Isabela Xavier

Entendo que pode ser um pouco forçado que uma pessoa que não tinha experiência com armas, bandidos e drogas, de repente saber atirar (e bem). Mas não acho impossível que desvende algo que a polícia não conseguiu, até porque os policiais nem estavam se esforçando, eram apenas bandidos morrendo, e eles não se importavam.

Quanto à revelação sobre a Eve, eu desconfiei antes, mas nem posso dizer que o filme é previsível, pois essa desconfiança só surgiu porque o grupo de apoio me lembrou clube da luta, e meu inconsciente deve ter feito a associação entre as histórias.

Muitas pessoas estão criticando, e até apontando como furo, o fato de a irmã mais nova não ter ligado para a polícia em momento algum. Durante o filme, também questionei isso. Após o final, o que me parece é o seguinte: ela poderia ter ligado, sim. Mas teve motivos para não ligar, ninguém seria tão estúpido a ponto de não pensar nessa possibilidade. Então qual foi a motivação? Vendo as decisões dela perante tudo que aconteceu, me parece que ela fez sua escolha, de modo consciente, de permanecer naquela atmosfera criada pela irmã. Parece que ela, de certa forma (e talvez não percebesse antes), gostava de viver daquele modo e, na verdade, não queria destruir o "ninho" dela e de sua irmã. E nisso se incluiria o fato de ela ter abandonado o Carlos.

E sobre ela não se lembrar da morte do pai, bem, nossa mente faz coisas surpreendentes para nos proteger. Talvez esse acontecimento tenha sido literalmente apagado da memória dela, e se tornou algo bem guardado pelo inconsciente por ter causado um trauma. Isso é totalmente possível.

Só achei a vizinha e sua sobrinha bem fraquinhas. Não foi mostrado o que aconteceu, mas será que elas lutaram pela vida? Afinal, elas eram duas, tinham mais chances contra Montse.

Primeiro, fiquei na dúvida se pai e filha de fato compartilhavam a mesma alucinação (Folie à Deux), pois o Cara Oca poderia ser uma entidade vista apenas pelos dois (assim como pelo garotinho), o que pareceria alucinação aos olhos dos outros. Por outro lado, o diagnóstico de Folie à Deux fazia sentido. Além disto, poderia ser aplicado também à mãe e ao filho, já que o filme não deixa explícito se a mãe vê ou não a figura.

O ápice do filme foi a descoberta da identidade do garotinho e da origem do Cara Oca. Eu nunca poderia imaginar que o garotinho era o pai de Mia e que a história do Cara Oca foi imaginada por ele como uma espécie de defesa devido à situação que vivenciou e não sabia explicar.
No fim, Mia e seu pai realmente vivenciavam alucinações compartilhadas. Um ponto interessante é que o pai ainda acreditava na história do Cara Oca, já que sua mãe preferiu omitir a verdade durante todos aqueles anos. Foi justamente sua crença que possibilitou a Folie à Deux.