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Latino Americano da Grande Florianópolis;
Graduado e licenciado em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC);
Mestre em Ensino de História pelo ProfHistória UFSC;
Historiador.

Últimas opiniões enviadas

  • Angelo

    Para mim, foi uma experiência muito especial! Identifiquei-me em muitos aspectos com o protagonista, o que acho que fez muita diferença. Trata-se de um filme que mergulha bastante em metáforas e no conceito de surrealismo, o que não é algo novo nas obras do Miyazaki, aparentemente, mas se comparado a Viagem de Chihiro, por exemplo, o nível de introspecção é bem maior (ou pelo menos o nível de drama, ou os dois, talvez). Gostei muito de ver no cinema.

    Interpreto que a experiência de Mahito foi uma viagem para dentro de si, analisando, procurando entender e enfrentando os desafios de sua própria mente, especialmente do subconsciente.

    Comentário contando partes do filme. Mostrar.

    A interpretação que fiz do filme durante sua exibição foi, mais ou menos, a seguinte:

    O mundo fantástico que o garoto adentra reside apenas em sua imaginação, em sua mente. O tom surreal surge quando os roteiristas decidem camuflar a separação entre o mundo real, de onde parte o enredo, com o mundo que, segundo minha interpretação, se passa na mente de Mahito, dando a sensação inicial de que esses mundos são um só (o que é desconstruido mais para frente, com a apresentação dos portais para diferentes dimensões, representados pelas portas numeradas). Meu argumento para afirmar que Miyazaki quis propor algo nesse sentido é o de que o garoto teve um primeiro contato com os elementos mais fundamentais do mundo fantástico/imaginário antes de mergulhar nele, ainda no seu mundo real. Quais seriam esses elementos?
    - A madrasta (que é também sua tia), cuja semelhança com a falecida mãe de Mahito parece incomoda-lo;
    - A garça-real que, num comportamento inesperado, ao voar pela varanda da nova casa do protagonista, ganha atenção especial dele;
    - A misteriosa construção erigida ao redor da pedra, notada por Mahito a partir de sua nova casa, e que ele insiste em entrar cada vez mais (no que interpreto como sendo uma insistência do personagem em adentrar seu próprio subconsciente, que está afetado pelo trauma que viveu, pelas brigas na escola e pelas demais mudanças recentes em sua vida, tornando-o assim um ambiente repleto de perigos);
    - a senhora que se aproxima dele para protegê-lo e o acompanha em sua jornada (passando a figurar, em determinado momento, com uma aparência mais jovem);
    - a figura misteriosa de seu ancestral, com o qual teve conhecimento nos retratos de família;
    - os demais animais com que passou a ter contato no novo ambiente, quando passou a residir mais próximo da natureza, e que, em sua imaginação, acabaram ganhando personalidades e formas visuais mais antrópicas.

    Tudo isso sem mencionar a memória de sua mãe, que, representada na imagem de uma menina mais jovem, está sempre a protegê-lo. A transformação disso tudo nas formas que adquirem no mundo fantástico seriam frutos da imaginação do garoto.

    Ninguém aqui perguntou ou pediu mais sobre minha opinião, hehe, mas aproveitando a escrita, interpretei também que cada uma das personagens no mundo imaginário de Mahito representa, obviamente, um aspecto de sua mentalidade:
    - A garça, que inicia o enredo como uma ameaça a integridade do protagonista, representa, ao meu ver, um lado autodestrutivo de sua personalidade (já manifestada pelo episódio de automutilação com a pedra, no retorno da escola), que busca atraí-lo cada vez mais para si, a fim de eliminar sua existência (cujo objetivo final, no mundo real, poderia vir a ser um suicídio);
    - A construção que abriga a pedra seria seu próprio subconsciente, repleto de enigmas, perigos e incômodos (como quando diferentes personagens afirmam que a rocha está incomodada com a presença deles), mas também com todos os elementos necessários para a solução de suas tormentas;
    - O ancestral, figura misteriosa que, ainda no mundo real, teve contato com a pedra que caiu do céu (evento este que está relacionado com o desaparecimento do próprio velho), poderia ser uma representação da relação que Mahito tem com suas raízes familiares e que, inconscientemente, muito influencia o funcionamento de sua mente, mas também a parte mais íntima do ego. Ele (o velho, tio-avô de Mahito) procura um substituto, alguém que ocupe sua posição de mantenedor da ordem daquele universo imaginário e que está a se destruir (universo esse que pode ser interpretado como a antiga cosmovisão de Mahito e que sua consciência, personificada na imagem do próprio garoto ao longo da sua aventura, se nega a conservar). Nesse sentido, também interpreto a figura do tio-avô como um lado perigoso de sua própria personalidade, que busca prender a consciência do protagonista cada vez mais dentro de sua própria mente, o que o faria negar a realidade dos fatos e todas as novas mudanças ao seu redor, podendo tornaná-lo um louco, como a lembrança do próprio velho se cristalizou na memória da família. De um ponto de vista ocidentalizado, o velho poderia até ser interpretado, talvez, como uma herança genética da família de Mahito que provoca uma propensão à loucura, pois dá-se uma ênfase bem forte de que o sucessor tem que ser do mesmo sangue do velho. A própria senhora que tenta conter Mahito de entrar no Castelo afirma que só os membros de sua família (família de Mahito) conseguem ouvir o tal chamado da pedra misteriosa.

    E, para não alongar esse relato da minha experiência com a obra, a própria figura de Mahito dentro de sua mente seria uma representação do que definimos como consciente/consciência, resolvendo os problemas desse mundo obscuro que seria seu subconsciente, mundo habitado por traumas, medos, sentimentos, mistérios e memórias afetivas, desafios, etc... A cena que o rei periquito derruba a estrutura em que Mahito está tentando escalar também me parece uma evidência de como tudo se passa na mente do menino, afinal de contas, mesmo após uma queda terrível, cheia de escombros, o garoto sobrevive e continua sua jornada.

    É claro que essa é minha interpretação, minha própria "viagem", pois, afinal de contas, tudo com o que temos contato na vida acaba sendo interpretado por nossas mentes de maneira singular e, já que as escolhas feitas para produção do filme sugerem que seus idealizadores queriam mesmo que cada espectador tivesse uma experiência bem singular (como o uso de metáforas, que operam de forma quase nada objetiva, por exemplo), não me senti nada desconfortável em abraçar e compartilhar minha própria interpretação, hehe. Recentemente passei por tormentas e experiências introspectivas bem intensas devido a manifestação da ansiedade em mim. Tenho certeza que isso me sensibilizou demais para absorver e atribuir significados tão detalhistas a cada um dos elementos dessa narrativa. Também perdi meu pai quando ainda criança, como o protagonista perde sua mãe, e reconheço que enchia o saco da minha mãe pra ela não entrar em nenhum novo relacionamento. Quando a garça, tentando capturar Mahito em sua armadilha feita com a ilusão da imagem de sua falecida mãe, fala algo como "ela não está mesmo morta, afinal você nunca a viu morta, correto?" me lembrou que eu também não vi o cadáver de meu pai. Após pensar isso, também lembrei das vezes quando reconheci que algumas paranoias operavam em minha mente (overthinking), o que me parece acontecer quando a falta de evidências na realidade (como chamamos o mundo externo a nossa consciência e que só temos contato através dos nossos sentidos) deixa um vácuo que a consciência tenta preencher com teorias infundadas e, por isso, perigosas. Mahito então se livra da armadilha de sua própria mente, manifestada através da figura da garça traiçoeira, utilizando o mesmo material do que é feita (a pena nº 7 da garça), dominando assim esse seu lado mais sombrio com a sua própria imaginação.

    Quem leu até aqui deve ter percebido que assimilei muita coisa a minha própria experiência (ou seja, abracei a minha interpretação da proposta dos criadores), mas tem uma coisa que, na hora que estava assistindo o filme, não concordei muito (mas que agora penso diferente): ao final, a garça diz que para Mahito poder viver no seu mundo real, ele deve esquecer e deixar para trás a lembrança do mundo visitou (sua mente, seu subconsciente). O garoto então mostra que trouxe alguns amuletos, fragmentos daquele mundo (imaginário), consigo. A garça então diz que aquilo não é bom, mas como não são amuletos muito poderosos (e aqui interpreto como lembranças não muito fortes da experiência) não deveria haver problema. Na hora achei que a lição era algo como "para continuar a viver na realidade, você não deve se deixar absorver pelas maquinações interpretativas de sua própria mente" (no caso representadas por todas as metáforas que listei), e rejeitei essa ideia porque não acredito que jamais voltemos a ser exatamente como éramos em algum momento do passado, pois estamos sempre a aprender e a mudar, mas sem nunca perder de fato as lembranças das experiências pelas quais passamos. No entanto, agora lembrando que ele leva os amuletos consigo, interpreto que de fato ele vai sempre carregar algo da jornada que viveu.

    Ao refletir sobre a experiência de ver o filme, lembrei de uma fala que ouvi uma vez num evento de História do Oriente. O apresentador falou de como há uma tradição oriental de se elaborar narrativas abusando de metáforas. Sem dúvida isso aparece também na Viagem de Chihiro e em Princesa Mononoke (aposto que aparece também em outros títulos do Miyazaki que ainda não assisti). Comentei algo assim a respeito, aqui no filmow, na caixa de comentários do filme A Viagem de Pi, que também faz largo uso de metáforas. Inclusive, nesse filme há até uma cutucada na vontade ocidental de busca pela "verdade", que é quando o entrevistador pergunta para Pi, já adulto, se há algo de verdade na história que ele contou convivendo com o tigre e os demais animais. Nisso, o protagonista fica com o semblante sério e responde contando uma nova versão da história, sem animais, só com humanos, relatando os episódios super violentos que teriam se sucedido após o naufrágio. Após essa outra versão da narrativa ele questiona o entrevistador dizendo algo como "assim é melhor para você?". Baita patada!

    Também poderia se argumentar um pouco sobre uma possível analogia/expressão oriental da relação recíproca entre macro e micro cosmos, mas daí é conversa que exige um boteco hehe.

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  • Filmow
    Filmow

    O Oscar 2017 está logo aí e teremos o nosso tradicional BOLÃO DO OSCAR FILMOW!

    Serão 3 vencedores no Bolão com prêmios da loja Chico Rei para os três participantes que mais acertarem nas categorias da premiação. (O 1º lugar vai ganhar um kit da Chico Rei com 01 camiseta + 01 caneca + 01 almofada; o 2º lugar 01 camiseta da Chico Rei; e o 3º lugar 01 almofada da Chico Rei.)

    Vem participar da brincadeira com a gente, acesse https://filmow.com/bolao-do-oscar/ para votar.
    Boa sorte! :)

    * Lembrando que faremos uma transmissão ao vivo via Facebook e Youtube da Casa Filmow na noite da cerimônia, dia 26 de fevereiro. Confirme presença no evento https://www.facebook.com/events/250416102068445/

  • Guilherme Silva
    Guilherme Silva

    Alo, amigo, já assistiu guerra civil? :D

  • Guilherme Silva
    Guilherme Silva

    Que mlk né uaheoahe

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