A síndrome da auto importância parece ter afetado a série que prometia ser meu prazer (agora bem mais) culposo. Modern Family encontra em seu terceiro ato a pior imersão narrativa que poderia ter escolhido, já que mesmo assumidamente conservadora, a série transforma as personagens em meras marionetes de um discurso americanizado tão grotesco quanto discutivelmente patriótico. Já não dando tanta importância as individualidades, e, ao contrário, experimentando-as para inserção de um diálogo alienado, a série e elenco se encontram em inércia de comicidade, onde as piadas se repetem desenfreadamente e o efeito só gera um sentimento de indiferença. Sequências de episódios catárticos dignos de um projeto auto-ajuda do Ryan Murphy, Modern Family quase chegaria ao fundo do poço aqui, não fosse o carinho construído por aquelas personagens em outrora.
O nível de comicidade da segunda temporada de Modern Family continua irretocável, e experimentando ainda mais o que indivíduos tão distintos tem em comum, a série ganha um contorno bem mais consciente do que se imaginava. Em termos estruturais e de objetivo, a série se mostra assumidamente conservadora, mas pela propriedade com a qual elenco e texto se apresentam diante das diversificações de temáticas em episódios catárticos, Modern Family acaba se transformando num prazer culposo sem precedentes.
Quando lançada em meados de 2009, Modern Family imediatamente se consagrou dentre as dezenas de sitcoms americanos não apenas pelo fato de ser propriamente engraçada e compreender sua identidade cômica, mas especialmente por ter se livrado dos cacoetes televisivos e ter renovado a fórmula do gênero com tamanha personalidade. Ainda que um tanto específica em seu teor cômico, Modern Family experimenta seus personagens, desconstruindo o dia a dia de um núcleo familiar americano por através da individualidade de cada um, num humor tão consciente quanto propriamente ácido.
Rever Lost após 10 anos de sua estréia na TV americana é uma experiência tão surpreendentemente revigorante quanto nostálgica. Em tempos onde as séries de TV ganharam estruturas estética e narrativa tão seriamente específicas, ver o que J.J. Abrams construiu aqui com uma trama entreaberta é no mínimo algo para encher os olhos. Sempre buscando a tênue que concerne o entretenimento televisivo e o fantástico imaginário, Lost é uma das poucas séries de TV que se preocupou em dar voz a seus personagens individualmente, embora tão assustadoramente indistintos um dos outros. Entre o paradoxo divino e humano, Abrams reúne nos 26 episódios da primeira temporada de Lost uma das mais bem resolvidas tramas de um série já feita, condensando em cada episódio valor próprio, para além de uma peça de um quebra cabeça espiritual a ser (des)montado.
Depois de uma terceira temporada que conseguia unir entretenimento com camadas de um estudo muito bem preenchido das entrelinhas daqueles personagens anteriormente apresentados, Breaking Bad assume em sua quarta temporada toda a estrutura atmosférica de grande série (que se tornou), inserindo na trama toques narrativos minimalistas que a cada novo episódio constroem o grande embate final entre Gus e Walter. Apesar de bem pontuada toda a ambição que essa temporada almeja, a falta do olhar clínico imposto ao terceiro ato sobre o núcleo interpessoal de Walt acaba por denotar aqui proeza épica narrativa que nunca é culminada completamente, e embora a estética cinematográfico da série ganhe um novo sentido dentro do que as personagens imprimem via as personificações do (brilhante) elenco, a forma com a qual moral e ficção se encontram na construção humana de cada indivíduo se desenvolve num ritmo desenfreado e extremamente impessoal, especialmente pelo fato de Walter White ainda se encontrar -psicologicamente- deslocado dentro da atmosfera ao qual é involuntariamente inserido.
As escolhas que Breaking Bad toma até esse terceiro ato foram bastante decisivas para eu continuar acompanhando a série. Com o pensamento otimista de que pior do que estava não podia ficar, resolvi continuar a compreender o processo de (des) mitificação de Walter White e elenco, numa das tramas mais difíceis que já experimentei. Não menos que impecável, o que é apresentado nessa terceira temporada instiga uma análise muito mais explícita e visceral daqueles personagens colocados à mercê de si mesmos. Numa construção narrativa bastante própria, e sem amarras, Breaking Bad concebe do primeiro ao último episódio um processo literal de sua tese a fim de investigar o que torna algo/alguém bom em mal. Bastante ambiciosa (ou seria apenas inocente?), a estrutura da série ganha densidade a partir do momento que se deixa ser carregada pelas ações (naturais) de seus personagens, sem toda aquela estrutura plástica que condensa a primeira e segunda temporada, tornando tudo aqui visivelmente real (apesar de transfigurada pelo melhor instinto ficcional). Jesse Pinkman volta a ser o ponto alto da série aqui. Sua personalidade ingênua, quase infantil, é tão humana que às vezes é quase perceptível ao espectador notar como Aaron Paul sente as mesmas frustrações do personagem que interpreta. Essa transposição entre ator-personagem acaba sendo um dos pontos mais bem trabalhados dentro do universo de Breaking Bad, configurando o estudo da série, que antes parecia querer ser somente transgressor e complexo, num ato muito mais humano que racional. Nesse sentido, o comando dos realizadores, que compreendem perfeitamente a tênue cinema-realidade na estética visual dos episódios, é bastante incisivo para a mesma se tornar a inevitável mistura de entretenimento com síntese (auto) consciente.
Sempre absorvi Grey’s Anatomy como uma série de processos, independente dos caminhos comerciais (que são inevitáveis para um drama como esse) tomados por Shonda Rhimes. A cada nova temporada a série vinha amadurecendo em algum ponto, seja por inflexões do escopo traumático de cada personagem, ou por ações cotidianas que compreendem a forma de relação um com o outro. Shonda sempre foi muita clara nesse aspecto, e talvez por isso ela se permita “brincar” com o corpo de atores que possui, em processos que refletem bem mais sobre nossa realidade contemporânea do que a ficção em si. Nessa 9ª temporada, a princípio, Shonda foca numa perspectiva mais expansiva para a série do que para os personagens. Há algo sendo tramado do primeiro ao último episódio. Essa decisão de apaziguar o clima da série, após duas temporadas complexas e intensas, tem como resposta a mesmice que sempre foi um dos problemas da narrativa de Grey’s Anatomy. Andando em círculos, sem um objetivo, Shonda e elenco adentram num pessimismo barato, e num dos piores momentos que a série já teve. Ainda que algumas tramas consigam se sobressair (como o processo de desconstrução matrimonial de Callie com Arizona), a série aqui perde praticamente todo o vigor dramático adulto que havia construído até então.
Levemente melhor que seu primeiro ato, a continuação literal de Breaking Bad se revela bem mais complexa do que parecia ser. Ainda relutando com muitas escolhas manjadas e manipulativas que a série toma para desenvolver Walter White, um dos personagens mais detestáveis já feitos (e brilhantemente interpretado por Bryan Cranston), confesso que nesse segundo momento consegui desenvolver empatia com algumas tramas da série. O personagem de Aaron Paul é sem dúvida o que mantém o pequeno rastro de sensibilidade que perpetua essa atmosfera crua da estética narrativa da série, e mesmo que o ator exagere no over-the-top, há honestidade concebida em cada diálogo do rapaz despirocado com qualquer outro personagem, que é praticamente impossível não nota-lo como um brutal reflexo do ser humano em seu detrimento. Paul consegue driblar a montagem arquetipada e oportunista da série e desenvolver um trabalho quase impecável dentro dos limites de Jesse Pinkman, e é talvez o único ali que não sirva de muleta para as atitudes maniqueístas e contraditórias do protagonista. Por fim, talvez o maior equívoco da série aqui seja achar que Walter possa se tornar uma espécie de ‘anti-herói’ emblemático, mas isso é pouco provável, já que o mesmo consegue se desconstruir à medida que é construído. Ainda sem saber se Breaking Bad é ou não a série importante que deseja ser, o que essa segunda temporada deixa claro é que as aparências realmente enganam.
Talvez pela grande expectativa que vinha cultivando até então, Breaking Bad se transformou num objeto quase imaculado da TV mundial pra mim, e mesmo com esforço e respeito pela coragem com a qual série e –principalmente- seu elenco se colocam dentro desse universo caricato e banal, explorado por uma narrativa meticulosa, não consegui desenvolver nenhum sentimento imediato com Breaking Bad. Uma temporada toda para apresentar os personagens (que não são apresentados, de fato!) é um processo bastante perigoso, pois mesmo conseguindo transgredir no que diz respeito à narrativa, a série sofre muito pelas situações manjadas e um humor negro que só serve como coolzismo de identificação. Tudo aqui soa muito cru, sem aspecto próprio ou ficcional demais. Se é que Breaking Bad é realmente o primor cult que tanto vinha se dizendo, essa primeira temporada falha ao mascarar qualquer potencial que se pode extrair da trama de um professor de Química, que ao descobrir-se com câncer de pulmão inoperável, se torna um (psicopata) traficante de metanfetamina canastrão.
É muito interessante analisar uma série como Homeland pós término de temporada, pois mesmo que os episódios sejam bastante esclarecedores (e às vezes hiper-realistas até), a série esconde uma faceta que de certa forma lhe dá característica própria, ou originalidade. A primeira temporada é toda voltada à apresentação dos personagens e seus devidos conflitos dentro daquilo que conceitua a política, ética e até a moral de cada um. Nesse segundo ato, porém, observamos que o interesse se volta expressamente a eles e a maneira com a qual lidam tais conflitos dentro e fora da zona interpessoal. Claire Danes, novamente, comanda toda a estrutura narrativa da série, o que de certa forma acaba sendo um problema pra mesma, já que o restante do elenco sofre para acompanhar o trabalho da atriz num mesmo nível dramático. Talvez até um pouco relaxada pela aclamação dos críticos, a série prefere explorar a zona de conforto do drama pré-estabelecido na primeira parte, mas a tensão e a subjetiva estrutura narrativa continuam presentes em grande parte dos episódios aqui como um reflexo do bom comando que a série possui. A segunda temporada de Homeland acerta em continuar a expor a estrutura complexa que forma a segurança nacional americana, mas são nos pormenores, nas entrelinhas dessa estrutura que série e elenco desenvolvem, que se encontra um dos mais brilhantes exercícios narrativos da TV americana nos últimos anos.
Os eventos (des) construídos na trama de Homeland partem de premissas de subtramas que encadeiam a História americana dos últimos 20 anos. Concebida pela tênue realidade-ficção, o plot vagamente baseado numa série Israelita (Prisioners of War) é basicamente sobre os efeitos políticos, diplomáticos e interpessoais da guerra e o medo que acomete a nação americana (ainda mais evidente pós-11 de Setembro). Atribuindo à atmosfera anêmica e acinzentada de boa parte dos episódios desse primeiro ato tonalidade subversiva quanto ao patriotismo que supostamente retrata a trama envolvendo uma agente da CIA (Claire Danes, em seu melhor momento) e sua obsessivo-compulsiva necessidade em salvar o mundo, o brilhante desenvolvimento narrativo, que não apenas consegue em sua primeira temporada dar sentimento aos personagens, em carga dramática excepcional, consegue explora-los a fim de compreender um estudo consciente e consistente sobre como os Estados Unidos se tornaram ao longo da História seu único e próprio inimigo. Todo o mistério e sede conspiratória que permeia essa primeira fase de Homeland, ainda que quase sublime, é apenas um retrato simbólico do que se tornou hoje a realidade diplomática mundial. Revoltante ou não, certo ou errado, mentira ou verdade, existe aqui um trabalho brutalmente honesto revelando o interesse humano dentro de tudo isso que conhecemos como sociedade.
O texto de Tony Kushner sobre os primórdios da AIDS é um marco literário, isso é um fato. Concomitantemente, é uma tremenda armadilha para quem o interpreta. Mike Nichols tinha total noção de que o Cinema de Angels In America ficaria à mercê de seu texto quando assumiu a impossível tarefa de transportá-lo para as telas, mas sendo as camadas que atribuem ao texto de Kushner o tom épico, o trunfo de Nichols ficaria por conta de sua capacidade visionária em traduzir isso tudo dentro da imagem. O vigor com o qual Nichols e elenco se entregam ao universo surreal e visceral de Angels In America confere às palavras de Tony Kushner significados que pareciam existir somente na intenção das mesmas, e com todo o cuidado e sutileza que somente Nichols teria para interpretá-las, Angels In America continua, após mais de 10 anos, como uma das obras mais importantes (e corajosas) do século.
Família Moderna (3ª Temporada)
4.5 233 Assista AgoraA síndrome da auto importância parece ter afetado a série que prometia ser meu prazer (agora bem mais) culposo. Modern Family encontra em seu terceiro ato a pior imersão narrativa que poderia ter escolhido, já que mesmo assumidamente conservadora, a série transforma as personagens em meras marionetes de um discurso americanizado tão grotesco quanto discutivelmente patriótico. Já não dando tanta importância as individualidades, e, ao contrário, experimentando-as para inserção de um diálogo alienado, a série e elenco se encontram em inércia de comicidade, onde as piadas se repetem desenfreadamente e o efeito só gera um sentimento de indiferença. Sequências de episódios catárticos dignos de um projeto auto-ajuda do Ryan Murphy, Modern Family quase chegaria ao fundo do poço aqui, não fosse o carinho construído por aquelas personagens em outrora.
Família Moderna (2ª Temporada)
4.5 233 Assista AgoraO nível de comicidade da segunda temporada de Modern Family continua irretocável, e experimentando ainda mais o que indivíduos tão distintos tem em comum, a série ganha um contorno bem mais consciente do que se imaginava. Em termos estruturais e de objetivo, a série se mostra assumidamente conservadora, mas pela propriedade com a qual elenco e texto se apresentam diante das diversificações de temáticas em episódios catárticos, Modern Family acaba se transformando num prazer culposo sem precedentes.
Família Moderna (1ª Temporada)
4.5 519 Assista AgoraQuando lançada em meados de 2009, Modern Family imediatamente se consagrou dentre as dezenas de sitcoms americanos não apenas pelo fato de ser propriamente engraçada e compreender sua identidade cômica, mas especialmente por ter se livrado dos cacoetes televisivos e ter renovado a fórmula do gênero com tamanha personalidade. Ainda que um tanto específica em seu teor cômico, Modern Family experimenta seus personagens, desconstruindo o dia a dia de um núcleo familiar americano por através da individualidade de cada um, num humor tão consciente quanto propriamente ácido.
Lost (1ª Temporada)
4.5 773 Assista AgoraRever Lost após 10 anos de sua estréia na TV americana é uma experiência tão surpreendentemente revigorante quanto nostálgica. Em tempos onde as séries de TV ganharam estruturas estética e narrativa tão seriamente específicas, ver o que J.J. Abrams construiu aqui com uma trama entreaberta é no mínimo algo para encher os olhos. Sempre buscando a tênue que concerne o entretenimento televisivo e o fantástico imaginário, Lost é uma das poucas séries de TV que se preocupou em dar voz a seus personagens individualmente, embora tão assustadoramente indistintos um dos outros. Entre o paradoxo divino e humano, Abrams reúne nos 26 episódios da primeira temporada de Lost uma das mais bem resolvidas tramas de um série já feita, condensando em cada episódio valor próprio, para além de uma peça de um quebra cabeça espiritual a ser (des)montado.
Breaking Bad (4ª Temporada)
4.7 1,2K Assista AgoraDepois de uma terceira temporada que conseguia unir entretenimento com camadas de um estudo muito bem preenchido das entrelinhas daqueles personagens anteriormente apresentados, Breaking Bad assume em sua quarta temporada toda a estrutura atmosférica de grande série (que se tornou), inserindo na trama toques narrativos minimalistas que a cada novo episódio constroem o grande embate final entre Gus e Walter. Apesar de bem pontuada toda a ambição que essa temporada almeja, a falta do olhar clínico imposto ao terceiro ato sobre o núcleo interpessoal de Walt acaba por denotar aqui proeza épica narrativa que nunca é culminada completamente, e embora a estética cinematográfico da série ganhe um novo sentido dentro do que as personagens imprimem via as personificações do (brilhante) elenco, a forma com a qual moral e ficção se encontram na construção humana de cada indivíduo se desenvolve num ritmo desenfreado e extremamente impessoal, especialmente pelo fato de Walter White ainda se encontrar -psicologicamente- deslocado dentro da atmosfera ao qual é involuntariamente inserido.
Breaking Bad (3ª Temporada)
4.6 839As escolhas que Breaking Bad toma até esse terceiro ato foram bastante decisivas para eu continuar acompanhando a série. Com o pensamento otimista de que pior do que estava não podia ficar, resolvi continuar a compreender o processo de (des) mitificação de Walter White e elenco, numa das tramas mais difíceis que já experimentei. Não menos que impecável, o que é apresentado nessa terceira temporada instiga uma análise muito mais explícita e visceral daqueles personagens colocados à mercê de si mesmos. Numa construção narrativa bastante própria, e sem amarras, Breaking Bad concebe do primeiro ao último episódio um processo literal de sua tese a fim de investigar o que torna algo/alguém bom em mal. Bastante ambiciosa (ou seria apenas inocente?), a estrutura da série ganha densidade a partir do momento que se deixa ser carregada pelas ações (naturais) de seus personagens, sem toda aquela estrutura plástica que condensa a primeira e segunda temporada, tornando tudo aqui visivelmente real (apesar de transfigurada pelo melhor instinto ficcional). Jesse Pinkman volta a ser o ponto alto da série aqui. Sua personalidade ingênua, quase infantil, é tão humana que às vezes é quase perceptível ao espectador notar como Aaron Paul sente as mesmas frustrações do personagem que interpreta. Essa transposição entre ator-personagem acaba sendo um dos pontos mais bem trabalhados dentro do universo de Breaking Bad, configurando o estudo da série, que antes parecia querer ser somente transgressor e complexo, num ato muito mais humano que racional. Nesse sentido, o comando dos realizadores, que compreendem perfeitamente a tênue cinema-realidade na estética visual dos episódios, é bastante incisivo para a mesma se tornar a inevitável mistura de entretenimento com síntese (auto) consciente.
A Anatomia de Grey (9ª Temporada)
4.4 645 Assista AgoraSempre absorvi Grey’s Anatomy como uma série de processos, independente dos caminhos comerciais (que são inevitáveis para um drama como esse) tomados por Shonda Rhimes. A cada nova temporada a série vinha amadurecendo em algum ponto, seja por inflexões do escopo traumático de cada personagem, ou por ações cotidianas que compreendem a forma de relação um com o outro. Shonda sempre foi muita clara nesse aspecto, e talvez por isso ela se permita “brincar” com o corpo de atores que possui, em processos que refletem bem mais sobre nossa realidade contemporânea do que a ficção em si. Nessa 9ª temporada, a princípio, Shonda foca numa perspectiva mais expansiva para a série do que para os personagens. Há algo sendo tramado do primeiro ao último episódio. Essa decisão de apaziguar o clima da série, após duas temporadas complexas e intensas, tem como resposta a mesmice que sempre foi um dos problemas da narrativa de Grey’s Anatomy. Andando em círculos, sem um objetivo, Shonda e elenco adentram num pessimismo barato, e num dos piores momentos que a série já teve. Ainda que algumas tramas consigam se sobressair (como o processo de desconstrução matrimonial de Callie com Arizona), a série aqui perde praticamente todo o vigor dramático adulto que havia construído até então.
Breaking Bad (2ª Temporada)
4.5 775Levemente melhor que seu primeiro ato, a continuação literal de Breaking Bad se revela bem mais complexa do que parecia ser. Ainda relutando com muitas escolhas manjadas e manipulativas que a série toma para desenvolver Walter White, um dos personagens mais detestáveis já feitos (e brilhantemente interpretado por Bryan Cranston), confesso que nesse segundo momento consegui desenvolver empatia com algumas tramas da série. O personagem de Aaron Paul é sem dúvida o que mantém o pequeno rastro de sensibilidade que perpetua essa atmosfera crua da estética narrativa da série, e mesmo que o ator exagere no over-the-top, há honestidade concebida em cada diálogo do rapaz despirocado com qualquer outro personagem, que é praticamente impossível não nota-lo como um brutal reflexo do ser humano em seu detrimento. Paul consegue driblar a montagem arquetipada e oportunista da série e desenvolver um trabalho quase impecável dentro dos limites de Jesse Pinkman, e é talvez o único ali que não sirva de muleta para as atitudes maniqueístas e contraditórias do protagonista. Por fim, talvez o maior equívoco da série aqui seja achar que Walter possa se tornar uma espécie de ‘anti-herói’ emblemático, mas isso é pouco provável, já que o mesmo consegue se desconstruir à medida que é construído. Ainda sem saber se Breaking Bad é ou não a série importante que deseja ser, o que essa segunda temporada deixa claro é que as aparências realmente enganam.
Breaking Bad (1ª Temporada)
4.5 1,4K Assista AgoraTalvez pela grande expectativa que vinha cultivando até então, Breaking Bad se transformou num objeto quase imaculado da TV mundial pra mim, e mesmo com esforço e respeito pela coragem com a qual série e –principalmente- seu elenco se colocam dentro desse universo caricato e banal, explorado por uma narrativa meticulosa, não consegui desenvolver nenhum sentimento imediato com Breaking Bad. Uma temporada toda para apresentar os personagens (que não são apresentados, de fato!) é um processo bastante perigoso, pois mesmo conseguindo transgredir no que diz respeito à narrativa, a série sofre muito pelas situações manjadas e um humor negro que só serve como coolzismo de identificação. Tudo aqui soa muito cru, sem aspecto próprio ou ficcional demais. Se é que Breaking Bad é realmente o primor cult que tanto vinha se dizendo, essa primeira temporada falha ao mascarar qualquer potencial que se pode extrair da trama de um professor de Química, que ao descobrir-se com câncer de pulmão inoperável, se torna um (psicopata) traficante de metanfetamina canastrão.
Homeland: Segurança Nacional (2ª Temporada)
4.5 525 Assista AgoraÉ muito interessante analisar uma série como Homeland pós término de temporada, pois mesmo que os episódios sejam bastante esclarecedores (e às vezes hiper-realistas até), a série esconde uma faceta que de certa forma lhe dá característica própria, ou originalidade. A primeira temporada é toda voltada à apresentação dos personagens e seus devidos conflitos dentro daquilo que conceitua a política, ética e até a moral de cada um. Nesse segundo ato, porém, observamos que o interesse se volta expressamente a eles e a maneira com a qual lidam tais conflitos dentro e fora da zona interpessoal. Claire Danes, novamente, comanda toda a estrutura narrativa da série, o que de certa forma acaba sendo um problema pra mesma, já que o restante do elenco sofre para acompanhar o trabalho da atriz num mesmo nível dramático. Talvez até um pouco relaxada pela aclamação dos críticos, a série prefere explorar a zona de conforto do drama pré-estabelecido na primeira parte, mas a tensão e a subjetiva estrutura narrativa continuam presentes em grande parte dos episódios aqui como um reflexo do bom comando que a série possui. A segunda temporada de Homeland acerta em continuar a expor a estrutura complexa que forma a segurança nacional americana, mas são nos pormenores, nas entrelinhas dessa estrutura que série e elenco desenvolvem, que se encontra um dos mais brilhantes exercícios narrativos da TV americana nos últimos anos.
Homeland: Segurança Nacional (1ª Temporada)
4.4 535 Assista AgoraOs eventos (des) construídos na trama de Homeland partem de premissas de subtramas que encadeiam a História americana dos últimos 20 anos. Concebida pela tênue realidade-ficção, o plot vagamente baseado numa série Israelita (Prisioners of War) é basicamente sobre os efeitos políticos, diplomáticos e interpessoais da guerra e o medo que acomete a nação americana (ainda mais evidente pós-11 de Setembro). Atribuindo à atmosfera anêmica e acinzentada de boa parte dos episódios desse primeiro ato tonalidade subversiva quanto ao patriotismo que supostamente retrata a trama envolvendo uma agente da CIA (Claire Danes, em seu melhor momento) e sua obsessivo-compulsiva necessidade em salvar o mundo, o brilhante desenvolvimento narrativo, que não apenas consegue em sua primeira temporada dar sentimento aos personagens, em carga dramática excepcional, consegue explora-los a fim de compreender um estudo consciente e consistente sobre como os Estados Unidos se tornaram ao longo da História seu único e próprio inimigo. Todo o mistério e sede conspiratória que permeia essa primeira fase de Homeland, ainda que quase sublime, é apenas um retrato simbólico do que se tornou hoje a realidade diplomática mundial. Revoltante ou não, certo ou errado, mentira ou verdade, existe aqui um trabalho brutalmente honesto revelando o interesse humano dentro de tudo isso que conhecemos como sociedade.
Angels in America
4.2 126 Assista AgoraO texto de Tony Kushner sobre os primórdios da AIDS é um marco literário, isso é um fato. Concomitantemente, é uma tremenda armadilha para quem o interpreta. Mike Nichols tinha total noção de que o Cinema de Angels In America ficaria à mercê de seu texto quando assumiu a impossível tarefa de transportá-lo para as telas, mas sendo as camadas que atribuem ao texto de Kushner o tom épico, o trunfo de Nichols ficaria por conta de sua capacidade visionária em traduzir isso tudo dentro da imagem. O vigor com o qual Nichols e elenco se entregam ao universo surreal e visceral de Angels In America confere às palavras de Tony Kushner significados que pareciam existir somente na intenção das mesmas, e com todo o cuidado e sutileza que somente Nichols teria para interpretá-las, Angels In America continua, após mais de 10 anos, como uma das obras mais importantes (e corajosas) do século.
Angels in America
4.2 126 Assista AgoraÉpico em todos os sentidos!