Está nascendo uma sensação no cinema brasileiro. Cine Holliúdy foi lançado somente na região de Fortaleza e, mesmo assim, se tornou o décimo filme mais assistido no país durante o final de semana.
O sucesso não é novidade para o diretor Halder Gomes. Atuando no Nordeste e sem receber destaque da mídia do eixo Rio-SP, o cineasta conta com diversos trabalhos – entre curtas e longas, incluindo aí o terror Cadáveres 2, rodado nos Estados Unidos e com elenco internacional e As Mães de Chico Xavier, realizado em parceria com Glauber Filho e contando com Caio Blat e Tainá Müller no elenco.
Mas o “menino dos olhos” de Halder é mesmo Cine Holliúdy, uma declaração de amor ao cinema – e certamente o projeto mais pessoal do cineasta, que nasceu como curta e, depois de pedidos do próprio público, se torna agora um longa-metragem de sucesso. O Filmow conversou com exclusividade com o cineasta sobre o filme.
Cine Holliúdy era um curta-metragem. Como e quando surgiu a ideia de transformá-lo num longa?
O sucesso do filme nos festivais e de público – o curta, nas locadoras cearenses, batia blockbusters, como Matrix, por exemplo – levava as pessoas a perguntarem se teria uma parte 2, ou um longa-metragem. Eu sabia que ali era somente um pouco do que queria contar, e, diante desta demanda, surgiu a ideia de fazer o longa.
Como foi o processo de adaptá-lo para um longa?
O primeiro tratamento do roteiro veio rápido, e com ele fui finalista do Edital BO Minc. Depois continuei tentando até vencer, em 2009. A adaptação foi relativamente simples, pois era um universo que vivi e tinha muitas recordações que apenas esperavam a hora de virar texto.
O filme foi anunciado como “primeiro filme falado em cearensês”. Fale mais sobre essa brincadeira.
Sim, o filme é falado em "cearensês". O Brasil verdadeiro tem uma imensa diversidade cultural, ao contrário do que as novelas imaginam com seus sotaques "sintéticos". O Nordeste, em si, é uma grande nação e cada estado tem seu sotaque e particularidades culturais. Por isso queria falar da forma que falamos, sem medo de não ser entendido. Afinal, é pra isso que serve a legenda.
Cine Holliúdy é, na verdade, uma grande declaração de amor ao cinema. Quais filmes fizeram você se apaixonar por cinema?
Sim, o filme é uma grande declaração de amor ao cinema. Sou um apaixonado, e queria fazer algo que decantasse esta paixão. Minha paixão pelo cinema começou na infância, com os filmes de artes marciais, Hércules, Tarzan etc. Achava tudo aquilo muito fascinante e distante, pois morava no interior do Ceará, na década de 70.
Você é um diretor que opera do eixo Rio-SP, normalmente produzindo filmes “na raça”. Quais os benefícios e dificuldades que você encontra com este distanciamento?
Cinema é difícil de fazer em qualquer lugar do mundo. Fiz uma opção de carreira que vai na contramão de tudo. Ficar no Ceará e fazer cinema pra competir no "mainstream", teoricamente, seria impossível. Mas tenho conseguido fazer meus filmes, distribuir todos e ganhar o mundo com eles sem ter que ir embora daqui. Os benefícios são poder estar em casa e conseguir fechar muitas parcerias por conhecer muita gente na minha cidade. As dificuldades são mais de ordem técnica. Muitos equipamentos temos que trazer de outros estados.
Um dos elementos do roteiro de Cine Holliúdy é o cinema precisando se adaptar às novas formas de entretenimento. Isso vem acontecendo, com novas formas de produção e distribuição – caso, por exemplo, de financiamentos coletivos (na produção) e Netflix (na distribuição). Como cineasta, como você enxerga todas estas mudanças?
O cinema hoje em dia tem uma forte competição com muitos outros entretenimentos. Tirar o espectador da zona de conforto dele pra ir ao cinema custa muito mais que antes. No caso do universo de Cine Holliúdy, a ameaça era a TV. Hoje, a internet e suas possibilidades. Gosto mesmo do mercado de salas de cinema. É o que me fascina. Gosto da competitividade, dos desafios etc. Muitas transformações já ocorreram, e este setor já se consolidou e voltou a crescer. Obviamente que para competir neste território contra os blockbusters americanos é muito difícil, e para isto é preciso ter produto de muita qualidade, o que dificilmente se consegue com baixo orçamento. Por isso, este cenário não teve tantas mudanças. Por outro lado, as demais janelas de exibições que tem surgido e o crescimento de canais de TV criaram uma grande oferta de espaços para produções de baixo orçamento e independentes.
Quais os planos para Cine Holliúdy, no Brasil (tanto em cinema como em DVD/BD) como no exterior?
O primeiro passo foi dado com o sucesso que conseguimos, lançando nos cinemas do Ceará, para em seguida conquistar o Brasil. Na sexta-feira de abertura, o filme fez 55% do total dos ingressos vendidos no Ceará. Um fenômeno! Quanto ao exterior, ainda não tenho planos. Vou para o AFM [American Film Market] deste ano pra prospectar horizontes para o filme. As demais janelas de exibição no Brasil já estão garantidas.
Veja o trailer de Cine Holliúdy abaixo.