Yuri Almeida

Bom... A criança em mim que sempre foi fã do homem aranha e o adulto cínico que eu me tornei deram as mãos pela primeira vez por causa da experiência cinematográfica que este filme me proporcionou!

Bom afirmo sem nenhum medo de errar que este foi o maior acerto da Sony desde homem aranha 2. Mas qual é o segredo deste sucesso? Penso que tenho parte da resposta...

Homem aranha: No Aranhaverso não foi apenas inspirado nos HQ's, ele foi planejado para ser uma versão dos quadrinhos de forma áudio visual! Pode-se perceber isso em várias, se não em todas as escolhas das linguagens cinematográficas, cores vivíssimas por todo lado, psicodelia visual, menos quadros por segundo (Geralmente pra cada segundo de filme temos 24 frames que são como fotos usadas para dar ao nosso cérebro a sensação de movimento. Neste filme propositalmente foram utilizados menos quadros para causar uma movimentação peculiar mais "travadinha" fazendo alusão talvez a forma como lemos os quadrinhos. É meio estranho no inicio, mas muito interessante visualmente e funcional para a narrativa.)

Desta vez acompanhamos como personagem principal Miles Morales que tem a história mais bem desenvolvida e mais tempo de holofote. O personagem cresce na narrativa de forma tão orgânica, que é praticamente impossível você não se identificar com ele! Os conflitos dele são completamente humanos, culpa, vergonha, responsabilidades, necessidade de se provar para os pais e para o mundo, baixa auto estima, dificuldades no relacionamento familiar (aqui temos um ponto interessantíssimo, a história de Miles subverte as convenções pré estabelecidas de que "todo herói deve ser orfão" e gera situações diversificadas a se explorar.), necessidade de se enturmar em um novo colégio de auto padrão monetário e etc.

O filme porém ganha seu destaque na forma como ele consegue equilibrar o drama, humor e comédia em doses perfeitas e ainda acrescentar mais narrativas de outros personagens dando a elas o peso necessário! São inseridos na trama uma versão japonesa de "mulher aranha mirim a lá tokusatsu", uma "Spider Gwen" versão do homem aranha onde ela é picada no lugar do Peter, um homem aranha Noir, um porco aranha e um Peter Benjamin Parker cínico, irônico e já cansado do peso de ser o homem aranha, divorciado do grande amor de sua vida e com alguns quilinhos a mais, o que gera algumas boas piadas.

Cada um desses tem um momento de maior destaque e ornam muito bem com a proposta do filme. O mais interessante nessa variedade de personagens, é que embora tenham personalidades muito distintas cada um deles sente o mesmo com relação a responsabilidade de carregar os poderes de aranha! E tudo isso gera uma ansiedade no público e no protagonista a cerca de como o mesmo irá se tornar um herói à altura dos demais!

O vilão tem uma motivação que é até "OK" e a forma como trabalham alguns vilões secundários deixou um pouco a desejar, mas com tantos elementos no filme isso não se torna um demérito.

Além de tudo o que foi mencionado à cima existe muito mais! Temos cenas de ação de tirar o fôlego, muitas, muitas e muitas referências e piadas com o fato de a Sony ter usado a imagem do Homem aranha várias e várias vezes no cinema, pensamentos dos personagens que aparecem na tela como diálogos em balões para aumentar a sensação de HQ, e telas divididas com esse mesmo fim!

Homem aranha: No Aranhaverso é uma obra de arte popular, atual, muito bem humorada e tocante! Cinco estrelas pra esse filmão!!

O diretor não soube valorizar a crítica que se propôs a fazer e ao mesmo tempo manter o filme interessante. É essa a impressão que eu tive!

O ataque à ganância constante e presente no cenário comercial sob o qual a arte contemporânea se encontra condicionada, se torna evidente nos primeiros minutos do filme.
Podemos visualizar através de extensos e enfadonhos diálogos, o modo como o filme entrega de forma rasa e simples a sua premissa. Parece que por ter percebido isso o roteiro se apoia em uma história de fantasma em contraponto, para manter o público engajado, mas não sabe equilibrar esses elementos da narrativa, tornando-a ironicamente esquecível, sem originalidade, e sem individualidade e principalmente segmentada... Quero dizer sem a fluidez necessária.

O CGI é ok...

As atuações embora não tão niveladas nos fazem comprar bem a maioria dos personagens. Destaque para a fisicalidade de Jake Gyllenhaal (embora não seja nenhuma novidade), Rene Russo é favorecida pelo roteiro, podendo mostrar algumas facetas interessantes, principalmente nos acessos de raiva de sua personagem. As demais atuações são medianas e passam sem deixar impressões fortes na trama, Culpa do roteiro?

A fotografia conta com uma movimentação de câmera um tanto interessante e fluida, cores vivas e grandes planos gerais.
Estes feitos cuidadosamente de forma que eu nunca tinha visto antes, parecem estabelecer propositalmente rimas visuais com a obra "a esfera", que expressa a sedução dos desejos internos e ânsias que escondemos de todos, quando foi escolhida uma lente grande angular que "arredonda" as bordas da imagem causando o efeito "olho de peixe" em tomadas aéreas sobre a cidade. Isso também se expressa na persona de Morf Wandewalt uma vez que o personagem tem de manter uma "aparência" que oferece desconforto ao mesmo.

Velvet Buzzsaw é um filme inconsistente e sem muito ritmo embora possua uma montagem interessante e até um pouco ousada, diz muito precocemente o que tem a oferecer e à partir disso se repete, criando problemas de identidade e de objetivo. Embora muito fragmentada a narrativa tem seus pontos altos.

Nota: 2/5