Uma observação muito delicada sobre afeto no campo de masculinidades e desejos reprimidos. Mesmo com tantas tensões sendo abordadas, o clima geral de "Matthias & Maxime" é de uma calma melancólica - uma espécie de resignação que chamamos de maturidade.
Dolan já criticou a categorização de filmes como "queer" - separar filmes de temática LGBT dos outros é uma medida afirmativa ou que acaba por marginalizar ainda mais? Entendi esse filme como também uma resposta a isso: seria redutivo dizer que os conflitos entre os protagonistas se resumem à sexualidade. Não são dois amigos héteros apaixonados, nem o desejo homoafetivo é um problema em si: há outras questões, inseparáveis dessas, como a diferença familiar, de classe social, as expectativas dos outros, a amizade de infância. Optando por não focar apenas no homoerotismo, Dolan consegue "humanizar" a história contada, nos mostrando um pouco de sua visão do que seria um mundo onde rótulos não importam tanto, e mesmo assim há problemas mais profundos que distanciam as pessoas e nublam nossas intenções e vontades.
"Logo este filme também acabará, então você poderá esquecer alguém como eu - porque eu não me importo se a vida que começar depois disso for normal, daquelas que nunca viraria um filme ou coisa do tipo."
There will be wise men singing, bringing you love Now it's the precious summertime Hand in pocket, bright light Wild Tigers I Have Known They send me down, messing around
"Mommy" é uma experiência essencialmente dolorida. Fácil sentir empatia por Die e Steve, mãe e filho que constantemente tentam demonstrar o amor que sentem um pelo outro e acabam provocando dor (às vezes, intencionalmente); por Kyla, a vizinha de presença sutil, sempre solícita, delicada, emocionalmente rachada, que ironicamente surge tratando das feridas de Steve e, no desenrolar da trama, encontra um caminho para a própria cura (na medida em que isso é possível), ainda que seja um caminho doloroso. A dinâmica dos três facilmente oscila entre o útil e o disfuncional e é desgastante, mas a beleza das cenas faz valer a pena.
Destaques para a cena em que o Steve 'liberta' os três do claustrofóbico quadrado 1:1 ao som de "Wonderwall". Para o devaneio da Die e de seu 'final feliz' -mas, para isso, ela precisaria ser uma mãe melhor; ele, um filho melhor; um mundo melhor-. Para os agora vintage celulares flip. Para a despedida de Kyla e para as palavras ditas com tanta sinceridade ("eu nunca abandonaria minha família"), enquanto Die sufoca o choro escondida atrás das cortinas com o cordão "Mommy" reluzindo, desolado.
Só estranhei a trilha da cena final, destoando da aura 90's do resto do filme, até que meu amigo sabiamente me apontou que não havia música melhor, afinal, "we were born to 'Die'".
Perfeito para se desconectar da realidade e se identificar com alguns fragmentos desconexos das vidas dessas quatro mulheres tão diferentes que moram do outro lado do mundo. E, sem perceber, se pegar desejando "que elas sejam felizes".
Me lembrou bastante de "tokyo.sora", do Hiroshi Ishikawa.
O sentimentalismo e a nostalgia chegam ao fim em um 'bittersweet happy ending'. É normal sentir como se as quase oito horas da trilogia correspondam aos seis anos que se passaram desde o primeiro filme? Da mesma maneira como no começo, a despedida consiste em observar o sol poente tingir a cidade. E ninguém deveria ficar sozinho ao observar o sol se por.
Um excelente romance de formação inevitavelmente comparável ao "Apanhador no Campo de Centeio". Completamente emocional sem cair na pieguice. Desolador. Infinito.
A internet é o Éter. O corpo, real, a ferida que repete o cármico ciclo de cura, cicatrização e nova chaga. Mas enquanto existir Música, existirá salvação. Enquanto existir realidade, existirão maníacos & depressivos. Enquanto existir o vermelho do erotismo, existirá o azul da esperança. Enquanto existir a Lily, eu existirei.
Quando li o livro, fiquei extasiado: não conseguia tirar minha atenção daquelas frases gigantescas narrando as aventuras daqueles beatniks perdidos na Velha América. Apesar das omissões e supressões, a versão cinematográfica mantém a mesma aura que te prende, arregala suas pupilas e prende sua atenção.
Engraçado, apesar do gênero suspense/terror, que serve pra divertir. Primeira vez que assisto a um filme em 3D desde o cinema do Parque da Mônica, o que tornou a experiência mais divertida. E claro, obrigado pelo refrigerante, pela pipoca e pelo DVD, Filmow!
Embora os diálogos sejam interessantes, os personagens sejam cativantes e a temática da homossexualidade seja abordada de uma maneira natural, mostrando dois pontos de vista diferentes, o filme não passa de um "boy meets boy": é romântico e até fofo em alguns momentos, mas confesso que ficou aquém das minhas expectativas.
Pouco a pouco, a simpatia para com Tanishi, esse homem completamente incompetente e inútil, cresce. Apesar das cenas de comédia, o riso provocado por elas é mais constrangido do que qualquer outra coisa.
Um exemplo é a cena final, no trem: talvez a "disposição" da Chiharu e o sorriso do Tanishi de "está tudo bem!" forme um conjunto cômico para alguns, mas eu me senti verdadeiramente desolado. Foi como se alguém disse "toda o relacionamento, todas as motivações entre as pessoas se resumem nesses segundos em que tudo que você é capaz de sentir por outra pessoa é a mais pungente decepção". E em alguma hora você é empurrado, em outra você empurra.
Apesar de toda aproximação implicar na construção de algo que, inevitavelmente, será, no momento da separação, demolido, deixando marcas profundas, não há outra escolha para um homem a não ser correr atrás de seu objetivo. Boys (Always) On The Run.
"O Japão é uma país sem identidade". Essa palavra ("identidade") não existe no idioma nipônico. Culturalmente, japoneses são mais voltados para seu grupo, sua sociedade, ao invés de externar seu egoísmo. No entanto, até que ponto isso é admirável? Quem sou eu, se não puder fazer parte dessa sociedade?
Na verdade, não há algo que possa ser chamado de "identidade" em nenhum local desse mundo. Se você faz parte de uma banda de rock, definitivamente não pode usar óculos nem calça de moletom. Esse não é o espírito do rock. Mas qual é o espírito, então? "Iden & Tity" parece ter saído da interpretação das canções do Dylan. E "if dogs run free, then why not we"? A liberdade de Nakajima (de Iden & Tity) consiste em rejeitar a importação da música norte-americana, a adoção do visual (-kei) padronizado, a atuação em uma novela de sucesso, a transformação em rapper.
Nakajima, para manter-se fiel a seus princípios, sacrifica sua carreira no então decadente mercado fonográfico japonês. Para encontrar sua identidade, precisa desistir de si mesmo, abandonar o sujo bairro de Kouenji e partir na jornada mais longa de toda a humanidade - uma jornada metafórica, pois o Dylan pessoal de Nakajima ensina que não é necessário sair de uma pequena cidade do interior e ir para Nova Iorque para encontrar o próprio caminho.
Para encontrar sua identidade, você precisa trilhar um caminho que não é um caminho. Tudo o que você pode fazer é fazer o que você deve. Você faz o que você deve e faz isso bem.
Matthias & Maxime
3.4 132 Assista AgoraUma observação muito delicada sobre afeto no campo de masculinidades e desejos reprimidos. Mesmo com tantas tensões sendo abordadas, o clima geral de "Matthias & Maxime" é de uma calma melancólica - uma espécie de resignação que chamamos de maturidade.
Dolan já criticou a categorização de filmes como "queer" - separar filmes de temática LGBT dos outros é uma medida afirmativa ou que acaba por marginalizar ainda mais? Entendi esse filme como também uma resposta a isso: seria redutivo dizer que os conflitos entre os protagonistas se resumem à sexualidade. Não são dois amigos héteros apaixonados, nem o desejo homoafetivo é um problema em si: há outras questões, inseparáveis dessas, como a diferença familiar, de classe social, as expectativas dos outros, a amizade de infância. Optando por não focar apenas no homoerotismo, Dolan consegue "humanizar" a história contada, nos mostrando um pouco de sua visão do que seria um mundo onde rótulos não importam tanto, e mesmo assim há problemas mais profundos que distanciam as pessoas e nublam nossas intenções e vontades.
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraDa próxima vez que eu quiser ver um sermão de duas horas, vou pra missa mesmo.
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista AgoraIs it a video?
100 Yen Love
3.7 20"Logo este filme também acabará, então você poderá esquecer alguém como eu - porque eu não me importo se a vida que começar depois disso for normal, daquelas que nunca viraria um filme ou coisa do tipo."
Tigres Selvagens
3.8 48There will be wise men singing, bringing you love
Now it's the precious summertime
Hand in pocket, bright light
Wild Tigers I Have Known
They send me down, messing around
Mommy
4.3 1,2K Assista Agora"Mommy" é uma experiência essencialmente dolorida.
Fácil sentir empatia por Die e Steve, mãe e filho que constantemente tentam demonstrar o amor que sentem um pelo outro e acabam provocando dor (às vezes, intencionalmente); por Kyla, a vizinha de presença sutil, sempre solícita, delicada, emocionalmente rachada, que ironicamente surge tratando das feridas de Steve e, no desenrolar da trama, encontra um caminho para a própria cura (na medida em que isso é possível), ainda que seja um caminho doloroso. A dinâmica dos três facilmente oscila entre o útil e o disfuncional e é desgastante, mas a beleza das cenas faz valer a pena.
Destaques para a cena em que o Steve 'liberta' os três do claustrofóbico quadrado 1:1 ao som de "Wonderwall". Para o devaneio da Die e de seu 'final feliz' -mas, para isso, ela precisaria ser uma mãe melhor; ele, um filho melhor; um mundo melhor-. Para os agora vintage celulares flip. Para a despedida de Kyla e para as palavras ditas com tanta sinceridade ("eu nunca abandonaria minha família"), enquanto Die sufoca o choro escondida atrás das cortinas com o cordão "Mommy" reluzindo, desolado.
Só estranhei a trilha da cena final, destoando da aura 90's do resto do filme, até que meu amigo sabiamente me apontou que não havia música melhor, afinal, "we were born to 'Die'".
O Sussurro dos Deuses
3.8 5Perturbador.
Strawberry Shortcakes
4.1 1Perfeito para se desconectar da realidade e se identificar com alguns fragmentos desconexos das vidas dessas quatro mulheres tão diferentes que moram do outro lado do mundo. E, sem perceber, se pegar desejando "que elas sejam felizes".
Me lembrou bastante de "tokyo.sora", do Hiroshi Ishikawa.
E nossa, como me senti aliviado na cena do funeral ao ver que não era a Akiyo.
blue
3.7 4Delicado.
Petal Dance
3.8 5sayonaraba
Bling Ring - A Gangue de Hollywood
3.0 1,7K Assista AgoraSuper rich kids with nothing but loose ends
Super rich kids with nothing but fake friends
Não Minha Filha, Você Não Irá Dançar
3.3 94Eu sou a Lena. Não, eu não irei dançar.
Catfish
4.0 346"Não importa que seja real, desde que seja verdadeiro".
O Sol Sempre se Põe na Terceira Rua 3
3.8 1O sentimentalismo e a nostalgia chegam ao fim em um 'bittersweet happy ending'. É normal sentir como se as quase oito horas da trilogia correspondam aos seis anos que se passaram desde o primeiro filme?
Da mesma maneira como no começo, a despedida consiste em observar o sol poente tingir a cidade. E ninguém deveria ficar sozinho ao observar o sol se por.
Maundy Thursday
3.9 8"Acho que o que as pessoas que cometeram crimes precisam não é punição, mas ao invés disso conhecer a dor de serem perdoadas".
As Vantagens de Ser Invisível
4.2 6,9K Assista AgoraUm excelente romance de formação inevitavelmente comparável ao "Apanhador no Campo de Centeio". Completamente emocional sem cair na pieguice. Desolador. Infinito.
Tudo Sobre Lily Chou-Chou
4.1 59 Assista AgoraEtéreo.
A internet é o Éter. O corpo, real, a ferida que repete o cármico ciclo de cura, cicatrização e nova chaga.
Mas enquanto existir Música, existirá salvação. Enquanto existir realidade, existirão maníacos & depressivos. Enquanto existir o vermelho do erotismo, existirá o azul da esperança. Enquanto existir a Lily, eu existirei.
Na Estrada
3.3 1,9KQuando li o livro, fiquei extasiado: não conseguia tirar minha atenção daquelas frases gigantescas narrando as aventuras daqueles beatniks perdidos na Velha América. Apesar das omissões e supressões, a versão cinematográfica mantém a mesma aura que te prende, arregala suas pupilas e prende sua atenção.
Único ponto negativo: muito sexo e poucos Terry e Old Bull Lee.
Terror na Água 3D
2.1 528Engraçado, apesar do gênero suspense/terror, que serve pra divertir. Primeira vez que assisto a um filme em 3D desde o cinema do Parque da Mônica, o que tornou a experiência mais divertida.
E claro, obrigado pelo refrigerante, pela pipoca e pelo DVD, Filmow!
Bom Dia, Mundo!!
5.0 1Oi. Esse é um filme. Não espere nada dele, não tenha nenhuma expectativa. Por que esse é só um filme.
Final de Semana
3.9 518 Assista AgoraEmbora os diálogos sejam interessantes, os personagens sejam cativantes e a temática da homossexualidade seja abordada de uma maneira natural, mostrando dois pontos de vista diferentes, o filme não passa de um "boy meets boy": é romântico e até fofo em alguns momentos, mas confesso que ficou aquém das minhas expectativas.
Meia-Noite em Paris
4.0 3,8K Assista AgoraNão queria que esse filme acabasse.
Boys On The Run
4.0 2Pouco a pouco, a simpatia para com Tanishi, esse homem completamente incompetente e inútil, cresce. Apesar das cenas de comédia, o riso provocado por elas é mais constrangido do que qualquer outra coisa.
Um exemplo é a cena final, no trem: talvez a "disposição" da Chiharu e o sorriso do Tanishi de "está tudo bem!" forme um conjunto cômico para alguns, mas eu me senti verdadeiramente desolado. Foi como se alguém disse "toda o relacionamento, todas as motivações entre as pessoas se resumem nesses segundos em que tudo que você é capaz de sentir por outra pessoa é a mais pungente decepção".
E em alguma hora você é empurrado, em outra você empurra.
Apesar de toda aproximação implicar na construção de algo que, inevitavelmente, será, no momento da separação, demolido, deixando marcas profundas, não há outra escolha para um homem a não ser correr atrás de seu objetivo. Boys (Always) On The Run.
Iden & Tity
4.7 2"O Japão é uma país sem identidade".
Essa palavra ("identidade") não existe no idioma nipônico. Culturalmente, japoneses são mais voltados para seu grupo, sua sociedade, ao invés de externar seu egoísmo.
No entanto, até que ponto isso é admirável? Quem sou eu, se não puder fazer parte dessa sociedade?
Na verdade, não há algo que possa ser chamado de "identidade" em nenhum local desse mundo. Se você faz parte de uma banda de rock, definitivamente não pode usar óculos nem calça de moletom. Esse não é o espírito do rock. Mas qual é o espírito, então?
"Iden & Tity" parece ter saído da interpretação das canções do Dylan. E "if dogs run free, then why not we"? A liberdade de Nakajima (de Iden & Tity) consiste em rejeitar a importação da música norte-americana, a adoção do visual (-kei) padronizado, a atuação em uma novela de sucesso, a transformação em rapper.
Nakajima, para manter-se fiel a seus princípios, sacrifica sua carreira no então decadente mercado fonográfico japonês. Para encontrar sua identidade, precisa desistir de si mesmo, abandonar o sujo bairro de Kouenji e partir na jornada mais longa de toda a humanidade - uma jornada metafórica, pois o Dylan pessoal de Nakajima ensina que não é necessário sair de uma pequena cidade do interior e ir para Nova Iorque para encontrar o próprio caminho.
Para encontrar sua identidade, você precisa trilhar um caminho que não é um caminho. Tudo o que você pode fazer é fazer o que você deve. Você faz o que você deve e faz isso bem.
É só isso que, no final das contas, importa.