direção tomar, decidindo atirar para todos os lados esperando acertar o alvo vez ou outra. Mas talvez seja essa exatamente a maior virtude do filme, que nunca parece apostar em uma coesão dramática clássica e sim no potencial de impacto de cada uma de suas viradas. Como acontece em “Segundas Intenções”, outro grande modelo do thriller erótico novelesco (e que também usava um ato de violência final abrupto como punição para pecados cometidos), as decisões podem até não soar plausíveis, mas, quando trabalhadas em prol da espetacularização das intrigas básicas do ser humano, o filme ganha todo um novo valor e sentido.
A internet é todo um mundo por si só e esse filme é um dos que melhor entendeu isso. Ao deixar de lado o realismo que esse tipo de abordagem parecia pedir (a tela praticamente estática e a simultaneidade do tempo de "Unfriended "), "Buscando" realmente procura explorar todas as possibilidades que o universo da tecnologia oferece. Tudo bem que muitas vezes Aneesh Chaganty parece estar fazendo malabarismos para manter a trama em movimento, mas é muito glorioso ver que o filme incorpora a trilha sonora de suspense e a montagem para passagens de tempo em sua lógica.
Se a trama de thriller de investigação barato fosse um pouco menos genérica e cansativa, poderia ser um grande filme. Até porque sempre chega um ponto da apresentação em que o malabarista derruba todas as suas bolinhas.
É mais ou menos como o primeiro filme. A diferença é que agora não tem mais o impacto da novidade e a única coisa que sobra é a inconsistência do humor.
Esse é primeiro filme do universo Marvel que assume a ideia da aventura baseada no simples conflito entre herói e vilão. A trama é muito básica (Thanos quer as jóias, os Vingadores têm que impedir) e nunca se tangencia disso. Por isso mesmo funciona melhor como filme de super-herói do que outros exemplares do gênero que preferem burocratizar e complicar qualquer coisa.
Eu gosto dessa vibe oitentista que não é feita de referências óbvias mas sim pela atmosfera e pelo fluxo contínuo da ação. Também existe uma intenção de manter a trama muito simples e direta, apesar de ainda apostar em muitos diálogos burocráticos e explicativos. Talvez o grande problema é que Shane Black parece estar totalmente no piloto automático aqui. Apesar da aposta no humor ser bem vinda (mesmo que sem muita criatividade), a ação nunca chega a empolgar de verdade, é sempre conduzida com muito desinteresse.
O filme é um desperdício de boas ambientações. A quantidade de possibilidades que poderiam ser exploradas ali é tão grande mas o filme prefere ficar na dinâmica básica de jump scares telegrafados e personagens que não fazem nada além de ficar andando e levando sustos. E ainda conseguiram transformar a assustadora figura da freira em um clichê aborrecido e gatilho para humor involuntário.
É impressionante como esse filme sempre escolhe focar nas possibilidades menos interessantes que a trama oferece. Não que a ideia da franquia já não tenha se desgastado, mas pelo menos os dois anteriores sabiam se divertir sem ficar mirando em toda uma dramaticidade vazia.
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A Balada de Buster Scruggs
3.7 531 Assista AgoraO grande problema do filme é justamente o fato de ser uma antologia. Tem uns três contos ali que até funcionam na base do humor negro cartunesco, mas sem o mesmo brilho de outros trabalhos dos Coen. A segunda metade é mais problemática, as histórias são desinteressantes e não chegam a nenhuma conclusão animadora. Parece um trabalho dos irmãos mais no piloto automático.
Halloween
3.4 1,1KÉ impressionante como esse filme nem mesmo se propõe em renovar alguma coisa dentro da franquia. Ainda mais bizarro é o fato de apagar todos os filmes com exceção do primeiro mas fazer exatamente a mesma coisa que o H20 fez em 1998. Não que isso seja exatamente um problema, já que o Gordon Green acerta em cheio no terror progressivo e no bom senso de humor na maior parte do tempo. Pena que o terceiro ato seja tão frouxo, resolvendo tudo da forma mais simplista e sem graça possível. Gosto muito do senso de diversão e do filme se assumir como um slasher basicamente derivado do original, em grande parte é um filme empolgante pela eficiência da direção e da dinâmica dos personagens, mas em sua conclusão pelo menos o H20 ia até o final com as coisas.
O Primeiro Homem
3.6 646 Assista AgoraO interesse de Chazelle em seu novo filme é sem dúvidas o intimo do personagem vivido por Ryan Gosling. Toda a execução está voltada para a expressão da melancolia e busca por propósito de Armstrong e a adoção de um estilo quase documental parece tentar concretizar alguma realidade na história. Mas ao mesmo tempo em que esse parece ser objetivo, também acontece da direção de Chazelle se manter muito distante das verdadeiras emoções do protagonista. Se o filme almeja alcançar uma empatia pelos dramas do personagem, ele certamente falhou nisso. Desde a relação com a esposa até a tensão da viagem à lua, é tudo excessivamente controlado e artificial, passando longe de envolver de verdade. Chazelle usa apenas de artifícios para simular esse envolvimento, mas nunca concretiza ou desenvolve profundamente nenhuma das relações dramáticas. As performances apáticas e de um só tom colaboram para que esse distanciamento corrompa o arco de Armstrong, em que só podemos imaginar ou forçar uma extração de algum sentimento mais autêntico. Se Chazelle ao menos ainda preserva alguma habilidade como diretor, ela é vista mais diretamente no excepcional terceiro ato, onde toda a força e impacto da situação chave da narrativa são o suficiente para que a execução técnica atinja o brilhantismo. A harmonia entre a trilha sonora e as imagens encontram um ritmo calculado para potencializar a catarse, com pausas entre as construções operísticas que elevam a tensão do momento. Somente ali Chazelle atinge todo o potencial dessa história tão cheia de expectativas míticas.
Venom
3.1 1,4K Assista AgoraAo ver o trailer principal de "Venom", exaustivamente divulgado antes de absolutamente toda e qualquer sessão de cinema no Brasil, um medo surge imediatamente: será que o filme do vilão do homem-aranha vai pagar mico pelo seu humor aparentemente involuntário e estúpido? Após completa a experiência de se assistir a essa obra, surge ao menos uma boa notícia. A respeito do humor involuntário, "Venom" se mostra muito consciente e irreverente, abrindo espaço para que o público se divirta junto com o filme sem que isso se torne necessariamente uma forma de tirar sarro do que está sendo visto. Por outro lado, eu diria que as chances de que a estupidez da sua comédia seja interpretada como um equívoco são bem maiores do que o contrário.
E o problema é exatamente essa falta de timing vista no trailer. Tudo em "Venom" parece muito abrupto, como se o filme estivesse com toda a pressa do mundo para partir para a próxima cena seguidamente até que ele finalmente se esgote e chegue ao fim. As piadas sofrem com isso na medida em que não existe muita preparação ou expectativa para seu desenrolar, enquanto toda a trama da luta do bem contra o mal vai se construindo de forma atropelada até uma conclusão que, de tão repentina, torna-se chocante.
Tom Hardy, por sua vez, representa um prazer indescritível de se ver em ação. Ao adotar uma personalidade completamente surtada antes mesmo de ser "possuído" pelo simbionte, o ator acaba já nos familiarizando com o tom apalermado da narrativa. E isso acaba facilitando a assimilação dos diálogos simplistas e expositivos do roteiro, que parece ter sido escrito por uma criança ainda em sua primeira década de vida. Essa falta de cuidado passa justamente a sensação de que toda a história é uma grande brincadeira que vai sendo criada na medida em que as coisas vão acontecendo, sem nenhum planejamento prévio. O que, mais uma vez, representa um dos maiores prazeres de um filme que se assume como uma completa besteira.
As cenas de ação também são coerentes ao seguir essa lógica da brincadeira amalucada. Com uma montagem frenética e desconexa, elas até funcionam ao passar a energia vibrante e caricatural dos quadrinhos, mas sofrem pelo caos visual mal controlado. Mesmo assim, é surpreendente constatar que o diretor Ruben Fleicher possui uma noção de coreografia mais interessante do que grande parte dos filmes da Marvel, o que pode ser confirmado na perseguição que acontece no meio do filme em que o uso da câmera lenta em momentos específicos são o suficiente para criar um impacto visualmente estimulante.
Ao atingir seus minutos finais, "Venom" dá a impressão de que está apenas começando. A falta de personalidade do conflito principal é responsável pela impressão de que nada valeu muito a pena. A sensação não chega exatamente a ser de decepção, mas sim de que não há muita coisa nesse filme com potencial de ficar na memória. No final de contas, "Venom" ao menos representa um breve retorno ao início dos anos 2000, uma época em que os filmes de super-heróis ainda possuíam a inocência necessária para tomar alguns grandes riscos.
Noite de Lobos
2.5 304 Assista AgoraO filme tenta ir nessa vibe meio contemplativa e contida, mas faz isso da forma mais genérica possível e acaba não entregando nada de verdade. O pior tipo de filme é aquele que quer dizer algo super importante e ir contra os limites do cinema de gênero mas que faz isso usando apenas de artifícios que querem dar a impressão que você esta vendo um "filme de arte". Porcaria.
Oitava Série
3.8 336 Assista Agora"Eighth Grade" é, acima de tudo, um filme de sensações. Não é de se surpreender que Bo Burnham tenha escolhido seguir este caminho em seu primeiro longa, qualquer um que já tenha visto seus especiais de comédia pôde verificar a predileção do artista pela força única e impactante da imagem e do som. O que em um stand-up já era bastante original, pela recusa da estrutura convencional, acaba também funcionando como um sopro de autenticidade dentro da velha dinâmica dos contratempos da vida adolescente.
Nada na história de "Eighth Grade" foge do que já foi visto muito recentemente em filmes como "Lady Bird" ou "Quase 18". Ambos ótimos, mas que organizavam toda a encenação em torno de uma sucessão de acontecimentos bem definida que dava origem a uma "representação muito fiel dos dramas da juventude". Tudo isso está presente na obra de "Bo Burnham", sem exceções. Até mesmo o clichê da catarse entre pai e filho (vista a pouco tempo em "Me Chame Pelo Seu Nome") marca presença na trilha emocional percorrida pela jovem Kayla. A garota precisa lidar com a típica sensação de não pertencimento, precisando descobrir formas de se aceitar do jeito que é (elemento muito bem construído pela genuinidade dos vídeos gravados por ela).
Até aí, nada que se destaque em "Eight Grade". Mas como eu disse logo acima, Burnham é um artista de sensações, e parece sempre interessado em transmiti-las da forma mais viva e potente possível. Sua habilidade em criar uma atmosfera particular para cada tema que está retratando pode ser constatada principalmente no espetáculo "Make Happy", de 2016 e disponível na Netflix. Mais precisamente as passagens (ou "esquetes") envolvendo uma revisão das convenções da música country e a canção final intitulada "Can't Handle This" são exemplos da construção de ritmo, tom e emoção a partir da música e da iluminação, principalmente. Todos os aspectos técnicos envolvidos servem para potencializar as emoções, e os dois exemplos citados tornam-se ainda mais fascinantes ao se perceber o quão diferentes são em seus objetivos. Do humor à catarse emocional, Burnham é um mestre ao orquestrar os sentimentos do público.
E é isso que torna "Eight Garde" tão especial. Ao apostar primeiramente na construção de um clima sufocante, mesmo em momentos mais divertidos, o diretor nos transporta imediatamente não só aos sentimentos aflitivos da protagonista, mas aos da nossa própria adolescência. Pois que os temas que o filme retrata são universais todo mundo sabe, mas se isso é transmitido de um jeito especial, tudo se torna mais autentico. E "Eight Grade" é um filme autêntico ao potencializar as emoções da mesma forma que seu diretor fazia nos stand-ups. Quando Kayla navega pelo infinito mundo da internet, a imersão naquilo se intensifica com o uso da potente trilha sonora e a sobreposição das imagens. Enquanto a cena em que a protagonista vai até uma festa de aniversário numa piscina é orquestrada dentro de uma percepção de tempo muito mais lenta (que deve ser a percepção da própria Kayla naquele momento) e praticamente flertando com o terror, na música exagerada e nas acrobacias horripilantes dos colegas de turma da garota.
Tudo é muito intenso no filme de Bo Burnham , e é por isso que ele funciona tão bem dentro de um exercício de empatia e imersão. Não que Burnham não esteja interessado em sutilezas (é curioso que o primeiro dos jovens a "enxergar" Kayla de um jeito diferente esteja usando justamente um óculos de nadador), mas o que realmente faz a diferença em "Eight Grade" é a sensação final de que você não só viveu tudo aquilo pelos olhos de Kayla, mas também reviveu suas piores ansiedades dessa fase da vida já tão desgastada pela cultura cinematográfica.
Mandy: Sede de Vingança
3.3 537 Assista AgoraParece que ultimamente se criou uma ideia de que o cinema como arte de verdade não pode entregar o que o público quer ver na tela. Precisa, primeiramente, dificultar a forma como as coisas são apresentadas, para alcançar o resultado menos óbvio possível. "Mandy" é um filme que parece buscar uma legitimação como arte de verdade, pois nunca se assume de verdade como um filme trash.
Não que toda essa tendência seja uma coisa nova, mas talvez mais do que nunca certos filmes estão se garantindo como sucesso de critica apenas pela pose adotada. Filmes como "Você Nunca Esteve Realmente Aqui" ou até mesmo "Blade Runner 2049" apostam no visual e no ritmo lento como uma máscara para a falta de conteúdo ou de coragem em assumir algum risco maior. São filmes que se fecham no mundo seguro do "cinema de arte" e parecem a prova de críticas, pois afinal, seriam filmes difíceis que fogem do lugar comum.
Mas como geralmente acontece, uma hora a máscara acaba caindo. E no caso desse novo filme do diretor Panos Cosmatos, a pose adotada não segura por muito tempo uma narrativa que o tempo todo parece ter vergonha de se divertir. Afinal, todo momento mais gore ou catártico é sempre coberto por algum artifício: câmera lenta, trilha de rock ou fotografia evocativa. "Mandy" nunca entrega absolutamente nada do que promete, preferindo ficar enfeitando tudo com exibicionismos técnicos sem propósito.
Em alguns instantes, é possível ver faíscas do grande filme que poderia ter sido feito aqui. Isoladamente, os planos cobertos por névoa vermelha e o contraste com a escuridão das árvores da floresta criam uma sensação de imersão em um mundo próprio, com uma atmosfera particular e cheio de perigos. São promessas que nunca se concretizam, já que o filme nunca sai da criação de atmosfera para algo realmente impactante. Mesmo o uso da violência nos é dado sem muita cerimônia, e conceitos como a luta de moto-serras permanecem no plano das ideias. Enxergar a catarse acontecendo é uma grande dificuldade em um filme que parece querer nos privar dela o tempo todo, com o uso de um visual caótico em momentos em que as coisas deveriam ficar mais claras. Enfim, são todas máscaras.
De forma sucinta, quando o exibicionismo e a entrega são organizadas em harmonia, ganhamos filmes como "Cisne Negro" ou "Melancolia". A partir do momento em que nem o entretenimento e nem a imersão parecem funcionar de forma coesa, somos presenteados com "Mandy".
Um Pequeno Favor
3.3 688 Assista Agora"Um Pequeno Favor" é um filme que praticamente não existe mais hoje em dia. Por mais que o diretor Paul Feig já tenha se mostrado competente o suficiente para trabalhar na dinâmica básica da comédia pop atual com “Missão Madrinha de Casamento” ou “A Espiã que Sabia de Menos”, aqui um novo passo é dado em direção a uma concepção um pouco mais arriscada de cinema. Ao se assumir como uma novela, o filme descarta qualquer medo de soar cafona ou absurdo, porque no fundo conhece muito bem as regras do jogo em que está inserido.
O humor da base do diretor continua todo aqui, sendo a personagem de Anna Kendrick a personificação da mãe solteira profissional e irritantemente alegre com as tarefas do dia a dia, tão comum no gênero. A própria dinâmica da protagonista com a Emily de Blake Lively cimenta o conflito básico do choque de realidades e a atração por personalidades opostas. Mas o interesse de “Um Pequeno Favor” está em usar isso dentro da lógica dos desejos selvagens reprimidos do thriller erótico. E ao escolher articular essa proposta dentro de um tom mais novelesco, o filme acaba encontrando uma liberdade de escolhas praticamente infinita.
E é isso o que importa no jogo de segredos e mentiras que o enredo propõe. Se o choque entre a comédia de Feig e o suspense fatal podem soar como uma escolha estranha de início, ele acaba servindo como pavimento para toda essa dinâmica de imprevisibilidade que o filme assume. E assim como em uma novela que já dura por muito tempo e não sabe mais quais escolhas fazer para manter o interesse nos personagens, o filme não se acovarda diante de revelações exageradas e convenientes que vão engrandecendo e desconstruindo a lógica desse jogo.
Desde a trilha sonora picante com temas mais sombrios e canções francesas, já existe uma construção do fatalismo feminino frequentemente presente nas novelas. Os planos mirabolantes e personagens que sempre são mais do que aparentam são regras básicas usadas aqui como base para a manifestação do lado mais diabólico de cada um. E como solidificação desses elementos, o sexo funciona para expurgar e a violência é catarse e punição.
Ao se aproximar de sua conclusão, “Um Pequeno Favor” pode parecer se prolongar demais e não saber direito que direção tomar, decidindo atirar para todos os lados esperando acertar o alvo vez ou outra. Mas talvez seja essa exatamente a maior virtude do filme, que nunca parece apostar em uma coesão dramática clássica e sim no potencial de impacto de cada uma de suas viradas. Como acontece em “Segundas Intenções”, outro grande modelo do thriller erótico novelesco (e que também usava um ato de violência final abrupto como punição para pecados cometidos), as decisões podem até não soar plausíveis, mas, quando trabalhadas em prol da espetacularização das intrigas básicas do ser humano, o filme ganha todo um novo valor e sentido.
Buscando...
4.0 1,3K Assista AgoraA internet é todo um mundo por si só e esse filme é um dos que melhor entendeu isso. Ao deixar de lado o realismo que esse tipo de abordagem parecia pedir (a tela praticamente estática e a simultaneidade do tempo de "Unfriended "), "Buscando" realmente procura explorar todas as possibilidades que o universo da tecnologia oferece. Tudo bem que muitas vezes Aneesh Chaganty parece estar fazendo malabarismos para manter a trama em movimento, mas é muito glorioso ver que o filme incorpora a trilha sonora de suspense e a montagem para passagens de tempo em sua lógica.
Se a trama de thriller de investigação barato fosse um pouco menos genérica e cansativa, poderia ser um grande filme. Até porque sempre chega um ponto da apresentação em que o malabarista derruba todas as suas bolinhas.
Deadpool 2
3.8 1,3K Assista AgoraÉ mais ou menos como o primeiro filme. A diferença é que agora não tem mais o impacto da novidade e a única coisa que sobra é a inconsistência do humor.
Vingadores: Guerra Infinita
4.3 2,6K Assista AgoraEsse é primeiro filme do universo Marvel que assume a ideia da aventura baseada no simples conflito entre herói e vilão. A trama é muito básica (Thanos quer as jóias, os Vingadores têm que impedir) e nunca se tangencia disso. Por isso mesmo funciona melhor como filme de super-herói do que outros exemplares do gênero que preferem burocratizar e complicar qualquer coisa.
Você Nunca Esteve Realmente Aqui
3.6 521 Assista AgoraÉ o "cinema de arte" usado pra mascarar as discussões mais batidas de sempre.
O Predador
2.5 649Eu gosto dessa vibe oitentista que não é feita de referências óbvias mas sim pela atmosfera e pelo fluxo contínuo da ação. Também existe uma intenção de manter a trama muito simples e direta, apesar de ainda apostar em muitos diálogos burocráticos e explicativos. Talvez o grande problema é que Shane Black parece estar totalmente no piloto automático aqui. Apesar da aposta no humor ser bem vinda (mesmo que sem muita criatividade), a ação nunca chega a empolgar de verdade, é sempre conduzida com muito desinteresse.
A Freira
2.5 1,5K Assista AgoraO filme é um desperdício de boas ambientações. A quantidade de possibilidades que poderiam ser exploradas ali é tão grande mas o filme prefere ficar na dinâmica básica de jump scares telegrafados e personagens que não fazem nada além de ficar andando e levando sustos. E ainda conseguiram transformar a assustadora figura da freira em um clichê aborrecido e gatilho para humor involuntário.
A Primeira Noite de Crime
2.7 551 Assista AgoraÉ impressionante como esse filme sempre escolhe focar nas possibilidades menos interessantes que a trama oferece. Não que a ideia da franquia já não tenha se desgastado, mas pelo menos os dois anteriores sabiam se divertir sem ficar mirando em toda uma dramaticidade vazia.