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Há trechos em Synedoche que chegam a ser "engraçados" (no melhor sentido que a palavra possa ter: como uma criança que, surpresa por descobrir alguma coisa, reage abrindo um sorriso). Kaufman quer desconstruir seus personagens ao máximo como alguém brincando com uma matryoshka. Até onde isso pode ir? Mas, pera aí, desconstruir ou destruir?
Destruir porque aos poucos a grandiosidade que Cotard busca em seu projeto acaba por engoli-lo. Assim, ficção se mistura com realidade. Há alguma dicotomia ou são uma coisa só na verdade? A metalinguagem rói Cotard por inteiro. A vida e a morte - a existência - passam entre a realidade e a imaginação sem fazer distinção.
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A urgência da juventude, composta por atitudes inconsequentes e uma aparente desconsideração para com o futuro, é retratada de forma crítica e bem construída por Transpoitting. Se primeiro vemos que esse lifestyle permite o encontro do prazer imediato a quem o segue, evidente que ao longo do tempo apenas a deterioração física e mental do usuário é o que resta.
Essa é a força que move o personagem principal a praticar uma tentativa arriscada de mudança. Seu ideal de oposição à "vida comum" (escola, trabalho, casamento, filhos, etc) sofre uma ruptura e ele, inevitavelmente, percebe que o caminho que lhe deve ser seguido é esse.
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Filme relativamente bem executado na direção e com um roteiro acertado, sem pontas soltas
(e com um plot twist razoável). Talvez poderiam ter explorado um pouco mais a abordagem sobre os sonhos compartilhados e as infinitas possibilidades do que se pode fazer em um sonho de "anormal" (a única cena que me lembro nesse sentido foi de um personagem segurando uma bala de um tiro). As cenas que menos apreciei foram a da cidade sendo destruída, com os prédios caindo, etc... muito parecido com Inception; e a do personagem principal em queda livre para pegar o aparelho que o faria voltar para realidade, pela "forçação de barra" (o que talvez seja um contraponto ao que falei anteriormente sobre explorar as anormalidades, enfim...)
Como eu sou um estudioso do tema, vou colocar alguns "poréns" referentes à ciência por trás do filme:
1 - para se ter sonho lúcido não é necessário nenhuma máquina, aparelho, etc como mostrado no filme
2 - Não há efeitos colaterais conclusivos de se ter sonhos lúcidos embasados pela ciência:
aquilo do nariz ficar sangrando e tal por danos cerebrais, não existe (ok que no filme isso aconteceu conforme a médica disse por exagero na utilização das induções via máquina).
3 - Do lado positivo da prática: algumas pesquisas recentes utilizam sonhos lúcidos como terapia para trabalhar pesadelos e até mesmo situações específicas do dia a dia que são estressantes/que as pessoas não conseguem lidar bem. Para quem gosta de explorar ainda mais, há quem use sonhos lúcidos para praticar aprendizado de línguas e treinar determinadas atividades da vida real ("o ensaio mental" e seu funcionamento na performance atlética, por exemplo, é algo bem documentado).