O filme "O poço" do Netflix é uma grande metáfora pra repensarmos o sistema Capitalista e toda a subjetividade produzida nele, e por ele. Subjetividade no sentido do que se produz no imaginário das pessoas, na forma de lidar com os recursos (e com os discursos) disponíveis para a subsistência geral em detrimento do manejo destes em prol da coletividade. Uma alegoria das relações de poder instituintes.
De uma forma mais simples, numa sociedade estratificada de forma vertical, quem ocupa as posições mais acima dessa cadeia tende a pensar na sua própria subsistência (e "foda-se os demais, quanto mais acima eu estiver"). Vejo nessa crença uma oportunidade de gozo, como se o consumo, agora, resumisse puramente o que é da ordem do desejo humano.
A grande sacada é que os recursos não são escassos. Então todo esse anseio pelo logro, pelo acesso ou pela ascensão social, não se sustenta no real, no objetivo, mas nessa subjetividade que nos faz acreditar que temos que usufruir agora, aqui, para mim, senão alguém vai tirar de mim (essa posição ou esse objeto, que é meu e de mais ninguém). O que me soa como a paranoia Capitalista em essência. A propriedade privada.
Nesse jogo canibal, os recursos ficam escassos lá em cima dessa cadeia, não chegando abaixo, nos mais necessitados (não por não serem suficientes). Qualquer semelhança com o contexto atual do mundo não é mera coincidência, onde falar sobre dividir, sobre senso de coletividade e sobre amar o outro, o diferente, soa pejorativo... O fantasma do comunismo.
Enfim, a forma como foi elaborada a metáfora do filme beira a genialidade, por nos fazer alcançar um sentimento no qual ainda não conseguimos explicar com palavras, mas que todo mundo sente que ocorre, na nossa frente, todo dia. E que essa forma de vida está a beira de um colapso.
Tão difíceis são as palavras, que nem ao menos sei se consigo passar o conhecimento que alcancei vendo essa obra, tamanha a complexidade da trama entre ficção e realidade.
Prefiro não dar spoiler e deixar vocês deleitarem e, quiçá, virem aqui conversar sobre depois, aí gente ganha mais, no coletivo, risos.
Edit 1: Como é difícil escrever sobre sem dar spoiler kkk
Achei meu filme preferido. Que história fantástica! Um filme sublime que te causa uma mistura de emoções e ao mesmo tempo traz uma série de críticas, de conhecimentos. Além é claro de contar uma bela história de amor, totalmente atípica. Identifiquei-me muito com esse filme, pois ele condiz com muito do que acredito e do que tenho buscado viver. Tenho visto os filmes no momento certo da minha vida, e esse foi mais um deles. Tocou-me fortemente e vai me motivar a continuar com meus propósitos.
Posso dizer aquele clichêzão: Por que demorei tanto pra ver esse filme? Foda pra caralho! Consegue trabalhar uma série de questões que certamente estão no cotidiano de todo mundo. E mais importante: "O Foda-se", nada é mais libertador do que ele, rs. "Hoje é o primeiro dia do resto das nossas vidas". Dá vontade de escrever melhor sobre as questões psicológicas do filme, mas hoje eu vou me conter e ficar por aqui.... rs
Não sei se vocês perceberam, mas rolou um ciclo de 'faltas' que foram supridas. Mais especificamente, dela, do amigo e do namorado. Faltas diferentes, mas com um mesmo fim em si. Bom, Isso eu vou deixar pra vocês pensarem... rs Bom filme! Acho que a genialidade dele está subscrita nessa tríade de forma bem sucinta, digam-me o que pensam sobre isso... rs
Não to aqui pra fazer crítica nenhuma. Tô aqui só pra bater palma pra essa obra-prima do cinema. Um sorriso, algumas lágrimas e um suspiro é tudo que resta ao final desse filme. Talvez seja tudo o que a gente precise mesmo, nada mais. Um dia eu reflito melhor, hoje só quero manter esse sentimento que ele me causou e dormir feliz.
Uma sátira para quem tem tesão na abstração. Ela exige que o espectador atente para as entrelinhas dos discursos e cenas estúpidas o tempo inteiro, sempre buscando sentido em correlações com situações da vida real. É ver a mágica do real no absurdo. Quando você saca a mensagem que se quis passar, você percebe também a genialidade das críticas sociais inseridas de maneira sutil no roteiro.
Posso falar que foi a melhor e mais louca abordagem que já vi em relação a monogamia. Vemos de uma forma totalmente inimaginável, como os relacionamentos humanos são sustentados a base de mentiras, de falsidades, e sobretudo de hipocrisias. Por exemplo, o fato de temos de ‘ser o que não somos’ para alguém nos aceitar e não nos tornarmos indivíduos solitários, amargos. Ou seja, Uma sociedade que vive de máscaras.
O tapa na cara do filme é mostrar que o amor é aceitar, incondicionalmente, o outro como ele é. Não necessariamente tendo coisas em comum, mas sim construindo modos de conviver a partir das próprias diferenças entre as pessoas. (Nem que seja aderindo a elas, como no polêmico final do filme, rs se é que me entendem...)
De fato, a cultura dos relacionamentos é algo forçado por regras que não condizem com a natureza humana. A sociedade não quer saber como a gente se sente. Somos orientados sempre por obrigações que vem de alguém de fora, e com isso acabamos esquecendo o que vem de dentro de nós.
Acredito que o que sentimos quando estamos diante de outra pessoa é o que deveria guiar os relacionamentos humanos. Estaremos juntos se quisermos e se gostarmos da companhia, e não por pressão externa ou medo da solidão. Esta também é uma opção... ótima por sinal! Trazendo a liberdade para os que não aderem a claustrofobia monogâmica.
Deixando a filosofia de lado e voltando ao filme. O normal seria as pessoas acharem o filme chato, pois ele não é constante, tem variações que deixam o filme por vezes monótono e cansativo. Parece ter 5 horas de filme de tantas situações diferentes que o protagonista passa, ainda que as cenas não sejam muito corridas. O filme transcorre lentamente e denso em menos de duas horinhas de bizarrice.
No final das contas, pra mim foi um filmaço, extremamente inteligente, inovador, criativo, com uma proposta totalmente diferenciada de tudo o que se tem visto atualmente no cinema. Ainda que tenham alguns deslizes na produção, merece 4 estrelinhas, facilmente, rs.
Fiquei com um nó na garganta com esse final. Talvez o único jeito de desatá-lo seria vendo a reação de uma pessoa moralista, preconceituosa, e/ou homofóbica assistindo a esse filme. Queria que essa pessoa me dissesse o que entendeu sobre as injustiças que a sociedade comete em prol de nada, só pra ver se ela consegue enxergar, diante dos fatos ocorridos, que no final de tudo ninguém sai ganhando.
Não há justiça, o cara até pode tentar fazer o bem sendo advogado, tendo o conhecimento da lei. Porém o Direito foi criado justamente para manter o status quo. Uma moralidade banal de uma sociedade fracassada no que tange à vida em coletividade. Somos ensinados desde cedo a valorizar comportamentos sem valor, a exercer o poder sobre o outro, a excluí-lo para termos nosso espaço, consequentemente gerando apenas opressão, desigualdade social e angústia.
A lei é não aceitar as diferenças, é impor um padrão de vida que não condiz com a nossa essência humana. Há uma idéia de normal que sucumbe as tentativas do sujeito diferente de apenas viver a sua vida da forma como deseja. É proibido viver como se quer ou gostaria, somos obrigados a viver o que está no papel, na moral cristã, e no senso comum, por conta de pessoas acomodadas em viver dessa forma desgastante.
Ainda acredito que nossa espécia ainda chegará num momento em que verá o fato de que: todas as regras que as pessoas seguem sem criticar, em nada melhoram suas vivências, apenas restringem o nível da experiência. Dessa forma, terão obrigatoriamente que repensar o sistema, reconhecer que fracassamos e estamos infelizes com a forma que somos levados a existir. Queremos viver, não queremos apenas existir, e acredito que não há como fazer isso sem aceitar o outro de qualquer forma, sem precedentes, deixá-lo viver seus impulsos desejantes sem reprimí-los. Acho que essa é a grande sacada que estará por vir nas próximas gerações.
No mais, ótimo filme, que me causou tantas reflexões que nem caberiam aqui, rs.
Clichêzinho americano um pouco mais bem bolado que os outros. Não me surpreendeu em nada. Tem um fodão que adivinha tudo o que estão tramando e mata todo mundo, nada que seja inédito no cinema. De bom mesmo, só a trilha sonora.
Sensacional! Muito surpreendente a naturalidade dos personagens, cada um com uma personalidade diferente e ao mesmo tempo maleável de acordo com as situações. Retrata com maestria o cotidiano familiar da vida real, envolto em brigas, discordâncias, desespero, desesperança, afagos, afetos e companheirismo em momentos delicados.
Mas a cereja do bolo é toda a crítica entorno da cultura da padronização. Muito interessante a forma como a trama se desenvolve e os insights vão acontecendo. Vemos uma legião de pessoas que são treinadas desde cedo para não serem quem realmente são, negando a si em prol de uma desmedida busca por uma dita "vitória" que nada tem a ver com a nossa essência humana. Perceber isso é a chave.
A lição que esse filme passa é justamente a de que é essencial encontrarmos o nosso próprio caminho de acordo com as coisas que amamos fazer, nossas peculiaridades e potencialidades, independente de qualquer influência e de quaisquer julgamentos de valor externos que existam acerca das nossas próprias escolhas e ações. Vemos muito isso na criação que a mãe dá para a menina (em detrimento da maioria das atitudes do pai).
A grande vitória é aceitarmos como somos, para aceitarmos o outro como ele é. E não essa vitória meritocrática que aprendemos na televisão e que só nos faz afastar do outro, sendo necessário passar por cima das pessoas para conseguir algo, extinguindo qualquer possibilidade do desenvolvimento de uma afetuosidade entre elas.
Um filme obrigatório para todas as pessoas desse planeta, que talvez ainda precisem daquele empurrãozinho para terem a coragem de dizer o "foda-se" que as libertará.
Esse é aquele filme que quer mostrar uma coisa, a gente sabe o que é, e nunca conseguimos colocar em palavras, tamanha a complexidade dessa questão. Ele inverte os valores, coloca em xeque os padrões do homem ocidental, que se desvincula da natureza, apenas utilizando os recursos naturais para produzir coisas que não condizem com a própria essência humana.
Além disso, diz algo complexo sobre o homem ocidental que Freud chamou de formação reativa, que pode ser resumido como um mecanismo de 'julgar o outro do que você mesmo faz', no intuito talvez de se eximir de uma culpa que recairia em si mesmo ao praticar atos vistos como imorais pela sociedade. Ou seja, o homem ocidental chama o índio de "canibal selvagem" e usa isso como motivo para dizimar as populações indígenas (apenas por serem diferentes) e catequizar/escravizar os restantes para agirem de acordo com os seus interesses e costumes.
A partir daí, quem seria o canibal selvagem na verdade? Só que o homem ocidental reconhece no outro algo que diz respeito somente a si mesmo. O filme pega bastante nisso quando o indio diz que o homem branco nunca entenderá certas coisas, por que talvez ele mesmo tenha se cegado, utilizado o conhecimento para o mal, e perdendo o contato com a natureza que nascemos para desfrutar sem maiores pretensões.
Um filme denso, dá pra tirar bastante coisa para debate que estão ímplicitas nos diálogos. Vale a pena refletir diversas vezes sobre esse filme, tentando sempre trazer pra nossa realidade, tecendo redes de sentido com tudo o que vemos acontecer em nosso cotidiano, o que perdemos adotando esse estilo de vida, e talvez cogitar a possibilidade de regredir a um tipo de vida primitivo, porém muito mais verdadeiro.
Nossa, essa última cena me deixou arrepiado até os cabelos que não tenho nas unhas dos pés! haha. Esse filme está longe de ser uma aventura muito louca de duas amigas, é uma bela crítica aos relacionamentos abusivos, à misogenia, e as repercussões que atitudes machistas podem desencadear na vida das mulheres. Usando o termo que ela mesma usou, vai se formando uma "bola de neve", mas sempre há uma saída. Gostaria que todo homem visse esse filme e refletisse sobre nossa responsabilidade nisso tudo... libertador! Favoritei! <3
Uma certeza: Pasolini nunca mais! kkkk Aquele tipo de filme pra ver uma vez na vida. Não sei nem o que comentar, tô muito chocado pra isso. Sei lá, acho que ele se perde no roteiro pra focar nas bizarrices. Se ele queria causar, conseguiu causar, apenas.
Muito interessante a forma como o cotidiano é abordado. Acredito que qualquer pessoa que ver esse filme vai se identificar com as situações, e rir bastante com um humor, digamos, diferente... suave...
Para além disso, o maior mérito foi conseguir transformar em metáfora coisas concretas, como a caminhonete, que se fosse num filme qualquer, teria apenas deixado a marca da exaltação do consumismo pregado pela cultura americana. Porém não é o que acontece, pois, a caminhonete quer dizer muito mais do que um mero produto e a carta quer dizer muito mais do que um prêmio, a primeira trazendo a tona o que se refere ao "desejo de reconhecimento" perante as pessoas de sua cidade, e a segunda marcando um grande afeto que ele guardava pela sua familia e nunca o havia demonstrado.
O filme nos mostra de uma maneira bastante sutil como criamos uma "carcaça" para lidar com a realidade. Talvez naquela época fosse muito mais complicado demonstrar o que se sente (até por ele ser um velho carrancudo do exército), mas mesmo assim o sentimento está lá, pouco explorado, mas poderoso. Não só por ele, mas todos em algum momento deixam de ser carrancudos para demonstrarem algum afeto.
Um filme muito bonito e com uma série de boas mensagens, vale muito a pena ver!
Que filme aleatório, ganhou o prêmio de diálogo mais longo desde "12 homens e uma sentença", a diferença é que não se chega a lugar nenhum kkkkk
Em compensação, as atuações são sensacionais e irreverentes! Christoph Waltz é muuuuito fooooda.... A evolução do drama me lembrou muito de Relatos Selvagens quando mostra "a linha tênue que separa a humanidade da barbárie" rs
Acho que todo mundo é baba-ovo do Tarantino. Acho também que os filmes dele (tirando bastardos inglórios) não tem conteúdo, não dá pra extrair uma mensagem nem sequer fazer alguma associação com nosso cotidiano, é apenas um misto de bizarrice e psicopatia que não me agrada muito, masss ne!? sempre há quem goste... (também de diálogos longos e monótonos) rs
Por outro lado, um aspecto relevante é a excentricidade dos personagens. Cada um traz consigo uma peculiaridade que acaba fugindo bastante dos "clichês hollywodeanos", botando um selo que você percebe que é do Tarantino (também perceptível nos movimentos da câmera no decorrer do filme, o que também é legal). Esse sim é o lado bom dele, tosco mas original, rs.
Um filme que me tocou fortemente.Eu teria que estender muito para poder fazer uma análise desse filme, por que cada uma das histórias narradas são atravessadas por inúmeras questões, que remetem a outras, e acabam, ao meu ver, terminando no mesmo lugar, muito bem colocado pela frase:
"Os pecados dos pais, recaíram sobre os filhos"
No final das contas, é isso que atravessa a todos. Vivemos carregando fardos que não são os nossos e que acabam nos impedindo de explorar a nossa potência de vida, de criação, de amar... No final das contas, só queríamos poder ter sido nós mesmos, viver sem nos arrepender no fim, mas todos fomos crianças e adultos castigados pela sociedade, e que acabam encontrando os seus próprios meios de aguentar o fardo que acaba se tornando a vida.
No meio de tantos conflitos psicológicos, é interessante percebermos os personagens do policial e do enfermeiro. Que são aqueles que exercem a empatia, que fazem o bem sem querer nada em troca. Eu bato nessa tecla todo dia, e tenho certeza que esse filme também quis deixar isso nas entrelinhas, ou seja, no meio de tanta merda que acontece nas nossas vidas, a melhor forma de viver é fazendo o bem, não importando a quem, e não querendo nada em troca. São os raros e pequenos anjinhos que acabam tornando o mundo melhor com pequenas atitudes, imperceptíveis aos olhos da triste maioria.
Um filme pra rever várias vezes, uma lição de vida a ser extraída de cada passagem.
O documentário sobre a vida e a morte de Amy Winehouse diz muito sobre “a quantas anda” a humanidade. Em várias passagens fica visível todo o processo de tortura a qual ela foi submetida por ser dissidente. Mudam os personagens, porém não mudam as atitudes. Talvez Amy tenha carregado, sem saber, um fardo parecido com o de seus antepassados.
Voltando um pouco, Amy Winehouse era uma mulher que impressionava a sociedade pela sua audácia e pela sua perspicácia musical. Ao mesmo tempo, encantava os próximos a ela com seu jeito doce e espontâneo. Era uma menina de família judia desestruturada, o que pode vir a ter lhe causado certa rebeldia. No entanto, a única pessoa na qual ela se balizava era a avó, justamente quem percebeu e investiu no dom musical de Amy, colocando-a em escolas de música desde muito jovem. Mal poderia saber das repercussões dessa atitude.
Amy se tornou uma estrela, e pouco a pouco, foram acontecendo uma série de coisas as quais gostaria de retomar, a fim de retirar o olhar de Amy, e arremessá-lo para onde ele realmente deveria estar. Digo isso por que a história dela é permeada de culpabilização, tanto pelo uso recorrente de drogas como pela sua forma de levar a vida, já que ela era totalmente fora do padrão. Mas me arrisco a dizer que, quem matou Amy Winehouse não foi ela própria, mas sim essas pessoas e instituições ao redor de seu nome, somente interessados em poder, dinheiro e fama.
Vejo muita semelhança da vida dela com a de seus antepassados judeus, ainda que sejam situações totalmente diferentes. Ela foi perseguida, privada de liberdade, torturada psicologicamente, abandonada pelas pessoas que amava, criticada pela maioria, obrigada a fazer o que não queria, teve seus bens praticamente tomados e administrados por outros. Enfim, uma infinidade de males que assolaram tanto a ela como a milhares de judeus, por conta de uma sociedade extremamente cruel.
Falando em termos de Deleuze, Amy traçava linhas de fuga constantemente para fugir das linhas duras que lhe eram impostas. Ela estava interessada apenas em ser nômade, em poder andar pelas ruas sem destino, fazendo o que amava (que era a música) sem ter que dar satisfações a ninguém. A música foi a primeira forma que ela encontrou de escapar da dura realidade de uma infância catastrófica, onde ela conseguia escoar a sua energia nesse encontro com o inesperado, com a sua potência criadora e com o seu dom. Isso instigava um estado de alegria que a colocava em movimento e a desprendia das amarras do passado.
No entanto, com o passar do tempo e com o endurecimento das cobranças de toda uma sociedade em cima dela, foi obrigada a encontrar novos meios de escapar, pois a música já não bastava. As pessoas conseguiram fazer da música que ela tanto amava, uma forma de aprisionamento. Com isso, o seu estado de potência abaixa, fica depressiva, sem movimento, sua criatividade não flui, os encontros já não são mais produtivos como antes. Então Amy encontrou nas drogas o seu refúgio, uma nova forma de fuga, quando na verdade ela só queria poder ser ela mesma, ir aonde ela quiser, fazer o que ela gosta, estar com quem ela ama.
De fato, Amy nunca teve um território para um crescimento saudável, ou seja, cresceu totalmente desterritorializada. Talvez o único momento em que ela encontrou um território fértil foi no relacionamento com o Blake, o que acabou a levando a um amor desmedido, “achei o meu lugar nos braços deste homem, como nunca tive”. Então, no momento em que ele a deixa, e que ela volta a se desterritorializar (provocado também pela morte da avó) é que começam a fluir as suas canções, as palavras de uma vida que não tem mais sentido, amor.
O sucesso vem como um caminhão que atropela um leproso. A partir dali ela já estava fadada ao fim, e tudo a leva a isso. Chegou ao topo do mundo talvez, por que muitas pessoas se identifiquem com as letras dela. Ou seja, vivem vidas sem sentido e legitimam o fato de que a própria sociedade destrói a vida das pessoas e as torna depressivas. Essas pessoas acabam achando na música, nas drogas, ou em qualquer atividade que lhes dê prazer, uma válvula de escape, uma linha de fuga, ou seja, não existe uma só Amy.
A sociedade matou Amy, O capitalismo matou Amy, como matará todos nós de angústia, por que nossa essência não é levar esse estilo de vida materialista. O que nos torna realmente felizes é poder andar por ai livremente, fazer o que gostamos e estar com quem amamos. Talvez os antepassados da Amy também só quisessem ter essa oportunidade, que Amy também não teve, e que todo o sistema não nos deixa ter, tudo pelo domínio de “alguns”.
Essa sociedade já não basta, nem pra mim, nem pra Amy, nem pra qualquer dissidente. Não é só a Amy que está sendo judiada, há um pouco de Amy dentro de todos nós.
Nossa, nunca vi comentários tão fake cult iguais os desse filme hahaha, vejo todo mundo querendo pagar de hype cinéfilo e na hora de explicar o filme não fala nada com porra nenhuma, recheando de palavras bonitas pra leigo cair na lorota.
Queria mesmo conversar com alguém que pegou a porra do filme pra analisar de verdade, e não pra ficar de 'mimimi sou foda'. Tem muita coisa intrínseca, escondida...
Se fosse pra definir Bergman com uma palavra, eu diria "Sugestivo". Ele tem uma habilidade genial de deixar você pensando em várias cenas "que porra é essa que está acontecendo agora?", só que a genialidade disso não para por ai, a genialidade começa a brotar no momento em que você se vê forçado a associar uma série de cenas de momentos diferentes do filme pra tentar montar um quebra-cabeça, que pode ser milhões de coisas.
Na minha percepção, a melhor forma de ver esse filme seria logo depois de assistir "A ilha do medo", vi uma relação muito grande entre os dois enredos. Digo isso pois percebi uma 'inversão de papéis' com certa intencionalidade terapêutica, e não um mero enlace de duas vivências. Primeiro porque pareciam, para mim, haver duas opções: uma seria a de que a paciente era apenas imaginária, mas se caísse para esse lado, o filme teria um viés extremamente subjetivo e com pouco sentido.
Comecei a mudar o meu pensamento depois da leitura da carta, quando percebi a inversão de papéis, como em a ilha do medo, em que esta é realizada propositalmente, com fins terapêuticos, colocando a verdadeira paciente (Alma) no lugar de um profissional (a enfermeira), atendendo alguem que na verdade, está lhe analisando (a paciente Srta Volger, que diz isso na carta que manda para a médica, que no caso, atende a enfermeira, e não ela).
Não sei se fui claro, por que realmente é bastante complexo. Muita coisa se encaixa, por exemplo, a negação da histeria no inicio do filme nada mais é do que uma conduta terapêutica a fim de tornar todo esse teatro uma vivência possivel na busca da produção de um insight na enfermeira (que aconteceu, mostrando uma junção da face das duas e as falas subsequentes). Se tivesse tocado no assunto da histeria, talvez todo o procedimento iria por agua abaixo na busca da produção de tal insight.
Resumindo, ela precisou de alguém de fora, fazendo o papel dela própria (até por ser atriz, o procedimento adotado pode ter tido associação a tal fato), a fim de que esta pudesse perceber, através da própria fala, os próprios conflitos desencadeados nela por uma série de eventos traumáticos que são trazidos a tona no filme, que aconteceram em seu passado. (a paciente Srta Volger não fala de propósito, para deixar a enfermeira histérica Alma falar e associar livremente o conteúdo latente da sua psique. ela o analisa e envia as informaçoes para a psiquiatra)
Poderia buscar muitas outras coisas que dá pra juntar e construir sentido, demoraria séculos escrevendo aqui, mas isso ai que falei acredito que seja o essencial, a sacada de genio do filme, que quem nao percebeu ou fingiu que entendeu o flme, ou entao teve alguma outra interpretação cabivel e complexa (o que nao vi nos comentarios aqui, hehehe). Pra entender melhor o que eu digo, assista "A ilha do medo" vale a pena.
Imagine que o filme The Matrix é um oceano e as mensagens que ele quer passar são os peixes. E você, meu caro... nessa brincadeira, você é o pescador, mas não um pescador qualquer, mas sim um pescador com a meta de pescar todos os peixes que existem ali. Por que digo isso? Prepare o kit pesca que nosso barquinho vai trabalhar hoje.
Primeiro, tenho que deixar claro que fugirei totalmente de comentar coisas supérfluas de um filme tão incrível como Matrix, como o famoso “bullet time” (cena clássica em que Neo desvia dos tiros) ou os “paranauês de kung-fu” (pra agradar a galera pop). Não, definitivamente, não. Estarei aqui tentando limpar as entranhas de todos os peixes que pescarmos. Ou seja, primazia pelo olhar subjetivo e complexo do filme, que é o que realmente nos interessa, não é?
Logo no início do filme já temos uma cena bastante interessante (o primeiro peixe), em que Neo abre a porta para um cliente com a namorada “do coelho branco tatuado”, e pergunta ao cliente: “Você já se sentiu como se não soubesse se está acordado ou se está sonhando? E o cliente responde: “O tempo todo. Chama-se mescalina”. Nesse diálogo há uma referência ao uso de entorpecentes como forma de fugir da realidade, como muita gente faz para se afastar, ainda que por pouco tempo, da Matrix. Entenderemos isso melhor quando falarmos do conceito de Matrix e da percepção entre mundo real e abstrato que é abordada no filme.
O que é a Matrix? Como o Morpheus disse, não há como prosseguir sem responder essa pergunta, e caso tenhamos a resposta, temos que nos perguntar novamente, o que é a Matrix? A Matrix, partindo da filosofia de Michel Foucault, seria a Sociedade Disciplinar, ou seja, nas palavras de Morpheus, vivemos numa prisão, numa sociedade que nos torna escravos dela e aprisiona a nossa mente, impondo regras e um determinado modo de viver.
Mais um conceito foucaultiano que serviria para a Matrix seria o de panóptico, que é como se fosse uma torre que pode ver a todos, vigiando e punindo comportamentos que infrinjam as regras, sendo assim, nós respiramos essa relação de poder o tempo inteiro, sem criticá-la ou buscar saídas. (Pensei também no fato de os agentes terem a habilidade de entrar e se utilizar do corpo de qualquer pessoa que seja um “escravo da Matrix”, o que me remete a uma certa legitimação que há das atividades cruéis da polícia na nossa sociedade, ou seja, as pessoas são cúmplices dessas ações e permitem que o sistema se utilize delas para isso.
Na cena em que Neo fala com a Trinity no bar, fica claro que, assim como na nossa sociedade, você só começa a entender o sistema quando você o questiona, e isso que Neo estava começando a fazer, ou seja, indo de frente ao sistema. Isso fica claro quando o chefe ameaça demití-lo, por ele já estar dando indícios de que não está mais aceitando as regras que a sociedade impõe. “Infelizmente, é impossível dizer o que é a Matrix, você tem que ver por si mesmo”. Genial! Isso que ele começou a fazer.
Também fica clara essa tendência do Neo, quando ele tem que escolher entre a pílula azul (Que o deixaria vivendo normalmente de acordo com o que o sistema estipula) ou a pílula vermelha (Que o fará descobrir o porquê de o sistema ser do jeito que é. Eu comparo esse fato com o conhecimento, que é a única maneira possível de se libertar das amarras da Matrix). Antes disso, o agente (são como a polícia, um mecanismo opressor do sistema) que o captura, diz que ele leva uma vida dupla, uma na empresa na qual trabalha e a outra como hacker, ou seja, o meio que ele encontrou para ir contra o sistema foi esse, pelos computadores, mostrando a tendência a escolher a pílula vermelha.
A cena em que, num sonho do Neo, o agente fala “De que adianta você querer um telefonema se você não pode falar” e a boca do Neo fecha sobre a própria pele, faz uma clara menção à passividade requerida para se sobreviver no sistema capitalista, nesse momento, colocando uma escuta no umbigo dele contra a própria vontade do Neo. Um bom exemplo para isso seria as manifestações que ocorreram no centro do Rio de Janeiro, em que percebe-se que o direito do livre arbítrio é irrelevante perante o sistema, por que o próprio sistema o cala e impõe os próprios interesses acima do de qualquer um.
A percepção de mundo real e mundo abstrato é outro aspecto bastante interessante do filme, Morpheus pergunta “O que é real pra você? É o que você cheira, sente, toca? Então o real são apenas sinais elétricos do cérebro? E deixa a reflexão para nós. Em outro momento, percebe-se que viver fora da Matrix era uma utopia, e após tomar a pílula vermelha (que eu fiz uma alusão ao conhecimento) o mundo real se torna o mundo fora da Matrix! E não é mais uma utopia, pois a realidade que estava escondida aos nossos olhos torna-se visível (como na frase de Antoine de Saint-Exupéry, “o essencial é invisível aos olhos”).
Isso me faz lembrar a alegoria da caverna de Platão, pois trata-se da exemplificação de como podemos nos libertar da condição de escuridão que nos aprisiona através da luz da verdade (não uma verdade absoluta, mas verdade no sentido de sabedoria), onde Platão discute sobre teoria do conhecimento, linguagem e educação na formação do Estado ideal. Sendo assim, os homens que vivem na Matrix são acorrentados a falsas crenças, preconceitos, ideias enganosas e, por isso tudo, inertes em suas poucas possibilidades. ”A maioria das pessoas não está pronta para acordar, eles são tão dependentes do sistema que vão lutar para protege-lo”, “Eu só quero libertar sua mente Neo, mas eu só posso te mostrar a porta, você vai ter que atravessá-la” Morpheus.
Outro aspecto muito legal do filme é quando mostra aonde nos levará a pulsão de morte do ser humano, o Tanatos, certo prazer pela destruição, exatamente como estamos fazendo com o nosso planeta, sem nos preocupar com a sustentabilidade dos recursos naturais, que obviamente, acabarão. Muito por conta desse sistema, dessa Matrix, que só instiga a destruição dos ecossistemas. Posteriormente, o agente Smith faz uma comparação muito boa, de humanos com vírus, pois os dois se propagam, destroem tudo o que veem pela frente, e depois acham outro hospedeiro para destruir também.
Logo entra a ficção científica em mais uma bela sacada do filme, quando diz que os homens estavam comemorando a criação da Inteligência Artificial no século XXI, porém, algum tempo depois foi iniciada uma guerra, na qual as máquinas venceram e passaram a cultivar os corpos dos seres humanos como fonte de energia... Que ironia do destino, não é? Haha, mas óbvio que foi apenas uma pequena beliscada para a sociedade acordar, pois essa pode ser uma possibilidade futura para nossa raça, por que não? Resumindo, a grande ironia é o ser humano passar a ser o próprio recurso que ele explorou por tantos anos, sem nem se preocupar com a sua extinção... Legal, não?
“A ignorância é uma benção”. Como diz o traidor Cypher, é mais fácil se render ao sistema, viver num mundo de ilusões. É muito melhor ser enganado, ser escravo, e poder ter dinheiro, ser reconhecido socialmente, eram essas as coisas que passavam na cabeça de Cypher quando decidiu entregar Morpheus para os agentes. Ele também se perguntou, será que essa liberdade que conquistamos vale a pena? Exemplo, no mundo dominado pela Matrix ele comeria uma carne suculenta e na liberdade, eles comiam uma ração proteica, só pra exemplificar os certos tipos de prazeres que são diferentes nas duas perspectivas, mas há muito mais dessas diferenças.
A metáfora da colher acontece quando o menino entorta uma colher apenas com o olhar, e diz pro Neo que “a colher não existe”, que na verdade quem entorta é ele mesmo. O que o menino quis dizer com isso? Quis dizer que entre as transformações do mundo e as nossas vontades, está a nossa ação. Então quem entorta a colher é exatamente ela, a nossa ação, isso traz a tona a perspectiva de que somos sujeitos agentes e que estamos a todo o momento modificando as realidades, ou seja, nós a entortamos as colheres, não existe colher, existe a nossa ação que modifica os espaços. Tanto que no final do filme, quando ele vai salvar o Morpheus, ele diz a frase no elevador “A colher não existe”, ou seja, chegou a hora de realizar as ações que a Oráculo havia mencionado.
A questão de Neo ser o escolhido, é talvez um dos peixes mais difíceis de pescar, porém, não é um peixe muito grande, mas um peixe arisco. A Oráculo revelou para o Neo que ele não é o escolhido, e isso muda tudo, por que você pode perceber que as pessoas queriam instigar algo nele (o dom que ele tinha), mas que qualquer um poderia ser o escolhido. “Conhece a ti mesmo” é a frase que a Oráculo lê para Neo, ou seja, a partir do momento que você se conhece, e que você acredita que é capaz, você será capaz, você será o escolhido, por que você mesmo se escolheu. É como estar apaixonado, você apenas sabe que está, ninguém pode dizer isso por você. Lindo não? (talvez com o empurrãozinho de alguém como o Morpheu, que disse que ele era capaz e que apenas mostraria a porta para ele, ele mesmo teria que atravessar a porta. Funcionou como um Psicólogo que despertou uma potencialidade do Neo apenas por acreditar nele). A grosso modo, ele não é o escolhido, ele se torna o escolhido, quando ele atinge um nível alto de acreditar nos propósitos dele, nada mais o abala.
Voltando um pouco no filme, Neo é como se fosse o messias contemporâneo (no sentido de ser alguém que pode vir para nos salvar dessa merda toda), um homem cansado do mundo a sua volta, antissociável, fugitivo dos padrões da sociedade, começa a ter o sentimento de se libertar da Matrix. Ele só se torna o escolhido depois de enfrentar os próprios medos e afirmar os seus propósitos e ir lá resgatar Morpheus.
Uma curiosidade é que Morfeu, da mitologia grega, é o deus dos sonhos, o termo significa “moldador de sonhos”, que é exatamente o que ele faz com o Neo, molda o sonho dele e investe todas as fichas no potencial do rapaz, até ele superar tudo em prol de sua liberdade da Matrix. O interessante é que, através do sonho, da utopia da liberdade, Morpheus faz ser possível enxergar que a realidade (do mundo real) se torna falsa e o sonho acaba se tornando a própria realidade, deixando de ser utopia. Outro fator interessante, é que no “mundo real”, Morpheus era visto como um bandido, no mundo ilusório, tinha até um visual de acordo (jeitão de mau), e no “mundo da liberdade” ele se revela como uma figura paternal, de bom coração (até as roupas mudam, por que na nova matriz eles são a própria aparência que imaginam ser, ou seja, ele se imagina sendo essa figura paternal), mostrando que o mundo da liberdade que é na verdade o mundo real, acaba mostrando o melhor lado das pessoas.
Outra curiosidade que percebi, é que o nome da nave que eles vivem no futuro, no mundo da liberdade, era Nabucodonosor, que era o rei da Babilônia. A etimologia de Babilônia deriva do termo grego Babylon, que significa "Porta de Deus". (a porta que Morpheus falava que mostraria a Neo, mas era Neo que tinha que passar por ela, lembra?). Ou seja, era uma terra como Zion, um lugar cujo “atravessar da porta” almejava a liberdade. Zion representa isso, luta por liberdade, uma frase de Michel Foucault cairia bem nesse momento é “Onde há poder, há resistência”, ou seja, sempre há a opção de construir um lugar melhor de se viver.
Terminando o filme ao som de Wake Up do Rage Against The Machine eu arrepiei, e ainda mais com essas palavras finais contra o Sistema Capitalista, contra o Matrix:
“Sei que você está aí, eu sinto você agora, sei que está com medo, está com medo de nós, está com medo das mudanças. Eu não conheço o futuro, eu não vim aqui te dizer como isso vai acabar, eu vim aqui te dizer como vai começar. Vou desligar este telefone, e vou mostrar a essas pessoas o que não quer que elas vejam, vou mostrar a elas um mundo, sem você. Um mundo sem regras e controle, sem limites e fronteiras, um mundo onde tudo é possível. Para onde vamos daqui, é uma escolha que eu deixo para você...”
Certamente um filme que abusou da genialidade em sua construção. Um marco (aurelio) na historia do cinema e da ficção cientifica iusheiau. E aí, voltaram com a rede cheia de peixes? Vai rolar uma peixada hoje? Haha :P
Um filme de 1957, mas que mostra ser extremamente atual. Fico me perguntando o porquê de as pessoas terem essa necessidade de manterem as suas posições a qualquer custo, sem ao menos refletirem sobre. É tão necessário sempre estar certo? Por que estes se sentem tão melhores do que os outros? Será uma questão neurótica?
Existem milhares de pessoas que são assim, e sabemos bem quem são, pois esbarramos com elas todos os dias. O que nos resta? Sentir pena ou convencê-los de que existem outros pontos de vista a serem considerados nas questões? Pode parecer uma utopia minha, mas eu acredito que vai chegar um dia em que as pessoas irão se ouvir mais.
O difícil neste momento, é sintetizar todas as questões que passaram na minha cabeça nesse filme. Complexamente Genial! Vou tentar explicitar algumas:
Assim como o fator tempo foi colocado no filme, eu colocarei nessa crítica. Ou seja, começar trazendo as idéias passadas no final e tentando articular com todo o resto.
O momento chave do filme para mim, foi quando ele explica a questão do por que 'não ser ninguém'. Pois não há como uma pessoa desenvolver o seu ego naturalmente tendo que lidar com questões impossíveis de serem decididas, ainda mais quando somos crianças e essas escolhas são relacionadas aos nossos pais. Ás vezes o melhor caminho é ficar inerte, e não tomar decisão alguma, justamente por essa ser impossível de ser tomada, a 'enrascada' no xadrez.
Quanto ao amor, num momento do filme, eu pensei que a mensagem que se queria passar era a de que, muitas vezes, nós não conseguimos ficar junto da pessoa que nós realmente amamos, e acabamos construindo uma vida 'com o primeiro que aparecer na frente', mas algumas cenas passaram, e eu pensei outras coisas. Como que, vale a pena insistir no amor, e nossas vidas não fazem sentido algum sem esse sentimento.
Nessa mistura de amor/afeto e desenvolvimento da personalidade que acontece no filme, uma palavra que pode resumir esse filme é: ESCOLHA. A questão do efeito borboleta é retomada com certa frequência no filme, de forma bastante sutil. Cada atitude, cada batida de asa da borboleta, cada sopro do vento, cada ESCOLHA feita pode mudar todo o rumo da história de nossas vidas. Algo que acontece aqui, pode mudar tanto a nossa vida como a de alguém muito distante de você, ainda que nós não percebamos isso no cotidiano.
A complexidade mora aqui: Mesmo que tenhamos essas escolhas, e elas tudo modificam, a todo momento... existem coisas que não somos capazes de escolher, e que moldam a nossa personalidade, o nosso jeito de levar a vida, e talvez, de se entediar com a vida... (Ex: O filme não abordou a vida da Elise, mas certamente ela teve questões na vida dela que a tornaram uma histérica clássica. Ela não entende o motivo de estar enlouquecendo, certamente por alguma escolha que foi incapaz de fazer no passado, por "N" motivos...)
O que fazer então? Se além dos caminhos a seguir, existe a opção de ficar parado? Essa charada eu deixo pra vocês, rs (Por que essa é a intenção do filme, rs reflitam)
Não me lembro de ter visto um filme brasileiro tão bom quanto esse.
Destaque para a atuação impecável do Rodrigo Santoro e do maluquinho que fica o acordando, que não sei o nome.
Um filme que retrata muito bem questões que estão em voga no cotidiano de muitas famílias brasileiras. Nele nós podemos ver o que uma criação extremamente moralista pode fazer com um indivíduo. A partir disso, repensamos nossas próprias atitudes para com nossos filhos e as pessoas que nos cercam. As pessoas estão mais preocupadas em julgar do que em compreender, mas só por isso faremos igual?
No que se refere as instituições psiquiátricas, podemos ver uma abordagem parecida com filmes como 'Si puo fare' e 'Um estranho no ninho', em que qualquer pessoa enlouqueceria, dado a forma de tratamento a que eram submetidos. Vemos claramente a importância fundamental que a Reforma Psiquiátrica pode ter na mudança de paradigma da abordagem iatrogênica da Medicina/Psiquiatria tradicional, e também no tratamento dos internos como seres humanos, e não como 'bestas', como vemos no filme.
Contém cenas fortes, eu me senti aflito... eu não parava de me colocar na pele do Neto, pensando como seria passar por aquilo tudo apenas por causa de um cigarro de maconha. Porém, não só por este cigarro, mas também pelo viés negativo imbricado no senso comum, ou seja, a estereotipagem do 'maconheiro' na sociedade em que vivemos (interessante quando o pai dele diz que 'remédio não é droga', deixando muito claro esse dogma criado pela sociedade, que não faz sentido algum. Remédio é droga sim!).
A lição que eu tiro desse filme é: Deixe o seu filho viver, paute a sua educação no diálogo e não na imposição do que é 'certo ou errado'. E se fizer isso, aceite o destino cruel que você está traçando para essa pessoa, pois, se ela cresceu repleta de fantasmas, a maior parte da culpa recai nesse tipo de criação, digamos, prisional.
Dê uma chance para a autonomia do ser, instigue potencialidades.
Bom, eu seria da ala dos haters. Mas, por mais que eu não tenha gostado, tenho que reconhecer que o fato de intrigar as pessoas ao ponto de existirem varias interpretaçoes ja o faz ser um bom filme, apenas por provocar a reflexão, e isso é louvável. O dedo caracteristico de Kubrick nas filmagens eu nem tenho o que dizer, talvez seja essa a pitada de genialidade dele, a questao dos movimentos, da simetria e etc. Tenho que reconhecer também que toda essa monotonia é contextualizada na semantica do filme, e merece aplausos por fazer algo totalmente diferente no cinema de sua época... Porem, como bom cinefilo, eu esperava mais do filme. O iluminado é bem mais interessante.
"Nossa grande guerra é a guerra espiritual, nossa grande depressão, é nossas vidas. Todos nós fomos criados vendo televisão pra acreditar que um dia seríamos milionários, seríamos deuses do cinema e estrelas do rock, mas nós não somos, devagar vamos aprendendo isso. Nós estamos muito revoltados." "Não é o dinheiro que tem no banco, não é o carro que dirige, não é o que tem na carteira, não é seu uniforme. VOCÊ É A MERDA DO MUNDO, QUE FAZ TUDO PRA CHAMAR ATENÇÃO." “Cada palavra que você lê disso sem sentido outro segundo de sua vida que você perde. A sua vida é tão vazia que você não consegue nem pensar em um outro jeito de gastar seu tempo? Você lê tudo que deveria ler? Você pensa exatamente tudo que te mandam pensar? Compra o que você deveria comprar? Saia do seu apartamento. Encontre uma pessoa do sexo oposto. Pare com a compra e a masturbação excessiva. Peça demissão. Comece uma luta. Prove que você está vivo. Se você não for atrás da sua humanidade, você vira uma estatística” (Tyler Durden, Clube da Luta) hahahaha, caralho, genial! Dá pra tirar muitas mensagens desse filme complexo. Essas lutas existem para demonstrar o desespero em que uma pessoa pode se encontrar quando descobre que sua vida é um grande NADA, e que o sonho de ser rico, famoso e bonito não passa de um sonho mesmo. Véy, q filme loko! Puta crítica a vida de projeção que vivemos, querendo ser algo que nao somos, nos projetando em outras pessoas pra compensar a vida de merda que levamos, ficando cegos e nos tornando 'adubos' como o tyler diz, hehe. O jeito é explodir o sistema né? Porque nós estamos muito revoltados ihAUEHIHE agr sim todo mundo vai poder viver uma vida justa.
O Poço
3.7 2,1K Assista AgoraO filme "O poço" do Netflix é uma grande metáfora pra repensarmos o sistema Capitalista e toda a subjetividade produzida nele, e por ele. Subjetividade no sentido do que se produz no imaginário das pessoas, na forma de lidar com os recursos (e com os discursos) disponíveis para a subsistência geral em detrimento do manejo destes em prol da coletividade. Uma alegoria das relações de poder instituintes.
De uma forma mais simples, numa sociedade estratificada de forma vertical, quem ocupa as posições mais acima dessa cadeia tende a pensar na sua própria subsistência (e "foda-se os demais, quanto mais acima eu estiver"). Vejo nessa crença uma oportunidade de gozo, como se o consumo, agora, resumisse puramente o que é da ordem do desejo humano.
A grande sacada é que os recursos não são escassos. Então todo esse anseio pelo logro, pelo acesso ou pela ascensão social, não se sustenta no real, no objetivo, mas nessa subjetividade que nos faz acreditar que temos que usufruir agora, aqui, para mim, senão alguém vai tirar de mim (essa posição ou esse objeto, que é meu e de mais ninguém). O que me soa como a paranoia Capitalista em essência. A propriedade privada.
Nesse jogo canibal, os recursos ficam escassos lá em cima dessa cadeia, não chegando abaixo, nos mais necessitados (não por não serem suficientes). Qualquer semelhança com o contexto atual do mundo não é mera coincidência, onde falar sobre dividir, sobre senso de coletividade e sobre amar o outro, o diferente, soa pejorativo... O fantasma do comunismo.
Enfim, a forma como foi elaborada a metáfora do filme beira a genialidade, por nos fazer alcançar um sentimento no qual ainda não conseguimos explicar com palavras, mas que todo mundo sente que ocorre, na nossa frente, todo dia. E que essa forma de vida está a beira de um colapso.
Tão difíceis são as palavras, que nem ao menos sei se consigo passar o conhecimento que alcancei vendo essa obra, tamanha a complexidade da trama entre ficção e realidade.
Prefiro não dar spoiler e deixar vocês deleitarem e, quiçá, virem aqui conversar sobre depois, aí gente ganha mais, no coletivo, risos.
Edit 1: Como é difícil escrever sobre sem dar spoiler kkk
O Pescador de Ilusões
3.8 167 Assista AgoraAchei meu filme preferido. Que história fantástica! Um filme sublime que te causa uma mistura de emoções e ao mesmo tempo traz uma série de críticas, de conhecimentos. Além é claro de contar uma bela história de amor, totalmente atípica. Identifiquei-me muito com esse filme, pois ele condiz com muito do que acredito e do que tenho buscado viver. Tenho visto os filmes no momento certo da minha vida, e esse foi mais um deles. Tocou-me fortemente e vai me motivar a continuar com meus propósitos.
Beleza Americana
4.1 2,9K Assista AgoraPosso dizer aquele clichêzão: Por que demorei tanto pra ver esse filme? Foda pra caralho! Consegue trabalhar uma série de questões que certamente estão no cotidiano de todo mundo. E mais importante: "O Foda-se", nada é mais libertador do que ele, rs.
"Hoje é o primeiro dia do resto das nossas vidas". Dá vontade de escrever melhor sobre as questões psicológicas do filme, mas hoje eu vou me conter e ficar por aqui.... rs
Entre o Céu e o Inferno
3.7 345 Assista AgoraNão sei se vocês perceberam, mas rolou um ciclo de 'faltas' que foram supridas. Mais especificamente, dela, do amigo e do namorado. Faltas diferentes, mas com um mesmo fim em si. Bom, Isso eu vou deixar pra vocês pensarem... rs Bom filme! Acho que a genialidade dele está subscrita nessa tríade de forma bem sucinta, digam-me o que pensam sobre isso... rs
Capitão Fantástico
4.4 2,7K Assista AgoraNão to aqui pra fazer crítica nenhuma. Tô aqui só pra bater palma pra essa obra-prima do cinema. Um sorriso, algumas lágrimas e um suspiro é tudo que resta ao final desse filme. Talvez seja tudo o que a gente precise mesmo, nada mais. Um dia eu reflito melhor, hoje só quero manter esse sentimento que ele me causou e dormir feliz.
O Lagosta
3.8 1,4K Assista AgoraUma sátira para quem tem tesão na abstração. Ela exige que o espectador atente para as entrelinhas dos discursos e cenas estúpidas o tempo inteiro, sempre buscando sentido em correlações com situações da vida real. É ver a mágica do real no absurdo. Quando você saca a mensagem que se quis passar, você percebe também a genialidade das críticas sociais inseridas de maneira sutil no roteiro.
Posso falar que foi a melhor e mais louca abordagem que já vi em relação a monogamia. Vemos de uma forma totalmente inimaginável, como os relacionamentos humanos são sustentados a base de mentiras, de falsidades, e sobretudo de hipocrisias. Por exemplo, o fato de temos de ‘ser o que não somos’ para alguém nos aceitar e não nos tornarmos indivíduos solitários, amargos. Ou seja, Uma sociedade que vive de máscaras.
O tapa na cara do filme é mostrar que o amor é aceitar, incondicionalmente, o outro como ele é. Não necessariamente tendo coisas em comum, mas sim construindo modos de conviver a partir das próprias diferenças entre as pessoas. (Nem que seja aderindo a elas, como no polêmico final do filme, rs se é que me entendem...)
De fato, a cultura dos relacionamentos é algo forçado por regras que não condizem com a natureza humana. A sociedade não quer saber como a gente se sente. Somos orientados sempre por obrigações que vem de alguém de fora, e com isso acabamos esquecendo o que vem de dentro de nós.
Acredito que o que sentimos quando estamos diante de outra pessoa é o que deveria guiar os relacionamentos humanos. Estaremos juntos se quisermos e se gostarmos da companhia, e não por pressão externa ou medo da solidão. Esta também é uma opção... ótima por sinal! Trazendo a liberdade para os que não aderem a claustrofobia monogâmica.
Deixando a filosofia de lado e voltando ao filme. O normal seria as pessoas acharem o filme chato, pois ele não é constante, tem variações que deixam o filme por vezes monótono e cansativo. Parece ter 5 horas de filme de tantas situações diferentes que o protagonista passa, ainda que as cenas não sejam muito corridas. O filme transcorre lentamente e denso em menos de duas horinhas de bizarrice.
No final das contas, pra mim foi um filmaço, extremamente inteligente, inovador, criativo, com uma proposta totalmente diferenciada de tudo o que se tem visto atualmente no cinema. Ainda que tenham alguns deslizes na produção, merece 4 estrelinhas, facilmente, rs.
Um Dia Desses
4.3 189Fiquei com um nó na garganta com esse final. Talvez o único jeito de desatá-lo seria vendo a reação de uma pessoa moralista, preconceituosa, e/ou homofóbica assistindo a esse filme. Queria que essa pessoa me dissesse o que entendeu sobre as injustiças que a sociedade comete em prol de nada, só pra ver se ela consegue enxergar, diante dos fatos ocorridos, que no final de tudo ninguém sai ganhando.
Não há justiça, o cara até pode tentar fazer o bem sendo advogado, tendo o conhecimento da lei. Porém o Direito foi criado justamente para manter o status quo. Uma moralidade banal de uma sociedade fracassada no que tange à vida em coletividade. Somos ensinados desde cedo a valorizar comportamentos sem valor, a exercer o poder sobre o outro, a excluí-lo para termos nosso espaço, consequentemente gerando apenas opressão, desigualdade social e angústia.
A lei é não aceitar as diferenças, é impor um padrão de vida que não condiz com a nossa essência humana. Há uma idéia de normal que sucumbe as tentativas do sujeito diferente de apenas viver a sua vida da forma como deseja. É proibido viver como se quer ou gostaria, somos obrigados a viver o que está no papel, na moral cristã, e no senso comum, por conta de pessoas acomodadas em viver dessa forma desgastante.
Ainda acredito que nossa espécia ainda chegará num momento em que verá o fato de que: todas as regras que as pessoas seguem sem criticar, em nada melhoram suas vivências, apenas restringem o nível da experiência. Dessa forma, terão obrigatoriamente que repensar o sistema, reconhecer que fracassamos e estamos infelizes com a forma que somos levados a existir. Queremos viver, não queremos apenas existir, e acredito que não há como fazer isso sem aceitar o outro de qualquer forma, sem precedentes, deixá-lo viver seus impulsos desejantes sem reprimí-los.
Acho que essa é a grande sacada que estará por vir nas próximas gerações.
No mais, ótimo filme, que me causou tantas reflexões que nem caberiam aqui, rs.
Drive
3.9 3,5K Assista AgoraClichêzinho americano um pouco mais bem bolado que os outros.
Não me surpreendeu em nada. Tem um fodão que adivinha tudo o que estão tramando e mata todo mundo, nada que seja inédito no cinema. De bom mesmo, só a trilha sonora.
Pequena Miss Sunshine
4.1 2,8K Assista AgoraSensacional! Muito surpreendente a naturalidade dos personagens, cada um com uma personalidade diferente e ao mesmo tempo maleável de acordo com as situações. Retrata com maestria o cotidiano familiar da vida real, envolto em brigas, discordâncias, desespero, desesperança, afagos, afetos e companheirismo em momentos delicados.
Mas a cereja do bolo é toda a crítica entorno da cultura da padronização. Muito interessante a forma como a trama se desenvolve e os insights vão acontecendo. Vemos uma legião de pessoas que são treinadas desde cedo para não serem quem realmente são, negando a si em prol de uma desmedida busca por uma dita "vitória" que nada tem a ver com a nossa essência humana. Perceber isso é a chave.
A lição que esse filme passa é justamente a de que é essencial encontrarmos o nosso próprio caminho de acordo com as coisas que amamos fazer, nossas peculiaridades e potencialidades, independente de qualquer influência e de quaisquer julgamentos de valor externos que existam acerca das nossas próprias escolhas e ações. Vemos muito isso na criação que a mãe dá para a menina (em detrimento da maioria das atitudes do pai).
A grande vitória é aceitarmos como somos, para aceitarmos o outro como ele é. E não essa vitória meritocrática que aprendemos na televisão e que só nos faz afastar do outro, sendo necessário passar por cima das pessoas para conseguir algo, extinguindo qualquer possibilidade do desenvolvimento de uma afetuosidade entre elas.
Um filme obrigatório para todas as pessoas desse planeta, que talvez ainda precisem daquele empurrãozinho para terem a coragem de dizer o "foda-se" que as libertará.
O Abraço da Serpente
4.4 237 Assista AgoraEsse é aquele filme que quer mostrar uma coisa, a gente sabe o que é, e nunca conseguimos colocar em palavras, tamanha a complexidade dessa questão. Ele inverte os valores, coloca em xeque os padrões do homem ocidental, que se desvincula da natureza, apenas utilizando os recursos naturais para produzir coisas que não condizem com a própria essência humana.
Além disso, diz algo complexo sobre o homem ocidental que Freud chamou de formação reativa, que pode ser resumido como um mecanismo de 'julgar o outro do que você mesmo faz', no intuito talvez de se eximir de uma culpa que recairia em si mesmo ao praticar atos vistos como imorais pela sociedade. Ou seja, o homem ocidental chama o índio de "canibal selvagem" e usa isso como motivo para dizimar as populações indígenas (apenas por serem diferentes) e catequizar/escravizar os restantes para agirem de acordo com os seus interesses e costumes.
A partir daí, quem seria o canibal selvagem na verdade? Só que o homem ocidental reconhece no outro algo que diz respeito somente a si mesmo. O filme pega bastante nisso quando o indio diz que o homem branco nunca entenderá certas coisas, por que talvez ele mesmo tenha se cegado, utilizado o conhecimento para o mal, e perdendo o contato com a natureza que nascemos para desfrutar sem maiores pretensões.
Um filme denso, dá pra tirar bastante coisa para debate que estão ímplicitas nos diálogos. Vale a pena refletir diversas vezes sobre esse filme, tentando sempre trazer pra nossa realidade, tecendo redes de sentido com tudo o que vemos acontecer em nosso cotidiano, o que perdemos adotando esse estilo de vida, e talvez cogitar a possibilidade de regredir a um tipo de vida primitivo, porém muito mais verdadeiro.
Thelma & Louise
4.2 967 Assista AgoraNossa, essa última cena me deixou arrepiado até os cabelos que não tenho nas unhas dos pés! haha. Esse filme está longe de ser uma aventura muito louca de duas amigas, é uma bela crítica aos relacionamentos abusivos, à misogenia, e as repercussões que atitudes machistas podem desencadear na vida das mulheres. Usando o termo que ela mesma usou, vai se formando uma "bola de neve", mas sempre há uma saída. Gostaria que todo homem visse esse filme e refletisse sobre nossa responsabilidade nisso tudo... libertador! Favoritei! <3
Salò, ou os 120 Dias de Sodoma
3.2 1,0KUma certeza: Pasolini nunca mais! kkkk Aquele tipo de filme pra ver uma vez na vida. Não sei nem o que comentar, tô muito chocado pra isso. Sei lá, acho que ele se perde no roteiro pra focar nas bizarrices. Se ele queria causar, conseguiu causar, apenas.
Nebraska
4.1 1,0K Assista AgoraMuito interessante a forma como o cotidiano é abordado. Acredito que qualquer pessoa que ver esse filme vai se identificar com as situações, e rir bastante com um humor, digamos, diferente... suave...
Para além disso, o maior mérito foi conseguir transformar em metáfora coisas concretas, como a caminhonete, que se fosse num filme qualquer, teria apenas deixado a marca da exaltação do consumismo pregado pela cultura americana. Porém não é o que acontece, pois, a caminhonete quer dizer muito mais do que um mero produto e a carta quer dizer muito mais do que um prêmio, a primeira trazendo a tona o que se refere ao "desejo de reconhecimento" perante as pessoas de sua cidade, e a segunda marcando um grande afeto que ele guardava pela sua familia e nunca o havia demonstrado.
O filme nos mostra de uma maneira bastante sutil como criamos uma "carcaça" para lidar com a realidade. Talvez naquela época fosse muito mais complicado demonstrar o que se sente (até por ele ser um velho carrancudo do exército), mas mesmo assim o sentimento está lá, pouco explorado, mas poderoso. Não só por ele, mas todos em algum momento deixam de ser carrancudos para demonstrarem algum afeto.
Um filme muito bonito e com uma série de boas mensagens, vale muito a pena ver!
Deus da Carnificina
3.8 1,4KQue filme aleatório, ganhou o prêmio de diálogo mais longo desde "12 homens e uma sentença", a diferença é que não se chega a lugar nenhum kkkkk
Em compensação, as atuações são sensacionais e irreverentes! Christoph Waltz é muuuuito fooooda.... A evolução do drama me lembrou muito de Relatos Selvagens quando mostra "a linha tênue que separa a humanidade da barbárie" rs
Os Oito Odiados
4.1 2,4K Assista AgoraAcho que todo mundo é baba-ovo do Tarantino. Acho também que os filmes dele (tirando bastardos inglórios) não tem conteúdo, não dá pra extrair uma mensagem nem sequer fazer alguma associação com nosso cotidiano, é apenas um misto de bizarrice e psicopatia que não me agrada muito, masss ne!? sempre há quem goste... (também de diálogos longos e monótonos) rs
Por outro lado, um aspecto relevante é a excentricidade dos personagens. Cada um traz consigo uma peculiaridade que acaba fugindo bastante dos "clichês hollywodeanos", botando um selo que você percebe que é do Tarantino (também perceptível nos movimentos da câmera no decorrer do filme, o que também é legal). Esse sim é o lado bom dele, tosco mas original, rs.
Magnólia
4.1 1,3K Assista AgoraUm filme que me tocou fortemente.Eu teria que estender muito para poder fazer uma análise desse filme, por que cada uma das histórias narradas são atravessadas por inúmeras questões, que remetem a outras, e acabam, ao meu ver, terminando no mesmo lugar, muito bem colocado pela frase:
"Os pecados dos pais, recaíram sobre os filhos"
No final das contas, é isso que atravessa a todos. Vivemos carregando fardos que não são os nossos e que acabam nos impedindo de explorar a nossa potência de vida, de criação, de amar... No final das contas, só queríamos poder ter sido nós mesmos, viver sem nos arrepender no fim, mas todos fomos crianças e adultos castigados pela sociedade, e que acabam encontrando os seus próprios meios de aguentar o fardo que acaba se tornando a vida.
No meio de tantos conflitos psicológicos, é interessante percebermos os personagens do policial e do enfermeiro. Que são aqueles que exercem a empatia, que fazem o bem sem querer nada em troca. Eu bato nessa tecla todo dia, e tenho certeza que esse filme também quis deixar isso nas entrelinhas, ou seja, no meio de tanta merda que acontece nas nossas vidas, a melhor forma de viver é fazendo o bem, não importando a quem, e não querendo nada em troca. São os raros e pequenos anjinhos que acabam tornando o mundo melhor com pequenas atitudes, imperceptíveis aos olhos da triste maioria.
Um filme pra rever várias vezes, uma lição de vida a ser extraída de cada passagem.
Amy
4.4 1,0K Assista AgoraAmy a judiada, por Marco Ribeiro.
O documentário sobre a vida e a morte de Amy Winehouse diz muito sobre “a quantas anda” a humanidade. Em várias passagens fica visível todo o processo de tortura a qual ela foi submetida por ser dissidente. Mudam os personagens, porém não mudam as atitudes. Talvez Amy tenha carregado, sem saber, um fardo parecido com o de seus antepassados.
Voltando um pouco, Amy Winehouse era uma mulher que impressionava a sociedade pela sua audácia e pela sua perspicácia musical. Ao mesmo tempo, encantava os próximos a ela com seu jeito doce e espontâneo. Era uma menina de família judia desestruturada, o que pode vir a ter lhe causado certa rebeldia. No entanto, a única pessoa na qual ela se balizava era a avó, justamente quem percebeu e investiu no dom musical de Amy, colocando-a em escolas de música desde muito jovem. Mal poderia saber das repercussões dessa atitude.
Amy se tornou uma estrela, e pouco a pouco, foram acontecendo uma série de coisas as quais gostaria de retomar, a fim de retirar o olhar de Amy, e arremessá-lo para onde ele realmente deveria estar. Digo isso por que a história dela é permeada de culpabilização, tanto pelo uso recorrente de drogas como pela sua forma de levar a vida, já que ela era totalmente fora do padrão. Mas me arrisco a dizer que, quem matou Amy Winehouse não foi ela própria, mas sim essas pessoas e instituições ao redor de seu nome, somente interessados em poder, dinheiro e fama.
PAI / NAMORADO / MÍDIA / PAPPARAZZIS / GRAVADORA / SOCIEDADE / CAPITALISMO
Vejo muita semelhança da vida dela com a de seus antepassados judeus, ainda que sejam situações totalmente diferentes. Ela foi perseguida, privada de liberdade, torturada psicologicamente, abandonada pelas pessoas que amava, criticada pela maioria, obrigada a fazer o que não queria, teve seus bens praticamente tomados e administrados por outros. Enfim, uma infinidade de males que assolaram tanto a ela como a milhares de judeus, por conta de uma sociedade extremamente cruel.
Falando em termos de Deleuze, Amy traçava linhas de fuga constantemente para fugir das linhas duras que lhe eram impostas. Ela estava interessada apenas em ser nômade, em poder andar pelas ruas sem destino, fazendo o que amava (que era a música) sem ter que dar satisfações a ninguém. A música foi a primeira forma que ela encontrou de escapar da dura realidade de uma infância catastrófica, onde ela conseguia escoar a sua energia nesse encontro com o inesperado, com a sua potência criadora e com o seu dom. Isso instigava um estado de alegria que a colocava em movimento e a desprendia das amarras do passado.
No entanto, com o passar do tempo e com o endurecimento das cobranças de toda uma sociedade em cima dela, foi obrigada a encontrar novos meios de escapar, pois a música já não bastava. As pessoas conseguiram fazer da música que ela tanto amava, uma forma de aprisionamento. Com isso, o seu estado de potência abaixa, fica depressiva, sem movimento, sua criatividade não flui, os encontros já não são mais produtivos como antes. Então Amy encontrou nas drogas o seu refúgio, uma nova forma de fuga, quando na verdade ela só queria poder ser ela mesma, ir aonde ela quiser, fazer o que ela gosta, estar com quem ela ama.
De fato, Amy nunca teve um território para um crescimento saudável, ou seja, cresceu totalmente desterritorializada. Talvez o único momento em que ela encontrou um território fértil foi no relacionamento com o Blake, o que acabou a levando a um amor desmedido, “achei o meu lugar nos braços deste homem, como nunca tive”. Então, no momento em que ele a deixa, e que ela volta a se desterritorializar (provocado também pela morte da avó) é que começam a fluir as suas canções, as palavras de uma vida que não tem mais sentido, amor.
O sucesso vem como um caminhão que atropela um leproso. A partir dali ela já estava fadada ao fim, e tudo a leva a isso. Chegou ao topo do mundo talvez, por que muitas pessoas se identifiquem com as letras dela. Ou seja, vivem vidas sem sentido e legitimam o fato de que a própria sociedade destrói a vida das pessoas e as torna depressivas. Essas pessoas acabam achando na música, nas drogas, ou em qualquer atividade que lhes dê prazer, uma válvula de escape, uma linha de fuga, ou seja, não existe uma só Amy.
A sociedade matou Amy, O capitalismo matou Amy, como matará todos nós de angústia, por que nossa essência não é levar esse estilo de vida materialista. O que nos torna realmente felizes é poder andar por ai livremente, fazer o que gostamos e estar com quem amamos. Talvez os antepassados da Amy também só quisessem ter essa oportunidade, que Amy também não teve, e que todo o sistema não nos deixa ter, tudo pelo domínio de “alguns”.
Essa sociedade já não basta, nem pra mim, nem pra Amy, nem pra qualquer dissidente.
Não é só a Amy que está sendo judiada, há um pouco de Amy dentro de todos nós.
Quando Duas Mulheres Pecam
4.4 1,1K Assista AgoraNossa, nunca vi comentários tão fake cult iguais os desse filme hahaha, vejo todo mundo querendo pagar de hype cinéfilo e na hora de explicar o filme não fala nada com porra nenhuma, recheando de palavras bonitas pra leigo cair na lorota.
Queria mesmo conversar com alguém que pegou a porra do filme pra analisar de verdade, e não pra ficar de 'mimimi sou foda'. Tem muita coisa intrínseca, escondida...
Se fosse pra definir Bergman com uma palavra, eu diria "Sugestivo". Ele tem uma habilidade genial de deixar você pensando em várias cenas "que porra é essa que está acontecendo agora?", só que a genialidade disso não para por ai, a genialidade começa a brotar no momento em que você se vê forçado a associar uma série de cenas de momentos diferentes do filme pra tentar montar um quebra-cabeça, que pode ser milhões de coisas.
Na minha percepção, a melhor forma de ver esse filme seria logo depois de assistir "A ilha do medo", vi uma relação muito grande entre os dois enredos. Digo isso pois percebi uma 'inversão de papéis' com certa intencionalidade terapêutica, e não um mero enlace de duas vivências. Primeiro porque pareciam, para mim, haver duas opções: uma seria a de que a paciente era apenas imaginária, mas se caísse para esse lado, o filme teria um viés extremamente subjetivo e com pouco sentido.
Comecei a mudar o meu pensamento depois da leitura da carta, quando percebi a inversão de papéis, como em a ilha do medo, em que esta é realizada propositalmente, com fins terapêuticos, colocando a verdadeira paciente (Alma) no lugar de um profissional (a enfermeira), atendendo alguem que na verdade, está lhe analisando (a paciente Srta Volger, que diz isso na carta que manda para a médica, que no caso, atende a enfermeira, e não ela).
Não sei se fui claro, por que realmente é bastante complexo. Muita coisa se encaixa, por exemplo, a negação da histeria no inicio do filme nada mais é do que uma conduta terapêutica a fim de tornar todo esse teatro uma vivência possivel na busca da produção de um insight na enfermeira (que aconteceu, mostrando uma junção da face das duas e as falas subsequentes). Se tivesse tocado no assunto da histeria, talvez todo o procedimento iria por agua abaixo na busca da produção de tal insight.
Resumindo, ela precisou de alguém de fora, fazendo o papel dela própria (até por ser atriz, o procedimento adotado pode ter tido associação a tal fato), a fim de que esta pudesse perceber, através da própria fala, os próprios conflitos desencadeados nela por uma série de eventos traumáticos que são trazidos a tona no filme, que aconteceram em seu passado. (a paciente Srta Volger não fala de propósito, para deixar a enfermeira histérica Alma falar e associar livremente o conteúdo latente da sua psique. ela o analisa e envia as informaçoes para a psiquiatra)
Poderia buscar muitas outras coisas que dá pra juntar e construir sentido, demoraria séculos escrevendo aqui, mas isso ai que falei acredito que seja o essencial, a sacada de genio do filme, que quem nao percebeu ou fingiu que entendeu o flme, ou entao teve alguma outra interpretação cabivel e complexa (o que nao vi nos comentarios aqui, hehehe). Pra entender melhor o que eu digo, assista "A ilha do medo" vale a pena.
Matrix
4.3 2,5K Assista AgoraCrítica com análise profunda do filme Matrix
Imagine que o filme The Matrix é um oceano e as mensagens que ele quer passar são os peixes. E você, meu caro... nessa brincadeira, você é o pescador, mas não um pescador qualquer, mas sim um pescador com a meta de pescar todos os peixes que existem ali. Por que digo isso? Prepare o kit pesca que nosso barquinho vai trabalhar hoje.
Primeiro, tenho que deixar claro que fugirei totalmente de comentar coisas supérfluas de um filme tão incrível como Matrix, como o famoso “bullet time” (cena clássica em que Neo desvia dos tiros) ou os “paranauês de kung-fu” (pra agradar a galera pop). Não, definitivamente, não. Estarei aqui tentando limpar as entranhas de todos os peixes que pescarmos. Ou seja, primazia pelo olhar subjetivo e complexo do filme, que é o que realmente nos interessa, não é?
Logo no início do filme já temos uma cena bastante interessante (o primeiro peixe), em que Neo abre a porta para um cliente com a namorada “do coelho branco tatuado”, e pergunta ao cliente: “Você já se sentiu como se não soubesse se está acordado ou se está sonhando? E o cliente responde: “O tempo todo. Chama-se mescalina”. Nesse diálogo há uma referência ao uso de entorpecentes como forma de fugir da realidade, como muita gente faz para se afastar, ainda que por pouco tempo, da Matrix. Entenderemos isso melhor quando falarmos do conceito de Matrix e da percepção entre mundo real e abstrato que é abordada no filme.
O que é a Matrix? Como o Morpheus disse, não há como prosseguir sem responder essa pergunta, e caso tenhamos a resposta, temos que nos perguntar novamente, o que é a Matrix? A Matrix, partindo da filosofia de Michel Foucault, seria a Sociedade Disciplinar, ou seja, nas palavras de Morpheus, vivemos numa prisão, numa sociedade que nos torna escravos dela e aprisiona a nossa mente, impondo regras e um determinado modo de viver.
Mais um conceito foucaultiano que serviria para a Matrix seria o de panóptico, que é como se fosse uma torre que pode ver a todos, vigiando e punindo comportamentos que infrinjam as regras, sendo assim, nós respiramos essa relação de poder o tempo inteiro, sem criticá-la ou buscar saídas. (Pensei também no fato de os agentes terem a habilidade de entrar e se utilizar do corpo de qualquer pessoa que seja um “escravo da Matrix”, o que me remete a uma certa legitimação que há das atividades cruéis da polícia na nossa sociedade, ou seja, as pessoas são cúmplices dessas ações e permitem que o sistema se utilize delas para isso.
Na cena em que Neo fala com a Trinity no bar, fica claro que, assim como na nossa sociedade, você só começa a entender o sistema quando você o questiona, e isso que Neo estava começando a fazer, ou seja, indo de frente ao sistema. Isso fica claro quando o chefe ameaça demití-lo, por ele já estar dando indícios de que não está mais aceitando as regras que a sociedade impõe. “Infelizmente, é impossível dizer o que é a Matrix, você tem que ver por si mesmo”. Genial! Isso que ele começou a fazer.
Também fica clara essa tendência do Neo, quando ele tem que escolher entre a pílula azul (Que o deixaria vivendo normalmente de acordo com o que o sistema estipula) ou a pílula vermelha (Que o fará descobrir o porquê de o sistema ser do jeito que é. Eu comparo esse fato com o conhecimento, que é a única maneira possível de se libertar das amarras da Matrix). Antes disso, o agente (são como a polícia, um mecanismo opressor do sistema) que o captura, diz que ele leva uma vida dupla, uma na empresa na qual trabalha e a outra como hacker, ou seja, o meio que ele encontrou para ir contra o sistema foi esse, pelos computadores, mostrando a tendência a escolher a pílula vermelha.
A cena em que, num sonho do Neo, o agente fala “De que adianta você querer um telefonema se você não pode falar” e a boca do Neo fecha sobre a própria pele, faz uma clara menção à passividade requerida para se sobreviver no sistema capitalista, nesse momento, colocando uma escuta no umbigo dele contra a própria vontade do Neo. Um bom exemplo para isso seria as manifestações que ocorreram no centro do Rio de Janeiro, em que percebe-se que o direito do livre arbítrio é irrelevante perante o sistema, por que o próprio sistema o cala e impõe os próprios interesses acima do de qualquer um.
A percepção de mundo real e mundo abstrato é outro aspecto bastante interessante do filme, Morpheus pergunta “O que é real pra você? É o que você cheira, sente, toca? Então o real são apenas sinais elétricos do cérebro? E deixa a reflexão para nós. Em outro momento, percebe-se que viver fora da Matrix era uma utopia, e após tomar a pílula vermelha (que eu fiz uma alusão ao conhecimento) o mundo real se torna o mundo fora da Matrix! E não é mais uma utopia, pois a realidade que estava escondida aos nossos olhos torna-se visível (como na frase de Antoine de Saint-Exupéry, “o essencial é invisível aos olhos”).
Isso me faz lembrar a alegoria da caverna de Platão, pois trata-se da exemplificação de como podemos nos libertar da condição de escuridão que nos aprisiona através da luz da verdade (não uma verdade absoluta, mas verdade no sentido de sabedoria), onde Platão discute sobre teoria do conhecimento, linguagem e educação na formação do Estado ideal. Sendo assim, os homens que vivem na Matrix são acorrentados a falsas crenças, preconceitos, ideias enganosas e, por isso tudo, inertes em suas poucas possibilidades. ”A maioria das pessoas não está pronta para acordar, eles são tão dependentes do sistema que vão lutar para protege-lo”, “Eu só quero libertar sua mente Neo, mas eu só posso te mostrar a porta, você vai ter que atravessá-la” Morpheus.
Outro aspecto muito legal do filme é quando mostra aonde nos levará a pulsão de morte do ser humano, o Tanatos, certo prazer pela destruição, exatamente como estamos fazendo com o nosso planeta, sem nos preocupar com a sustentabilidade dos recursos naturais, que obviamente, acabarão. Muito por conta desse sistema, dessa Matrix, que só instiga a destruição dos ecossistemas. Posteriormente, o agente Smith faz uma comparação muito boa, de humanos com vírus, pois os dois se propagam, destroem tudo o que veem pela frente, e depois acham outro hospedeiro para destruir também.
Logo entra a ficção científica em mais uma bela sacada do filme, quando diz que os homens estavam comemorando a criação da Inteligência Artificial no século XXI, porém, algum tempo depois foi iniciada uma guerra, na qual as máquinas venceram e passaram a cultivar os corpos dos seres humanos como fonte de energia... Que ironia do destino, não é? Haha, mas óbvio que foi apenas uma pequena beliscada para a sociedade acordar, pois essa pode ser uma possibilidade futura para nossa raça, por que não? Resumindo, a grande ironia é o ser humano passar a ser o próprio recurso que ele explorou por tantos anos, sem nem se preocupar com a sua extinção... Legal, não?
“A ignorância é uma benção”. Como diz o traidor Cypher, é mais fácil se render ao sistema, viver num mundo de ilusões. É muito melhor ser enganado, ser escravo, e poder ter dinheiro, ser reconhecido socialmente, eram essas as coisas que passavam na cabeça de Cypher quando decidiu entregar Morpheus para os agentes. Ele também se perguntou, será que essa liberdade que conquistamos vale a pena? Exemplo, no mundo dominado pela Matrix ele comeria uma carne suculenta e na liberdade, eles comiam uma ração proteica, só pra exemplificar os certos tipos de prazeres que são diferentes nas duas perspectivas, mas há muito mais dessas diferenças.
A metáfora da colher acontece quando o menino entorta uma colher apenas com o olhar, e diz pro Neo que “a colher não existe”, que na verdade quem entorta é ele mesmo. O que o menino quis dizer com isso? Quis dizer que entre as transformações do mundo e as nossas vontades, está a nossa ação. Então quem entorta a colher é exatamente ela, a nossa ação, isso traz a tona a perspectiva de que somos sujeitos agentes e que estamos a todo o momento modificando as realidades, ou seja, nós a entortamos as colheres, não existe colher, existe a nossa ação que modifica os espaços. Tanto que no final do filme, quando ele vai salvar o Morpheus, ele diz a frase no elevador “A colher não existe”, ou seja, chegou a hora de realizar as ações que a Oráculo havia mencionado.
A questão de Neo ser o escolhido, é talvez um dos peixes mais difíceis de pescar, porém, não é um peixe muito grande, mas um peixe arisco. A Oráculo revelou para o Neo que ele não é o escolhido, e isso muda tudo, por que você pode perceber que as pessoas queriam instigar algo nele (o dom que ele tinha), mas que qualquer um poderia ser o escolhido. “Conhece a ti mesmo” é a frase que a Oráculo lê para Neo, ou seja, a partir do momento que você se conhece, e que você acredita que é capaz, você será capaz, você será o escolhido, por que você mesmo se escolheu. É como estar apaixonado, você apenas sabe que está, ninguém pode dizer isso por você. Lindo não? (talvez com o empurrãozinho de alguém como o Morpheu, que disse que ele era capaz e que apenas mostraria a porta para ele, ele mesmo teria que atravessar a porta. Funcionou como um Psicólogo que despertou uma potencialidade do Neo apenas por acreditar nele). A grosso modo, ele não é o escolhido, ele se torna o escolhido, quando ele atinge um nível alto de acreditar nos propósitos dele, nada mais o abala.
Voltando um pouco no filme, Neo é como se fosse o messias contemporâneo (no sentido de ser alguém que pode vir para nos salvar dessa merda toda), um homem cansado do mundo a sua volta, antissociável, fugitivo dos padrões da sociedade, começa a ter o sentimento de se libertar da Matrix. Ele só se torna o escolhido depois de enfrentar os próprios medos e afirmar os seus propósitos e ir lá resgatar Morpheus.
Uma curiosidade é que Morfeu, da mitologia grega, é o deus dos sonhos, o termo significa “moldador de sonhos”, que é exatamente o que ele faz com o Neo, molda o sonho dele e investe todas as fichas no potencial do rapaz, até ele superar tudo em prol de sua liberdade da Matrix. O interessante é que, através do sonho, da utopia da liberdade, Morpheus faz ser possível enxergar que a realidade (do mundo real) se torna falsa e o sonho acaba se tornando a própria realidade, deixando de ser utopia. Outro fator interessante, é que no “mundo real”, Morpheus era visto como um bandido, no mundo ilusório, tinha até um visual de acordo (jeitão de mau), e no “mundo da liberdade” ele se revela como uma figura paternal, de bom coração (até as roupas mudam, por que na nova matriz eles são a própria aparência que imaginam ser, ou seja, ele se imagina sendo essa figura paternal), mostrando que o mundo da liberdade que é na verdade o mundo real, acaba mostrando o melhor lado das pessoas.
Outra curiosidade que percebi, é que o nome da nave que eles vivem no futuro, no mundo da liberdade, era Nabucodonosor, que era o rei da Babilônia. A etimologia de Babilônia deriva do termo grego Babylon, que significa "Porta de Deus". (a porta que Morpheus falava que mostraria a Neo, mas era Neo que tinha que passar por ela, lembra?). Ou seja, era uma terra como Zion, um lugar cujo “atravessar da porta” almejava a liberdade. Zion representa isso, luta por liberdade, uma frase de Michel Foucault cairia bem nesse momento é “Onde há poder, há resistência”, ou seja, sempre há a opção de construir um lugar melhor de se viver.
Terminando o filme ao som de Wake Up do Rage Against The Machine eu arrepiei, e ainda mais com essas palavras finais contra o Sistema Capitalista, contra o Matrix:
“Sei que você está aí, eu sinto você agora, sei que está com medo, está com medo de nós, está com medo das mudanças. Eu não conheço o futuro, eu não vim aqui te dizer como isso vai acabar, eu vim aqui te dizer como vai começar. Vou desligar este telefone, e vou mostrar a essas pessoas o que não quer que elas vejam, vou mostrar a elas um mundo, sem você. Um mundo sem regras e controle, sem limites e fronteiras, um mundo onde tudo é possível. Para onde vamos daqui, é uma escolha que eu deixo para você...”
Certamente um filme que abusou da genialidade em sua construção. Um marco (aurelio) na historia do cinema e da ficção cientifica iusheiau. E aí, voltaram com a rede cheia de peixes? Vai rolar uma peixada hoje? Haha :P
12 Homens e Uma Sentença
4.6 1,2K Assista AgoraUm filme de 1957, mas que mostra ser extremamente atual. Fico me perguntando o porquê de as pessoas terem essa necessidade de manterem as suas posições a qualquer custo, sem ao menos refletirem sobre. É tão necessário sempre estar certo? Por que estes se sentem tão melhores do que os outros? Será uma questão neurótica?
Existem milhares de pessoas que são assim, e sabemos bem quem são, pois esbarramos com elas todos os dias. O que nos resta? Sentir pena ou convencê-los de que existem outros pontos de vista a serem considerados nas questões? Pode parecer uma utopia minha, mas eu acredito que vai chegar um dia em que as pessoas irão se ouvir mais.
Sr. Ninguém
4.3 2,7KO difícil neste momento, é sintetizar todas as questões que passaram na minha cabeça nesse filme. Complexamente Genial! Vou tentar explicitar algumas:
Assim como o fator tempo foi colocado no filme, eu colocarei nessa crítica. Ou seja, começar trazendo as idéias passadas no final e tentando articular com todo o resto.
O momento chave do filme para mim, foi quando ele explica a questão do por que 'não ser ninguém'. Pois não há como uma pessoa desenvolver o seu ego naturalmente tendo que lidar com questões impossíveis de serem decididas, ainda mais quando somos crianças e essas escolhas são relacionadas aos nossos pais. Ás vezes o melhor caminho é ficar inerte, e não tomar decisão alguma, justamente por essa ser impossível de ser tomada, a 'enrascada' no xadrez.
Quanto ao amor, num momento do filme, eu pensei que a mensagem que se queria passar era a de que, muitas vezes, nós não conseguimos ficar junto da pessoa que nós realmente amamos, e acabamos construindo uma vida 'com o primeiro que aparecer na frente', mas algumas cenas passaram, e eu pensei outras coisas. Como que, vale a pena insistir no amor, e nossas vidas não fazem sentido algum sem esse sentimento.
Nessa mistura de amor/afeto e desenvolvimento da personalidade que acontece no filme, uma palavra que pode resumir esse filme é: ESCOLHA. A questão do efeito borboleta é retomada com certa frequência no filme, de forma bastante sutil. Cada atitude, cada batida de asa da borboleta, cada sopro do vento, cada ESCOLHA feita pode mudar todo o rumo da história de nossas vidas. Algo que acontece aqui, pode mudar tanto a nossa vida como a de alguém muito distante de você, ainda que nós não percebamos isso no cotidiano.
A complexidade mora aqui: Mesmo que tenhamos essas escolhas, e elas tudo modificam, a todo momento... existem coisas que não somos capazes de escolher, e que moldam a nossa personalidade, o nosso jeito de levar a vida, e talvez, de se entediar com a vida... (Ex: O filme não abordou a vida da Elise, mas certamente ela teve questões na vida dela que a tornaram uma histérica clássica. Ela não entende o motivo de estar enlouquecendo, certamente por alguma escolha que foi incapaz de fazer no passado, por "N" motivos...)
O que fazer então? Se além dos caminhos a seguir, existe a opção de ficar parado? Essa charada eu deixo pra vocês, rs (Por que essa é a intenção do filme, rs reflitam)
Bicho de Sete Cabeças
4.0 1,1K Assista AgoraNão me lembro de ter visto um filme brasileiro tão bom quanto esse.
Destaque para a atuação impecável do Rodrigo Santoro e do maluquinho que fica o acordando, que não sei o nome.
Um filme que retrata muito bem questões que estão em voga no cotidiano de muitas famílias brasileiras. Nele nós podemos ver o que uma criação extremamente moralista pode fazer com um indivíduo. A partir disso, repensamos nossas próprias atitudes para com nossos filhos e as pessoas que nos cercam. As pessoas estão mais preocupadas em julgar do que em compreender, mas só por isso faremos igual?
No que se refere as instituições psiquiátricas, podemos ver uma abordagem parecida com filmes como 'Si puo fare' e 'Um estranho no ninho', em que qualquer pessoa enlouqueceria, dado a forma de tratamento a que eram submetidos. Vemos claramente a importância fundamental que a Reforma Psiquiátrica pode ter na mudança de paradigma da abordagem iatrogênica da Medicina/Psiquiatria tradicional, e também no tratamento dos internos como seres humanos, e não como 'bestas', como vemos no filme.
Contém cenas fortes, eu me senti aflito... eu não parava de me colocar na pele do Neto, pensando como seria passar por aquilo tudo apenas por causa de um cigarro de maconha. Porém, não só por este cigarro, mas também pelo viés negativo imbricado no senso comum, ou seja, a estereotipagem do 'maconheiro' na sociedade em que vivemos (interessante quando o pai dele diz que 'remédio não é droga', deixando muito claro esse dogma criado pela sociedade, que não faz sentido algum. Remédio é droga sim!).
A lição que eu tiro desse filme é: Deixe o seu filho viver, paute a sua educação no diálogo e não na imposição do que é 'certo ou errado'. E se fizer isso, aceite o destino cruel que você está traçando para essa pessoa, pois, se ela cresceu repleta de fantasmas, a maior parte da culpa recai nesse tipo de criação, digamos, prisional.
Dê uma chance para a autonomia do ser, instigue potencialidades.
Marco Ribeiro
2001: Uma Odisseia no Espaço
4.2 2,4K Assista AgoraBom, eu seria da ala dos haters. Mas, por mais que eu não tenha gostado, tenho que reconhecer que o fato de intrigar as pessoas ao ponto de existirem varias interpretaçoes ja o faz ser um bom filme, apenas por provocar a reflexão, e isso é louvável. O dedo caracteristico de Kubrick nas filmagens eu nem tenho o que dizer, talvez seja essa a pitada de genialidade dele, a questao dos movimentos, da simetria e etc. Tenho que reconhecer também que toda essa monotonia é contextualizada na semantica do filme, e merece aplausos por fazer algo totalmente diferente no cinema de sua época... Porem, como bom cinefilo, eu esperava mais do filme. O iluminado é bem mais interessante.
Clube da Luta
4.5 4,9K Assista Agora"Nossa grande guerra é a guerra espiritual, nossa grande depressão, é nossas vidas. Todos nós fomos criados vendo televisão pra acreditar que um dia seríamos milionários, seríamos deuses do cinema e estrelas do rock, mas nós não somos, devagar vamos aprendendo isso. Nós estamos muito revoltados."
"Não é o dinheiro que tem no banco, não é o carro que dirige, não é o que tem na carteira, não é seu uniforme. VOCÊ É A MERDA DO MUNDO, QUE FAZ TUDO PRA CHAMAR ATENÇÃO."
“Cada palavra que você lê disso sem sentido outro segundo de sua vida que você perde. A sua vida é tão vazia que você não consegue nem pensar em um outro jeito de gastar seu tempo? Você lê tudo que deveria ler? Você pensa exatamente tudo que te mandam pensar? Compra o que você deveria comprar? Saia do seu apartamento. Encontre uma pessoa do sexo oposto. Pare com a compra e a masturbação excessiva. Peça demissão. Comece uma luta. Prove que você está vivo. Se você não for atrás da sua humanidade, você vira uma estatística” (Tyler Durden, Clube da Luta)
hahahaha, caralho, genial! Dá pra tirar muitas mensagens desse filme complexo.
Essas lutas existem para demonstrar o desespero em que uma pessoa pode se encontrar quando descobre que sua vida é um grande NADA, e que o sonho de ser rico, famoso e bonito não passa de um sonho mesmo.
Véy, q filme loko! Puta crítica a vida de projeção que vivemos, querendo ser algo que nao somos, nos projetando em outras pessoas pra compensar a vida de merda que levamos, ficando cegos e nos tornando 'adubos' como o tyler diz, hehe.
O jeito é explodir o sistema né? Porque nós estamos muito revoltados ihAUEHIHE agr sim todo mundo vai poder viver uma vida justa.