Luane

Um filme que te leva para dentro do tribunal e te faz sentir como se você fosse o réu.

Pelo menos foi assim que me senti assistindo Monstro, especialmente com os close-ups no rosto do júri popular. A defesa de Steve, sempre muito assertiva. E o melhor: o elenco, que parece escolhido a dedo, com inúmeros jovens atores promissores do cinema norte-americano.

Você fica tenso como a família esperando o resultado, e começa a refletir como as instituições estatais tem poder para fazer o que quiser com as vidas negras. Por que se você nasceu negro, já nasceu culpado.

O filme também, por ser muito intimista, te faz sentir um pouco do que é estar dentro do sistema prisional... ataques de pânico, abuso de guardas e prisioneiros, a violência do estado mais uma vez, que julga jovens adolescentes como adultos e os colocam juntos, diminuindo ainda mais as chances de ressocialização dos mais novos, que tem todo o seu futuro destruído por uma lógica racista.

Steve, para mim, nunca pareceu um monstro. Mas é assim que a sociedade enxerga qualquer jovem negro, desumanizando-nos por completo.

Um achado na Netflix. Muito bom!

Esse filme me tocou lá no fundo da alma, lá naquele cantinho escondido que a gente depois que vira "gente grande" tenta esquecer e esconder a todo custo, vai colocando paredes, muros e muralhas, que é pra ninguém tocar lá. Aí chega um filme desse, com uma narrativa tão singela, mas ao mesmo tempo tão vibrante, e te fisga, te pega. Me identifiquei demais com a Deusimar... essa vontade gigante de ir embora, mas o apego por ficar. Essa espera que alguém chegue e te puxe pelo braço, mesmo sabendo que se tu não der o primeiro passo sozinha, nem adianta. O cinema nacional e sua melancolia, de alguma forma eu já estava esperando receber uma pedrada, mas não sabia que seria tão forte.

A vida tá correndo, Deusimar!

Lindeza de filme! Recomendo a todos os jovens negros e negras, e os não jovens também, amantes de audiovisual. Um filme potente, impactante. Que de início pode incomodar nossos olhares colonizados por uma câmera torta, trêmula, uma iluminação não tão boa, mas que vai nos ganhando a cada cena. E esse é mesmo o propósito, nos desafiar, nos instigar, nos tocar. Um filme cheio de metalingaguens, como a sacada genial da personagem chamada Brasil: que invisível passa por entre as pessoas e ninguém a vê, gritando que os "ratos" levaram tudo. Que ratos levaram tudo do Brasil? Os colonizadores, talvez. Além disso, o próprio nome do filme é uma metáfora. Quando Emerson fala que ninguém consegue sair daquela Ilha, me pergunto qual é a minha Ilha. Quais são as minhas limitações que não me tiram do lugar em que estou. Um filme sobre cinema de preto que desafia o cinema dominante que exclui negros e negras. "Para todos os meninos e meninas que escolheram o cinema, mas que o cinema não os escolheu". Me acabei em lágrimas nessa cena final pois enquanto mulher negra e amante audiovisual, sei o quanto é difícil adentrar esse universo, o quanto as portas são fechadas para nós, que somos excluídos de festivais, de premiações, de mostras, das salas comerciais de cinema. Glenda Nicácio e Ary Rosa, obrigada por retratar o pretagonismo em suas obras!