Acho que é o primeiro filme da China continental que assisto com uma temática contemporânea. Tecnicamente, achei bem-feitas as cenas das competições. Para quem gosta de esportes, com certeza, terá alguns momentos bem emocionantes.
Quanto aos personagens, achei que ficaram um tanto rasos. E não digo sobre a interpretação dos atores (pois como é uma cultura bem diferente, certos trejeitos que poderiam parecer forçados podem apenas ser algo cultural). Digo no que toca às motivações, vida pessoal etc.
Outra coisa que achei bem esquisita foi a passagem do tempo. Há transições que parecem ser de horas e, na verdade, são de meses ou até anos. Na narrativa, o que mais incomodou foi o fato de não ter mostrado
Yang Fan treinando junto com os canadenses. Tudo que vemos disso é apenas uma foto dela, com jogadores de hóquei e nada mais
.
Uma coisa legal que o filme mostra é a dificuldade de se conseguir uma medalha de ouro, o quão duro é o treino e como as derrotas fazem parte do dia a dia de muitos atletas. Também presta uma grande homenagem aos atletas chineses, não só da patinação, mas também de outras modalidades. E, parando para pensar, isso é algo bem raro de ver, de forma dramatizada, aqui no Brasil. Não valorizamos nossos atletas.
Gostei. Muito difícil ver filmes brasileiros com esse estilo de ação mais descompromissada, que não se leva tão a sério. É clara a semelhança com os filmes de Guy Ritchie, incomoda um pouquinho quando vemos que ele tenta emular um "Snatch" da vida, mas ficou muito legal, não há como negar. Gostei da forma como o roteiro vai se amarrando, ainda que de uma forma bem mirabolante.
O filme traz algo que, a cada dia, se torna mais impraticável; se você mora no Brasil, praticamente impossível, que é: separar sua vida vida profissional da pessoal. E, por mais que você se dedique ao trabalho, ter o tempo e paz suficientes para descansar e fazer suas coisas, sem ter a paranoia de que algo ou alguém irá te interromper.
De modo mais concreto: se dedicar ao trabalho com afinco, mas fazendo aquilo que cabe a você e condizente com seu cargo e seu salário (e não ser precarizado).
Em que pese o fato de o personagem ter seus próprios utensílios de trabalho e também do episódio em que leva sua sobrinha (a contragosto) para acompanhá-lo, fica claro que o ele quer ter sua vida pessoal bem separada do trabalho. Seus momentos de relaxamento e contemplação durante o expediente ocorrem somente no horário de almoço que, apesar de breve, carrega um grande elemento de sua vida pessoal (mas que ainda passará por uma curadoria posterior).
Há horário para tudo: o trabalho, o qual faz com esmero mas, terminado este, se desliga totalmente dele: tomando seu banho prolongado, que não só remove germes e bactérias, mas também providencia um estado de relaxamento necessário para sua leitura (quem nunca teve a experiência depois de tomar um banho, relaxar numa leitura diante daquele vento fraco de um ventilador ou brisa vinda da janela? Ou qualquer outro "ritual", como aquele de Duro de Matar I, de contrair os dedinhos sobre um carpete de um quarto de hotel, logo após uma longa viagem de avião?).
Temos também o papel do minimalismo (ou melhor: essencialismo), no sentido de dedicar nosso tempo a poucas atividades edificantes, como uma boa leitura ou audição de um álbum de música ao invés de ficarmos dando scroll numa tela, acessando redes sociais.
E algo bem marcante: a importância da passagem do tempo "no tempo do próprio tempo". Basta lembrar das mudas de plantas que ele rega diariamente e vê crescer, pouco a pouco; as fotos que tira diariamente numa máquina com filme ,tendo de esperar 1 mês (talvez) para fazer a revelação e, só então, selecionar quais ficaram boas e quais serão descartadas (como a velho clichê do escritor que guarda seu texto numa gaveta por uma semana ou um mês antes de revisá-lo novamente, a fim de ter um julgamento mais frio); e claro: o que diz a sua sobrinha "Na próxima vez é na próxima vez; agora é agora". Em suma: cada coisa no seu tempo.
E, falando em tempo: percebemos o quanto este senhor "estoico" perde a compostura ao ter sua rotina alterada por algo do qual não tem culpa e muito menos é responsável. A desordem no trabalho cria uma reação em cadeia que afeta gravemente sua vida pessoal, fazendo perder um "dia perfeito" com suas atividades prazerosas.
Sei que há coisas subentendidas no filme e nem todas compreendi. O personagem tem lá sua parcela de egoísmo (se assim podemos dizer), e revela que, muitas vezes, tudo o que queremos é viver nossa vida em paz, quietos no nosso canto (dá ensejo também, para uma interpretação do dilema do porco-espinho).
Para fechar: reparei que ele não tem nem mesmo TV em casa, muito menos smartphone ou computador. Percebem a maravilha que é deitar e dormir tranquilamente, sem se preocupar com trending topics de Twitter / X, notificações de WhatsApp, notícias com click bait ou gatilhos de alarmismo que nos deixa ansiosos?
A série Fallout é muito bem-feita. Sobre isso, não há o que falar. Logo, se você gosta desta temática e ambientação, assista.
O gosto amargo que fica, para mim, tem a ver com a indústria do audiovisual que, no passado, não dava lá muito atenção para adaptar franquias baseadas em games ou quadrinhos. E, no caso das exceções, geralmente não havia um investimento tão grande. Hoje, com a crise de criatividade, não pensam duas vezes e saturam ambos: tanto no Cinema quanto nas séries de TV / streaming, numa fórmula fácil, previsível e que tira a diversidade de temas que existia outrora.
Voltando à série, sua fotografia, tomadas abertas e locações são impressionantes. Muitos frames soam como verdadeiros quadros ou wallpapers.
A fidelidade visual aos games (joguei apenas Fallout 3) é impressionante. Particularmente, acho que apenas a Power Armor deixou um pouco a desejar em seu design, soando muito simétrica (pelo que lembro, as ombreiras e peitoral eram maiores, dando maior imponência aos knights da Brotherhood of Steel.
Um ponto que incomoda muito é a mania que há nas produções estadunidenses de
insistir que personagens de capacete fechado mostrem seu rosto a todo momento. Seja de modo literal ou naquela visão interna estilo Homem de Ferro. Isso quebra muito a suspensão de descrença, ainda mais num contexto de perigo constante no qual os personagens estão inseridos. Vale aqui a comparação entre Juiz Dredd de Stallone e o de Karl Urban.
A linha narrativa é interessante. Particularmente, gostei de como ela se desenrola, alternando entre os três personagens principais, assim como o elo com o passado que um deles carrega. Contudo há uma possível falha de roteiro a respeito do personagem
Bert (originário da Vault 32), marido de Steph. Pelo contexto, dá a entender que ele estava na Vault 33 há menos de dois anos (chutaria um ano, no máximo). Desta forma, como ele não notou nada de errado com os visitantes (invasores) da Vault 32 quando Lucy se casa?
não vou dizer que estraga a experiência da série (não guardei nenhum hype ou expectativa), mas soa bem tosco e não muito verossímil. Vamos ver como será trabalhado e melhor esclarecido na segunda temporada.
De todo modo, uma ótima série. Algo que dificilmente veríamos fora do modelo de streaming. Para quem gosta majoritariamente destes tipos de adaptação, talvez estejamos na "Era de Ouro" delas. Mas sempre há o risco de uma saturação e perda de rumo, como aconteceu com os filmes de super-heróis. Sobretudo, pelo fato de que tudo é guiado pelo interesse de acionistas (lucro) e não necessariamente em entregar um bom conteúdo
Ivan e Giba na rua, quando este aponta para o encarregado da obra e diz que o funcionário só o respeita porque sabe que ele tem mais poder.
Há também uma clara referência a Taxi Driver (quem assistiu, saberá quando).
Um fato curioso é que o livro escrito por Marçal Aquino foi concluído e lançado só depois do filme, como ocorreu com "2001: Uma Odisseia no Espaço", de Arthur C. Clarke.
Temporada bem doida. Depois que assisti o episódio The Car Pool Lane, por acaso, fui pesquisar sobre a série como um todo (pois nunca ouvi falar desta série no Brasil, nem pessoalmente, nem por indicações de blogs ou canais... só conhecia a música do meme e não fazia ideia que pertencia à série). Eis que vejo um vídeo de um canal brasileiro, recomendando a série e dando a informação que, justamente neste episódio, ela salvou um homem do corredor da morte. Isso mesmo: um homem acusado de um brutal assassinato foi preso injustamente e, no dia do crime, ele estava no estádio, assistindo ao jogo de baseball. Seu advogado pegou o arquivo bruto das gravações e conseguiu encontrar seu cliente nas arquibancadas. Isso o inocentou!
No mais, foi bem legal a construção da temporada, com várias "subtramas", não só o musical na broadway como também o presente de aniversário de 10 anos de casamento, hahaha.
"Muita burocracia, a dificuldade te supera Sua força de vontade ficou na fila de espera"
Penso, Logo Desisto (Lobotomia).
Pelo que me lembro do livro, o filme captou muito bem a ambientação. Essa coisa de ir em busca sem nunca encontrar algo que você nem mesmo sabe o que é. O pesadelo de andar, andar e não chegar a lugar algum. Outro filme que, com certeza, bebeu muito nesta fonte é Brazil, do diretor Terry Gilliam.
em que Clodoaldo visita Francisco, estendendo-lhe um panfleto sobre os serviços de segurança que presta; por sua vez, Francisco recusa: "Não, eu não junto papel, não". Tanto aqui quanto na cena final, vemos o desdém que tal personagem tem pela História e seu esquecimento dela, seja ele seletivo ou não.
Comparando o encontro inicial e final destes personagens, acabei fazendo um parelo com "Bacurau", entre a recomendação dos moradores aos turistas, para visitarem o Museu e a derradeira cena...
No mais, me chamou muito a atenção a questão não só do som, mas do barulho. Acho que ele denuncia muito sobre o "progresso", a verticalização das cidades, gentrificação etc. Para além disso, me identifiquei muito com a personagem Bia, menos pelas substâncias e certos hábitos e mais pelo estado de nervos que o barulho incessante lhe causa, pois moro num lugar extremamente barulhento e, quando assisti o filme, às vezes retornava determinada cena para me certificar se o barulho era do filme ou daqui, da vizinhança. Aliás
o consumo de maconha da personagem parece ser algo diretamente ligado ao barulho em grande medida, sem contar a ausẽncia de seu marido, é claro.
Acho que só quem tem muita sensibilidade ao barulho, estuda em casa ou trabalha em home office sabe o quão difícil é suportar um ambiente constantemente barulhento quando necessita de concentração e desenvolver uma atividade mais intelectiva: barulho de motor e escapamento de motos, entregadores de aplicativo que tocam a buzina sempre de 5 a 7 vezes seguidas a cada entrega, sinais sonoros de ré de caminhões, botijões de gás sendo batidos uns nos outros num posto enquanto são descarregados, serralheria que funciona de domingo a domingo em horários que vão das 06:30 às 23:30, cachorros latindo, gente gritando, músicas nas alturas etc.
Gostei. Um filme bem sóbrio. Ao invés de usar da pirotecnia, opta por um esttilo mais lento e cadenciado, com muitos planos-sequência. A violência da guerra é brutal, mas não é exibida de forma sensacionalista, o que a deixa bem coesa com o conjunto do filme. Como já li o livro, captei algumas coisas nos olhares e cenas sem diálogos, mas confesso que cairia bem uma narração em off.
"(...)Perdoe-me, companheiro, como é que você pode ser meu inimigo? Se jogássemos fora estas armas e estas fardas, poderia ser meu irmão, como Kat e Albert. Tire vinte anos de minha vida, companheiro, e levante-se... tire mais, porque não sei o que farei deles agora(...)".
" (...) Mas a terra e o ar nos fornecem forças defensivas; principalmente a terra. Para nenhum homem a terra é tão importante quanto para um soldado. Quando ele se comprime contra ela demoradamente, com violência, quando nela enterra profundamente o rosto e os membros, na angústia mortal do fogo, ela é seu único amigo, seu irmão, sua mãe. Nela ele abafa o seu pavor e grita no seu silêncio e na sua segurança ela o acolhe e o libera para mais dez segundos de corrida e de vida, e volta a abrigá-lo: às vezes, para sempre! (...)"
Ainda não li nenhuma obra do Mutarelli, seja nas HQs ou livros. Mas tenho gostado das adaptações para o Cinema. Jesus Kid impressiona bastante pela fotografia e enquadramento. A metalinguagem, assim como em Mais Estranho Que A Ficção, é um prato cheio para quem gosta de literatura. No entanto, diferente de O Cheiro do Ralo, essse aqui soou anticlimático. A julgar pela duração em minutos, parece que faltou um desenvolvimento maior (mais uns 15-20 minutos de projeção talvez fechasse bem, não sei como foi a questão orçamentária).
De cara, meu personagem favorito é Chet. Sua personalidade e seu jeito de andar, a la Robocop, são impagáveis.
Os Donos da Rua conceitua Gentrificação de forma simples e, mesmo sendo de 1991, explica como este fenômeno está por trás da Cracolândia em São Paulo. De quebra, nos faz enxergar a proliferação de "adegas" que vemos aos montes nos bairros pobres hoje em dia e as formas de controle social e alienação por meio de: música não-reflexiva, religião, "coaches", influencers, redes sociais e afins.
Grata surpresa esta série. Que roteiro bem amarrado! Acho que o melhor episódio nesse sentido é o nono. Que maestria!
PS: Nunca tinha ouvido falar de Curb Your Enthusiasm, a decobri de forma bem inusitada: numa entrevista com a banda At The Gates, numa daquelas "bus tour invasion", a repórter vê o aparelho de TV e pergunta o que assistem, daí o baterista indica a série. Fiz bem em checar.
Não assisti e, provavelmente, não vou assistir. Mas lembrem-se: Jackie Chan tem 69 anos. Se quiserem vê-lo fazendo acrobacias e cenas sem dublê, busquem os filmes antigos, pois isso não vai mais acontecer.
O filme não foi de grande surpresa para mim. Pois já conhecia outras obras de Darren Aronofsky e sabia que a barra de qualidade do diretor era bem alta. Atendeu exatamente minha expectativa e, vale destacar, que o elenco como um todo mandou muito bem (e, sim, já havia me emocionado bastante antes, vibrando com os aplausos que Brendan Fraser recebeu nas premiações, com essa volta por cima em sua carreira).
O enredo consegue trabalhar diversos tópicos, dando complexidade e tridimensionalidade aos personangens. Ao contrário do que pode parecer à primeira vista, cada um deles têm uma "missão" e a metalinguagem usando a literatura (algo que tanto gosto, presente em filmes como "Mais Estranho Que a Ficção") dá as caras por aqui também.
Para quem gostou de "A Baleia" e quiser conhecer outros filmes do Aronofsky, recomendo: "O Lutador", "Noé" e "Fonte da Vida".
Fiquei curioso porque isso me lembrou uma reportagem que mostrava o processo de tradução de um livro do Dan Brown (acho que era o Inferno). A tradução para diversos idiomas era feita simultaneamente e todos os tradutores ficavam juntos num prédio em Roma, se não me falha a memória. Tinham que deixar os celulares num armário numa sala antes do local de trabalho. E, como o livro ainda não tinha sido publicado, na hora do lanche ou almoço, as únicas pessoas com as quais podiam conversar sobre a a obra eram eles mesmos. Ficava aquela "Torre de Babel".
Ótimo documentário. Trata principalmente do Myers–Briggs Type Indicator (MBTI), sua criação e popularização, tanto no âmbito pessoal quanto no profissional.
Na esfera pessoal, é uma forma de autoconhecimento, a fim de compreender melhor nossa forma de pensar, agir e como direcionamos nossa foco e energia para determinadas coisas. No caso dos introvertidos, o MBTI explica bem sobre a tal "bateria social" (desgaste causado ao ficar muito tempo interagindo em festas, por exemplo). Vale a pena deixar claro que cada tipo de personalidade não é um bloco monolítico, mas um conjunto de fatores combinados de forma complexa. A grosso modo, como os ajustes de equalização de uma mesa de som.
Já no âmbito corporativo, os testes se mostram temerários. Pelo que o documentário mostra, nos EUA é uma prática de longa data, que apenas se intensifica mais com o advento da informática e, depois, com os algoritmos e inteligência artificial. No Brasil, percebi que, nos últimos anos, os processos seletivos estão usando testes de personalidade de maneira bem desmedida. O candidato é direcionado para um site, faz um teste, depois vai para outro e assim por diante. Há uma grande perda de tempo preenchendo formulários enormes (e redundantes), respondendo perguntas apenas para traçar o tipo de personalidade (e não as habilidades pertinentes às tarefas a serem executadas no cargo).
Com isso, ignoram a realidade material do trabalho, com a inovação e aperfeiçoamento dos trabalhadores no dia a dia (diante de situações fáticas) e reiteram uma rotina que transforma pessoas em autômatos. Os que possuem um tipo de personalidade mais introvertida, são eliminados sumariamente do processo seletivo e raramente são chamados para uma entrevista. O documentário mostra o exemplo de um rapaz que se viu nesta situação e, mesmo com diploma universitário, nunca mais conseguiu um emprego.
A situação é tão crítica que há até um grupo para treinar candidatos que possuem os perfis que costumam ser rejeitados. Sim: um treinamento para "hackear" os testes de personalidade e dar a mínima chance de que os candidatos consigam uma vaga ou ao menos uma entrevista!
Há também uma insinuação de que o teste tem raízes racistas. Aqui, em nome da honestidade intelectual, é necessário pontuar: uma pesquisadora chega a esta conclusão após descobrir que a autora do teste escreveu um livro de ficção que possui elementos de eugenia. Mas não há uma ligação direta entre o livro de ficção e a criação do teste.
Ao final, acredito que, na esfera pessoal, do autoconhecimento, o teste pode ajudar. Já no ambiente corporativo, é condenável (principalmente, se utilizado de forma determinante para contratação). Ninguém nasce pronto. Algumas pessoas aprendem rápido, outras mais lentamente. Mas todos podem se desenvolver no trabalho, dia após dia. O fato é que vivemos em um sistema Capitalista, que funciona com o conceito de exército de reserva para o trabalho, que almeja apenas um "colaborador" que possa executar a tarefa imediatamente, mesmo que depois de 3 meses ele seja desligado. Além disso, um ambiente de trabalho homogêneo tira dos trabalhadores a oportunidade de conviver com pessoas diferentes, que possuem outras formas de pensar, que podem trazer inovações e melhorias na produtividade. O resultado está aí: profissionais todos "iguais", trabalhando no "piloto automático".
Se você espera ver nada menos que um tokusatsu extremamente fiel ao de 1987, com um monstro por episódio, transformação coreografada e terminando sempre com um rider kick ou rider punch, recomendo fortemente que você (re)assista... A série de 1987.
Agora, se você não encara a franquia de maneira dogmática e está disposto a fazer concessões, talvez seja uma grata surpresa como foi para mim.
Trata-se de uma comemoração de 50 anos da franquia Kamen Rider e de 35 anos de Kamen Rider Black (ou Black Kamen Rider, como ficou mais conhecido no Brasil). Mas a proposta aqui é um pouco diferente, menos episódios (10 contra 51), com maior duração (45 ao invés de 25 minutos) e o principal: narrativa e classificação etária diferentes.
A impressão é a de que Black Sun é voltada aos fãs da série de 1987, mas com a mentalidade e a maturidade que possuem agora em 2022 e não para jovens de 12 anos, como antes. Aliás, a série possui classificação +18. Isso fica bem claro com a violência explícita, o famoso "gore" dos filmes de trash e de horror. Assim como nos temas político-sociais discutidos.
É uma narrativa mais lenta, talvez até arrastada, que dá mais ênfase nas revelações a conta-gotas da trama do que pela ação. E talvez por isso, quando esta última vem à tona, cause tanto impacto. Há também o uso de, pelo menos, duas linhas temporais que remontam à vida pregressa de alguns personagens e organizações.
Também é notável como a série mostra as características positivas e negativas de cadaum dos personagens, fugindo do maniqueísmo batido, deixando claro que a classificação indicativa não se resume ao "gore".
No quesito referências, além daquelas da própria franquia (recomendo que não vejam trailers e afins, para não estragar ótimas surpresas), identifiquei também outras. Citarei apenas as obras para não dar spoiler de outros filmes, séries e livros:
- Corra; - Expresso do Amanhã; - Soylent Green; - Distrito 9; - Estação Perdido (China Méville); - entre outros.
Há também referências a eventos históricos, antigos e recentes.
Quanto aos efeitos visuais / especiais, talvez cause um certo estranhamento, principalmente nas fantasias e armaduras. Mas para quem consegue abstrair isso e encarar como algo mais representativo e menos "realista", irá tirar bom proveito. Os eventos e conflitos são bem pesados e deixam uma atmosfera bem tensa na maior parte do tempo (o que, para mim, não permitiu que a série caísse num tom de galhofa).
O que deixou a desejar mesmo foi a trilha sonora. O tema principal, repetido à exaustão, soa um tanto enjoativo. Já a sonoplastia, em que pese a falta de alguns efeitos marcantes como os da série antiga, traz a parte grotesca bem característica dos filmes de body horror, como aqueles do diretor David Cronenberg.
Vale destacar também o roteiro. Ainda que o enredo seja um tanto confuso, percebemos que várias pontas soltas vão sendo amarradas aos poucos. Valorizando tudo aquilo que é construído nas partes mais "arrastadas". É um recurso que estou mais acostumado a ver no Cinema, mas que irá presentear aqueles que prestam atenção nos detalhes mais sutis.
Minha intenção era assistir de forma mais espaçada. Mas os últimos episódios empolgam bastante. Para quem assistiu a série de 1987 e gosta de nostalgia, há uma bela homenagem que será facilmente reconhecida (fora os easter eggs espalhados).
Kamen Rider Black Sun é bem diferente de Kamen Rider Black em sua estrutura narrativa, mas é bem satisfatória para quem quer ver algo inovador e atual; não apenas um "fan service". Recomendo aos fãs de ficção científica com teor mais "biológico".
Um bom filme, que remete ao que os blockbusters de Hollywood (e alguns daqueles filmes que saíam direto para home video) já foram algum dia. E acho que é bom ficarmos de olho no diretor Mark Toia. Primeiro, porque, segundo o IMDB, o orçamento estimado foi de apenas 1 milhão de dólares. Consta que foi produzido por financiamento coletivo.
Outra detalhe é que se trata do primeiro longa-metragem dele. Antes disso, fez muitos comerciais e, pasmem: já foi até piloto de motovelocidade! Mas o que chama mais atenção é sua habilidade na pós-produção e direção de fotografia (isso pode ser visto num vídeo institucional da RED Digital Cinema).
Particularmente, gosto mais dos filmes feitos à moda antiga, em película. Não gosto, por exemplo, da estética de Zack Snyder, que soa um tanto artificial (principalmente por causa dos cenários de tela verde). Mas Mark Toia mandou bem em Monsters of Man, com um resultado bem orgânico. Enquanto escrevo, estou com uma entrevista (My Film Made Millions Using the Filmtrepreneur Method with Mark Toia) dele aberta aqui e parece ser uma pessoa bem interessante.
Falando do filme, mistura ação e suspense, numa pegada que lembra muito o primeiro Predador (1987). O roteiro não é lá muito elaborado, mas não caiu no erro dos filmes atuais de tentar trazer maior complexidade do que realmente possui. Os efeitos visuais estão muito bons, há também efeitos práticos. O único momento que deixa desejar é naqueles em que somente os robôs interagem em tela.
Espero que este diretor consiga novos financiamentos e uma boa distribuição. Porque o ramo de filmes mais descompromissados de Hollywood está fraquíssimo e, muitas vezes, queremos apenas um bom filme para se divertir, não mega sagas ou enredos falsamente complexos.
O filme poderia ter acabado por volta de 1 hora e 20 minutos. Logo após a destruição do suporte material dos anjos caídos (e de sua linda ascensão de volta aos Céus).
Mas a ideia era mostrar as dificuldades após a entrada na arca. E, nisso, Aronofsky proporciona um resgate a outras passagens Bíblicas, como àquela em que Deus ordena que Abraão sacrifique seu filho. Com a diferença de que, no filme, fica implícito, dentro da interpretação de Noé.
O final foi um tanto previsível e, para mim, o momento baixo do filme. Melhor teria sido se o sacrifício tivesse sido evitado por uma intervenção divina ou então se Noé golpeasse a própria mão, para dar um susto no espectador. Entregou muito fácil.
Outra forma que seria interessante de terminar o filme: após o embarque na arca, subir os créditos e, durante eles, mostrar flashes dos acontecimentos, em forma de montagem.
Filmaço. No começo, os diálogos me incomodaram por soarem como uma repetição do que Tarantino já havia feito. Mas Corra! insere até mesmo nossas meta-expectativas cinematográficas como recurso narrativo para compor o suspense.
Assisti bem depois do lançamento, depois de baixar a poeira de toda celeuma e acho que fiz bem: é realmente um filme para quem aprecia Cinema. A primeira coisa que me chamou atenção foi a transição de cenas. Seja com portas de casas, prédios ou carros. Sempre que um personagem abre ou fecha uma porta, corta a cena para outro fazendo o mesmo, dando uma continuidade no movimento. Se em seu primeiro filme, Wagner Moura já consegue dar estes toques, há potencial para projetos futuros. O filme, pesado, prende bastante e traz interpretações bem fortes (em boa parte, acredito que seja fruto da preparação de elenco por Fátima Toledo, que também trabalhou em Tropa de Elite). Sobre a fidelidade histórica, para quem leu "Zero", de Ignácio de Loyola Brandão, verá aqui em movimento e cores um pouco do que se passava nos Anos de Chumbo.
Este filme envelheceu muito bem. Assisti no cinema há 12 ou 13 anos e gostei ainda mais da segunda vez. Os efeitos especiais e visuais não ficaram datados e o pano de fundo do enredo, seja de forma literal ou figurada, é ainda mais impactante hoje em dia.
Uma coisa que não havia notado quando vi no Cinema:
Breaking Through
3.5 4 Assista grátisAcho que é o primeiro filme da China continental que assisto com uma temática contemporânea. Tecnicamente, achei bem-feitas as cenas das competições. Para quem gosta de esportes, com certeza, terá alguns momentos bem emocionantes.
Quanto aos personagens, achei que ficaram um tanto rasos. E não digo sobre a interpretação dos atores (pois como é uma cultura bem diferente, certos trejeitos que poderiam parecer forçados podem apenas ser algo cultural). Digo no que toca às motivações, vida pessoal etc.
Outra coisa que achei bem esquisita foi a passagem do tempo. Há transições que parecem ser de horas e, na verdade, são de meses ou até anos. Na narrativa, o que mais incomodou foi o fato de não ter mostrado
Yang Fan treinando junto com os canadenses. Tudo que vemos disso é apenas uma foto dela, com jogadores de hóquei e nada mais
Uma coisa legal que o filme mostra é a dificuldade de se conseguir uma medalha de ouro, o quão duro é o treino e como as derrotas fazem parte do dia a dia de muitos atletas. Também presta uma grande homenagem aos atletas chineses, não só da patinação, mas também de outras modalidades. E, parando para pensar, isso é algo bem raro de ver, de forma dramatizada, aqui no Brasil. Não valorizamos nossos atletas.
2 Coelhos
4.0 2,7K Assista AgoraGostei. Muito difícil ver filmes brasileiros com esse estilo de ação mais descompromissada, que não se leva tão a sério. É clara a semelhança com os filmes de Guy Ritchie, incomoda um pouquinho quando vemos que ele tenta emular um "Snatch" da vida, mas ficou muito legal, não há como negar. Gostei da forma como o roteiro vai se amarrando, ainda que de uma forma bem mirabolante.
Dias Perfeitos
4.2 247 Assista AgoraO filme traz algo que, a cada dia, se torna mais impraticável; se você mora no Brasil, praticamente impossível, que é: separar sua vida vida profissional da pessoal. E, por mais que você se dedique ao trabalho, ter o tempo e paz suficientes para descansar e fazer suas coisas, sem ter a paranoia de que algo ou alguém irá te interromper.
De modo mais concreto: se dedicar ao trabalho com afinco, mas fazendo aquilo que cabe a você e condizente com seu cargo e seu salário (e não ser precarizado).
Em que pese o fato de o personagem ter seus próprios utensílios de trabalho e também do episódio em que leva sua sobrinha (a contragosto) para acompanhá-lo, fica claro que o ele quer ter sua vida pessoal bem separada do trabalho. Seus momentos de relaxamento e contemplação durante o expediente ocorrem somente no horário de almoço que, apesar de breve, carrega um grande elemento de sua vida pessoal (mas que ainda passará por uma curadoria posterior).
Há horário para tudo: o trabalho, o qual faz com esmero mas, terminado este, se desliga totalmente dele: tomando seu banho prolongado, que não só remove germes e bactérias, mas também providencia um estado de relaxamento necessário para sua leitura (quem nunca teve a experiência depois de tomar um banho, relaxar numa leitura diante daquele vento fraco de um ventilador ou brisa vinda da janela? Ou qualquer outro "ritual", como aquele de Duro de Matar I, de contrair os dedinhos sobre um carpete de um quarto de hotel, logo após uma longa viagem de avião?).
Temos também o papel do minimalismo (ou melhor: essencialismo), no sentido de dedicar nosso tempo a poucas atividades edificantes, como uma boa leitura ou audição de um álbum de música ao invés de ficarmos dando scroll numa tela, acessando redes sociais.
E algo bem marcante: a importância da passagem do tempo "no tempo do próprio tempo". Basta lembrar das mudas de plantas que ele rega diariamente e vê crescer, pouco a pouco; as fotos que tira diariamente numa máquina com filme ,tendo de esperar 1 mês (talvez) para fazer a revelação e, só então, selecionar quais ficaram boas e quais serão descartadas (como a velho clichê do escritor que guarda seu texto numa gaveta por uma semana ou um mês antes de revisá-lo novamente, a fim de ter um julgamento mais frio); e claro: o que diz a sua sobrinha "Na próxima vez é na próxima vez; agora é agora". Em suma: cada coisa no seu tempo.
E, falando em tempo: percebemos o quanto este senhor "estoico" perde a compostura ao ter sua rotina alterada por algo do qual não tem culpa e muito menos é responsável. A desordem no trabalho cria uma reação em cadeia que afeta gravemente sua vida pessoal, fazendo perder um "dia perfeito" com suas atividades prazerosas.
Sei que há coisas subentendidas no filme e nem todas compreendi. O personagem tem lá sua parcela de egoísmo (se assim podemos dizer), e revela que, muitas vezes, tudo o que queremos é viver nossa vida em paz, quietos no nosso canto (dá ensejo também, para uma interpretação do dilema do porco-espinho).
Para fechar: reparei que ele não tem nem mesmo TV em casa, muito menos smartphone ou computador. Percebem a maravilha que é deitar e dormir tranquilamente, sem se preocupar com trending topics de Twitter / X, notificações de WhatsApp, notícias com click bait ou gatilhos de alarmismo que nos deixa ansiosos?
Fallout (1ª Temporada)
4.2 204A série Fallout é muito bem-feita. Sobre isso, não há o que falar. Logo, se você gosta desta temática e ambientação, assista.
O gosto amargo que fica, para mim, tem a ver com a indústria do audiovisual que, no passado, não dava lá muito atenção para adaptar franquias baseadas em games ou quadrinhos. E, no caso das exceções, geralmente não havia um investimento tão grande. Hoje, com a crise de criatividade, não pensam duas vezes e saturam ambos: tanto no Cinema quanto nas séries de TV / streaming, numa fórmula fácil, previsível e que tira a diversidade de temas que existia outrora.
Voltando à série, sua fotografia, tomadas abertas e locações são impressionantes. Muitos frames soam como verdadeiros quadros ou wallpapers.
A fidelidade visual aos games (joguei apenas Fallout 3) é impressionante. Particularmente, acho que apenas a Power Armor deixou um pouco a desejar em seu design, soando muito simétrica (pelo que lembro, as ombreiras e peitoral eram maiores, dando maior imponência aos knights da Brotherhood of Steel.
Um ponto que incomoda muito é a mania que há nas produções estadunidenses de
insistir que personagens de capacete fechado mostrem seu rosto a todo momento. Seja de modo literal ou naquela visão interna estilo Homem de Ferro. Isso quebra muito a suspensão de descrença, ainda mais num contexto de perigo constante no qual os personagens estão inseridos. Vale aqui a comparação entre Juiz Dredd de Stallone e o de Karl Urban.
A linha narrativa é interessante. Particularmente, gostei de como ela se desenrola, alternando entre os três personagens principais, assim como o elo com o passado que um deles carrega. Contudo há uma possível falha de roteiro a respeito do personagem
Bert (originário da Vault 32), marido de Steph. Pelo contexto, dá a entender que ele estava na Vault 33 há menos de dois anos (chutaria um ano, no máximo). Desta forma, como ele não notou nada de errado com os visitantes (invasores) da Vault 32 quando Lucy se casa?
Quanto ao final
não vou dizer que estraga a experiência da série (não guardei nenhum hype ou expectativa), mas soa bem tosco e não muito verossímil. Vamos ver como será trabalhado e melhor esclarecido na segunda temporada.
De todo modo, uma ótima série. Algo que dificilmente veríamos fora do modelo de streaming. Para quem gosta majoritariamente destes tipos de adaptação, talvez estejamos na "Era de Ouro" delas. Mas sempre há o risco de uma saturação e perda de rumo, como aconteceu com os filmes de super-heróis. Sobretudo, pelo fato de que tudo é guiado pelo interesse de acionistas (lucro) e não necessariamente em entregar um bom conteúdo
O Invasor
3.6 171Se você algum dia achou que a humanidade não tem solução, O Invasor te fará ter certeza.
Para mim, a cena mais marcante é o diálogo entre
Ivan e Giba na rua, quando este aponta para o encarregado da obra e diz que o funcionário só o respeita porque sabe que ele tem mais poder.
Há também uma clara referência a Taxi Driver (quem assistiu, saberá quando).
Um fato curioso é que o livro escrito por Marçal Aquino foi concluído e lançado só depois do filme, como ocorreu com "2001: Uma Odisseia no Espaço", de Arthur C. Clarke.
Aquarius
4.2 1,9K Assista AgoraNota mental: nunca, jamais assistir a um filme do Kleber Mendonça Filho
antes de dormir. Especialmente quando tiver que acordar cedo no dia seguinte.
Dúvida: a cena em que Clara está
dormindo na rede é uma referência a Ripley dormindo na cápsula criogênica em Alien - O Oitavo Passageiro?
Segura a Onda (4ª Temporada)
4.4 17 Assista AgoraTemporada bem doida. Depois que assisti o episódio The Car Pool Lane, por acaso, fui pesquisar sobre a série como um todo (pois nunca ouvi falar desta série no Brasil, nem pessoalmente, nem por indicações de blogs ou canais... só conhecia a música do meme e não fazia ideia que pertencia à série). Eis que vejo um vídeo de um canal brasileiro, recomendando a série e dando a informação que, justamente neste episódio, ela salvou um homem do corredor da morte. Isso mesmo: um homem acusado de um brutal assassinato foi preso injustamente e, no dia do crime, ele estava no estádio, assistindo ao jogo de baseball. Seu advogado pegou o arquivo bruto das gravações e conseguiu encontrar seu cliente nas arquibancadas. Isso o inocentou!
No mais, foi bem legal a construção da temporada, com várias "subtramas", não só o musical na broadway como também o presente de aniversário de 10 anos de casamento, hahaha.
O Processo
4.0 128 Assista Agora"Muita burocracia, a dificuldade te supera
Sua força de vontade ficou na fila de espera"
Penso, Logo Desisto (Lobotomia).
Pelo que me lembro do livro, o filme captou muito bem a ambientação. Essa coisa de ir em busca sem nunca encontrar algo que você nem mesmo sabe o que é. O pesadelo de andar, andar e não chegar a lugar algum. Outro filme que, com certeza, bebeu muito nesta fonte é Brazil, do diretor Terry Gilliam.
O Som ao Redor
3.8 1,1K Assista AgoraO filme bate numa tecla que, em entrevistas, o diretor Kleber Mendonça sempre pontua: a valorização da História.
"Bacurau", primeiro filme que assisti deste diretor, deixa isso bem claro. E, aqui, em "O Som ao Redor", há a cena
em que Clodoaldo visita Francisco, estendendo-lhe um panfleto sobre os serviços de segurança que presta; por sua vez, Francisco recusa: "Não, eu não junto papel, não". Tanto aqui quanto na cena final, vemos o desdém que tal personagem tem pela História e seu esquecimento dela, seja ele seletivo ou não.
Comparando o encontro inicial e final destes personagens, acabei fazendo um parelo com "Bacurau", entre a recomendação dos moradores aos turistas, para visitarem o Museu e a derradeira cena...
No mais, me chamou muito a atenção a questão não só do som, mas do barulho. Acho que ele denuncia muito sobre o "progresso", a verticalização das cidades, gentrificação etc. Para além disso, me identifiquei muito com a personagem Bia, menos pelas substâncias e certos hábitos e mais pelo estado de nervos que o barulho incessante lhe causa, pois moro num lugar extremamente barulhento e, quando assisti o filme, às vezes retornava determinada cena para me certificar se o barulho era do filme ou daqui, da vizinhança. Aliás
o consumo de maconha da personagem parece ser algo diretamente ligado ao barulho em grande medida, sem contar a ausẽncia de seu marido, é claro.
Acho que só quem tem muita sensibilidade ao barulho, estuda em casa ou trabalha em home office sabe o quão difícil é suportar um ambiente constantemente barulhento quando necessita de concentração e desenvolver uma atividade mais intelectiva: barulho de motor e escapamento de motos, entregadores de aplicativo que tocam a buzina sempre de 5 a 7 vezes seguidas a cada entrega, sinais sonoros de ré de caminhões, botijões de gás sendo batidos uns nos outros num posto enquanto são descarregados, serralheria que funciona de domingo a domingo em horários que vão das 06:30 às 23:30, cachorros latindo, gente gritando, músicas nas alturas etc.
Nada de Novo no Front
4.0 611 Assista AgoraGostei. Um filme bem sóbrio. Ao invés de usar da pirotecnia, opta por um esttilo mais lento e cadenciado, com muitos planos-sequência. A violência da guerra é brutal, mas não é exibida de forma sensacionalista, o que a deixa bem coesa com o conjunto do filme. Como já li o livro, captei algumas coisas nos olhares e cenas sem diálogos, mas confesso que cairia bem uma narração em off.
Exemplo:
a cena em que ele pega os documentos e fotos do bolso do soldado francês
Abaixo, spoiler do livro:
"(...)Perdoe-me, companheiro, como é que você pode ser meu inimigo? Se jogássemos fora estas armas e estas fardas, poderia ser meu irmão, como Kat e Albert. Tire vinte anos de minha vida, companheiro, e levante-se... tire mais, porque não sei o que farei deles agora(...)".
Outro spoiler do livro:
" (...) Mas a terra e o ar nos fornecem forças defensivas; principalmente a terra. Para nenhum homem a terra é tão importante quanto para um soldado. Quando ele se comprime contra ela demoradamente, com violência, quando nela enterra profundamente o rosto e os membros, na angústia mortal do fogo, ela é seu único amigo, seu irmão, sua mãe. Nela ele abafa o seu pavor e grita no seu silêncio e na sua segurança ela o acolhe e o libera para mais dez segundos de corrida e de vida, e volta a abrigá-lo: às vezes, para sempre! (...)"
Jesus Kid
2.5 23 Assista AgoraAinda não li nenhuma obra do Mutarelli, seja nas HQs ou livros. Mas tenho gostado das adaptações para o Cinema. Jesus Kid impressiona bastante pela fotografia e enquadramento. A metalinguagem, assim como em Mais Estranho Que A Ficção, é um prato cheio para quem gosta de literatura. No entanto, diferente de O Cheiro do Ralo, essse aqui soou anticlimático. A julgar pela duração em minutos, parece que faltou um desenvolvimento maior (mais uns 15-20 minutos de projeção talvez fechasse bem, não sei como foi a questão orçamentária).
De cara, meu personagem favorito é Chet. Sua personalidade e seu jeito de andar, a la Robocop, são impagáveis.
Boyz'n the Hood: Os Donos da Rua
4.0 247 Assista AgoraOs Donos da Rua conceitua Gentrificação de forma simples e, mesmo sendo de 1991, explica como este fenômeno está por trás da Cracolândia em São Paulo. De quebra, nos faz enxergar a proliferação de "adegas" que vemos aos montes nos bairros pobres hoje em dia e as formas de controle social e alienação por meio de: música não-reflexiva, religião, "coaches", influencers, redes sociais e afins.
Segura a Onda (1ª Temporada)
4.3 46 Assista AgoraGrata surpresa esta série. Que roteiro bem amarrado! Acho que o melhor episódio nesse sentido é o nono. Que maestria!
PS: Nunca tinha ouvido falar de Curb Your Enthusiasm, a decobri de forma bem inusitada: numa entrevista com a banda At The Gates, numa daquelas "bus tour invasion", a repórter vê o aparelho de TV e pergunta o que assistem, daí o baterista indica a série. Fiz bem em checar.
Kung Fu Yoga
2.9 34 Assista grátisNão assisti e, provavelmente, não vou assistir. Mas lembrem-se: Jackie Chan tem 69 anos. Se quiserem vê-lo fazendo acrobacias e cenas sem dublê, busquem os filmes antigos, pois isso não vai mais acontecer.
A Baleia
4.0 1,0K Assista AgoraO filme não foi de grande surpresa para mim. Pois já conhecia outras obras de Darren Aronofsky e sabia que a barra de qualidade do diretor era bem alta. Atendeu exatamente minha expectativa e, vale destacar, que o elenco como um todo mandou muito bem (e, sim, já havia me emocionado bastante antes, vibrando com os aplausos que Brendan Fraser recebeu nas premiações, com essa volta por cima em sua carreira).
O enredo consegue trabalhar diversos tópicos, dando complexidade e tridimensionalidade aos personangens. Ao contrário do que pode parecer à primeira vista, cada um deles têm uma "missão" e a metalinguagem usando a literatura (algo que tanto gosto, presente em filmes como "Mais Estranho Que a Ficção") dá as caras por aqui também.
Para quem gostou de "A Baleia" e quiser conhecer outros filmes do Aronofsky, recomendo: "O Lutador", "Noé" e "Fonte da Vida".
Marte Um
4.1 297 Assista AgoraFilmaço! E que fotografia! Várias tomadas mais abertas geram frames que dão um belo quadro!
O detalhe que mais gostei foi dos olhos e algumas partes cintilando, como se fossem estrelas.
Os Tradutores
3.5 44 Assista AgoraFiquei curioso porque isso me lembrou uma reportagem que mostrava o processo de tradução de um livro do Dan Brown (acho que era o Inferno). A tradução para diversos idiomas era feita simultaneamente e todos os tradutores ficavam juntos num prédio em Roma, se não me falha a memória. Tinham que deixar os celulares num armário numa sala antes do local de trabalho. E, como o livro ainda não tinha sido publicado, na hora do lanche ou almoço, as únicas pessoas com as quais podiam conversar sobre a a obra eram eles mesmos. Ficava aquela "Torre de Babel".
Persona: a verdade por trás dos testes de personalidade
3.5 4Ótimo documentário. Trata principalmente do Myers–Briggs Type Indicator (MBTI), sua criação e popularização, tanto no âmbito pessoal quanto no profissional.
Na esfera pessoal, é uma forma de autoconhecimento, a fim de compreender melhor nossa forma de pensar, agir e como direcionamos nossa foco e energia para determinadas coisas. No caso dos introvertidos, o MBTI explica bem sobre a tal "bateria social" (desgaste causado ao ficar muito tempo interagindo em festas, por exemplo). Vale a pena deixar claro que cada tipo de personalidade não é um bloco monolítico, mas um conjunto de fatores combinados de forma complexa. A grosso modo, como os ajustes de equalização de uma mesa de som.
Já no âmbito corporativo, os testes se mostram temerários. Pelo que o documentário mostra, nos EUA é uma prática de longa data, que apenas se intensifica mais com o advento da informática e, depois, com os algoritmos e inteligência artificial. No Brasil, percebi que, nos últimos anos, os processos seletivos estão usando testes de personalidade de maneira bem desmedida. O candidato é direcionado para um site, faz um teste, depois vai para outro e assim por diante. Há uma grande perda de tempo preenchendo formulários enormes (e redundantes), respondendo perguntas apenas para traçar o tipo de personalidade (e não as habilidades pertinentes às tarefas a serem executadas no cargo).
Com isso, ignoram a realidade material do trabalho, com a inovação e aperfeiçoamento dos trabalhadores no dia a dia (diante de situações fáticas) e reiteram uma rotina que transforma pessoas em autômatos. Os que possuem um tipo de personalidade mais introvertida, são eliminados sumariamente do processo seletivo e raramente são chamados para uma entrevista. O documentário mostra o exemplo de um rapaz que se viu nesta situação e, mesmo com diploma universitário, nunca mais conseguiu um emprego.
O final é bem trágico: ele se suicida.
A situação é tão crítica que há até um grupo para treinar candidatos que possuem os perfis que costumam ser rejeitados. Sim: um treinamento para "hackear" os testes de personalidade e dar a mínima chance de que os candidatos consigam uma vaga ou ao menos uma entrevista!
Há também uma insinuação de que o teste tem raízes racistas. Aqui, em nome da honestidade intelectual, é necessário pontuar: uma pesquisadora chega a esta conclusão após descobrir que a autora do teste escreveu um livro de ficção que possui elementos de eugenia. Mas não há uma ligação direta entre o livro de ficção e a criação do teste.
Ao final, acredito que, na esfera pessoal, do autoconhecimento, o teste pode ajudar. Já no ambiente corporativo, é condenável (principalmente, se utilizado de forma determinante para contratação). Ninguém nasce pronto. Algumas pessoas aprendem rápido, outras mais lentamente. Mas todos podem se desenvolver no trabalho, dia após dia. O fato é que vivemos em um sistema Capitalista, que funciona com o conceito de exército de reserva para o trabalho, que almeja apenas um "colaborador" que possa executar a tarefa imediatamente, mesmo que depois de 3 meses ele seja desligado. Além disso, um ambiente de trabalho homogêneo tira dos trabalhadores a oportunidade de conviver com pessoas diferentes, que possuem outras formas de pensar, que podem trazer inovações e melhorias na produtividade. O resultado está aí: profissionais todos "iguais", trabalhando no "piloto automático".
Kamen Rider Black Sun
3.4 16 Assista AgoraSe você espera ver nada menos que um tokusatsu extremamente fiel ao de 1987, com um monstro por episódio, transformação coreografada e terminando sempre com um rider kick ou rider punch, recomendo fortemente que você (re)assista... A série de 1987.
Agora, se você não encara a franquia de maneira dogmática e está disposto a fazer concessões, talvez seja uma grata surpresa como foi para mim.
Trata-se de uma comemoração de 50 anos da franquia Kamen Rider e de 35 anos de Kamen Rider Black (ou Black Kamen Rider, como ficou mais conhecido no Brasil). Mas a proposta aqui é um pouco diferente, menos episódios (10 contra 51), com maior duração (45 ao invés de 25 minutos) e o principal: narrativa e classificação etária diferentes.
A impressão é a de que Black Sun é voltada aos fãs da série de 1987, mas com a mentalidade e a maturidade que possuem agora em 2022 e não para jovens de 12 anos, como antes. Aliás, a série possui classificação +18. Isso fica bem claro com a violência explícita, o famoso "gore" dos filmes de trash e de horror. Assim como nos temas político-sociais discutidos.
É uma narrativa mais lenta, talvez até arrastada, que dá mais ênfase nas revelações a conta-gotas da trama do que pela ação. E talvez por isso, quando esta última vem à tona, cause tanto impacto. Há também o uso de, pelo menos, duas linhas temporais que remontam à vida pregressa de alguns personagens e organizações.
Também é notável como a série mostra as características positivas e negativas de cadaum dos personagens, fugindo do maniqueísmo batido, deixando claro que a classificação indicativa não se resume ao "gore".
No quesito referências, além daquelas da própria franquia (recomendo que não vejam trailers e afins, para não estragar ótimas surpresas), identifiquei também outras. Citarei apenas as obras para não dar spoiler de outros filmes, séries e livros:
- Corra;
- Expresso do Amanhã;
- Soylent Green;
- Distrito 9;
- Estação Perdido (China Méville);
- entre outros.
Há também referências a eventos históricos, antigos e recentes.
Quanto aos efeitos visuais / especiais, talvez cause um certo estranhamento, principalmente nas fantasias e armaduras. Mas para quem consegue abstrair isso e encarar como algo mais representativo e menos "realista", irá tirar bom proveito. Os eventos e conflitos são bem pesados e deixam uma atmosfera bem tensa na maior parte do tempo (o que, para mim, não permitiu que a série caísse num tom de galhofa).
O que deixou a desejar mesmo foi a trilha sonora. O tema principal, repetido à exaustão, soa um tanto enjoativo. Já a sonoplastia, em que pese a falta de alguns efeitos marcantes como os da série antiga, traz a parte grotesca bem característica dos filmes de body horror, como aqueles do diretor David Cronenberg.
Vale destacar também o roteiro. Ainda que o enredo seja um tanto confuso, percebemos que várias pontas soltas vão sendo amarradas aos poucos. Valorizando tudo aquilo que é construído nas partes mais "arrastadas". É um recurso que estou mais acostumado a ver no Cinema, mas que irá presentear aqueles que prestam atenção nos detalhes mais sutis.
Minha intenção era assistir de forma mais espaçada. Mas os últimos episódios empolgam bastante. Para quem assistiu a série de 1987 e gosta de nostalgia, há uma bela homenagem que será facilmente reconhecida (fora os easter eggs espalhados).
Kamen Rider Black Sun é bem diferente de Kamen Rider Black em sua estrutura narrativa, mas é bem satisfatória para quem quer ver algo inovador e atual; não apenas um "fan service". Recomendo aos fãs de ficção científica com teor mais "biológico".
Monstros do Homem
2.7 30 Assista AgoraUm bom filme, que remete ao que os blockbusters de Hollywood (e alguns daqueles filmes que saíam direto para home video) já foram algum dia. E acho que é bom ficarmos de olho no diretor Mark Toia. Primeiro, porque, segundo o IMDB, o orçamento estimado foi de apenas 1 milhão de dólares. Consta que foi produzido por financiamento coletivo.
Outra detalhe é que se trata do primeiro longa-metragem dele. Antes disso, fez muitos comerciais e, pasmem: já foi até piloto de motovelocidade! Mas o que chama mais atenção é sua habilidade na pós-produção e direção de fotografia (isso pode ser visto num vídeo institucional da RED Digital Cinema).
Particularmente, gosto mais dos filmes feitos à moda antiga, em película. Não gosto, por exemplo, da estética de Zack Snyder, que soa um tanto artificial (principalmente por causa dos cenários de tela verde). Mas Mark Toia mandou bem em Monsters of Man, com um resultado bem orgânico. Enquanto escrevo, estou com uma entrevista (My Film Made Millions Using the Filmtrepreneur Method with Mark Toia) dele aberta aqui e parece ser uma pessoa bem interessante.
Falando do filme, mistura ação e suspense, numa pegada que lembra muito o primeiro Predador (1987). O roteiro não é lá muito elaborado, mas não caiu no erro dos filmes atuais de tentar trazer maior complexidade do que realmente possui. Os efeitos visuais estão muito bons, há também efeitos práticos. O único momento que deixa desejar é naqueles em que somente os robôs interagem em tela.
Espero que este diretor consiga novos financiamentos e uma boa distribuição. Porque o ramo de filmes mais descompromissados de Hollywood está fraquíssimo e, muitas vezes, queremos apenas um bom filme para se divertir, não mega sagas ou enredos falsamente complexos.
Noé
3.0 2,6K Assista AgoraExistem pessoas que usam a nota do IMDB como critério determinante para assistir um filme. Felizmente, não sou uma delas.
Em Noé, Aronofsky é fiel. À sua característica de misturar elementos históricos, mitológicos e acrescentar sua parte autoral.
A impressão que fica é a de que "sobrou dinheiro". E o diretor soube aproveitá-lo.
O filme poderia ter acabado por volta de 1 hora e 20 minutos. Logo após a destruição do suporte material dos anjos caídos (e de sua linda ascensão de volta aos Céus).
Mas a ideia era mostrar as dificuldades após a entrada na arca. E, nisso, Aronofsky proporciona um resgate a outras passagens Bíblicas, como àquela em que Deus ordena que Abraão sacrifique seu filho. Com a diferença de que, no filme, fica implícito, dentro da interpretação de Noé.
O final foi um tanto previsível e, para mim, o momento baixo do filme. Melhor teria sido se o sacrifício tivesse sido evitado por uma intervenção divina ou então se Noé golpeasse a própria mão, para dar um susto no espectador. Entregou muito fácil.
Outra forma que seria interessante de terminar o filme: após o embarque na arca, subir os créditos e, durante eles, mostrar flashes dos acontecimentos, em forma de montagem.
De qualquer modo, um ótimo filme.
Corra!
4.2 3,6K Assista AgoraFilmaço. No começo, os diálogos me incomodaram por soarem como uma repetição do que Tarantino já havia feito. Mas Corra! insere até mesmo nossas meta-expectativas cinematográficas como recurso narrativo para compor o suspense.
Marighella
3.9 1,1K Assista AgoraAssisti bem depois do lançamento, depois de baixar a poeira de toda celeuma e acho que fiz bem: é realmente um filme para quem aprecia Cinema. A primeira coisa que me chamou atenção foi a transição de cenas. Seja com portas de casas, prédios ou carros. Sempre que um personagem abre ou fecha uma porta, corta a cena para outro fazendo o mesmo, dando uma continuidade no movimento. Se em seu primeiro filme, Wagner Moura já consegue dar estes toques, há potencial para projetos futuros. O filme, pesado, prende bastante e traz interpretações bem fortes (em boa parte, acredito que seja fruto da preparação de elenco por Fátima Toledo, que também trabalhou em Tropa de Elite). Sobre a fidelidade histórica, para quem leu "Zero", de Ignácio de Loyola Brandão, verá aqui em movimento e cores um pouco do que se passava nos Anos de Chumbo.
Distrito 9
3.7 2,0K Assista AgoraEste filme envelheceu muito bem. Assisti no cinema há 12 ou 13 anos e gostei ainda mais da segunda vez. Os efeitos especiais e visuais não ficaram datados e o pano de fundo do enredo, seja de forma literal ou figurada, é ainda mais impactante hoje em dia.
Uma coisa que não havia notado quando vi no Cinema:
todos os aliens possuem uma marca branca na cabeça. Ao pausar e analisar com cuidado, lê-se "Propriedade da MNU".
Um verdadeiro soco no estômago.
PS: A cena do mecha foi uma das melhores transposições de uma estética de Anime para o Cinema Live Action. Lembrou muito M.D. Geist!