Tiago Oliveira

Falta muito sobre muita coisa. Teve boa intenção e fotografia, apenas isso. Não percebi qualquer traço do universo de Bukowiski indicado no filme como foi indicado nos créditos - se houve qualquer coisa foi pessimamente trabalhado. Se é pra ser transgressor e subversivo que seja bem feito, A tal pós modernidade tem muito do surrealismo, mas nesse caos e falta de lógica aparente tem grandes porquês, grandes e profundos conflitos, especialmente no universo marginal. A cena inicial de Amianto na lama no chão do apartamento de seu namorado foi de fato a única coisa mais próxima da boa intenção da direção, ideia excelente. Fotografia não alimenta dramaticamente o filme sozinha, seja ele pós moderno, surreal etc... Ou talvez eu não tenha sido mesmo capaz de alcançar a história, mas aí eu queria que alguém me convencesse, porque o filme não me convenceu.

Nada tem a ver com "D. Flor e seus dois maridos", ou com "Ghost, do outro lado da vida". Trata-se de um drama ardente, psicológico, religioso, permeando tabus sociais, tradições, amor, solidão. Os atores agem com naturalidade incrível, retirando toda e qualquer intenção de absurdo sem lógica. A metáfora ou a imaginação de uma mente doentia ou religiosa leva, com muito respeito aos mais complexos sentimentos humanos, quem assiste ao filme a uma tristeza e uma vontade de amar paradoxais sem tamanho. Como a tragédia, a dor e a tristeza podem ser lindas?

Há algo de agudo no homem. Algo que não se explica senão pela experiência "espiritual" da arte, ou pela experiência "espiritual" mística religiosa ou não religiosa. Elas são possíveis, já não duvido. Há algo de agudo no ser humano e por isso tenho fascínio e horror, e não apenas, tenho também a maldade. Talvez menos alimentada, ou cultuada que algumas outras pessoas, mas o ponto do mal em mim. E há também no outro. Há o ponto do mal, um lugar na "alma" onde se encotram o medo, o caos e a salvação. Um lugar fora da razão e do completamente-sensível - um lugar-paixão. Um lugar-anticristo, o buraco da raposa, o bosque do medo. O bosque do medo.
Tentei me cuidar da gripe vendo o anticristo do Lars Von Trier. Eu sabia que não era ideia boa. E não foi. Mas está mais claro esse lugar.
O alívio é que há tb uma clareira, escondida em outro lugar.