Gostei menos do que poderia e mais do que deveria. De qualquer forma, os X-Men da Fox mereciam uma despedida melhor do que essa e a Saga da Fênix Negra ainda não tem uma adaptação cinematográfica à altura da sua grandiosidade
Gostei do filme, acho uma homenagem bem honesta à cultura da época e uma tocante reparação histórica de uma tragédia humana. A única coisa que odiei foi a cena do Bruce Lee que putz...que "homenagem" tosca hein Tarantino. DiCaprio está muito bem no filme, a melhor cena de toda a película inclusive é uma dele com uma garotinha (quem viu sabe do que tô falando) e a Sharon Tate da Margot Robbie transmite uma inocência angelical interessante, mas infelizmente com pouco tempo de tela
os cowboys brancos (historicamente os heróis dos gênero western que matam indígenas, mexicanos e outras minorias) representam o poder destrutivo dos países desenvolvidos (com a ajudinha de um entreguismo FDP) sobre o terceiro mundo. E em resposta a isso, o terceiro mundo, latino-americano e descendente de indígenas, combate bravamente a violência racista dos cowboys eurocêntricos. Não por uma questão de sadismo, não pelo entretenimento vazio que os antagonistas buscam, mas sim por uma questão de sobrevivência e, principalmente, Resistência.
Não sei se Bacurau é o melhor filme do ano, mas certamente é o filme mais importante a estrear nos cinemas brasileiros em 2019
Eu: "Vamo lá distrair um pouco do cenário político brasileiro atual e assistir esse filminho de herói" Filminho de herói: *Faz um paralelo com disseminação de fake news e a era da pós-verdade*
fazer cena de girl power, mas não dar à Viúva Negra uma despedida decente. Dava pra ter colocado um segundo caixão simbólico pra ela no funeral do Stark. Ela também é uma das Vingadores originais, caramba!
Minhas considerações à flor da pele sobre o filme: 1 - Jordan Peele, conte comigo pra tudo
2 - Já tô vendo que vai acontecer com Lupita Nyong'o o mesmo que ocorreu com Toni Collette ano passado: ela entrega uma das melhores atuações do ano, mas é esnobada no Oscar, pois a Academia tem preconceito com filmes de terror
3 - De fato, uma cópia minha andando por aí fazendo cosplay de La Casa de Papel seria um problemão, vai que as pessoas acham que eu sou fã da série
4 - O plot twist do final me lembrou o jogo The Witch's House, que tem uma reviravolta semelhante. E ainda sobre o plot twist: eu entendi que as memórias da personagem da Lupita se confundiram com as memórias de sua cópia (ou doppelganger, se preferirem), mas não consigo decifrar o porquê disso. Alguém tem algum palpite?
É um filme bem dirigido e muito interessante do ponto de vista técnico, mas o roteiro toma uns caminhos tão decepcionantes (principalmente no ato final), que confesso que me peguei pensando: "Putz, podia estar revendo Homem-Aranha no Aranhaverso agora".
Este é o resultado obtido quando se tem uma animação fluida e psicodélica, que pega emprestado o melhor da linguagem dos quadrinhos, combinada com uma trama pensada fora da caixinha, conseguindo assim dar a devida atenção a sua apaixonante galeria de personagens encabeçada por um protagonista que torna-se uma voz necessária em uma sociedade que soa cada vez mais intolerante como a nossa. Homem-Aranha no Aranhaverso é, portanto, o cinema escapista em seu auge e a obra que melhor entendeu a essência do herói, independente de qual versão está por trás da máscara.
"May" é uma subestimada produção independente do gênero terror que combina de maneira orgânica elementos de clássicos como "Carrie, a Estranha" com "Frankenstein", contando com uma impressionante atuação de Angela Bettis, que mescla muito bem gestos que sugerem a ingenuidade e insegurança da protagonista com olhares reveladores de seu estado de espírito perturbado e violento. Entretanto, May é a única personagem da película que tem algum tipo de desenvolvimento. Anna Faris até convence como Polly, coadjuvante que trata-se da luxúria em pessoa (e também um importante símbolo para contrapor a sexualidade reprimida de May), porém soa mais como uma ferramenta de roteiro unidimensional, assim como Adam, personagem vivido por Jeremy Sisto (símbolo de como o afeto sincero também é um tabu no universo da protagonista). Ainda assim, acredito que a grande força narrativa da obra vem da direção de Lucky Mckee, obviamente um fã do gênero (não é qualquer diretor meia-boca que cita Dario Argento) que entende que os melhores filmes de terror são aqueles que sentem empatia pelas figuras trágicas que são seus monstros. Monstros atormentados pela solidão e incompreendidos pelo ambiente ao seu redor. Monstros incapazes de tolerar a dor da rejeição e que tomam as medidas mais drásticas possíveis. Todos estes monstros, sejam os do passado como Carrie White ou os contemporâneos como May Dove Canady, que resultam em obras capazes de encantar os olhos dos espectadores mais atentos. E certamente May também sentiria-se encantada por tais olhos.
"Do you know why we have the sunflowers? It's not because Vincent Van Gogh suffered, it's because Vincent Van Gogh had a brother who loved him. Through all the pain, he had a tether, a connection to the world. And that's the focus of the story we need: connection. Thank you."
Este trecho específico foi o que me pegou em cheio, que maneira fantástica de encerrar uma apresentação igualmente fantástica. E fica aquela sensação que acabei de presenciar história sendo feita, de que este especial vai ser lembrado daqui há 50 anos como um marco na história do stand-up
Forte candidato para ser o melhor filme de terror do ano. Recomendo assistir na sessão mais vazia possível para valorizar o uso do silêncio como catalisador de tensão que o filme aplica. A parte mais assustadora do filme, sem dúvida, foi
*assistindo Call Me By Your Name* Eu: Poxa, estou gostando bastante do filme e da direção do Guadagnino, tem uma influência de Bertolucci com elementos de Antonioni e tal *chega a cena do pêssego* Eu: Definitivamente Bertolucci
Interessante o fato da criatura cortar a garganta de Strickland, já que tal ação silenciou o antagonista de uma forma violenta, assim como o mesmo também silenciou sua esposa de forma violenta na cena de sexo entre os dois. Uma rima visual que finaliza a trajetória de um personagem de maneira tão cruel quanto suas próprias ações no decorrer do filme.
Nunca um título de filme fez tanto sentido, uma bela obra sobre uma mulher fantástica que persevera mesmo sem o direito de sofrer pela perda de seu amado como uma pessoa comum pelo simples fato de ser diferente. Queria aproveitar e comentar sobre algumas cenas específicas que me chamaram atenção:
- A cena que Marina olha no espelho, posicionado no meio de suas coxas, e vê seu próprio rosto. É um recurso tão simples, mas tão eficaz para transmitir a ideia que não importa se ela é operada ou não, o que interessa é como a protagonista se vê: como uma mulher legítima. - As duas cenas de canto. A primeira porque quebrou meu preconceito com relação ao talento de Marina. Eu nunca pensei que uma mulher trans pudesse executar um canto lírico de forma tão linda, porém Marina acabou por me ensinar a preciosa lição de nunca subestimar a capacidade de alguém. E a segunda por ser uma cena bastante emocionante ao mostrar que nossa querida mulher fantástica, apesar das dores e males sofridos, ainda tem possibilidade de, com seu talento musical, ter um destino igualmente fantástico.
Há dois anos atrás, quando assisti O Despertar da Força, lembro que fiquei ansioso com a possibilidade de assistir um filme de Star Wars em tela grande. Saí da sala de projeção bastante satisfeito com o resultado final, mas confesso ter ficado incomodado com alguns aspectos, como por exemplo o famigerado fato do roteiro do filme ser basicamente uma releitura de Uma Nova Esperança. Daquele momento em diante, fiquei preocupado se Rian Johnson iria conduzir sua obra jogando seguro (assim como J.J. Abrams fez no episódio VII) emulando O Império Contra-Ataca ou se iria tentar inovar com o universo, correndo o risco de fracassar tal qual George Lucas fracassou com os episódios I-III. Felizmente, Johnson optou pela segunda opção e, se existe algum tipo de similaridade de The Last Jedi com O Império Contra-Ataca esta é exclusivamente a qualidade. Fazia tempo que eu não ficava arrepiado praticamente em toda cena de um filme. The Last Jedi é uma coletânea de momentos épicos e emocionantes que respeita os personagens antigos e procura dar força aos personagens novos, sendo uma experiência imprescindível de se testemunhar no cinema para qualquer fã da franquia mais influente da cultura pop ocidental. Agora vou comentar pontos mais específicos da trama que me chamaram atenção, isso através de tópicos porque...porra, porque são quase duas da manhã e eu não estou em condições de escrever um texto bem estruturado e amarrado. So here we go:
1. A minha única grande ressalva que tenho com o filme é tratamento dado ao personagem do Snoke e como ele é morto por Kylo Ren. Foi um deus ex-machina que só desperdiçou um antagonista com potencial que acabou por se tornar apenas um plot device para avançar a trajetória de Kylo. 2. Uma ressalva pequena que tenho com o filme é a identidade dos pais da Rey, que foi uma das principais fontes de especulação no filme anterior e achei tão frustrante descobrir que eles não passavam de dois anônimos que a venderam ainda bebê (pelo menos, foi isso que o diálogo da Rey com Kylo Ren deu a entender). Ainda assim, o crescimento da Rey enquanto personagem e suas interações com Kylo são um acerto do filme. 3. Falando em Ren, percebi um aspecto interessante na atuação de Adam Driver, de como o gestual dele remete à ideia de uma criança birrenta dando chilique, revelando a verdadeira natureza do personagem: um menino assustado e mimado que utiliza da violência e da força bruta para conquistar seus objetivos. 4. Gostei da condução do personagem vivido por Benicio Del Toro (esqueci o nome dele). A jogada dele devolver o pingente da Rose para fazer o público acreditar que ele pode ser uma pessoa de confiança e vir a ser um aliado valioso para a resistência, só para depois revelar que na realidade ele é só um mercenário FDP disposto a servir quem pagar mais foi uma reviravolta interessante (e revoltante). 5. A sequência no cassino também foi outro trunfo que merece destaque. Não apenas por nos fazer entender parte importante da motivação da resistência como por essa cena ser uma grande crítica às elites que sustentam sua vida de luxo através da desgraça alheia de muitos, inclusive a indústria armamentista é explicitamente citada. 6. Almirante Laura Dern (esqueci o nome da personagem) se sacrificando para destruir a nave principal da Primeira Ordem utilizando a tecnologia do salto no hiperespaço contra a nave. QUE. FODA. 7. A aparição do Mestre Yoda foi o primeiro momento que me emocionei no filme, ninguém sabe dar palavras de sabedoria a seus discípulos (sem que elas pareçam ter saído de um livro do Augusto Cury) tão bem quanto Yoda. 8. O segundo e último momento emocionante de The Last Jedi foi a morte de Luke Skywalker e a forma como ela foi realizada: se no primeiro filme da saga, lá em 1977, nós conhecemos o jovem Luke, prestes a iniciar suas aventuras como jedi, observando o dia amanhecer em Tatooine; nada mais justo que, em 2017, nossa despedida do Mestre Luke, após finalmente unir-se com a Força, seja ele testemunhando o pôr-do-sol de Ahch-To. Uma belíssima rima visual, de fato.
As mortes de Misato Katsuragi e Asuka Langley Soryu. E como elas são condizentes com a natureza das duas personagens. Uma das principais características da personalidade de Katsuragi é a de buscar constantemente conectar-se de forma intensa e desesperada com as pessoas a seu redor. Este aspecto é corroborado tanto pela sua posição enquanto guardiã de Shinji Ikari, função que exerce demonstrando empatia para com o garoto; como pelo seu relacionamento com Ryoji Kaji, dotado de alta carga sexual. Logo, faz todo o sentido Misato dar um beijo em Shinji antes de morrer, já que esta ação impulsiva seria a forma encontrada pela major de conceder ao seu protegido a possibilidade de experimentar emoções que só o calor humano é capaz de proporcionar. Emoções que Shinji desconheceu durante sua vida inteira, enquanto Misato passou toda sua existência tentando transmitir e receber, mesmo em seu último suspiro. Já Asuka, muito em virtude de sua conturbada e curta infância, é conhecida por seu comportamento valente e orgulhoso, fazendo dela uma piloto de EVAs excepcional. Portanto, nada mais digno para uma guerreira nata como Langley do que morrer naquela que seria a batalha mais épica de sua vida (e uma das melhores e mais perturbadoras da história do anime) contra várias unidades EVA da SEELE que, se aproveitando do excesso de confiança da ruiva, finalizam a personagem impiedosamente enquanto a mesma sussurra repetidas vezes que vai matar seus algozes com um sentimento de ódio animalesco estampado em seu semblante, tal qual vimos em outros combates anteriores, embora não na mesma intensidade do que o presente neste confronto derradeiro. Este esforço, porém, foi realizado em vão e a vaidade acabou por ser a queda da mais habilidosa piloto do Projeto Evangelion. Quer dizer, isso até Asuka ser ressuscitada após Shinji rejeitar o processo de instrumentabilidade humana e...não, não vou escrever sobre o final do anime agora, preciso formar uma interpretação coerente antes. Enfim, espero que com esse meu comentário tenha conseguido exemplificar como Evangelion é uma obra audiovisual diferenciada no que diz respeito a desenvolvimento de personagens. E você que chegou até aqui digo-lhe apenas o seguinte: https://www.youtube.com/watch?v=gUkaoy1Pr7E
Primeiro Douglas Sirk que vejo (certamente não será o último), Tudo o Que o Céu Permite é um melodrama belíssimo, seja pelo technicolor deslumbrante que só realça a palheta de cores vivas da fotografia de Russell Metty, parceiro de Sirk em diversas produções, quanto pela coragem temática. Não apenas por abordar a dificuldade que um casal com uma diferença de idade considerável tem em receber aceitação social (algo que ocorre ainda hoje, não sendo um tabu restrito da década de 50) como por ser uma obra que questiona o famigerado "american way of life", isso muito em decorrência da presença de Ron Kirby (Rock Hudson), que ensina a sua amada proibida Cary Scott (Jane Wyman) valores que vão contra a ideia da busca por felicidade através do materialismo e do bem-estar financeiro. Ou seja, além da diferença de idade entre os dois amantes, outro aspecto de seu relacionamento que certamente escandalizou as plateias da época foram as diferenças sociais e como a visão de mundo da parte mais frágil financeiramente acaba se sobressaindo sobre a outra. A forma como Sirk conduziu não apenas Tudo o Que o Céu Permite, mas praticamente todo os seus melodramas da década de 50, resultou em uma má recepção de seus filmes pela crítica especializada da época, que considerava seus filmes banais, irrealistas e sem importância. Porém, assim como ocorre com a maioria dos artistas que desafiam convenções, a obra de Douglas Sirk deixou de ser incompreendida com o passar do tempo e hoje o cineasta alemão é reconhecido por críticos e cinéfilos como um importante mestre da sétima arte e nome seminal para entender-se a sociedade norte-americana dos anos 50. Para finalizar, gostaria de recomendar dois filmaços que prestam homenagem ao cinema de Douglas Sirk: 1. O Medo Devora a Alma (Rainer Werner Fassbinder, 1974), filme alemão que relata um romance entre um imigrante marroquino e uma mulher mais velha na Alemanha pós-guerra. 2. Longe do Paraíso (Todd Haynes, 2002), que narra a trajetória de uma dona-de-casa dos anos 50 se aproximando de seu jardineiro enquanto o marido dela tenta lidar com sua homossexualidade reprimida. Também vale lembrar que o nome de Sirk é mencionado durante o jantar de Mia Wallace e Vincent Vega em Pulp Fiction (se não me engano, é o nome do steak que Vincent pede para comer), mais um easter egg para prestar atenção ao revisitar a obra máxima de Quentin Tarantino.
No final dos anos 90, os bancos dos EUA começaram a emprestar dinheiro a quem não tinha condições de pagar, mesmo quem não tinha renda ou patrimônio conseguia ser aprovado para receber um financiamento; então, os bancos misturaram dívidas de alto risco com dívidas de baixo risco e montaram pacotes conhecidos como CDOs (obrigação de dívida com garantia) a serem vendidas para investidores que acreditavam estar fazendo um ótimo negócio por conta dos juros altos. O problema é que os devedores não pagaram suas dívidas, agora nas mãos de bancos e fundos de investimento, assim ocasionando um efeito dominó no mercado. Crédito fácil e a disseminação de um investimento "podre" pelo mundo todo acabaram por ser a raiz da crise financeira de 2008, fenômeno que impactou duramente os EUA e o mundo e que chegou de maneira despercebida aos olhos de todos. Com algumas exceções. E é justamente nessas exceções que encontra-se o principal objeto de estudo de A Grande Aposta, filme dirigido por Adam McKay e baseado no livro homônimo escrito por Michael Lewis, que narra a trajetória não-fictícia de Michael Burry (Christian Bale), excêntrico dono de uma empresa de médio porte que resolve apostar que o mercado imobiliário irá quebrar após fazer uma profunda análise de dados. Sabendo destes investimentos, o corretor Jared Vennett (Ryan Gosling) passa a oferecer esta oportunidade a seus clientes, incluindo Mark Baun (Steve Carell), dono de uma corretora que passa por problemas pessoais. Paralelo a isso, dois iniciantes no mercado financeiro observam a mesma oportunidade e pedem o auxílio de Ben Rickert (Brad Pitt), um recluso negociante aposentado. Ao deparar-se com esta sinopse, não é difícil de chegar à conclusão que uma das forças de A Grande Aposta encontra-se em seu roteiro escrito por Adam McKay em parceria com Charles Randolph (premiados com o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado), que consegue amarrar de maneira orgânica as narrativas paralelas sem fazer com que o espectador sinta-se cansado ou desnorteado. Isso ocorre pelo fato de Adam McKay estruturar o filme quase como uma comédia (o próprio Adam é conhecido por ter dirigido comédias como O Âncora, sátira da cultura jornalística americana dos anos 70), onde toda a terminologia adotada pelo mercado financeiro, criada justamente para confundir os leigos, é acompanhada de analogias bastante didáticas para tornar a obra mais acessível ao público, além do fato da produção trazer personagens pedindo que outros repitam informações, quebrando a quarta parede (ou seja, falando diretamente com o espectador) e servindo como guia desse universo rodeado de discussões sobre “credit swaps”, “CDOs” e “classificação de risco”. Também é interessante perceber como, para derrubar ainda mais a monotonia, o longa traz celebridades em participações especiais, como por exemplo, a da atriz Margot Robbie, que toma um banho de espuma enquanto explica à platéia, de forma despretensiosa, o conceito de subprimes (hipotecas de alto risco). Por mais aulas de economia assim. Outra cena beneficiada pela veia irreverente do filme é quando dois personagens confrontam uma executiva de uma agência de risco (vivida pela atriz Melissa Leo), que usa óculos escuros em função de uma visita ao oftalmologista, não apenas dando a mesma um aspecto absurdo e cômico como também sendo um comentário inteligente sobre a cegueira das instituições para o desastre que estavam alimentando. Mencionando o desastre, vale igualmente analisar a forma como a película desenvolve seus personagens através de suas reações conforme a situação de crise vai concretizando-se cada vez mais: enquanto Jared Vennett entra em puro êxtase ao perceber seu sonho de enriquecer próximo da realidade, por outro lado Mark Baun sente remorso pelo fato deste enriquecimento ter sua origem em apostar na desgraça de famílias de todo o país e, consequentemente, de todo o globo. A Grande Aposta é uma obra audiovisual importante não apenas para entender-se como ocorreu a crise de 2008 como também por ser um convite à uma reflexão mais profunda sobre o sistema completamente corrompido que vivemos. Uma reflexão revoltante e desanimadora, é verdade. Mas uma reflexão que possibilita novos horizontes para um futuro mais brilhante para nós. Um futuro onde a crise de 2008 não passará de um vislumbre de um passado distante tal qual a crise de 29 é para nós hoje. Ou isso, ou na próxima crise mundial os pobres e imigrantes levarão a culpa, como sempre.
X-Men: Fênix Negra
2.6 1,1K Assista AgoraGostei menos do que poderia e mais do que deveria. De qualquer forma, os X-Men da Fox mereciam uma despedida melhor do que essa e a Saga da Fênix Negra ainda não tem uma adaptação cinematográfica à altura da sua grandiosidade
Turma da Mônica: Laços
3.6 605 Assista AgoraApesar de estar longe de ser um grande filme, tem mais coração que todos os live action da Disney JUNTOS
Era Uma Vez em... Hollywood
3.8 2,3K Assista AgoraGostei do filme, acho uma homenagem bem honesta à cultura da época e uma tocante reparação histórica de uma tragédia humana. A única coisa que odiei foi a cena do Bruce Lee que putz...que "homenagem" tosca hein Tarantino.
DiCaprio está muito bem no filme, a melhor cena de toda a película inclusive é uma dele com uma garotinha (quem viu sabe do que tô falando) e a Sharon Tate da Margot Robbie transmite uma inocência angelical interessante, mas infelizmente com pouco tempo de tela
Bacurau
4.3 2,7K Assista AgoraTava esperando um western distópico no sertão, ganhei não apenas isso como uma obra anti-imperialista aonde
os cowboys brancos (historicamente os heróis dos gênero western que matam indígenas, mexicanos e outras minorias) representam o poder destrutivo dos países desenvolvidos (com a ajudinha de um entreguismo FDP) sobre o terceiro mundo. E em resposta a isso, o terceiro mundo, latino-americano e descendente de indígenas, combate bravamente a violência racista dos cowboys eurocêntricos. Não por uma questão de sadismo, não pelo entretenimento vazio que os antagonistas buscam, mas sim por uma questão de sobrevivência e, principalmente, Resistência.
Não sei se Bacurau é o melhor filme do ano, mas certamente é o filme mais importante a estrear nos cinemas brasileiros em 2019
Homem-Aranha: Longe de Casa
3.6 1,3K Assista AgoraCada filme que passa me convenço mais e mais que o Tony Stark é o maior vilão do MCU
Homem-Aranha: Longe de Casa
3.6 1,3K Assista AgoraEu: "Vamo lá distrair um pouco do cenário político brasileiro atual e assistir esse filminho de herói"
Filminho de herói: *Faz um paralelo com disseminação de fake news e a era da pós-verdade*
John Wick 3: Parabellum
3.9 1,0K Assista AgoraJohn Wick só não é mais porradeiro que a Família Sardinha de Da Cor do Pecado
Vingadores: Ultimato
4.3 2,6K Assista AgoraIrmãos Russo, não adianta nada
fazer cena de girl power, mas não dar à Viúva Negra uma despedida decente. Dava pra ter colocado um segundo caixão simbólico pra ela no funeral do Stark. Ela também é uma das Vingadores originais, caramba!
Vingadores: Ultimato
4.3 2,6K Assista AgoraAgora sim posso fazer um cosplay de Thor que seja fiel ao original
Nós
3.8 2,3K Assista AgoraMinhas considerações à flor da pele sobre o filme:
1 - Jordan Peele, conte comigo pra tudo
2 - Já tô vendo que vai acontecer com Lupita Nyong'o o mesmo que ocorreu com Toni Collette ano passado: ela entrega uma das melhores atuações do ano, mas é esnobada no Oscar, pois a Academia tem preconceito com filmes de terror
3 - De fato, uma cópia minha andando por aí fazendo cosplay de La Casa de Papel seria um problemão, vai que as pessoas acham que eu sou fã da série
4 - O plot twist do final me lembrou o jogo The Witch's House, que tem uma reviravolta semelhante. E ainda sobre o plot twist: eu entendi que as memórias da personagem da Lupita se confundiram com as memórias de sua cópia (ou doppelganger, se preferirem), mas não consigo decifrar o porquê disso. Alguém tem algum palpite?
Vidro
3.5 1,3K Assista AgoraÉ um filme bem dirigido e muito interessante do ponto de vista técnico, mas o roteiro toma uns caminhos tão decepcionantes (principalmente no ato final), que confesso que me peguei pensando: "Putz, podia estar revendo Homem-Aranha no Aranhaverso agora".
Homem-Aranha: No Aranhaverso
4.4 1,5K Assista AgoraEste é o resultado obtido quando se tem uma animação fluida e psicodélica, que pega emprestado o melhor da linguagem dos quadrinhos, combinada com uma trama pensada fora da caixinha, conseguindo assim dar a devida atenção a sua apaixonante galeria de personagens encabeçada por um protagonista que torna-se uma voz necessária em uma sociedade que soa cada vez mais intolerante como a nossa.
Homem-Aranha no Aranhaverso é, portanto, o cinema escapista em seu auge e a obra que melhor entendeu a essência do herói, independente de qual versão está por trás da máscara.
"MILES (V.O.)
When do I know I’m Spider-Man?
BACK ON MILES-- Moving closer and closer to the edge.
PETER (V.O.)
You won’t. That’s all it is,
Miles... a leap of faith.
Miles walks to the edge of the roof, the wind buffeting...
and LEAPS! The camera is UPSIDE DOWN. Miles isn't falling
through frame. He's RISING."
May: Obsessão Assassina
3.2 268 Assista Agora"May" é uma subestimada produção independente do gênero terror que combina de maneira orgânica elementos de clássicos como "Carrie, a Estranha" com "Frankenstein", contando com uma impressionante atuação de Angela Bettis, que mescla muito bem gestos que sugerem a ingenuidade e insegurança da protagonista com olhares reveladores de seu estado de espírito perturbado e violento. Entretanto, May é a única personagem da película que tem algum tipo de desenvolvimento. Anna Faris até convence como Polly, coadjuvante que trata-se da luxúria em pessoa (e também um importante símbolo para contrapor a sexualidade reprimida de May), porém soa mais como uma ferramenta de roteiro unidimensional, assim como Adam, personagem vivido por Jeremy Sisto (símbolo de como o afeto sincero também é um tabu no universo da protagonista).
Ainda assim, acredito que a grande força narrativa da obra vem da direção de Lucky Mckee, obviamente um fã do gênero (não é qualquer diretor meia-boca que cita Dario Argento) que entende que os melhores filmes de terror são aqueles que sentem empatia pelas figuras trágicas que são seus monstros. Monstros atormentados pela solidão e incompreendidos pelo ambiente ao seu redor. Monstros incapazes de tolerar a dor da rejeição e que tomam as medidas mais drásticas possíveis.
Todos estes monstros, sejam os do passado como Carrie White ou os contemporâneos como May Dove Canady, que resultam em obras capazes de encantar os olhos dos espectadores mais atentos. E certamente May também sentiria-se encantada por tais olhos.
Hannah Gadsby: Nanette
4.7 207 Assista Agora"Do you know why we have the sunflowers? It's not because Vincent Van Gogh suffered, it's because Vincent Van Gogh had a brother who loved him. Through all the pain, he had a tether, a connection to the world. And that's the focus of the story we need: connection. Thank you."
Este trecho específico foi o que me pegou em cheio, que maneira fantástica de encerrar uma apresentação igualmente fantástica. E fica aquela sensação que acabei de presenciar história sendo feita, de que este especial vai ser lembrado daqui há 50 anos como um marco na história do stand-up
Vingadores: Guerra Infinita
4.3 2,6K Assista AgoraO Império Contra-Ataca encontra The Leftovers
Um Lugar Silencioso
4.0 3,0K Assista AgoraForte candidato para ser o melhor filme de terror do ano. Recomendo assistir na sessão mais vazia possível para valorizar o uso do silêncio como catalisador de tensão que o filme aplica.
A parte mais assustadora do filme, sem dúvida, foi
ver o nome do Michael Bay nos créditos como produtor, que plot twist surreal
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista Agora*assistindo Call Me By Your Name*
Eu: Poxa, estou gostando bastante do filme e da direção do Guadagnino, tem uma influência de Bertolucci com elementos de Antonioni e tal
*chega a cena do pêssego*
Eu: Definitivamente Bertolucci
A Forma da Água
3.9 2,7KInteressante o fato da criatura cortar a garganta de Strickland, já que tal ação silenciou o antagonista de uma forma violenta, assim como o mesmo também silenciou sua esposa de forma violenta na cena de sexo entre os dois. Uma rima visual que finaliza a trajetória de um personagem de maneira tão cruel quanto suas próprias ações no decorrer do filme.
Uma Mulher Fantástica
4.1 422 Assista AgoraNunca um título de filme fez tanto sentido, uma bela obra sobre uma mulher fantástica que persevera mesmo sem o direito de sofrer pela perda de seu amado como uma pessoa comum pelo simples fato de ser diferente.
Queria aproveitar e comentar sobre algumas cenas específicas que me chamaram atenção:
- A cena que Marina olha no espelho, posicionado no meio de suas coxas, e vê seu próprio rosto. É um recurso tão simples, mas tão eficaz para transmitir a ideia que não importa se ela é operada ou não, o que interessa é como a protagonista se vê: como uma mulher legítima.
- As duas cenas de canto. A primeira porque quebrou meu preconceito com relação ao talento de Marina. Eu nunca pensei que uma mulher trans pudesse executar um canto lírico de forma tão linda, porém Marina acabou por me ensinar a preciosa lição de nunca subestimar a capacidade de alguém. E a segunda por ser uma cena bastante emocionante ao mostrar que nossa querida mulher fantástica, apesar das dores e males sofridos, ainda tem possibilidade de, com seu talento musical, ter um destino igualmente fantástico.
Is It College Yet?
4.6 28...E assim termina o que foi provavelmente a melhor coisa que a MTV colocou no ar.
Star Wars, Episódio VIII: Os Últimos Jedi
4.1 1,6K Assista AgoraHá dois anos atrás, quando assisti O Despertar da Força, lembro que fiquei ansioso com a possibilidade de assistir um filme de Star Wars em tela grande. Saí da sala de projeção bastante satisfeito com o resultado final, mas confesso ter ficado incomodado com alguns aspectos, como por exemplo o famigerado fato do roteiro do filme ser basicamente uma releitura de Uma Nova Esperança. Daquele momento em diante, fiquei preocupado se Rian Johnson iria conduzir sua obra jogando seguro (assim como J.J. Abrams fez no episódio VII) emulando O Império Contra-Ataca ou se iria tentar inovar com o universo, correndo o risco de fracassar tal qual George Lucas fracassou com os episódios I-III. Felizmente, Johnson optou pela segunda opção e, se existe algum tipo de similaridade de The Last Jedi com O Império Contra-Ataca esta é exclusivamente a qualidade.
Fazia tempo que eu não ficava arrepiado praticamente em toda cena de um filme. The Last Jedi é uma coletânea de momentos épicos e emocionantes que respeita os personagens antigos e procura dar força aos personagens novos, sendo uma experiência imprescindível de se testemunhar no cinema para qualquer fã da franquia mais influente da cultura pop ocidental.
Agora vou comentar pontos mais específicos da trama que me chamaram atenção, isso através de tópicos porque...porra, porque são quase duas da manhã e eu não estou em condições de escrever um texto bem estruturado e amarrado. So here we go:
1. A minha única grande ressalva que tenho com o filme é tratamento dado ao personagem do Snoke e como ele é morto por Kylo Ren. Foi um deus ex-machina que só desperdiçou um antagonista com potencial que acabou por se tornar apenas um plot device para avançar a trajetória de Kylo.
2. Uma ressalva pequena que tenho com o filme é a identidade dos pais da Rey, que foi uma das principais fontes de especulação no filme anterior e achei tão frustrante descobrir que eles não passavam de dois anônimos que a venderam ainda bebê (pelo menos, foi isso que o diálogo da Rey com Kylo Ren deu a entender). Ainda assim, o crescimento da Rey enquanto personagem e suas interações com Kylo são um acerto do filme.
3. Falando em Ren, percebi um aspecto interessante na atuação de Adam Driver, de como o gestual dele remete à ideia de uma criança birrenta dando chilique, revelando a verdadeira natureza do personagem: um menino assustado e mimado que utiliza da violência e da força bruta para conquistar seus objetivos.
4. Gostei da condução do personagem vivido por Benicio Del Toro (esqueci o nome dele). A jogada dele devolver o pingente da Rose para fazer o público acreditar que ele pode ser uma pessoa de confiança e vir a ser um aliado valioso para a resistência, só para depois revelar que na realidade ele é só um mercenário FDP disposto a servir quem pagar mais foi uma reviravolta interessante (e revoltante).
5. A sequência no cassino também foi outro trunfo que merece destaque. Não apenas por nos fazer entender parte importante da motivação da resistência como por essa cena ser uma grande crítica às elites que sustentam sua vida de luxo através da desgraça alheia de muitos, inclusive a indústria armamentista é explicitamente citada.
6. Almirante Laura Dern (esqueci o nome da personagem) se sacrificando para destruir a nave principal da Primeira Ordem utilizando a tecnologia do salto no hiperespaço contra a nave. QUE. FODA.
7. A aparição do Mestre Yoda foi o primeiro momento que me emocionei no filme, ninguém sabe dar palavras de sabedoria a seus discípulos (sem que elas pareçam ter saído de um livro do Augusto Cury) tão bem quanto Yoda.
8. O segundo e último momento emocionante de The Last Jedi foi a morte de Luke Skywalker e a forma como ela foi realizada: se no primeiro filme da saga, lá em 1977, nós conhecemos o jovem Luke, prestes a iniciar suas aventuras como jedi, observando o dia amanhecer em Tatooine; nada mais justo que, em 2017, nossa despedida do Mestre Luke, após finalmente unir-se com a Força, seja ele testemunhando o pôr-do-sol de Ahch-To. Uma belíssima rima visual, de fato.
Neon Genesis Evangelion: O Fim do Evangelho
4.3 253 Assista AgoraEu queria tecer um comentário sobre duas cenas específicas de The End of Evangelion:
As mortes de Misato Katsuragi e Asuka Langley Soryu. E como elas são condizentes com a natureza das duas personagens.
Uma das principais características da personalidade de Katsuragi é a de buscar constantemente conectar-se de forma intensa e desesperada com as pessoas a seu redor. Este aspecto é corroborado tanto pela sua posição enquanto guardiã de Shinji Ikari, função que exerce demonstrando empatia para com o garoto; como pelo seu relacionamento com Ryoji Kaji, dotado de alta carga sexual. Logo, faz todo o sentido Misato dar um beijo em Shinji antes de morrer, já que esta ação impulsiva seria a forma encontrada pela major de conceder ao seu protegido a possibilidade de experimentar emoções que só o calor humano é capaz de proporcionar. Emoções que Shinji desconheceu durante sua vida inteira, enquanto Misato passou toda sua existência tentando transmitir e receber, mesmo em seu último suspiro.
Já Asuka, muito em virtude de sua conturbada e curta infância, é conhecida por seu comportamento valente e orgulhoso, fazendo dela uma piloto de EVAs excepcional. Portanto, nada mais digno para uma guerreira nata como Langley do que morrer naquela que seria a batalha mais épica de sua vida (e uma das melhores e mais perturbadoras da história do anime) contra várias unidades EVA da SEELE que, se aproveitando do excesso de confiança da ruiva, finalizam a personagem impiedosamente enquanto a mesma sussurra repetidas vezes que vai matar seus algozes com um sentimento de ódio animalesco estampado em seu semblante, tal qual vimos em outros combates anteriores, embora não na mesma intensidade do que o presente neste confronto derradeiro. Este esforço, porém, foi realizado em vão e a vaidade acabou por ser a queda da mais habilidosa piloto do Projeto Evangelion.
Quer dizer, isso até Asuka ser ressuscitada após Shinji rejeitar o processo de instrumentabilidade humana e...não, não vou escrever sobre o final do anime agora, preciso formar uma interpretação coerente antes. Enfim, espero que com esse meu comentário tenha conseguido exemplificar como Evangelion é uma obra audiovisual diferenciada no que diz respeito a desenvolvimento de personagens. E você que chegou até aqui digo-lhe apenas o seguinte:
https://www.youtube.com/watch?v=gUkaoy1Pr7E
Tudo o Que o Céu Permite
4.0 93Primeiro Douglas Sirk que vejo (certamente não será o último), Tudo o Que o Céu Permite é um melodrama belíssimo, seja pelo technicolor deslumbrante que só realça a palheta de cores vivas da fotografia de Russell Metty, parceiro de Sirk em diversas produções, quanto pela coragem temática. Não apenas por abordar a dificuldade que um casal com uma diferença de idade considerável tem em receber aceitação social (algo que ocorre ainda hoje, não sendo um tabu restrito da década de 50) como por ser uma obra que questiona o famigerado "american way of life", isso muito em decorrência da presença de Ron Kirby (Rock Hudson), que ensina a sua amada proibida Cary Scott (Jane Wyman) valores que vão contra a ideia da busca por felicidade através do materialismo e do bem-estar financeiro. Ou seja, além da diferença de idade entre os dois amantes, outro aspecto de seu relacionamento que certamente escandalizou as plateias da época foram as diferenças sociais e como a visão de mundo da parte mais frágil financeiramente acaba se sobressaindo sobre a outra.
A forma como Sirk conduziu não apenas Tudo o Que o Céu Permite, mas praticamente todo os seus melodramas da década de 50, resultou em uma má recepção de seus filmes pela crítica especializada da época, que considerava seus filmes banais, irrealistas e sem importância. Porém, assim como ocorre com a maioria dos artistas que desafiam convenções, a obra de Douglas Sirk deixou de ser incompreendida com o passar do tempo e hoje o cineasta alemão é reconhecido por críticos e cinéfilos como um importante mestre da sétima arte e nome seminal para entender-se a sociedade norte-americana dos anos 50.
Para finalizar, gostaria de recomendar dois filmaços que prestam homenagem ao cinema de Douglas Sirk:
1. O Medo Devora a Alma (Rainer Werner Fassbinder, 1974), filme alemão que relata um romance entre um imigrante marroquino e uma mulher mais velha na Alemanha pós-guerra.
2. Longe do Paraíso (Todd Haynes, 2002), que narra a trajetória de uma dona-de-casa dos anos 50 se aproximando de seu jardineiro enquanto o marido dela tenta lidar com sua homossexualidade reprimida.
Também vale lembrar que o nome de Sirk é mencionado durante o jantar de Mia Wallace e Vincent Vega em Pulp Fiction (se não me engano, é o nome do steak que Vincent pede para comer), mais um easter egg para prestar atenção ao revisitar a obra máxima de Quentin Tarantino.
A Grande Aposta
3.7 1,3KNo final dos anos 90, os bancos dos EUA começaram a emprestar dinheiro a quem não tinha condições de pagar, mesmo quem não tinha renda ou patrimônio conseguia ser aprovado para receber um financiamento; então, os bancos misturaram dívidas de alto risco com dívidas de baixo risco e montaram pacotes conhecidos como CDOs (obrigação de dívida com garantia) a serem vendidas para investidores que acreditavam estar fazendo um ótimo negócio por conta dos juros altos. O problema é que os devedores não pagaram suas dívidas, agora nas mãos de bancos e fundos de investimento, assim ocasionando um efeito dominó no mercado. Crédito fácil e a disseminação de um investimento "podre" pelo mundo todo acabaram por ser a raiz da crise financeira de 2008, fenômeno que impactou duramente os EUA e o mundo e que chegou de maneira despercebida aos olhos de todos. Com algumas exceções.
E é justamente nessas exceções que encontra-se o principal objeto de estudo de A Grande Aposta, filme dirigido por Adam McKay e baseado no livro homônimo escrito por Michael Lewis, que narra a trajetória não-fictícia de Michael Burry (Christian Bale), excêntrico dono de uma empresa de médio porte que resolve apostar que o mercado imobiliário irá quebrar após fazer uma profunda análise de dados. Sabendo destes investimentos, o corretor Jared Vennett (Ryan Gosling) passa a oferecer esta oportunidade a seus clientes, incluindo Mark Baun (Steve Carell), dono de uma corretora que passa por problemas pessoais. Paralelo a isso, dois iniciantes no mercado financeiro observam a mesma oportunidade e pedem o auxílio de Ben Rickert (Brad Pitt), um recluso negociante aposentado.
Ao deparar-se com esta sinopse, não é difícil de chegar à conclusão que uma das forças de A Grande Aposta encontra-se em seu roteiro escrito por Adam McKay em parceria com Charles Randolph (premiados com o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado), que consegue amarrar de maneira orgânica as narrativas paralelas sem fazer com que o espectador sinta-se cansado ou desnorteado. Isso ocorre pelo fato de Adam McKay estruturar o filme quase como uma comédia (o próprio Adam é conhecido por ter dirigido comédias como O Âncora, sátira da cultura jornalística americana dos anos 70), onde toda a terminologia adotada pelo mercado financeiro, criada justamente para confundir os leigos, é acompanhada de analogias bastante didáticas para tornar a obra mais acessível ao público, além do fato da produção trazer personagens pedindo que outros repitam informações, quebrando a quarta parede (ou seja, falando diretamente com o espectador) e servindo como guia desse universo rodeado de discussões sobre “credit swaps”, “CDOs” e “classificação de risco”. Também é interessante perceber como, para derrubar ainda mais a monotonia, o longa traz celebridades em participações especiais, como por exemplo, a da atriz Margot Robbie, que toma um banho de espuma enquanto explica à platéia, de forma despretensiosa, o conceito de subprimes (hipotecas de alto risco). Por mais aulas de economia assim.
Outra cena beneficiada pela veia irreverente do filme é quando dois personagens confrontam uma executiva de uma agência de risco (vivida pela atriz Melissa Leo), que usa óculos escuros em função de uma visita ao oftalmologista, não apenas dando a mesma um aspecto absurdo e cômico como também sendo um comentário inteligente sobre a cegueira das instituições para o desastre que estavam alimentando.
Mencionando o desastre, vale igualmente analisar a forma como a película desenvolve seus personagens através de suas reações conforme a situação de crise vai concretizando-se cada vez mais: enquanto Jared Vennett entra em puro êxtase ao perceber seu sonho de enriquecer próximo da realidade, por outro lado Mark Baun sente remorso pelo fato deste enriquecimento ter sua origem em apostar na desgraça de famílias de todo o país e, consequentemente, de todo o globo.
A Grande Aposta é uma obra audiovisual importante não apenas para entender-se como ocorreu a crise de 2008 como também por ser um convite à uma reflexão mais profunda sobre o sistema completamente corrompido que vivemos. Uma reflexão revoltante e desanimadora, é verdade. Mas uma reflexão que possibilita novos horizontes para um futuro mais brilhante para nós. Um futuro onde a crise de 2008 não passará de um vislumbre de um passado distante tal qual a crise de 29 é para nós hoje. Ou isso, ou na próxima crise mundial os pobres e imigrantes levarão a culpa, como sempre.