Robert Redford já colaborou bastante para o cinema americano, tanto como ator, quanto diretor de dramas inesquecíveis, mas nos últimos tempos tem encontrado dificuldade para achar equilíbrio atrás das câmeras. Este novo trabalho, adaptado por Lem Dobbs, roteirista responsável por títulos como Kafka, A Cartada Final e Cidade das Sombras, deveria ser um thriller investigativo sobre a fuga de um ex-terrorista e a pesquisa de um jovem jornalista; mas os enormes problemas de ritmo, deixam as mais de 2 horas quase insuportáveis. Por outro lado, o enorme grupo de talentosos atores alivia um pouco o enfado, com grandes destaques para Brit Marling, Julie Christie e Susan Sarandon.
Depois de passar quase duas décadas dividindo a atenção entre famílias disfuncionais e casais hipster, o cinema independente americano experimenta um novo momento na sua produção, o qual pode ser chamado de 'cinema pré-apocalíptico'. A exemplo de filmes como A Outra Terra, Margin Call, Martha Marcy May Marlene e Depois das Aulas, existe um contrato velado e um gosto em comum por dramas discretamente ameaçadores, histórias aparentemente simples e já conhecidas, mas que deixam o espectador sempre a um passo de distância enquanto se preparam para um potente ataque final. Este Sound of My Voice é um bom exemplo deste nicho; a história acompanha um casal que investiga um misterioso culto, mas nada tem das afetações comuns ao cinema policial ou de suspense, e prefere focar no poder das interpretações. Destaque total para Brit Marling, que além de ser co-roteirista, rouba todo o filme para si, inclusive quando não está em cena.
Segundo longa metragem de Marston, responsável pelo arrebatador Maria Cheia de Graça, Forgiveness é quase tão intenso quanto o antecessor, mas toca em motas mais brandas. A história faz lembrar Abril Despedaçado; estão lá as duas famílias numa absurda rixa que se arrasta por gerações e cujas dívidas são pagas com sangue, mas diferente do brasileiro, este aqui se passa no presente, o que potencializa o absurdo da situação. A dupla de protagonistas, os dois adolescentes que se veem presos dentro de casa com medo da retaliação da família rival, impressiona pela profundidade e gravidade de suas performances, especialmente quando sabemos que essa foi a primeira experiência deles como atores. No geral, o filme permanece uma nota abaixo do anterior, mas Marston prova que é um cineasta para ser acompanhado muito atentamente.
Se Drive colocou Nicolas Winding Refn de um vez por todas no mapa do cinema mundial, inclusive lhe rendendo um prêmio em Cannes, não seria difícil pensar, em comparação, que Only God Forgives seja um filme capaz de fazê-lo desaparecer. A espantosa queda de qualidade em relação ao anterior salta aos olhos durante todo o filme: são escolhas fotográficas que tentam chamar mais atenção do que as personagens, que por sua vez não geram a menor empatia, dificultando a criação de qualquer conexão que seja. Se em Drive a expressão apática de Ryan Gosling adicionava bastante à figura do motorista, aqui ele parece apenas entediado com o pandemônio que se forma à sua volta. O único ponto verdadeiramente positivo está na figura maléfica da mãe, interpretada por Kristin Scott Thomas com índices equivalentes de lascívia e loucura. A última mamãe tão ameaçadora a aparecer nas telas foi aquela de Jacki Weaver em Reino Animal; que inclusive é um filme muito mais interessante para aqueles que procuram algo sobre a complicada relação entre família e crime.
Sem dúvida o filme mais colorido, debochado, e gay de Almodóvar, Amantes Passageiros é um retorno ao exagero de seu cinema noventista, que foi abandonado para dar lugar a dramas intensos como Tudo Sobre Minha Mãe e Má Educação. Apesar de ser bastante divertido, principalmente graças ao impecável timing cômico de todo o elenco, é fato que o humor se apoia quase que completamente em piadas sexuais dignas do mais chulo pastelão adolescente, e que por pouco não caem no mau gosto; e isto somado a um problemático roteiro, que não dá conta de seus inúmeros personagens e tramas. De qualquer maneira, Almodóvar é sempre um deleite para os olhos, e fazia bastante tempo que suas cores não vinham tão berrantes e sua câmera chamava tanta atenção.
Depois de Lúcia é um bom exemplo de como a fixação de certos realizadores contemporâneos em explorar com minúcia e estilo as agruras da vida de seus personagens, quase sempre desemboca em filmes plasticamente belos e impactantes, mas absolutamente esvaziados de substância. A história da menina Alexandra e seu pai que, cada um à sua maneira, lidam com uma brutalizante violência diária, poderia ser uma leitura sagaz sobre luto, bullying e crueldade, mas acaba quase como o mais genérico dos torture-porn.
Imagens como Clementine sumindo no lago congelado, Joel abrindo os olhos durante seu tratamento, ou o casal se divertindo numa Montauk coberta de neve me transportaram para os primeiros momentos da minha cinefilia, quando apenas belas composições conseguiam me cativar; mas o surpreendente é notar, tantos anos depois, que o filme de Gondry realmente tem força para além de sua magnífica construção visual. Existe tanta mágoa e dúvida por trás de cada frase dita -o que se torna ainda mais cruel por conta da edição que nos permite ver como a alegria do passado se deteriorou lentamente- que me parece quase ofensivo entender este como um simples romance, à despeito de sua enorme influência na estrutura do gênero e no cinema independente americano dos anos 2000 como um todo. Coisas como 500 Dias Com Ela, Ruby Sparks, ou Loucamente Apaixonados jamais existiriam, se Brilho Eterno não tivesse pavimentado o caminho de maneira muito mais eficaz.
Anos atrás quando desafiou cinéfilos mundo afora com Primer, seu engenhoso debut, o ex-matemático Shane Carruth prometia ser uma voz interessante dentro do cinema independente americano. Infelizmente levou quase uma década para que ele voltasse a criar, porém a espera valeu a pena; Carruth entrega um filme tão poderoso quanto o antecessor, mas que ao contrário daquele, é muito mais sensorial do que cerebral. Upstream Color é uma ficção científica enigmática, que bebe de fontes tão diversas quanto Lynch, Cronenberg, Kafka e K. Dick, para compor a história de duas pessoas unidas por um evento bizarro, que procuram entender os comos e os porquês daquela situação. No entanto, nada fica claro para o espectador -inclusive a minha leitura é puramente subjetiva- já que o diretor/roteirista/protagonista conduz seu filme à margem daquilo que nos acostumamos a entender como 'narrativa' e abusa de sons e imagens, em detrimento de diálogos, para se fazer entender. Faz bastante tempo que um filme não desafia o espectador, de maneira tão saudável, como este.
Provocação é a palavra que melhor condensa a experiência do espectador com Leviathan. O documentário da dupla de antropólogos e video artistas Lucien Castaing-Taylor e Verena Paravel poderia ser descrito como um cruzamento entre Brakhage e Lynch: de um, o brutal experimentalismo visual e narrativo, de outro o clima soturno e alucinógeno. O poder das imagens granuladas, escuras e estouradas dos diretores reside principalmente na amostragem crua do mundo da pesca comercial; pois ao descer a câmera para o nível dos peixes que agonizam antes do abate, das arraias dilaceradas por ganchos de ferro e pelas ostras pisoteadas sem dó, os diretores forçam o espectador a se confrontar com sua posição de predador. É um poema deprimente e violento, mas que conquista a atenção como poucos documentários tão radicais já conseguiram.
Um misto de memorial, homenagem e carta de amor à coreógrafa Pina Bausch, o filme de Wenders caminha sob o limiar de documentário e video-dança, e por isso parece um pouco disforme. As performances são absolutamente impecáveis, inclusive por serem acompanhadas de uma trilha sonora inesquecível; mas a estrutura escolhida por Wenders não parece tão segura, e por conta da montagem bastante fragmentada o filme pode se tornar um pouco enfadonho para quem não conhece o trabalho de Pina; já que não há introdução didática sobre sua vida e obra. À parte isso, este é um dos melhores exemplos de bom uso da tecnologia 3D que se viu recentemente no cinema; por vezes surge a vontade de levantar da poltrona e ir dançar junto com os bailarinos.
Seria quase impossível prever que, após o impecável exercício de narratividade que foi Cópia Fiel, Abbas Kiarostami conseguiria tirar mais ideias mirabolantes da cartola. Um Alguém Apaixonado, filme produzido, atuado e filmado em terras japonesas, é a prova de que não se deve subestimar o iraniano. Conduzindo o público por rigorosos e silenciosos planos, Kiarostami foi feliz em se rodear de atores impecáveis para contar sua história que, ao contrário do que diz o título, não fala simplesmente sobre amor ou paixão. A relação entre a prostituta, o idoso que encontra na jovem uma curiosa amizade, e o namorado ciumento dela, é apenas a base de um filme que analisa a fundo a construção de uma relação entre dois seres humanos e, apesar de parecer tão estático, tem muito a dizer sobre o que faz os corpos se movimentarem. Não é tão intrigante quando Cópia Fiel, mas mantêm o nível de excelência pelo qual o diretor é conhecido.
A viagem sentimental de Alessandra Negrini pela noite do Rio de Janeiro após ser abandonada pelo marido é, sem sombra de dúvida, um dos mais belos estudos sobre o universo feminino já feitos no cinema brasileiro, e um exemplar raro de filme que mesmo repleto de silêncios e tempos mortos, consegue dialogar com qualquer público. Negrini é sabidamente uma atriz com curto alcance dramático, e os trabalhos com Júlio Bressane continuam como seus maiores trunfos, mas Ainouz usa corpo, espírito e vibração da própria, para dar vida à sua protagonista, e assim, Violeta e Negrini se tornam uma só; machucada e perdida, apenas aguardando o destino lhe indicar uma direção. Falar sobre os aspectos técnicos -como por exemplo o impecável desenho de som- se torna quase irrelevante, frente à imensidão de sentimento que Ainouz construiu aqui.
Sofia Coppola continua a mapear todas as arestas do mundo que ela conhece bem, aquele onde uma pesada máscara de maquiagem e status escondem um profundo abismo, e Bling Ring funciona como uma atualização comicamente triste da vida vazia que levavam as personagens de seu primeiro filme, As Virgens Suicidas. Aqui ela também trata de adolescentes com sérios problemas, mas diferente das jovens forçadamente recatadas e oprimidas de outrora, as meninas e rapazes aqui são quasi-sociopatas, vivendo sob uma cartilha de desleixo, aspiração à um status de subcelebridade e, veja só, crime. Apesar de ter grandes problemas na sua construção, o roteiro de Sofia é fiel à discrição e fluidez que marcam sua obra até aqui; as cores são muitas e a música é alta, mas o tédio é grande, e as consequências chegam rápido. Em tempo: o trio principal, formado por Broussard, Chang e Watson costuram tão bem cinismo, deslumbramento e carisma que se torna quase impossível não querer se render à um momento de futilidade e embarcar na aventura idiota deles.
pra os colegas que muito criticam a cena da máquina de lavar, porque esta foi 'chupada do seriado Mad Men', uma mensagem, tirada da página do filme no facebook:
Lemos e ouvimos esse tema algumas vezes, e essa semana recebemos um email de reclamação muito engraçado. Daí, resolvemos nos pronunciar sobre assunto de muito pouca importância: O Som ao Redor não plagiou o extraordinário seriado da AMC Mad Men, atualmente na sua 6a. temporada, no uso de uma máquina de lavar como vibrador, ok? A cena de Betty Draper na máquina de lavar é da 1a. temporada de Mad Men, que foi ao ar em 2007. O Som ao Redor plagia descaradamente o filme Eletrodoméstica, por coincidência do mesmo diretor e roteirista, Kleber Mendonça Filho. A cena em questão, em Eletrodoméstica, foi escrita em 1994, filmada em 2004 e o curta metragem, um dos mais premiados do cinema brasileiro na última década, lançado em 2005. Mad Men foi ao ar em 2007, e o uso de música brasileira na cena de Betty e sua máquina nos parece uma piscada de olho simpática à origem da cena. Discuss.
Não existe nada mais importante em Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios do que o corpo de Camila Pitanga. Continuando uma preferência temática iniciada em Crime Delicado, Brant transforma uma mulher em entidade, e atribui à imagem dela todas as culpas e delícias da vida de um homem. Assim, qualquer movimento da pequena e velada guerra que se instaura entre os personagens de Zé Carlos e Gustavo Machado não tem outro motivo que não o desejo de ser o único possuidor dos lábios de Lavínia, interpretada por Pitanga com precisão milimétrica, caminhando pelo limiar entre inocência e lascívia. Muito recatada, para logo depois se expor uma força da natureza, a história da personagem vai sendo revelada lentamente, acompanhando a crescente tensão entre seu marido, pastor evangélico, e Cauby, fotógrafo que está de passagem pela região.
A primeira cena do longa, uma moça nativa posando sensualmente para a lente às margens de um rio, estabelece muito daquilo que virá a acontecer depois. Cauby vê o mundo através da câmera, e até mesmo se desaponta quando percebe um motivo interessante e não está com ela nas mãos. Gustavo Machado acompanha muito bem esse olhar, fazendo do fotógrafo um tipo boêmio, que trabalha quando quer e se entrega totalmente aos prazeres da bebida e da arte. Sua relação com Lavínia, e com a vida, parece ser o reverso da que estabeleceu com Marina Previato em O Amor Segundo B. Schianberg, também de Brant e Ciasca, onde ele e seu corpo eram os motivos principais da arte de sua parceira. Aqui, após o primeiro encontro, as paredes se enchem de fotos da moça, e não demora para aquele se tornar um amor proibido, secreto, que termina por ganhar as bocas do povo através do jornalista interpretado por Gero Camilo. É um emaranhado de pequenos momentos, como aqueles em que Gero ecita poemas sobre a condição humana, ou quando o pastor de Zé Carlos Machado prega para uma plateia que parece alheia a seus ensinamentos, que faz deste o trabalho mais peculiar de Brant em muito tempo.
Adaptado do romance homônimo, que é provavelmente o melhor livro de Marçal Aquino, parceiro constante dos realizadores, existe um caráter de urgência muito importante aqui. Para aqueles que acompanham a carreira de Beto Brant, antes e depois de sua parceria com Renato Ciasca, a curva de tom que tem ocorrido em seu cinema é óbvia. Antes interessado num cinema frenético, violento, o diretor parece agora buscar os mais discretos movimentos da vida, e como na viagem sentimental de Júlio Rocha em Cão Sem Dono, entender os motivos pelo qual o homem se move, ou prefere permanecer estático. E aqui, apesar do final quase alegórico, e um pouco excessivo, é perceptível esse desejo permanente de radiografar um pequeno momento da vida.
Antes do gay-cinema a qual será -se já não foi- relegado, Weekend é um filme sobre desertos. Um homem num deserto de emoções tem um encontro fortuito com um outro, este num deserto de oportunidades. O que se segue no projeto de cinema de Andrew Haigh, que desenvolvia já em seu primeiro longa, o falso-documentário Greek Pete sobre as agruras na vida de um rent boy, é um exame clínico da relação de duas personas, mas não um estudo delas. Haigh não pretende esmiuçar as almas de suas criações, porque ele mesmo, enquanto autor, não se interessa em conhecer inteiramente o que fez. Os homens feridos de Weekend são como os Gerrys de Gus Van Sant, duas criaturas perdidas numa vastidão de possibilidades, que terminam por fazer escolhas que lhes parecem mais cabíveis.
E abrindo caminho nesta analogia, o deserto assassino e revelador que Van Sant propõe em seu filme de 2003 é mais semelhante à urbe londrina do que o olhar perceba. Assim como Damon e Affleck improvisavam em meio a rochas e cactos e imprevisibilidades, Cullen e New são como Gerrys da cidade, que lidam tão corajosa/covardemente com seus homofóbicos, solidões e planos de futuro. A batalha que se confunde com amor e polariza e encanta enquanto dói que Gus propõe, não está nada longe do sexo cheio de dúvidas, e ainda assim repetido com constância, no filme de Haigh, são dores tão parecidas quanto os planos propostos deixam o espectador sentir.
Ver este Weekend sendo quase uma reprodução de seu protagonista é estar num deserto. É abraçar a vida de Russell e chorar as lágrimas que o rapaz segura a cada vez que olha por sua janela, e se depara com um vista repleta de nada. E é principalmente questionar o amor, e a impossibilidade dele, com violência, como se faz numa das mais longas e impressionantes sequencias, entre àquelas mais verborrágicas e mumblecoreanas, onde o citado protagonista se contradiz, se confunde, mas fala mesmo perdido e encharcado de bebida que “ninguém, de maneira nenhuma, consegue viver sozinho”, expondo de uma vez por todas seu mais íntimo desejo, uma vontade de estar num conto-de-fadas moderno, uma relação única, que o meio parece não permitir. Assim ele se engana por meio de encontros fortuitos, este fotografado sendo o mais importante deles.(...)
Um filme monumental. Talvez o blockbuster definitivo de uma época como De Volta Para o Futuro foi a décadas atrás. O fechamento da saga de Harry Potter é elétrico, violento, apaixonado, nervoso, poético. David Yates se coroa como o melhor dos diretores a tomar as rédeas da série, e atinge outro nível de profundidade dramática. Todas as sequências tem duração e condução muito precisos, e momentos especiais como a leitura dos pensamentos de Snape na penseira e a invasão de Hogwarts pelos comensais da morte ganham contornos menos mágicos e mais humanos. Enfim, não vou me alongar muito aqui, mas é fato que este 7.2, se não o melhor filme da série, é um dos melhores filmes do ano. www.kinemail.com.br
Semanas atrás, pesquisando sobre o cinema australiano, conheci um filme chamado Fat Pizza. Ele constava em listas dos melhores filmes que o país já havia produzido, assim como em outras de piores filmes da história, e talvez as duas classificações estejam certas. Fat Pizza é uma comédia de baixíssimo orçamento, baseada no programa de TV homônimo, uma espécie de cruzamento australiano entre Hermes & Renato e Zorra Total, que não tem qualquer compromisso com a decência ou o bom gosto. Todas as cenas são vulgares, preconceituosas, escatológicas e, por consequência, divertidíssimas pra quem sabe apreciar um filme ruim por convicção. E por isso, enquanto assistia a Cilada.com, o filme australiano não me saia da cabeça. O trabalho de José Alvarenga Jr. e Bruno Mazzeo não vai entrar em nenhuma lista de melhores ou piores da história, -talvez apenas do ano- mas o mau gosto e o aspecto de TV filmada estão lá. Cilada.com é uma extensão do programa que Mazzeo escrevia e protagonizava no canal fechado Multishow, então chamado apenas de Cilada. Na série, que chegava a ser divertida com seu humor ácido e inteligente, o ator esmiuçava situações constrangedoras que todo mundo já passou um dia, as famosas “roubadas”. Quando a série acabou, o próximo passo seria, é claro, transpor o sucesso para o cinema. As consequências não chegam a ser catastróficas, mas o nível de vulgaridade gratuita alcançado é impressionante para o padrão que as comédias brasileiras estabeleceram. A primeira referência clara é a scat-comedy americana, mistura de pastelão com escatologia que fez sucesso no final dos anos 90 em filmes como American Pie e Todo Mundo em Pânico, além da inspiração confessa no recente Se Beber Não Case, o que deve explicar o roteiro randômico. As situações absurdas surgem na mesma velocidade em que o vídeo constrangedor do protagonista se espalha na internet, e quando o roteiro, escrito por Mazzeo em parceria com Rosana Ferrão e Marcelo Saback, se presta observar momentos românticos com sensibilidade novelesca, a coisa se torna insuportável. Sensibilidade novelesca essa que deve ser atribuída ao também corroteirista e diretor José Alvarenga Jr. Responsável por filmes dos Trapalhões e o recente Divã, além de um sem número de novelas, Alvarenga não sabe utilizar as pequenas faíscas de inteligência do filme, e se mantêm preso a um dilema romântico pífio. A direção de atores também parece ter sido suprimida por egos e tiques, já que todos interpretam a si mesmos. Fernanda Paes Leme, linda e não muito competente, não convence como par romântico; a química entre ela e Mazzeo é mais parecida com a de dois amigos do que de um casal apaixonado. Também fazendo pontas estão Carol Castro, Fúlvio Stefanini, Serjão Loroza e mais outras dezenas de nomes “globais”. Até mesmo a fotografia de Nonato Estrela em RED digital tem cara de televisão, e como sempre, a última impressão é que você está na poltrona da sua casa vendo um especial de fim de ano.
Sem Proteção
3.0 124 Assista AgoraRobert Redford já colaborou bastante para o cinema americano, tanto como ator, quanto diretor de dramas inesquecíveis, mas nos últimos tempos tem encontrado dificuldade para achar equilíbrio atrás das câmeras. Este novo trabalho, adaptado por Lem Dobbs, roteirista responsável por títulos como Kafka, A Cartada Final e Cidade das Sombras, deveria ser um thriller investigativo sobre a fuga de um ex-terrorista e a pesquisa de um jovem jornalista; mas os enormes problemas de ritmo, deixam as mais de 2 horas quase insuportáveis. Por outro lado, o enorme grupo de talentosos atores alivia um pouco o enfado, com grandes destaques para Brit Marling, Julie Christie e Susan Sarandon.
A Seita Misteriosa
3.4 205Depois de passar quase duas décadas dividindo a atenção entre famílias disfuncionais e casais hipster, o cinema independente americano experimenta um novo momento na sua produção, o qual pode ser chamado de 'cinema pré-apocalíptico'. A exemplo de filmes como A Outra Terra, Margin Call, Martha Marcy May Marlene e Depois das Aulas, existe um contrato velado e um gosto em comum por dramas discretamente ameaçadores, histórias aparentemente simples e já conhecidas, mas que deixam o espectador sempre a um passo de distância enquanto se preparam para um potente ataque final. Este Sound of My Voice é um bom exemplo deste nicho; a história acompanha um casal que investiga um misterioso culto, mas nada tem das afetações comuns ao cinema policial ou de suspense, e prefere focar no poder das interpretações. Destaque total para Brit Marling, que além de ser co-roteirista, rouba todo o filme para si, inclusive quando não está em cena.
O Perdão de Sangue
3.5 15Segundo longa metragem de Marston, responsável pelo arrebatador Maria Cheia de Graça, Forgiveness é quase tão intenso quanto o antecessor, mas toca em motas mais brandas. A história faz lembrar Abril Despedaçado; estão lá as duas famílias numa absurda rixa que se arrasta por gerações e cujas dívidas são pagas com sangue, mas diferente do brasileiro, este aqui se passa no presente, o que potencializa o absurdo da situação. A dupla de protagonistas, os dois adolescentes que se veem presos dentro de casa com medo da retaliação da família rival, impressiona pela profundidade e gravidade de suas performances, especialmente quando sabemos que essa foi a primeira experiência deles como atores. No geral, o filme permanece uma nota abaixo do anterior, mas Marston prova que é um cineasta para ser acompanhado muito atentamente.
Apenas Deus Perdoa
3.0 630 Assista AgoraSe Drive colocou Nicolas Winding Refn de um vez por todas no mapa do cinema mundial, inclusive lhe rendendo um prêmio em Cannes, não seria difícil pensar, em comparação, que Only God Forgives seja um filme capaz de fazê-lo desaparecer. A espantosa queda de qualidade em relação ao anterior salta aos olhos durante todo o filme: são escolhas fotográficas que tentam chamar mais atenção do que as personagens, que por sua vez não geram a menor empatia, dificultando a criação de qualquer conexão que seja. Se em Drive a expressão apática de Ryan Gosling adicionava bastante à figura do motorista, aqui ele parece apenas entediado com o pandemônio que se forma à sua volta. O único ponto verdadeiramente positivo está na figura maléfica da mãe, interpretada por Kristin Scott Thomas com índices equivalentes de lascívia e loucura. A última mamãe tão ameaçadora a aparecer nas telas foi aquela de Jacki Weaver em Reino Animal; que inclusive é um filme muito mais interessante para aqueles que procuram algo sobre a complicada relação entre família e crime.
Os Amantes Passageiros
3.1 648 Assista AgoraSem dúvida o filme mais colorido, debochado, e gay de Almodóvar, Amantes Passageiros é um retorno ao exagero de seu cinema noventista, que foi abandonado para dar lugar a dramas intensos como Tudo Sobre Minha Mãe e Má Educação. Apesar de ser bastante divertido, principalmente graças ao impecável timing cômico de todo o elenco, é fato que o humor se apoia quase que completamente em piadas sexuais dignas do mais chulo pastelão adolescente, e que por pouco não caem no mau gosto; e isto somado a um problemático roteiro, que não dá conta de seus inúmeros personagens e tramas. De qualquer maneira, Almodóvar é sempre um deleite para os olhos, e fazia bastante tempo que suas cores não vinham tão berrantes e sua câmera chamava tanta atenção.
Depois de Lúcia
3.8 1,1K Assista AgoraDepois de Lúcia é um bom exemplo de como a fixação de certos realizadores contemporâneos em explorar com minúcia e estilo as agruras da vida de seus personagens, quase sempre desemboca em filmes plasticamente belos e impactantes, mas absolutamente esvaziados de substância. A história da menina Alexandra e seu pai que, cada um à sua maneira, lidam com uma brutalizante violência diária, poderia ser uma leitura sagaz sobre luto, bullying e crueldade, mas acaba quase como o mais genérico dos torture-porn.
Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças
4.3 4,7K Assista AgoraImagens como Clementine sumindo no lago congelado, Joel abrindo os olhos durante seu tratamento, ou o casal se divertindo numa Montauk coberta de neve me transportaram para os primeiros momentos da minha cinefilia, quando apenas belas composições conseguiam me cativar; mas o surpreendente é notar, tantos anos depois, que o filme de Gondry realmente tem força para além de sua magnífica construção visual. Existe tanta mágoa e dúvida por trás de cada frase dita -o que se torna ainda mais cruel por conta da edição que nos permite ver como a alegria do passado se deteriorou lentamente- que me parece quase ofensivo entender este como um simples romance, à despeito de sua enorme influência na estrutura do gênero e no cinema independente americano dos anos 2000 como um todo. Coisas como 500 Dias Com Ela, Ruby Sparks, ou Loucamente Apaixonados jamais existiriam, se Brilho Eterno não tivesse pavimentado o caminho de maneira muito mais eficaz.
Cores do Destino
3.5 196 Assista AgoraAnos atrás quando desafiou cinéfilos mundo afora com Primer, seu engenhoso debut, o ex-matemático Shane Carruth prometia ser uma voz interessante dentro do cinema independente americano. Infelizmente levou quase uma década para que ele voltasse a criar, porém a espera valeu a pena; Carruth entrega um filme tão poderoso quanto o antecessor, mas que ao contrário daquele, é muito mais sensorial do que cerebral. Upstream Color é uma ficção científica enigmática, que bebe de fontes tão diversas quanto Lynch, Cronenberg, Kafka e K. Dick, para compor a história de duas pessoas unidas por um evento bizarro, que procuram entender os comos e os porquês daquela situação. No entanto, nada fica claro para o espectador -inclusive a minha leitura é puramente subjetiva- já que o diretor/roteirista/protagonista conduz seu filme à margem daquilo que nos acostumamos a entender como 'narrativa' e abusa de sons e imagens, em detrimento de diálogos, para se fazer entender. Faz bastante tempo que um filme não desafia o espectador, de maneira tão saudável, como este.
Leviathan
3.7 9 Assista AgoraProvocação é a palavra que melhor condensa a experiência do espectador com Leviathan. O documentário da dupla de antropólogos e video artistas Lucien Castaing-Taylor e Verena Paravel poderia ser descrito como um cruzamento entre Brakhage e Lynch: de um, o brutal experimentalismo visual e narrativo, de outro o clima soturno e alucinógeno. O poder das imagens granuladas, escuras e estouradas dos diretores reside principalmente na amostragem crua do mundo da pesca comercial; pois ao descer a câmera para o nível dos peixes que agonizam antes do abate, das arraias dilaceradas por ganchos de ferro e pelas ostras pisoteadas sem dó, os diretores forçam o espectador a se confrontar com sua posição de predador. É um poema deprimente e violento, mas que conquista a atenção como poucos documentários tão radicais já conseguiram.
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Pina
4.4 408Um misto de memorial, homenagem e carta de amor à coreógrafa Pina Bausch, o filme de Wenders caminha sob o limiar de documentário e video-dança, e por isso parece um pouco disforme. As performances são absolutamente impecáveis, inclusive por serem acompanhadas de uma trilha sonora inesquecível; mas a estrutura escolhida por Wenders não parece tão segura, e por conta da montagem bastante fragmentada o filme pode se tornar um pouco enfadonho para quem não conhece o trabalho de Pina; já que não há introdução didática sobre sua vida e obra. À parte isso, este é um dos melhores exemplos de bom uso da tecnologia 3D que se viu recentemente no cinema; por vezes surge a vontade de levantar da poltrona e ir dançar junto com os bailarinos.
Um Alguém Apaixonado
3.6 117 Assista AgoraSeria quase impossível prever que, após o impecável exercício de narratividade que foi Cópia Fiel, Abbas Kiarostami conseguiria tirar mais ideias mirabolantes da cartola. Um Alguém Apaixonado, filme produzido, atuado e filmado em terras japonesas, é a prova de que não se deve subestimar o iraniano. Conduzindo o público por rigorosos e silenciosos planos, Kiarostami foi feliz em se rodear de atores impecáveis para contar sua história que, ao contrário do que diz o título, não fala simplesmente sobre amor ou paixão. A relação entre a prostituta, o idoso que encontra na jovem uma curiosa amizade, e o namorado ciumento dela, é apenas a base de um filme que analisa a fundo a construção de uma relação entre dois seres humanos e, apesar de parecer tão estático, tem muito a dizer sobre o que faz os corpos se movimentarem. Não é tão intrigante quando Cópia Fiel, mas mantêm o nível de excelência pelo qual o diretor é conhecido.
www.abananaprolixa.com
O Abismo Prateado
3.3 214 Assista AgoraA viagem sentimental de Alessandra Negrini pela noite do Rio de Janeiro após ser abandonada pelo marido é, sem sombra de dúvida, um dos mais belos estudos sobre o universo feminino já feitos no cinema brasileiro, e um exemplar raro de filme que mesmo repleto de silêncios e tempos mortos, consegue dialogar com qualquer público. Negrini é sabidamente uma atriz com curto alcance dramático, e os trabalhos com Júlio Bressane continuam como seus maiores trunfos, mas Ainouz usa corpo, espírito e vibração da própria, para dar vida à sua protagonista, e assim, Violeta e Negrini se tornam uma só; machucada e perdida, apenas aguardando o destino lhe indicar uma direção. Falar sobre os aspectos técnicos -como por exemplo o impecável desenho de som- se torna quase irrelevante, frente à imensidão de sentimento que Ainouz construiu aqui.
Bling Ring - A Gangue de Hollywood
3.0 1,7K Assista AgoraSofia Coppola continua a mapear todas as arestas do mundo que ela conhece bem, aquele onde uma pesada máscara de maquiagem e status escondem um profundo abismo, e Bling Ring funciona como uma atualização comicamente triste da vida vazia que levavam as personagens de seu primeiro filme, As Virgens Suicidas. Aqui ela também trata de adolescentes com sérios problemas, mas diferente das jovens forçadamente recatadas e oprimidas de outrora, as meninas e rapazes aqui são quasi-sociopatas, vivendo sob uma cartilha de desleixo, aspiração à um status de subcelebridade e, veja só, crime. Apesar de ter grandes problemas na sua construção, o roteiro de Sofia é fiel à discrição e fluidez que marcam sua obra até aqui; as cores são muitas e a música é alta, mas o tédio é grande, e as consequências chegam rápido. Em tempo: o trio principal, formado por Broussard, Chang e Watson costuram tão bem cinismo, deslumbramento e carisma que se torna quase impossível não querer se render à um momento de futilidade e embarcar na aventura idiota deles.
O Som ao Redor
3.8 1,1K Assista Agorapra os colegas que muito criticam a cena da máquina de lavar, porque esta foi 'chupada do seriado Mad Men', uma mensagem, tirada da página do filme no facebook:
Lemos e ouvimos esse tema algumas vezes, e essa semana recebemos um email de reclamação muito engraçado. Daí, resolvemos nos pronunciar sobre assunto de muito pouca importância: O Som ao Redor não plagiou o extraordinário seriado da AMC Mad Men, atualmente na sua 6a. temporada, no uso de uma máquina de lavar como vibrador, ok? A cena de Betty Draper na máquina de lavar é da 1a. temporada de Mad Men, que foi ao ar em 2007. O Som ao Redor plagia descaradamente o filme Eletrodoméstica, por coincidência do mesmo diretor e roteirista, Kleber Mendonça Filho. A cena em questão, em Eletrodoméstica, foi escrita em 1994, filmada em 2004 e o curta metragem, um dos mais premiados do cinema brasileiro na última década, lançado em 2005. Mad Men foi ao ar em 2007, e o uso de música brasileira na cena de Betty e sua máquina nos parece uma piscada de olho simpática à origem da cena. Discuss.
Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios
3.5 554 Assista AgoraNão existe nada mais importante em Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios do que o corpo de Camila Pitanga. Continuando uma preferência temática iniciada em Crime Delicado, Brant transforma uma mulher em entidade, e atribui à imagem dela todas as culpas e delícias da vida de um homem. Assim, qualquer movimento da pequena e velada guerra que se instaura entre os personagens de Zé Carlos e Gustavo Machado não tem outro motivo que não o desejo de ser o único possuidor dos lábios de Lavínia, interpretada por Pitanga com precisão milimétrica, caminhando pelo limiar entre inocência e lascívia. Muito recatada, para logo depois se expor uma força da natureza, a história da personagem vai sendo revelada lentamente, acompanhando a crescente tensão entre seu marido, pastor evangélico, e Cauby, fotógrafo que está de passagem pela região.
A primeira cena do longa, uma moça nativa posando sensualmente para a lente às margens de um rio, estabelece muito daquilo que virá a acontecer depois. Cauby vê o mundo através da câmera, e até mesmo se desaponta quando percebe um motivo interessante e não está com ela nas mãos. Gustavo Machado acompanha muito bem esse olhar, fazendo do fotógrafo um tipo boêmio, que trabalha quando quer e se entrega totalmente aos prazeres da bebida e da arte. Sua relação com Lavínia, e com a vida, parece ser o reverso da que estabeleceu com Marina Previato em O Amor Segundo B. Schianberg, também de Brant e Ciasca, onde ele e seu corpo eram os motivos principais da arte de sua parceira. Aqui, após o primeiro encontro, as paredes se enchem de fotos da moça, e não demora para aquele se tornar um amor proibido, secreto, que termina por ganhar as bocas do povo através do jornalista interpretado por Gero Camilo. É um emaranhado de pequenos momentos, como aqueles em que Gero ecita poemas sobre a condição humana, ou quando o pastor de Zé Carlos Machado prega para uma plateia que parece alheia a seus ensinamentos, que faz deste o trabalho mais peculiar de Brant em muito tempo.
Adaptado do romance homônimo, que é provavelmente o melhor livro de Marçal Aquino, parceiro constante dos realizadores, existe um caráter de urgência muito importante aqui. Para aqueles que acompanham a carreira de Beto Brant, antes e depois de sua parceria com Renato Ciasca, a curva de tom que tem ocorrido em seu cinema é óbvia. Antes interessado num cinema frenético, violento, o diretor parece agora buscar os mais discretos movimentos da vida, e como na viagem sentimental de Júlio Rocha em Cão Sem Dono, entender os motivos pelo qual o homem se move, ou prefere permanecer estático. E aqui, apesar do final quase alegórico, e um pouco excessivo, é perceptível esse desejo permanente de radiografar um pequeno momento da vida.
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Final de Semana
3.9 518 Assista AgoraAntes do gay-cinema a qual será -se já não foi- relegado, Weekend é um filme sobre desertos. Um homem num deserto de emoções tem um encontro fortuito com um outro, este num deserto de oportunidades. O que se segue no projeto de cinema de Andrew Haigh, que desenvolvia já em seu primeiro longa, o falso-documentário Greek Pete sobre as agruras na vida de um rent boy, é um exame clínico da relação de duas personas, mas não um estudo delas. Haigh não pretende esmiuçar as almas de suas criações, porque ele mesmo, enquanto autor, não se interessa em conhecer inteiramente o que fez. Os homens feridos de Weekend são como os Gerrys de Gus Van Sant, duas criaturas perdidas numa vastidão de possibilidades, que terminam por fazer escolhas que lhes parecem mais cabíveis.
E abrindo caminho nesta analogia, o deserto assassino e revelador que Van Sant propõe em seu filme de 2003 é mais semelhante à urbe londrina do que o olhar perceba. Assim como Damon e Affleck improvisavam em meio a rochas e cactos e imprevisibilidades, Cullen e New são como Gerrys da cidade, que lidam tão corajosa/covardemente com seus homofóbicos, solidões e planos de futuro. A batalha que se confunde com amor e polariza e encanta enquanto dói que Gus propõe, não está nada longe do sexo cheio de dúvidas, e ainda assim repetido com constância, no filme de Haigh, são dores tão parecidas quanto os planos propostos deixam o espectador sentir.
Ver este Weekend sendo quase uma reprodução de seu protagonista é estar num deserto. É abraçar a vida de Russell e chorar as lágrimas que o rapaz segura a cada vez que olha por sua janela, e se depara com um vista repleta de nada. E é principalmente questionar o amor, e a impossibilidade dele, com violência, como se faz numa das mais longas e impressionantes sequencias, entre àquelas mais verborrágicas e mumblecoreanas, onde o citado protagonista se contradiz, se confunde, mas fala mesmo perdido e encharcado de bebida que “ninguém, de maneira nenhuma, consegue viver sozinho”, expondo de uma vez por todas seu mais íntimo desejo, uma vontade de estar num conto-de-fadas moderno, uma relação única, que o meio parece não permitir. Assim ele se engana por meio de encontros fortuitos, este fotografado sendo o mais importante deles.(...)
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Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2
4.3 5,2K Assista AgoraUm filme monumental. Talvez o blockbuster definitivo de uma época como De Volta Para o Futuro foi a décadas atrás. O fechamento da saga de Harry Potter é elétrico, violento, apaixonado, nervoso, poético. David Yates se coroa como o melhor dos diretores a tomar as rédeas da série, e atinge outro nível de profundidade dramática. Todas as sequências tem duração e condução muito precisos, e momentos especiais como a leitura dos pensamentos de Snape na penseira e a invasão de Hogwarts pelos comensais da morte ganham contornos menos mágicos e mais humanos. Enfim, não vou me alongar muito aqui, mas é fato que este 7.2, se não o melhor filme da série, é um dos melhores filmes do ano.
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Cilada.com
2.5 1,8KSemanas atrás, pesquisando sobre o cinema australiano, conheci um filme chamado Fat Pizza. Ele constava em listas dos melhores filmes que o país já havia produzido, assim como em outras de piores filmes da história, e talvez as duas classificações estejam certas. Fat Pizza é uma comédia de baixíssimo orçamento, baseada no programa de TV homônimo, uma espécie de cruzamento australiano entre Hermes & Renato e Zorra Total, que não tem qualquer compromisso com a decência ou o bom gosto. Todas as cenas são vulgares, preconceituosas, escatológicas e, por consequência, divertidíssimas pra quem sabe apreciar um filme ruim por convicção. E por isso, enquanto assistia a Cilada.com, o filme australiano não me saia da cabeça. O trabalho de José Alvarenga Jr. e Bruno Mazzeo não vai entrar em nenhuma lista de melhores ou piores da história, -talvez apenas do ano- mas o mau gosto e o aspecto de TV filmada estão lá.
Cilada.com é uma extensão do programa que Mazzeo escrevia e protagonizava no canal fechado Multishow, então chamado apenas de Cilada. Na série, que chegava a ser divertida com seu humor ácido e inteligente, o ator esmiuçava situações constrangedoras que todo mundo já passou um dia, as famosas “roubadas”. Quando a série acabou, o próximo passo seria, é claro, transpor o sucesso para o cinema. As consequências não chegam a ser catastróficas, mas o nível de vulgaridade gratuita alcançado é impressionante para o padrão que as comédias brasileiras estabeleceram. A primeira referência clara é a scat-comedy americana, mistura de pastelão com escatologia que fez sucesso no final dos anos 90 em filmes como American Pie e Todo Mundo em Pânico, além da inspiração confessa no recente Se Beber Não Case, o que deve explicar o roteiro randômico. As situações absurdas surgem na mesma velocidade em que o vídeo constrangedor do protagonista se espalha na internet, e quando o roteiro, escrito por Mazzeo em parceria com Rosana Ferrão e Marcelo Saback, se presta observar momentos românticos com sensibilidade novelesca, a coisa se torna insuportável.
Sensibilidade novelesca essa que deve ser atribuída ao também corroteirista e diretor José Alvarenga Jr. Responsável por filmes dos Trapalhões e o recente Divã, além de um sem número de novelas, Alvarenga não sabe utilizar as pequenas faíscas de inteligência do filme, e se mantêm preso a um dilema romântico pífio. A direção de atores também parece ter sido suprimida por egos e tiques, já que todos interpretam a si mesmos. Fernanda Paes Leme, linda e não muito competente, não convence como par romântico; a química entre ela e Mazzeo é mais parecida com a de dois amigos do que de um casal apaixonado. Também fazendo pontas estão Carol Castro, Fúlvio Stefanini, Serjão Loroza e mais outras dezenas de nomes “globais”. Até mesmo a fotografia de Nonato Estrela em RED digital tem cara de televisão, e como sempre, a última impressão é que você está na poltrona da sua casa vendo um especial de fim de ano.
A Cor Púrpura
4.4 1,4K Assista AgoraHoje em dia esse melodrama do Spielberg virou motivo de chacota. Eu continuo achando emocionante.
Paranóia
3.5 1,5K Assista Agoracomo ofender alfred hitchcock em 100 minutos.
A Liberdade
3.8 10lisandro alonso, eu te amo.
Ventre
3.7 271duas palavras: BENEDEK FLIEGAUF
Irreversível
4.0 1,8K Assista AgoraLe temps détruit tout.
Crash: No Limite
3.9 1,2Kpara dançar isso aqui é: Bomba