Se continuar a crescer de nível, a parceira entre Zal Batmanglij e Brit Marling -iniciada em Sound Of My Voice-, pode se tornar uma das mais prolíficas do indie americano. As personagens gélidas e misteriosas que ambos criam, e a moça encarna, funcionam como agentes hipnóticos, que prendem completamente a atenção do espectador nas tramas aparentemente simples, mas carregadas de discussão técnica e social. Em The East, que examina o cotidiano de um grupo “ecoterrorista” através do olhar de uma agente secreta infiltrada, a tensão é mantida num nível aceitável, e o fio condutor de toda a história é a validade (ou não) dos esforços punitivos da célula. Não há espaço para didatismos ou velhos clichês do filme de espionagem, Batmanglij e Marlin fazem um cinema muito particular sobre organismos coletivos, que sobrevivem mais de influência do que de violência.
Assim como os filmes de Katy Perry e Justin Bieber, este aqui é propaganda barata disfarçada de cinema; mas obviamente agrada aos fãs, que é seu objetivo primeiro. Como banda, o One Direction não tem a menor vergonha de ser um produto asséptico e industrial saído do forno de Simon Cowell, mas os garotos parecem ser pessoas realmente simpáticas, apesar das barreiras que o filme impõe na leitura de suas personalidades. Duas surpresas: Martin Scorsese sendo obrigado a tietar os rapazes por conta das netas, e a surpreendente informação de que o diretor do filme é Morgan Spurlock, do ótimo Super Size Me; parece que ele gosta mesmo de falar de lixo.
Parece haver algo de feminista nos projetos que Paul Feig tem escolhido. Depois de provar, através do sucesso de Bridesmaids, que mulheres podem dominar totalmente uma ensemble comedy, Feig experimenta agora colocar as moças à frente de outro nicho humorístico: o policial. Apesar da direção correta e do roteiro com momentos inspiradíssimos, As Bem Armadas deve todos os seus pontos positivos à Melissa McCarthy e, especialmente, Sandra Bullock. McCarthy vem ganhando severa projeção nos últimos anos, e Sandra mostra aqui, mais uma vez, porque é uma atriz tão querida; o que ela pode não ter em alcance dramático, compensa maravilhosamente com carisma. Se o roteiro não fosse tão óbvio -e talvez o seja para provar que mulheres podem, obviamente, se sair tão bem num gênero que os homens comandam desde sempre- As Bem Armadas seria memorável.
Tão asséptico e climático quanto Afterschool, sua aclamada estreia, Simon Killer é um claro avanço de Antonio Campos no domínio de sua linguagem, visível principalmente na brincadeira engenhosa que ele faz com o cinema noir; mais que um 'neo', este aqui pode ser classificado como um “pós-noir”. Brady Corbet e Mati Diop estão maravilhosos como o rapaz frágil e a prostituta fria, que pouco tempo depois se livram bruscamente desses rótulos para surpreender o espectador de maneira vigorosa, sem usar viradas fáceis de roteiro. Campos continua focado em fazer com que o som e a cor do quadro comuniquem tanto quanto o diálogo ou a composição, e mais uma vez ele acerta milimetricamente nas escolhas.
O terreno dos filmes de 'coming-of-age' é um dos mais populosos e repleto de bobagens do cinema americano; raridade encontrar um filme que, mesmo cheio de limitações consegue encantar simplesmente por sua paixão àquilo que retrata. The Kings Of Summer é desses exemplares que já vimos inúmeras vezes (estão lá os amigos inseparáveis, a figura estranha, a aventura perigosa, a paixão implacável), feitos com incrível energia e capacidade de encantar, mas sem verdadeira substância -um exemplo recente, ainda que enverede por outra vertente do “gênero”, é As Vantagens de Ser Invisível. Impossível não render créditos ao trio de protagonistas, tão naturais quanto amigos de infância e, ao estreante Jordan Vogt-Roberts, que parece não ter deixado seus anos como diretor de TV influenciarem negativamente sua primeira incursão no cinema.
Joe Swanberg é um dos meus diretores prediletos. Através do punhado de filmes que ele faz anualmente, é possível enxergar um artista criando, experimentando e estudando seu ofício com paixão e curiosidade comoventes. O que faz Drinking Buddies destoar de sua extensa obra, é que ele marca um passo mais largo neste experimentalismo. Se antes o que interessava ao rapaz era brincar com a estrutura do roteiro, com a mobilidade da câmera e com a habilidade de seus atores, agora ele parece se desafiar a fazer um filme “comum”. Drinking Buddies ainda é, assim como grande parte de seus trabalhos, um filme sobre pessoas falando, e recebendo reações àquilo que falaram, mas existe uma linha a ser seguida, existe uma tensão crescente, existe verdadeiro desenvolvimento de personagens. Swanberg não recorta um pedaço de história para deixar o espectador curioso sobre o antes e o depois; pela primeira vez temos começo, meio e fim. Somado a isso estão as performances irretocáveis de Wilde, Johnson e Kendrick, que concedem um tom quase documental ao filme, tamanha sua naturalidade. Swanberg já é uma de minhas maiores referências, e este aqui só serve para eu admirá-lo ainda mais.
O sonho/pesadelo/viagem espiritual que Reygadas propõe com este Post Tenebras Lux demanda uma dose generosa de paciência e sensibilidade do espectador para ser bem absorvido; e mesmo aqueles habituados à linguagem hermética do diretor podem se sentir oprimidos pela quantidade de charadas presentes em cada imagem. A história acompanha uma família que deixa a Cidade do México e inicia nova vida no interior, e experimenta as novas convenções sociais de maneira muito particular. Reygadas escolhe fotografar tudo no tradicional formato 1.33:1, e ainda distorce a borda do quadro, conferindo um aspecto fantástico ao filme. Ainda não consigo ter certeza se acho poderoso ou prolixo, mas é certamente um dos mais corajosos exemplos de cinema a surgir nos últimos anos.
Dizer adeus (?) a Celine e Jesse é também acompanhar a busca por um final feliz que teima em não acontecer, para aquela que deve ser a maior história de amor que o cinema já viu -se não em sentimento certamente em extensão. A honestidade sempre foi o maior trunfo da trilogia que Linklater construiu junto à Delpy e Hawke, e sendo assim, seria impossível que o diretor afastasse o olhar para as tensões e cobranças criadas quando um relacionamento amadurece. Antes da Meia Noite tem muito menos leveza que os dois filmes anteriores, e requer uma adaptação do olhar, por mais penoso que isso seja; este não é mais um filme sobre pessoas se (re)encontrando, desta vez elas estão se redescobrindo totalmente, e este é um processo bastante doloroso.
Ainda mais pertinente nessa época em que revoluções tem estourado pelo mundo, o filme de Farocki e Ujica sobre a derrocada de Nicolau Ceaucescu é, além de um importantíssimo documento sobre a não muito conhecida história da Romênia, uma verdadeira aula sobre o poder da edição. Formatado totalmente a partir de imagens de arquivo, o filme remonta a mesma história a partir de vários pontos de vista, afim de compreender como nossos olhos processam a informação, e como eles podem se enganar.
É muito fácil compreender os motivos para The Canyons ser tão odiado; a construção primária e deliberadamente fria da velha trama sobre ciúme e obsessão na cidade do cinema é um pouco demais para o público aguentar, mas existe um charme tão irresistível de cinema B no filme de Schrader -que ele faz questão de realçar escalando uma atriz decadente e uma estrela pornô como protagonistas- que o filme se torna quase um artefato cult; um trabalho consciente de seus inúmeros defeitos e que não tem qualquer vergonha deles. Se não outra coisa, é impressionante ver como Lindsay Lohan usa toda a bagagem adquirida em celas de prisão e clinicas de reabilitação à favor de sua personagem.
É raro -e louvável- encontrar um filme com personagens gays onde preconceito e aceitação não sejam o cerne do roteiro. Morgan poderia ser um bom exemplo desse nicho, mas são tantos os pontos jogando contra o filme, que não é difícil esquecê-lo poucos minutos após a sessão. A trama acompanha um ex-ciclista que lida com a recente condição de paraplégico, enquanto inicia um relacionamento com um rapaz que conheceu por acaso. O roteiro poderia até render algo interessante, pela maneira desassombrada que lida com os dramas do protagonista, mas todos os atores são sofríveis, a ponto de minarem qualquer chance de maior conexão com a história. O terço final desanda para um melodrama despropositado, mas nesse ponto ninguém mais está interessado no rumo que as coisas vão tomar.
Pode parecer bastante aborrecida a ideia de acompanhar uma trama sobre um Plymouth Valiant laranja que passa a ser inexplicavelmente perseguido e ameaçado por um enorme caminhão nas inóspitas estradas do deserto americano; mas o tom frenético que a montagem e o impecável desenho de som conferem a este Encurralado -equivocadamente tido como o primeiro trabalho de Steven Spielberg-, não deixa que a atenção do espectador seja desviada em momento algum. Criado na verdade como um especial de televisão, e que depois chegou às telas grandes graças à boa recepção da crítica, o filme é basicamente um monólogo de Dennis Weaver, enquanto ele foge, sem qualquer heroísmo, de um maníaco que tem como arma um estranho caminhão. Não chega a ser propriamente um 'car movie' mas tem sequencias que não devem nada ao gênero
Talvez por sua enganosa publicidade, que faz os desavisados sobre o teor do livro em qual este The Wall se baseia esperarem algo próximo de um suspense, o choque e o ajuste de percepções pode ser um pouco brusco. Apesar de realmente ser uma história de sobrevivência, o filme de Julian Pölsler se interessa muito mais em dar um mergulho profundo na alma humana, do que observar como o corpo presente se conecta com o mundo exterior e a natureza. Assim como os recentes Upstream Color e Post Tenebras Lux, a melhor maneira de acompanhar a trama é tentar submergir completamente na proposta, e especialmente na impressionante atuação de Martina Gedeck, como a mulher que se vê inexplicavelmente isolada quando uma parede invisível se coloca entre ela e a civilização.
Não existe nada de novo ou propriamente instigante neste Flores Raras, mas apenas a sensação de estar vendo um filme e não um especial televisivo ou episódio de novela -o que é ocorrência comum no cinema brasileiro- já é bastante gratificante. O maior mérito vai para a fotografia de Mauro Pinheiro Jr., que garante as texturas e cores básicas, mas aparentemente ignoradas pelo 'mainstream' do cinema nacional. Otto e Pires não tem grande química, e a coadjuvante Tracy Middendorf acaba roubando algumas cenas como a mulher preterida que aceita compartilhar o teto com a rival. Nesse sentido, parte da culpa recai sobre o combo bastante fraco de roteiro e direção, que de tão assépticos mal se fazem notar. No mais, vale para aqueles que, como eu, não conheciam a história do romance entre Elizabeth Bishop e Lota de Macedo Soares; e também como um curioso exercício de tolerância para as plateias médias que, a partir das maneiras honestas do filme e da presença de uma global famosa validando a experiência, podem se tornar algo mais compreensivas quanto à homossexualidade.
Por ocasião do lançamento de Frances Ha, resolvi revisitar este que é um de meus exemplares preferidos do mumblecore, e também do cinema de Joe Swanberg. Um filme que acompanha tópicos tão díspares quanto a complexidade do casamento e o ofício do ator, Alexander The Last representou uma quebra no que Swanberg vinha construindo até então. Se o experimentalismo visual e narrativo eram o maior interesse do realizador, neste aqui é possível notar maior controle e cuidado com a fotografia e com a direção de atores - Weixler, Rice e Seimetz estão impecáveis.
A bagagem que Greta Gerwig trouxe dos longos anos como atriz-fetiche dos diretores do Mumblecore fica evidente no roteiro que ela co-escreve com Noah Baumbach para este Frances Ha. Se a amargura filosófica e prolixa daquele cinema foi deixada de lado para dar lugar à uma comédia ágil e incrivelmente refinada, Gerwig e Baumbach também não pendem tanto para a ironia auto-depreciativa, como faz, por exemplo, Lena Dunham no seu seriado Girls, outro rebento indireto dos cinemas de Andrew Bujalski e Joe Swanberg. Frances Ha é um filme muito simples sobre uma adulta que ainda não consegue se colocar como tal, e encontra alguns percalços -leia-se empregos incertos, namoros malsucedidos e uma relação excessiva com a melhor amiga- pelo caminho; mas que não sofre em demasia e não vê tudo com pesar e dificuldade (sofrimento esse que o cinema independente contemporâneo parece achar absurdamente necessário para se validar). Mesmo em meio à um punhado de adversidades Frances acha espaço para sorrir e exercitar o absurdo de viver. Baumbach já entregou um punhado de personagens estranhos e simpáticos ao longo de sua carreira, mas essa talvez seja a primeira vez que ele me deixa apaixonado.
Belíssimo recorte da vida de dois jovens numa cidade do interior alemão, este Harvest é um filme que caminha num limiar entre o formal e o naturalista para contar uma história de amor. À começar pelo curioso ritmo, que apesar de não ser propriamente lento, não tem qualquer pressa em adiantar os poucos fatos que moldam sua história, inclusive criando pequenos momentos anticlimáticos quando isso parecia impossível. Benjamin Cantu trata com muita delicadeza do cotidiano numa espécie de escola agrícola, ao mesmo tempo que mantêm as maneiras rudes e imprecisas de seus personagens sem necessidade de julgamentos ou explicações maiores. A dupla de protagonistas tem uma sintonia perfeita, e o grupo de não-atores nos papeis coadjuvantes contribuem em muito para tornar o filme uma pérola que merece muito ser descoberta. É raríssimo encontrar um exemplar de filme com personagens gays em que o roteiro não acabe por convergir em questões sobre aceitação ou preconceito, e foque simplesmente nas pessoas.
São raríssimos os momentos em que o cinemão americano toma fôlego e aparece com um filme-espetáculo esforçado em não ceder à mediocridade. A soma do talento de Del Toro para lidar com situações fantásticas, uma inteligente escolha de elenco, e um apurado visual, que inclusive faz ótimo uso do 3D, transforma Círculo de Fogo num dos melhores produtos a sair de Hollywood nos últimos anos. É tudo o que Michael Bay gostaria de ter alcançado com Transformers; a pirotecnia e o exagero estão lá, mas as emoções vem bastante honestas e não se deixam abater pela quantidade de explosões.
13 Tzameti é dos raros exemplares de filmes que, mesmo sem qualquer pressa para se desenvolver, deixam a impressão de estar num ritmo frenético. A estreia do georgiano Géla Babluani é um estranho exercício de suspense, que observa com incrível sobriedade algumas facetas obscuras do ser humano. Não chega a ser um olhar formalista, mas a maneira bastante seca com a qual somos introduzidos ao terceiro ato, e que nas mãos de outro diretor poderia ter se tornado um desagradável festival de violência gratuita, é no mínimo anticlimática. É triste perceber, no entanto, que o próprio diretor refez seu brilhante filme com atores americanos tentando alcançar maiores plateias, mas conseguiu apenas destruir uma trama inventiva e verdadeiramente angustiante.
Graças a hilariante persona de Paulo Gustavo, a desvairada e histérica Dona Hermínia toma conta de cada espaço da comédia adaptada do espetáculo teatral homônimo, também de sua criação. Apesar de bastante chulo e simplório, Minha Mãe é uma Peça não soa como um humorístico televisivo, e garante gargalhadas honestas a cada loucura cometida pelo protagonista. Uma participação coadjuvante aqui e ali, como as de Samantha Schmutz e Ingrid Guimarães são totalmente baseadas em clichês requentados, mas caem como uma luva nesse universo preto e branco da mãe louca que cria seus filhos de uma maneira bastante enérgica. Não é grande cinema, mas é muito divertido.
Um dos pontos altos da brilhante história da Pixar, Ratatouille condensa algumas das melhores sequências de ação já criadas pelo time, contrastando com momentos bastante contidos, que falam muito mais para os adultos do que para o verdadeiro público-alvo, mas que são verdadeiramente poderosos, como o famoso discurso de Anton Ego sobre o papel de um crítico.
Surpreendentemente divertido para a história que conta, No é certamente um filme sobre como política e publicidade caminham lado a lado, mas que consegue contar a história da queda de um ditador sem apelar para as cansadas tramas de tortura e embates partidários, exatamente como faz seu protagonista. Bernal está competente, ainda que o papel do publicitário à frente da campanha oposicionista não seja exatamente desafiador. Larraín, no entanto, prova que havia muito mais a oferecer depois do ótimo Tony Manero, e provavelmente coisa ainda melhor está pra chegar.
Depois do bastante sério Rota Irlandesa, Ken Loach volta a usar do humor para lidar com tramas que, nas mãos de outros diretores, se tornariam dramalhões chorosos. A Parte dos Anjos fala de marginais que recebem da justiça, e de uma garrafa de whisky, a segunda chance que precisavam para mudar de vida. Loach dirige com precisão, e o elenco, que conta com alguns iniciantes está absolutamente impecável, porém o grande destaque aqui é a fotografia de Robbie Ryan. Premiado pelo trabalho que fez em O Morro dos Ventos Uivantes de Andrea Arnold, e parceiro habitual da diretora, ele é sem sombra de dúvidas um dos maiores fotógrafos em atuação no mundo hoje.
Jobs
3.1 750 Assista Agora“If Jobs had been a producer on Jobs, he would have sent it back to the lab for a redesign.”
O Sistema
3.7 363Se continuar a crescer de nível, a parceira entre Zal Batmanglij e Brit Marling -iniciada em Sound Of My Voice-, pode se tornar uma das mais prolíficas do indie americano. As personagens gélidas e misteriosas que ambos criam, e a moça encarna, funcionam como agentes hipnóticos, que prendem completamente a atenção do espectador nas tramas aparentemente simples, mas carregadas de discussão técnica e social. Em The East, que examina o cotidiano de um grupo “ecoterrorista” através do olhar de uma agente secreta infiltrada, a tensão é mantida num nível aceitável, e o fio condutor de toda a história é a validade (ou não) dos esforços punitivos da célula. Não há espaço para didatismos ou velhos clichês do filme de espionagem, Batmanglij e Marlin fazem um cinema muito particular sobre organismos coletivos, que sobrevivem mais de influência do que de violência.
One Direction: This Is Us
4.1 106 Assista AgoraAssim como os filmes de Katy Perry e Justin Bieber, este aqui é propaganda barata disfarçada de cinema; mas obviamente agrada aos fãs, que é seu objetivo primeiro. Como banda, o One Direction não tem a menor vergonha de ser um produto asséptico e industrial saído do forno de Simon Cowell, mas os garotos parecem ser pessoas realmente simpáticas, apesar das barreiras que o filme impõe na leitura de suas personalidades. Duas surpresas: Martin Scorsese sendo obrigado a tietar os rapazes por conta das netas, e a surpreendente informação de que o diretor do filme é Morgan Spurlock, do ótimo Super Size Me; parece que ele gosta mesmo de falar de lixo.
As Bem Armadas
3.5 873 Assista AgoraParece haver algo de feminista nos projetos que Paul Feig tem escolhido. Depois de provar, através do sucesso de Bridesmaids, que mulheres podem dominar totalmente uma ensemble comedy, Feig experimenta agora colocar as moças à frente de outro nicho humorístico: o policial. Apesar da direção correta e do roteiro com momentos inspiradíssimos, As Bem Armadas deve todos os seus pontos positivos à Melissa McCarthy e, especialmente, Sandra Bullock. McCarthy vem ganhando severa projeção nos últimos anos, e Sandra mostra aqui, mais uma vez, porque é uma atriz tão querida; o que ela pode não ter em alcance dramático, compensa maravilhosamente com carisma. Se o roteiro não fosse tão óbvio -e talvez o seja para provar que mulheres podem, obviamente, se sair tão bem num gênero que os homens comandam desde sempre- As Bem Armadas seria memorável.
Simon Assassino
2.9 40 Assista AgoraTão asséptico e climático quanto Afterschool, sua aclamada estreia, Simon Killer é um claro avanço de Antonio Campos no domínio de sua linguagem, visível principalmente na brincadeira engenhosa que ele faz com o cinema noir; mais que um 'neo', este aqui pode ser classificado como um “pós-noir”. Brady Corbet e Mati Diop estão maravilhosos como o rapaz frágil e a prostituta fria, que pouco tempo depois se livram bruscamente desses rótulos para surpreender o espectador de maneira vigorosa, sem usar viradas fáceis de roteiro. Campos continua focado em fazer com que o som e a cor do quadro comuniquem tanto quanto o diálogo ou a composição, e mais uma vez ele acerta milimetricamente nas escolhas.
Os Reis do Verão
3.6 422 Assista AgoraO terreno dos filmes de 'coming-of-age' é um dos mais populosos e repleto de bobagens do cinema americano; raridade encontrar um filme que, mesmo cheio de limitações consegue encantar simplesmente por sua paixão àquilo que retrata. The Kings Of Summer é desses exemplares que já vimos inúmeras vezes (estão lá os amigos inseparáveis, a figura estranha, a aventura perigosa, a paixão implacável), feitos com incrível energia e capacidade de encantar, mas sem verdadeira substância -um exemplo recente, ainda que enverede por outra vertente do “gênero”, é As Vantagens de Ser Invisível. Impossível não render créditos ao trio de protagonistas, tão naturais quanto amigos de infância e, ao estreante Jordan Vogt-Roberts, que parece não ter deixado seus anos como diretor de TV influenciarem negativamente sua primeira incursão no cinema.
Um Brinde à Amizade
2.9 413 Assista AgoraJoe Swanberg é um dos meus diretores prediletos. Através do punhado de filmes que ele faz anualmente, é possível enxergar um artista criando, experimentando e estudando seu ofício com paixão e curiosidade comoventes. O que faz Drinking Buddies destoar de sua extensa obra, é que ele marca um passo mais largo neste experimentalismo. Se antes o que interessava ao rapaz era brincar com a estrutura do roteiro, com a mobilidade da câmera e com a habilidade de seus atores, agora ele parece se desafiar a fazer um filme “comum”. Drinking Buddies ainda é, assim como grande parte de seus trabalhos, um filme sobre pessoas falando, e recebendo reações àquilo que falaram, mas existe uma linha a ser seguida, existe uma tensão crescente, existe verdadeiro desenvolvimento de personagens. Swanberg não recorta um pedaço de história para deixar o espectador curioso sobre o antes e o depois; pela primeira vez temos começo, meio e fim. Somado a isso estão as performances irretocáveis de Wilde, Johnson e Kendrick, que concedem um tom quase documental ao filme, tamanha sua naturalidade. Swanberg já é uma de minhas maiores referências, e este aqui só serve para eu admirá-lo ainda mais.
Luz Depois das Trevas
3.6 52O sonho/pesadelo/viagem espiritual que Reygadas propõe com este Post Tenebras Lux demanda uma dose generosa de paciência e sensibilidade do espectador para ser bem absorvido; e mesmo aqueles habituados à linguagem hermética do diretor podem se sentir oprimidos pela quantidade de charadas presentes em cada imagem. A história acompanha uma família que deixa a Cidade do México e inicia nova vida no interior, e experimenta as novas convenções sociais de maneira muito particular. Reygadas escolhe fotografar tudo no tradicional formato 1.33:1, e ainda distorce a borda do quadro, conferindo um aspecto fantástico ao filme. Ainda não consigo ter certeza se acho poderoso ou prolixo, mas é certamente um dos mais corajosos exemplos de cinema a surgir nos últimos anos.
Antes da Meia-Noite
4.2 1,5K Assista AgoraDizer adeus (?) a Celine e Jesse é também acompanhar a busca por um final feliz que teima em não acontecer, para aquela que deve ser a maior história de amor que o cinema já viu -se não em sentimento certamente em extensão. A honestidade sempre foi o maior trunfo da trilogia que Linklater construiu junto à Delpy e Hawke, e sendo assim, seria impossível que o diretor afastasse o olhar para as tensões e cobranças criadas quando um relacionamento amadurece. Antes da Meia Noite tem muito menos leveza que os dois filmes anteriores, e requer uma adaptação do olhar, por mais penoso que isso seja; este não é mais um filme sobre pessoas se (re)encontrando, desta vez elas estão se redescobrindo totalmente, e este é um processo bastante doloroso.
Videogramas De Uma Revolução
4.2 11Ainda mais pertinente nessa época em que revoluções tem estourado pelo mundo, o filme de Farocki e Ujica sobre a derrocada de Nicolau Ceaucescu é, além de um importantíssimo documento sobre a não muito conhecida história da Romênia, uma verdadeira aula sobre o poder da edição. Formatado totalmente a partir de imagens de arquivo, o filme remonta a mesma história a partir de vários pontos de vista, afim de compreender como nossos olhos processam a informação, e como eles podem se enganar.
Vale do Pecado
2.2 182 Assista AgoraÉ muito fácil compreender os motivos para The Canyons ser tão odiado; a construção primária e deliberadamente fria da velha trama sobre ciúme e obsessão na cidade do cinema é um pouco demais para o público aguentar, mas existe um charme tão irresistível de cinema B no filme de Schrader -que ele faz questão de realçar escalando uma atriz decadente e uma estrela pornô como protagonistas- que o filme se torna quase um artefato cult; um trabalho consciente de seus inúmeros defeitos e que não tem qualquer vergonha deles. Se não outra coisa, é impressionante ver como Lindsay Lohan usa toda a bagagem adquirida em celas de prisão e clinicas de reabilitação à favor de sua personagem.
Morgan
3.4 37É raro -e louvável- encontrar um filme com personagens gays onde preconceito e aceitação não sejam o cerne do roteiro. Morgan poderia ser um bom exemplo desse nicho, mas são tantos os pontos jogando contra o filme, que não é difícil esquecê-lo poucos minutos após a sessão. A trama acompanha um ex-ciclista que lida com a recente condição de paraplégico, enquanto inicia um relacionamento com um rapaz que conheceu por acaso. O roteiro poderia até render algo interessante, pela maneira desassombrada que lida com os dramas do protagonista, mas todos os atores são sofríveis, a ponto de minarem qualquer chance de maior conexão com a história. O terço final desanda para um melodrama despropositado, mas nesse ponto ninguém mais está interessado no rumo que as coisas vão tomar.
Encurralado
3.9 432 Assista AgoraPode parecer bastante aborrecida a ideia de acompanhar uma trama sobre um Plymouth Valiant laranja que passa a ser inexplicavelmente perseguido e ameaçado por um enorme caminhão nas inóspitas estradas do deserto americano; mas o tom frenético que a montagem e o impecável desenho de som conferem a este Encurralado -equivocadamente tido como o primeiro trabalho de Steven Spielberg-, não deixa que a atenção do espectador seja desviada em momento algum. Criado na verdade como um especial de televisão, e que depois chegou às telas grandes graças à boa recepção da crítica, o filme é basicamente um monólogo de Dennis Weaver, enquanto ele foge, sem qualquer heroísmo, de um maníaco que tem como arma um estranho caminhão. Não chega a ser propriamente um 'car movie' mas tem sequencias que não devem nada ao gênero
A Parede
4.0 43Talvez por sua enganosa publicidade, que faz os desavisados sobre o teor do livro em qual este The Wall se baseia esperarem algo próximo de um suspense, o choque e o ajuste de percepções pode ser um pouco brusco. Apesar de realmente ser uma história de sobrevivência, o filme de Julian Pölsler se interessa muito mais em dar um mergulho profundo na alma humana, do que observar como o corpo presente se conecta com o mundo exterior e a natureza. Assim como os recentes Upstream Color e Post Tenebras Lux, a melhor maneira de acompanhar a trama é tentar submergir completamente na proposta, e especialmente na impressionante atuação de Martina Gedeck, como a mulher que se vê inexplicavelmente isolada quando uma parede invisível se coloca entre ela e a civilização.
Flores Raras
3.8 567 Assista AgoraNão existe nada de novo ou propriamente instigante neste Flores Raras, mas apenas a sensação de estar vendo um filme e não um especial televisivo ou episódio de novela -o que é ocorrência comum no cinema brasileiro- já é bastante gratificante. O maior mérito vai para a fotografia de Mauro Pinheiro Jr., que garante as texturas e cores básicas, mas aparentemente ignoradas pelo 'mainstream' do cinema nacional. Otto e Pires não tem grande química, e a coadjuvante Tracy Middendorf acaba roubando algumas cenas como a mulher preterida que aceita compartilhar o teto com a rival. Nesse sentido, parte da culpa recai sobre o combo bastante fraco de roteiro e direção, que de tão assépticos mal se fazem notar. No mais, vale para aqueles que, como eu, não conheciam a história do romance entre Elizabeth Bishop e Lota de Macedo Soares; e também como um curioso exercício de tolerância para as plateias médias que, a partir das maneiras honestas do filme e da presença de uma global famosa validando a experiência, podem se tornar algo mais compreensivas quanto à homossexualidade.
Alexandre, o Último
2.6 4 Assista AgoraPor ocasião do lançamento de Frances Ha, resolvi revisitar este que é um de meus exemplares preferidos do mumblecore, e também do cinema de Joe Swanberg. Um filme que acompanha tópicos tão díspares quanto a complexidade do casamento e o ofício do ator, Alexander The Last representou uma quebra no que Swanberg vinha construindo até então. Se o experimentalismo visual e narrativo eram o maior interesse do realizador, neste aqui é possível notar maior controle e cuidado com a fotografia e com a direção de atores - Weixler, Rice e Seimetz estão impecáveis.
Frances Ha
4.1 1,5K Assista AgoraA bagagem que Greta Gerwig trouxe dos longos anos como atriz-fetiche dos diretores do Mumblecore fica evidente no roteiro que ela co-escreve com Noah Baumbach para este Frances Ha. Se a amargura filosófica e prolixa daquele cinema foi deixada de lado para dar lugar à uma comédia ágil e incrivelmente refinada, Gerwig e Baumbach também não pendem tanto para a ironia auto-depreciativa, como faz, por exemplo, Lena Dunham no seu seriado Girls, outro rebento indireto dos cinemas de Andrew Bujalski e Joe Swanberg. Frances Ha é um filme muito simples sobre uma adulta que ainda não consegue se colocar como tal, e encontra alguns percalços -leia-se empregos incertos, namoros malsucedidos e uma relação excessiva com a melhor amiga- pelo caminho; mas que não sofre em demasia e não vê tudo com pesar e dificuldade (sofrimento esse que o cinema independente contemporâneo parece achar absurdamente necessário para se validar). Mesmo em meio à um punhado de adversidades Frances acha espaço para sorrir e exercitar o absurdo de viver. Baumbach já entregou um punhado de personagens estranhos e simpáticos ao longo de sua carreira, mas essa talvez seja a primeira vez que ele me deixa apaixonado.
www.abananaprolixa.com
A Colheita
3.2 27Belíssimo recorte da vida de dois jovens numa cidade do interior alemão, este Harvest é um filme que caminha num limiar entre o formal e o naturalista para contar uma história de amor. À começar pelo curioso ritmo, que apesar de não ser propriamente lento, não tem qualquer pressa em adiantar os poucos fatos que moldam sua história, inclusive criando pequenos momentos anticlimáticos quando isso parecia impossível. Benjamin Cantu trata com muita delicadeza do cotidiano numa espécie de escola agrícola, ao mesmo tempo que mantêm as maneiras rudes e imprecisas de seus personagens sem necessidade de julgamentos ou explicações maiores. A dupla de protagonistas tem uma sintonia perfeita, e o grupo de não-atores nos papeis coadjuvantes contribuem em muito para tornar o filme uma pérola que merece muito ser descoberta. É raríssimo encontrar um exemplar de filme com personagens gays em que o roteiro não acabe por convergir em questões sobre aceitação ou preconceito, e foque simplesmente nas pessoas.
Círculo de Fogo
3.8 2,6K Assista AgoraSão raríssimos os momentos em que o cinemão americano toma fôlego e aparece com um filme-espetáculo esforçado em não ceder à mediocridade. A soma do talento de Del Toro para lidar com situações fantásticas, uma inteligente escolha de elenco, e um apurado visual, que inclusive faz ótimo uso do 3D, transforma Círculo de Fogo num dos melhores produtos a sair de Hollywood nos últimos anos. É tudo o que Michael Bay gostaria de ter alcançado com Transformers; a pirotecnia e o exagero estão lá, mas as emoções vem bastante honestas e não se deixam abater pela quantidade de explosões.
13 Tzameti
3.9 2513 Tzameti é dos raros exemplares de filmes que, mesmo sem qualquer pressa para se desenvolver, deixam a impressão de estar num ritmo frenético. A estreia do georgiano Géla Babluani é um estranho exercício de suspense, que observa com incrível sobriedade algumas facetas obscuras do ser humano. Não chega a ser um olhar formalista, mas a maneira bastante seca com a qual somos introduzidos ao terceiro ato, e que nas mãos de outro diretor poderia ter se tornado um desagradável festival de violência gratuita, é no mínimo anticlimática. É triste perceber, no entanto, que o próprio diretor refez seu brilhante filme com atores americanos tentando alcançar maiores plateias, mas conseguiu apenas destruir uma trama inventiva e verdadeiramente angustiante.
Minha Mãe é Uma Peça: O Filme
3.7 2,6K Assista AgoraGraças a hilariante persona de Paulo Gustavo, a desvairada e histérica Dona Hermínia toma conta de cada espaço da comédia adaptada do espetáculo teatral homônimo, também de sua criação. Apesar de bastante chulo e simplório, Minha Mãe é uma Peça não soa como um humorístico televisivo, e garante gargalhadas honestas a cada loucura cometida pelo protagonista. Uma participação coadjuvante aqui e ali, como as de Samantha Schmutz e Ingrid Guimarães são totalmente baseadas em clichês requentados, mas caem como uma luva nesse universo preto e branco da mãe louca que cria seus filhos de uma maneira bastante enérgica. Não é grande cinema, mas é muito divertido.
Ratatouille
3.9 1,3K Assista AgoraUm dos pontos altos da brilhante história da Pixar, Ratatouille condensa algumas das melhores sequências de ação já criadas pelo time, contrastando com momentos bastante contidos, que falam muito mais para os adultos do que para o verdadeiro público-alvo, mas que são verdadeiramente poderosos, como o famoso discurso de Anton Ego sobre o papel de um crítico.
Não
4.2 472 Assista AgoraSurpreendentemente divertido para a história que conta, No é certamente um filme sobre como política e publicidade caminham lado a lado, mas que consegue contar a história da queda de um ditador sem apelar para as cansadas tramas de tortura e embates partidários, exatamente como faz seu protagonista. Bernal está competente, ainda que o papel do publicitário à frente da campanha oposicionista não seja exatamente desafiador. Larraín, no entanto, prova que havia muito mais a oferecer depois do ótimo Tony Manero, e provavelmente coisa ainda melhor está pra chegar.
A Parte dos Anjos
3.5 98 Assista AgoraDepois do bastante sério Rota Irlandesa, Ken Loach volta a usar do humor para lidar com tramas que, nas mãos de outros diretores, se tornariam dramalhões chorosos. A Parte dos Anjos fala de marginais que recebem da justiça, e de uma garrafa de whisky, a segunda chance que precisavam para mudar de vida. Loach dirige com precisão, e o elenco, que conta com alguns iniciantes está absolutamente impecável, porém o grande destaque aqui é a fotografia de Robbie Ryan. Premiado pelo trabalho que fez em O Morro dos Ventos Uivantes de Andrea Arnold, e parceiro habitual da diretora, ele é sem sombra de dúvidas um dos maiores fotógrafos em atuação no mundo hoje.